SINA
Enquanto houver o que padece
e o que esquece do padecer;
enquanto a mão que iça o açoite
se permitir o açoitar;
enquanto a noite do desamor
trouxe a dor e a solidão;
enquanto a crença na impunidade
levar valores e o bem de nós;
enquanto a vida se ameaçar
no puro entrave da desvalia;
enquanto tudo se esvair
no só vazio do menosprezo;
enquanto a flor despetalada
se fizer murcha e infecunda;
enquanto o pólen voar sem rumo
sem encontrar inseto que o faça mel;
enquanto a fome matar a cria
ante
o descaso dos que dominam;
enquanto
a mão que empurra o arado,
cheia de calos, não tocar o pão;
enquanto o meu e o teu destino
seguir o rumo do estabelecido,
rabiscarás em versos,
poeta insone.