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O FILÓLOGO DE PLANTÃO
“Um jornal que teima em buscar a verdade na doce ilusão de encont-la”
Publicação do CIFEFIL Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos.
Nova Série, ano 1, n.º 7. Rio de Janeiro, setembro de 2021.
Visite www.filologia.org.br para saber das novidades da área de Letras e do CiFEFiL.
Visite http://www.filologia.org.br/rph/80.html para ler a Revista Philologus.
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Verba Sapientiae
EDITORIAL
Neste mês, destacamos o sucesso da edição
remota do Congresso Nacional de Linguística e
Filologia, de 24 a 26 de agosto passado, com
333 participantes e 220 apresentações. Como
aoutubro devemos publicar os primeiros anais
do evento, acompanhem, as novidades no site.
Novidade na coluna “Holofotes”, destinada a
resumos de livros e pesquisas consolidadas nas
áreas de Letras e Linguística. Até então, a cada
mês, destacávamos um trabalho. Doravante,
tentaremos trazer um por subárea (Filologia,
Linguística, Literatura), melhor cumprindo a
missão de divulgação científica.
Chamamos a atenção do público para as
seguintes colunas:
“Flashes de Romanidade”, com tema
inusitado, surgido de apimentada questão
levantada por discente durante aula nossa na
disciplina de “Formação Histórica das Línguas
Românicas”, do curso de Letras da Universidade
do Estado da Bahia;
“Nossos povos, nossas línguas”, a partir de
exemplos indígenas brasileiros, explica os
termos língua isolada, família linguística e tronco
linguístico, destacando o tronco arwake, com o
compromisso de, nos próximos números, tratar
dos outros troncos etnolinguísticos brasileiros;
as referências de “Fica a Dica: Cinema”
estão deslocada do texto, na última página.
Boa e proveitosa leitura! Pax et bonum!.
“Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja a minha noite uma alvorada,
que me saiba perder, pra me encontrar”.
Florbela Espanca (1894-1930)
(ESPANCA, Florbela. Poemas. São Paulo: Martins
Fontes, 1997, p. 232.)
EXPEDIENTE
CiFEFiL
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e
Linguísticos
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O Filólogo de Plantão
Editor-geral; autor dos textos não assinados
Prof. Dr. Ricardo Tupiniquim Ramos
Próximas Atividades do CiFEFiL
XVI JORNADA NACIONAL DE LINGUÍSTICA E
FILOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
5 de novembro de 2021
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Flashes de Romanidade
APIMENTANDO A COLUNA: O SEXO GRUPAL EM LÍNGUAS ROMÂNICAS
Nesta coluna, a partir de uma motivação peculiar ao autor, interna ao jornal ou de uma
sugestão de leitore(a)s, pretende-se sempre levantar alguma reflexão sobre o latim e/ou as
línguas e culturas românicas, seus sentidos e subversões, muitas vezes polêmicas, mas
necessárias (?) na contemporaneidade.
Como informamos no editorial, este texto se origina de pergunta feita por discente da
disciplina de Formação Histórica das Línguas Românicas”, do curso de Letras Língua
Portuguesa, em aula remota sobre formação do léxico dessas línguas. Independentemente
da motivação de quem a lançou, a inusitada questão se referia ao vocabulário latino e
românico para expressar a ideia de ‘agrupamento de pessoas para a prática sexual’. Para
a pessoa demandante, a resposta, em português, seria bacanal (< lt. Bacchanal, is >
esp./cat. bacanal, fr. bachique, it./sd. baccanale) (MEYER-LÜBKE, 1911).
Na ocasião, embora tenha confirmado que, hoje, essa lexia signifique ‘sexo grupal’ e,
de fato se origine do étimo latino indicado, em sua origem, se referia às celebrações feitas
em honra ao deus Baco (< lt. Bacchus < gr. Bákkhos “‘o agitado, em estado de embriaguez
e exaltação, possuído do êxtase e do entusiasmo’” BRANDÃO, 1993, p. 47), patrono do
vinho, da embriaguez, da festa (VICTORIA, 2000, p. 19), sentido ainda conservado nas
línguas românicas dada à tradução de documentos, sobretudo literários, da Antiguidade
Clássica greco-romana e da perpetuação desse sentido, na literatura ocidental posterior.
Apontei, ainda, a existência de outra palavra latina designativa do sexo grupal ou,
como prefere Ferreira (1988), do ‘festim licencioso’: orgia, ae > port./cat. orgia, esp. orgia
[or’hia], prov./fr. orgie [ɔh’i], it./sd. orgia [ɔrdia], rom. orgie orgie [ɔrdie] (MEYER-
LÜBKE, 1911). Fui, então, replicado sobre a origem da forma portuguesa suruba,
sinônimo de orgia. Desconhecendo a reposta dessa nova indagação, prometi trazê-la em
momento posterior (ao fim e ao cabo, este), após investigar o assunto.
Da pesquisa, obtivemos as seguintes informações:
A sexualidade grupal refere-se a um conjunto de comportamentos sexuais e
sociais que incluem práticas sexuais, tipos de relacionamentos, emoções e
significados envolvendo simultaneamente mais de dois indivíduos; se é um
relacionamento duradouro ou envolvendo um grau relativo de emoções e
sentimentos apaixonados, falaremos de "poliamor"; no caso de relações mais
transitórias e não necessariamente envolvendo atos de penetração, devemos
falar de "melangismo". Finalmente, essas diferentes relações podem ocorrer
em privado, sem envolver a presença de terceiros, ou em público em
estabelecimentos comerciais especializados dedicados a essas práticas,
sejam banhos ou saunas, dancings ou caixas. (EDUCALINGO, 2021)
Além disso, descobrimos que, entre suas congêneres românicas, apenas português
brasileiro e francês (fonte de empréstimo ao italiano) possuem duas palavras para sexo
grupal, tendo cada dupla, em cada língua considerada, as mesmas especializações de
sentido, havendo, portanto, entre elas, um paralelismo semântico, expresso abaixo:
português brasileiro francês
orgia orgie [ɔh’i]
suruba partouze [par’tuzɛ]
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Ora, segundo Nascentes (1988, p. 606), suruba se origina do tupi-antigo surubá, com
o sentido original de porrete grande, cacete’, gerador, do brasileirismo surubada ‘golpe
com uma suruba’ (HOUAISS, 2001, p. 2647), análogo a porretada e cacetada ‘golpe com
porrete ou cacete’, respectivamente. Salvo melhor juízo, em processos análogos de
ampliação semântica, suruba, porrete e cacete adquiriram, pela semelhança de forma, o
sentido de ‘falo ereto’ e seus derivados surubada, porretada e cacetada o de ‘golpe
com o falo ereto’. Devido ao pouco uso, surubada foi reduzida à forma original, que, por
nova ampliação semântica, passou a designar ‘namoro escandaloso’ e daí ‘sexo grupal’
“Terminamos a noite numa suruba na casa de Mônica” (BORBA, 2022, p. 1507) , com a
especificidade de que, nesse tipo de concurso sexual, os praticantes têm liberdade de
recusar parceiro(a)s e práticas específicas, elemento esse ausente na orgia.
Essa especialização de sentido autorizaria, então, considerarmos as culturas
brasileira, francesa e, por extensão devida ao empréstimo, a italiana, as mais licenciosas
entre as românicas ou essas entre as outras, existentes no mundo? Se levarmos em conta
a controvertida hipótese Sapir-Whorf pela qual haveria uma relação direta entre
pensamento, padrões culturais e expressão linguística (RAMOS, 2020, p. 69-70) e, se
apenas esse traço caracterizasse a expressividade do francês, do italiano e do brasileiro
(povo, dialeto do português ou língua com estatuto próprio, aqui tanto faz) ou de todos nós,
latinos, quanto às práticas sexuais, a resposta seria sim. Contudo, “apesar de ser uma
prática contrária ao padrão sexual dominante em boa parte do mundo (LIVRARIA DA
FOLHA, 2011), o sexo grupal é hábito registrado em todas as culturas e o desejo de
praticá-lo é mais comum que se imagina” (idem), o que revela a dissimulação da
moralidade social quanto a essa prática. E sobre criatividade, não esqueçam que o beijo
mais criativo é o grego, embora em voga na Antiga Roma sob a alcunha de cunilinguis.
Assim, o buraco é mais embaixo e precisaria ser abordado por uma suruba de diferentes
ciências, que destacasse os aspectos socioculturais, psicológicos e linguísticos do tema.
Ui, menino! Que sugestivo! Suruba com destaque para o linguístico é muito bom!!”,
di a marisqueira e quituteira baiana Marieta ao ler a frase acima...
Referências
BORBA, Francisco S. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo: Ática,
2002.
BRANDÃO, Junito. Dicionário mítico-etimológico da mitologia e da religião romana.
Petrópolis: Vozes, 1993.
EDUCALINGO. Partouze. 2021. Disponível <https://educalingo.com/pt/dic-fr/partouze>.
Acesso; 29.ago.2021.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário básico da língua portuguesa. 2e.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
HOUASS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetivo,
2001.
LIVRARIA DA FOLHA. Sexo em grupo é mais comum do que se imagina, diz autora.
8/04/2011. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/899978-sexo-em-
grupo-e-mais-comum-do-que-se-imagina-diz-autora.shtml>. Acesso: 29.ago.2021.
MEYER-LÜBKE. W. Romanisches Etymologisches Wörterbuch. Heidelberg: Carl
Winter's Universitätsbuchhandlung, 1911.
NASCENTES, Antenor. Dicionário da língua portuguesa da Academia Brasileira de
Letras. Rio de Janeiro: Bloch, 1988.
RAMOS, Ricardo Tupiniquim Ramos. Manual de introdução os estudos linguísticos.
Caetité: UNEB / DCH Campus VI, 2020.
VICTORIA, Luiz A. P. Dicionário básico de mitologia: Grécia, Roma, Egito ilustrado. 2e.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
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Nossos povos, nossas línguas
LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRAS: PATRIMÔNIO E DIVERSIDADE
No Brasil, tornou-se comum dizer que, além da língua portuguesa e de outras línguas
europeias e asiáticas aqui introduzidas a partir do século XIX, são faladas cerca de 270
línguas indígenas, algumas isoladas (Aikaná, Arikapu, Awakê, Irantxe, Jabuti, Kanoê ou
Kaixaná, Koaiá ou Arara, Máku, Mky, Tikuna, Trumai e Zo’é) e as demais, distribuídas em
três troncos linguísticos (tupi, macro-jê, aruaque), algumas famílias isoladas (Karib ou
Caribe, Maku, Mura, Nambiquara, Pano, Tucano, Txapakura, Yanomami). Mas o que
significam essas categorias?
Dizer que o aikaná é uma língua isolada significa que ela não tem semelhança
estrutural com nenhuma outra língua que indique elas procedência de uma língua
anterior, comum: “As línguas isoladas [...] ‘são muito importantes para se compreenderem
as fases mais antigas da história da cultura datas além do alcance da técnica
comparativa, ou seja, anteriores a 4000-5000 a.C.’ (URBAN, 1992, p.99).
Por sua vez, línguas com semelhanças estruturais indicativas de procedência de uma
mesma língua anterior são agrupáveis em diferentes famílias linguísticas. Assim, dadas
as semelhanças estruturais entre as línguas abaixo indicadas, foi possível aos linguistas
agrupá-las na família denominada Karib ou Caribe
1
. Logo, elas são línguas aparentadas,
termo usado hoje como metáfora, mas de sentido bem mais denotativo na época de seu
surgimento (século XIX), quando a Linguística sofria forte influência da Biologia.
Tabela 1: Correspondências lexicais entre línguas da família caribe
___________________________________________________________
significado galibí apalaí wayâna hixarayana taulipáng
‘lua’ nuno nuno nunuy nuno kapyi
‘sol’ wéiu xixi xixi kamymy wéi
‘água’ tuna tuna tuna tuna tuna, paru
‘chuva’ konopo konopo kopo tuna kono’
‘céu’ kapu kapu kapu kahe ka’
‘pedra’ topu topu tepu tohu ty’
___________________________________________________________
Inicialmente localizados nas guianas e no extremo norte do Brasil (baixo Amazonas,
parte do Amapá e Roraima), uma vez desalojados, dizimados ou assimilados durante a
era colonial pelos espanhóis, os caribes mantiveram o controle de algumas ilhas no mar
cujo nome os homenageia e em direção ao qual já se haviam expandido há cerca de 3 mil
anos, ocupando território hoje colombiano (etnias Yupka e Karijona) e brasileiro (etnia
Bakairi). Alguns empréstimos linguísticos apontam a existência de redes complexas de
comércio e tráfico humano entre caribes e tupis na Antiguidade.
Voltando à terminologia, a Linguística Comparativa entende por família linguística
isolada aquela cujas línguas integrantes só se relacionam entre si, ou seja, com nenhuma
outra língua oriunda de família distinta, como a família caribe e as seguintes: maku, mura,
nambiquara, pano, tukano, txapakura e yanomami.
Por sua vez, um tronco linguístico surge da comparação entre diversas famílias
linguísticas com traços estruturais próximos e da conclusão, daí resultante, de que essas
semelhanças se devem à existência de uma língua ancestral comum a essas famílias.
O tronco aruaque
2
se compõe de três famílias, duas representadas no Brasil:
a) família aruaque (aruak, arwak) ou maipure com cinco grupos, quatro no Brasil:
setentrional localização no Brasil: Alto Rio Negro (Amazonas) e Roraima; línguas:
apurinã (ou ipurinã), baniwa do Içana, baré, mandawáka, warekana e wapixana;
oriental localização: Amapá; língua: palikur;
central localização: Parque do Xingu e outras áreas de Mato Grosso; línguas:
waurá, mehinaku, pareci (ariti ou haliti), enawené-nawé, tariana; yawalapiti;
meridional localização no Brasil: Acre, Amazonas e Mato Grosso; línguas: axinika
5
(ou kampa), piro, saruaha (ou zaruaha) e terena; e
b) família arauá (arawá) ou aruã localizada no Sudoeste do Amazonas; línguas:
banawá-yari, deni, jamamadi, jarawará, kanananti, kulina e paumari.
Além de distribuídos no território brasileiro, conforme informações acima, eles se
encontra(va)m dispersos em outros pontos do continente sul-americano, inclusive no Mar
do Caribe, das Antilhas ao Sul da Flórida, tendo seus ancestrais Taino sido os primeiros
indígenas contatados por Colombo e sua frota “descobridora” em 1492. A questão acerca
de seu ponto de dispersão original tem ocupado antropólogos, arqueólogos e linguistas
desde pelo menos o século XIX, ocasionando diversas teorias. De qualquer forma, o atual
estágio de conhecimento nos sugere, segundo Lopes (2017, p. 117), sugere que
[...] o ponto de partida dos grupos aruak antes que se espalhassem pela
América do Sul e pelo Caribe teria sido a bacia do Orinoco e, de maneira
geral, o noroeste da Amazônia, embora essa hipótese o esteja livre de
controvérsias. [...]
Quanto à escala temporal da divergência entre as línguas aruak, as
estimativas atuais falam em algo como uns três mil anos [...].
Esses povos se caracterizam por quatro traços relevantes:
a) são dotados de uma cultura hidrocêntrica, expressa em suas narrativas primordiais
(RAMOS, 1971, p. 187-192) e de tecnologias desenvolvidas para o gerenciamento de
recursos alimentares aquáticos e para a realização de navegações (LOPES, 2017);
b) considerados os fenícios da Amazônia, são exímios navegadores, o que lhes
facilitou a expansão ao longo das várzeas da região e Mar do Caribe afora, percorrendo
grandes distâncias e dispersando-se lentamente, em pequenas diásporas (idem);
c) desenvolveram tecnologia ceramista e práticas agrícolas intensivas, com a
domesticação de inúmeras espécies vegetais (mandioca, milho, amendoim, etc.) e sua
difusão entre outros povos, inclusive os tupis (RAMOS, 1971, p. 185-186 e 190), graças
às suas redes de trocas comerciais;
d) são cordiais, cosmopolitas e essencialmente pacifistas (LOPES, 2017), tendo
entrado em guerra defensiva, antes da invasão europeia, contra os povos caribes, que os
atacavam para lhes roubar a produção e as mulheres. (RAMOS, 1971, p. 169)
Disso decorre que sua língua ancestral o proto-aruak “pode ter assumido o
caráter de uma língua franca, ou seja, de uma fala útil para atividades comerciais e
diplomáticas” (LOPES, 2017, p. 179).
As línguas desse tronco estão registradas na toponímia das regiões ocupadas pelos
aruaques no Brasil. Abaixo, alguns exemplos de topônimos brasileiros de origem aruaque:
afluentes do rio Tacutu, no Amazonas: Aruau (wap. aru ‘veado+ uau ‘rio’; donde: ‘rio dos
veados’), Badecure-uau (wap. badekure ‘onça’ + uau; donde: ‘rio das onças’); Manoa (<
arwak manôa ‘lagoa’), uma lagoa próxima ao rio Maturá, no Amapá; Sauerô-uiná (par.
sauerô ‘papagaio’ + uiná rio’; donde: ‘rio dos papagaios’), antigo nome do rio Papagaio,
em Mato Grosso; etc. (PREZIA, 2000).
Na próxima edição, pretendemos continuar a tratar do patrimônio linguístico-cultural
dos nossos povos nativos, apresentando os Macro-.
Referências
LOPES, Reinaldo J. 1499: o Brasil antes de Cabral. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2017.
MONTSERRAT, Ruth Maria F. “Línguas indígenas no Brasil contemporâneo”. In:
GRUPIONI, Luís D. B. (Org.). Índios no Brasil. São Paulo: Global, 2000, p.93-104.
PREZIA, Benedito. O aruak na toponímia brasileira. Porantim, Brasília, jun/2000, p. 8.
URBIM, Emiliano. O Brasil antes de Cabral. Superinteressante, São Paulo, ano 27, no.
329, p.30-9, fev./2014.
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PÍLULAS DE BRASILIDADE
O AMADO JORGE, INTERPRETE DO BRASIL
Na coluna Agenda Aliae da edição anterior, divulgamos o II Webinário Estudos
Amadianos, promovido, entre outros: pelo Grupo de Pesquisa Crítica Literária e
Cultural, vinculado ao CNPq por meio da Universidade do Estado da Bahia; pelo
Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, da mesma instituição; pela
Academia de Letras da Bahia e pelas de Ilhéus e Itabuna; pelo Instituto Geográfico-Histórico da Bahia
e com apoio das editoras
1
Civilização Brasileira e Editus.
Para celebrar os 20 anos da passagem do autor baiano para a eternidade e para contrariar suas
próprias expectativas quanto à sua atualidade e permanência no gosto do público e na academia, o
evento, com 721 inscritos, também teve apoio da Fundação Casa de Jorge Amado e a participação
da família do escritor e de 72 pesquisadores, entre brasileiros e estrangeiros, oriundos de 24
universidades e diversos campos do conhecimento (Estudos Literários, Estudos Filológicos e
Linguísticos, Estudos Culturais, História, Direito, Antropologia, Sociologia, etc.), que apresentaram
trabalhos em 20 lives transmitidas e disponíveis no canal Universidade da Gente, do YouTube.
Na programação do seminário, os dois maiores momentos foram a conferência de abertura e a
mesa de encerramento. Aquela foi proferida pelo Prof. Dr. Felix Ayoh’Omidire, pesquisador nigeriano
vinculado à Universidade Federal da Bahia (doravante, UFBA), segundo o qual Jorge Amado é a
principal fonte literária do conceito de iorubaianidade conjunto de traços narrativos, linguísticos,
religiosos e identitários comuns às culturas iorubanas presentes na Bahia e, portanto, no Brasil.
a mesa de encerramento contou com a participação de Ordep Serra, professor da UFBA,
contista e Presidente da Academia de Letras da Bahia, e do escritor baiano Antônio Torres, das
academias de letras baiana e brasileira. Em sua fala, Serra abordou a aparente contradição de um
autodeclarado escritor materialista e, portanto, ateu, retratar e problematizar várias religiosidades
(cristãs, afro-brasileiras, hibridas) em sua obra e, em sua atuação política, defender e aprovar a
liberdade religiosa.
Por sua vez, em seu “roteiro sentimental de um leitor de Jorge Amado”, o autor de Um taxi para
Viena d’Áustria fez comovente relato de como, ainda na adolescência, se tornou leitor amadiano
graças a empréstimo de “Mar Morto” a seu professor de Matemática. Declarou ainda que, antes
dessa leitura, não conhecia a literatura brasileira do século XX, a do anterior, mas que, diante de
sua primeira experiência leitora amadiana, concluiu que “Jorge Amado é o Castro Alves em prosa, é
a versão moderna do romântico Castro Alves. Um foi feito para o outro”. Em fala emocionada, contou
como, no lançamento de seu romance de estreia (“Essa Terra”), em 1972, foi pela primeira vez
agraciado com a generosidade do escritor grapiúna que, antes de se dirigir a lançamento próprio (o
de “Teresa Batista, cansada de guerra”), em livraria da mesma rua, prestigiou o conterrâneo.
Ao longo das discussões, percebe-se uma postura inovadora da Crítica Literária hoje, em
relação, por exemplo, àquela predominante no século XX, que via em Jorge Amado um escritor
regionalista menor, um contador de histórias populares, quase folclóricas, por vezes lascivas, ou
contaminadas de ideologia política. Compreendendo hoje o termo regionalista como aplicável a
qualquer escritor na medida que todos escrevem a partir de seu próprio lugar e recusando a
atribuição de caráter menor a narrativas aproximadas, pela técnica ou pelo estilo (e fala das
personagens, inclusive), assumem os atuais leitores especializados uma postura valorativa da obra
do escritor baiano, destacando, inclusive o seu lugar de intérprete da realidade brasileira a partir do
Recôncavo Baiano ou da Zona da Mata cacaueira ou do sertão baiano e nordestino, de onde, pela
tradução para 49 línguas, em 80 países, em todos os quadrantes do planeta, atinge dimensões
universais nunca planejadas ou sequer pretendidas.
Salve Jorge, leitor do Brasil!! Viva Jorge, construtor de uma baianidade e brasilidade universais!
__________________
1. A Civilização Brasileira brindou cada inscrito no evento com dois e-books sobre a obra amadiana e, além disso, em
cada live, promoveu a premiação de dois expectadores aleatórios, cada um com um exemplar de livros do escritor
baiano. Por sua vez, a Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz ofereceu ao público e pesquisadores
desconto promocional na compra das obras publicadas por seu selo, durante o período encontro.
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FICA A DICA
CINEMA “The Alienist”
Até agora com duas temporadas
1
, The Alientist é uma série de TV
norte-americana originalmente produzida para a Netflix e inspirada em dois
best sellers de Caleb Carr (The Alienist e The angel of darkness),
demandantes de urgente tradução brasileira. Drama policial e de mistério,
seu enredo se na Nova Iorque de 1896, cidade que tem por Comissário
de Polícia recém-nomeado Ted Roosevelt
2
(Brian Geraghty).
Na primeira temporada, escabrosos assassinatos de pré-adolescentes
prostituídos leva o comissário a encarregar, em segredo, seus antigos colegas de faculdade o
psicólogo Dr. Laszlo Kreizler, conhecido como “O Alienista” (Daniel Brühl), especialista em
crianças com distúrbios psicológicos, atendidas em instituto privado de educação; e John Moore
(Luke Evans), rico solteirão em luta contra o alcoolismo, jornalista de profissão e seu secretária
Sara Howard (Dakota Flanning) de investigar e desvendar os crimes.
Para capturar o serial killer John Beechum (Bill Heck), o trio enfrentará a corrupção da polícia
encarnada no capitão Connor (David Wilmot) e no ex-comissário Thomas Byrnes (Ted Levine)
, e sua atuação para encobrir os crimes da elite e seu preconceito contra as vítimas, mas terá o
apoio dos gêmeos Lucius (Matthew Shear) e Marcus Isacson (Douglas Smith) peritos criminais,
incompreendidos em seu trabalho e discriminados por sua origem judia e dos funcionários do
Alienista: dois trabalhadores de serviços gerais o homem negro maduro Cyrus Montrose (Robert
Ray Wisdom) e o jovem branco Stevie Targget (Matt Lintz) , e a doméstica indígena, surda e
apaixonada pelo patrão, Mary Palmer (Q'orianka Kilcher), morta por invasores da mansão
Kreizler, em busca de seu dono, ausente na ocasião.
Encenada em 1897, a segunda temporada traz como novidade o protagonismo de Sara
Howard. Já ex-funcionária da polícia, devido ao sucesso na missão anterior, ela se alçou a
detetive particular, com escritório próprio no centro da cidade, onde passou a empregar outras
mulheres, entre elas a secretária Bitsy Sussman (Melanie Field). Além disso, lidera protestos
feministas na cidade ligados não à pauta das mulheres norte-americanas da época (o direito a
voto e a trabalho assalariado fora de casa), como também pela execução, na cadeira elétrica
(novidade tecnológica de então) de Martha Napp (Hebe Beardstall), mãe solteira condenada por
afogamento de sua be recém-nascida, apesar das alegações de inocência, do diagnóstico
clínico favorável do Alienista e da ausência da principal prova do crime: o corpo da criança.
Após a execução, casal de diplomatas espanhóis cuja bebê fora sequestrada contrata o trio
que, junto a antigos e novos aliados (Betsy), a recupera, sem, contudo, desvendar o crime ou
capturar sua autora, que desconfiam, inicialmente, ser a matrona de hospital-maternidade mantido
por magnatas nova-iorquinos de meia idade, que para enviam jovens de baixa condição social
por eles seduzidas e engravidadas, para parir, sofrer esterilização e ficar internadas como loucas
ou voluntárias de projetos de lactância. Nesse hospital, Martha Napp dera à luz e teria cometido o
crime que resultou em sua condenação capital e para a esposa do embaixador levara a filha
para atendimento de emergência após incidente doméstico noturno. Vendo um nexo entre os
casos, Sara visitou a sombria instituição, onde estabeleceu contato e empatia com a enfermeira
Libby Hatch (Rosy McEwen), cuja história tinha paralelos com a sua própria. Esses elos se tornam
essenciais para o desfecho da trama, pois não é a matrona a criminosa, mas a enfermeira.
Recomendamos a série por suas inúmeras qualidades: a trama bem construída, a ascensão
do protagonismo feminino, a fidelidade ao figurino e cenários da época, o talentoso elenco e a
abordagem a temas (ainda) atuais: a luta contra o machismo e em prol da afirmação feminina no
mercado de trabalho, a questão trabalhista, violências contra crianças e adolescentes (inclusive a
pedofilia), a superação do alcoolismo, a luta de negro(a)s contra o racismo, por estudo e
afirmação no mercado de trabalho, o antissemitismo, a corrupção política e policial, a crise moral
e a hipocrisia das elites, prostituição, criminalidade e outras mazelas do capitalismo, o uso da
ciência na solução de problemas sociais e a ética científica.
________________
1. Inicialmente prevista para 2022, a terceira temporada depende da conclusão do terceiro romance da série pelo
autor e do final da pandemia de Covid-19, condição da retomada das gravações. (GOOGLE, 2021)
2. A personagem homenageia o presidente norte-americano Theodore Roosevelt (1858-1919), que inicia sua
carreira política na mesma cidade, no mesmo cargo e período.
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FICA A DICA
LITERATURA “Flores para Algernon” de Daniel Keys
Érica Oliveira*
Com cerca de 30 anos e grave deficiência intelectual, Charles Gordan é
escolhido para primeiro paciente humano de intrigante cirurgia que promete
aumentar seu QI e tem tudo para ser grande marco para ciência e medicina.
Após o procedimento, ele se torna um gênio, com muito mais habilidades que os
médicos e cientistas que o selecionaram para a experiência. Contudo, sua inteligência emocional não
amadurece no mesmo ritmo e Charles, o humano mais inteligente da terra, tem menos domínio sobre
suas emoções que um garoto ainda em puberdade. A trama o leva a se questionar sobre a
percepção da realidade, as relações sociais e até o sentido da existência. Esses questionamentos
conduzem para um dos desfechos mais emocionantes e surpreendentes da literatura mundial.
Conto em sua primeira edição (1959), premiado com o prêmio Hugo, e como romance epistolar
(1966), premiado com o Nebula, a obra, aqui recomendada, teve adaptações para teatro e cinema.
Referência: KEYS, Daniel. Flores para Algernon. Tradução: Luisa Geisler. São Paulo: Aleph, 2018.
____________________
* Mestre em Estudos da Linguagem pela UNEB.
HOLOFOTES
Estudos Literários
OLIVEIRA, Diane N. de. Da poetização do crime ao estratagema serenidade: um estudo sobre
a origem e o desenvolvimento do clube da luta em “Clube da Luta” e “Clube da Luta 2”. 2021.
98f. Dissertação Mestrado em Estudos da Linguagem. Departamento de Ciências Humanas,
Universidade do Estado da Bahia, 2021.
Com texto verbal de Chuck Palahniuk e ilustrações de Cameron Stewart, a história em quadrinhos
“Clube da Luta 2” dá continuidade e comemora 20 anos da publicação do romance “Clube da Luta”, do
mesmo autor. A narrativa dos quadrinhos se passa dez anos após o desfecho do enredo do romance
e gira em torno da vida de Sebastian e seu alterego Tyler Durden. Entre uma obra e outra, houve
mudanças na apresentação do clube de lutas, objeto de estudo no campo da Literatura Comparada a
partir de teóricos como Eisner (2010, 2005), McCloud (1995, 2006), Bey (2001, 2007), Prado (2016) e
Foucault (1999, 2006). As modificações na apresentação do clube da luta, nas duas obras,
evidenciam-se, sobretudo, no distanciamento da possibilidade de existência da zona autônoma
temporária e do terrorismo poético (BEY, 2001, 2007). O grupo que antes se propunha a ser um elogio
à liberdade, criticar a moral padrão e o consumismo cíclico transforma-se numa megacorporação, que
banaliza a morte e escamoteia o acúmulo de lucro sob suas ações. Nas duas obras, Palahniuk trata
de duas experiências diferentes dessas formações de grupos auto-organizados: uma que funciona
invisível e sem uma liderança marcada, até certo tempo, até o Projeto Desordem e Destruição; e outra
que radicaliza esse processo de deturpação dos princípios do próprio grupo e transforma-se numa
nova ordem, num novo parâmetro de exploração global.
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HOLOFOTES:
Filologia
ALMEIDA, Olivia Nogueira de. Elucidário de africanismos: resultados de um garimpo no
arquivo pessoal de Nelson Coelho de Senna. 2021. 290f. Dissertação: Mestrado em
Filologia e Língua Portuguesa. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-08062021-124711/pt-br.php>.
Conhecido por sua atuação política como parlamentar e etnógrafo da contribuição de
indígenas e negros africanos na formação do povo e cultura brasileira, o intelectual mineiro
Nelson Coelho de Senna (1876-1952) é autor da mais extensa pesquisa tanto no
tamanho quanto no tempo dedicado à sua realização sobre a herança negro-africana
para o léxico do português: o “Elucidário de africanismos: vocabulário de africanismos e
afronegrismos usados no Brasil e na África colonial lusitana”, documento salvaguardado no
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), em parte manuscrito, em parte
datiloscrito, datado de 1938, com verbetes ordenados alfabeticamente de A a Z e
apresentado em folhas avulsas. Acredita-se que o autor dedicou muitos anos à escrita
desta obra, pois, numa anotação manuscrita dirigida aos filhos, pediu que seu trabalho de
mais de 50 anos de pesquisas e estudos sobre o português do Brasil tivesse edição e
publicação. Em seu arquivo pessoal, três tipos de documentos testemunham o processo de
elaboração desse trabalho lexicográfico: notas, referências das obras consultadas e lista
dos verbetes em ordem alfabética. O acervo ultrapassa 2.500 páginas, todas, sem
exceção, com "incidentes redacionais", usuais de reescrita, como acréscimos de
informação, arrependimentos sumários, correções de palavras e organização alfabética
dos verbetes. Estudar essa obra na perspectiva crítico-genética, visando à organização do
texto para publicação, leva a conhecer o processo de construção do texto na sua
intimidade, com suas hesitações e afirmações. Além disso, o estudo da documentação
constituída em torno da obra do autor permite, na perspectiva filológica e histórica, ampliar
a dimensão do patrimônio linguístico preservado ao longo do processo editorial. A pesquisa
linguística de Nelson de Senna é pouco conhecida e ainda são raros os estudos dedicados
ao registro dos aportes culturais africanos ao acervo mineiro. Seus documentos guardados
no APCBH continuam inéditos, em especial os manuscritos sobre a herança linguística
afro-indígena do Estado. Assim, o estudo do ”Elucidário de africanismos” representa
preciosa fonte de pesquisa e certamente contribuirá para o reconhecimento da base
africana no léxico e na cultura brasileira, principalmente mineira.
10
HOLOFOTES:
Linguística
MADUREIRA, André Luiz Gaspari. Coisas que a gramática não
explica. Curitiba: Appris, 2021.
Por que gramática é tão difícil? Essa pergunta norteia a obra “Coisas que a gramática não
explica”. As respostas dadas não seguem a via usual dos manuais comumente utilizados nas
escolas, nem negam a complexidade da questão, mas vão além da mera reprodução de
normas, assentando-se em posicionamentos alicerçadas em campos de conhecimento externos
à Tradição Gramatical. A proposta é desvendar alguns dos mistérios da gramática normativa,
revelar certos segredos conhecidos apenas nas searas da pesquisa, sem recorrer a uma
linguagem demasiadamente técnica; é discutir questões não devidamente explicadas que, por
isso, geram dúvidas. Para alcançar um público mais amplo, o academicismo lugar a um
registro mais despojado. A opção pelo gênero ensaístico imprime leveza ao texto, tornando a
obra acessível ao leitor não especializado. Os ensaios apresentam pequenas reflexões
gramaticais que vão da mágica à literatura, do futebol à política, proporcionando uma leitura
curiosa, divertida e instrutiva, rompendo com a forma usual de tratar das prescrições da língua
e possibilitando uma abordagem mais crítica sobre a lógica da normatividade. Essa estratégia
de escrita promove uma nova experiência de leitura, na medida em que une a reflexão sobre a
língua à escrita mais informal, sem perder o rigor da análise linguística. O objetivo é descortinar
as fragilidades e contradições da gramática, propondo um novo olhar sobre suas regras. Para
isso, parte-se de um ponto inusitado: apresentar questões que ela não explica, revelando um
fato que a maior parte das pessoas desconhece: na gramática, não é possível obter todas as
respostas necessárias à compreensão das normas da língua. Para dar conta dessa questão, a
obra se apoia em três fatores para a gramática o explicar o que deveria: 1º Ela não se
encarrega de explicar o que motiva suas regras, mas apenas determina o correto ou incorreto
na língua. As lacunas daí emergentes recebem uma atenção especial na obra, pois a falta de
informações também dificulta compreender várias regras, o que oportuniza ao leitor reconhecer,
nos ensaios, eventuais contradições entre norma e aplicação, geradas pela própria exposição
normativa. 2º Cada gramática limita as informações sobre suas prescrições não tratando de
todos os fenômenos linguísticos. Enquanto algumas ampliam um pouco a apresentação de
elementos prescritivos, outras restringem sua abordagem. Informações necessárias para a
compreensão de algumas instruções estão disponíveis em pouquíssimas obras. Ainda assim,
muitas dessas informações são tão concisas que não são devidamente esclarecedoras. Assim,
muitos fenômenos ficam incompreendidos. Essa diferença entre gramáticas leva à última razão
para a inexistência de explicações de algumas orientações normativas: As gramáticas não
explicam tudo do mesmo jeito, pois nem todas são iguais. É enganoso pressupor que sempre
trazem as mesmas orientações, mas de maneira diferente. Aliás, não é raro -las divergindo a
ponto de prescreverem regras diferentes (e até contrárias) sobre o mesmo fenômeno. Esse
talvez seja o ponto mais polêmico dos aspectos por elas não tratados. As propostas na obra
estão fundamentadas em dois terrenos: a prática de ensino de língua portuguesa lugar de
seleção de dúvidas recorrentes para a composição dos ensaios e a pesquisa linguística. A
união desses lugares corpo a uma obra com singularidade fundada na articulação entre
pertinência teórica, abordagem particular e o gênero textual que materializa as discussões.
Conjugados, esses elementos convidam o leitor a refletir sobre questões fonético-fonológicas,
morfológicas, sintáticas, semânticas e estilísticas. Com o suporte de outros pesquisadores
(Franchi, Bagno, Possenti e Perini), as perspectivas mobilizadas englobam Argumentação,
Semântica Cognitiva, Linguística Histórica e outras ciências linguísticas. O tom conversacional
dos ensaios é uma estratégia para tornar agradável e inteligível uma temática densa e
complexa. Não se trata de propor uma simplificação ingênua, mas de preencher as lacunas
obscurescentes dos estudos normativos. Esses aspectos o notoriedade à obra e a tornam
relevante a alunos e professores da Educação Básica e dos cursos de Letras e Pedagogia, bem
como a todo interessado no estudo reflexivo sobre a ngua.
11
LIRA NOVA
DIÁLOGO PROFANO
José Mario Botelho *
Não, eu não sou a Sua imagem e semelhança!
Quem é que disse um dia besteira tamanha?!
Sou fraco, sou pequeno...
Não posso nem comigo mesmo.
Se eu pudesse, não estaria vivendo a esmo;
Não estaria magoando os outros, nem a mim;
Não estaria me considerando tão ruim.
Sou infeliz, sou insatisfeito...
Não consigo achar nada perfeito.
Se conseguisse, não veria na criação nenhum defeito;
Não atribuiria a ela os meus erros, enfim;
Não estaria nem mesmo Lhe falando assim.
Não, a Sua imagem e semelhança eu não sou!
Quem disse tamanha besteira se enganou!
* Presidente do CiFEFiL; poeta.
ESTACA PERPÉTUA
Giano
Tanta coisa posso suportar
nesta vida tão doída,
mas nada é tão profundo
quanto minha sudade...
saudade de mim.
Onde será que deixei
minha essência primaz,
meus olhos coloridos,
minhas mãos verdes,
meus pés alados?
Onde me guardo de mim
para não me machucar
ainda mais?
Sim, é por demais simples
tal indagação,
e por demais clara
a resposta esperada.
Mas desta dor
nunca hei de escapar,
Nem o filosofes,
nem a embriaguez,
nem Deus talvez,
me dará alívio.
Sei que é
estaca perpétua
enterrada em minha alma.
12
Agenda alia...
Inscrições gratuitas e permanentes pelo site:
www.doity.com.br/leiturasdeafrica
Transmissão: Canal “Leituras de África” do
YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCECdhIPMRiW
03CUTH3koLvg Sugerimos que se inscrevam
no canal e acionem o sininho de notificações.
PROGRMAÇÃO DE SETEMBRO:
Mesa/Live 10
Dia: 11, 16h.
Tema: Literatura Infanto-juvenil afro-brasileira: a
fala das escritoras
Convidadas: Cássia Vale (contista e atriz)
Jacqueline Nascimento (contista e educadora)
Mediadora: Profa. Esp. Ana Francisca dos Passos
Neta (SEC Wanderley/ BA; Mestranda em
Ciências Sociais pela UFOB)
Mesa/Live 11
Dia: 18, 16h.
Tema: Estética Negra
Convidadas: Ana Bárbara Rocha (empreendedora
negra, formadora do SENAC/BA)
Profa. Mara Oliveira (SEC Riacho de
Santana/BA; blogueira)
Mediação: Profa. Esp. Ana Cláudia Santos (SEC
Caetité/BA)
Mesa/Live 12
Dia: 30, 19h.
Tema: Literatura Africana e História
Palestrantes:
Profa. Dra. Zoraide Portela Cunha (UNEB)
Outras participações e a mediação ainda não
confirmadas
Referências do texto da coluna Fica a Dica:
Cinema”:
AMINI, Hossein (Prod. Exec). The Alienist.
EUA: Netflix, 2018, temporada 1, 10 episódios.
CAAR, Calebe. The alienist. New York City:
Random House, 1994.
CAAR, Calebe. The angel of darkness. New
York City: Random House, 1997.
CAROLAN, Stuart (Prod. Exec.). The Alienist:
the angel of darkness EUA: Netflix, 2019,
temporada 2, 9 episódios.
GOOGLE. Vai ter 3 temporada de The Alienist?
20/10/2021. Disponível em:
<https://www.google.com/search?q=the+alienist
&source=lmns&bih=489&biw=1024&rlz=1C1GG
RV_enBR772BR772&hl=pt-
BR&sa=X&ved=2ahUKEwiMyPeD3tfyAhUwN7k
GHReRD5oQ_AUoAHoECAEQAA>. Acesso:
30.ago.2021.