O Pós-estruturalismo
em duas vertentes de interpretação

Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba (UERJ)

 

O modo pelo qual Barthes (1980) revisa em S/Z o método estrutural manifesta-se mais nitidamente pelo que ele próprio realiza, em sua escrita, como leitor de Sarrasine, e não por uma crítica pontual à sua proposta primeira, no que dizia respeito à divisão do texto em funções cardinais, índices, catálises, visando chegar ao objeto inteligível pelo sensível. As categorias do quadro dos primeiros estruturalistas, grupo ao qual pertencera, são radicalmente descartadas através da interpretação em fragmentos da novela de Balzac, apresentando a possibilidade de movimentar a estruturalidade da estrutura, como diria Jacques Derrida (1971), ou como propõe ele mesmo, Barthes, de abalar a estrutura do texto do escritor francês:

Para estarmos atentos ao plural de um texto, é preciso renunciar a estruturar esse texto em grandes blocos (...); nada de construção do texto: tudo significa sem cessar e várias vezes, mas sem se submeter a um grande conjunto final, a uma estrutura última. (BARTHES: 1970: 17)

Repensar então essa atividade metodológica do estruturalismo implica não pretender esgotar nem a totalidade do objeto, nem a significação de um certo número de dados textuais em paradigmas, cujos constituintes indicariam a formação de campos de significados reincidentes. Agora, a noção de plural do texto instaura uma divergência radical com a prática de explorar aspectos que convirjam para a Cópia ou – o que daria no mesmopara o privilégio da conotação sobre a denotação. Barthes sabia que a fórmula da conotação pensada por Hjelmslev (1975) remeteria para o fechamento dos sentidos denotativos do signo, uma finalidade inconciliável com a valorização da leitura em superfície com a qual passou a se comprometer, num momento em que suas idéias encontravam-se nitidamente influenciadas pelo pensamento de Nietzsche . Daí propor novas concepções que se afastavam daquelas análises em que a conotação submete a denotação à Lei do Significado, ou seja, à interpretação que se conduzia para o fechamento do discurso literário, queria organizar sua estrutura, endossava enfim os tradicionais postulados que sempre nortearam o pensamento da metafísica ocidental.

A partir dessas considerações, alguns pontos começam a se revelar pertinentes, no que diz respeito tanto ao distanciamento quanto à aproximação, entre Barthes e Iser. Os princípios aos quais se atribui a inscrição de Barthes no desconstrutivismo remetem, num determinado limite, para a fenomenologia da leitura de Iser, que tanto um quanto outro dissociam-se da atitude analítica que vai ao encontro de um núcleo centralizador ou de uma anterioridade presumidamente pertencente ao texto. Por conta disso, entende-se o fato de as noções de interpretação por eles conceituadas não prescreverem recortes, estratégias metodológicas ou modelos configurados e postos à disposição do analista da obra literária. Na leitura que faz de Sarrasine, as lexias de Barthes podem tanto coincidir com o início e término do original, quanto vir antecipadas ou seguidas de reticências, por exemplo. De acordo com sua proposta, é possível deduzir que cabe ao intérprete a tarefa de seccionar um trecho, uma frase ou mesmo um sintagma, enfim, criar a lexia, comentá-la, resultando dessas partes um dos fragmentos que compõem o conjunto da interpretação.

Semelhante a esse trabalho no pólo da recepção, o caminho para se chegar à significance/interpretação dá-se também por etapas, e é descrito por Wolfgang Iser (1978) como resultado do processo fenomenológico da leitura. Na relação com o texto, o leitor promove ideativamente fragmentos que, de certa forma, constituem marcações inerentes ao próprio ato de ler.

Seria, no entanto, incorreto dizer que esses fragmentos, correlatos de sentença, gestaltsnomenclaturas essas de Iser – correspondem, em todas as suas variáveis, ao que se observa em S/Z. Primeiro porque os correlatos vão sendo formulados no decorrer mesmo da leitura. Não se trata, portanto, de uma atividade de término de leitura e conseqüente retorno ao texto, como supõe a interpretação de Sarrasine, realizada por Barthes. Iser insiste em observar que é no trânsito entre leitor e obra que se processam os mecanismos perceptivos por ele descritos. Nesse sentido, é também no espaço entre o pólo artístico (obra) e o pólo estético (leitor) que se formulam e reformulam as configurações ideativas inerentes à fenomenologia da leitura.

Em função dessa especificidade, surge de imediato um outro motivo que impede dispor, num mesmo modelo, a idéia de fragmentação em Barthes e em Iser. Para o teórico alemão, a formação dos correlatos resulta não do que o leitor pontua, mas do que o texto informa. Trata-se de uma constante do processo, marcado por influências mútuas e intercambiáveis: por um lado, o que a obra diz (pólo artístico); por outro, o que o leitor (pólo estético) formula e reformula, tal como ocorre no processo de diferentes configurações de gestalts, em função do que percebe como good continuation[1]. De forma diversa, em Barthes, a interferência do leitor não se encontra submetida a essa troca entre pólos. Sua proposta interpretativa remete mais para o ato de estilhaçar o original, independente até de uma lógica de ligação entre os diversos grupos de lexias e comentários. Em suma, embora os dois teóricos tenham se posicionado contrários a conteúdos imanentes, a prescrições metodológicas, a apreensões totalizantes de significações – aspectos gerais dos paradigmas críticos anteriores com os quais estabelecem rupturas – distinguem-se entre si quanto ao entendimento de fragmentação.

Um outro aspecto comparativo refere-se à diferenciação em blocos das manifestações literárias, por conta do que Barthes e Iser refletiram sobre a diversidade das estruturas ficcionais. A recusa de Barthes em recompor a globalidade de Sarrasine, por exemplo, resulta de concepções distintas acerca das obras em geral, fato este que o leva a classificá-las em dois grupos no conjunto ordenado pela História da literatura. Também Iser compõe uma série de conceitos que devem ser pensados em relação a certos tipos de ficções. Obras que se caracterizam como estruturas de comunicação e que, por isso, distinguem-se das demais, cujas organizações harmônicas com a referencialidade, conduziriam menos ao que Iser entende por comunicação com o texto ficcional, do que a uma atitude de mera reconstituição. Vejamos os modos pelos quais um e outro tratam dessas classificações dicotômicas.

Para Barthes, a construção acabada dos textos legíveis requer uma significação meramente ratificadora do compromisso que as obras desse grupo mantêm com o pensamento te(le)ológico da metafísica. À interpretação, nesse caso, caberia fechar, através da conotação, o círculo denotativo pelo qual se constrói esse modo de fazer literário, o que confere ao texto analítico a característica de simples referendum, conforme é falado em S/Z. Os legíveis são textos que estimulam o leitor a permanecer na intransitividade, posição de simples consumidor do que a priori lhe foi reservado. Por outro lado, os textos escrevíveis seriam aqueles cujas estruturas plurais estimulariam a entrada do leitor para participar da construção ficcional. Segundo essa outra prescrição, o próprio modo de combinar significantes na superfície do eixo sintagmático induziria o leitor para o recorte das lexias e respectivos comentários, resultando num tipo específico de significação, isto é, em multifacetadas significações. A articulação entre elas, caso viesse a ser feita, ficaria a cargo de um outro leitor diante da interpretação realizada, estilhaçada mesmo tal como ali permaneceu. Instaura-se então uma possibilidade de abertura para acréscimos, tarefa infinita que bem ilustra a sintonia de Barthes com o pensamento de Nietzsche.

O contraponto passível de ser estabelecido aqui com Iser diz respeito a um marco divisório que o teórico da Escola alemã promove na seqüência histórica das obras literárias. Trata-se de uma discussão feita nas páginas iniciais do The act of reading, visando demonstrar a inadequação do gesto da tradição interpretativa que insiste em se manter como tal diante de literaturas cujas construções estariam exigindo um outro modo de aproximação. Iser nos lembra que haveria duas formas básicas de estruturas literárias: aquelas encontradas nas ficções produzidas pela tradição até o Romantismo e a literatura contemporânea à arte da modernidade. No primeiro capítulo de seu livro, mais especificamente na parte intitulada “Total interpretation”, escreve ele que qualquer metodologia que queira descobrir o significado secreto entraria em consonância com as obras que pretendessem ser o testemunho do espírito de uma época, de suas condições sociais, das neuroses de seus autores e assim por diante. Trata-se de literaturas que trouxeram para si a incumbência de se revelarem como representações de sistemas sociais e de pensamento, ou de terem querido corresponder às expectativas dos acordos consolidados em sociedade, assumindo assim a função de guardiães da semântica das totalidades. A obra comprometida assim com a prevalência dos sistemas de seus contextos históricos, por ajustar-se ao que Iser denomina total interpretation, encontra seu lugar no mesmo modelo que, na nomenclatura de Barthes, aparece como texto legível, que a literatura ratificadora de normas (Iser) tende a privilegiar a Lei do Significado (Barthes).

A esse primeiro conjunto das produções literárias na classificação de Iser vem contrapor-se um outro: o corpus constituído por aquelas construídas por estruturas de caráter artístico-comunicativo. Para tematizar essa estrutura que acarreta um efeito e uma resposta estética (Cf. ISER, 1978: 20-49), Iser cria os conceitos de repertório (Cf. ISER, 1978: 53-85) e de estratégias (Cf. ISER, 1978: 86-103), atribuindo-lhes a condição de possibilidade para que o texto possa ser configurado como potencialmente capaz de provocar a interação ou comunicação com o leitor. Em resumo, diríamos que o repertório condensa noções que dizem respeito à variedade de normas, valores, alusões sociais/literárias, códigos da referencialidade e que as estratégias dizem respeito às perspectivas textuais (narrador, personagem(ns), enredo), sendo que essas perspectivas encontram-se sempre no intercâmbio com o ponto-de-vista nômade (wandering viewpoint). Segundo Iser, a produção literária passível de suscitar um efeito/resposta estética é aquela que, por trabalhar sua estrutura em repertório e estratégia, promove a combinação das normas e valores sociais de tal modo que elas fiquem, no universo ficcional, desprovidas das validades que possuíam no contexto pragmático de onde foram retiradas. Em outras palavras, a estrutura artística anula a hierarquia vertical dos códigos da referencialidade, quando reorganiza horizontalmente as normas. Por que, poderíamos perguntar, “reorganiza horizontalmente as normas”?

A resposta implica comparar a estrutura de realidade com a estrutura da ficção. A primeira, a estrutura de realidade, se define por uma rede verticalizada de normas (Teoria dos sistemas gerais de Habermas e Luhmann[2]) que funciona como quadro de referência para a ação dos sujeitos em sociedade, com normas dispostas hierarquicamente desde as mais dominantes até as mais negadas.

Diferentemente, na obra de ficção, as normas são apresentadas umas contra as outras, através dos variados movimentos das informações textuais. A função das estratégias, isto é, das perspectivas do narrador, personagens, enredo, leitor fictício (Cf. ISER, 1978: 96 e 153), é justamente promover uma estranha combinação das convenções (normas, valores etc.) do repertório. assim se viabilizam as condições sob as quais o material do texto torna-se comunicável, isto é, passa a se constituir como objeto estético no trânsito com o leitor. Caso contrário, a literatura é vista como didática, desprovida, por isso, das condições básicas que permitiriam a experiência estética:

A organização balanceada das perspectivas é principalmente encontrada nas literaturas religiosa, didática e propagandista, pois a função não é produzir um objeto estético que rivaliza com o sistema de pensamento do mundo social, mas oferecer uma recompensa para deficiências específicas em específicos sistemas de pensamento. (ISER: 1978: 101).

Talvez a melhor forma de se tornar evidente a importância das estratégias seja lembrar certos modelos de escrita em que elas são retiradas: os resumos de romances, as paráfrases de trechos literários, as versões comentadas de conto ou romance etc. Qualquer um desses textos (até mesmo por se limitar à substância do conteúdo, eu acrescento) distingue-se radicalmente do original, justamente por não se revestir do movimento de pontos-de-vista das personagens, do narrador, dos recursos das falas, dos encontros e desencontros das informações, enfim, textos em que se anulam os mais variados recursos do ofício de construção da escrita ficcional. É portanto a estranha combinação das alusões do repertório (pela atuação das estratégias) que impele o leitor a descobrir quais as convenções reguladoras do universo ficcional com o qual interage. Quando a literatura despragmatiza o familiar, alimenta a indeterminação do discurso, provocando uma resposta (significance) do receptor. Iser acrescenta que é justamente na despragmatização do familiar que reside o caráter pragmático (funcional) da literatura. De fato, a resposta (significance) do leitor advém do fato de ter vivenciado algo até então desconhecido, quer dizer, ter passado pela experiência ou efeito estético do significado (meaning), em decorrência de seu envolvimento com a tarefa de articulação das informações das perspectivas para constituir o código regulador de relação das personagens.

De imediato, tudo levaria a crer que o texto escrevível de Barthes seria semelhante àquele que Iser privilegia, pelo fato de ambos incitarem o leitor a algum modo de preenchimento, construindo, pelo prazer do texto ou pela experiência estética, o texto-tutor (Barthes) ou o pólo artístico (Iser). Nas primeiras páginas de S/Z, lemos que o escrevível, por não ser um produto, incita à produção; um texto em que o leitor gostaria de investir como uma força; uma escrita que ativa a pluralidade, fazendo proliferar os significantes. Apesar de Barthes ter previsto essa significativa entrada do leitor em contato com a obra, logo se entende que a aproximação entre ele e Iser (quanto à relação entre os dois pólos) é pertinente, desde que sejam feitas as devidas ressalvas. Para tanto, a atividade comparativa aqui realizada requer a investigação dos aspectos que, na semelhança, diferenciam as categorias e os autores comparados.

Em Barthes, a interpretação da obra potencialmente polissêmica supõe uma escrita que, após a leitura, remeta cada lexia para toda e qualquer associação que o leitor sinta-se motivado a fazer. Como Barthes não prescreve nem pratica (na interpretação de Sarrasine) uma articulação formal nem entre as lexias selecionadas, nem entre elas e respectivos comentários, os possíveis significados não resultariam nem de relações imageticamente formados. Conforme Iser, no processo fenomenológico, o leitor retém na memória um conjunto de dados provenientes de uma perspectiva e, conseqüentemente, projeta outros que imagina virem acontecer. Como o processo é dinâmico, essa expectativa pode ser confirmada ou negada, uma ocorrência que irá depender de novas informações, trazidas ou pela mesma perspectiva (suponhamos a do narrador) ou por outra (suponhamos a de uma personagem). A movimentação das perspectivas textuais impele portanto o leitor a estabelecer constantes cisões no texto, segundo uma lógica também constante de memória e projeção.

Contudo, para que tais mecanismos de percepção ocorram , é preciso que o leitor se disponha a ler o que as perspectivas informam, e não o que bem quer. A transformação pela qual deve passar o leitor real no sentido de assumir a função que a obra lhe reserva é compor com o texto o ponto-de-vista nômade, participar dele como categoria, enfim, ser um leitor implícito (Cf. ISER, 1978: 27 e 34-38). Trata-se de um processo de comunicação com o objeto literário que, na verdade, apresenta alguma correlação, ainda que potencial, relativa ao modo como os signos se auto-referenciam.

Essa função do leitor implícito diante de signos que se auto-referenciam difere daquela pensada para o leitor do plural do texto. Vejamos por quê.

A interpretação para Barthes é uma atividade de escritura (DERRIDA, 1971: 222-249), em que se ativam as significações, uma decorrência da avaliação, capaz de caracterizar os textos escrevíveis, os que operam e incitam um jogo incessante de diferenças. Barthes nos lembra que

(...) o texto somos nós a escrever, antes que o jogo infinito do mundo seja atravessado, cortado, interrompido, plastificado por qualquer sistema regular (Ideologia, Gênero, Crítica) que reprima a pluralidade de entradas, a abertura das redes, o infinito das linguagens. (BARTHES: 1971: 15)

Por descartar então conjuntos amarráveis numa conjugação de significados – e, contrariamente a isso, propor abertura das redes , Barthes entende que qualquer seleção das lexias sublinha positivamente não aquilo que a memória remete para a projeção, como pensou Iser, e sim para o próprio abandono de outros signos, isto é, a permissão do esquecimento:

O esquecimento dos sentidos não é motivo para desculpas (...); é um valor afirmativo, uma forma de afirmar a irresponsabilidade do texto, o pluralismo dos sistemas (se dele fizesse uma leitura acabada, reconstituiria fatalmente um sentido singular, teológico). É justamente porque esqueço que eu leio. (BARTHES: 1978: 18)

Vê-se, portanto, que a positividade concedida ao esquecimento é o que distingue a interpretação bartheseana como atividade totalmente desvinculada de qualquer tipo de articulação sígnica, seja no interior do conjunto multifacetado, seja entre a interpretação e o texto-tutor. Por também se conclui que a prescrição qualitativa do fenômeno do esquecimento não poderia pertencer à mesma conjugação de uma outra, em que a memória é essencial tanto para a expectativa projetada quanto para a good continuation.

Por último, cabe lembrar as conseqüências que as conceituações sobre o significado em S/Z e no The act of reading acarretam, no sentido de distanciarem os dois teóricos em seus pressupostos, o que inclusive constitui mais uma justificativa para alguns pontos discutidos aqui, mais especificamente aqueles que trataram das formas distintas assumidas pelo leitor que seleciona lexias e por aquele que forma gestalts. Em Iser, o significado é um efeito e possui caráter imagético. Configurá-lo por imagético implica necessariamente revestir-lhe de duas outras características: o significado não é semântico e, tal qual a imagem, forma-se na mente entre o sensório e o conceitual (ISER, 1978: 136). Isso quer dizer, ainda nas palavras de Iser, que, enquanto imagem, o significado (meaning) transcende o sensório, mas ainda não está totalmente conceitualizado.

É justamente o fato de o significado ser imagético que faz com que tenda a não permanecer nesse estágio perceptivo intermediário, mas passar a um outro em que o leitor dá uma resposta para a pergunta que faz a si mesmo, ao indagar-se por que passou por tal experiência estética. Daí a interpretação definir-se como a transmutação discursiva do efeito estético de um significado.

O modo pelo qual Barthes compreende o significado em nada se aproxima daquele descrito por Iser, sendo que o pressuposto em que se baseia para configurar esse conceito participa decisivamente da exigência de distanciá-lo do teórico alemão. O significado para Barthes é uma falta, contraparte da marca que é o significante. É justamente essa falta que permite o jogo das substituições. As lexias e respectivos comentários constituem, na verdade , a própria prática de disseminação, de deslizamento, de movimentação da pluralidade, de exploração dos vários sentidos, sem reagrupá-los numa escrita que resulte numa significação atribuída aos fragmentos. O teórico do desconstrutivismo pensa a interpretação como pulverização de significante , e não como investigação do significado. Daí a idéia de interpretação ser condizente com a de texto: o texto é tomado como uma galáxia de significantes e não uma estrutura de significados. Tais concepções formuladas acerca de significado, de interpretação, de texto vêm todas sob a rubrica nietzscheana que indica a superfície como a instância em que se deve fazer manifestar o jogo e a força dos significantes. Como circula no saber acadêmico, para Nietzsche, quanto mais se escava a terra da superfície ao encontro de uma profundidade discursiva, mais se constata que nãonada a ser (des)coberto, a não ser a própria superfície.

(...) a profundidade torna-se então um segredo absolutamente superficial de tal forma, que o vôo da águia, a ascensão da montanha, toda essa verticalidade tão importante em Zaratustra, não é em sentido restrito, senão o revés da profundidade, a descoberta de que a profundidade não é senão um jogo e uma rusga da superfície. (FOUCAULT, [s/d.]: 13).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTHES, Roland et alii. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 1976.

BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. São Paulo: Perspectiva, 1977.

––––––. Elementos de semiologia. São Paulo: Cultrix, 1979.

––––––. Masculino, feminino e neutro; ensaios de semiótica narrativa. Porto Alegre: Globo, 1976.

––––––. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1977.

––––––. S/Z. São Paulo: Martins Fontes, 1980.

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973.

––––––. La dissémination. Paris: Seuil, 1972

––––––. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 1971.

HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975.

ISER, Wolfgang. The act of reading. A theory of äesthetic response. London: Routledge & Kegan Paul, 1978.

––––––. O fictício e o imaginário. Perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: Eduerj, 1996.


 


 

[1] Good continuation diz respeito a um conceito de Iser, através do qual se caracterizam as relações entre informações em textos pragmáticos, ao contrário do que ocorre com os textos ficcionais que, por conta dos vazios, impelem a atenção do leitor na construção da obra.

[2] Cf. ISER, 1978: 70, a referência à obra de Jürgen Habermas e Niklas Luhmann.

 

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