A IMPORTÂNCIA DO TEXTO DISSERTATIVO
NO ENSINO MÉDIO E NO ENSINO SUPERIOR

Luci Mary (UERJ)

Sabe-se que o texto dissertativo é o preferido no ensino médio e no ensino de 3º grau. Isso ocorre, pois o vestibular e os concursos que solicitam redação sempre pedem um texto dissertativo. Por isso, os colégios e as faculdades privilegiam esse tipo de texto. É fundamental que os professores comecem a trabalhar desde a 8ª série o texto dissertativo, com o intuito de aprimorar a elaboração desse texto, fazendo com que o aluno chegue à universidade preparado para escrever qualquer modelo de texto acadêmico.

Também não se deve esquecer que dissertar faz parte da realidade em que vivemos. Discutir temas sociais, políticos e até econômicos é essencial para tornar qualquer estudante um verdadeiro cidadão. Ao procurarmos definições sobre texto dissertativo encontramos várias abordagens que devem ser ensinadas com muita atenção. Normalmente, o aluno confunde dissertar e argumentar. No Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio do Século XXI, afirma que: “Dissertação é uma exposição desenvolvida, escrita ou oral, de matéria doutrinária, científica ou artística". No Dicionário Antônio Houaiss, dissertar é: “Expor algum assunto de modo sistemático, abrangente e profundo, oralmente ou por escrito”.Podemos observar que os dois dicionários apresentam o mesmo enfoque com palavras diferentes.

Um dos aspectos mais importantes no momento de ensinar o aluno a fazer um texto dissertativo é saber expor com clareza a temática exigida. Para isso, é necessário não somente dominar a língua, mas principalmente dominar o assunto. Muitas vezes o texto segue todos os padrões gramaticais, porém há um total deslize no tema. Saber ler é primordial para o entendimento da abordagem temática. Às vezes, o estudante tangencia o tema causando contradições pela falta de clareza.

Além disso, não há como escrever um texto sem uma visão de mundo, levando em consideração as questões sociais do assunto solicitado. Diante da proposta, o aluno poderá apresentar argumentos em defesa de um ponto de vista, selecionando e organizando fatos que o ajudem a ter uma postura crítica de várias áreas de conhecimento.

É preciso demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para aplicar em todo texto. A maioria dos livros de redação cita que a clareza, a concisão, a harmonia, a coesão e a coerência leva o professor a compreender o que está lendo. Só que não existem fórmulas para conseguir todos esses critérios.Todos sabemos que a redação é um somatório de normas, porém de nada adiantará todas as normas se houver fuga parcial ou total do tema.

A importância de um texto dissertativo é que por meio desse tipo de texto, verificamos que o aluno além de compreender a proposta, soube selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos e opiniões para desenvolver a temática com exatidão.

Cabe ainda ressaltar, a necessidade de demonstrar domínio quanto às áreas literárias e até filosóficas. Ao ler um texto em que o aluno apresenta um poema ou parte de uma poesia, confirma-se a visão de mundo que o professor sempre exige, mas que nem sempre mostra ao estudante . Citar uma música ou um fato histórico, ou geográfico, também comprova essa visão. Hoje, algumas pessoas dizem que os alunos não gostam de ler. Nem sempre isso é verdade. O problema é apresentar ao aluno textos interessantes para que desperte nele situações críticas da atualidade. O poema O Bicho de Manuel Bandeira parece que foi escrito hoje, porque o lixo é uma realidade na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente, na Cidade Maravilhosa há 67 lixões. Afinal, o animal continua sendo o homem.

O BICHO

VI ONTEM um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Na dissertação podemos expor sem tentar convencer o leitor. Quando temos o objetivo de convencer passa a ser uma argumentação. Se o texto dissertativo tem como propósito principal explicar idéias, a argumentação procura formar a opinião do leitor ou do ouvinte. No texto dissertativo, apresentamos idéias para serem desenvolvidas. Já no texto argumentativo, apresentamos argumentos com provas completas. Logo, o fato é uma realidade desse tipo de texto.Para alguns alunos, o “bate-boca” é um tipo de argumentação. Isso não é verdade. Insulto, xingamento, ironia podem irritar, contudo não convence ninguém.

Um aspecto que deve ser levado a sério é o roteiro de um texto dissertativo. Alguns estudantes consideram desnecessário elaborar um roteiro. O fato é que, dispensando o roteiro, o aluno irá perder tempo ao reler o texto. Após a leitura e compreensão do tema, temos que traçar uma diretriz. O roteiro é como uma bússola que guia o aluno para o caminho mais coerente. Quando se faz um esquema, certamente não haverá fuga do tema. Escolhendo os argumentos, o estudante irá abordar as três partes do texto argumentativo. Portanto, apontaremos abaixo um tipo de esquema:

Tema: A importância da família.

Roteiro:

1- É importante para o lado pessoal;

2- É necessária na vida profissional;

3- É benéfica na união de toda família.

Elaborado o esquema, o aluno saberá qual a tese que irá defender. Pode até apresentar pontos favoráveis e desfavoráveis, desde que, não faça contradições comprovando uma total incoerência.

Alguns critérios devem ser observados no tipo de texto discutido. O professor deverá apreciar o conteúdo e a norma culta do texto apresentado. Alguns estudantes optam por um vocabulário rebuscado, pensando em iludir o avaliador ou tentam apresentar idéias criativas e originais . De nada adiantará um conteúdo elevado, se a norma gramatical for sofrível. Por outro lado, o conteúdo também será avaliado. Com isso, o aluno estará ciente que sua redação será avaliada por vários critérios.Há quem dê mais valor à forma que o conteúdo. Antes as redações precisavam ter um vocabulário mais prolixo. Hoje, a simplicidade é um dos critérios de qualquer concurso, porém não devem ser aceitos chavões, gírias e palavras vulgares.

Freqüentemente encontramos, nas redações dos alunos, extremismos e ataques pessoais. O aluno tem liberdade de apresentar suas idéias. No entanto, é preciso ter prudência. Como vimos anteriormente, um insulto não é uma forma de argumentar. A crítica deve ser baseada em fatos. Situações imaginárias não são aceitas em um texto do tipo de dissertativo. O que não passa despercebido é a repetição de palavras e a repetição de idéias. A repetição de palavras comprova que o estudante não domina o vocabulário. Já a repetição de idéias comprova a falta de leitura de jornais e revistas.

O leitor não deve ler várias vezes para entender o texto. Inimigos da compreensão são os períodos longos. Além de cansativos, tornam as idéias confusas. Um outro cuidado é o emprego de palavras. Há certa dificuldade, principalmente, diante dos parônimos. Os estudantes têm dúvidas ao usar o termo adequado ao texto. Um outro problema que ocorre nas redações tanto do ensino do 2º grau como no 3º grau é a concisão. São comuns longas explicações tornando o texto repetitivo e às vezes sem coerência.

Cabe ao professor valorizar a redação em sala de aula. A redação em hipótese alguma deve ser um castigo ou um simples dever de casa. No livro Ler e Escrever compromisso de todas as áreas, há um capítulo que discute as aulas de redação que ocorrem em muitas escolas e até universidades. No livro há o seguinte comentário:

O professor vai ensinar o aluno a escrever, isto é, a expressar a organização que é capaz de dar a tudo o que viu, ouviu, leu em livros, revistas, fitas, discos e teipes e experimentou em laboratórios de toda ordem. Cabe a ele agora, constituir-se no interlocutor do aluno, oferecendo-lhe uma determinada forma de organizar a informação dentro de um determinado campo de estudo, ou seja, seu conhecimento mais precioso não é mais de ordem factual, mas de ordem relacional.

Todo texto dissertativo necessita de recursos. A linguagem figurada enriquece o teor de um texto. Metáforas, personificações e até antíteses não são recursos somente de crônicas ou textos jornalísticos. Um texto dissertativo torna-se mais original quando as palavras podem ter um outro sentido.

No ensino universitário, trabalhar com dissertação além do resumo e da resenha, é uma maneira não só de aplicar o conhecimento do que foi aprendido no ensino médio, como também reforçar a escrita preparando o universitário, seja qual for sua área, para o mercado de trabalho. Na vida real, ninguém produz uma frase sem estímulo. Cabe ao professor reverter a crença de que nem todos têm capacidade para escrever. É preciso que o professor examine cada texto dos alunos valorizando as informações pertinentes e também incentivá-los diante das dificuldades. Portanto, escrever é produzir e não somente reproduzir. Ao ler o mundo, com certeza, o aluno escreverá sobre esse mundo que ele viu e que às vezes o atormenta diante de tantos problemas sociais e políticos.

Dissertar, discutir idéias, expor o pensamento, abordar temas atuais são tarefas incipientes na trajetória de qualquer estudante. Em qualquer tipologia textual, o aluno deve ficar atento à estrutura do texto. Na dissertação temos introdução, desenvolvimento e conclusão. Não existe uma dissertação sem a parte introdutória. Em alguns casos, o aluno faz uma introdução esquecendo completamente de abordar o tema. As idéias apresentadas devem ser relacionadas com a tese que irá ser discutida. Há vários exemplos de introdução. Uns preferem começar com uma citação, outros apresentam os argumentos que serão tratados no decorrer do texto. O que não se deve esquecer é que a parte introdutória precisa ser rápida e objetiva.

É importante comentar que o desenvolvimento é a parte principal da redação. É nele que o estudante irá discutir toda sua visão sobre o tema. Apresentará fatos, exemplos e discussões coerentes que despertem o leitor para uma viagem sobre o tema. Esse tipo de dissertação exige do aluno informação atualizada. O desenvolvimento é o corpo da redação. No corpo, o aluno defende suas idéias que nem sempre tem a intenção de persuadir. Por isso, alguns gramáticos em seus livros de redação dividem o texto dissertativo em dissertação expositiva ou dissertação argumentativa.

Finalmente, a conclusão que é o fecho do texto dissertativo, nos últimos concursos, tem sido cobrada de uma forma mais crítica. Para muitos apresentar perguntas pode ser o fecho ideal. Porém, só são interessantes quanto representam uma reflexão. Para isso, o aluno deve conhecer bem o tema e as questões sociais que o rodeiam. Muitos estudantes abusam do uso da interrogação. Nem sempre mencionam questionamentos. As perguntas são óbvias e não demonstram maturidade diante dos fatos. Na conclusão há uma síntese ou uma reafirmação do que foi dito. Em geral, os estudantes apresentam soluções utópicas. Isso comprova a falta de maturidade de algumas pessoas.

Antes de mais nada, é importante destacar que escrever continua sendo o grande problema dos estudantes de qualquer nível.

Só se escreve lendo e escrevendo de forma contínua. Quanto mais dedicação e perseverança, mais chance o estudante tem de melhorar o seu texto. Escrever é reescrever todos os dias. A importância do texto dissertativo não é somente se preparar para a vida profissional. A importância do texto dissertativo é se preparar todos os dias para qualquer discussão social, a fim de um simples aluno tornar-se um grande cidadão.

Por fim, podemos ratificar que a importância de uma dissertação está na essência de uma discussão. Por isso, cabe ao professor trabalhar em sala de aula, sempre que possível, textos de jornais e revistas. Somente lendo fatos atuais e discutindo os pontos críticos do texto é que teremos alunos interessados e com uma visão conceituada do mundo em que vivemos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDO, Gustavo. Redação Inquieta. Rio de Janeiro: Globo, 1985.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio século XXI. Rio De Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1995.

HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

BANDEIRA, Manuel. Manuel Bandeira Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958.

A IMPORTÂNCIA DO TEXTO DISSERTATIVO
NO ENSINO MÉDIO E NO ENSINO SUPERIOR

Luci Mary (UERJ)

Sabe-se que o texto dissertativo é o preferido no ensino médio e no ensino de 3º grau. Isso ocorre, pois o vestibular e os concursos que solicitam redação sempre pedem um texto dissertativo. Por isso, os colégios e as faculdades privilegiam esse tipo de texto. É fundamental que os professores comecem a trabalhar desde a 8ª série o texto dissertativo, com o intuito de aprimorar a elaboração desse texto, fazendo com que o aluno chegue à universidade preparado para escrever qualquer modelo de texto acadêmico.

Também não se deve esquecer que dissertar faz parte da realidade em que vivemos. Discutir temas sociais, políticos e até econômicos é essencial para tornar qualquer estudante um verdadeiro cidadão. Ao procurarmos definições sobre texto dissertativo encontramos várias abordagens que devem ser ensinadas com muita atenção. Normalmente, o aluno confunde dissertar e argumentar. No Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio do Século XXI, afirma que: “Dissertação é uma exposição desenvolvida, escrita ou oral, de matéria doutrinária, científica ou artística". No Dicionário Antônio Houaiss, dissertar é: “Expor algum assunto de modo sistemático, abrangente e profundo, oralmente ou por escrito”.Podemos observar que os dois dicionários apresentam o mesmo enfoque com palavras diferentes.

Um dos aspectos mais importantes no momento de ensinar o aluno a fazer um texto dissertativo é saber expor com clareza a temática exigida. Para isso, é necessário não somente dominar a língua, mas principalmente dominar o assunto. Muitas vezes o texto segue todos os padrões gramaticais, porém há um total deslize no tema. Saber ler é primordial para o entendimento da abordagem temática. Às vezes, o estudante tangencia o tema causando contradições pela falta de clareza.

Além disso, não há como escrever um texto sem uma visão de mundo, levando em consideração as questões sociais do assunto solicitado. Diante da proposta, o aluno poderá apresentar argumentos em defesa de um ponto de vista, selecionando e organizando fatos que o ajudem a ter uma postura crítica de várias áreas de conhecimento.

É preciso demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para aplicar em todo texto. A maioria dos livros de redação cita que a clareza, a concisão, a harmonia, a coesão e a coerência leva o professor a compreender o que está lendo. Só que não existem fórmulas para conseguir todos esses critérios.Todos sabemos que a redação é um somatório de normas, porém de nada adiantará todas as normas se houver fuga parcial ou total do tema.

A importância de um texto dissertativo é que por meio desse tipo de texto, verificamos que o aluno além de compreender a proposta, soube selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos e opiniões para desenvolver a temática com exatidão.

Cabe ainda ressaltar, a necessidade de demonstrar domínio quanto às áreas literárias e até filosóficas. Ao ler um texto em que o aluno apresenta um poema ou parte de uma poesia, confirma-se a visão de mundo que o professor sempre exige, mas que nem sempre mostra ao estudante . Citar uma música ou um fato histórico, ou geográfico, também comprova essa visão. Hoje, algumas pessoas dizem que os alunos não gostam de ler. Nem sempre isso é verdade. O problema é apresentar ao aluno textos interessantes para que desperte nele situações críticas da atualidade. O poema O Bicho de Manuel Bandeira parece que foi escrito hoje, porque o lixo é uma realidade na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente, na Cidade Maravilhosa há 67 lixões. Afinal, o animal continua sendo o homem.

O BICHO

VI ONTEM um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Na dissertação podemos expor sem tentar convencer o leitor. Quando temos o objetivo de convencer passa a ser uma argumentação. Se o texto dissertativo tem como propósito principal explicar idéias, a argumentação procura formar a opinião do leitor ou do ouvinte. No texto dissertativo, apresentamos idéias para serem desenvolvidas. Já no texto argumentativo, apresentamos argumentos com provas completas. Logo, o fato é uma realidade desse tipo de texto.Para alguns alunos, o “bate-boca” é um tipo de argumentação. Isso não é verdade. Insulto, xingamento, ironia podem irritar, contudo não convence ninguém.

Um aspecto que deve ser levado a sério é o roteiro de um texto dissertativo. Alguns estudantes consideram desnecessário elaborar um roteiro. O fato é que, dispensando o roteiro, o aluno irá perder tempo ao reler o texto. Após a leitura e compreensão do tema, temos que traçar uma diretriz. O roteiro é como uma bússola que guia o aluno para o caminho mais coerente. Quando se faz um esquema, certamente não haverá fuga do tema. Escolhendo os argumentos, o estudante irá abordar as três partes do texto argumentativo. Portanto, apontaremos abaixo um tipo de esquema:

Tema: A importância da família.

Roteiro:

1- É importante para o lado pessoal;

2- É necessária na vida profissional;

3- É benéfica na união de toda família.

Elaborado o esquema, o aluno saberá qual a tese que irá defender. Pode até apresentar pontos favoráveis e desfavoráveis, desde que, não faça contradições comprovando uma total incoerência.

Alguns critérios devem ser observados no tipo de texto discutido. O professor deverá apreciar o conteúdo e a norma culta do texto apresentado. Alguns estudantes optam por um vocabulário rebuscado, pensando em iludir o avaliador ou tentam apresentar idéias criativas e originais . De nada adiantará um conteúdo elevado, se a norma gramatical for sofrível. Por outro lado, o conteúdo também será avaliado. Com isso, o aluno estará ciente que sua redação será avaliada por vários critérios.Há quem dê mais valor à forma que o conteúdo. Antes as redações precisavam ter um vocabulário mais prolixo. Hoje, a simplicidade é um dos critérios de qualquer concurso, porém não devem ser aceitos chavões, gírias e palavras vulgares.

Freqüentemente encontramos, nas redações dos alunos, extremismos e ataques pessoais. O aluno tem liberdade de apresentar suas idéias. No entanto, é preciso ter prudência. Como vimos anteriormente, um insulto não é uma forma de argumentar. A crítica deve ser baseada em fatos. Situações imaginárias não são aceitas em um texto do tipo de dissertativo. O que não passa despercebido é a repetição de palavras e a repetição de idéias. A repetição de palavras comprova que o estudante não domina o vocabulário. Já a repetição de idéias comprova a falta de leitura de jornais e revistas.

O leitor não deve ler várias vezes para entender o texto. Inimigos da compreensão são os períodos longos. Além de cansativos, tornam as idéias confusas. Um outro cuidado é o emprego de palavras. Há certa dificuldade, principalmente, diante dos parônimos. Os estudantes têm dúvidas ao usar o termo adequado ao texto. Um outro problema que ocorre nas redações tanto do ensino do 2º grau como no 3º grau é a concisão. São comuns longas explicações tornando o texto repetitivo e às vezes sem coerência.

Cabe ao professor valorizar a redação em sala de aula. A redação em hipótese alguma deve ser um castigo ou um simples dever de casa. No livro Ler e Escrever compromisso de todas as áreas, há um capítulo que discute as aulas de redação que ocorrem em muitas escolas e até universidades. No livro há o seguinte comentário:

O professor vai ensinar o aluno a escrever, isto é, a expressar a organização que é capaz de dar a tudo o que viu, ouviu, leu em livros, revistas, fitas, discos e teipes e experimentou em laboratórios de toda ordem. Cabe a ele agora, constituir-se no interlocutor do aluno, oferecendo-lhe uma determinada forma de organizar a informação dentro de um determinado campo de estudo, ou seja, seu conhecimento mais precioso não é mais de ordem factual, mas de ordem relacional.

Todo texto dissertativo necessita de recursos. A linguagem figurada enriquece o teor de um texto. Metáforas, personificações e até antíteses não são recursos somente de crônicas ou textos jornalísticos. Um texto dissertativo torna-se mais original quando as palavras podem ter um outro sentido.

No ensino universitário, trabalhar com dissertação além do resumo e da resenha, é uma maneira não só de aplicar o conhecimento do que foi aprendido no ensino médio, como também reforçar a escrita preparando o universitário, seja qual for sua área, para o mercado de trabalho. Na vida real, ninguém produz uma frase sem estímulo. Cabe ao professor reverter a crença de que nem todos têm capacidade para escrever. É preciso que o professor examine cada texto dos alunos valorizando as informações pertinentes e também incentivá-los diante das dificuldades. Portanto, escrever é produzir e não somente reproduzir. Ao ler o mundo, com certeza, o aluno escreverá sobre esse mundo que ele viu e que às vezes o atormenta diante de tantos problemas sociais e políticos.

Dissertar, discutir idéias, expor o pensamento, abordar temas atuais são tarefas incipientes na trajetória de qualquer estudante. Em qualquer tipologia textual, o aluno deve ficar atento à estrutura do texto. Na dissertação temos introdução, desenvolvimento e conclusão. Não existe uma dissertação sem a parte introdutória. Em alguns casos, o aluno faz uma introdução esquecendo completamente de abordar o tema. As idéias apresentadas devem ser relacionadas com a tese que irá ser discutida. Há vários exemplos de introdução. Uns preferem começar com uma citação, outros apresentam os argumentos que serão tratados no decorrer do texto. O que não se deve esquecer é que a parte introdutória precisa ser rápida e objetiva.

É importante comentar que o desenvolvimento é a parte principal da redação. É nele que o estudante irá discutir toda sua visão sobre o tema. Apresentará fatos, exemplos e discussões coerentes que despertem o leitor para uma viagem sobre o tema. Esse tipo de dissertação exige do aluno informação atualizada. O desenvolvimento é o corpo da redação. No corpo, o aluno defende suas idéias que nem sempre tem a intenção de persuadir. Por isso, alguns gramáticos em seus livros de redação dividem o texto dissertativo em dissertação expositiva ou dissertação argumentativa.

Finalmente, a conclusão que é o fecho do texto dissertativo, nos últimos concursos, tem sido cobrada de uma forma mais crítica. Para muitos apresentar perguntas pode ser o fecho ideal. Porém, só são interessantes quanto representam uma reflexão. Para isso, o aluno deve conhecer bem o tema e as questões sociais que o rodeiam. Muitos estudantes abusam do uso da interrogação. Nem sempre mencionam questionamentos. As perguntas são óbvias e não demonstram maturidade diante dos fatos. Na conclusão há uma síntese ou uma reafirmação do que foi dito. Em geral, os estudantes apresentam soluções utópicas. Isso comprova a falta de maturidade de algumas pessoas.

Antes de mais nada, é importante destacar que escrever continua sendo o grande problema dos estudantes de qualquer nível.

Só se escreve lendo e escrevendo de forma contínua. Quanto mais dedicação e perseverança, mais chance o estudante tem de melhorar o seu texto. Escrever é reescrever todos os dias. A importância do texto dissertativo não é somente se preparar para a vida profissional. A importância do texto dissertativo é se preparar todos os dias para qualquer discussão social, a fim de um simples aluno tornar-se um grande cidadão.

Por fim, podemos ratificar que a importância de uma dissertação está na essência de uma discussão. Por isso, cabe ao professor trabalhar em sala de aula, sempre que possível, textos de jornais e revistas. Somente lendo fatos atuais e discutindo os pontos críticos do texto é que teremos alunos interessados e com uma visão conceituada do mundo em que vivemos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDO, Gustavo. Redação Inquieta. Rio de Janeiro: Globo, 1985.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio século XXI. Rio De Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1995.

HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

BANDEIRA, Manuel. Manuel Bandeira Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958.

 

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