o ensino da argumentação
nas
aulas de língua portuguesa
três propostas de trabalho

Sigrid Gavazzi (UFF)
Cristiane Guimarães
(UFF)

 

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva apresentar, sobretudo aos professores de língua portuguesa atuantes no ensino médio, três propostas de trabalho (cada uma utilizando uma estratégia argumentativa) para dinamizar/diversificar o ensino de argumentação, esteio para a elaboração de dissertação, modalidade textual sempre solicitada em provas e exames Vestibulares.

Importante ressaltar que os três níveis a seguir descritos resultam de postulados primacialmente defendidos por Aristóteles (1967). Hodiernamente foram revistos/atualizados, entre outros estudiosos, por CITELLI (1995) e PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA (1996).

Situam o ensino das técnicas argumentativas em três níveis, separados por grau de complexidade: o primeiro requer uma estrutura de raciocínio mais completa, assemelhando-se a um ensaio curto; o segundo, por sua vez, identifica cinco mecanismos intermediários, praticamente no nível do parágrafo; o último, finalmente, detém-se mais no nível frásico, de identificação mais pontual.

Como exemplificação, utilizamos duas entrevistas com líderes de segmentos sociais distintos, à época (1990-95) considerados minoritários, i.e., sem representatividade social relevante: Ivanir dos Santos, diretor do CEAP (1994/Centro de Apoio à População Marginalizada) e Luiz Mott (1995/ Grupo Gay da Bahia). A primeira apresenta respostas extensas, daí ser utilizada como exemplário para a PROPOSTA 1 (em que necessitamos de texto comcomeço, meio e fim”). Servimo-nos da segunda, por sua vez, como amostra para as PROPOSTAS 2 e 3 – apresenta uma série extensa de respostas breves que focalizam estritamente o tópico proposto pelo entrevistador.

A escolha pelo gêneroentrevistanão foi aleatória. Nesse tipo de inquérito, muitos são os mecanismos textuais discursivos utilizados pelos entrevistados, para tentar convencer/persuadir seu leitorainda mais quando se é representante de alguma causa específica e minoritária no universo social. Nos dos casos em pauta, por certo a entrevista poderia vir a constituir excelente oportunidade para divulgar idéias/ações e iniciar um movimento de reversão da situação. Daí, os entrevistados terem-se valido de suportes argumentativos (a seu ver) convincentes, pois não podem apenasdizer algo”: têm de “dizê-lo bem”, por não contarem, em princípio, com os domínios de “verdade social” (as evidências sociais) que lhes garantiriam status, confiabilidade e credibilidade (CHAUREAUDEAU: 1996). Atuarão, portanto, no campo do verossímil, do plausível, do provável, isto é, terão de (com) provar que suas idéias podem (ou devem) inicialmente ser aceitas. Segundo PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA (1996: 01), este é o escopo básico da argumentação, que, conforme os autores, não se argumenta contra a evidência. Portanto, a teoria da argumentação é “...o estudo das técnicas discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se lhes apresentam ao assentimento” (Ibidem, p. 04). O entrevistado atua em função de um auditório/leitores - o discurso mais eficaz, conseqüentemente, será o mais facilmente compreendido.

Assim, para a consecução discursivo-argumentativa, oferece a Retórica várias possibilidades. As três propostas a seguir representam apenas uma opção, dentre várias.

 

AS PROPOSIÇÕES

Proposta de trabalho 1

Neste nível, a relação argumentativa teria, como arcabouço, uma asserção de partida (PREMISSA), uma asserção de chegada (CONCLUSÃO) e várias asserções de passagem, devidamente seqüenciadas e algumas vezes implícitas, constituindo a inferência, a prova, o argumento (GAVAZZI, 1998: 11). Constitui a estrutura básica da argumentatividade, sendo o “modelomais difundido nos compêndios didáticos. Por isso, a ele não aferiremos maior detalhamento.

DIAS (1998: 60) ressalta, também, que esse quadro de questionamento constituiria o “dispositivo argumentativo”: a premissa (ou proposta) materializaria, pois, a assertiva principal; os argumentos, encadeados, demonstrariam a tomada de posição do sujeitoou seja, a proposição. O raciocínio final levaria, inevitavelmente, a uma conclusão.

Em outros termos: a proposta vai-se consubstanciar na asserção ou encadeamento de asserções. Diante dela, é necessário atribuir-lhe um julgamento subjetivo. Nesse ponto, o sujeito passa a tomar uma posição em relação à proposta -- trata-se da proposição que acarretará a conclusão, pensamento final que, se bem estruturado pelos argumentos anteriores, implicará a persuasão.

Tal mecanismo seria similar ao proposto por Aristóteles (apud CITELLI, 1995: 10) ao estabelecer a necessidade de um exórdio (=introdução/asserção de partida), das provas técnicas (=asserções de passagem/argumentos) e do epílogo (=conclusão).

Vejamos, então, o exemplo abaixo, extraído do texto de Ivanir dos Santos[1]. O entrevistado afirma, genericamente, que “a juventude é um caminho”, ou seja, os “meninos-delinqüentes” e “funkeiros” com quem trabalha são jovens e devem ter o direito a uma nova chance, pela sua própria juventude. Como sustentáculo, alicerça as bases do relacionamento que poderá mudar o destino cruel a eles reservado. A partir dos meandros dessa comunicação, eles passam a confiar nele – elo fundamental do trabalho desenvolvidopara, a partir daí, trilharem rotas mais positivas socialmente.

PREMISSA MAIOR (PROPOSTA)

“A juventude é um grande caminho

PROPOSIÇÕES (ASSERÇÕES DE PASSAGEM)

1) Necessidade de conversar com a família;

2) Os bailes funk ainda protegendo os meninos;

3) Os meninos funk têm potencial;

4) As gangues tendem a se eliminar;

5) O papel das ONGs e dos trabalhadores a ela(s) filiados;

6) Não se pode negar ajuda.

CONCLUSÃO (ASSERÇÃO DE CHEGADA)

Tem-se, portanto, de obter a confiança do jovem ladrão (p..21)[2]

 

Proposta de trabalho 2

Neste nível intermediário, trataremos dos esqueletos argumentais citados por CHARAUDEAU (1992). Este autor, ao delinear o dispositivo argumentativo maior, explicitado anteriormente, enumerava cinco estratégias específicas, contidas nas assertivas de passagem (apud DIAS, 1998: 60-61). Tais estratégias requerem um filtro analítico mais refinado que o anterior por parte do analista. São elas:

a)       a da JUSTIFICAÇÃO: o sujeito posiciona-se total ou parcialmente favorável em relação à pergunta.

Luiz Mott — (...) Os negros também reivindicaram a negritude de Machado de Assis e de Mário de Andrade exatamente quando se lembrava alguma efeméride desses ilustres mestiços. Nada mais justo que também os homossexuais aproveitem essas ocasiões para chamar a atenção sobre a sexualidade de seus heróis (...). (p.2)

Nesse caso, o interlocutor justifica seu posicionamento (“os homossexuais também podem se apropriar da imagem de personalidades ilustres em causa própria”) com base na proposta, ou seja, favoravelmente à proposta: “Os negros (...) reivindicaram a negritude (...) quando se lembrava alguma efeméride desses ilustres mestiços”.

b)        a da REFUTAÇÃO: o sujeito posiciona-se total ou parcialmente contrário em relação à pergunta.

Veja — Com tantos contemporâneos homossexuais, por que o senhor foi escolher logo um do século XVII para entregar?.

Luiz Mott — No mundo inteiro, os movimentos das minorias —seja dos negros, índios ou homossexuais — estão fazendo pesquisa para descobrir os seus heróis. Precisamos de modelos positivos a nos inspirar (...). ( p. 7)

O documentado nãoentreganinguém. Ao contrário, descortina a sexualidade daqueles que podem ajudar o movimentonão importando de que século.[3]

a)            a da PONDERAÇÃO: o sujeito não se posiciona nem contra, nem a favor. Prefere considerar os argumentos favoráveis a uma ou a outra posição.

Veja — Deve-se também dar credibilidade à tese de outro grupo homossexual, o Gay & Cia, que está tratando Virgulino Lampião como um velho companheiro?.

Luiz Mott — Ondefumaça, há fogo. Se até entre os samurais, os bandoleiros do Japão, foi comprovada a prática de homossexualismo, não me surpreenderia que o mesmo ocorresse entre os cangaceiros (...)“. ( p. .8)

Nesse exemplo, percebemos que o interlocutor não se posiciona nem a favor nem contra o fato de Lampião ter sido homossexual — e, muito menos, se o outro grupo ativista homossexual tem razão. Ele apenas reflete sobre o assunto, deixando que a dúvida permaneça.

d)            a da POLÊMICA: a posição do sujeito é feita face à sua própria argumentação, havendo ainda a predominância de controvérsias.

Veja — Nos Estados Unidos e na Inglaterra, os grupos gays estão usando a tática da deduragem dos enrustidos. Esse tipo de patrulhamento é cogitado no Brasil?.

Luiz Mott — Eu não chegaria a praticar essa espécie de guerrilha, que fora ficou conhecida como ‘outing’, uma central de denúncias sobre a homossexualidade de pessoas célebres. Mas chegarei a esse extremo em casos de enrustidos que atrapalhem ou prejudiquem o movimento de liberação homossexual. botei agentes na rua para descobrir se há algum gay enrustido entre os que criticaram as nossas revelações sobre Zumbi. Esses, por exemplo, devem ser denunciados“. ( p.l O)

Como pudemos observar, o interlocutor se contradiz, ou seja, não praticaria aquele tipo de patrulhamento paradedurar” os enrustidos, mas estava colocando “agentes” na rua para investigar os gays não assumidos. Em sua afirmação, percebemos que ele condena o ato da denúncia, diz que não faria, mas se “arrepende”. Afinal, há aqueles que, porventura, podem atrapalhar o seutrabalho” e, então, essa é uma boa tática para evitar problemas.

e)        a DEMONSTRATIVA: o sujeito distancia-se de sua tomada de posição.

Luiz Mott — Na história do Brasil, lastimavelmente, temos três casos reconhecidos de homossexuais que se assumiram exercendo cargos políticos eletivos: o ex-deputado estadual João Batista Breda (PT-SP), o vereador-travesti Kátia, do município de Colônia do Piauí (...); e o vereador Renildo José dos Santos, do município de Coqueiro Seco, em Alagoas (...). (p. 10)

Nesse trecho, o interlocutor apenas tem a preocupação de demonstrar (enumerar) os homossexuais assumidos publicamente e que, mesmo assim, ocupavam cargos políticos eletivos (verdadeiros exemplos para a causa, por certo). Ele afirma que, na História do Brasil, três casos desse tipo , ou seja, muito poucos. Entretanto, não se aprofunda no assuntosomente o lamenta.

 

Proposta de trabalho 3

Neste momento, listam-se os argumentos que, de forma mais isolada, em determinado momento da cadeia argumentativa, mostram-se mais relevantes/contundentes. Normalmente, na seqüência, acoplam-se a outros. Mas se destacam como fundamento valorativo de maior realce para o autor do discurso[4].

PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA (1996) distribuem tais procedimentos em pequenos grupos. Optamos pelos abaixo discriminados, porque, na leitura inicial das entrevistas, ocorreram com mais freqüência, chamando nossa atenção.

1 — Argumento baseado na “autofagia”: “é um argumento que tende a mostrar que o fato empregado para atacar uma regra é incompatível com o princípio que sustenta esse ataque”. (p.231)[5].

Ninguém deixará de comprar um disco de Maria Betânia se ela algum dia disser como Martina Navratilova e Ângela Rô Rô disseram, que ama o mesmo sexo (...). (2/I, p.8).

Observa-se que o fato de alguma personalidade pública se assumir corno homossexual, ou seja, mostrando sua facenegativa”, não interferirá em nada na sua personalidade nem no seu relacionamento com outras pessoas.

2 — Argumento de “autoridade: indivíduo legitimado socialmente possui opinião idêntica ou diferente daquela utilizada pelo sujeito argumentador.

Em relação aos gays, João Paulo II é o mais intolerante inquisidor da história recente do papado. Diz que a homossexualidade é intrinsecamente má (...). (p. l0)

Nesse fragmento, nota-se que o papa João Paulo II (indivíduo legitimado socialmente) é totalmente contra o homossexualismo, isto é, possui opinião diferente em relação ao argumentador — homossexual assumido. A autoridade de João Paulo II é então evocada para ser negada, no dizer do emissor, por sua intolerância (e não ser tolerante, para um representante religioso, nem sempre é aceitável).

3 — Argumento “ad hominem”: refere-se à opinião do interlocutor, quando este se refere explicitamente a seu grupo minoritário.

Os grupos de homossexuais existem exatamente para estimular gays e lésbicas a se assumir, porque quanto maiszumbis”, “santos dumonts”, quanto mais cantores e cantoras baianas se assumirem, menos jovens irão parar nos consultórios psiquiátricos ou se matar, com o ego dessintonizado do desejo mais profundo (...).( p.8)

O interlocutor afirma claramente o motivo da existência de seu grupo e sua opinião, conseqüentemente.

4 Argumento “ad humanitatem”: supõe ser o estabelecido por toda a comunidade.

Veja — Mas o bichinho de longos chifres não costuma ser evocado para fazer elogios a ninguém.

Luiz Mott — É a primeira coisa que ocorre à boca de um brasileiro quando quer insultar alguém que lhe criou algum problema. O veado é sempre o vilão da história (...). (p.8)

De acordo com o informante, todos os brasileiros, ao insultarem alguém, recorrem ao “bichinho de longos chifres”, que “é sempre o vilão da história”.

5 Argumentopor conseqüência”: deles obtêm-se conseqüências principalmente na esfera moral.

(...) Homossexuais enrustidos que ocupam destaque na mídia poderiam ter um papel importantíssimo para diminuir a discriminação e acabar com a violência que nos últimos quinze anos, matou no Brasil mais de 1.500 gays, lésbicas e travestis, vítimas de crimes homofóbicos, todos catalogados em dossiê pelo Grupo Gay da Bahia. ( p.8)

Com esse argumento, o informante afirma que as personalidades da mídia não assumidas como homossexuais deveriam se expor para, conseqüentemente, mudar a mentalidade das pessoas, evitando, assim, a discriminação e a violência contra os mesmos.

6 Argumento “a pari”: utiliza uma premissa e aplica-a a outra, como reforço, por semelhança.

É o caso também das acusações que o próprio Quércia fez a Ciro Gomes, chamando-o de Odalisca do Agreste”, porque ele usava brinco (...) ( p..8)

Nesse caso, a premissa é a ofensa por intermédio de termos que tenham relação com o homossexualismo. O “acusado” de homossexual seria o ex-governador Quércia, que, por sua vez, também se utilizou de tal recurso para ofender umcolegapolítico. Sendo assim, o informante se apropriou desses argumentos para reforçar a semelhança com a sua opinião.

7 — Argumento “a contrario”: utiliza uma premissa e aplica-a a outra, mas na intenção de refutá-la, desqualificando-a.

Veja — Essas acusações beneficiam os gays brasileiros?

Luiz Mott — De maneira alguma. Acho deplorável usar a suposta preferência homossexual de alguma personalidade como estratégia política, como arma para criar escândalos ou diminuir a virtude de alguém. Trata-se de um jogo baixo”. (p.8)

O argumento, nesse fragmento, é completamente contra ao proposto na premissa, isto é, “não se deve ofender alguém com base em seus gostos sexuais”.

8 — Argumento de “dilema”: consiste em apresentar uma proposição disjuntiva em que os dois membros disjuntores são igualmente afirmados.

(...) Essa disputa por Zumbi revela o despreparo de alguns setores do movimento negro para uma convivência mais orgânica com as minorias sexuais. E até uma contradição porque o candomblé, como todas as religiões afro-brasileiras, é liderado por pais, mães e filhos-de-santo homossexuais (...) (p. 7)

Nesse exemplo, o informante questiona o posicionamento dos negros contra o fato de Zumbi ser mesmo um homossexual, que, em sua opinião, os “pais, mães e filhos-de-santo” são, normalmente, homossexuais e, nem por isso, perdem seu prestígio no meio religioso.

9 — Argumento “a fortiori”: resulta de comparações

Como tanto homossexuais, pensei em suicídio”. ( p.l O)

10 — Argumentopelo ridículo: ridiculariza-se a opinião do opositor, para retirar-lhe a credibilidade.

A verdade é que Caetano é um rapaz bastante inteligente, mas foi mais liberalalguns anos. Hoje, ele é contraditório. Chamou de “canalha” o correspondente do New York Times com um autoritarismo que contradiz toda a sua meiguice. Os anos 70 e 80 documentaram um Caetano Veloso extremamente simpático à bissexualidade e ao homossexualismo (...). (2/I, p. lO)

O argumento desse fragmento ataca a mudança de opinião, ou mesmo a opção sexual, de uma personalidade brasileira que, hoje, não mais compactua com o pensamento do informante. Desse modo, o mesmo tenta expor o artista ao ridículo: seu autoritarismo contradiz sua meiguice.

11 — Argumentopelo superfefatório”: despreza o argumento/ posicionamento de alguém por considerar suas conseqüências irrelevantes, desnecessárias, supérfluas.

(...) O cantor Emilio Santiago também se declarou gay, mas não sei se ainda hoje todos eles (...) mantêm a mesma posição. Em suas declarações, Ney Matogrosso reflete muito bem a posição de vários artistas famosos apontados pela mídia como amantes do mesmo sexo, mas que preferem dizer que não aceitam rótulos, que não querem fazer da homossexualidade uma bandeira. Em última análise, preferem viver debaixo do pano. ( p. 8)

Percebemos que, embora o informante enumere e demonstre as declarações dos outros, não as considera importantes junto à sociedadeinclusive porque a ação social por eles desempenhada, junto à causa da legitimação homossexual, deixa a desejar, pois “...preferem viver debaixo do pano”.

 

CONCLUSÃO

Qualquer profissional que labute na área do ensino sabe da dificuldade do professor de língua portuguesa no que tange ao assuntoensinar REDAÇÃO”. Ainda mais quando possui, como público, alunos que não se interessam em escreverou, melhor dizendo, não têm sequer preocupação em possuir uma visão mais crítica, mais analítica do que ocorre a sua volta, principalmente a respeito de questões sociais que, teoricamente, não lhe diriam respeito, pois longe se encontram, muitas vezes, da sua área de atuação..

É verdade, também, que, fora o esforço individual do mestre, os manuais didáticos se esmeram para, em cada capítulo ou seção, apresentar temas sob variados ângulos. Para um assunto determinado (para o qual se pedirá posteriormente uma dissertação completa) adicionam-se poesias, canções, uma narrativa, um depoimento, uma carta. Ou seja, embasa-se o assunto com gêneros textuais diversos, sempre na tentativa de “criar um leitor mais proficiente e crítico”.

Entretanto, mesmo que se multipliquem os temas, ao final, o que se pede é a mesma serviço: a escritura de um ensaio curto, com três ou quatro parágrafos, de preferência com coesão e coerência.

Difícil se tornam, então, as aulas de Redação, com o professor sempre correndo o risco de levar para o lar um sem-número de textos, absolutamente repetitivos entre si, que não elevam a auto-estima de ninguém. Professor e aluno terminam cada etapa, na maioria das vezes, prejudicados.

O que pensamos, então, é que, às vezes, o profissional responsável pela disciplina pode DIVERSIFICAR seu trabalho, mesmo à custa de um saber que talvez não lhe tenha sido alinhavado na Graduação, e que lhe custe algum estudo e certa coleta de material.

Portanto, uma sugestãosomente uma sugestãopara que a escola caminhe diferentemente do que vem ocorrendo, seria o ensino e a real aplicação de planos de trabalho como os anteriormente expostos. De fato, representariam, a nosso ver, uma mudança no modus operandi cotidiano dos mestres de língua materna.

Ora, a diferença estaria na “novidadeem princípio. Mas seu núcleo se centraria na QUALIDADE da opinião do aluno, que, para se produzir textualmente, utilizando patamares cognitivos como compreensão, análise, resumo e síntese, faz-se necessário, mais do que nunca, que os filtros exploratórios do educando sejam provocados, aguçados, desenvolvidos.

Em síntese, somar informações sobre um tema é bom e necessário, sempre. No entanto, modificar, algumas vezes, o ritmo do serviço, inferindo-lhe novas categorias, virá a acrescentar, a somar, a contribuir. Ao final, os dois pólos do processo educacionalprofessor e aluno – saem ganhando.

Esperamos, então, que as propostas aqui apresentadas possam vir a auxiliar o professor, mesmo que humildemente, na sua árdua tarefa diária. seria um bom começo.

 

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. Rhétorique. Livre I. Trad. De M. Dufour. Paris: Les Belles Letres, 1967.

CHARAUDEAU, Patrick. Grammaire du sens et de l`expression. Paris: Hachette, 1992.

––––––. Para uma nova análise do discurso. In: CARNEIRO, Agostinho Dias. O Discurso da Mídia. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1996.

CITTELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 9ª ed. São Paulo: Ática, 1995.

DIAS, Clementina da Silva. Redações de Vestibular. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. UFRJ, 1998. 302 p.

GAVAZZI, Sigrid. Fechamentos em entrevistas. Niterói: EDUFF, 1998.

PERELMAN, Chaim & OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado de argumentação: a Nova Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996.


 

[1] Pela exigüidade do espaço, não transcreveremos a resposta do entrevistado na íntegra. realçaremos os elementos constitutivos da edificação argumentativo-dissertativa.

[2] A página referenciada corresponde à que veiculou a entrevista no periódico, citado na Bibliografia.

[3] Observe-se que, neste exemplo, a proposta apresenta-se na pergunta do documentado: a escolha de um homossexual do século XVII paraentregar”.

[4] E claro que não desconhecemos que, nesse momento, consideramos um argumento como o principal em sua cadeia argumentativa. Também estamos realizando — como leitores e especialistas — um juízo de valor, calcado em nossa própria visão de mundo, o que não afasta a subjetividade, absolutamente inevitável, nestes casos.

[5] A numeração do texto, na proposta 3, segue a da obra de PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA (1996)

 

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