Inês de Castro na epopeia camoniana

Maria Paula Lamas

 

N’Os Lusíadas, Luís de Camões apresenta o trágico romance de D. Pedro e D. Inês de Castro, inserido no relato feito por Vasco da Gama ao rei de Melinde. O poeta segue parcialmente a História de Portugal, quando refere a paixão do príncipe herdeiro pela aia da sua mulher. D. Pedro, depois de enviuvar de D. Constança, vai recusar-se a casar de novo, o que preocupa o povo português, pois havia um legítimo sucessor, D. Fernando.[1] Os conselheiros do rei D. Afonso IV, Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco, vão pressioná-lo, no sentido de adoptar uma atitude radical, com vista à execução de Inês. Temia-se pela perca da independência, pois os Castros pertenciam a uma poderosa família galega que tudo faria para ver no trono um seu familiar.[2] Ora D. Inês tinha filhos de D. Pedro, o que poderia ser prejudicial para D. Fernando, e, inclusivamente, seria um risco para a própria vida. Face aos argumentos utilizados pelos conselheiros, que exprimiam junto do rei a vontade popular, D. Afonso IV autorizou a degolação de D. Inês de Castro, em 7 de Janeiro de 1355, conforme o testemunho documental Chronicon Conimbrigense.

Rui de Pina e Cristóvão Acenheiro[3] narram, nas suas crónicas, que D. Afonso IV e alguns dos seus homens se dirigiram ao paço da rainha D. Isabel, situado ao lado do Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, onde D. Pedro instalara D. Inês. Esta dama, tentando comover o rei, alegava a orfandade dos filhos, netos de D. Afonso IV, que ainda eram muito novos e ficariam desamparados. Considerando inadmissível que o próprio rei se prestasse a um diálogo deste teor com D. Inês, alguns historiadores põem em causa a veracidade deste aspecto, defendendo que aqueles relatos se encontram imbuídos de ornamentos lendários.[4]

Apesar das súplicas de D. Inês, as pressões dos conselheiros foram mais fortes, sobrepondo-se as razões de Estado ao direito à própria vida. Esta morte vai originar uma discórdia entre o príncipe e o rei, a quem responsabiliza pela execução da amada. Durante muito tempo, as relações entre ambos vão permanecer em conflito, até à celebração do Instrumento do pacto de amnistia e concórdia, (...) entre D. Afonso IV e seu filho o infante D. Pedro, após o desvairo, que entre os dois houve, por causa da morte de D. Inês, que se realizou em Agosto de 1355.[5] Depois da morte de D. Afonso IV, D. Pedro vai subir ao trono e vingar Inês, apesar de anteriormente ter jurado perdoar aos conselheiros de seu pai. Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, que se encontravam resguardados no reino vizinho, foram devolvidos a Portugal pelo rei de Castela, que fizera um pacto neste sentido com o rei português. D. Pedro vai assistir ao massacre destes dois responsáveis pela execução de D. Inês, sujeitando-os a uma cruel morte em que lhes foi arrancado o coração. Diferente destino teve Diogo Lopes Pacheco que escapou à terrível vingança, por não se encontrar em casa nessa ocasião e ter fugido, logo que o avisaram do sucedido.

D. Pedro pretendeu ainda demonstrar que casara com D. Inês clandestinamente, por temer o pai.[6] Em Julho de 1360, prestou juramento e apresentou como testemunhas do acontecimento D. Gil, Bispo da Guarda, e Estêvão Lobato, um empregado do rei. No entanto, esta tardia declaração levantou muitas dúvidas relativamente à sua veracidade. Sérgio da Silva Pinto fez um estudo sobre o assunto, e, baseado no cânon 1014 do Direito Canónico vigente, concluiu que «(...) deve considerar-se válido o casamento de D. Inês porque não há a certeza moral da sua nulidade (bem ao contrário); é a doutrina do favor juris que vem do tempo de Inocêncio III, coevo do 4º avô de D. Pedro, D. Sancho II.» (Pinto: 1963, 14).

A partir dos relatos dos cronistas, Luís de Camões vai apresentar o romance entre Inês e Pedro, mas mesclando-o com aspectos românticos próprios da sua imaginação poética. Inicialmente apresenta a linda donzela inserida num cenário idílico, onde há uma tranquilidade e beleza concordantes com o amor que transparece no casal, como se verifica pelos seguintes versos:

Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruito,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a Fortuna não deixa durar muito,

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus fermosos olhos nunca enxuito,

Aos montes insinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas. (Canto III, est. 120)

Apesar da paz aparente, o poeta introduz, de imediato, vocábulos que denotam que algo tenebroso se avizinha, preparando o leitor para o trágico desenlace. Tal verifica-se, por exemplo, quando Luís de Camões descreve o romance correspondido entre os dois apaixonados, utilizando subtilmente expressões reveladoras de mau presságio, como é o caso do verso De noite, em sonhos que mentiam (Canto III, est. 121, v. 5), em que o verbo mentir é esclarecedor relativamente à infelicidade que lhe está subjacente e que está prestes a submergir.

Logo no início do episódio, para realçar a fragilidade e a impotência de Inês perante os carrascos que a iriam vitimar, o poeta referencia a Batalha do Salado, em que D. Afonso IV participou aliado a Afonso XI de Castela, derrotando, em conjunto, o inimigo comum da Península Ibérica. Luís de Camões pretende caracterizar o rei português que, por um lado, toma uma atitude corajosa e solidária no combate ao mouro, por outro lado, autoriza a morte de uma dama indefesa, comportamentos antagónicos que, em certa medida, aparentam não se coadunar com a mesma personalidade. No entanto, há uma certa coerência nestas duas tomadas de posição, pois ambas denotam a prioridade relativamente à independência lusitana que, a todo o custo, era forçoso preservar. Os adjectivos utilizados pelo poeta para caracterizar as duas personagens e as situações em que se encontram envolvidas também servem para realçar a indignidade do acto cometido, opondo a intranquilidade e o sofrimento proporcionados pela infeliz história de Inês à paz e à glória alcançadas por D. Afonso IV, na Batalha do Salado.

Partilhando os mesmos momentos de Inês, a natureza vai surgir personificada, alegrando-se nos momentos felizes e entristecendo-se com toda a amargura resultante do trágico romance. Igualmente humanizado, o Amor é responsabilizado pelo cruel sacrifício a que foi submetida uma donzela bela e jovem, abrupta e precocemente arrancada à vida. Confrontada com a hipótese de ser executada, D. Inês vai dirigir emotivamente um apelo ao rei, colocando-lhe alternativas à sua morte. Para acabar com este envolvimento amoroso com D. Pedro, D. Afonso IV poderia desterrá-la para a Líbia ou para a Sibéria, locais tão longínquos que impossibilitariam definitivamente o relacionamento em causa. Aí D. Inês poderia educar os filhos, os quais seriam um testemunho vivo e permanente do grande amor que a uniria para sempre ao príncipe, independentemente do lugar onde se encontrasse e da distância que tal sítio implicasse. Ouçamos as palavras de Inês, recriadas pelo poeta:

(...). / Põe-me onde se use toda a feridade,

Entre leões e tigres, e verei

Se neles achar posso a piedade

Que entre peitos humanos não achei.

Ali, co amor intrínseco e vontade

Naquele por quem mouro, criarei

Estas relíquias suas que aqui viste,

Que refrigério sejam da mãe triste. (Canto III, est. 129)

Estas súplicas evidenciam a atrocidade cometida contra Inês. Luís de Camões recorre a referências clássicas, para melhor ilustrar o que sente relativamente a esta morte. Com a intenção de demover D. Afonso IV, D. Inês refere os casos de Semíramis e dos irmãos Rómulo e Remo. A rainha da Assíria fora abandonada pela própria mãe com o intuito de a deixar morrer, pois envergonhava-se dela, por ser o fruto da ligação que tivera com um rapaz assírio. (Cf. Barreto: 1982, 703). No entanto, ao contrário do que estava projectado, algumas pombas alimentaram-na, salvando-lhe a vida. Idêntica sorte tiveram Rómulo e Remo, que eram filhos de Sylvia Rhea, que quebrara o voto de castidade a que estava obedecida, e, por esse motivo, fora aprisionada e os seus filhos lançados ao rio Tibre, para que sucumbissem. Estes casos opõem a humanidade dos animais, inclusivamente os selvagens, à desumanidade patente em muitos homens, como D. Afonso, a quem Inês tenta sensibilizar:[7]

Se já nas brutas feras, cuja mente

Natura fez cruel de nascimento,

E nas aves agrestes, que somente

Nas rapinas aéreas tem o intento,

Com pequenas crianças viu a gente

Terem tão piadoso sentimento

Como co a mãe de Nino já mostraram,

E cos irmãos que Roma edificaram: / (...). (Canto III, est. 126)

De nada resultaram as súplicas de Inês, pois acabou por ser cruelmente assassinada, por motivos de ordem política. Luís de Camões considera que foi uma atrocidade idêntica ao desenlace de Policena.[8] De acordo com as Metamorfoses de Ovídio, esta personagem teria sido sacrificada por Pirro, sob o túmulo do pai, Aquiles, por imposição deste que exigia a morte da que fora sua mulher. Inês e Policena assemelham-se, por terem sido injustamente mortas, devido a interesses alheios às próprias. Igualmente Luís de Camões apresenta uma comparação entre o maquiavélico desfecho de Inês e o hediondo caso de Tiestes e Atreu. Este último fora ludibriado pela mulher e pelo irmão que mantiveram um relacionamento amoroso. Atreu, fingindo desculpar a Tiestes, convidou-o para um banquete, dando-lhe a comer a carne dos filhos, fruto da ligação ilícita, como vingança da traição cometida. Nesse dia, o sol, como repulsa pelo ocorrido, recusou-se a iluminar a terra com os seus raios. (Cf. Séneca: 1996, 9)

O facto de Inês ter sido executada perto da Quinta do Pombal, actualmente Quinta das Lágrimas, na qual havia uma fonte designada por Fonte dos Amores, originou o aparecimento de variadas lendas a seu respeito e relacionadas com este local. Entre elas, conta-se que o sangue derramado na ocasião da sua morte provocou umas manchas avermelhadas que, ainda hoje, são visíveis no tanque que liga a fonte ao lago. Igualmente surgiu uma outra lenda que referia que os canais de água existentes na Quinta do Pombal serviam de meio de correspondência entre os apaixonados, através de bilhetes de amor que deslizavam pelas águas.[9]

Em 1360, realizou-se a trasladação do corpo de Inês, da Igreja do Mosteiro de Santa Clara para o Mosteiro de Alcobaça, onde D. Pedro mandara construir dois magníficos túmulos, destinados a ambos, para que pudessem permanecer para sempre juntos, contrariamente ao que lhes sucedera em vida. A cerimónia, durante a qual foi proferido o Sermão das Exéquias de D. Inês de Castro pelo Arcebispo de Braga, D. João de Cardaillac, foi muito pomposa e revestiu-se de particular interesse, servindo principalmente para glorificar Inês como verdadeira rainha. É precisamente por este facto que Luís de Camões se refere a D. Inês como aquela que despois de morta foi rainha, não estando estas afirmações relacionadas com a lenda que terá aparecido posteriormente à época do poeta[10] sobre a coroação do cadáver, seguida do beija-mão à rainha morta.[11]

Os túmulos do Mosteiro de Alcobaça narram, em pedra esculpida, toda a história de Inês e Pedro, desde a chegada de D. Constança à corte portuguesa, passando pelas contrariedades provocadas pelo romance, até ao desenlace trágico e à consequente vingança de D. Pedro. Como conclusão, surge a apresentação do Juízo Final, em que os dois apaixonados se encontram juntos, no Céu, para toda a Eternidade, observando de uma janela celestial o castigo a que são submetidos os responsáveis pela execução de Inês, os conselheiros do rei, que são lançados nas labaredas do Inferno. O rei D. Afonso IV também ascende ao Céu, não sendo, assim, responsabilizado por esta morte.[12]

No final do episódio, a natureza personificada vai demonstrar todo o seu pesar, através do choro manifestado nas águas permanentemente a correr nas fontes cristalinas. Vários artifícios estilísticos,[13]como as repetições e os jogos de palavras, o emprego dos gerúndios prolongando a acção, as aliterações utilizadas e a predominância dos sons nasais, entre outros, ajudam a criar o efeito de eco, concordante com o intuito de Luís de Camões em carpir continuamente a sorte da linda Inês.

 


 

BIBLIOGRAFIA

ACENHEIRO, Cristovam Rodrigues, Coronyqua dos Reis de Portugal, tomo V, Lisboa: Academia Real das Ciências, 1939.

BARRETO, João Franco, Micrologia Camoniana, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982.

CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas, apres. de Emanuel Paulo Ramos, Porto: Porto Editora, 2000.

PINA, Ruy de, Chronica de Elrey Dom Afonso o Quarto, Lisboa: Edições Bíblion, 1936.

PINTO, Sérgio da Silva, «O casamento de D. Inês de Castro à face da História do Direito», in Scientia Juridica, Porto: Livraria Cruz-Braga, 1963.

ROIG, Adrien, «El episodio de Inés de Castro en Los Lusiadas de Luís de Camões», in Homenaje a Camoens, Granada: Universidad de Granada, 1980.

SARAIVA, José Hermano, História Concisa de Portugal, Mem Martins: Publicações Europa-América, 13ª ed., 1989.

SCHEREMETA, Antônia Ariete, et al., «Comparação do drama de Inês de Castro em Camões e em Garrett», in Publicação semestral para a divulgação da Cultura Portuguesa, vol. 1, nº 6, Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1972.

SÉNECA, Tiestes, trad. de J. A. Segurado e Campos, Lisboa: Editorial Verbo, 1996.

SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. I, Lisboa: Editorial Verbo, 5ª ed., 1995.

SOUTO, José Correia do, Dicionário de História de Portugal, vol. V, Lisboa: Zairol, 1985.

VASCONCELOS, António de, Inês de Castro, Barcelos: Companhia Editora do Minho, 2ª ed., 1933.


 


 

[1] «Esta prueba de la constancia de D. Pedro, conforme con las afirmaciones de las Crónicas, es una de las principales razones de la ejecución de Inés: Juzgábase necesario asegurar la sucesión al trono de Portugal, en caso de la desaparición del heredero legítimo D. Fernando, hijo de D. Pedro y de la fallecida Reina D. Constanza. Así, para Inés, lo que podía ser positivo (amor fiel) se vuelve negativo (motivo de la condenación).» (ROIG, 1980:. 353-354).

[2] «(...) com o falecimento de D. Constança (1345), D. Pedro se decidiu a viver maritalmente com D. Inês, de cuja ligação nasceram quatro filhos. O que veio pôr os conselheiros mais íntimos do Monarca, (...) em alvoroço, dado o perigo que representava para a paz interna do país a existência de tais bastardos. E comulativamente com estes, a influência que os irmãos de D. Inês de Castro, Álvaro Pires de Castro e Fernando de Castro passaram a exercer sobre D. Pedro, dado o poderio do grande fidalgo galego, Pedro Gonçalves de Castro, pai de D. Inês, pronto a actuar, certamente, em proveito dos netos, no momento em que estivesse em causa a sua sucessão ao Trono de Portugal.» (Souto, 1985: 155).

[3] A respeito da morte de Inês, Acenheiro relata o seguinte: «(...) detremynou EllRei Dom Affõso de a matar e se foi o dito Rey á Cydade de Coimbra de mão armada (...): e em Samta Crara, omde a dita Dona Ynês de Crasto estava, salltou demtro com estes comcelheiros, e a dita Dona Inês que esto cemtio bem soube ser fym de seus dias; e emtrãdo EllRey no Moesteiro, ella com muita piedade com dous netos meninos, trasfegurada da morte, se pôs em geolhos (a) amte, e dixe: Senhor, porque me querês matar sem causa? voso filho he Primcipe a quem eu não podia, nem poso registir; havê piedade de mym que sam molher; não me matês sem cauza: e senão avês pyedade de mym, havê piedade destes vosos netos, samge voso.» (Acenheiro, 1939: 108-109).

[4] «Não é de crer que D. Afonso IV estivesse presente e que Inês implorasse o seu perdão, invocando os três filhos que eram vergônteas do trono régio. Custa a aceitar que o monarca se prestasse a um diálogo patético com a mãe dos seus netos, pelo que, fazendo como Pilatos, deixou a bárbara decisão aos conselheiros que, a 7 de Janeiro de 1355, degolaram Inês de Castro.» (Serrão, 1995: 276).

[5] Pode ler-se no documento: «Perdoaua e perdoou pera senpre a todollos que cõ ElRey chegarom e se acercarom en sa conpanha ao tenpo da morte da dicta dona Enes e aos outros que el auya e Razoaua por culpados.» (Cf. Vasconcelos, 1933: 22).

[6] «A intenção de legitimar os filhos de Inês de Castro deve ter pesado no acto do monarca, ainda que pudesse ensombrar os direitos do príncipe D. Fernando, herdeiro da coroa. Todavia, o grande fundamento do seu gesto deve entender-se como querendo honrar a memória de D. Inês, já que, pouco tempo depois, fez transportar os seus restos de Coimbra para Alcobaça (...). / Ocupando o lugar eleito junto do rei, ficava provada a sua realeza, senão de direito, pelo menos de facto. Para a História era quanto bastava para a sua reabilitação. / A verdade é que o argumento do matrimónio legítimo veio a ser invocado quando das Cortes de Coimbra, para impor a candidatura ao trono dos filhos de D. Pedro e D. Inês de Castro.» (Serrão, 1996:. 281-282).

[7] «Na estrofe 126, ressalta através de Nino e Rômulo e Remo a piedade que as feras, já na antiguidade, tiveram para com inocentes e puros de coração, mostrando que os homens empedernidos e enfurecidos (ainda que se considerem animais «racionais») agem de modo cruel e bárbaro, incompatível com a «natureza humana» (...).» (Scheremeta et al., 1972:. 32).

[8] «(...) Camões compara la ejecución de Inés con la de la linda moça Policena, hija de Príamo y Hécuba, mujer de Aquiles. El alma de su marido la reclamó; Pirro, el hijo de Aquiles, la degolló sobre el sepulcro de su padre para enviársela al otro mundo. Inés y Policena tienen en común la hermosura – ambas están calificadas con el adjetivo linda – y la juventud expresada por moça; como Inés Policena posee hermosos ojos: / os olhos com que o ar serena. / La comparación de Policena con la oveja: / (Bem como paciente e mansa ovelha) / conviene perfectamente a Inés cuyo nombre facilita la aproximación. (...) . / Ambas aceptan su muerte, como mártires del amor.» (Roig, 1980: 357).

[9] «Conta-se que, no tempo em que Inês esteve no convento, o infante lhe enviava os seus bilhetes de amores pelo cano da água que, vindo de fora, desaguava no tanque do claustro, onde ela os ia buscar. / Tudo isto é, não só destituído de fundamento, mas até contrário à verdade histórica: factos legendários e inverossimeis, produto de pura fantasia. / Refere outra lenda que D. Inês, sendo dama da rainha D. Beatriz, vivia no paço com esta; e não podendo o príncipe conversar com ela freqüentes vezes, como desejava, lhe remetia bilhetinhos pelo aqueduto, que ia vasar a água no jardim do paço. / É não menos contrária à verdade histórica do que a precedente. D. Inês fôra dama da infanta D. Constança, e não da rainha D. Beatriz; não vivia agora na côrte, nem tinha nela entrada; não consta que D. Constança jàmais houvesse residido no paço de Santa Clara; quando ali habitou D. Inês, vivia com ela D. Pedro, fazendo-se maridança, não precisando pois de lhe enviar escondidamente cartas por vias misteriosas.» (Vasconcelos, 1933: 109).

[10] «Camões, no episódio inesiano, fala-nos / ... da misera, & mezquinha, / Que despois de ser morta foi Raynha; / e mais adeante memora / Aquelle que despois a fez Rainha: / ora nada disto envolve a idéa de tão lúgubre e tétrica cerimónia. / Tudo portanto nos mostra que tal lenda é de origem post-camoneana.» (Ibidem, p. 129).

[11] «Estes factos - o desvario amoroso do infante, o conflito com o rei, a imolação de Inês à razão política, a solidariedade de uma grande parte da nobreza, a guerra civil, a ferocidade da vingança, a pompa da trasladação, a própria grandeza e valor artístico dos túmulos – fizeram nascer uma lenda de origem provavelmente erudita, mas que não tardou a passar às camadas populares. Nessa lenda incluíam-se pormenores sem qualquer fundamento, como o da coroação e do beija-mão do cadáver.» (Saraiva, 1989: 93.

[12] No artigo «Inês de Castro na epopéia camoniana», publicado nos Primeiros Trabalhos do IX CNLF, vol. IX, nº 2, tomo1 (Filologia, Textos e Literatura), p. 93, onde se lê: «O rei D. Afonso IV também ascende ao Céu, sendo, assim, responsabilizado por esta morte.» deve ler-se: O rei D. Afonso IV também ascende ao Céu, não sendo, assim, responsabilizado por esta morte.

[13] «El poeta expresa admirablemente el llanto prolongado por el encabalgamiento, el adjectivo longo por su propio sentido, el gerundio chorando y el volumen del verbo final memoraram. La frecuencia de las sílabas nasales (...) y la aliteración de la m y de la r, la vuelta de la o final (...) dan al verso un valor onomatopéyico dell lloro y del murmullo del agua. / Asistimos a un proceso de doble metamorfosis: 1) las lágrimas se vuelven fuente; 2) la fuente con el nombre de Fonte dos Amores es recuerdo, memoria eterna do caso de Inés. (...) / El presente del imperativo formula un convite todavía valedero, como lo sigue siendo el contenido todo de los dos versos. La aliteración de la f (3 veces) y de la r (3 veces) evoca otra vez el murmullo constante y eterno del agua pero en tono más vivo y alegre. La afirmación, en frase exclamativa, confirma la transfiguración de la heroína, su elevación hasta el mito con la palabra final Amores: el mito del Amor más fuerte que la muerte.» (Roig, 1980: 360-361).

 

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