SÍNTESE DA GRAMÁTICA TUPINAMBÁ

Nataniel dos Santos Gomes (UERJ/UFRJ)

As línguas são classificadas em famílias lingüísticas de acordo com o critério genético. A família lingüística é constituída por um grupo de línguas para as quais se formula uma hipótese de origem comum, portanto são manifestações diversas e alteradas pelo tempo de uma língua ancestral. O maior problema é que a maioria destas línguas ancestrais são pré-históricas, sem nenhuma documentação. A partir de estudos históricos-comparativos dessas línguas, ou pelo menos de algumas características destas, parte-se da descoberta da correspondência entre elas, através de sons, de palavras, formas gramaticais, de pelo menos duas línguas, formulando hipóteses sobre a derivação diferenciada das línguas atuais.
A família Tupi-Guarani, da qual o Tupinambá (ou Tupi Antigo) fez parte, se destaca entre as outras famílias da América do Sul, graças à extensão territorial em que estão distribuídas suas línguas. No século XVI, estas línguas eram faladas em praticamente toda a extensão do litoral brasileiro e na bacia do rio Paraná. Hoje esta família pode ser encontrada no Maranhão, no Pará, no Amapá, no Amazonas, em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul, em Goiás, em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, além de ser encontrada fora do Brasil, na Guiana Francesa, na Venezuela, na Colômbia, no Peru, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina.
Costuma-se dizer que a língua dos indígenas brasileiros era o Tupi-guarani, sem que saiba que está cometendo um erro. Este Tupi-guarani não nada mais que o tronco étnico que pertence o Tupi, assim como o fazemos referência ao indo-europeu como tronco lingüístico. E logicamente o Tupi não deriva do Guarani, nem o Guarani do Tupi. São línguas que surgiram do mesmo tronco.
Os primeiros dados registrados por escrito datam do início do século XVIII, mas é somente em 1575 que são produzidos os primeiros textos. Eram textos religiosos do Pai-Nosso, da Ave-Maria e do Credo, traduzidos para o Tupinambá, provavelmente fruto do trabalho missionário jesuíta, reproduzidos a partir de um informante indígena catequizado pelo francês Andre Thevet.
Em seguida, um outro francês, Jean de Lery, pastor protestante, publicou um texto em que se tentava reproduzir conversas típicas dos índios com os europeus. Sua importância é de demonstrar como uma língua brasileira era falava pelos nativos. Segundo o Prof. Aryon Rodrigues (1994), praticamente todos os europeus que vinham para o Brasil acabavam aprendendo a falar o Tupinambá, de acordo com a oportunidade de convívio com os índios. Mas foram somente os missionários, que além de trabalharem no catecismo católico, passaram a produzir textos próprios, como por exemplo, José de Anchieta, que produziu mais de 4000 versos em Tupinambá. Ao mesmo tempo Anchieta elaborou a primeira descrição da língua brasílica, em Tupinambá. Três anos depois, em 1621, foi impressa uma segunda gramática sobre o Tupinambá, do padre Luís Figueira. Na segunda metade do século XVIII esta gramática e este catecismo tiveram novas edições, e um novo catecismo, do padre Bettendorf. Neste período já haviam jesuítas  nascidos no Brasil e totalmente bilíngües, entretanto poucos índios devem ter aprendido a escrever em sua língua.
Normalmente quando se refere ao tupi antigo encontramos análises de sua influência sobre a língua portuguesa, sobretudo em topônimos. Assim esquecemos de seu valor lingüístico de resistência à imposição.
As línguas indígenas não foram suplantadas pelo português aqui chegado. Na realidade, elas só desapareceram com o extermínio de seus falantes. O Tupinambá, ou Tupi da Costa, desapareceu sendo ocupado pelo Guarani, ainda falado em toda a região sul e sudeste, exceto Minas Gerais. É interessante notar que o uso desta língua se tornou tão geral pela população luso-brasileira no século XVIII, que o governo chegou a proibir seu uso. Mas mesmo assim o Tupinambá deixou sua marca na língua portuguesa, por exemplo, numa amostra de um pouco mais de mil nomes brasileiros de aves, um terço, são de origem do Tupinambá, segundo Aryon Rodrigues (1994).
Hoje, os indígenas deixaram o mato e sua cultura para serem queimados na cidade grande e “civilizada”, para usarem dos privilégios (?) da cultura “branca”, inclusive tornando-se deputados federais. Mesmo assim,  os grupos mantêm a sua língua, ainda que não falando na frente de outros que não sejam de seu povo.
Podemos perceber fatos lingüísticos muito interessantes na análise desta língua. Por exemplo, percebemos que ela não têm consoantes fricativas, exceto o /s/, também não possuíam a lateral /l/ e a vibrante múltipla /R/, gerando um trocadilho, que afirmava que aquele povo não tinham fé, lei e rei, como forma de referência à sua cultura e língua.
Vejamos o sistema segmental:
Consoantes:
p   t  k  ‘
b
  s s?
m  n ?
w j
  r

Vogais
i  y u  i? y? u?
e   o  e?  õ
  a    ã
Os sistemas vocálicos apresentam 6 vogais orais e 6 nasais.
O Tupinambá possui uma estrutura morfológica bem curiosa: o sujeito do verbo intransitivo é cindido, ou seja, o sujeito dos verbos intransitivo quando exprimem estado, como estar com fome, ser bom e outros, tem a mesma forma que o objeto dos verbos transitivos. Assim o sujeito dos verbos intransitivos ativos, por exemplo correr, e dos transitivos tem forma idêntica.
São línguas ativas, com sintagmas nominais neutros e diferentes formas de clíticos referentes a pessoas.
Assim como a língua portuguesa, no Tupinambá não existe a obrigatoriedade dos sintagmas nominais de sujeito ou objeto serem preenchidos lexicalmente, é o que Chomsky  chama de língua pro drop ou de sujeito nulo na sua teoria de princípios e parâmetros.
A ordem sintagmática não tem função gramatical. Entendemos então, que a ordem sintagmática pode servir a funções discursivas e pragmáticas. Os movimentos ocorrem na fonologia e não na sintaxe (vide Leite, 1997).
Portanto é uma língua que possui marcas de pronome e não de concordância.
Algo que entendemos como sendo um erro clássico é a sua classificação como língua aglutinante e não como incorporante. Não aceitamos a proposta de classificação como aglutinante, porque são assim classificadas as línguas cujas palavras são compostas por uma seqüência de morfes, cada um representando um morfema, como no turco. Ela teria portanto uma correspondência única entre os morfes e os morfemas. Para classificá-la assim os pesquisadores se prendem a questões tais como afixos de tempo, caso, gênero etc, o que não existe na língua em questão.
No Tupinambá ocorre união entre duas palavras para formar uma, um objeto pode ser incorporado ao verbo. Sendo considerada uma língua polissintética.
Segundo Tibiriça (1984:13), o Tupi apresenta três fases cronológicas: a antiga (na época da conquista), a média (já no século XVIII) e a moderna. .Assim ocorreram mudanças tanto na fonologia como na semântica.
Com a vontade de catequizar  o indígena foram criadas uma série de palavras que não existiam naquela língua, além do seu uso na literatura de forma indiscriminada e inúmeros erros na imprensa, a Tupi foi se deformando entre os não conhecedores e também entre os falantes.
Na sua gramática empregamos diferentes vocábulos para especificar o sexo entre humanos: apyaba (homem, macho); cunhã  (mulher, fêmea); curumi (menino); cunhãtai? (menina). No caso de animais usamos mena e cunha, respectivamente, para macho e fêmea.
O adjetivo segue o substantivo e une-se a ele: itá, ‘pedra’, itaúna, ‘pedra preta’.
É muito interessante pensar sua morfologia verbal, por exemplo, os marcadores de pessoa nas orações independentes. O verbo no Tupinambá vem sempre expresso por um ou mais elementos pronominais. O Tupinambá é uma língua classificada como pertencente ao tipo ativo/não-ativo: os sujeitos dos verbos intrasitivos-ativos são expressos pela mesma forma que os sujeitos dos verbos transitivos, enquanto que os sujeitos dos verbos intrasitivos não-ativos recebem a mesma expressão que os objetos dos verbos transitivos.
Vejamos o quadro de afixos pessoais:
 

 Série I (ativa) Série II (não-ativa)
 A As O So
1 sg. a- a- Xe- Xe-
2 sg. Ere- Ere Nde- Nde-
1 incl. Îa- Îa- Îande- Îande-
1 excl. Oró- Oró- Oré- Oré-
2 pl. Pe- Pe- Pe- Pe-

Por exemplo:
a) a-î-pysyk
  1sg-3-segurar
‘Eu o segurei.’
b) Xe-pysyk
1sg segurar
‘Ele me segurou’
c) A-bebé
‘Eu vôo’
De acordo com os dados, o Tupinambá possui 2 conjugações: 1ª) verbos de pronomes pacientes xe-, nde-, etc.; 2ª) de prefixos ou pronomes agentes a-, ere- o-,etc.
Em Tupinambá, quando o sujeito é de 3ª pessoa e o objeto é de 1ª ou de 2ª pessoas, utiliza-se a hierarquia referencial, isto é, o verbo fica marcado com o prefixo referente ao objeto.
Exemplos:
a) Xe-pysyk
1ª sg.  Segurar
‘Ele me segurou.’
b) Ore-pysyk
1ª excl. segurar
‘Ele nos segura.’
Quando o objeto é de 3ª pessoa, todavia, tanto os prefixos referentes ao sujeito quanto ao objeto (de 3ª) ficam expressos no verbo:
a) a-î-pysyk
1 sg.  3  pegar
‘Eu o segurei.’
b) ere-î-pysyk
2 sg.   3 segurar
‘Você o segurou’.
c) o-î-pysyk
3   3 segurar
‘Ele o segurou’.
 Já os marcadores de pessoas nas orações dependentes têm características que os diferem dos outros marcadores obviamente. Somente a série não-ativa é utilizada para expressar o sujeito do verbo intransitivo e o objeto. O sujeito transitivo é expresso por um pronome livre.
A série de pronomes livre do Tupinambá é:
Ixe-  1ª sing.
(e)nde-  2ª sing.
Îandi-  1ª inclusiva
Ore-  1ª exclusiva
Pee-  2ª plural
Ae-  3ª pessoa
Nas orações independentes em que o objeto pode ocorrer em qualquer outra posição, o objeto pronominal está sempre expresso no verbo, como no exemplo de Pindobuçu viu o mar, no início de nosso trabalho. Os exemplos abaixo visam mostrar que o uso do nome e do pronome de 3ª seguem uma distribuição complementar.
Outros exemplos aonde o objeto é posto entre o agente e o verbo:
a) a-mberu-îuka
1ª sg.-mosca-matar
‘Matei uma mosca.’
b) O-mberu-îuká
3ª-mosca-matar
‘Matou uma mosca’.
(Lemos Barbosa, 1957:67)
Vejamos alguns exemplos em que o objeto não está entre o agente e o verbo, mas o pronome de 3ª pessoa.
Este é quase sempre i (ou î após vogal).
Exemplos:
a) ‘Apanhou um machado.’
o-îy-pysyk
o-î-pysyk  îy
îy o-î-pysyk
b) ‘Quero pedras.’
a-î-potar itá
itá a-î-potar
a-itá-potar
Antes de muitos verbos começados por vogal usa-se s, em vez de i:
c)  ‘Viste o mar’.
Ere-paranã-epîak
Ere-s-epîak paranã
Paranã ere-s-epîak
d) ‘Ouvi uma voz’
a-nheeng-endub
a-s-endub nheenga
nheenga a-s-endub.
Com os verbos monossilábicos utiliza-se îo- (nho-, antes de nasais):
d) ‘Escondemos frutas’.
Oro-ybá-mim
Oro-nho-mim ybá
e) ‘Arrancaram as flechas’.
o-uub-ok
o-îo-ok
f) ‘Enterraste as cabeças’.
Pe-akã’-tym
Pe-nho-tym akanga
Nos casos de 3ª pessoa o îo- não é usado de forma rigorosa. Vejamos:
g) ‘Enterrou a mulher’
o-nho-tym kunhã
o-tym kunhã
h) ‘Pilou o milho’.
o- îo-sok abati
o-sok abati
Um fato curioso sobre os elementos pronominais de objeto de 3ª pessoa é que, quando ocorrem, liberam o sintagma nominal do objeto.
O verbo está marcado com objeto de 3ª pessoa e a ordem do sintagma objeto é livre, conforme o exemplo abaixo:
a-î-pysyk îy
1 sg. 3 apanhar machado
îy a-î-pysyk
machado 1 sg 3 apanhar
‘Eu apanhei o machado.’
Nas orações dependentes, observa-se o seguinte: quando o objeto é um sintagma nominal, ele deve preceder o verbo, como mostram os dados abaixo.
Quando o pronome objetivo ocorre, porém, o objeto pode aprecer distante do verbo como em:
  O S V
Koriteî pitanga kunhã i-mombak-i
Depressa criança mulher 3-acordar-dep.
‘Depressa, a mulher acordou a criança’.
  O S V
Koriteî kunhã pitanga i-mombak-i
Depressa mulher criança 3-acordar-dep.
‘Depressa, a criança acordou a mulher’.
Note que o verbo está marcado com o pronome objetivo, e o sintagma objeto pode ocorrer deslocado e essas sentenças podem ser traduzidas como:
‘Depressa, a criança, a mulher acordou.’
‘Depressa, a mulher, a criança a acordou.’
É possível dizer:
Koriteî kunhã imombak i
Depressa mulher 3-acordar-dep.
‘Depressa, a mulher a acordou.’
Parece, então, que o marcador objetivo funciona como um clítico pronominal. É como se fosse o próprio objeto na sua forma pronominal, ao passo que os sintagmas nominais que co-ocorrem com esses clíticos seriam adjuntos.
Quando o pronome de 3ª pessoa está presente, o sintagma nominal que precede o verbo é interpretado como sujeito Quando o pronome está ausente, o sintagma nominal que antecede o verbo é interpretado como objeto como ilustramos abaixo:
a) Koriteî pitanga kunhã mombaki
Depressa criança mulher acordar
‘A criança despertou a mulher depressa’.
b) Koriteî kunhã pitanga mombaki
‘A mulher despertou a criança depressa’.
É sintagma nominal que antecede o verbo é dado como sendo objeto. Em (a) kunhã  ocupa posição pré-verbal e por isso, é identificado como objeto. Em (b), é pitanga que ocorre antes do verbo e por isso a tradução muda.
Quando o pronome objeto de 3ª é empregado, essa leitura (de que o sintagma nominal antes do verbo é objeto) desaparece. O sintagma nominal Qua aparece antes do verbo é visto como o sujeito:
c) Koriteî kunhã i-mombaki
‘depressa a mulher a acordou.’
d)  Koriteî pitanga imombaki
‘depressa a criança a acordou’
Se houver dois sintagmas nominais na sentença, todavia, o que aparece antes do verbo é sempre o sujeito e o que aparece antes desse sujeito é o objeto. Assim, uma sentença como (e)  tem a leitura em (f).
e)  Koriteî kunhã pitanga imombaki
f) Depressa, a mulher, a criança a acordou.
Parece, então, que o prefixo de 3ª pessoa é um pronome objeto e osintagma nominal associado a ele, parece ser um elemento deslocado como mostra a sentença em português. Note que tem-se uma estrutura de deslocamento à esquerda. O objeto aparece deslocado, mas em seu lugar fica o pronome clítico de 3ª pessoa.
Existem verbos em Tupinambá e em outras línguas da família que aparecem prefixados por um morfema r- como mostram os exemplos abaixo:
g) Koriteî pitanga kunhã-r-epîaki
ver
‘A criança viu amulher depressa’.
h) Koriteî kunhã pitanga-r-epîaki
ver
‘A mulher viu a criança depressa’.
Quando este morfema r- aparece, o elemento que ao ntecede é sempre interpretado como o oobjeto.
A distribuição do morfema r- é aleatória. Parece ser condicionada por fatores morfológicos. Uma classe de verbos ocorre com r-, e outra sem r-. “Ver” é antecedido por r-,  mas “acordar” não é.
Quando um pronome de 3ª (o alomorfe de i, que é s em Tupinambá) aparece em estruturas como em (g) e (h), o r desaparece e o  sintagma nominal que antecede o verbo é também interpretado como sujeito:
i)  Koriteî pitanga sepîaki
Ver
‘Depressa a criança a viu’
j) Koriteî kunhã sepîaki
ver
‘Depressa a mulher a viu.’
Quando dois sintagmas nominais aparece em tais estruturas, tem-se o mesmo que ocorre nas orações acima. O primeiro sintagma nominal é interpretado como um objeto deslocado:
k) Koriteî kunhã pitanga s-epîaki
‘Depressa, a mulher, a criança a viu’
Kunhã  é interpretado como objeto deslocado.
Para alguns investigadores do Tupinambá e de línguas da família, s e i são interpretados não como pronomes, mas como morfemas relacionais como é o caso de r.
Observemos os dados do Tupinambá a seguir:
l) Xe-repîak
1ª-r-ver
‘me viu’
m) Nde-r epîak
‘te viu’
n) kunhã r epîak
‘viu a mulher’
o) sepîak
‘o viu’
O paradigma acima parece ser um morfema que indica relação. Seria um alomorfe de r na 3ª pessoa. Analisamos assim o próximo exemplo:
p) 0 s-epîak
3ª relacional ver
‘o viu’
Assim, percebemos que o pronome de 3ª pessoa é zero. S é a mesma coisa que r. Indica apenas que há uma relação de complemento entre o verbo e o sintagma do elemento pronominal que o antecede.
Uma análise assim não consegue explicar exemplos como o (k).
É importante vermos a ordem de palavras no nível oracional.
Em Tupinambá, a ordem dos constituintes oracionais parece servir para indicar funções pragmáticas e não gramaticais.
Dessa forma o sujeito pode ocorrer antes ou depois do predicado, mas o prefixo agente virá sempre antecedido ao verbo. O objeto direto, quando substantivo, aparece depois do verbo, mas são possíveis outras colocações, desde que a clareza da sentença não seja prejudicada:
Exemplos:
‘Pindobuçu viu o mar.’
a) Pindobusu o-s-epîak paranã.
b) Pindobusu paranã.o-s-epîak.
c) paranã Pindobusu o-s-epîak.
d) o-s-epîak paranã Pindobusu.
(Lemos Barbosa, 1957:67)
Portanto as ordens SVO, SOV, OSV, VOS são possíveis no Tupinambá, ou seja, esta língua é caracterizada pela ordem livre nas orações indepedentes.
Já nas orações dependentes, a ordem é SOV.
Exemplos:
                      S         O            V
a) Koriteî kunhã pitanga mo-mbak-i
   Depressa mulher criança acordar-dependente
‘A mulher acordou a criança depressa.’
                     S         O            V
b) Koriteî pitanga kunhã i-mo-mbak-i
   Depressa criança mulher acordar
‘A mulher despertou depressa a criança.’
           S         O            V
c) Koriteî pitanga kunhã mo-mbak-i
   Depressa criança mulher acordar
‘A criança despertou depressa a mulher.’
            S         O            V
d) Koriteî kunhã pitanga i mo-mbak-i
    Depressa mulher criança acordar
‘A criança despertou depressa a mulher.’
A ordem no nível sintagmático merece uma atenção especial, por exemplo nas construções genitivas.
Para demonstrar posse basta juntar dois substantivos, sendo o primeiro no genitivo. O mesmo processo pode exprimir o complemento restritivo ou determinativo.
A ordem adjetivo-nome:
Vejamos os exemplos abaixo:
      A    N
a) itá tinga
   pedra  branca
‘pedra branca’
     A    N
b) y puku
   rio comprido
‘rio comprido’
Percebemos que a ordem dentro do sintagma nominal que contém adjetivo no Tupinambá é de adjetivo-núcleo.
A ordem nome e adposição:
Lemos Barbosa chama as posposições do Tupinambá de preposições. São colocadas depois da palavra que regem.
Exemplos:
  N A
a) a-sem taba suí
sair aldeia da
‘saí da aldeia’
  N A
b) oro-ikó taba suí
estar aldeia fora da
‘estamos fora da aldeia’
Como nosso espaço é pequeno, precisamos parar por aqui, sem condições de aprofundar mais no tema. Esperamos que algumas diferenças tenham ficado claras e que mais lingüísticas venham a pesquisar uma a tanto tempo esquecida.

Bibliografia:
ANCHIETA, José de. Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933.
BARBOSA, A. Lemos. Curso de Tupi Antigo. Rio de Janeiro: Livraria São José, /s.d./
CÂMARA Júnior, Joaquim Mattoso. Introdução às línguas indígenas brasileiras. 3 ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.
DOOLEY, Robert A. (red.)  Estudos sobre línguas tupí do Brasil. Série lingüística, nº 11, Summer Institute of Linguistcs, Brasília: 1984.
EDELWEISS, Frederico G. Estudos tupi e tupi-guaranis: confrontos e revisões. Livraria Brasiliana, Rio de Janeiro, 1969.
LEITE, Yonne. Línguas da família Tupi-Guarani: uma proposta de análise. In.: SOCIEDADE BRASILEIRA DE LÍNGUA E LITERATURA. XXVIII Congresso Brasileira de Língua e Literatura. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, 1997.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Análise morfológica de um texto tupi. Separata da Revista “Logos”, ano VII, N. 5. Curitiba: Tip. João Haupi, 1953.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Descripción del tupinambá en el período colonial: el arte de José de Anchieta.Colóquio sobre a descrição das línguas ameríndias no período colonial. Ibero-amerikanisches Institut, Berlim.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas Brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1994.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Morfologia do Verbo Tupi. Separata de “Letras”. Curitiba, 1953.
TIBIRIÇÁ, Luiz Caldas. Dicionário Tupi-Português. São Paulo: Traço, 1984.