ESPANHOL DA ESPANHA E ESPANHOL DA AMÉRICA

Alfredo Maceira Rodríguez (UCA)

1. FONÉTICA
O espanhol americano apresenta bastante homogeneidade, sobretudo nos níveis cultos. As diferenças são mais marcadas nas classes semicultas e vulgares, contudo as diferenças no enorme território do espanhol americano são menores do que as que se encontram entre regiões e até entre localida-des vizinhas na Espanha. Os fenômenos fonéticos repetem-se em quase toda a extensão do território e podem ser atribuídos à fonética geral, havendo preferência por algum deles em determinada região. Vejamos algumas das variações fonéticas mais comuns:
1. Passagem do e átono a i: vistido, visino,  siguro, sigún.
2. Passagem do e em hiato a i: teatro, pasiar, rial. Ocorre em quase todos os verbos terminados em -ear.
3. Mudança oposta à anterior, talvez por dissimilação: copeo (pre-sente de copiar), melitar, cevil, escrebir, vesita, prencipal.
4. Passagem do o pretônica a u: cuete (cohete), gurrión, tuavía.
5. Mudança oposta à anterior: josticia, chobasco.
6. Abertura do e no ditongo ei, até se tornar ai: asaite (aceite), sais (seis), raine (reina).
7. Mudança oposta à anterior: ai > ei: méiz (maíz), beile (baile).
8. Redução dos grupos consonânticos cultos: corrución (corrup-ción), indino (indigno), ilesia (iglesia).
9. Vocalização do grupo -ct-: aspeito, defeito, doutor.
10. Queda do -d- intervocálico: piaso (pedazo), cuidao (cuidado).
11. Surgimento de um -d- intervocálico por ultracorreção: vacido (vacío), bacalado (bacalao).
12. Ditongação excessiva (priesa, dientista) ou falta de ditongação: quebras (quiebras), apreta (aprieta).
13. Mudanças prosódicas: cáido (caído), bául (baúl), máistro (ma-estro).
Todos estes traços fonéticos são conhecidos no espanhol popular, vulgar e rural da Península.

1.1. CECEO E SESEO
Seseo - Realização do fonema [? ] como [s]: zapato [sa'pato]. Ocorre em parte da Andaluzia. Outra parte mantém a distinção entre s e z.
Ceceo - Realização do [s] como [?]: ci, ceñor, pace, uzté. Pratica-se esta troca em regiões meridionais espanholas, em proporções e circunstân-cias muito variadas, em coexistência com o ceceo e com a distinção entre s, z.
O seseo realiza-se em quase todo o espanhol da América, com pe-quenas ilhotas de [? ], porém não conhece e ceceo. Na península, fora da Andaluzia, há zonas de seseo em parte da Galiza, Catalunha, Valência e Vascongadas. Na Andaluzia o seseo é aceito socialmente, porém é conside-rado defeituoso nas outras regiões espanholas. O ceceo é sempre considera-do vulgar, mesmo na Andaluzia. Na América espanhola, o seseo é a norma.

1.2. YEÍSMO
O yeísmo é o fenômeno que consiste em pronunciar o ll (calle) como y ['kaye]. Existe yeísmo em Madri, Toledo, Ciudad Real, Extremadura, Andaluzia e Canárias. Em Hispano-América há distinção entre ll e y em várias províncias da Argentina, Chile, Peru, Colômbia, e Equador. No resto do território pratica-se algum tipo de yeísmo. Na maior parte do território do espanhol americano, incluído o espanhol dos Estados Unidos, o yeísmo consiste na pronúncia do ll como y fricativo, com abertura média (caballo) [ka'bayo], É a que se registra no Chile, nas regiões interiores da Argentina, zonas do Peru, litoral equatoriano, Colômbia, Venezuela, América Central, México e na maior parte do espanhol dos Estados Unidos, porém em Bue-nos Aires e numa ampla zona circunvizinha, o ll tende a africar-se e a en-surdecer-se: [ka'baxo], fonema semelhante ao ch ou x do português de cha-pa ['xapa], xarope [xa'rope]. Há outras realizações em Hispano-América e em diversas partes da Espanha. Na Andaluzia, a mais freqüente é uma reali-zação médio-palatal. Existe mesmo a queda do y, registrada no judeu-espanhol e em algumas localidades da Espanha e da América: cuchío, bol-sío, maravía, etc. O yeísmo não aparece documentado na literatura antiga, a não ser na Sicília no século passado.

2. ELEMENTOS LEXICAIS INDÍGENAS
Entre as mais de 123 famílias de línguas indígenas encontradas pelos espanhóis, as que mais marcas deixaram no espanhol foram o arauaco (hoje desaparecido), falado nas Antilhas; o caribe, nas Antilhas do sul, Venezuela e Guianas; o náuatle, o mais extenso no império mexicano; o quíchua, fala-do no Peru e levado pelos incas até o Chile e noroeste da Argentina; o arau-cano (ou mapuche)no sul do Chile e o guarani, falado em parte do Paraguai e no Paraná, no Brasil.
Muitas variações fonéticas do espanhol, atribuídas inicialmente a línguas indígenas, demonstrou-se mais tarde que já eram conhecidas na Península. Outras vezes, fenômenos fonéticos atribuídos ao substrato indí-gena, verificou-se que eram fatos de fonética geral, porém há casos em que o substrato indígena persiste e influencia o espanhol de seus descendentes.
A maior contribuição das línguas indígenas ao espanhol ocorre no léxico. A fonte mais antiga é a do arauaco. Desta origem são algumas pala-vras difundidas em línguas modernas: canoa, piragua (pirágua), cacique, tabaco, batata (batata doce), enquanto patata (port. batata, esp. patata ou papa) é de origem quíchua.
Outras palavras antilhanas são: bohío (cabana de ramos ou palha), caníbal (canibal), sabana (planície), naguas ou enaguas (peça feminina), guacamayo (espécie de papagaio grande), tiburón (tubarão), yuca (espécie de mandioca). Muitos vocábulos indígenas que entraram no espanhol e, geralmente em outras línguas, procedem do taino, língua antilhana. Às vezes discute-se a origem. Atribuem-se ao taino huracán (furacão), hamaca (port. maca), baquiano (guia, conhecedor), batea, bejuco (espécie de cipó), caoba (certa árvore de madeira de lei), guayaba, iguana, maní (amendoim).
Procedem do náuatle aguacate (abacate), cacao, chocolate, tomate, cacahuete (amendoim), jícara, chicle, hule (tecido impermeável), petaca (port. cigarreira), tiza (giz) e muitas outras, principalmente relacionadas com flora e fauna e modos de cultivo locais.
Do quíchua vieram cóndor (condor), alpaca, vicuña (vicunha) , gua-naco, puma, llama (lhama), coca, guano, mate, pampa, puna (planície em zonas altas), papa (patata), port. batata. Pertencem ainda a esta língua car-pa (toldo), chacra (campo cultivado), china (criada jovem, amante, moça do povo), yapa (gorjeta), pucho (port. guimba), poroto (habichuela no esp. peninsular = port. feijão), choclo (port. milho verde) e muitas outras.
Pertencem ao guarani, entre outras, as seguintes: tapir, tapioca, mandioca, ñandú, (nhandu, ema) yaguar (jaguar), ananá (ananás), yacaré (jacaré), bagual,(bagual, potro arisco) tucán (tucano), irupé (vitória regia), mucama, catinga, tapera, tatú (tatu), cuatí (quati) petunia (petúnia), etc.
Também ficaram algumas do araucano: gaucho (gaúcho), poncho, malón (ataque repentino dos índios) e outras menos comuns.
O fundo idiomático do espanhol das Américas é bastante homogêneo nas camadas cultas. Henrique Ureña dividiu a América espanhola em 5 zonas geográficas principais:
1) O sul e sudoeste dos Estados Unidos, México e as repúblicas da América Central.
2) As três grandes Antilhas espanholas (Cuba, Porto Rico e Santo Domingo), a costa e planícies da Venezuela e, provavelmente, o norte da Colômbia.
3)  A região andina da Venezuela, o interior e a costa ocidental de Colômbia, Equador, Peru, a maior parte de Bolívia e, talvez, o norte do Chile.
4) A maior parte do Chile.
5) Argentina, Uruguai, Paraguai e, talvez, parte do sudeste bolivi-ano.
Cada uma destas cinco zonas tem muito em comum, no aspecto his-tórico, substratos, etc. Em cada uma destas zonas poder-se-iam fazer subdi-visões quanto às características lingüísticas. Estudos posteriores demostra-ram a fraqueza desta classificação e propuseram novas subdivisões.
José Pedro Rona tentou uma nova delimitação e propôs 23 zonas. A classificação de Rona foi tomada como ponto de partida para novos estudos. No entanto, podem-se citar alguns aspectos característicos do espanhol de boa parte da América. Um dos mais destacados é o voseo.

3. VOSEO
O pronome vos (de vosotros) é uma forma de tratamento usada em grande parte da fala popular da América, mas não em toda. Este pronome, da 2a pessoa do plural, substituiu o o pronome correspondente da 2a do singular (tú). Com a perda do tú, perdeu-se o pronome oblíquo os e seu possessivo vuestro, vuestra, que foram substituídos por te, tuyo, tuya ou tu (antes de substantivo). Este uso dos pronomes pode fazer a concordância no plural com as formas tradicionais do verbo, mas, mais freqüentemente, é empregado em frases híbridas, ao alterar as formas verbais, ocasionando construções chocantes: A vos te parece bien.
Vos te comeréis; ou Vos te comerés;  ou Vos te comerás este pastel.
(Observa-se a oscilação no uso da forma verbal: Comeréis é a forma tradicional do verbo no plural, porém o te mantém-se no singular. Comerés é forma gramaticalmente desconhecida, criada pelo uso popular, pois existe a consciência de que a pessoa está no singular. Em comerás, o falante usa o verbo no singular, a despeito do pronome de tratamento). Outros exemplos semelhantes são citados por Zamora Vicente em Dialectología..., p. 401 e seguintes: "Vos te gastáis la vida con vos solo" ou "Vos te has guardado esa platita para vos solo".
A fala popular emprega rigorosamente usted, ustedes, em lugar de vosotros, forma esquecida na fala popular, como o tú.
As classes cultas empregam tú e usted, mas em toda a América e em todas as classes de falantes, ustedes é o único plural de tú.
As formas vosotros, vosotras, amplamente usadas na Península em todas as classes sociais, são desconhecidas no espanhol americano.
Há confusões devido ao uso de tú e à luta dos dois tratamentos.
O uso de vos para a 2a do singular denomina-se voseo, enquanto o uso de tú é denominado de tuteo.
As formas verbais do voseo, embora muito variadas, podem reduzir-se a este esquema:

A -Vos  cantáis, teméis,  reís   (Formas verbais tradicionais do castelhano)
B -  cantaís, temís,  reís  (Serra do Equador, sul do Peru, Chile)
C -  cantás, temés, reís   (Sul do México e América Central, Colômbia, Venezuela, costa do Equador, Paraguai, Argentina, nos pampas e Uruguai.
D - cantas, temes,  ríes     (Santiago del Estero)

4. DIFERENÇAS SEMÂNTICAS E LEXICAIS
4.1. ITENS LEXICAIS ARCAIZADOS
Conservam-se na América muitos itens lexicais arcaizados em algu-ma de suas acepções, já arcaizadas na Península. Relacionas apenas alguns dos mais significativos;
Agonía (angústia)
Apearse (hospedar-se)
Bravo (aborrecido)
Despacharse (apressar-se)
Frazada (manta)
Día lunes, día martes, etc.
Fundo (quinta)
Lindo (bonito)
Liviano (leve)
Masas (bolos)
Memorias (saudações, lembranças)
Pararse (pôr-se em pé)
Pollera (saia)
Prieto (escuro, preto)
Recordar (acordar)
Sentirse (magoar-se)
Sobrar (fazer gozação),

4.2. AMERICANISMOS
Denominam-se americanismos as variações lingüísticas próprias de espanhol da América. Indicaremos apenas alguns dos mais conhecidos ame-ricanismos lexicais. Alguns são exclusivos de uma área. Argentina (Arg), área platina (Plat), México (Méx), América Central (Amér C).Quando se usam só em determinada área, indicamo-la com a abreviatura correspon-dente. Os demais consideram-se gerais. Alguns americanismos lexicais são de uso coloquial (Col) ou vulgar (Vulg):
arveja = guisante (ervilha)
auto  Col = automóvil, coche (carro)
ayote  Mex  Amer C = calabaza (abóbora)
boleta = cédula para votar (título de eleitor)
boleto = billete para pasaje, entrada, etc. (ticket, vale)
bombilla  = caña para sacar mate (canudo para tomar mate)
caballería  Mex  Amer C = cierta  medida agraria (certa medida agrá-ria)
cadete = aprendiz (de comercio), Arg = office boy (bói)
caimán = cocodrilo (jacaré)
camión  Mex = autobús, ómnibus (ônibus)
camote  Mex  Amer C = batata (batata-doce)
canilla = carrete, bobina (carretel)  Plat = grifo (torneira)
chacra = granja (chácara, granja)
chancho = cerdo, puerco (porco)
chiche = teta, mama (peito),  Plat = cosa linda (coisa linda) Arg = juguete infantil (brinquedo)
chile  Mex  Amer C = ají (pimenta)
chingar  Col = beber mucho (beber muito)
chino/a  = descendiente de indio/a  y zambo o de negro/a y mulato/a. (de olhos rasgados) Amer = tratamiento cariñoso  (tratamento carinhoso) Amer menos Plat = criada, sirvienta (empregada)
choclo = maíz tierno (milho verde)
cholo = mestizo/a de blanco/a con indio/a (mestiço de branco/a com índio/a)
chucha  Vulg  Amer = prostituta
chucho = perro (cachorro)
chueco/a = patituerto (de pernas tortas)
chulo  Amer C = querido (querido, meu bem)
chuparse = beber, tomar bebida (embebedar-se)
chupete  Arg = pirulí (pirulito)
coger  Vulg = copular, fornicar
componer  Col  Mex  Amer C = alumbrar (dar à luz)
computadora, computador  = ordenador (computador)
concha  Arg  Vulg = órgano sexual femenino (órgão sexual feminino)
concordato = concordata
crachá = credencial (crachá)
cuate/a  Mex  Amer C = gemelo (gêmeo/a)
cuerda = cierta medida agraria (certa medida agrária)
cupo = plaza, cuota (cota, vaga)
embromar = perjudicar a alguien (prejudicar alguém)
embromarse = aburrirse, enfadarse (chatear-se, zangar-se)
empacar  Mex  Amer C = hacer las maletas (fazer as malas)
endrogarse =  drogarse, endeudarse (drogar-se, endividar-se)
esqueleto = molde, modelo
estampilla = sello postal (selo postal)
estancia  Plat = hacienda de ganado (fazenda de gado)
finca = hacienda, chacra (fazenda, chácara)
forma = formulario (formulário)
frazada = cobertor
frutilla  Plat = fresa (morango)
gauchada  Arg.= favor
grapa  Arg  = bebida alcohólica (bebida alcólica)
gremio  Arg = sindicato
hoya = concavidad u hoyo grande, valle (bacia fluvial, vale)
jalón  Mex  Amer C = bocanada, pitada (tragada, baforada)
lagarto = cocodrilo (jacaré)
lama = musgo
limosnero/a = mendigo, podiosero
madrugar  Col  Arg = ludibriar, engañar (passar a perna)
mariposa  Col = homosexual (homossexual)
matador/a  Col  = cansativo/a
mero  Mex  Amer C = mismo (mesmo)
ñato/a = gangoso/a (fanhoso/a)
ómnibus  Plat = colectivo (coletivo)
ómnibus = autobús (ônibus)
overol = mono (macacão)
papaya  Mex  Amer C = mamón (mamão)
peludo  Plat = armadillo (tatu)
peón = trabajador del campo trabalhador da roça)
pico  Vulg  Chile = órgano sexual masculino (órgão sexual masculi-no)
pijotero/a = mezquino/a (mesquinho/a)
platicar = conversar, dialogar
poroto  Plat = habicuela, frijol (feijão)
premiación = entrega de premios (entrega de prêmios)
rancho = propiedad rural (propriedade rural
rodados  Arg = vehículos (veículos)
ruta  Arg = carretera (estrada)
salado/a  Col  Mex  Amer C = desdichado (azarado)  Plat = caro
santo/a  Col  Mex  Amer C = cumpleaños (aniversário)
sonar  Arg = perder, fracasar (fracassar)
soquete = calcetín (meia curta)
suertudo/a = dichoso/a, afortunado/a (sortudo/a)
tatú  Mex  Amer C = armadillo (tatu)
templarse = enamorarse (apaixonar-se
vidriera = escaparate, vitrina (vitrine)
yerba = mate
yeta  Col = infortunio, desdicha (infortúnio)
yeyo = hierba (capim)
zancudo = mosquito (pernilongo)
zapallo = calabaza (abóbora)
zope = buitre (abutre)
zumbar = abuchear (vaiar)

5. INOVAÇÕES MORFOLÓGICAS E SINTÁTICAS
É mais freqüente no espanhol americano a inovação de acrescentar desinência de gênero, substituindo a vogal temática quando existe. Exem-plos:
Huéspeda, tenienta, parienta, estudianta, diabla, federala, liberala, intelectuala ou o contrário: bromisto, pianisto, pleitisto, hipócrito, campisto, modisto (também na Espanha), maquinisto, telegrafisto. Também ocorrem casos de mudança de gênero, com ou sem mudança de desinência de gêne-ro, assim, em México: la muelle, em México e Antilhas: el bombillo.
Tendência no espanhol americano a usar o plural em frases em que no espanhol peninsular se usa o singular:
Nos hemos mojado las cabezas; los concurrentes volvieron las caras, ponerse de pies
Em toda a América: ¿Qué horas son?, Son las onces. Hace tiempos. Los otros días. (ZAMORA VICENTE, Dialectología..., 433)
Também no espanhol americano se constata a freqüência do uso do sufixo –azo com valor superlativo: grandazo, cansadazo, ellos gustan mu-chazo, lo atendió cariñosazo, etc.
Nos verbos é freqüente o uso do pretérito perfeito (esp. indefinido) pelo pretérito imperfeito: durmió, cantó, vendiste, por dormía, cantaba, vendías.
Também se observa o emprego de verbos intransitivos na forma re-flexiva:
Me saludé con fulano; ya se crecen las mareas, tardarse, robarse, por saludé fulano; ya crecen las mareas; tardar, robar, etc.
Entre as locuções freqüentes no espanhol americano, encontra-se como ser e cosa de: “Fulano tiene muchas preocupaciones como ser la de...” “Terminá y venite cosa que yo te encuentre”
Existem muitas outras construções sintáticas próprias que caracteri-zam o espanhol americano.

6. O PAPIAMENTO DE CURAÇAO
A ilha de Curaçao foi incorporada a Castela em 1499. O holandês é a língua oficial, mas o ensino tem que ser traduzido ao papiamento. É  a lín-gua falada por todos, menos pelos funcionários da administração. Usa-se inclusive nas instituições católicas o que prova que o papiamento chegou a ser uma língua de cultura. É uma língua crioula. Tem por base o crioulo dos escravos, que os portugueses trouxeram da África. Em Curaçao, esta língua misturou-se ao espanhol das Antilhas e do litoral venezuelano e conta com numerosas palavras holandesas. No papiamento encontra-se seseo e yeísmo, como no restante do espanhol americano. Ocorre nasalidade e elevação do [e] e [o] finais: muchu, dilanti. Há outras alterações fonéticas.
O substantivo é invariável, o artigo definido e o adjetivo também é invariável: muchanan gracioso ou mucha graciosonan equivalem a rapazes ou moças graciosos ou graciosas.
O verbo também é invariável. Há também muitas palavras portugue-sas: bunita, bisiña, mirá, cumée, drumi, porta, porco, hariña, galiña, bom, també, antó.
Existem alguns verbos auxiliares para assinalar as relações de modo: por, kier (querer), mester.
No léxico encontram-se sufixos populares originários da língua: -mentu, -or, -erro: kabamentu, nasementu, nengamentu, primintimentu; piskador, lezador (leitor).
Existe um processo de descriolamento. A partir do séc. XIX, a co-municação das ilhas com o continente tornou-se mais fácil e constante. Afastando-se do português, o papiamento apelou para o espanhol nas neces-sidades lingüísticas que se lhe apresentavam. Atualmente 85% do léxico é espanhol, 5% holandês e o restante português ou africano. Também se per-cebe algum influxo do inglês.
O papiamento é uma língua que tem atualmente valor para a comu-nicação social e até para uso literário.

7. CONCLUSÃO
O espanhol é a língua nativa de mais de 350 milhões de pessoas, distribuídas por todos os continentes, mas seu maior contingente encontra-se no continente americano. É a língua oficial de 20 países, além de ser a língua de cerca de 30 milhões de falantes nos Estados Unidos e de comuni-dades minoritárias em outros países. O espanhol é originário da Espanha, ou melhor, de uma região central da Espanha, denominada  Castela, daí ou outro nome pelo que este idioma é conhecido: Castelhano. A língua espa-nhola foi a primeira língua românica a dispor de uma gramática normativa: a de Nebrija, em 1492. A língua foi transportada para o continente america-no pelos conquistadores, a partir do descobrimento (séc. XV).
É bem sabido que todas as línguas evoluem e se alteram com o tem-po e que o afastamento geográfico facilita a dialetalização. O espanhol, como as demais línguas, não está livre dessa evolução, mas, devido talvez à preocupação com essa possível descentralização, criou-se já há muito tempo a Real Academia de la Lengua  em Madri, com o fim de proteger a língua. Nesta Academia estão representadas as vinte academias de cada uma das nações da fala espanhola, além da de Estados Unidos e das Filipinas, que possuem contingentes de falantes de espanhol.
Vimos muito resumidamente algumas diferenças entre o espanhol europeu e o americano de um modo geral e algumas diferenças regionais. Apesar dessas e, possivelmente, outras diferenças, a unidade sobrepõe-se à diversidade. Há pouca ou quase nenhuma dificuldade de compreensão oral entre falantes deste amplo universo, mesmo levando em conta as variações fonéticas, semântica e sintáticas. Na língua escrita, a uniformidade é quase absoluta. Ao que parece, nenhuma língua viva da atualidade, com extensão semelhante, mantém a mesma uniformidade. O espanhol está em expansão no mundo e o próximo milênio parece ter-lhe reservado um importante papel.

8. BIBLIOGRAFIA E OUTRAS FONTES

CASARES, Julio. Diccionario ideológico de la lengua española. 2. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1982
FLAVIAN, Eugenia & FERNÁNDEZ, Gretel Eres. Minidicionário Espa-nhol – Português; Português – Espanhol. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995
HERNÁNDEZ, José. Martín Fierro. 7. ed. Buenos Aires, Kapelusz, 1965
ZAMORA VICENTE, Alonso. Dialectología española. 2. ed. Muy aum. Madrid: Gredos, 1967

OUTRAS FONTES:

Jornais espanhóis e hispano-americanos
Revistas
Literatura popular recente
Sítios na Internet
Observação direta, etc.