SOLUÇÕES METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Manoel Pinto Ribeiro (UERJ/CEUAM/ABF)

 

 

Antes de se pensar em uma metodologia adequada para o ensino de qualquer assunto, é preciso atentar para os conceitos que serão discutidos e analisados. No ensino escolar de primeiro e segundo Graus, a matéria não desperta interesse, uma vez que um grande número de compêndios vem repetindo lições que não se apóiam nos avanços da lingüística. Por outro lado, os programas de vestibulares deixaram, há muitos anos, de cobrar o assunto, como se uma língua pudesse ser estudada sem o conhecimento de seu sistema fonêmico (fonológico).

Além disso, a Nomenclatura Gramatical Brasileira, que começou a ser implementada a partir de 1960, não aproveitou devidamente os ensinamentos de grandes teóricos do assunto, máxime de Nicolau Trubetzkoy e Roman Jakobson. A NGB trata apenas de fonética, esquecendo-se de detalhar os aspectos lingüísticos (fonológicos), deixando os autores de compêndios didáticos num dilema sério na aplicação dos conceitos.

Como o emprego da NGB, por uma portaria ministerial, tem força de lei, todos os livros foram obrigados a descrever alguns fatos de acordo com o que está proposto nesse documento. Assim por exemplo, no estudo do timbre das vogais, adotou-se o termo "reduzidas", considerado, de pronto, pelos lingüistas como impróprio, já que, em nossa língua, o fato não ocorre, visto tratar-se de um fenômeno de duração ou quantidade das vogais, que não um traço pertinente do português.

Julgamos, assim, que todos os conceitos da lingüística moderna, principalmente os discutidos por nosso grande teórico, o Prof. Mattoso Câmara Jr., devem servir de apoio para um estudo eficiente de como funciona o nosso sistema.

A metodologia, praticada em sala de aula há séculos, precisa também ser revista urgentemente, em qualquer nível de escolarização. O aluno não pode, em nenhuma hipótese, ficar esperando que o professor ministre uma aula para que se inteire de um conteúdo programático. Como proceder então? Em primeiro lugar, de início, a turma deverá conhecer toda a programação a ser estudada no período. É uma forma de se controlar a execução do trabalho e ser discutido, numa avaliação final, o aproveitamentO observado no período. O material a ser utilizado também deve ser, no início, indicado ao grupo, a fim de que o discente não desconheça o que acontecerá dentro de alguns dias ou semanas. Com isso, a turma será incentivada a se antecipar aos estudos. Isso corrige uma falha das escolas que, em muitos casos, distribuem, ou melhor, vendem, aos poucos, apostilas aos estudantes, impedindo-os de adiantar a programação. Mesmo com o uso de apostilas, nunca deverá faltar um bom número de livros para a pesquisa necessária.

Quanto à participação do alunado na execução do programa, há necessidade de utilizar duas estratégias: 1. trabalho individual de estudo dirigido. Por meio de um questionário, estudar-se-á uma lição que será discutida em sala de aula; 2. trabalhos em grupos, com exposição em sala, tarefa que ajudará a desinibição do educando, que terá uma grande oportunidade de se integrar ao seu grupo. Alguns, na certa, mostrarão dificuldades. Cabe ao professor, como legítimo pedagogo, corrigir os problemas, conduzindo a turma para uma aprendizagem real.

Com uma assimilação correta dos conceitos, poderemos compreender melhor nosso sistema ortográfico, bem como utilizar os recursos fônicos para emprego expressivo de nossas mensagens. Também não poderemos deixar de lado a importância da fonologia nos grupos rítmicos de nossas composições literárias.

Sejam bem-vindos ao mundo mágico, musical e maravilhoso da estrutura sonora da língua portuguesa!