Mattoso Câmara e o vocábulo-problema de 1939-1940 *

Angela França (Universidade de São Paulo)

O propósito deste trabalho foi examinar o conceito de vocábulo nas “Lições de Lingüística Geral” (LLG) de Joaquim Mattoso Câmara Júnior (1904-1970), publicadas pela Revista de Cultura, entre 1939-1940. Isso porque, verificamos a ênfase em precisar o lugar e o valor exato da unidade vocábulo que perpassa todo esse conjunto de textos. A questão da definição da palavra e seu uso, juntamente com a determinação das unidades e dos seus respectivos planos – “como distinguir a frase do vocábulo?” (1940 LLG IX:83) – parece ter sido uma dificuldade relevante na época. Segundo Mattoso, enquanto alguns estudiosos negavam a existência do vocábulo, outros, aceitavam a sua realidade lingüística mas o consideravam como unidade da fala, afirmação com a qual não concordava (1939 LLG II:186).

De fato, o grande problema a ser resolvido era a delimitação da palavra, ora considerada do ponto de vista fonético, ora do ponto de vista semântico. Para nosso lingüista, era preciso estudar o vocábulo separadamente como dois elementos porque eram duas coisas diferentes: o vocábulo fonético como elemento da fonação e o “vocábulo propriamente dito”, um elemento da fala.

Mas o estudo de Mattoso não se resumiu apenas a essas duas entidades lingüísticas. Mattoso partiu da análise do vocábulo fonético para chegar ao vocábulo-morfema, “unidade ideal da linguagem”, do sistema homogêneo da langue. Como se deu esse processo cognitivo no contexto das “Lições”?

Para responder a essa pergunta, nosso primeiro passo foi fazer o levantamento da noção de vocábulo a fim de estabelecer a compreensão da extensão e intensão desse termo técnico nos escritos Mattosianos. Em seguida, procuramos determinar a herança teórica admitida através das referências diretas aos autores e suas proposições, para depois, correlacioná-la ao tema. Nosso objetivo foi, tentativamente, observar a prática de análise que Mattoso Câmara efetivamente exerceu sobre essas entidades lingüísticas na Língua Portuguesa, no momento inicial de sua carreira acadêmica (setembro de 1938, data de seu curso de Lingüística Geral na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, de que as doze “Lições” são o produto publicado).

Mattoso (1939 LLG II:187) apresenta o problema da seguinte forma:

 “à individualidade formal não corresponde muitas vezes a individualidade fonética: em expressões como o livro de Pedro, os vocábulos fonéticos são olivro e depedro, da mesma sorte que no francês vous aimez (isto é, vuzemé) há um único vocábulo fonético”[1].

Já que reinava a incerteza na realidade do fato e a dúvida relativa a como precisar o fato, na sua tentativa para solucionar o problema, Mattoso (1939 LLG I:102) estabelece um princípio ‘universal’ pela negatividade:

“podemos estabelecer, de início um princípio geral: não há do vocábulo fonético definição única, comum a todas as línguas, porque alguns dos seus caracteres podem variar de língua para língua. Os que o distingue em português, por exemplo, não são exatamente os mesmos que o assinalam em francês”.

Mattoso Câmara, então, começa por identificar os componentes fonéticos que estariam no mesmo domínio. “São estes os dois elementos fonéticos fundamentais: a sílaba, unidade, e a frase, série variável de sílabas”. Tal como a sílaba se subdivide em “fonemas (consoantes e vogais), a frase ou cadeia de sons, de certa extensão, abrange grupos de sílabas que são os vocábulos fonéticos” (1939 LLG I:102).

Explica também o lugar hierárquico que o componente em questão ocupa entre os outros componentes: “Trata-se de uma divisão natural, intermediária entre a unidade que é a sílaba, e o conjunto que é a frase” (1939 LLG I:102). Em seguida, descreve os fenômenos, já estudados por alguns autores, que caracterizariam o aspecto fônico da entidade lingüística chamada vocábulo fonético e quais deles seriam mais adequados para a tarefa de delimitá-lo.

São quatro os critérios selecionados por Mattoso (1939 LLG I:102-103) para sua exposição. Primeiro, a “pausa, dentro da frase, a marcar o fim de um vocábulo” que Mattoso descarta imediatamente, acompanhando Paul Passy. Descarta também os tipos de pausas enumeradas por Carlo Battisti. A quantidade nas sílabas (longas/breves), estudada por Maurice Grammont para o Védico, Mattoso considera de importância secundária. As circunstâncias lingüísticas fundamentais caracterizadoras do vocábulo fonético para Mattoso, são as que dizem respeito às qualidades fônicas das sílabas que o constituem, “o acento de intensidade ou altura”, sílabas fortes/fracas e graves/agudas.

Dentre os vários tipos de acento que caracterizam as sílabas, para Mattoso, “é de caráter mais geral e importante o tratamento típico da parte final do vocábulo na elocução: os fonemas finais são mais débeis por serem finais” (1939 LLG I: 103). E as “curiosas provas” para a conclusão dessa debilidade na manifestação da fala, Mattoso as coleta no verso em latim escrito, na ação da analogia, ou seja, na análise histórica da evolução das línguas (1939 LLG I:103-104).

Mas o próprio Mattoso já afirmara de início:

“As nossas lições de Lingüística Geral serão (...), na primeira parte do curso, lições de Lingüística Estática, o que não anula a necessidade de muitos comentários de ordem histórica, a propósito de certas generalizações; porque há solidariedade entre as diversas partes de toda ciência, onde tout se tient” (1939 LLG I:101).

Nas duas primeiras ‘lições’, Mattoso Câmara estudou mais representativamente a Prosódia, parte da fonética vocabular, que se ocupa da acentuação silábica nos limites do vocábulo (intensidade, quantidade e altura). Em seu aspecto fônico, o vocábulo é visto como uma forma dada pelo grupo de sílabas que o constitui, cuja unidade de significação é a sílaba.

O ponto de partida se refere, pois, à produção de sílabas mas o ponto de vista é o da percepção no receptor, isto é, observar qual a impressão auditiva (efeito psicofísico) que o conjunto (vocábulo) imprime no ouvinte (o pesquisador incluído). Dito de outra maneira, nesse conjunto (a forma ‘vocábulo’) aquilo que identificamos e percebemos (através do ouvido e cérebro) é a emissão sonora das sílabas e suas particularidades qualitativas. O que importa é saber se o que ocorre(u) na forma se refletiu na emissão fônica (fonação) ou, ao contrário, se o que ocorre(u) na emissão se refletiu na forma.

A ‘forma vocábulo’ se equilibra num tripé: a) tem um aspecto fônico (o meio pelo qual se manifesta, grupos sonoros), “enunciação dos sons vocálicos” (1939 LLG I: 101); b) tem um aspecto semântico (um fim, significado), “no intento com que a fazemos e na significação que lhes é emprestada” (1939 LLG I:101); c) e um aspecto mórfico – uma forma, sem a qual não atinge sua finalidade, comunicar.

Também a assim chamada Fonética Sintática ou da Frase, outro tipo de pesquisa mencionado por Mattoso nesse contexto, estuda as mudanças condicionadas pelo papel ou pela posição das palavras dentro de um enunciado maior (a frase), tais como os fenômenos da acentuação e do sandhi. O termo sandhi significa juntura, ou seja, as pausas vistas como demarcadoras de grupos fônicos, sintagmas, vocábulos, frases e é usado na Morfologia e na Sintaxe para indicar modificações fonológicas de formas gramaticais que ficaram justa-postas (Mattoso Câmara 1954). O objetivo, de acordo com Mattoso (1939 LLG II:183), é

“estudar os casos em que os fonemas, iniciais e finais de um vocábulo formal, sofrem modificações inesperadas, porque o vocábulo, em muitas ocorrências da prática, se apresenta integrado num vocábulo fonético maior; cf. nem na expressão nem ela, onde temos foneticamente ne-nhe-la”.

Exemplo na Língua Portuguesa em tudo semelhante aos fornecidos na Língua Francesa por Ferdinand Mongin de Saussure (1857-1913) em seu famoso Cours (1970[1916]:64), no âmbito da ‘fonética combinatória’. Ou mesmo outros exemplos que se encontram nas ‘lições’ Mattosianas – “vous criez (vucrié), c’est vous (ce’vu)” (1939 LLG II:184).

Igualmente, a Fonética Estática ou Descritiva se ocupa em definir e classificar combinações de fonemas ou da linguagem em geral ou de um determinado falante em dado momento. Segundo Mattoso (1939, LLG I:101) foi este o assunto sobre o qual versou o curso de Ernesto Faria (1906-1962) ministrado anteriormente na mesma Faculdade.

É importante notar que mesmo em relação ao estudo no nível do vocábulo fonético estão em jogo relações e contrastes entre função e forma. Pois, enquanto a unidade fonética (emissão de fonemas, consoante e/ou vogal, pelo falante) varia, o vocábulo fonético é constante. Como uma forma ainda que variável de língua para língua, seu aspecto fônico pode ser descrito quanto ao acento silábico, especialmente em Português, em termos de quantidade, intensidade ou altura das sílabas que o compõe.

A prática lingüística de Mattoso foi, naquele momento (1939; ou poderíamos dizer 1938?), uma análise do enunciado fundamentada num critério de natureza fônica. Um trabalho de segmentação relacionado a questões de prosódia ou fatos ditos suprasegmentais. Segundo Kemp (1995), os pioneiros nesse tipo de estudo dos sons foram os foneticistas indianos, cujo exemplo tradicional é o trabalho de Pānini sobre a língua Sânscrita (séc. IV a.C.).

Uma segunda conexão costuma ser estabelecida com dois foneticistas envolvidos na fundação da associação Internacional Phonetics Alphabet em 1886 (Kemp 1995) que visava padronizar internacionalmente os sistemas de transcrição fonética e no movimento que aplicou a Fonética no ensino de idiomas: Paul Passy (1859-1940) e Otto [Jens] Jespersen (1860-1943). Justamente, esses dois estudiosos foram mencionados na problemática do vocábulo Mattosiano.

Não é por acaso que Jespersen aparece citado nos contextos da caracterização da sílaba; do vocábulo fonético e significativo; do morfema; da frase; ou naquele em que Mattoso apresentou sua análise sincrônica do conceito de raiz (forma do radical vs. função) na Língua Portuguesa e o mesmo fato lingüístico analisado diacronicamente, comparando os diferentes resultados obtidos; além da distinção entre a língua falada e a escrita como duas modalidades de linguagem distintas. Jespersen foi um dos pesquisadores que formulou uma teoria da sílaba (1904) e afirmou que a prosódia silábica poderia ser entendida com uma função dos graus de sonoridade pronunciados em seqüências, com as vogais formando o centro sonoro da sílaba (Ohala 1995). O que os une, todos, inclusive Mattoso Câmara, é a abordagem descritivista.

“É essa, com efeito, a verdadeira base doutrinária que nos permite garantir a realidade lingüística do vocábulo, com Jespersen e todos os lingüistas da chamada escola inglesa; a consciência lingüística relaciona entre si os elementos idênticos existentes em múltiplas frases, comparação de que emerge o modelo mental chamado vocábulo, com individualidade a um tempo significativa e formal. Em outros termos, a noção de vocábulo assenta na identificação parcial, que se faz dentro da diferença global das frases” (1939 LLG II:185).

A terminologia ou metalinguagem, no sentido de Koerner (1989), utilizada por Mattoso Câmara para expressar de que se constituem (sons) as diferentes unidades lingüísticas ainda é a do século XIX, mas não a unidade. Uma chave para a construção da configuração geral da(s) língua(s) nas “Lições” parece ser o sentido.

De fato, as formas lingüísticas são variáveis nas diversas línguas humanas, as funções relativas a essas formas a cada estado lingüístico também. Para estabelecer-se um quadro abrangente nos vários níveis lingüísticos, a Lingüística Geral deve fazê-lo através dos conceitos e idéias possíveis de se expressarem na linguagem - idéias e conceitos esses que parecem ser de caráter universal. Por exemplo, quanto à classificação à problemática da palavra:

“Se há uma realidade lingüística na classificação das palavras, isto é, se corresponde a um sentimento, íntimo dos sujeitos falantes, enraigado e aceito espontaneamente na comunidade lingüística, de tal modo que constitui um fato de língua (no sentido Saussuriano), é porque a classificação obedece primacialmente a uma distinção das palavras quanto ao seu conteúdo nocional” (1940 LLG VIII:22).

‘Categorias nocionais’, conceito de Jespersen, tão repetido por Mattoso, corresponde “a noções sociais (...) imanentes na linguagem” e significa o ponto de contato que uma categoria gramatical, pode ou não ter, com o contexto extralingüístico (1939 LLG IV: 281). Rela-cionam-se, de certo modo, com as ‘categorias de relação concreta’ de Edward Sapir (1884-1939), ainda que Mattoso comente que Sapir jamais usou o termo categoria. Mesmo assim, Mattoso define o conceito de relação concreta como “uma categoria gramatical de valor nocional (...) utilizada para  indicar a relação entre os elementos da frase: tal o plural, em português”, por exemplo. Quer dizer, “o mecanismo da relação concreta é a concordância” (1940 LLG IV:284).

O trabalho desenvolvido nas “Lições” mostra a linguagem como uma totalidade: ela “é  uma abstração” (1940 LLG XI:202), em que a unidade, entendida como a qualidade do que é uno, é o signo lingüístico que para Saussure, resulta da reunião do significante e do significado. Mattoso discute os critérios apropriados para a classificação dos níveis lingüísticos e suas respectivas unidades. Por isso a ênfase em precisar o lugar e o valor exato da unidade vocábulo, que perpassa todo o conjunto das “Lições”. Coseriu (1952) ainda não havia feito a sua famosa e importante distinção entre os níveis de atualização das unidades da linguagem – o sistema, a norma e a fala, determinando o vocábulo como a unidade no nível da norma e a palavra, unidade no nível do falar concreto.

“Compreendido o que se entende por vocábulo fonético, elemento distinto na cadeia dos sons, podemos tratar do vocábulo propriamente dito, isto é, conjunto de sons a que a língua atribui um valor significativo preciso, como este, livro, eu. Em outros termos, tratar do vocábulo como elemento da fala em confronto com o vocábulo fonético que é elemento da fonação” (1939 LLG II:183).

Se Mattoso Câmara privilegiou o oral na linguagem, mesmo quando recolhe dados no texto escrito, sua técnica de análise do enunciado, coerentemente, é a da fonética-prosódica: são frações de enunciado que a partir do sentido são segmentados e, portanto, a base da linguagem no Mattoso de 1939-40 é o signo.

“Resta apenas ressalvar que a identificação parcial dentro da diferença global nem sempre é decisiva e exclusiva, pois numa cadeia de sons há, às vezes, duas ou mais divisões possíveis de sentido, o que, em regra, reconhecemos dizendo __ que a frase se presta a mais de uma interpretação” (1939 LLG I:103).

Talvez, o que pese nessa diferença esteja na incorporação das idéias Sapirianas. Segundo Mattoso (1939 LLG II:187-188), “o vocábulo é uma unidade à parte”, no sentido de Sapir: “forma (...) que chama a si grande ou pequena parte do pensamento integral, na medida em que o gênio da língua se compraza em permitir”, ou seja, pode ser entendido como um conjunto geométrico formado por pontos (item), linhas (process) e superfícies - configuração (pattern). Nesse contexto, o vocábulo semântico-formal é visto como a forma exterior de um corpo – configuração.

Dando voz a Mattoso mais uma vez (1940 LLG VIII:21 e 1939 LLG II:187, negritos nossos):

“Admitida, de início, neste curso, a realidade do vocábulo, impõem-se agora, (...) tratar das categorias gramaticais, isto é, da classificação das idéias expressáveis por meio de morfemas. (...)

Se tomarmos um vocábulo português como pedra, verificamos que há uma idéia ou conceito, expresso pela parte pedr- e outras, ou outros, pela parte final -a  (idéias de gênero e de número). Assim, chegamos com Sapir, à verdadeira noção da unidade na fala: segmentos fonéticos correspondentes a idéias ou conceitos simples que podem ser concretos, como em pedr-, abstratos ou classificatórios, como a final -a, ou de relação, como o -i do genitivo latino lupi, que relaciona o vocábulo a outro (os lupi, por exemplo: a boca do lobo). Essas unidades da fala são, aliás, bem compreendidas por muitos outros lingüistas, e é conveniente classificá-las e denominá-las de acordo com (...) Joseph Vendryés: 1 – semantemas, em que há um conceito correspondente a qualquer coisa do mundo real; 2 – morfemas, que traduzem conceitos classificatórios ou de relação, decorrentes das condições e necessidades da própria linguagem.

A unidade viva da fala, ou unidade ideal da linguagem tem, por conseguinte, dupla face, verso e reverso, podendo ser unidade-semantema, ou ainda, unidade-morfema. (...)

Teoricamente, o vocábulo pode ser:

E é neste ponto que Mattoso dá o salto teórico se deslocando de plano: do tripé do vocábulo fonético (aspecto fônico + aspecto semântico + aspecto mórfico) para o vocábulo-morfema, “unidade ideal da linguagem” e começa a entrar no sistema homogêneo da langue.

Os tipos de teóricos de vocábulo propostos por nosso lingüista são: o vocábulo-semantema puro, que não temos em Português, o exemplo é retirado de Sapir na Língua Nutca – “hamot, isto é, osso, só contém em si a idéia concreta de substância óssea”; o vocábulo-semantema, o morfema zero – “não é semantema puro porque inclui a noção de singular” (mar{0} se opõe a mar{es}); o morfema-vocábulo, preposições, conjun-ções e pronomes – “a preposição portuguesa de é um modelo mental com autonomia formal”; e os segmentos fonéticos de vocábulos, que podem ser concretos, abstratos ou de relação (pedr-{a}; lup-{i}).

Estas são as categorias gramaticais da menor unidade significativa de sistema nas “Lições de Lingüística Geral”. A escolha de Mattoso recaiu sobre o nível morfológico de análise. Sua primeira noção de forma como unidade integrante de sistema, pelo menos tomada como objeto de estudo e não apenas mencionada (tal como ocorreu com o termo fonema, v. França 1998), se refere ao nível de articulação do morfema lato sensu, digamos, o elemento lingüístico que exprime relações entre as idéias, ou, categorias de conteúdo. Seu objeto teórico é a combinatória e a distribuição dos signos mínimos (significante + significado) nos limites da palavra, estudando as coerções internas que estes signos exercem mutuamente (prefixo, sufixo) e a possibilidade combinatória das palavras com outras palavras no eixo sintagmático da linguagem. Tal como Sapir focalizava preferencialmente em seu trabalho. Primeiro a depreensão dos signos mínimos e depois, sua combinatória.

Acreditamos que seu procedimento, ao menos no nível de análise morfológico, pode ser considerado em alguma medida estrutural já neste momento inaugural de sua trajetória acadêmica. Para Mattoso, a Lingüística parece ser o estudo dos sistemas de significação verbal em que a unidade mínima de significação é o morfema. A Prosódia, o trampolim para o salto e a ponte, uma das partes daquela ciência “onde tout se tient”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSERIU, Eugenio. (1980[1952]). “Sistema, Norma e Falar Concreto”. Lições de Lingüística Geral. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, pp. 119-125.

FRANÇA, Angela. 1998. Texto e Contexto nos Escritos Lingüísticos de Mattoso Câmara: 1938-1954. Disser-tação de Mestrado, São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 373 pp., com reprodução de documentação inédita.

KEMP, J. A. 1995. “Phonetics: Precursors to Modern Approaches”. R. Asher e K. Koerner (eds.), Concise History of the Language Sciences, pp. 371-388. New York: Pergamon.

KOERNER, E. F. Konrad. 1989. “Metalanguage in Linguistic Historiography”. Professing Linguistic Historiography, 27-46. Amsterdam: John Benjamins.

MATTOSO CÂMARA Jr., Joaquim. 1939-1940. “Lições de Lingüística Geral: I a XII”. Revista de Cultura 25 (146):99-104, 25 (148):183-189, 25 (149):216-222, 25 (149/150):270-284, 26 (151):43-47, 26 (152/153/ 154):81-86, 26 (155/156):77-185, 27 (157):21-27, 27 (158):83-88, 27 (159/160):141-146, 27 (161/162): 202-208, 28 (163): 11-17. Rio de Janeiro: Briguiet.

-----. Princípios de Lingüística Geral. Rio de Janeiro: Padrão. (2a ed.)

OHALA, John. 1995. “Speech Tecnology: Historical Antecedents”. R. Asher e E. F. K. Koerner (eds.), Concise History of the Language Sciences, pp. 416-419. New York: Pergamon.

SAUSSURE, Ferdinand de. 1970[1916]. Curso de Lingüística Geral. [Trad. de Antonio Chelini, José P. Paes e Izidoro Blikstein do fr. Cours de Linguistique Générale, Payot. Pref. à ed. bras. De Isaac Nicolau Salum]. São Paulo, Cultrix. (2a ed.)



* Uma primeira versão do texto foi apresentada no XLVII Seminário do GEL (Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo), de 27 a 29 de maio de 1999, na Universidade do Sagrado Coração (USC), Bauru – SP.

[1] Respeitou-se os grifos do autor (itálico) em todas as citações.