HISTÓRIA DA ESCRITA E RELIGIÃO
ESTUDO ETIMOLÓGICO
E OS DIFERENTES SIGNIFICADOS
DA PALAVRA “BABEL”

Gláucia Vilela

Metodologia

Na bibliografia etimológica da Língua Portuguesa, existe um grande abismo entre o latim e termos que pertenciam às civilizações mais primitivas (por exemplo, originadas do hebraico e árabe arcaico). As primeiras documentações foram tiradas de obras latinas e gregas. Temos como exemplo, a palavra latina “balbus” análoga a “bato“ no grego, que no português significa gago. Ela é registrada pela primeira vez em 460 d. C. (Apal. em J. Corominas). O hebraico antigo já registra o termo para definir dificuldade de pronúncia, confusão de palavras. Foram consultados dicionários etimológicos em castelhano, onde as edições antigas são ricas em datas, citações documentadas pela primeira vez e a história de algumas variações vocabulares no decorrer dos séculos. A explicação talvez seja dada pela influência da linguagem bíblica sobre escritores e poetas hebraicos da Espanha na Idade Média.

Como a etimologia é um estudo que por vezes gera algumas distorções, foram mencionadas apenas as palavras citadas por mais de uma referência bibliográfica. Os vocábulos e suas variações identificados em apenas uma única obra foram descartados, até que sejam encontradas confirmações.

As línguas antigas

As línguas semíticas têm parentesco tão evidente quanto as línguas românicas. A lingüística histórica tende a considerar cada vez mais as línguas semíticas como um conjunto vasto e homogêneo. Ao grupo camito-semítico são associados vários grupos de línguas encontradas na África, como o egípcio antigo. Os semitas provavelmente organizaram-se na região do crescente fértil.. O árabe também apresenta traços arcaicos. É interessante notar que algumas correntes situam o berço da civilização na África devido à semelhança do semítico com algumas línguas africanas. A paleontologia lingüística comparou, nas línguas históricas, certo número de termos que deviam pertencer a uma língua comum. Termos concernentes à metalurgia, agricultura, tecelagem, criação de bovinos, flora, fauna, construções (tijolos) e, principalmente, à religião, são análogos com pequenas variações lingüísticas ou, por vezes, idênticos em comunidades de origem semítica distanciadas geograficamente.

Os escritos semíticos não possuem vocalização. As vogais no hebraico antigo foram adicionadas por estudiosos judeus, após a destruição do Segundo Templo, em Jerusalém, ocasião em que se sentiram preocupados com a fiel manutenção da sonoridade tradicional que era transmitida até então apenas oralmente, comprometida no evento histórico, e a conseqüente dispersão. O alfabeto hebraico em uso nos manuscritos existentes tem o nome de Ashurith, que significa assírio. Os judeus o adotaram provavelmente durante o cativeiro, ou logo após. Antes do exílio babilônico, era escrito com caracteres antigos ou fenícios que foram resgatados na pedra moabita do século IX a. C., em aquedutos de Jerusalém, em selos antigos e em moedas do período de Macabeus. O Pentateuco samaritano possui caracteres antigos semelhantes aos fenícios e considerava-se até que estes fossem os mais antigos. Porém, descobertas arqueológicas têm apontado para uma escrita proto-sinaítica, que teve origem na região do Sinai, em 1800 a. C., passando daí para a Fenícia e para a Arábia do Sul. Esta escrita foi parcialmente decifrada pelo egiptólogo Alan Gardiner em 1916 e confirmada em 1948 por Willian Albright após confronto com outros textos de novas escavações. Alguns caracteres representam uma transição entre certos hieróglifos egípcios e algumas letras do alfabeto semita. Foram também encontrados em escavações realizadas na Palestina, caracteres semelhantes aos de Sinai datando 1700-1500 a. C.

Alan Gardiner aplicou o princípio de acrofonia no cananeu vulgar, com uma escrita que contava cerca de 35 sinais que levam muitos especialistas a considerarem-na matriz das formas desenvolvidas por todos os ramos fenícios posteriores. Os primeiros exemplares foram encontrados em um antigo centro egípcio no Sinai (Serabit el-Khadim), e datam do século XVI a.C. Gardiner conseguiu ler o nome semita “baalat” que significa “deus, senhor” e que em algumas traduções, inclusive bíblicas, pode ser interpretado como “marido” ou “possuidor”.

O nosso alfabeto é um descendente direto do antigo fenício-hebreu, e seu nome deriva das duas primeiras letras do mesmo (álef-bet em semita até o alfa-beta em grego). Durante o império grego, no terceiro século antes de Cristo, Alexandre, O Grande, convocou em Alexandria um grupo de 72 eruditos judeus para traduzir o Antigo Testamento hebraico para o grego, tradução chamada depois Septuaginta – a Versão dos Setenta. Essa era a Bíblia dos tempos de Cristo e de seus apóstolos e grande difusora de novos vocábulos do grego para o latim.

Roma derrotou a Grécia em um processo quase que pacífico absorvendo grande parte de sua cultura, filosofia, mitologia e leis. Em Tiro e Sidom falava-se o fenício (mais tarde chamado púnico) que era muito similar ao hebraico por suas tradições semíticas. O alfabeto semita foi adotado primeiro pelos gregos e depois pelos romanos. Mesmo quando o hebraico deixou de ser língua falada no próprio território da Judéia, aproximadamente entre os séculos II a.C. e II d.C., continuou sendo idioma de comentários religiosos, e influenciou línguas híbridas surgidas na Diáspora, como o ídiche, ladino, judeu-grego, judeu-francês, judeu-persa e o judeu-árabe.Todos ainda continuam usando o alfabeto hebreu.

O conhecimento do hebraico permite um acesso direto aos textos bíblicos, uma criação cultural de mais de 3000 anos. "Babel” vem da raiz “BLL” que significa confusão ou mistura. Algumas variantes (por exemplo: bbl, blb, blbl, ou brb) percorrem séculos espalhando-se pelos povos mantendo a mesma semântica ou com significados comparativos parecidos.

O latim absorveu alguns termos semíticos, como a palavra “balbus’’ que no português quer dizer balbo ou gago. O significado sempre aponta para uma pessoa que tem dificuldades de pronúncia. Análoga a “balbus” temos o grego “barbarízen” espalhado por toda a Europa através dos ataques bárbaros que minaram os domínios do império romano. Eles eram assim chamados por terem dificuldade de pronúncia do grego, virou termo pejorativo a todo estrangeiro que não conseguia se comunicar. A gramática adotou “barbarismo”, termo que define dificuldades de pronunciar uma língua.

No período medieval (VI ao século XVIII) a criação literária judaica se processa principalmente na Diáspora e posteriormente na Espanha, no norte da África e Europa Central. O período mais rico começou na Babilônia e foi até o século XII na Espanha onde a poesia e a filosofia sofreram influência da cultura árabe. Na Idade Média o vocabulário hebreu foi enriquecido por ampliação semântica de palavras hebraicas por influência do significado de palavras árabes paralelas, por causa da proximidade entre ambas as línguas.

O hebraico moderno não é uma continuação das fontes bíblicas, pois essa linguagem não supriria as necessidades de expressão do mundo moderno. O renascimento do hebraico moderno como fala popular deve-se a Eliezer ben Iehuda (1855-1922).

A etimologia de “Babel”

1 O texto de Gênesis 11.7 explica com o uso do vocábulo “balal” a confusão, mistura e transtorno da linguagem única do povo que queria construir uma torre que alcançasse os céus.

2 A palavra tem significado religioso. Os deuses dos construtores feriam o monoteísmo dos hebreus. As inscrições antigas com características do dialeto do cananeu vulgar com sinais interpretados por Gardiner, escreviam “baalat”, sendo confirmado por Willian Albright em confronto com achados de novas escavações. O termo “Baal” (deus, senhor) provavelmente é mais antigo que “Babel”. O zigurate “Etemenanki”, a “Pedra Fundamental do Céu e da Terra“, considerada a torre de Babilônia mencionada na Bíblia, era cercada por um muro onde se apoiavam diversas construções relacionadas com o culto. Devemos ao viajante grego Herótodo e a Ctésias, médico da câmara de Artaxerxes II, as descrições mais detalhadas de Babilônia confirmadas por escavações do arqueólogo alemão Robert Koldewey (Das wiedererstehende Babylon –1925 – em referência bibliográfica 11). Ele desenterrou apenas a gigantesca base e as inscrições provaram que a torre existira e que já devia ter desaparecido nos tempos de Hamurabi. Mas ela foi reconstruída por Nabupolassar que escreveu: “Naquele tempo, Marduk ordenou que se construísse a Torre de Babel, que tinha enfraquecido e desmoronado em tempos anteriores a mim, que assentasse os seus alicerces no seio do mundo subterrâneo e erguesse o seu cume procurando alcançar o céu.” E Nabucodonosor, seu filho, prossegue: “Para erguer o cume de Etemenanki de modo que rivalizasse com o céu, eu pus a minha mão.” Heródoto descreve oito torres sobrepostas. Só a base media noventa metros de largura e noventa metros de altura. Cada cidade babilônica tinha o seu zigurate, mas nenhum se compara à “torre de Babel” que foi obra de escravos e usou por volta de oitenta e cinco milhões de tijolos. Era santuário do povo, objeto de romaria de milhares que veneravam Marduk (Bel) como deus soberano.

3 O árabe vulgar clássico “bâb-al-bá-qara”, “porta das vacas”, é formado por “bâb”, porta, “báqar”, um coletivo de bois e vacas, ou “báqara”, vaca. No português, barbacana ou barbacã, define uma avançada fortificação destinada a proteger pontos estratégicos de uma muralha. A barbacana na verdade protegia um recinto intermediário entre essa fortificação e a muralha principal, onde os sitiados guardavam o gado que os sustentava com carne. “Balbacara” mudou para barbacana por influencia de “albarrana”, torre rodeada pelo recinto dos bois. O aramaico adotou “bavah” para porta, os babilônios a definiram como “bab” de “bab-ilu”, e nomearam Marduk como “Bel”, isto é, senhor, deus, e “Babel” a “Porta de deus” um acesso para os céus.

4 A palavra baba (do árabe baba), define a mucosidade que sai da boca dos bebês que começam a falar os primeiros monossílabos. Faz parte da linguagem infantil misturado com o balbucio. É palavra comum em muitas línguas (espanhol babeo,italiano bava, francês bave).A repetição da sílaba labial, num sentido figurado, simboliza a idéia imatura da civilização primitiva em alcançar os céus com uma torre, talvez uma referência irônica de D’s à sua “força”.

RADICAL HEBRAICO B-B – e variações – para expressar confusão e outros significados análogos (entre parêntesis, provável data e idioma de primeiro registro documentado em dicionários etimológicos)

5 babel – (XVII) confusão de vozes ou de línguas, desordem, tumulto, algazarra ;

babelizar – confundir, balburdiar ; babelismo – ocorrência de numerosas línguas;

babélico – (1899 no francês babélique) caótico, confuso, desordenado.

6 Babilônia – cidade grande; babilônico – (1871 no latim babylônicus) relativo a Babilônia, muito grande, majestoso; babilonismo – caráter gigantesco, ou grandioso de qualquer coisa, principalmente edifícios ou monumentos; babilonizar – corromper, dissipar, prostituir; babilão (XIII), babilônio (1899 do latim babylonius).

3. babaré (XVII babare) variações regionais do Brasil: babaréu, bambaré – barulheira, gritaria, alarido; bambaquerê (brasileirismo do sul) – baile ou função que termina em desordem.

7 Baba (árabe baba ou loaba) –o grego utiliza babazein para os que falam mal, sem articular; no espanhol babera refere-se a uma peça de armadura que cobria a boca e babatel as gotículas de baba ou substâncias semilíquidas que ficam em barba de gente descuidada, com pouco uso, mas que pela aparência pode significar também bobo, insensato; compara-se ao castellano antigo bavastell que quer dizer títere (no hebraico buba) ou fantoches, marionetes, bonecos que se movimentavam por cordéis; no popular, era palavra usada para palhaços; o francês apresenta uma variação bavard para falador.

A palavra babosa é encontrada no árabe de Marrocos, Argélia (babbusa), e Granada; no hispano-árabe como babus desde 1100 d.C.(Asín, p. 22 em J. Corominas), como planta que segrega uma baba clara e pegajosa; compara-se com o siciliano babbaluccu, caracol e outras formas análogas para lesma e bichinho de seda que deixam um rastro pegajoso característico, parecido com uma baba.

8 badalo (do hebraico bada, dividir, era uma mordaça que separava, apartava, dividia o pasto da boca do animal para que não pudesse comer, passou a ser usado em pessoas para que não pudessem falar – Monlau, Dic. Etimol, p.395) – português, língua, corre o badalo, dar à língua, é análogo ao espanhol badajo – (documentado no primeiro quarto do século XV) falador néscio, tagarela, tolo;

badajear – falar muito, a língua do falador se compara com o badalo de uma campainha; badalar – propalar mexericos: é o que as más línguas badalam por aí, bajular: os políticos badalam os eleitores em época de eleição.

Existe um antigo badaluc, bobo, derivado do espanhol badar, estar distraído.

6. baderna (XX do italiano baderna de origem obscura) – desordem, confusão, briga, conflito; badanal – confusão, trapalhada, lufa-lufa.

7. bafafá (XX) – tumulto, confusão, origem onomatopaica com variações.

bafar (XV) em aragão – dizer mentiras ; bafa (brasileirismo do sul) – bafafá, discussão, barulho, tumulto.

8. bagaceira – palavreado sem idéia (brasileirismo de origem incerta).

9. bagunça (XX do francês bagarre) tumulto, barulho, motim; segundo Silveira Bueno, o radical bag– significa ruído, barulho, e há em francês bagou, no mesmo sentido de bagunça, que primitivamente significava apenas falatório, gritaria e passou depois a ter sentido geral de desordem.

10. bacafuzada – (brasileirismo da região norte) grande barulho de muita gente falando ao mesmo tempo, complicação, trapalhada, confusão.

11. balar (XVII) – dar balidos, dizer absurdos.

RADICAL HEBRAICO BLB– (mistura, desordem) para expressar dificuldade de pronúncia de uma língua e confusão

1) balbo (do latim balbus) – gago, tartamudo

2) balbuciar (XIX do latim balbutiare/ balbutire) pronunciar as palavras imperfeitamente e com hesitação ; balbucir (primeira documentação S. Juan de la Cruz, 1591, do latim balbutire; balbuciente (E. de Vilhena, 1422, do latim balbutiens).

3) balbúrdia (1813 de balborda) – algazarra, confusão, vozearia, desordem.

VARIAÇÕES BAT – para dificuldades de pronúncia, gagueira – palavras do árabe, aramaico e grego análogas ao latim balbus.

1) batlan – no aramaico, preguiçoso, indolente; eram eruditos da mais alta virtude que dedicavam o seu tempo ao estudo da Torá e não trabalhavam, eram juízes de tribunal e ajudavam a conduzir os assuntos da congregação, eram sustentados pela comunidade ou tinham independência financeira; o termo ganhou conotação pejorativa para se referir a vagabundos com pouco futuro na vida.

2) bátil – no árabe, inútil, vão, que não tem cartas no naipe.

3) Bato – no grego, quer dizer gago, verbo batarízen, gaguejar, balbuciar; outras línguas indo-européias possuem formas diferentes e independentes, mas podem ser comparadas com as gregas, como o latim balbus, gago e o aramaico battal, vão, inútil.

4) Batologia (do latim battologia e do grego bato) repetição desnecessária de um pensamento pelas mesmas palavras.

5) batata – (brasileirismo) erro de pronúncia, solecismo, asneira, tolice.

6) batatada – (popular) amontoado de tolices; batateiro – que fala de maneira incorreta, que pronuncia mal.

7) blaterar – (XX do latim blaterare) falar muito, tagarelar.

VARIAÇÃO BAR – para expressar confusão, dificuldade de pronúncia.

1) barafunda – (XVI) confusão, balbúrdia, baderna.

2) bárbaro – (do latim barbarus) eram chamados os estrangeiros que entre os gregos e romanos não sabiam falar, nem pronunciar o grego ou outra língua estrangeira;

selvagem, grosseiro, inculto; é derivado do grego bárbaros que tem também como análoga o balbus latino, gago; no italiano barbaresco (XVI); barbárie do latim barbaries (1858);

barbarizar (XVI) do latim barbarizare, derivado do grego barbarízo, define agir, falar como um estrangeiro ou um bárbaro.

3) barbarolexia – (1871) junção de uma palavra estrangeira a outra vernácula; erro de pronúncia de palavra estrangeira.

4) barbarismo – (gramática) vício de linguagem que consiste em erros em relação às palavras na pronúncia, na grafia, na forma gramatical e na significação.

5) borborismo – ruído surdo dos intestinos causado pelo movimento dos gases.

6) borboró – (norte do Brasil) é o gago, tartamudo.

7) Borborinho/ borburinho/ burburinho – (XVI) sussurro prolongado de muitas vozes; murmúrio, tumulto, rumor, confusão.

Variações: bulha (XVIII) confusão de ruídos, tem influência do latim bullare, ferver, formar bolhas; borbulhar (XVII)– formar borbulhas, bolhas;

o espanhol barbulhar ou barbotar vem de uma raiz espanhola barb– que quer dizer falar confusamente (primeira documentação em 1601) e de uma variante do francês antigo barboier ou balbier, tartamudear, gaguejar, com variante consonantal no latim balbutire;

8) rebuliço – (XV) confusão

9) burundanga – palavreado confuso

OBSERVAÇÕES SOBRE O RADICAL BAR

Barbotar, barbulhar (espanhol) e borbulhar (português) são formas que alguns consideram ligadas entre si por sua origem etimológica. Outras quase idênticas têm também o francês baubouiller, falar confusamente, o italiano barbottare, borbottare, borbogliare, com pequenas variações podem ser de origem comum de bar– ou barbar-,significando pronunciar palavras desconhecidas, gaguejar. No Dicionário Etimológico de Monlau(24), há uma comparação de barbotar (gaguejar) com o latim balbus:

borbulhar – pela semelhança dos sons da pessoa que gagueja com o borbulho da água;

barba – pelos movimentos que a barba executa em quem gagueja e pela analogia de sons.

VARIAÇÃO BAMB – E B-B-

1) Bamba – na terceira de suas filípicas (discursos ou escritos satíricos ou injuriosos) contra Marco Antonio, Cicerón finge ter um nome de uma pessoa tonta, néscia e gaga e todos lhe chamavam Bambalio ; primitivo é o grego bambalos, do verbo bambalizein, bambainen, que quer dizer tartamudear, balbucir, vacilar.

variações no sentido de vacilar:

bambi – corça (Cephalus grimnia) de Angola, 1681

bambinela – tipo de cortina (1844, do italiano bandinèlla)

bambolear – (primeira documentação 1500 no sentido de oscilar) de raiz bamb– com significação geral de “tremer”; bambo (XVIII)– frouxo, relaxado, irresoluto, indeciso.

2) bobo – de origem na Idade Média, era o indivíduo que divertia os reis e os grandes senhores, tolo, pateta (XVII do latim balbus); variação bocó (XX) infantil, tolo.

Variações:

Bobagem (1871), boboca (1899), “dizer baboseiras, babeca”, baueca (XIII),

Babasque (1813), embabacar (XVI), castellano babieca, babaquara, toleirão, apalermado; baboca (brasileirismo do nordeste) – o mesmo que biboca, tolo, que se deixa levar e enganar.

INFLUÊNCIA RELIGIOSA DE BABEL

BABAL (pai, senhor) + OR (luz) + IXÁ (homem)

O sincretismo religioso é resultado da fusão de povos por miscigenação e casamentos mútuos que gera um processo de mistura de elementos culturais e sociais. As religiões negras passaram por várias misturas com outras religiões na própria África. Ocorreram influências do Islamismo e do Judaísmo (que se evidencia pela circuncisão), que acabaram levando características do linguajar e costume semita. Mas é bem provável que a influência das línguas semitas sobre a religião africana se encontra nos primórdios da civilização e de suas migrações. Baal (hebraico ba’al, geralmente é uma representação religiosa de um deus cananeu, mas que pode ter o sentido de “dono”, por exemplo de uma mulher, de um escravo, de um terreno ou “marido”) tinha como símbolo o massebah, que era uma coluna de pedra que ficava em pé (2ª Reis 3.2; 10.25-27 e outros), e era adorado em lugares altos. “Aba” define “pai’’ no hebraico, mas em algumas referências bibliográficas o termo é usado para definir um líder ou governador, com algumas variações como “Ba”, na Hungria, que era um título dos chefes militares das províncias ou “bano”(1538) que era um antigo título dos governadores da Croácia e da Eslovênia (XIX). A palavra babalorixá, denomina o líder de um terreiro, um “pai de luz”, homem. Segundo Cunha (13) vem do iorubá ba’ bá que quer dizer “ pai, chefe” e todas as suas variações: babalaô, babaloxá são documentadas pela primeira vez somente no século XX. A versão feminina “ ialorixá “ denomina a “ mãe de santo “, onde o radical “ial ”,era usado para progenitoras como “ialad” que quer dizer “dar à luz, parir, procriar, gerar”(ver em Gênesis 24.24 ” gerou a Naor) “ e que passou a definr “moça “. Outra variação feminina é iaô “ou “ iauô “ que é o título no candomblé que se dá à iniciada. Define também a esposa de orixá que no iorubá é “ esposa mais jovem, recém-casada”, todas registradas no século XX.

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