DIALECTOLOGIA RURAL

 Joseph Ildefonso de Araújo
 
(UFRJ, UFV, ABF, CiFEFiL)

FALA RURAL E ATLAS LINGÜÍSTICOS MUNICIPAIS

A elaboração de Atlas Lingüístico Municipal Rural surgiu em decorrência da pesquisa dialectológica rural feita em quatro municípios da Microrregião de Ubá: Astolfo Dutra, Rodeiro, São Geraldo e Tocantins. A grande riqueza de informações constadas na fala rural levou a equipe a tentar elaborar os Atlas Municipais. O volume de informações abrangia todo os aspectos da linguagem rural ao revelar características próprias no léxico, na semântica, na fonética, na morfologia, na sintaxe (especialmente concordância e colocação), não levando em conta o aspecto étnico-lingüístico e folclórico com todos os seus matizes.

Desde o início, a pesquisa realizada nos vinte municípios da Microrregião de Viçosa visava recolher os nomes populares rurais de doenças de criações e culturas agrícolas. Esse é o objetivo fundamental da pesquisa ao qual juntou-se o levantamento e a análise da linguagem da fala rural.

Os dados colhidos mostraram as características dessa fala, tomando como fonte as informações prestadas pelos entrevistados, especialmente quando discorriam sobre as dificuldades encontradas para desenvolver suas propriedades e quando davam o nome das doenças, descrevendo como se manifestavam em suas criações e culturas. Era rico o acervo de dados colhidos, além de outros que poderiam ser recolhidos no contato direto com microcomunidades rurais, as propriedades pesquisadas.

Os dados colhidos revelaram os variados aspectos das falas regionais, reflexos do interior de cada indivíduo do agrupamento humano em que está inserido. É a exteriorização através de um instrumento fundamental e comum da comunicação do agrupamento: a língua internalizada, “externalizada” através da fala.

As riquezas de informações sociolingüísticas das comunidades rurais ainda não foram exploradas pelos estudos dialectológicos. Por isso, a surpresa de alguns confundindo a pesquisa dialectológica em comunidades restritas – propriedades rurais com a pesquisa clássica realizada em comunidades mais amplas.

resultados surpreendentes entre os dois tipos de pesquisa como se pôde constatar com as líqüidas que fecham sílaba: a vibrante -r  e lateral –l. No nosso meio rural e entre falantes das periferias urbanas, originários do meio rural, a líqüida lateral -l não se vocaliza mas recebe a paragoge de um -i quando fecha a sílaba final da palavra: mel>meli, sol>soli, mal>mali, azul>azuli, carnaval>carnavali. Em algumas palavras o -l- medial, travando sílaba, recebe, também, a epêntese de -i- como foi constatado em silvestre>silivestre, dificuldade>dificulidade, faculdade>faculidade, etc. a líqüida vibrante final de palavra sofre a síncope nos verbos, mas em outra classe de palavra recebe também a paragoge de um -i: ardor>ardori, amor>amori, calor>calori, cor>cori, dor>dori, ar>ari. estudos que generalizam a apócope da vibrante -r e a vocalização da lateral    -l>-u, o que não é comum, por exemplo, no nosso meio rural[1].

A riqueza lingüística aparece ainda nos neologismos lexicais como mamifa; nos neologismos conotativos (ou semânticos) que são numerosos como ave-maria, catapora, piruca, sapiroca, sarna, varicela, varíola, etc, para dizer bouba aviária[2].

O falante reflete o seu interior na fala. diziam os latinos “ex abundantia cordis os loquitur“ (a boca fala do que está cheio o coração). Esse reflexo interior de cada falante levou G. Bertoni a caracterizar cada fala como uma língua ao dizer “tante sono le lingue, insomma, quanti sono i parlanti“[3] (“tantas são as línguas, enfim, quantos são os falantes“). O dizer de Bertoni revela o que há de individual em cada fala, porque cada ser humano recorta a vida de modo muito pessoal porque a fala reflete o modo de sentir a vida. O sentimento na língua é pessoal e não coletivo ou comunitário. O grupo sente a vida mas com nuanças individuais. A realização da língua é individual. Conforme o tom de voz do locutor, interpreta-se a fala, manifestação da estrutura da língua. Isso não quer dizer que há numa língua vários idiomas. As divergências refletem exclusivamente formas diversas da fala. As divergências são o reflexo pessoal do interior de cada falante do agrupamento humano em que está inserido. São exteriorizações através do instrumento fundamental e comum da comunicação do agrupamento: a língua internalizada que é “externalizada através da fala.

Um povo se caracteriza pela sua língua, mesmo quando ela é alienígena. O povo a recebe na sua cultura, mas a transforma, adaptando-a a seu modo de sentir a vida, modificando-a tanto na sua estrutura física, o significante, quanto na idéia, o significado[4]. Aliás, em toda e qualquer língua, o objetivo é comunicar, mas comunicar idéias. As estruturas lingüísticas são meros arcabouços do essencial: as idéias. Mudam-se as estruturas mas não se mudam as idéias. Muitas vezes uma estrutura lexical pode adquirir inúmeras idéias como a palavra latinamacula” que chegou até nós com vários significados, mantendo um mesmo traço semântico: malha, mancha, mágoa, mangra além da forma culta do significado primitivo: mácula = mancha.

Portanto, para conhecer um povo é necessário conhecer a sua língua porque ela reflete todas as experiências históricas deste povo, todos os seus aspectos socioculturais, toda a sua vivência. A língua é um fator tão forte para um povo que levou Monteiro Lobato a dizer: “A Pátria é a língua, nada mais”.

Gagné, lingüista francês, assim se expressou ao falar da língua:

constitui a língua um dos fatores da existência e da definição de uma comunidade, um  elemento essencial de identificação nacional” e Humboldt, lingüista alemão, arremata: “A língua não é um simples meio de comunicação, mas a expressão do espírito e concepção do mundo dos sujeitos falantes: a vida em sociedade é um auxiliar indispensável de seu desenvolvimento, mas de modo nenhum o fim para que se tende[5].

Ora, toda língua falada tem suas variantes que não chegam a constituir uma nova língua. São variantes provenientes das diversidades culturais que cada agrupamento humano desenvolve. São tendências regionais grupais que refletem os recortes que cada indivíduo de uma comunidade faz do ambiente em que vive. Faraco explica com clareza as divergências na língua ao afirmar:

toda e qualquer língua é um conjunto heterogêneo de variedades e cada variedade é o resultado das peculiaridades das experiências históricas e socioculturais do grupo que a usa: como ele se constitui, como é sua posição na estrutura socioeconômica, como ele se organiza socialmente, quais seus valores e visão de mundo, quais suas possibilidades de acesso à escola, aos meios de informação, e assim por diante[6].

Toda língua é um conjunto heterogêneo de variedades porque, como diz Charles Bally, citado por Coseriu[7]: “As línguas mudam sem cessar e não podem funcionar senão mudando”. E a mudança na língua é uma conseqüência impositiva e imprescindível para que possa “adaptar-se às necessidades expressivas dos falantes, e continua a funcionar como língua na medida em que se adapta”[8].

Há, portanto, não uma tendência para alterar a língua mas uma necessidade de alteração para adaptar-se ao falante e, conseqüentemente, à comunidade lingüística em que está inserido. Esta adaptação é comum a todas as falas de qualquer povo ou cultura porque evolução e mudança são características de todos os povos. As diferenças de fala não são erros de língua, mas características peculiares e necessárias à fala porque refletem o ambiente cultural do agrupamento a que pertence.

Outra diferença no processo da comunicação falada surge entre linguagem e fala e Coseriu faz uma profícua consideração em sua obra “O homem e sua linguagem sobre este assunto ao falar no desenvolvimento da dicotomia língua e linguagem:

A linguagem é também instrumento da vida prática, mas esta é apenas uma das possibilidades secundárias e derivadas. Por outro lado, é, sem dúvida, muito correto que também para a vida prática se considere recomendável um uso lingüístico claro e preciso... ...de fato, o engano, a mentira, a aleivosia podem ser expressos tão bem (se não melhor) mediante um uso preciso da linguagem como por um impreciso. E, de qualquer maneira, é preciso distinguir também a esse respeito entre linguagem e falar (ou uso da linguagem). O falar pode ser verdadeiro ou falso, preciso ou impreciso, claro ou obscuro; pode ser mentira ou engano, mero palavreado ou falatório vazio; mas a linguagem não pode ser nada disso. As línguas não são sistemas de designação, e sim sistemas de significação.

Coseriu mostra, ainda, o valor da língua e da linguagem para o ser humano, não como indivíduo como também membro de uma comunidade:

Chega-se à compreensão do homem, através da compreensão da linguagem, enquanto tarefa de nossa época. A compreensão do homem deve começar pela compreensão da linguagem, pois o humano começa  precisamente  pela linguagem. A linguagem é, certamente, fundamental para a compreensão da humanidade do homem; mais ainda: é a  função por excelência da humanidade (do “ser homem”).

Para o mesmo Coseriu, “a linguagem é a abertura de todas as possibilidades humanas, não em função desta ou daquela atividade humana determinada como tal e não como outra [9]. Diríamos que a linguagem é a projeção dinâmica do homem.

As colocações de Coseriu servem de fundamento para que o presente trabalho seja voltado para as comunidades rurais que vivem, atualmente tão isoladas das aglomerações humanas, como se pôde constatar in loco. Passam-se semanas inteiras convivendo e falando com os mesmos membros da família rural que atinge, de um modo geral, um agrupamento de quatro a cinco pessoas marido, esposa, filhos e empregados[10]. Faltam-lhes interação e comunicação com outras pessoas que não pertencem à própria família.

um conceito distorcido de que toda fala que foge aos padrões da norma está errada. Ora, são erro de fala. O que se afigura é um conjunto de variedades de linguagem que não constituem uma outra língua ou dialeto “stricto sensu”. No entanto, se o conjunto de variedades for tão acentuado que impeça a comunicação normal com falantes de comunidades diferentes, neste caso, constituir-se-á num dialeto. E esse dialeto será uma nova língua com estruturas próprias, apesar da semelhança que possa aparentar-se com a língua da qual ele é uma variante.

Concluindo, a criação dos Atlas Lingüísticos Municipais Rurais tem seu objeto específico: a língua rural manifestada na fala dos que vivem em comunidades pequenas como as propriedades e Atlas Municipais refletem, por amostragem, a fala dessas propriedades. A ciência que cuida do estudo das falas populares e suas variantes lingüísticas é a Dialectologia.

 

Dialectologia e Dialeto

A dialectologia é a ciência que busca a investigação científica dos dialetos e das falas, pois, “uma dialectologia consciente... deve exercitar-se em trabalhos experimentais...”[11], procurando determinar a região geográfica em que ocorrem as divergências de fala. É o estudo de Geografia Lingüística que tem por objeto o estudo científico dos falares populares que irão constituir-se, no futuro, um dialeto.

dois conceitos para dialeto: um, de sentido restrito (stricto sensu) que se refere a uma fala regional e que apresenta grandes divergências em relação à língua de que se origina, não perturbando, mas impedindo uma comunicação satisfatória; outro, de sentido amplo (lato sensu) refere-se às divergências de fala existentes numa região as quais, no entanto, não perturbam, acentuadamente, a comunicação. É como lato sensu, que será tomado o significado de dialeto: são diferenças que não trazem distúrbios acentuados na comunicação com estranhos ao meio.

A divergência será mais acentuada no uso de vocábulos que poderão constituir-se em neologismos ou que podem sofrer alteração no seu significado ou que sofreram alterações nos seus fonemas de tal forma que se tornaram incompreensíveis ao ouvinte. Podem ocorrer ambas as alterações. Dois exemplos da microrregião de Viçosa revelam isso: mal-de-ano é a forma dicionarizada de uma doença que atinge o gado com cerca de um ano de idade, levando-o à morte em poucas horas. É uma espécie de febre que leva ao colapso cardíaco da criação. Apesar das inúmeras alterações fonéticas que sofreu – mardiana, mangina, madiana, margiana – não mudou o significado; outro exemplo é cochonilha que se tornou chinil; a bouba aviária tem outros significantes como piruca, sapiroca, caroço e mais outros 16 nomes, como foi mostrado mais acima. As doenças recebem vários nomes populares baseados na analogia e semelhança apresentadas.

Não se pode negar que um bilingüismo entre a linguagem popular e a linguagem geral em uma mesma comunidade. Há de um lado, a língua escrita, a língua literária, a língua geral e oficial de uma nação, a língua pátria, a língua nacional regida pelas normas dos falantes cultos e é fundamentada na língua em que cientistas e escritores escrevem os seus artigos e publicam seus livros. É a língua do saber culto com seus recursos de linguagem e léxico bem maiores que a linguagem restrita e imediatista da fala popular. Privar a criança e o adolescente desta linguagem culta é privá-la do conhecimento e do saber, que aparece na escrita ou fala culta. É assunto que voltará ao tratar-se da dicotomia linguagem técnica versus linguagem popular.

 

Dialectologia e Geografia Lingüística

Não há uma oposição entre Geografia Lingüística e Dialectologia. Ambas constituem modalidades de estudo que são objeto comum dos dialetos. A diferença está no modo de apresentar o estudo do dialeto, pois, a “dialectologia é a investigação científica da linguagem humana”; “a geografia lingüística é o estudo cartográfico dos dialetos, porque são os dialetos (no sentido mais lato) e não a língua comum falada ou escrita que constituem o objeto deste método lingüístico [12]“.

Cabe à dialectologia fazer o levantamento em glossários dos fatos dialetais; e cabe à geografia lingüística usar o método cartográfico para fazer a projeção desses fatos em mapas, levando ao aparecimento de um elemento novo nos estudos dialetais: os Atlas Lingüísticos ou Cartas Lingüísticas.

A Geografia Lingüística irá, portanto, apresentar, em Atlas, o levantamento cartográfico das características dialetais tiradas dos diversos tipos de Mapas (Cartas) Lingüísticos.A Dialectologia irá mostrar, em seus estudos, além dos Glossários a análise das variantes da língua, como as variantes fonéticas, fonológicas, sintáticas, lexicais, semânticas... Os dois estudos não se excluem mas se completam.

A Dialectologia usa dos métodos da Geografia Lingüística no levantamento dos dados dos falares regionais para que possa estudar e delimitar os dialetos. E, para Navarro, a Geografia Lingüística,“ocupa-se especialmente em descobrir e traçar as áreas e limites dos fenômenos dialetais[13]. Para Carreter a geografia lingüística é um

método de investigação lingüística que consiste em situar sobre o mapa da região estudada cada uma das formas com que se expressa um conceito ou uma expressão especial. Para cada noção ou expressão emprega-se um mapa distinto. O conjunto de mapas constitui um atlas lingüístico[14].

A explanação de Carreter mostra o comportamento do pesquisador que deve preparar um mapa lingüístico para cada conceito ou expressão especial ou divergente, melhor dizendo, para cada fenômeno, para cada alteração, para cada nuança, um mapa específico, delimitando a área em que ocorre o fenômeno.

Portanto, a Dialectologia “é a investigação científica dos dialetose a Geografia Lingüística “é um novo processo de estudar a linguagem humana”.

A finalidade é estudar a fala popular existente nas várias camadas sociais tanto rurais como urbanas. O estudo é feito através do mapeamento cartográfico da fala popular com suas características peculiares, buscando conhecer, o melhor possível, as variedades na fala: a pronúncia, o vocabulário, as características gramaticais, semânticas, morfológicas, fonéticas, etc.

Mais uma vez, aparecem as peculiaridades da fala popular ou culta que irão constituir o objetivo do trabalho da Geografia Lingüística e dos Atlas Lingüísticos.

A seguir, serão apresentados os vários tipos de atlas lingüísticos reveladores das características etnossocioculturais de uma determinada região. É um enriquecimento cultural muito grande porque revelam as tendências lingüísticas de cada município, de cada região. Revelam as tendências culturais de cada comunidade com todas as suas características.

 

Atlas Lingüísticos

Qualquer Atlas Lingüístico é o resultado de uma complexa metodologia de trabalho na busca das diversas falas e das diversidades culturais que delineiam o perfil de uma comunidade, o perfil de uma língua que é a projeção do meio comunitário. As variedades regionais da fala são formas dialetais conhecidas através das pesquisas com o mapeamento lingüístico das regiões com a elaboração dos Mapas Lingüísticos ou Cartas Lingüísticas.

O Atlas Lingüístico revela e determina as localidades onde ocorrem as características regionais. Cada Atlas Lingüístico será a reunião das várias espécies de Cartas Lingüísticas que receberão denominações diferentes de acordo com o assunto pesquisado. O leque de estudos é vasto como se verá a seguir.

 

Tipos  de atlas (ou cartas) lingüísticos

Os tipos de Cartas Lingüísticas mostram a variedade de estudos que a pesquisa lingüística etnossociocultural pode contribuir no conhecimento do povo ou de um grupo comuninatário.

Os vários enfoques levam a vários tipos de Cartas Lingüísticas como:

a) Cartas Fonéticas: representam as diferentes pronúncias de um mesmo fonema na região pesquisada.

b) Cartas Fonológicas: representam as características pertinentes dos fonemas as quais levam à modificação regional do significado de uma palavra.

c) Cartas Morfológicas: representam modificações regionais na estrutura interna da palavra: morfemas, derivações, flexões.

d) Cartas Lexicais: representam as diferentes palavras usadas num dado território para expressar o mesmo conceito ou expressão[15].

e) Cartas Sintáticas: representam as diferenças na organização de estrutura de sentenças, num determinado território.

f) Cartas Semânticas: representam as mudanças de significado das palavras num dado território.

g) Cartas Folclóricas: representam as variantes de uma cultura folclórica comum a várias regiões.

h) Cartas Lingüístico-etnográficas[16]: ocorrem quando as indicações lingüísticas se agregam às indicações etnográficas (traços antropológicos, objetos de cultura material) com desenhos, esboços adicionais e fotográficos.

A esses tipos de Cartas Lingüísticas podem-se acrescentar outros dois:

i) Cartas Neológicas Lexicais: representam a criação lingüística de novas palavras para exprimir coisas novas ou não.

j) Cartas Neológicas Conotativas: representam os verbetes que adquiriram nova conotação não registrada em nenhum dicionário.

É grande a tendência de dar novas conotações às palavras fato muito comum no meio rural como foi constatado pela pesquisa. Na análise dos dados será focalizada esta característica, apresentando a possível causa da criação lingüística. São raros os verbetes que representam os neologismos lexicais.

 

ESTUDOS DIALECTOLÓGICOS NO BRASIL

Os estudos dialectológicos têm tido um grande desenvolvimento em todo o mundo. Em todas as nações cultas, o estudo dos vários falares é comum entre os estudiosos da linguagem. No Brasil, a partir de 1952, a dialectologia tomou caráter oficial. Carlota Ferreira diz:

... manifesta-se a intenção de elaborar-se o atlas lingüístico do Brasil que toma forma de lei através do Decreto 30.643, de 20 de março de 1952, cujo Art. 3º como principal finalidade da Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa a ‘elaboração  do atlas lingüístico do Brasil‘. Tal determinação foi regulamentada pela Portaria nº 536, de 16 de maio de 1952, que, ao baixar instruções referentes à execução do decreto de criação do Centro de Pesquisa Casa de Rui Barbosa, estabeleceu como finalidade principal, entre as pesquisas a serem planejadas, a própria elaboração do atlas lingüístico do Brasil[17].

A geografia lingüística utiliza-se das cartas lingüísticas para elaborar os glossários lexicais, fazer o levantamento fonético das falas, buscar a sua estrutura morfológica e sintática, o estudo semântico e neológico e fazer o levantamento etnográfico da região.

Pode-se dizer que

cabe à dialectologia fazer o levantamento, em glossários, dos fatos dialetais; a geografia lingüística faz uso do método cartográfico para fazer a projeção desses fatos em mapas (ou cartas) lingüísticos levando ao aparecimento de um elemento novo nos estudos dialetais: os Atlas Lingüísticos.[18]

A projeção dos fatos da linguagem gera os atlas lingüísticos, originados da geografia lingüística. Os atlas mostram as tendências entre os falares peculiares de uma mesma língua em comunidades diversas.

Os mapeamentos lingüísticos são, pois, de importância fundamental, especialmente para a elaboração dos léxicos e organização dos glossários específicos.

O levantamento cartográfico é, conseqüentemente, o retrato do que ocorre na linguagem da fala diária das várias comunidades. Para um avanço dos estudos dialectológicos, é necessário o avanço dos trabalhos de pesquisa para que se possa ter, o mais rápido possível, o mapeamento das falas das comunidades brasileiras.

Esta pesquisa focaliza a fala rural que se desenvolve em propriedades rurais e não em aglomerados urbanos conforme prescreve a pesquisa dialectológica clássica, como foi exposto mais acima.

O objetivo de dar ao Brasil o seu atlas lingüístico torna-se realidade  em fins de 1996, no Seminário Caminhos e Perspectivas para a Geoligüística no Brasil, realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia.

De 4 a 8 de novembro, foi criado o Comitê Nacional do Projeto ALiB. Neste Seminário foi elaborado o Projeto Atlas Lingüístico do Brasil e preparados os Questionários para o início da pesquisa dialectológica.

O projeto tem, como enfoque prioritário, a identificação nas diferenças diatópicas (fônicas, léxico-semânticas e prosódicas).

A rede de pontos a ser pesquisada no país atinge 235 localidades, distribuídas por todo o território nacional, estando previstos outros 15 pontos a serem definidos oportunamente.

É provável que dentre poucos anos o Brasil terá o seu Atlas Lingüístico, desejo de muitos desde os anos 50 que teve como pioneiro e idealizador o mestre Antenor Nascentes que, por primeiro, dividiu o Brasil em regiões e determinou os pontos a serem pesquisados e até hoje respeitados.

O Comitê Nacional do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil está assim constituído:

Suzana Alice Marcelino da Silva Cardoso – Diretora Presidente

Jacyra Andrade Mota – Diretora Executiva

Maria do Socorro Silva de Aragão – Diretora Científica

Mário Roberto Lobuglio Zágari Diretor Científico

Vanderci de Andrade Aguilera – Diretora Científica

Walter Koch Diretor Científico.

 

LINGUAGEM POPULAR VERSUS  LINGUAGEM TÉCNICA

Se toda língua apresenta falares diferentes que refletem as tendências de cada aglomeração humana, é necessário que em certas atividades haja uma aproximação entre os falares populares e a linguagem apreendida e aprendida nas escolas. Esta é a língua oficial, é a língua da ciência, é a língua da cultura, é a norma culta.

Não se pode abandonar uma em detrimento da outra. É necessário que, entre as duas línguas, entre as duas linguagens haja uma aproximação maior para que não haja distúrbios na comunicação.

Araújo, em sua tese de doutorado, apresenta dois fatos, ocorrido com alunos das ciências agrárias e com recém-formados em medicina:

Anos atrás, perguntávamos a alguns ex-alunos, médicos recém-formados porque não iam para o interior deixando as benesses das cidades grandes, a fim de levar ao povo do interior o seu saber”. [19] Em resposta a esses ex-alunos, argumentando sobre “o homem do campo tostado pelo sol, puxando o cabo de uma enxada, sujeito ás intempéries”, havia contribuído para que se formassem em medicina pouco adiantou. Foi mostrado a eles que a medicina era rareada no interior e que mais da metade dos municípios de Minas não tinha um médico sequer para ajudar na cura de seus males quase sempre endêmicos. Apesar da argumentação a resposta de cada um foi sempre a mesma: “–Como ir para o interior, se, chegando , aparece um paciente dizendo: ‘–Dotô, istô com nór na tripa virado pru lado isquerdo do istamo e tô percisano dumremédio pruquê num tô güentano trabaiá.’ –Que remédio vou receitar para um paciente  como  este? Se  pergunto  o que esteja sentindo, vem ele com sua conversa toda esquisita, com uns nomes todos atrapalhados e incompreensíveis e eu fico sem saber o que receitar. pensou a minha situação de médico  perante aquele paciente e aquela comunidade? Como fica a minha reputação ouvindo: ‘O dotori num sabe nada. Num é dotori coisa ninhuma. Num sabe nem curá um nór nas tripa’. O de melhor que pode acontecer é a gente cair no ridículo e no descrédito total por não saber curar um mal de tripa virada[20] Um outro fato, relatado por alunos estagiários de ciências agrárias da UFV, ocorreu durante uma série de palestras proferidas para proprietários e administradores rurais do Mato Grosso ou Goiás. Usaram retroprojetores, eslaides, transparências, etc. Após horas de exposição e orientação, um dos proprietários chegou até a grupo de expositores e disse: “É, dotori, vanceis falaro bunito memo, mais nóis num intendeu nada. Tale e tale duença cumé que a gente cura. E tale e tale praga, cumé que a gente acaba com elas.[21]

Após a exposição do proprietário, ficaram olhando um para o outro sem entender nada do nome das doenças. Eram nomes populares. Programaram uma ida até a propriedade onde constataram que as pragas e doenças tinham sido assuntos de palestras. A decepção dos jovens estagiários foi grande. Aprenderam uma linguagem que não era a linguagem do campo!

A justificativa mais forte para buscar no campo os nomes de doenças no meio rural apareceu durante a pesquisa na Microrregião de Viçosa no município de Rio Espera com o informante 124. Relatou o informante o fato, transcrito da tese de doutorado de ARAÚJO, op. cit., pág. 7.

Contou-nos (ele) o fato que segue e que está gravado em fita cassete. A sua principal atividade, disse ele, era a recria de novilha que eram vendidas após a primeira cria. Aconteceu que, na fazenda que comprara a cerca de um ano, estavam morrendo muitas novilhas. havia perdido, em pouco mais de três meses, mais de 20, prenhes e próximas da primeira cria. Estavam na invernada, longe da sede da fazenda. Sabia-se  da morte pela revoada, em círculo, dos urubus, o que indicava criação morta. Depois de tantas perdas resolveu dar uma batida com seus em pregados para descobrir se era alguma “erva que estava matando suas novilhas. Feita a batida, não encontrou nenhuma planta venosa conhecida, no trecho da batida. Resolveu, então, fazer um trabalho mais acurado, entregando a cada empregado saquinhos de plástico para colocarem neles a amostra de qualquer planta que pudesse ser erva”. Colheram mais de vinte tipos de plantas e enviaram à Universidade Federal de Viçosa para exame. Cerca de trinta dias depois, a Universidade enviava a ele um relatório dizendo que algumas plantas eram tóxicas. Junto veio uma lista com o nome de mais de cinqüenta espécies de ervas tóxicas, acompanhadas de orientação de como tratar animais “ervados” e que remédio aplicar a cada tipo de erva para salvar a criação. Apesar da atenção da Universidade, arrematou o informante: ‘–Foi tudo feito direitinho mas não adiantou nada não porque nóis não intendeu aqueles nome difícil da lista e nela não tinha nem o nome de favinha, de erva-de-rato, nem de cafezinho-do-mato, mais comum entre nóis. Era uns nome isquisito e não adiantou nada. Nóis num entendeu nada e o jeito foi mudar as bizerra de pasto e arrancá tudo que fosse mato suspeito...

Esses três fatos mostram que muitos cursos superiores desconhecem ou não interessam conhecer que, ao lado da linguagem técnico-científica que aprendem, existe a linguagem popular, não aprendida entre as paredes de uma escola.

É necessário que a linguagem científica ou técnica se aproxime da popular afim de que a ciência seja útil, neste caso, ao meio rural. Quantos jovens se formam em ciências agrárias e não exercem sua profissão porque a linguagem que sabem não é conhecida pelo público a que é destinada. Tornam-se vendedores ambulantes dos produtos agrícolas dos laboratórios.

Poder-se-ia perguntar o porquê dessa disparidade. E a resposta seria porque os dois tipos de fala constituem linguagens diferentes com termos e expressões próprios. A linguagem técnica, pode-se dizer, é geral e até mesmo universal. a linguagem popular é própria e característica de comunidades lingüísticas menores. A maior e menor compreensão está ligada mais na dificuldade de saber o significado de certas palavras que na estrutura frasal. Esta assimila-se com facilidade, mas saber o que significa tal ou qual palavra do léxico é necessário consultar, perguntar o que quer dizer esta ou aquela palavra.

Quais as causas das dificuldades de compreensão entre as duas linguagem que tratam do mesmo assunto? Ora, sendo a linguagem popular de uma comunidade o reflexo natural da cultura do meio em que se vive, ela cria suaterminologia através da sua experiência e da sua vivência no dia-a-dia. Muitas vezes faz analogia com o mundo que a cerca. Deste modo as doenças de criações e culturas agrícolas receberão nomes dados pela cultura do próprio meio. Por outro lado, a linguagem técnica é aprendida na escola, desde o ensino fundamental ao superior. Ela está totalmente voltada para o campo nos cursos de ciências agrárias, mas aprendendo uma nomenclatura científica com um vocabulário bem diverso daquele que usa o meio rural.

No entanto, é no meio rural que o técnico vai atuar direta ou indiretamente, usando a linguagem técnico-científica que aprendeu na escola mas incompreensível para o homem que nele vive, muitas vezes sem uma instrução primária completa. Isso torna impossível a compreensão mútua entre as duas linguagens, gerando a necessidade de uma aproximação entre os dois interlocutores: o homem do campo e o técnico agrário. Essa situação poderá ser amenizada se o técnico agrário conhecer ou procurar conhecer, pelo menos o léxico das doenças encontradas no campo. Se ocorrer isto, o produtor rural poderá usufruir com grande proveito a orientação que o técnico agrícola lhe transmitir de modo direto, quando pessoalmente pode dirimir as dúvidas de compreensão, ou de modo indireto, pela palavra falada ou escrita quer por rádio quer por meios dos inúmeros programas rurais das televisões que falam uma linguagem pouco entendível ou assimilada pelo telespectador ou ouvinte. É preciso criar um meio que possibilite esclarecer o que se fala nos programas.

Há uma dicotomia de linguagens. Uma de uso popular e regional, de uso constante e cheia de matizes, utilizada pelo homem do campo no dia-a-dia para externar os sentimentos de alegria ou tristeza, de sucesso ou derrota. Outra é aquela que se aprende nos bancos escolares, com suas normas e regras, com seus recursos artísticos, estilísticos e literários, com a amplidão do seu vocabulário que traz recursos infindos para a precisão dos termos e da expressão ao pensamento, do conhecimento que se adquire nos bancos da escola.

O trabalho diário com alunos e o contato reiterado com pessoas do meio rural serão o caminho para sentir a necessidade premente de aproximar as duas linguagens de uso constante mas pertencentes a universos diferentes: a linguagem popular rural e a linguagem técnico-científica. Esta com uma nomenclatura toda especial, primada pelo rigor que caracteriza a ciência e aquela criada ao sabor da necessidade pragmática do dia-a-dia do homem do campo, onde se dá o NOME às COISAS de acordo com a necessidade do momento: aqui um nome, ali outro, acolá um terceiro para exprimir a mesma coisa. Ora, a aproximação das duas linguagens é uma necessidade. A linguagem técnico-científica deve achegar-se à linguagem popular porque ela vem de um aprendizado de maior escolaridade e, portanto, de mais fácil adaptação.

Para atingir essa aproximação buscou-se, na pesquisa em propriedades rurais, o nome de doenças de criações e culturas agrícolas, fornecidos por moradores do meio rural, complementando a iniciativa com o vocabulário popular rural e suas nuanças de expressão. Isso seria impossível se as pesquisa se apegasse aos ditames da pesquisa clássica que se realiza nas aglomerações urbanas bem mais amplas do que as propriedades rurais. Seria impossível detectar os nomes usados nessas propriedades através dos aglomerados urbanos. As realidades são diferentes porque o trabalho de cada uma é totalmente diverso.

Este trabalho, iniciado na Microrregião de Viçosa, está sendo expandido para a toda a Zona da Mata de Minas Gerais. foi realizada a pesquisa nas microrregiões de Viçosa e Ubá. Se houver recursos para os deslocamentos e remuneração dos pesquisadores, será levado às outras cinco microrregiões: Cataguases, Ponte Nova, Muriaé, Manhuaçu e Juiz de Fora.

Por causa da aposentadoria do mentor desta pesquisa, os recursos são mais difíceis[22]  para dar continuidade ao objetivo proposto. Será despendido todo o esforço para fazer o levantamento da fala rural e elaborar os Atlas Lingüísticos Rurais e respectivos Glossários de cada Microrregião para finalmente elaborar o Atlas e Glossário da Zona da Mata de Minas Gerais. Será uma contribuição da pesquisa à UFV, à FAPEMIG, aos Governos Estadual e Federal levar aos técnicos, alunos e produtores rurais meios para um melhor entendimento entre o desenvolvimento técnico do meio agrário e o trabalho do campo, refletindo no progresso do meio rural e, conseqüentemente, a melhoria de condição de vida do povo em geral.

 

ATLAS LINGÜÍSTICO MUNICIPAL RURAL DE VIÇOSA

Para a elaboração do Atlas do município de Viçosa, foi feito o levantamento de dados sobre as tendências lingüísticas em 16 propriedades, escolhidas e demarcadas aleatoriamente em mapa elaborado pelo DER de Minas Gerais[23].

O levantamento dos dados foi o ponto de partida para elaborar as Cartas Lingüísticas que demonstravam a localização geográfica onde ocorriam as características lingüísticas. Essas Cartas forneceram os dados para que se pudesse elaborar o Atlas Lingüístico Rural de Viçosa, acompanhado do respectivo Glossário Rural Geral com os verbetes da fala popular e os das doenças, seguidos dos verbetes técnicos e vice-versa.

A elaboração do glossário tem por finalidade estabelecer um paralelo entre as linguagens popular e técnica tendo como base o Atlas Lingüístico Municipal Rural de Viçosa.

O trabalho abrangerá todas as 7 Microrregiões da Zona da Mata. Inicialmente foi pesquisada a Microrregião de Viçosa com seus 20 municípios. No município de Viçosa foram selecionadas 18[24] propriedades rurais de onde foram tirados os dados dos informantes. Os dados levantados serão as bases do Atlas Municipal Rural de Viçosa.

Após o término dos Atlas Lingüísticos Municipais Rurais das Microrregiões, será, então, elaborado o Atlas Lingüístico Rural da Zona da Mata, mais amplo e com o Glossário Geral da sete microrregiões.

 

Metodologia Aplicada

Nesta pesquisa, procurou-se adaptar as normas da pesquisa clássica à nova realidade do contexto – as propriedades rurais. Para isso foram criados novos tipos de questionários e fichas como a da propriedade rural com adaptação das fichas tradicionais do informante e da localidade, o número de perguntas.

 

Diferenças Metodológicas

As diferenças entre a pesquisa dialectológica rural e a pesquisa dialectológica clássica se notam desde a limitação dos pontos na busca das informações.

A pesquisa clássica estabelece normas para a escolha do informante:

a) Aglomerados urbanos com 700 a 3.000 habitantes.

b) Idade mínima e máxima.

c) Nível de instrução: analfabeto.

d) Nativo ou morador pelo menos por um certo número de anos.

e) Sem prestação de serviço militar.

f) Não pode ter morado fora do município.

A metodologia teve que se adaptar a uma nova realidade, pois o universo do informante era uma propriedade rural. Foram adaptadas algumas orientações da pesquisa clássica, outras substituídas e criados novos instrumentos, observando as seguintes características:

Local da pesquisa: propriedade rural.

Informante: morador da propriedade rural.

Perfil do informante: pelos primeiros testes, optou-se pelo proprietário ou seu preposto, porque os empregados mal sabiam informar sobre a atividade específica que executavam como retireiro.

Origem do informante: não levou em conta a origem visto que muitos eram proprietários originários de outras regiões;

Nível de instrução do informante: geralmente com ano primário incompleto;

Nativo: não se preocupou com a origem do informante; pois, quando informava, procurava-se dar a conhecer o nome da doença por outros nomes e qual o nome da região em que morava;

Nome da plantação ou criação era dado pelo próprio informante;

Nome de doença: informante dava o nome e descrevia  como se manifestava [25].

Na pesquisa clássica os questionários têm dezenas de perguntas; as fichas se prendem à do informante e da localidade. Para o meio rural foram elaborados os seguintes fichas e questionários. (Em anexo, os modelos das fichas e questionários).

 

Fichas:

Ficha da Localidade (município).

Ficha da Propriedade (criada pela pesquisa).

Ficha do Informante.

Ficha de Descrição da Doença (criada pela pesquisa).

Ficha de Descrição das Dificuldades no desenvolvimento da propriedade (criada pela pesquisa).

 

Questionários:

Questionário I: Criação de quadrúpedes[26].

Questionário II: Criação de aves[27].

Questionário III: Cultura agrícola[28].

 

ETAPAS METODOLÓGICAS

O desenvolvimento metodológico obedeceu às etapas do esquema: INVENTÁRIO, SISTEMATIZAÇÃO e INTERPRETAÇÃO dos dados da amostragem visando especialmente a confecção das Cartas Lexicais e do Atlas Municipal e o respectivo Glossário Popular-Técnico e Técnico-Popular e ao levantamento das características e tendências da fala rural.

Para o desenvolvimento da pesquisa foram observadas as seguintes etapas na busca dos dados: Inventário, Sistematização e Interpretação.

1. Delimitação do campo de pesquisa7. Visita às Propriedades

2. Aquisição do mapa oficial do município8. Entrevista com informante e pré-

3. Escolha e Demarcação, no mapa, das    enchimento da Ficha da Proprie-

    propriedades a serem pesquisadas.    dade e Ficha do Informante

4. Escolha dos informantes9. Anotação e gravação das respostas

5. Elaboração  das fichas    aos questionários

       a- Ficha da localidade10. Transcrição das anotações das fichas

       b- Ficha da propriedade11..Transcrição das descrições das do-

       c- Ficha do informante e questionários     enças e preenchimento das fichas

       d- Ficha da descrição das doenças    de descrição das doenças

6. Elaboração dos questionários12. Levantamento dos dados: nomes

 a- Questionário I–CRIAÇÃO[29]    das doenças por criação e cultura

 b- Questionário II : -AVES     agrícola e propriedade.

 c-Questionário III-CULTURA AGRÍCOLA

 

Desenvolvimento da Pesquisa

Delimitação do Campo

Em 03.05.90, o IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – divulga Portaria da DRB – Divisão  Regional de Estatística com  nova divisão geopolítica do País em Macrorregiões correspondentes a Unidades da Federação. Cada Macrorregião está dividida em Messorregiões, subdivididas em Microrregiões, desmembradas em localidades que são os Municípios com seus distritos e suas propriedades.

1 – Região do Brasil: Macrorregião 31: Estado de Minas Gerais:

12 Mesorregiões:

01 - Mesorregião do Noroeste de Minas

02 - Mesorregião do Norte de Minas

03 - Mesorregião do Jequitinhonha

04 - Mesorregião do Vale do Mucuri

05 - Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

06 - Mesorregião Central Mineira

07 - Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte

08 - Mesorregião do Vale do Rio Doce

09 - Mesorregião do Oeste de Minas

10 - Mesorregião do Sul/Sudeste da Mata

11 - Mesorregião de Campo das Vertentes

12 - Mesorregião da Zona da Mata

 

2 - Mesorregião 12 da Zona da Mata

7 Microrregiões

     060 - Microrregião de Ponte Nova064 - Microrregião de Ubá

061 - Microrregião de Manhuaçu              065 - Microrregião de Juiz de Fora

062 - Microrregião de Viçosa066 - Microrregião de Cataguases

063 - Microrregião de Muriaé

Foi selecionada a Microrregião 062 de Viçosa, por nela estar a Universidade Federal de Viçosa com seus cursos de Ciências Agrárias. Outro motivo que levou a selecionar a Microrregião de Viçosa foi a facilidade de aproximação com os professores das várias áreas de Ciências Agrárias para a compatibilização das descrições populares com as técnico-científicas.

A divisão política da Microrregião de Viçosa abrange 20 Municípios ou Localidades:

 

20 Municípios da Microrregião de Viçosa

0001 - 0210.0 - Alto Rio Doce       0011 - 0210.1 - Paula Cândido

0002 - 0250.6 - Amparo do Serra0012 - 0210.6 - Pedra do Anta

0003 - 0370.2 - Araponga0013 - 0210.1 - Piranga

0004 - 0870.1 - Brás Pires0014 - 0210.3 - Porto Firme

0005 - 1020.2 - Cajuri0015 - 0210.3 - Presidente Bernardes

0006 - 1170.5 - Canaã0016 - 0210.7 - Rio Espera

0007 - 1630.4 - Cipotânea0017 - 0210.5 - S. Miguel do Anta

0008 - 1670.4 - Coimbra0018 - 0210.6 - Senhora de Oliveira

0009 - 2400.5 - Ervália0019 - 0210.7 - Teixeiras

0010 - 3790.8 - Lamim0020 - 0210.3 – Viçosa

 

A Localidade 0020 - 0210.3 de Viçosa foi demarcada para o início da pesquisa. De posse do Mapa Rodoviário do Município de Viçosa[30], elaborado pelo DER/MG, foram delimitadas as Propriedades Rurais onde foram realizadas as pesquisas.

 

Propriedades e respectivos proprietários[31]:

153 – Fazenda Machado ou Boa União – Francisco de Castro Cardoso

154 – Fazenda Bom Sucesso –  Antônio Manuel de Freitas

155 – Fazenda Pedra Redonda – Gabriel Alves de Freitas

156 – Fazenda Caratinga – José Guilherme da Silva

157 – Fazenda Santa Teresa – Oscar Milagres Neto

158 – Fazenda Bela Vista – José Carlos Milagres

159 – Fazenda Santiago – Francisco de Assis Batista

160 – Fazenda Lustosa – Fernando Lustosa

160A – Fazenda São Francisco – Vicente Fialho

160B – Fazenda Caramujo – Antônio Camilo

160C – Sítio Vista Alegre – Luís Reis Arruda

160D – Fazenda Ipiúna – Antônio de Paula Lana

160E – Fazenda do Leme Hélio Henrique Fontes

160F – Fazenda dos Nobres – Ciro Lopes da Silva

160G – Sítio Leite – Agostinho Teixeira da Silva

160H – Fazenda Arruda – Bianca Romaiol Rodrigues


 

[1] Essa constatação ocorreu em vários municípios da Microrregião de Viçosa. No município de Presidente Bernardes encontramos silivestri por silvestre  e as demais formas na fala geral.

[2] Foram encontradas, nas microrregiões de Viçosa e Ubá, mais de dezessete conotações para bouba aviária.

[3] BERTONI, G. Programma di filologia romanza come scienza idealistica, p. 12. In: NASCENTES, Anternor. O problema da regência. (Regência integral e viva).Rio de Janeiro : Freitas Bastos, 1944, p. 50.

[4] Foi o que ocorreu com o latim. Onde foi implantado e assimilado pelo povo, foi transformado e adaptado pelo povo, tornando, com o correr dos séculos, uma nova fala, uma nova língua.

[5] HUMBOLDT, W. von. Über die Verschiedenheit des menschichen Sprachbaues. Berlim: 1835, pp.34-35.

[6] FARACO, Carlos Alberto. 1991. Lingüística histórica. São Paulo : Ática. p. 18.

[7]Eugenio Coseriu cita Bally in Sincronia, Diacronia e História.Rio de Janeiro:Presença; São Paulo: USP, 1979, pág 15. BALLY, Charles. Linguistique générale et linguistique française. .Berna,1950. pág 18.

[8] COSERIU, Eugênio. Sincronia, diacronia e história. Rio de Janeiro : Presença; São Paulo : USP, 1979, pág. 94.

[9] COSERIU, Eugênio. O homem e sua linguagem Rio de Janeiro : Presença; São Paulo : Universidade de São Paulo, 1982, pág. (47-48).

[10] empregado quando o proprietário tem condições que manter contador e pagar todos os encargos sociais mais pesados que os de qualquer montadora de automóveis.

[11] ABAD, Francisco. Diccionario de lingüística de la escuela spañola. Madrid : Gredos, 1986, pág. 98.

[12] IORGU, Iordan. Introdução à lingüística Românica. Lisboa : Calouste Gulbenkian, 1973, pág. 197.

[13] ABBAD, Francisco. Diccionario de Lingüística de la scuela española. Madrid : Gredos, 1986, pág. 96.

[14] CARRETER, Fernando Lázaro. Diccionario de términos filológicos. Madrid : Gredos, 1974, pág. 109.

[15] Esta pesquisa enfoca, de modo especial, a variação lexical referente a nomes de doenças de criações e culturas agrícolas, nas propriedades rurais e os aspectos fonético, lexical, gramatical e semântico da fala rural.

[16] Etnográfico: que se refere à etnografia. Etnografia (sf): estudo descritivo das atividades de um grupo humano determinado (técnicas materiais, organização social, crenças religiosas, modo de transmissão dos instrumentos de trabalho, de exploração do solo, estrutura de parentesco). (In: Larousse Cultural, 1998).

[17]FERREIRA, Carlota et CARDOSO, Suzana Alice. A dialectologia no Brasil. São Paulo : Contexto, 1992. p.. 44.

[18] ARAUJO, Joseph Ildefonso de. Cartas Lexicais e glossário popular-técnico e técnico-popular. - Nomes populares rurais de doenças de criações e culturas agrícolas da microrregião de Viçosa - Minas Gerais. 3 vol. - Rio de Janeiro : UFRJ-Faculdade de Letras, 2º sem., 1993. 978 fls xerocadas. Tese de Doutorado em Lingüística e Filologia.

[19] ARAUJO, op. cit., pág. 6.

[20] Idem, ibidem, pág. 6.

[21] Idem, ibidem, pág. 7.

 

[22] Aposentado é carta morta fora do baralho da vida, pouco interessando o seu conhecimento e capacidade de trabalho que ainda lhe resta. Falta apoio oficial para trabalhos começados ou novos.

[23] Viçosa é dos poucos munícipios da Microrregião que não possuía Mapa elaborado pelo Institudo de Geopolítica Aplicada – IGA, órgão oficial do Estado.

[24] Este número deverá ser acrescido, de acordo com o que foi proposto no XI Congreso Internacional de la Asociación de Lingüística e Folologia de la América Latina, de julio de 1996, em Las Palmas de Gran Canaria, España.

[25] O informante dava o nome da criação ou cultura agrícola, os nomes das doenças e descrevia como elas se manifestavam.

[26] No meio rural, para muitos animal é o cavalo ou burro que serve de montaria. Boi, porco, cabrito, cachorro são criações.

[27] As aves são criações e não animais, para muitos no campo. Ave é ave.

[28] As culturas agrícolas abrangem o cultivo de café, milho, arroz, feijão, soja, cana, verduras e legumes, etc.

[29] No meio rural, para muitos animal é o cavalo ou burro que serve de montaria. Boi, porco, cabrito, cachorro, etc, são criações. As aves não são criações: ave é ave.

[30] Foi utilizado a Mapa Rodoviário porque o município de Viçosa não tinha o mapa oficial do IGA, Secretaria de Administração.

[31] O número que precede a propriedade foi dado pela pesquisa.