A OBRA DE ARTE COMO BEM DE CONSUMO *


 

            Os discursos que examinam a obra de arte acabam por levar à massificação, determinando critérios de avaliação tanto para quem a adquire, quanto para quem a produz. Uma voz crítica, revestida de autoridade, suposto saber,  seleciona obras de arte, forma seus critérios de valor, firmando-os como indiscutíveis. Induzem, assim, ao gosto e ao gasto no mercado dos que produzem arte e dela buscam usufruir.

            Na suposta imparcialidade, a parcialidade se deixa perceber, aqui e ali, nas marcas formais presentes nas vozes críticas, a revelar o que subjaz ao aparentemente dito e a gerar o convencimento e adesão necessários à produção, bem como à recepção dos textos como objeto de sentido.

            A própria criação artística acaba por ser determinada pelos textos que dela tratam e que a avaliam. Deixa, assim, de ser objeto de contemplação e fruição – de quem a produz e de quem a contempla – para tornar-se mero bem de consumo. Produz-se para vender, adquire-se para capitalizar.

No preço dessa bolsa de valores, a determinar a cotação desta ou daquela obra, deste ou daquele artista, o crítico de arte, investido de um poder que lhe é conferido, outorgado pela sociedade, vem a tornar-se o elemento determinante e condicionador do valor da produção artística.



* in O Correio, Rio de Janeiro, 6 a 19 de fevereiro de 1999. p.13

 

Voltar ao índice