UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE – UFAC

DEPARTAMENTO DE LETRAS

CURSO: PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

DISCIPLINA:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NEOLOGISMOS, GÍRIAS E EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POR:  ADRIANA ALVES DE SOUZA

            ANDRÉA MEDEIROS CABRAL

            KATTIÚCIA FERNANDES DE SOUZA

            LADIMEIRE TORRES DE SOUZA

            LILLIAN CRISTIAN DA COSTA SERRA

 

 

 

 

 

 

RIO BRANCO –AC, MAIO DE 2001

 

 

 

ÍNDICE

 

 

 

 1.    INTRODUÇÃO

2. Neologismo

2.1.      As condições para existência de uma palavra ou expressão nova, segundo Mário Barreto:

2.2. Divisão do neologismo

2.3. Formação do Neologismo

3. gírias

4. EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS

5. Conclusão

6. bibliografia

 

 

1.    INTRODUÇÃO

 

 

Faremos, neste trabalho, um breve estudo sobre o neologismo, as gírias e os empréstimos demonstrando sua influência lingüística em nossa língua e ressaltando sua importância para a mesma. Utilizando algumas opiniões de lingüistas que realizaram pesquisas sobre esse assunto e exemplificando com alguns vocábulos, objetivando, assim, proporcionar melhor compreensão aos leitores que demonstram interesse por esses temas.

 

 

2. Neologismo

 

 

            Neologismos são palavras ou expressões novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na língua.

            Considera-se também neologismo o uso de uma palavra antiga com acepção nova. “Quando a língua diz Darmesteter, cria sentidos novos, dá a palavras já existentes funções que lhes eram até então desconhecidas. Sem parecer atingir o léxico, ela faz na realidade, dessa palavra uma verdadeira palavra nova, por isso que, com economia de som dá uma mesma forma funções diferentes”.

            Nas línguas modernas, encontra-se aos milhares vozes de cuja existência debalde se procurarão vestígios nos escritores dos séculos precedentes.

            Só se imobilizam os idiomas mortos. O vocabulário dos idiomas vivos está constantemente renovando-se. “não há, afirma Rui Barbosa, língua definitiva inalteravelmente formada. Todas se formam, reformam e transformam continuamente. Quem o não sabe? Que homem de medianas letras hoje o ignoraria?”.

            É que o espírito humano possui a ânsia incontida da novidade. Alcançada uma vitória em qualquer ramo de atividade, não descansa sobre os louros colhidos, mas lança-se a novas pesquisas, satisfazendo assim sua natural curiosidade de conhecimento.

            Assinalar as novas conquistas nas ciências, nas artes, nas letras, na indústria, no comércio, etc, fica, no vocabulário de cada povo, um número apreciável de termos, que serve bem de índice aos extremos para avaliarem do seu grau de cultura.

            Disso não se segue que o neologismo seja sempre aconselhável, importante sempre idéias de benefício ou de riqueza para a língua, porque a criação de um vocabulário novo deve ser condicionada ao imperativo da necessidade.

 

2.1.        As condições para existência de uma palavra ou expressão nova, segundo Mário Barreto:

 

Assim resume Mário Barreto as condições para existência de uma palavra ou expressão nova:

*  hão de satisfazer uma necessidade da língua, designando objetos, expressando idéias ou matizes duma idéia que começam de palavra apropriada para serem significados;

*  hão de observar-se na sua formação as leis morfológicas relativas à estruturas das palavras simples e primitivas e à construção das derivadas, compostas e justapostas;

*   finalmente, hão de ser autorizadas pelo uso dos bons escritores.

            As duas primeiras condições são imprescindíveis, não assim a última, que nega ao povo a faculdade de criar palavras.

            É possível que o ilustrado filólogo patrício se quisesse reportar a penas aos neologismos literários; de outro modo, como explicar a sua afirmativa em vários passos, acerca da popular soberania nos fatos atinentes à língua?

            Aliás, a autoridade do povo, neste assunto, tem reconhecida por todos, assim pelos antigos que pelos novos autores. Platão assevera que “o povo é um excelente mestre”; Horácio toma-o por norma da boa linguagem: Quem penes arbitrium est et ius et norma loquendi; Voltaire, lastimando-se embora, confesse: “É triste que no caso das línguas, como em outros usos mais importantes, seja a populaça que dirija os primeiros de uma nação”.

            Há escritores que têm uma verdadeira antipatia às novas formações; outros, ao contrário, se mostram com elas demasiado indulgentes.

            Entre uns e outros, deve-se guardar o justo meio.

            Se os primeiros são passíveis de censura, pela sua intransigência, contrapondo-se a toda idéia de progresso e de evolução, os outros se arriscam, pela sua nímia condescendência, a transformar o idioma num mistifório incompreensível.

 

 

2.2. Divisão do neologismo

           

 

Os neologismos dividem-se em intrínsecos e extrínsecos. São neologismos intrínsecos os que se criam dentro da língua, segundo os processos normais; extrínsecos os de importação estrangeira.

Uns e outros podem ser léxicos ou de palavras e sintáticos ou de construção.

Os léxicos compreendem:

      *  os termos técnicos: hemátia, morfema, pediatria, hilemorfismo, haplologia, protoplasma, ieliofagia, taxímetro, carburador, aval.

      * os termos literários: déia, divícias, olhicerúleo, arcipotente,  evolucionar, sesquiorelhal, proventuário, quadrupedante, vesperal, profitente, alígero, flavo, almo, equóreo, rubido.

      * os termos populares: ranzinza, esbreque, roscofe, bagunça, bamba, baila, batatolina, beleléu, biriba, bocoxô, mafuá, muamba, fuzuê, chiquê, chulipa, batuta.

            Há neologismo de uso geral, por isso ditos internacionais: centímetro, bar, chope, sanduíche, pijama, cinema, filme, raide.

            Os neologismos sintáticos são os que mais repugnam à língua por atentarem mais diretamente contra a sua constituição íntima. Devem, por conseguinte ser sempre evitados. “mudar a construção, assevera Bréal, mudar as locuções, é tocar nas obras vivas: é arremeter a um patrimônio que representa séculos de pesquisas e esforços”.

 

2.3. Formação do Neologismo

 

 

            Na formação das palavras novas, deve-se ter o cuidado de usar elementos homogêneos. Do contrário, resultará o que os gramáticos denominam – hibridismo.

            Hibridismo é a palavra formada por elementos de línguas diferentes. A formação híbrida cumpre ser evitada por irregular e viciosa. São freqüentes nestes compostos os anacronismos. Com efeito, elementos antigos, pertencentes a línguas que deixaram de ser faladas a dezenas de séculos, como o grego e o latim, a parecem às vezes soldados com os outros novos, em franca circulação nos idiomas modernos.

            Apesar da repulsa dos lingüistas, os hibridismos existem, em regular número, em nossa língua.

            Exemplos de hibridismos construídos por elementos tomados ao:

* Grego e Latino, e vice-versa: automóvel, monóculo, filarmônica, bígamo, terminologia, oliografia, sociologia, mineralogia, decímetro, centímetro, milímetro, linguafone, velódromo;

*    Árabe e Grego: alcoômetro, alcalóide, alcalímetro;

*    Francês e Grego: burocracia;

*    Alemão e Grego: zincografia;

*    Grego e Tupi: carapeva;

*    Tupi e Português: cipó-chumbo, capim-melado.

       

            Deixa de construir vícios a formação híbrida quando os elementos formadores são de língua diferente, mas já incorporados no português. Exemplo: goiabeira (tupi e port.), antipartriótipo (grego e port.), arquimilionário (grego e port.), hiper-acidez (grego e port.), fatalismo (port. e grego), furunculose (port. e grego), condessa (port. e grego), apendicite (port. e grego), anti-social (grego e port.), amoral (grego e port.), dentista (grego e port.), perispírito (grego e port.).

            “O hibridismo, concluem Pacheco da Silva e Lameira de Andrade, é pois um fato artificial ou natural, reprovritoado ou admissível, conforme é de formação erudita ou popular, etc.”.

            Justificando o emprego dos compostos híbridos, diz Matoso Câmara: “muitos gramáticos condenam o hibridismo; mas ele decorre, em regra, da circunstância de que os dois elementos já são sentidos como portugueses em virtude de cada qual figurar em vocábulos usuais portugueses. Por outro lado, muitas vezes o hibridismo se impõe nos helenismos..., porque um composto de elementos gregos já existe com outra significação; assim decímetro distingue-se de decâmetro; automóvel de autômato; televisão de telescópio. Em relação ao sufixo propriamente dito..., -ica, -ismo, de origem grega, já são francamente portugueses, e não se pode a rigor falar de hibridismo em palavras como lingüística, egoísmo”.

 

 

3. gírias

 

           

            Gíria é a linguagem especial, usada pelos indivíduos que abraçam uma mesma carreira ou profissão.

            A especialização nos vários misteres ou ofícios, a que a vida obriga o homem, leva-o à criação de termos ou meios de expressão particulares, estranhos a todos os que não façam parte do grupo social. É assim que há, uma gíria dos militares, dos estudantes, dos pedreiros, dos sapateiros, etc.

            Em sentido estrito, gíria é a linguagem especial dos malfeitores. Os indivíduos que vivem do crime são impelidos pela necessidade da própria defesa, a criar um sistema peculiar de sinais, ou seja, uma linguagem em que concertem os seus planos de ação, sem o risco de serem os seus segredos descobertos pela polícia. Nesta significação, a gíria é sinônimo de calão.

            Temos como exemplo as gírias paulistanas que nem sempre viram mania nacional como as do Rio de Janeiro, onde recentemente nasceram sangue bom, sarado, ah!, eu tô  maluco!, originam-se, segundo os jovens da capital, nos bailes funk e escolas e entre praticantes de skate e de surfe.

            Depois de criadas, elas podem ser ouvidas nas conversas de jovens de todas as regiões da cidade. Além das já imortalizadas mina e  ô, meu, são incontáveis as expressões inventadas pelos jovens. Porém, os mesmos, definem “A gíria é para ser dita e não escrita”.

            “O estudo da gíria, diz Leite de Vasconcelos, não é tão inútil como muitas pessoas, alheias a estudos de glotologia, suporão ao repente: em primeiro lugar, importa ao tribunal, agentes de polícia, etc., conhecer as gírias para assim poderem mais facilmente avaliar os crimes e por em prática as leis: em segundo lugar, pela análise comparativa de vocábulos sociais, digna de se conhecerem: e em terceiro lugar, as gírias revelam  operações lingüísticas muito curiosas, como na formação das palavras, na estrutura da frase, na etimologia, etc., o que tudo tem valor para ajudar a conhecer a evolução da linguagem”.

 

 

4. EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS

 

 

            O contato entre culturas produz efeitos também no vocabulário das línguas. Na língua portuguesa, podem-se apontar casos de palavras tomadas de línguas estrangeiras em tempos muitos antigos. Esses empréstimos provieram de línguas célticas, germânicas e árabes ao longo do processo de formação do português na península Ibérica. Posteriormente, o Renascimento e as navegações portuguesas permitiram empréstimos de línguas européias modernas e de línguas africanas, americanas e asiáticas.

            Depois desses períodos, o português recebeu empréstimos principalmente da língua francesa. Atualmente, a maior fonte de empréstimos é o inglês norte-americano. Deve-se levar em conta que muitos empréstimos da língua portuguesa atual do Brasil não ocorreram em Portugal  e nas colônias africanas, onde a influência cultural e econômica dos Estados Unidos é menor.

            As palavras de origem estrangeira normalmente passam por um processo de aportuguesamento fonológico e gráfico. Quando isso ocorre, muitas vezes deixamos de perceber que estamos usando um estrangeirismo. Pense em palavras como bife, futebol, beque, abajur, xampu, tão freqüente em nosso cotidiano que já as sentimos como portuguesas. Quando mantêm a grafia da língua de origem, as palavras devem ser escritas entre aspas (na imprensa, devem surgir em destaque – normalmente itálico): shopping center show, stress.

            Atente para o fato de que os empréstimos lingüísticos só fazem sentido quando são necessários. É o que ocorre quando surgem novos produtos ou processos tecnológicos. Ainda assim, esses empréstimos devem ser submetidos ao tratamento de conformação aos hábitos fonológicos e morfológicos da língua portuguesa. São condenáveis abusos de estrangeirismos decorrentes de afetação de comportamento ou de subserviência cultural. A imprensa e a publicidade muitas vezes não resistem à tentação de utilizar denominação estrangeira de forma apelativa, como em expressões do tipo teens (por “adolescentes”) ou high technology system (sistema de alta tecnologia). O uso dessas expressões parece sugerir que alguém passa a ser alguma coisa ou que um produto passa a ter determinada qualidade por meio de algumas palavras de uma língua de prestígio internacional.

 

 

 

5. Conclusão

 

 

            Com a realização desta pesquisa, concluímos que tanto os neologismos como as gírias e empréstimos lingüísticos são responsáveis pelo constante surgimento de novas palavras em nossa língua. Notamos também que com o passar do tempo esses vocábulos se integram normalmente à língua, e o que hoje consideramos neologismos, gírias e empréstimos lingüísticos, amanhã provavelmente o deixará de ser, tendo em vista a familiarização destes, na comunicação de nossa sociedade. Partindo desse pressuposto, compreendemos que as palavras também sofrem as ações do tempo assim como os homens, porque o futuro de um neologismo, de uma gíria e de um empréstimo lingüístico é provavelmente, torna-se um arcaísmo, ou seja, palavras que no passado foram consideradas novas e ocuparam destaque dentro da língua, hoje são consideradas antigas, já que deixaram de ser usadas.

 

 

6. bibliografia

  

 

COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica.

      Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 7a ed. 1976.

  

ULISSES, Infante, Curso de Gramática Aplicada aos Textos.

     São Paulo: editora Scipione. 2o ed.

  

ULISSES, Infante,  Textos: Leituras e Escritas:literatura, língua e redação, volume 1

     São Paulo: editora Scipione, 2000.