José Pereira
da Silva
(org. e ed.)
MORFOSSINTAXE
DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Cadernos da Pós-Graduação em
Língua Portuguesa, nº 02
São Gonçalo (RJ)
2002

UNIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
E HUMANIDADES
FACULDADE DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
COORDENAÇÃO DE PUBLICAÇÕES
Reitora
Vice-Reitor
Sub-Reitor de Graduação
Isac João de Vasconcellos
Sub-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Sub-Reitor de Extensão e Cultura
André Luís de Figueiredo Lázaro
Diretor do Centro
de Educação e
Humanidades
Diretora da Faculdade de Formação de Professores
Vice-Diretor da Faculdade
de Formação de Professores
Marco Antônio Costa da Silva
Chefe do Departamento
de Letras
Sub-Chefe do Departamento de Letras
Fernando Monteiro de Barros
Júnior
Coordenador da Pós-Graduação em Língua
Portuguesa
Coordenador de Publicações do Departamento
de Letras
Editor dos Cadernos
de Pós-Graduação
em
Língua Portuguesa
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO - José Pereira da Silva
A INEXISTÊNCIA DA FLEXÃO DE GÊNERO NOS SUBSTANTIVOS DA LÍNGUA PORTUGESA - Patrícia Ribeiro Corado
COMPARANDO A LÍNGUA ESPANHOLA COM A LÍNGUA PORTUGUESA - Jupira Maria Bravo Pimentel
CONSTITUINTES IMEDIATOS - Jaline Pinto da Silva
A DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA: UM DESAFIO PARA OS ESTUDIOSOS DA LÍNGUA PORTUGUESA - José Roberto de Castro Gonçalves
ALTERAÇÕES SEMÂNTICAS DAS PALAVRAS - Patrícia Miranda Medeiros
COMPOSIÇÃO POR PREFIXAÇÃO OU DERIVAÇÃO PREFIXAL? - Flavia Maia Bonfim
INDIANISMOS EM IRACEMA - Luciana Barbosa Duarte
ESTUDO ETIMOLÓGICO - GRANDE FERRAMENTA PARA O USO CORRETO DOS HOMÔNIMOS HOMÓFONOS - Sylvia Costa Barbosa
OS SUFIXOS FORMADORES DE ADJETIVOS COM IDÉIA NEGATIVA - Juliana C. de Lima Muniz
PALAVRA, VOCÁBULO E TERMO - Luciana Barbosa Duarte
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
A Coordenação de
Publicações do Departamento de
Letras
da Faculdade de Formação
de Professores da
Universidade
do Estado do Rio de Janeiro
tem o prazer de apresentar
o segundo número
dos Cadernos da
Pós-Graduação
em Língua
Portuguesa, que
agora
vem com trabalhos
dos professores-alunos de Especialização em
Língua Portuguesa, tratando especialmente de aspectos
da morfossintaxe do idioma.
Os textos aqui divulgados correspondem a
trabalhos
finais apresentados
como
parte da avaliação de disciplinas oferecidas pelo
redator desta
apresentação, tendo-se usado o critério
de disponibilizar o material
apresentado digitalmente, na forma apresentada, fazendo-se apenas
a editoração e diagramação e as revisões de praxe.
Neste segundo número, contribuíram Flávia
Maia
Bonfim, Jaline Pinto da Silva, José
Roberto de Castro Gonçalves, Juliana C.
de Lima Muniz, Jupira Maria Bravo Pimentel, Luciana Barbosa Duarte, Patrícia Miranda Medeiros,
Patrícia
Ribeiro Corado e Sylvia Costa Barbosa, com
trabalhos apresentados no final do ano de
2001 ou início
do ano 2002.
Lembramos aos interessados que,
no primeiro número
desses Cadernos da
Pós-Graduação
em Língua
Portuguesa, foram publicados os seguintes
trabalhos, voltados
para
o aspecto diacrônico
dos estudos de
Língua
Portuguesa: “Evolução dos pronomes demonstrativos
do latim ao português”,
do Professor José Roberto de Castro Gonçalves; “A evolução dos tempos
verbais”, da Professora Priscila Brügger
de Mattos; “A formação dos pronomes na língua
portuguesa”, da Professora Jupira Maria Bravo
Pimentel; “A influência
indígena
nos topônimos
do município de
São
Gonçalo”, da Professora Norma Cristina da
Silva Moreira; “Contribuições
Africanas nos
Falares
do Brasil”, da Professora Jaline Pinto
da Silva; “Origem e
uso
do futuro do
subjuntivo”, da Professora Patrícia
Miranda Medeiros; “Provérbios:
sabedoria
de um povo
– os provérbios e
seus
opostos”, da Professora Nadir Fernandes Rodrigues Cardote e “Permuta entre
/b/ e /v/” e o Professor José
Marcos
Barros Devillart e
ainda
pode ser adquirido com
o editor.
O organizador dos Cadernos da
Pós-Graduação
em Língua
Portuguesa não se responsabiliza
pelas opiniões dos
autores,
que entregam os
textos
digitados para a específica
finalidade de serem publicados e
contribuem com a
sua
divulgação, adquirindo sempre
um pequeno
número de
exemplares
para que se
cubram as despesas da publicação.
Estes Cadernos
estão abertos para
acolher também,
nos próximos
números, a
contribuição
dos ex-alunos e ex-professores do Curso
de Pós-Graduação em
Língua Portuguesa para
que também
a produção anteriormente
elaborada por
esse
corpo não
fique excluída ou engavetada.
O Catálogo
de Produção do Departamento de Letras, com 92 páginas de indicações
bibliográficas de seu Corpo Docente,
teve a contribuição de dezesseis professores do seu
quadro efetivo
atual e também
está disponível a
quem
desejar.
Espera-se que esta iniciativa encontre eco
entre os docentes
e discentes do
Departamento
de Letras para
que não
seja apenas mais
um grito de um colega que está se despedindo e faz muitas misuras e caretas para que todos
percebam a sua
próxima
programada ausência.
Aguardando as suas críticas e as suas
sempre bem
desejadas sugestões, a Coordenação de Publicações do
Departamento
de Letras promete levar
absolutamente a
sério
todas as suas
opiniões
e corrigir todos
os erros
possíveis
nos próximos
números ou
reedições, ressalvada a falta de recursos
para uma publicação tecnicamente mais elaborada.
Atenciosamente,
José Pereira da Silva
Organizador
e Editor
A INEXISTÊNCIA DA FLEXÃO
DE GÊNERO
NOS SUBSTANTIVOS DA LÍNGUA
PORTUGUESA
SUMÁRIO
Patrícia Ribeiro
Corado
INTRODUÇÃO
O termo
gramatical
flexão
indica a <<curvatura; dobra>>
de um determinado
vocábulo diante
da necessidade de
adaptação
à sua multiplicidade de empregos e aplicações.
De acordo com
Joaquim Mattoso Câmara Júnior,
o mecanismo flexional "apresenta-se
em português sob o aspecto de segmentos
fônicos pospostos ao radical, ou sufixos".
Desde então,
mestre Mattoso já
nos chamava a
atenção
para as confusões
que se pretendem
discutir
aqui: "São
sufixos
flexionais, ou
desinências,
que não
devem se confundir com
sufixos derivacionais, destinados a criar novos vocábulos".
Parece-nos
ter
sido também (e
talvez
principalmente) essa a
confusão
que deu origem
à maneira incoerente
e equivocada por
meio
da qual o estudo
do gênero do
substantivo
é exposto nas
gramáticas
tradicionais da Língua Portuguesa.
Observa-se
com
bastante
freqüência
a confusão entre
a categoria
gramatical
e portanto lingüística
- o gênero - e a
categoria
biológica e, portanto, extralingüística -
o sexo. Embora
o assunto tenha
sua
discussão aparentemente
esgotada, ainda registram-se ocorrências do equívoco
em recentes
obras destinadas aos Ensinos Fundamental
e Médio.
As
reflexões
acerca desses
problemas
de abordagem no
estudo
do gênero dos
substantivos
em Língua
Portuguesa e, em
especial, a tentativa de
comprovação
da inexistência do
processo
de flexão de
gênero
dos nomes
substantivos
em nossa
língua constituem o
corpo
do trabalho monográfico que
aqui se apresenta.
DESENVOLVIMENTO
Iniciemos este estudo procurando definir claramente o que
constitui o mecanismo
lingüístico
da flexão. Vejamos,
então, o que
nos
diz J. Mattoso Câmara Jr. ao
conceituar
o referido termo
em
seu Dicionário
de Lingüística e Gramática:
"Processo
de <<flectir>>, isto
é, fazer variar um vocábulo
para
nele fazer expressar
dadas categorias gramaticais." (grifos
nossos)
Observemos agora os seguintes
pares: homem
/ mulher; gato
/ gata; boi
/ vaca; menino
/ menina; professor
/ professora; cão /
cadela.
Como se pôde notar, o que temos são palavras diferentes, cujos
significados são
diferentes. Fato
simples que,
contudo, já
vem nos provar
que o processo
do qual trataremos
aqui
não constitui
meramente
alteração gramatical, como seria o caso
de bonito /
bonita
quando se diz
menino bonito
e menina
bonita , onde
semanticamente as palavras destacadas não
sofrem qualquer alteração.
Além disso, vale lembrar que são os adjetivos, termos
gramaticalmente
determinados,
que se modificam para
concordarem com o
substantivo,
termo
gramaticalmente
determinante.
Os
substantivos é
que
se chamam propriamente masculinos ou femininos, porque cada substantivo é classificado
num ou noutro
grupo; ao contrário, os
adjetivos,
com sua
dupla terminação,
são classificadores. Quando se diz a terminação
masculina, ou
a terminação
feminina
do adjetivo, indica-se, por
esse meio,
a terminação que
o adjetivo adota para
referir-se aos substantivos masculinos ou
aos femininos. (Rocha
Lima)
Isso significa que a flexão é um mecanismo de modificação formal
sofrido pelos
adjetivos
para acompanhar gramaticalmente o substantivo.
A expressa variação formal de uma mesma
palavra é o
que,
segundo José Carlos de Azeredo,
caracteriza a flexão. É isso o que
acontece, por
exemplo,
em amarelo
/ amarelos /
amarela
/ amarelas; canto / cantas / canta / cantamos / cantais / cantam;
mosquito
/ mosquitos etc.
Pares
como aluno
/ aluna; gato
/ gata não
constituem meras variações formais da mesma palavra, sua alteração não
se limita ao aspecto
gramatical,
são termos
lexicais
distintos.
José Carlos Azeredo nos
chama a atenção
ainda para o fato de que
o conceito de flexão
é incompatível
com
a quantidade de 'exceções'
observada na classe dos
substantivos.
Para muitos substantivos em
-o não existe
contraparte
feminina em
uso (mosquito,
besouro, papagaio,
lagarto (lagarta
é inseto), veado,
camundongo); em
outros pares
de nomes, a fêmea
é designada por
um
lexema que nenhuma
regra
é capaz de produzir
(homem / mulher,
carneiro / ovelha;
cavalo / égua
etc.).
Apesar disso, é comum lermos em
nossas gramáticas
que
vaca é o feminino
de boi. O mais
coerente seria
descrever,
segundo
orientação
de Rocha Lima
anteriormente transcrita, o nome vaca como um substantivo feminino
e o nome boi
como um
substantivo
masculino.
Observemos que mesmo não
tratando do assunto
sob
a mesma ótica
aqui apresentada, J. Mattoso Câmara Jr. já nos aponta para o equívoco ainda hoje presente nas salas de aula
de Língua Portuguesa dos Ensinos Fundamental
e Médio:
Na
descrição da
flexão
de gênero em
português não
há lugar para
os chamados <<nomes que variam em gênero por heteronímia>>. O que
há são
substantivos
primitivamente
masculinos, e outros, a
eles
semanticamente relacionados, primitivamente
femininos.
Não apenas os nomes
que variam por
heteronímia, mas
todos os
substantivos
pertencem a um
gênero
que ordinariamente vem marcado nos dicionários
de sua respectiva
língua.
Em Língua Portuguesa, são
masculinos os
nomes
aos quais se pode
antepor
o artigo o
ou
outro
determinante
masculino e são
femininos os
nomes
aos quais se pode
antepor
o artigo a
ou
outro
determinante
feminino. Assim:
NOMES
MASCULINOS
NOMES FEMININOS
o
livro sua caneta
aquele
caderno a
cadeira
seu
irmão minha prima
lindo
homem boa
filha
Casos como boi / vaca, porco / porca nos
apontam com muita
clareza para
o fato de que
qualquer falante
do Português se vale da oposição de significado
entre macho
e fêmea para identificar o gênero
desses substantivos. Pode-se então dizer que, nesses últimos
exemplos, o
gênero,
que é, como
já vimos, uma classificação eminentemente gramatical,
passa a ser
motivado por uma
distinção
lexical e acaba
por
corresponder a essa distinção.
É por isso que o mestre Bechara, em
sua Moderna
Gramática do Português,
diz que "esta
determinação genérica não se
manifesta no
substantivo
pelo processo de flexão".
É inegável a existência de alguns
pares de
substantivos
nos quais,
aparentemente, se explicite a flexão de gênero:
lobo / loba;
garoto / garota;
menino / menina;
pato / pata;
filho / filha.
Mas a verdade
é que, assim
como ocorre nos
pares heterônimos,
o que motiva
a inclusão num ou
noutro grupo é a classe
léxica.
A aproximação da função
cumulativa derivada de -a como
atualizador
léxico e morfema
categorial se manifesta tanto em barca de barco, saca de saco, fruta de fruto,
mata de mato,
ribeira de
ribeiro, etc., quanto
em
gata de gato,
porque dá ao tema
de que entra a fazer
parte a
capacidade
de distinguir uma classe distinta de objetos,
que em
geral constituem uma espécie de gênero
ao tema primário'
[HCv.3,536n.38;HCv.4,21]. É pacífica, mesmo entre os que admitem o processo de flexão barco - barca e lobo - loba, a informação
de que a
oposição
masculino -
feminino
faz alusão a
outros
aspectos da realidade,
diferentes da
diversidade
de sexo, e serve para
distinguir os objetos
substantivos por
certas qualidades
semânticas, pelas quais o masculino
é a forma geral,
não-marcada semanticamente, enquanto o feminino expressa
uma especialização qualquer." (grifos nossos)
(BECHARA, Evanildo.
Gramática Moderna
do Português. p. 132)
O
masculino, sendo o termo
não-marcado da oposição, é o escolhido para
designar a classe ou a espécie em sentido amplo: o brasileiro (o povo brasileiro); o trabalhador (a classe
trabalhadora); o homem (a humanidade) etc.
Por outro lado, é o
feminino utilizado para
fazer referência
uma infinidade de
qualidades
semânticas específicas. Assim, temos: barco - barca (barco grande); linho
- linha (fio
de linho ou,
por extensão,
de outro material);
jarro - jarra (tipo específico
de jarro); cerco
- cerca (objeto
construído para
estabelecer o cerco);
manto - manta
(grande manto);
caneco / caneca
(tipo específico
de caneco), lobo
- loba (fêmea
do animal chamado
lobo).
A aplicação
semântica
vista nos
pares acima
faz com que
esse e muitos
outros possíveis
exemplos não
sejam considerados formas de uma flexão, mas palavras diferentes,
marcadas pelo processo
de derivação.
Até
porque, como
já falamos aqui,
a função
semântica
está fora do
domínio
da flexão.
Provavelmente, por analogia material
ao processo de flexão
sofrido pelos
adjetivos
é que os
gramáticos
puseram no mesmo
plano
pares de
adjetivos
(lindo / linda)
e de substantivos (menino
/ menina).
Entendendo a formação
do feminino nos
substantivos em
Língua Portuguesa
como
um processo
derivacional, torna-se muito mais convincente
a explicação do
que
ocorre com pares
como abade
/ abadessa; ator / atriz;
barão / baronesa;
cão / cadela;
czar / czarina;
embaixador
/ embaixatriz;
maestro
/ maestrina; galo / galinha,
nos quais
a indicação de
gênero
se dá por meio
de sufixo derivacional.
Assim,
imperador
se caracteriza, não flexionalmente, pelo sufixo
derivacional -dor, e imperatriz, analogamente, pelo sufixo derivacional -triz. Da
mesma
sorte galinha
é um diminutivo
de galo, que passa a designar as fêmeas em geral da espécie
<<galo>>, como
perdigão é um
aumentativo limitado aos machos da <<perdiz>>.
Dizer que
-triz, -inha ou -ão
são
aí flexões
de gênero é confundir
flexão com
derivação.
(MATTOSO, Joaquim.
Estrutura da Língua Portuguesa, p. 89)
Dessa forma, as manifestações formais
de indicação
lingüística
das diferenças
semânticas
referentes ao
sexo
dos seres
animados
podem ser duas: 1) a heteronímia,
na qual palavras
diferentes apontam para
cada um
dos sexos (boi
/ vaca; homem
/ mulher; pai
/ mãe; carneiro
/ ovelha etc.); 2) a mudança de sufixo
(menino /
menina;
aluno / aluna;
gato / gata,
porco / porca
etc.). Observe-se que falamos aqui em sufixos, uma vez
que o termo
desinência está intimamente relacionado
ao processo flexional, no
qual
acrescentamos um
elemento
ao final de uma
palavra
para que ela concorde com outra, o que, por tudo que já foi visto, não é o caso
dos substantivos.
Além dos dois tipos de manifestação formal,
podem ainda ocorrer
dois outros tipos de manifestação
de substantivos
em
relação à designação de sexo: 1) Indiferença a essa
designação com
manutenção
do gênero
gramatical
definido (a águia,
o indivíduo, a
vítima, a borboleta, a
formiga, a criança, a
pessoa, a criatura, a
testemunha
etc.); 2) Designação do sexo por meio da flexão genérica
dos adjuntos (o
agente
/ a agente; o
artista
/ a artista; o
dentista
/ a dentista; o
jornalista
/ a jornalista; o indígena
/ a indígena; o
gerente
/ a gerente; o
mártir
/ a mártir; o
jovem
/ a jovem etc.).
A análise histórica da língua
nos faz observar
o fato de que
muitos nomes
substantivos passaram a
ter
aplicações genéricas diferentes, ou
seja, nomes que
hoje são
masculinos aparecem
em
registros
históricos
com aplicações
femininas e vice-versa. Segundo Evanildo Bechara, essa
mudança
pode ser motivada por
aproximações
semânticas
entre palavras
(sinônimos e
antônimos),
influência da terminação,
contexto léxico
em que
a palavra funciona
ou
ainda pela
própria fantasia
que moldura
o universo do
falante.
Assim, para citar alguns exemplos, já
foram femininos
fim, mar,
planeta,
cometa, mapa, fantasma;
e já foram
masculinos
nomes como
árvore, tribo, catástrofe, linguagem,
entre outros.
A inconsistência do gênero gramatical
não se comprova
apenas
pela análise
da história
interna
de uma língua. Se compararmos, por exemplo, a distribuição de gêneros
de alguns
substantivos
em três
línguas neolatinas
diferentes
(português, francês
e espanhol), ficará
evidente
que a distinção
genérica dos
nomes
substantivos não
é motivada por
fundamentos
racionais, e sim
pela tradição
fixada pela norma
e pelo uso. Substantivos como
sal e leite,
que são
masculinos no português,
no espanhol são
femininos: la
sal e la leche. A palavra
sangue, masculina
no português, tem uso
feminino tanto
no francês (le sang)
como no espanhol (la sangre).
Sendo o gênero, de um modo geral, uma convenção
histórica
determinada
pelo uso,
torna-se mais
fácil
entender e explicar por que alguns substantivos,
a depender da
variedade
lingüística na qual
são postos
em uso,
apresentam aplicações genéricas diferentes. É o caso,
por exemplo,
de cal e grama
(unidade de peso),
cuja aplicação
em linguagem
coloquial e menos
escolarizada é quinhentas gramas e o
cal é branco,
enquanto na
linguagem
formal prefere-se quinhentos
gramas e a cal
é branca.
CONCLUSÃO
A própria definição lingüística do termo flexão
já nos
põe diante da
contradição
que é falar
em mecanismo
flexional na variação genérica dos substantivos em
Língua Portuguesa.
Sendo a flexão um processo que expressa categorias gramaticais,
fica patente a impossibilidade de encarar pares como boi / vaca ou gato / gata, nos quais há evidente variação semântica,
como formas
de uma flexão
genérica.
Até porque, não é
aos nomes
substantivos,
gramaticalmente
determinantes,
que cabe a curvatura
sugerida pelo termo
flexão.
Os substantivos
chamam-se propriamente masculinos ou femininos e assim devem ser inseridos
num ou noutro
grupo.
Em Língua
Portuguesa, são
masculinos
os nomes aos
quais
se pode antepor o artigo
o ou outro
determinante
masculino
e são femininos
os nomes aos
quais
se pode antepor o artigo
a ou outro
determinante
feminino.
Embora aparentemente alguns
pares de nomes
substantivos explicitem a flexão genérica
(gato / gata;
lobo / loba;
aluno / aluna;
menino / menina),
deve-se ter a clareza
de que a inclusão
no grupo de
substantivos
masculinos ou
no grupo de
substantivos
femininos depende
diretamente
da oposição
semântica
entre macho
e fêmea.
Outros aspectos da realidade são expressos pela oposição masculino - feminino,
sendo o masculino,
termo
não-marcado da oposição, escolhido para a designação da classe ou espécie em sentido amplo (o brasileiro - em referência
ao povo brasileiro)
e o feminino utilizado
para
expressar qualidades
semânticas específicas (barca - barco grande; loba - fêmea do lobo).
Como se observa, a oposição masculino
- feminino nos
substantivos em
língua portuguesa está tomada por referências semânticas
e acaba por
corresponder
a elas. Assim,
por essas e por
tantas outras argumentações expostas no desenvolvimento deste trabalho
monográfico, torna-se impossível considerar pares como lobo / loba; cão / cadela; galo / galinha; menino
/ menina;
embaixador
/ embaixatriz
formas
de uma flexão,
visto
que se trata
de palavras
diferentes,
com significados
diferentes, marcadas por um processo de derivação.
BIBLIOGRAFIA
AZEREDO,
José Carlos de. Fundamentos de
Gramática do Português. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2000
BECHARA,
Evanildo. Moderna
Gramática do Português. 37ª ed. revista
e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna,
2000
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim
Mattoso. Dicionário de
Lingüística e
Gramática. . 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 1977
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim
Mattoso. Estrutura da
Língua
Portuguesa. 26ª ed. Petrópolis: Vozes,
1997
MARTINS, Dileta Silveira
& ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português
Instrumental. 20ª ed. Porto
Alegre: Sagra Luzzatto, 1999
SILVA,
José Pereira da. A Inexistência da Flexão
de Gênero nos
Substantivos da
Língua
Portuguesa [s. d.]
COMPARANDO A LÍNGUA
ESPANHOLA
COM A LÍNGUA
PORTUGUESA
SUMÁRIO
Jupira Maria Bravo
Pimentel
I - INTRODUÇÃO
Comparar
a língua
espanhola com a
língua
portuguesa é um
universo
muito amplo,
uma vez que
se têm vários
aspectos
e abordagens para
serem apontados e comentados.
Pensando nisso, é que se faz necessário delimitar o campo ao léxico que fará
parte deste confronto,
deste exame, a fim
de conhecer algumas
semelhanças
e diferenças, ou
mesmo relações
entre as duas
línguas.
Será cotejado o léxico da língua
espanhola com o da
língua
portuguesa, no que diz respeito aos heterossemânticos e aos heterogenéricos. É
um universo
de estudo
bastante
interessante, uma vez que
ocorrem muitas confusões por parte dos falantes
das duas línguas.
Na
presente
pesquisa, a comparação ocorreu através da análise
de alguns livros
didáticos, bem
como de algumas
gramáticas
da língua espanhola, fazendo um paralelo com o vocabulário da língua portuguesa.
O
presente
estudo não
tem a menor
intenção
de esgotar o assunto,
porque é um
breve exercício
de examinar simultaneamente as
línguas
espanhola e portuguesa
II. DESENVOLVIMENTO
1.
As Línguas
A língua é um organismo vivo que se
modifica ao longo do tempo. Palavras
novas surgem para
expressar conceitos
igualmente novos;
outras deixam de ser utilizadas, sendo substituídas.
1.1.
Como surgiu o
português?
A língua
portuguesa origina-se do latim, que era a língua oficial
do antigo Império
Romano. Podem se
distinguir
duas formas do
latim: o latim
clássico,
que era
empregado pelas* pessoas
cultas e pela classe
dominante, e o
latim
vulgar, que era utilizado pelas pessoas
do povo. O português
origina-se do latim
vulgar,
que foi introduzido na Península Ibérica
pelos
conquistadores
romanos.
O domínio
cultural e político dos romanos na península
permitiram que
eles
impusessem sua
língua,
que, entretanto,
mesclou-se com os
substratos
lingüísticos lá
existentes, dando origem a vários dialetos,
genericamente chamados romanços. Esses dialetos foram, com o tempo,
modificando-se até constituírem em novas línguas.
Dá-se o nome
de neolatinas às línguas que provêm do latim
vulgar. Entre
elas, pode-se citar
o espanhol, o
francês, o italiano, o romeno
e o português.
1.2.
Como surgiu o
espanhol?
O castelhano
é o idioma derivado do latim vulgar que se impôs na Espanha durante
o processo de unificação,
na luta contra
a dominação dos
árabes,
luta esta que
durou mais de
sete
séculos.
Na Espanha, além do castelhano,
falam-se outros
idiomas: o catalão, o
galego, e o basco. A
Constituição
Espanhola de 1978 declara como língua oficial
o castelhano. Por
ser o idioma oficial de toda
a Espanha, é também chamado de espanhol. Assim,
a penetração da
língua
espanhola se foi impondo também como um fato consumado,
sobrepondo-se a outras línguas do território.
É o idioma
neolatino mais
difundido no mundo e a língua oficial
de mais de vinte
nações.
1.3.
O léxico
do português
Desde
o século
XVI, época da formação
do português moderno,
o português falado
em Portugal manteve-se mais impermeável
às contribuições
lingüísticas
externas. Já
no Brasil, em
decorrência
do processo de formação
de sua
nacionalidade, está mais
aberto
às contribuições
lingüísticas
de outros povos.
Assim, no português
usado hoje no Brasil, pode-se perceber a influência de outras línguas. Do contato
com o índio
incorporam-se palavras como:
cipó,
mandioca
e etc.
A
partir do processo de escravidão no Brasil, mesclam-se inúmeros vocábulos de línguas
africanas, tais
como:
quiabo,
samba,
vatapá e etc.
Pode-se encontrar
também no português
atual, palavras
provenientes de línguas estrangeiras
modernas, tais
como:
a)
do italiano: pizza, espaguete,
etc.
b)
do francês:
champanhe,
abajur, etc.
c)
do inglês:
sanduíche, futebol, etc.
d)
do espanhol:
borracha,
capataz, etc.
Desse modo,
torna-se visível
que
a língua se modifica no tempo: palavras
novas, das mais
diversas origens,
são
incorporadas ao idioma e logo absorvidas pelos
falantes, que
passam a utilizá-las no seu processo diário de comunicação.
1.4.
O léxico do espanhol
A maior parte das palavras
que compõem a
língua
espanhola deriva do
latim
hispânico, como
o português.
Além
do latim, elementos de outras línguas
intervieram na formação do espanhol, como
do ibérico,
língua
desaparecida antes da romanização:
a)
do vasco: esquerdo, pizarra etc
b)
do grego: banho,
idéia etc
c)
do germânico: guerra,
guardar etc
d)
do árabe:
algodão,
cifra etc. Conviveu durante séculos na Península
Ibérica.
e)
do francês: ligeiro,
selvagem, etc.
Especialmente
durante a Idade
Média, nos séculos XVII e XVIII.
f)
do italiano: escolta, soneto,
etc. Especialmente durante o Renascimento.
g)
do inglês:
computador, parque,etc. Em
especial nas últimas décadas.
Junto
com o legado léxico que cada época herda do passado,
todas as línguas ampliam suas necessidades
na medida em
que
geram
novas idéias
e se descobrem novas realidades, novas
experiências.
Para atender a tais necessidades expressivas ou
comunicativas são necessárias novas palavras.
Por isso,
as línguas dispõem de certos recursos
capazes de gerar
novos termos.
Além
disso, se os novos
termos são
tomados por outras
línguas, se adaptando ao sistema
morfológico, fonético e sintático da língua receptora antes
de serem plenamente assimilados por esta, é porque
eles se tornam
novos
vocábulos da
língua
receptora.
2.
Divergências
lexicais entre
o espanhol e o
português
O ato de
comparação é realizado pelo ser
humano a todo
instante, quando
se deseja estabelecer
um confronto entre diversos aspectos de um mesmo assunto.
Quando
se fala em comparar, vem à mente a idéia de
se estabelecer simultaneamente
semelhanças
e diferenças, a
fim
de que se possa
conhecer,
examinar o assunto
em questão.
2.1. Os heterossemânticos
São
vocábulos que, apesar de
terem semelhança gráfica,
têm significados
diferentes
em espanhol
e em português:
Espanhol
Português
Exemplos:
Apellido sobrenome Mi nombre es María y mi
apellido es Souza.
Apurado apressado Estoy apurado
para llegar a la oficina.
Arrestar
prender La policía quiere arrestar al ladrón.
Berro
agrião
A mí me
gusta la ensalada de berro con tomate.
Borrar
apagar
El alumno está borrando el cuaderno.
Brincar
saltar
Los niños están brincando
sobre las piedras.
Calzada pista da rua
En la calle los coches
andan por la calzada.
Cachorro
filhote
Aquella perra ha tenido dos cachorros.
Cena
jantar
Mi
abuela suele servir la cena
a las siete.
Clausurar
interditar
Esta calle será clausurada para reparos.
Coche
carro
Mi
papá compró un
coche nuevo.
Competencia concorrência La competencia
para el empleo es muy grande
Contestar
responder
Yo he contestado a mi profesor.
Copo
floco
Comemos
copos
de maíz todos los días.
Cuello pescoço Mi cuello está ornado con un collar.
Chorizo
linguiça A mí me
gusta chorizo de carne vacuna.
Distinto
diferente Yo soy
distinto de las otras personas.
Embarazada
grávida Mi
prima está embarazada.
Enojar
aborrecer
Mi
hermano está enojado.
Escoba vassoura El brujo tiene una
escoba.
Escenario palco Los niños están en el
escenario.
Escritorio escrivaninha En la sala
hay un escritorio.
Exquisito
refinado La comida
de mi abuela es muy exquisita.
Hormigón concreto La casa
necesita de hormigón.
Jubilación aposentadoria El vecino está jubilado del empleo.
Ladrillo tijolo Las
paredes son hechas con ladrillo.
Largo
comprido
Mi
cabello es largo.
Lograr
conseguir
El hombre ha logrado éxito
en el trabajo.
Oficina
escritorio Yo voy a la
oficina
trabajar.
Palco
camarote
Los
teatros
tienen camarotes.
Pronto
logo, brevemente Pablo saldrá
pronto para
ir al cine.
Rato
momento
Espere un ratito,
por
favor.
Rojo vermelho Nuestra sangre es roja.
Rubio
loiro El pelo
de mi hija es rubio.
Salsa
molho
A mí me
gusta pollo con salsa.
Sitio local Me encuentre en este
sitio, Carlos.
Sótano porão En
mi casa
hay un sótano.
Taller oficina El mecánico trabaja en un
taller aquí cerca
Taza xícara José
toma café
en un pocillo.
Tirar
lançar,jogar
fora Esos niños tiran
papeles al suelo.
Todavía ainda Mi abuela todavía es joven
para
morirse.
Vaso
copo
Me
gustaría beber un vaso
de refresco.
Zurdo canhoto Mi hijo, Víctor, es zurdo.
2.2. Os heterogenéricos
São
vocábulos que apresentam variação de
gênero
entre o español e o
português.
2.2.1. Espanhol
- Português
Masculino Feminino
El
árbol a árvore
El
color a
cor
El
desorden a
desordem
El
estante a estante
El
estreno a
estréia
El fraude
a
fraude
El
origen a
origem
El
puente a
ponte
El
aprendizaje a aprendizagem
El
coraje a
coragem
El
homenaje a
homenagem
El
lenguaje a
linguagem
El
mensaje a
mensagem
El
paisaje a paisagem
El
pasaje a passagem
El
viaje a viagem
2.2.2. Espanhol
- Português
Feminino Masculino
la
cárcel o cárcere
la estratagema
o estratagema
la labor
o labor
la
leche o leite
la
miel o
mel
la nariz
o nariz
la
paradoja o paradoxo
la protesta
o protesto
la risa riso
la sal
o
sal
la
sangre o sangre
la
señal o
sinal
la
sonrisa o
sorriso
la
costumbre o
costume
la
cumbre o
cume
la
legumbre o
legume
la
vislumbre o vislumbre
III- CONCLUSÃO
Tanto
o espanhol como o português
compartilham a mesma
fonte
principal: o latim,
embora tenham sofrido influências de outras línguas.
O professor Alfredo
Maceira Rodríguez, em
sua pesquisa
intitulada Contribuição do espanhol ao léxico
do português, analisa a
situação
das duas línguas, dizendo: “...ambas as línguas receberam um
bom número
de vocábulos de
origem
árabe introduzidos nestas
línguas
devido à sua
longa permanência
na península e a
diversos
contatos,
militares
ou comerciais,
que ocorreram
entre
o mundo mulçumano e o peninsular”. Por
isso que
ambas têm um
léxico
tão comum,
causando muitas vezes
confusão
nos falantes
das referidas línguas.
Os heterossemânticos refletem esta situação tão singular de confusão, uma vez que há palavras que
podem induzir ao estudante
brasileiro a uma compreensão
equivocada de sua significação, os quais têm grafia
igual, ou
quase igual,
a palavras do português,
mas com
significados
diferentes.
No que
tange aos heterogenéricos, a dificuldade lexical está centrada na
oposição
dos gêneros de uma
língua
com a outra,
fazendo com que
o processo comunicativo
fique prejudicado, uma vez que causa estranheza para o falante da língua
portuguesa.
Esta é, realmente,
uma breve
pesquisa,
porque o assunto
é abrangente e necessita de um estudo mais
detalhado para que
se possam evidenciar as
relações
de semelhança e de diferença
entre a língua
espanhola e a língua portuguesa,
procurando-se minorar as
freqüentes
confusões entre
elas.
Comparar
é fascinante,
porque
é através deste
ato
que o homem
progride intelectual e moralmente.
IV – BIBLIOGRAFIA
BECHARA, Evanildo.
Moderna gramática
portuguesa.- 37.ed. ver.e ampl. Rio de Janeiro
: Lucerna, 1999.
CUNHA,
Celso Ferreira
da. Gramática da
língua
portuguesa. – 12.ed. – Rio
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DICIONÁRIO
AURÉLIO. Rio de Janeiro : Nova
Fronteira, 1994.
J. GARCÍA, María de los Ángeles.
Español sin fronteras: curso de lengua
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Paulo
: Scipione, 1996.
SARMIENTO Ramón y SÁNCHEZ
Aquilino.
Gramática básica
del español: norma u uso. – 3.ed. SGEL, 1991.
SARMIENTO Ramón y SÁNCHEZ
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SOUZA, Jair de Oliveira.
Español para brasileños. – São Paulo : FTD, 1997.
TERRA,
Ernani. Curso prático de língua,
literatura e redação.
– São Paulo
: Scipione, 1997.
www.filologia.org.br/revista
Constituintes imediatos
SUMÁRIO
Jaline Pinto
da Silva
INTRODUÇÃO
As pesquisas lingüísticas
têm passado por
uma série de transformações ao longo do tempo,
embora esta
ciência
ainda seja
relativamente
nova, comparada aos
estudos
da gramaticologia.
É mister ressaltar que as inovações
da Lingüística muito
podem contribuir para uma
boa descrição da
Língua
Portuguesa, uma vez
que
é capaz de apresentar
novas visões
cientificamente comprovadas, que podem solucionar muitos problemas que a
gramática normativa não
consegue resolver ou
explicitar de forma coerente. E é a partir
dessa visão, que
o presente trabalho tem por objetivo mostrar os processos
e as contribuições
que
os constituintes
imediatos
estão trazendo para a análise
sintática e morfológica do português.
I. FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
1.1 Definição
e exemplos de
constituintes
imediatos
A priori,
faz-se necessário
definir o que
é constituinte
imediato.
Segundo CRYSTAL
em
seu dicionário
de Lingüística e Fonética:
Constituinte
imediato
é o termo usado na
análise
gramatical, com
referência às
divisões
que podem ser
efetuadas dentro de uma
construção
sintática, em
qualquer nível.
(p. 63, 1988)
Tal
dicionário apresenta o seguinte exemplo
para análise:
Os meninos estão dormindo. Nesta sentença, os constituintes
imediatos seriam os meninos e estão dormindo, os quais, por sua vez,
poderiam
ser analisados em
constituintes
imediatos
também (os +
meninos, estão + dormindo); o
processo continua
até que
se atinjam constituintes irredutíveis. O mesmo
autor supracitado
ressalta em sua
definição que
este tipo
de análise teve
muito
destaque na lingüística
estruturalista de Bloomfield.
Mattoso Câmara Jr, já em seu tempo, na década
de 50, também trabalhava com o conceito
de constituintes
imediatos.
Em seu
dicionário, no verbete
“constituintes”, Mattoso chama a atenção
para esse fenômeno, citando que
os constituintes
imediatos
resultam da adição,
união, de unidades
formais
para constituírem uma unidade
lingüística complexa
ou superior.
Assim está descrito
em
seu dicionário:
Constituintes:nome
que se dá na
lingüística
descritiva moderna aos elementos formais
que constituem uma
forma
lingüística complexa.
São depreendidos
pela
análise, e esta
só
cessa quando se
chega
aos constituintes
imediatos,
isto é, que
se articulam sem
intermédio
de outros.” (p. 83: 1981)
Neste mesmo verbete
tem-se o exemplo da
palavra
lobas, onde se pode afirmar que este vocábulo é uma unidade complexa
porque resulta da
combinação
de um radical
com seu
significado
lexical
mais a marca
de feminino que
é o a mais a
marca
de plural
mediante
o pluralizador s. Vale lembrar
que o –s não
é plural, é o
resultado
da combinação.
Outro
exemplo
citado por Mattoso é o caso da seqüência
de dois adjetivos:
“olhos
femininos
encantadores”. De acordo com a nossa língua, esses dois adjetivos só
podem aparecer numa seqüência
coordenada.
Coordenada
sindética:
femininos e encantadores ou assindética: femininos,
encantadores separados por pausa. No entanto, no exemplo
apresentado não há
pausa. Explica-se este
fato
da seguinte
maneira: havia uma unidade
que
inicialmente era
a união de dois elementos formais.
Constituída esta unidade, encantadores entrou no
sintagma
depois que
este estava resolvido complexamente. Desta forma,
olhos
femininos
enquanto uma
única
unidade, pôde ser
acompanhada pelo adjetivo
encantadores. E como este
entrou em segundo
lugar, ele
está menos coeso
em
relação ao
substantivo
olhos do que
femininos. Essa
coesão
diminuída permite que encantadores possa vir
no início: “encantadores
olhos femininos”.
Contudo, em
relação a olhos
não se pode dizer:
“femininos olhos
encantadores”, uma
vez
que esta
seqüência
quebraria o sintagma.
Citando este mesmo verbete em uma palestra na Academia Brasileira
de Letras, Bechara correlaciona o
exemplo supracitado com
a seqüência: “a
atual
situação política”,
onde se têm dois
adjetivos. O
sintagma
complexo inicial
era situação
política e a
esse
sintagma, acrescentou-se outro adjetivo sem pausa, menos coeso que
é atual, permitindo se dizer: a atual situação política
ou a situação
política atual.
Jamais, a
situação
atual política,
uma vez que
se estaria rompendo semântica e
sintaticamente o sintagma
complexo
situação
política.
KARONE em seus estudos morfossintáticos, define a análise em constituintes imediatos
da seguinte forma:
Consiste esta análise
em
fazer cortes sucessivos no texto
considerado. A cada
corte, obtêm-se duas partes, os constituintes imediatos
da unidade submetida à análise naquele momento.”
(p. 77: 2000)
A definição supracitada
vem seguida dos
seguintes
exemplos:
1. Algumas reses mais sedentas lambiam a terra úmida.
2. Elas mugiam.
A segunda oração mostra com clareza o lugar
do corte analítico,
que só
pode ser para separar os dois termos: elas /
mugiam.
Já
a primeira sentença poderia
suscitar alguma dúvida,
como esta: se o sujeito
é tão importante
quanto o
predicado,
visto que
até concordam, o
primeiro
corte deveria separar um elemento complementar: algumas reses mais
sedentas lambiam / a terra
úmida.
Mas
a comutação (troca
de uma unidade
por
outra que
possa ocupar o mesmo
ponto na cadeia
sintagmática) de cada parte com os constituintes imediatos
da segunda oração,
que não
deixam margem a
dúvidas, evidencia o desacerto
desse corte:
·
elas
a terra
úmida
·
algumas reses mais sedentas lambiam
mugiam
Os dois produtos são gramaticalmente
inaceitáveis. O corte
correto vai propiciar
construções
aceitáveis:
·
elas
lambiam a terra úmida.
·
Algumas reses mais sedentas mugiam.
Continuando o processo de comutação, vão-se definindo
os constituintes imediatos
em outros
níveis, e as
partes
assim obtidas vão
sendo sucessivamente submetidas à análise.
PERINI, cujos estudos sobre a gramática têm se
apoiado nas contribuições e evoluções da Lingüística
dos últimos anos,
assim define
constituintes: “ (...) certos
grupos
de unidades que
fazem parte de
seqüências
maiores, mas
que mostram certo
grau de coesão
entre eles.”
(p. 44: 2000)
Para
ilustrar tal
conceito, tem-se o
seguinte
exemplo:
·
A casa de Lulu é azul e branca.
Diante
desta sentença, os
falantes “sentem” que a casa de
Lulu forma uma unidade,
o que não
se verifica com Lulu é
azul. Dizemos então
que
a casa de Lulu é
um
constituinte e
que
Lulu é azul (na frase
citada) não é um
constituinte.
A idéia é que as frases são
formadas de constituintes, muitas vezes uns dentro
dos outros. Assim,
a frase acima
poderia ser
analisada, entre
outros, os constituintes
seguintes:
a casa de Lulu é azul e branca
a casa de Lulu
casa
de Lulu
azul
e branca
é azul e branca etc
Note-se que certos constituintes estão dentro
de outros: o
constituinte
a casa de Lulu está dentro do constituinte
a casa de Lulu é azul e branca, e o
constituinte azul e
branca está dentro
do constituinte é
azul
e branca, que
por sua
vez está dentro
de a casa de Lulu é azul e branca.
Note-se ainda que
a frase completa
é também um
constituinte.
Vale
ressaltar que
na gramática gerativa, usa-se a
expressão: “sentença
constituinte”
com referência
a uma sentença encaixada, que acontece quando
uma sentença
subjacente
foi introduzida em uma outra sentença(matriz). Por exemplo, na frase
O gato sentado no capacho miou, a oração
sentado no capacho seria inserida na sentença matriz
O gato miou,
através
de uma transformação apropriada, e se
tornaria uma sentença constituinte.
Embora
o parágrafo acima dê uma conotação diferente
ao emprego de
constituinte, pode-se afirmar,
que
diante das
definições
apresentadas, que há uma regularidade no
que se refere ao
conceito
de constituintes
imediatos.
Lingüistas e
gramáticos
atuais têm uma
mesma
visão do assunto,
no sentido de que
a análise em
constituintes é
um
traço relevante
de qualquer
sistema
gramatical. E é desta importância que
se tratará no próximo
capítulo.
1.2. A hierarquia
dos constituintes
imediatos
Segundo
Perini, a oração
se estrutura de uma
maneira
hierárquica, isto
é, contém constituintes que, por sua vez, contêm
outros
constituintes. É preciso
levar
esse fato
em conta ao se
fazer a análise.
Por exemplo:
* Meus tios
arranjaram um bebê
demasiadamente
barulhento.
Pode-se fazer os seguintes cortes:
[meus tios] -
[arranjaram] – [um bebê
demasiadamente
barulhento]
Esses
são os constituintes imediatos
da oração; cada
um deles terá uma
função
especial (essas
funções
se denominam, na ordem:
sujeito,
predicado e
objeto
direto).
Vale
ressaltar que
alguns desses
constituintes
têm, por sua
vez, uma
estrutura
interna sintaticamente caracterizável.Assim,
meus vizinhos
se divide em
meus
e vizinhos e cada uma dessas palavras
tem sua função
sintática dentro
do sintagma meus
vizinhos. O
constituinte
arranjaram é sintaticamente simples,
por ser
formado de uma única palavra, e portanto
não pode ser mais analisado em
termos sintáticos,
no entanto, pode sê-lo em termos
morfológicos. O constituinte um bebê demasiadamente barulhento,
por sua
vez, é complexo,
e precisa ser
analisado. Há um
determinante
(um); um
núcleo do
sintagma
nominal (bebê)
e um modificador (demasiadamente
barulhento).
Finalmente, o constituinte
que
funciona como modificador desse sintagma, demasiadamente
barulhento,
ainda
pode ser analisado sintaticamente. Pode-se dividi-lo
em: um
intensificador (demasiadamente) e um núcleo do sintagma (barulhento).
Esta estruturação hierárquica pode ser representada por árvores, pela caixa de Hockett, por
barras verticais,
parênteses,
colchetes,
sempre em
número progressivo,
acompanhando a seriação dos cortes.
III. A RELEVÂNCIA
DA ANÁLISE
EM
CONSTITUINTES
IMEDIATOS
3.1. Vocábulo: uma
superposição de blocos binários
Como
se ilustrou no capítulo
anterior, a
análise
em constituintes
imediatos mostra
que a frase
não é uma simples
sucessão de
vocábulos,
mas uma
superposição
de camadas binárias, uma vez que todos os cortes
realizados segmentam os blocos em dois elementos.
Essa análise prossegue ao nível
do vocábulo, mostrando que
este não
é uma seqüência de
morfemas,
mas uma
superposição
de blocos
binários. KEHDI exemplifica esta assertiva a
partir do substantivo formalização.
A segmentação morfemática revela os
morfemas
constitutivos desse vocábulo e faz com que se pense
que o referido vocábulo
é uma mera
seqüência
de morfemas:
Form (a) -al -iz
-a -ção
Contudo,
como o sufixo –ção exprime ação ou resultado da
ação, só pode
agregar-se a uma forma verbal;
na verdade, o sufixo
foi anexado ao verbo formalizar (após a eliminação do
–r do infinitivo.)
Por
sua vez, os verbos em –izar são normalmente formados a partir
de bases adjetivas:
formal
+ izar.
Finalmente,
o adjetivo
formal constitui-se do substantivo forma + o sufixo –al.
Percebe-se assim, que o vocábulo em questão se constitui pela
superposição de
camadas
representadas, cada uma, por um elemento nuclear
(radical) e
um
elemento
periférico (afixo/desinência).
Os dois elementos
de cada camada
são os
constituintes
imediatos. Dessa forma,
o vocábulo não
é interpretado como uma sucessão de morfemas
e sim, como
uma superposição de blocos de constituintes
imediatos.
Há uma dupla vantagem
nessa técnica descritiva. Por um lado, evita-se atribuir aos
morfemas o mesmo
grau de aderência
com
relação aos
morfemas
antecedentes e
conseqüentes, o que
acarretaria descrições
longas e não
correspondentes
à estrutura real
do vocábulo. Por
outro lado,
a análise em
constituintes
imediatos, permite-nos, por
exemplo,
considerar formalização
como um
derivado sufixal e não como um
derivado trissufixal, dada a presença de três sufixos: -al, -iz e –ção.
Outra
vantagem
oferecida pela
análise
em constituintes
imediatos é que
cada camada
depreendida pode ser discutida nas partes da gramática em que as formações similares
foram tratadas.
BECHARA, em sua Moderna Gramática
Portuguesa, enfatiza também esta importância de ser feita a análise por constituintes
imediatos na
morfologia, a fim de
solucionar
problemas com
os derivados tidos como parassintéticos.
Tal justificativa
é explicitada através do
vocábulo
descobrimento. Este vocábulo cria um problema aparente de classificação
porque
é composto por
prefixo e sufixo.
E tê-los ao mesmo
tempo
complica a teoria
lingüística,
já que
uma das características da linguagem é a sua
linearidade, ou
seja, os elementos
lingüísticos
se colocam passo a
passo,
não entram ao
mesmo
tempo na construção
da palavra. Assim
é que diante
de uma forma como
descobrimento, não se deve
enquadrá-lo no grupo das palavras parassintéticas, uma
vez
que (considerando des + cobri +
mento): trata-se de um derivado secundário cujos
constituintes
imediatos
são o radical
secundário descobri- e o sufixo –ment (o). Em
suma: Quando
se pergunta a uma pessoa
o que é descobrimento, obtém-se a resposta: “É o ato
de descobrir”. Desta forma,
quando se diz que
descobrimento é o ato de
descobrir, o elemento
lingüístico
que traduz a
idéia
de ato é o sufixo
–mento. Assim, chega-se a conclusão de que
descobrir já
estava incorporado no radical, portanto, não
recebe
prefixo e sufixo
simultaneamente, ou seja, não é um vocábulo parassintético.
Nesta mesma gramática supracitada há ainda
outros exemplos
semelhantes ao vocábulo
descobrimento, tal
como,
desrespeitosamente, onde os constituintes
imediatos são
desrespeitosa por destaques sucessivos > respeitosa
> respeit > speit, este último radical primário ou raiz.
Desta forma, a partir dos constituintes imediatos,
Bechara justifica o fato de não haver a parassíntese. Basta
que se parta
do princípio que
numa cadeia de
novas
formações, não
poucas vezes ocorre o pulo de etapa
do processo, de modo
que só
virtualmente no
sistema
exista a forma primitiva.
Assim, para
se chegar a farmacolando, parte-se de um virtual* farmacolar, da mesma forma se explica
prefeitável, cuja forma
primitiva virtual
é *prefeitar.
3.2. Procedimentos para a depreensão dos constituintes
imediatos ao nível
do vocábulo
Eugene A. Nida, em sua obra
Morphology, apresenta de forma
clara,
ordenada e
operatória, procedimentos para a
depreensão dos constituintes imediatos
ao nível do vocábulo. Assim como o
Bechara, Valter Kehdi aplica esses mesmos princípios
usando exemplos
em
português.
Princípio
1: “As divisões
deveriam amoldar-se às relações
significativas”
O princípio acima pode ser discutido,
levando-se em conta,
por exemplo,
o adjetivo desgostoso. Neste
caso, o sentido é,
indiscutivelmente, “cheio de desgosto”, o que remete à segmentação
desgosto + os, trata-se,
portanto
de um derivado sufixal.
Princípio
2: “ As divisões
são feitas
na base da
substituição
de unidades
maiores
por
unidades
menores pertencentes à mesma classe de distribuição externa
ou a uma classe
diferente.
Foi esse o princípio utilizado na divisão
inicial do vocábulo
formalização
já
citado.A comparação com cassação e
constituição
revelou o caráter de bloco de formaliza-.
Princípio
3: “As divisões
deveriam ser tão
poucas quanto
possível”
Por
este
principio o autor defende as partições binárias. Um
vocábulo deve ser inicialmente dividido em
dois constituintes
imediatos, cada
um desses será dividido em mais dois outros e assim sucessivamente.
Desta forma, cada
camada será constituída de dois
constituintes
imediatos;
um nuclear
e outro
periférico.Só excepcionalmente
poderão ser aceitas divisões
ternátarias.
Princípio
4: “As divisões
deveriam ser corroboradas pela estrutura total da língua”.
Trata-se, este, do princípio mais difícil de se aplicar, pois pressupõe conhecimento
prévio das várias
estruturas
do idioma. Por
exemplo, o adjetivo
desrespeitoso.
Pelo
princípio
1, poderia-se segmenta-lo em des + respeitoso (= não
respeitoso), caso
de derivação prefixal. A possibilidade de
interpreta-lo como “quem tem desrespeito”
conduz à segmentação desrespeito + oso, derivação
sufixal.
Aparentemente,
há aspectos
formais que
confirmam as duas divisões: o prefixo des- prende-se,
normalmente, a adjetivos (respeitoso),
e o sufixo –oso agrega-se a substantivos (desrespeito).
No entanto, se a segmentação for até
ao fim, se constatará que uma das possibilidades é
mais
interessante. No primeiro
momento: des + respeitoso
Num segundo momento: respeito
+ oso
Um
exame
atento de cada
uma das camadas pode
revelar
que o sufixo
des- aparece ligado a um
adjetivo, o que é
normal
em português;
o sufixo –oso,
por
sua vez,
segue-se ao substantivo respeito, o que
também é
freqüente
em nossa
língua.
Com
relação
à segunda possibilidade: resrespeito +
oso, o segundo momento nos
conduz a: des + respeito .
Ocorre
que, aqui,
o prefixo des- está ligado a um substantivo,
o que é excepcional
em português
(raros são
os exemplos como
descaso, desfavor).
Assim
sendo, a primeira
solução está mais
de acordo com
a estrutura total
de nossa língua.
Nesse caso, é preferível
considerar
desrespeitoso
como
um derivado prefixal.
Princípio
5: “No mais,
não havendo
diferença, uma divisão
em
constituintes
imediatos
tem precedência
sobre
uma divisão em
constituintes
imediatos
descontínuos.
Embora
sejam mais
freqüentes os
exemplos
de constituintes
imediatos
contínuos, não
são raros,
em português,
os casos de
constituintes
descontínuos,
isto
é, não contíguos.
Segundo
Valter Kedhi, nos verbos
parassintéticos, o prefixo e o sufixo estão em
relação de
solidariedade
formal e
semântica, e constituem, portanto, um exemplo de constituintes descontínuos,
separados pelo radical;
não só
não se pode excluir
o prefixo ou
o sufixo, como,
via de regra,
o sentido do
prefixo
exprime a idéia de
movimento,
direção, em reforço da noção
freqüentativa do sufixo.
IV. CONCLUSÃO
Conclui-se que os constituintes
imediatos podem ser
definidos como
sendo os morfemas constitutivos de uma forma complexa,
articulados
sem intermédio
de outros. Nessa
perspectiva, o vocábulo é analisado
como
uma superposição de camadas binárias, constituídas de
um
elemento nuclear,
chamado radical, e
um
periférico, podendo ser
um afixo,
uma desinência ou
vogal temática.
Vale
ressaltar que
esta técnica de
análise
em constituintes
imediatos é aplicável também à frase,
como se ilustrou no
decorrer
do presente trabalho, não se restringindo, portanto,
somente ao âmbito
da morfologia,
mas
também ao ramo
da sintaxe.
V. BIBLIOGRAFIA
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática
Portuguesa. 37a ed. Rio
de Janeiro : Lucerna, 2001.
––––––. Constituintes imediatos
in
www.filologia.org.br/academia
CAMARA, J. Mattoso Jr. Dicionário de Lingüística
e Gramática. 10a ed. Petrópolis : Vozes, 1981.
CRYSTAL, David. Dicionário de
Lingüística e Fonética. 2a
ed. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 1985.
KARONE, Flávia de Barros.Morfossintaxe. 9a ed. São Paulo :
Ática, 2000.
KEHDI, Valter. Formação de palavras
em português.
São Paulo
: Ática, 1990.
PERINI, Mário. Gramática Descritiva do
Português. 4a ed. São Paulo :
Ática, 2000.
A DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA
UM DESAFIO PARA OS ESTUDIOSOS
DA LÍNGUA PORTUGUESA
SUMÁRIO
José Roberto de
Castro Gonçalves
Desde
que não podia dar presentes, eu
dava belas palavras. (Ovídio)
Introdução
Este
trabalho
visa a estudar
o Processo de Formação
de Palavras, priorizando a Derivação Parassintética.
Iniciamos o estudo
no
segundo capítulo,
buscando o conceito
dado
à derivação parassintética por alguns professores: Evanildo Bechara,
Celso
Cunha, Margarida
Basílio, Flávia de Barros Carone e Valter
Kehdi. Após o levantamentos
dos conceitos, fizemos um aprofundamento, seguindo a
abordagem
da Margarida Basílio.
Antes de
enfatizarmos o tema proposto, achamos imprescindível elaborarmos um
capítulo, onde
estivéssemos enfocando os Constituintes
Imediatos, que seriam o pré-requisito,
para a abordagem
da derivação parassintética.
A partir desse enfoque, fomentaremos no quarto
e quinto
capítulos
a discussão da derivação
parassintética ou circunfixação,
mostrando a importância do elemento semântico
na caracterização desse estudo.
Definição
de parassíntese
ou circunfixação
Com
o intuito
de fazer um estudo das concepções,
as quais os
autores
consideram sobre a
derivação
parassintética, propusemos neste capítulo,
abordar os conceitos
de alguns
estudiosos,
referentes ao
assunto:
1. Intimamente
ligado à noção dos constituintes imediatos
está o conceito de
parassíntese,
conceito não
de todo assente
entre os
estudiosos.
Para uns, para haver parassíntese basta a presença de prefixo e sufixo
no derivado. Para outros,
o processo consiste na
entrada
simultânea de
prefixo
e sufixo, de tal
modo que
não existirá na
língua
a forma ou só com prefixo ou só com sufixo. (BECHARA, p. 343)
2. Os vocábulos formados pela
agregação simultânea de prefixo e sufixo
a determinado
radical
chamam-se parassintéticos, palavra derivada do grego
pará
(= justaposição,
posição
ao lado de) e synthetikós (=
que compõe, que junta, que combina).
A parassíntese
é particularmente
produtiva
nos verbos,
e a principal função
dos prefixos
vernáculos
a– e em– (en–) é a
de participar
desse tipo
especial
de derivação: a-doç-ar → en-tard-ecer,
a-munhec-ar → en-velh-ecer. (CUNHA, p.
119)
3. Damos o nome de derivação
parassintética ao processo de
formação
de palavras que
consiste na adição
simultânea
de prefixo e
sufixo
a uma base para
a formação de uma
palavra. (BASÍLIO, p. 43)
4. A parassíntese, denominação
que a
Nomenclatura
Gramatical
Brasileira
(NGB) aboliu, embora o
fenômeno
exista e persista: é a derivação
simultaneamente prefixal e sufixal. Prefixo
e sufixo teriam
certa
semelhança com
significantes
descontínuos,
que se articulam a uma base em um mesmo momento. (CARONE, p. 41)
5. Processo não
consignado pela NGB, a parassíntese ou
derivação parassintética, muito comum em português, consiste na adjunção simultânea
de um prefixo
e de um sufixo
a um radical,
de forma que
a exclusão de um
ou de outro
resulta numa forma
inaceitável
na língua. Tomemos,
como
exemplo, o verbo
esclarecer; não
existe o adjetivo esclaro,
nem
o verbo clarecer. (KEHDI, p. 17)
Como
saber
se uma determinada
construção
envolvendo prefixo e sufixo é um caso de derivação
parassintética ou
não?
BASÍLIO afirma
que, tradicionalmente, o reconhecimento
se faz pela possibilidade ou não de se extrair um dos afixos da construção e ter como resultado uma palavra
da língua. Havendo a possibilidade, a construção não seria
considerada parassintética.
Mais
especificamente, dada uma palavra
que apresente
prefixo
e sufixo em
sua construção,
dizemos que esta
palavra
é um caso
de derivação parassintética se, ao
suprimirmos qualquer dos afixos, obtivermos uma forma
não existente na
língua.
A
base do procedimento é clara:
se ao suprimirmos qualquer dos afixos
o resultado é uma forma
não-existente, isso indica que a construção não pode ter sido feita pelo
simples
acréscimo de um
afixo a uma base
já afixada;
afinal,
ninguém
forma
palavra
adicionando um
afixo
a uma forma que
não existe.
Por
exemplo, dizemos que
desalmado
é uma formação parassintética porque não
temos em português
desalma ou
almado. Ora, se
não temos desalma, é claro que não podemos
dizer que desalmado é formado pelo acréscimo do sufixo
–ado à base
desalma. Do mesmo
modo, se não
temos almado, não
podemos dizer que
desalmado
é formado pelo acréscimo
do prefixo des– a almado. Mas podemos dizer que desalmado
é formado pelo
acréscimo simultâneo
do prefixo des– e do
sufixo –ado ao substantivo
alma,
ou seja,
desalmado é um caso de derivação parassintética.
A
partir da explicação, BASÍLIO conceitua a
derivação parassintética
como
sendo um processo
complexo de
formação,
não só
morfologicamente, mas também semanticamente, já
que acopla a
função
semântica do
prefixo
com a função
sintática e/ou
semântica do
sufixo. Essa complexidade é bastante nítida em casos como desalmado, onde a função
de –ado, que
caracteriza um ser
como possuidor virtual
do que é expresso
na base, é contrariada pela função semântica do prefixo
des–, resultando da combinação o sentido
“sem alma”
para o adjetivo.
BASÍLIO informa
ainda,
que o procedimento tradicional de reconhecimento de formações
parassintéticas é insuficiente por tratar apenas de uma das faces
da questão, a da possibilidade de formação.
De
fato, é correto
dizer
que temos uma
formação
com acréscimo
simultâneo de prefixo
e sufixo quando
vemos que é
impossível
ter esta formação
com acréscimo
de afixos em
dois níveis, conforme verificamos no caso
de desalmado.
No
entanto,
isso não
justifica que limitemos a esses casos a derivação parassintética. Na verdade,
a derivação parassintética não é necessariamente ligada
à existência ou
não de formas
prefixadas ou sufixadas.
Constituintes
Imediatos
Segundo
BECHARA, em análise
mórfica é importante
ter
em conta o princípio dos constituintes
imediatos para
que não
se façam confusões no plano descritivo da classificação morfológica e se
estabeleçam as possíveis
gradações
de estrutura.
Assim
é que diante
de uma forma como
descobrimento, não
iremos enquadrá-la no grupo das palavras chamadas
parassintéticas (considerando des + cobri + mento); trata-se de
um derivado secundário cujos
constituintes
imediatos
são o radical
secundário descobri– e o
sufixo ment(o).
KEHDI afirma
que
um vocábulo
deve ser inicialmente
dividido em dois
constituintes
imediatos;
cada um
dos constituintes
imediatos
será dividido em
mais
dois outros e
assim
sucessivamente.
Cada
camada
será, dessa forma, constituída de
dois
constituintes
imediatos,
um nuclear
e outro
periférico.
Só
excepcionalmente
poderão ser aceitas divisões
ternárias. Em português,
os verbos parassintéticos são formados de três
constituintes
imediatos
simultâneos: aclarar = a + clar(o) + ar.
Esse
traço
distingue-os dos vocábulos cujos prefixos
e sufixos não
estão em relação
de simultaneidade, como em:
injustiça
= injust(o) + iça ou in + justiça
Embora
sejam mais freqüentes
os exemplos de
constituintes
imediatos
contínuos,
não são
raros, em
português, os casos
de constituintes
imediatos
descontínuos,
isto
é, não contíguos.
Nos
verbos
parassintéticos, o prefixo e o sufixo estão em
relação de
solidariedade
formal e
semântica, e constituem, portanto, um exemplo de constituintes imediatos
descontínuos, separados
pelo
radical; não
só não
podemos excluir o prefixo
ou o sufixo,
como, via de regra, o sentido
do prefixo é
dinâmico, reforçando, dessa forma, o
sentido
do sufixo: em
apedrejar (a + pedr(a) + ejar), o prefixo exprime a idéia
de movimento, direção,
em reforço
da noção freqüentativa do sufixo.
A
parassíntese ou
circunfixação
A profa. Flávia de
Barros
Carone considera que
há na parassíntese
um
problema não
resolvido, pois seria necessário
estabelecer duas subcategorias: os parassintéticos que se formam com
prefixo e sufixo
(enternecer, esclarecer, amanhecer) e os que
se formam apenas
com
prefixo e
desinências
verbais (engavetar,
esburacar, aclarar). Considerar a existência
de sufixo no
segundo
grupo exigiria uma redefinição de sufixo que
englobasse os morfemas flexionais do verbo; mas as gramáticas costumam sempre
diferençar sufixo
derivativo de
vogal
temática e
desinências
(morfemas flexionais). Por outro lado, se optarmos por
uma distinção
entre
duas subcategorias, será necessário redefinir a própria
parassíntese, com
base apenas
no fator
simultaneidade.
Como
lembra Valter Kehdi certos
verbos (e outros
vocábulos) constituídos de prefixo + radical
+ sufixo não
apresentam simultaneidade dos afixos: reflorescer
(compare com florescer);
injustiça (compare
com
injusto/justiça).
A classificação desses vocábulos como derivados prefixais ou
sufixais baseia-se numa análise em constituintes
imediatos.
Não
há necessidade
de distinguir formas
como esclarecer
e aclarar, com
o argumento de
que, na segunda,
não
figura um
sufixo. Na realidade,
as únicas flexões
possíveis
para o adjetivo claro, radical de aclarar,
são: claro / clara /
claros / claras.
A
terminação
–ar, de
valor verbal, está
contribuindo para que
a palavra
claro mude da classe dos adjetivos para a dos verbos, ou seja, está desempenhando um
papel sufixal; uma das
funções
do sufixo é contribuir
para a mudança
da classe gramatical
do radical. Assim,
tanto esclarecer como aclarar
são exemplos de verbos
parassintéticos. O sufixo –ec(er),
de esclarecer, tem valor
meramente
aspectual (incoativo/causativo) e
não
interfere na caracterização do processo
de formação do
verbo.
Geralmente,
os prefixos que
figuram nos parassintéticos têm um sentido dinâmico: embarcar (em–:
movimento
para dentro),
desfolhar
(des–: ato
de separar); o que
explica o fato de a
maioria
desses derivados serem verbos. Contudo, podemos encontrar,
ainda que
raramente,
substantivos/adjetivos parassintéticos: é o
caso
de subterrâneo
(considerando que subterra e
terrâneo são formas inexistentes), bem como de conterrâneo,
desalmado etc.
Normalmente,
os nomes deverbais
não são
parassintéticos, ainda que os verbos
de que procedem o sejam:
esclarecimento e esclarecedor são derivados sufixais.
Freqüentemente
o caráter
parassintético de um verbo só se
revela
quando levamos em
conta o subsistema
de que ele
faz parte. Apresentamos, a seguir, alguns casos que
ilustram essa afirmação.
Há
exemplos
curiosos de
verbos
cujo radical
é um adjetivo
que exprime cor,
e que,
aparentemente,
não seriam parassintéticos: amarelar, azular. Todavia, se considerarmos o
subsistema
dos verbos formados
por
esses adjetivos,
verificaremos que
são, na maioria,
parassintéticos: acinzentar, alaranjar,
arroxear,
avermelhar, etc...
Ora,
nesses verbos mencionados ocorre o
prefixo
a–. Como
os adjetivos
amarelo e azul começam pela vogal a–,
podemos admitir
que houve a crase
desse a– inicial
do radical com
o prefixo a–: aamarelar
®
amarelar.
A
regra fonológica da crase
é comum na
morfologia
portuguesa, como mostram os exemplos: normal
(de norma + al),
gostoso
(de gosto + oso) etc.
Portanto,
parece-nos plausível considerar os verbos amarelar
e
azular
como parassintéticos, em função das
duas observações
acima.
Entretanto,
queremos assinalar que se trata de uma hipótese,
uma proposta,
visto
que há verbos
derivados de adjetivos que indicam cor
que não
são parassintéticos: branquejar,
verdejar, etc.
Assim
também
devem ser classificados
verbos como
requentar
e reverdecer,
embora nossos
dicionários registrem as formas quentar
e verdecer, o que poderia
dar-nos a impressão de que as primeiras formas
são derivadas por
prefixação.
Alguns
verbos
de base adjetival, antecedidos do prefixo re–,
são parassintéticos:
refinar, refrescar,
reloucar (dada
a inexistência de
formas
como finar
(de fino), frescar,
loucar). Esse subsistema permite-nos concluir
que requentar
e reverdecer
são formados a partir
dos adjetivos
quente e verde: re + quente + ar/re +
verde + ecer, em
paralelismo com
os demais verbos
mencionados.
KEHDI afirma
que
o exame do subsistema
pode também revelar
que um
determinado vocábulo,
aparentemente formado por parassíntese,
é, na verdade, um
derivado prefixal. Tome-se, por exemplo, o adjetivo inquebrantável. A
inexistência de quebrantável e inquebrantar tem
conduzido alguns a
considerar
inquebrantável
como parassintético. No entanto, a ocorrência
de inquebrável,
indesejável,
impensável,
em que
o prefixo se atrela ao
adjetivo, e não ao
verbo
(inquebrar, indesejar, impensar),
mostra-nos que
esses
adjetivos são
todos derivados prefixais.
Para
ilustrar
o que foi relatado, o prof. Ismael
de Lima
Coutinho esclarece que as formas
parassintéticas podem ser
nominais e verbais.
Os parassintéticos
nominais
são constituídos
por
nomes,
substantivos
ou adjetivos:
alinhamento,
embarcação,
desalmado,
enterramento, tresmoitado,
alentejano.
Os parassintéticos
verbais
são representados
por
verbos da
primeira
e segunda
conjugação:
embarcar, abraçar, pernoitar, repatriar, transbordar, envernizar, esfriar, empoçar, exorbitar, enterrar,
anoitecer,
envelhecer, entardecer,
embravecer, enraivecer,
esclarecer.
Segundo
a profa Margarida
Basílio o que
caracteriza a derivação parassintética não é a presença ou ocorrência simultânea de prefixo
e sufixo junto
à base, mas
a estrutura de
formação,
que exige utilização
simultânea de
prefixo
e sufixo no processo
de formação.
Assim,
nem todas as
palavras
que apresentam
prefixo
e sufixo em
sua formação
devem ser consideradas como
de formação parassintéticas.
O
fator semântico
Como
lembra BASÍLIO, o problema de como
reconhecer uma derivação
parassintética através da abordagem tradicional não
daria conta do significado
da formação. A
conclusão
disso é que temos de
levar
em conta na análise o fator
semântico.
Isto
é, quando
a supressão de um
afixo
nos deixa
como resultado
uma palavra existente na língua, temos ainda
que verificar
se o significado da
construção
global corresponde à função semântica
do afixo retirado
com
a base resultante.
Se isso não
ocorrer, a forma poderá
ser considerada como
derivação parassintética.
Considerem, ao
lado
de “desalmado”,
formas como
desdentado, descerebrado,
desempregado, desabrigado, etc.
O
adjetivo desdentado
significa “sem
dente”; é, portanto,
semanticamente paralelo a desalmado.
Há uma diferença
entre
os dois casos,
no entanto: existe o verbo desdentar
em português.
Assim,
normalmente
não se considera
desdentado
como derivação
parassintética,
mas como
sendo o particípio
passado
do verbo
desdentar.
BASÍLIO afirma
que
essa análise, não
é adequada, visto
que
o sentido de
desdentado
é, sobretudo, “sem
dente” ou
“falho de dentes”,
e não “paciente
do ato de
desdentar”. A diferença
fica patente
nas frases abaixo:
a)
João é desdentado.
b)
O
soco de Pedro deixou João desdentado.
c)
João foi desdentado
por Pedro.
Em
a, afirmamos que João não tem dentes;
em b,
que o soco
de Pedro o deixou sem dentes. Só em c teríamos em
desdentado uma relação com o ato de desdentar;
e exatamente neste
caso
a frase é de aceitação
duvidosa. Porém,
mesmo admitindo
que
c pode ser
uma frase aceitável
para alguns, ainda assim
temos que dar
conta das duas possibilidades de interpretação, o que
só será feito
se admitirmos que
desdentado
tem duas formações: uma parassintética, em que temos a admissão simultânea
de des– e –ado ao substantivo dente, para expressar o sentido adjetivo “sem dente”; e
uma em dois níveis, em que temos o acréscimo
de –do, caracterizador
de particípio
passado, à base do
verbo
desdentar.
O
mesmo tipo de raciocínio
se aplica nos
demais
exemplos, como
desempregado, desabrigado, descerebrado, etc, o
que mostra
que podemos ter
derivações parassintéticas mesmo em casos em que a supressão de um
afixo teria como
resultado uma
palavra
da língua. Essa possibilidade, entretanto, não
é contemplada em
gramáticas
normativas ou
descrições
morfológicas.
Segundo
KEHDI, outro caso
interessante é o de verbos que apresentam duas formas,
uma com prefixo
comum na formação
de parassintéticos e outra sem o referido prefixo:
alargar – largar, embandeirar – bandeirar,
respigar – espigar
Naturalmente,
a ausência
do prefixo na
segunda
forma leva-nos a pôr em dúvida o traço de parassíntese
dos verbos da
primeira
coluna.
É
importante
assinalar que,
num grupo de derivados, deve haver relações não só formais, mas também semânticas.
Examinando os
três
pares de verbos
mencionados, observamos que os membros de cada
par apresentam uma
relação
apenas formal.
Do ponto de vista
semântico, as
relações
são vagas
ou, até,
imperceptíveis:
alargar
– “tornar
largo”
largar
– “soltar”
embandeirar
– “ornar
com bandeiras”
bandeirar
– “organizar
bandeira, ser
bandeirante”
respigar
– “recolher
as espigas”
espigar
– “criar
espiga (o milho,
o trigo)”
Assim
sendo, o elemento comum
aos membros de
cada
par é apenas
o radical:
largar
– formado de larg(o) + ar
alargar
– formado de a + larg(o) + ar
embandeirar
– formado de em + bandeira +
ar
(bandeirar
– formado de bandeira + ar)
respigar
– formado de re + espiga + ar
(espigar
– formado de
espiga + ar)
Portanto,
KEHDI afirma que os verbos alargar, embandeirar e respigar são parassintéticos. A omissão
do prefixo implicaria um significado diferente para cada um desses verbos; para o sentido que
apresentam, o prefixo é
indispensável.
Essas
considerações
e exemplos levam-nos a
atribuir
ao elemento
semântico
um papel também importante
na caracterização da parassíntese.
Conclusão
Podemos
concluir que a derivação
parassintética distingue-se da derivação
prefixal e sufixal porque o prefixo e o sufixo
são acrescentados a
um
só tempo
ao morfema
lexical, constituindo, portanto, um único morfema gramatical,
de caráter
descontínuo. Observamos a diferença entre: feliz –
infeliz – felizmente
– infelizmente
e tarde
– tardecer – entarde – entardecer;
no primeiro conjunto,
todos os
vocábulos
são atualizados
em
português, enquanto
no segundo, o
nome
entarde e o verbo
tardecer não
são lexicalizados,
portanto
entardecer
decorre de afixação simultânea.
As
observações
apresentadas nesta monografia,
permitem-nos
mostrar que
a parassíntese
não
pode ser conceituada
com base
exclusiva na
simultaneidade
dos afixos; o exame
de subsistemas, bem
como a análise
do aspecto semântico,
são, também,
critérios
indispensáveis
para a caracterização
desse processo de formação
vocabular.
Referências
bibliográficas
BASÍLIO,
Margarida.
Teoria
lexical.
São Paulo
: Ática, 2000.
BECHARA, Evanildo.
Moderna Gramática
Portuguesa. 37a ed. rev. e ampl.
Rio de Janeiro :
Lucerna, 2001.
CÂMARA
Júnior, J. Mattoso. Dicionário
de Lingüística e
Gramática. Referente
à Língua Portuguesa. 14a
ed. Petrópolis : Vozes, 1988.
CARONE, Flávia de
Barros. Morfossintaxe. 6a ed.
São
Paulo : Ática, 1997.
COUTINHO, Ismael
de Lima.
Pontos de
Gramática Histórica. 7a ed. rev.
Rio de Janeiro : Ao
livro
Técnico, 1976.
CUNHA,
Celso
Ferreira da.
Gramática da Língua
Portuguesa. 11a ed. Rio de Janeiro
: FAE, 1986.
KEHDI, Valter.
Formação de Palavras
em Português.
2a ed. São Paulo : Ática, 1990.
ALTERAÇÕES
SEMÂNTICAS DAS
PALAVRAS
SUMÁRIO
Patrícia Miranda Medeiros
INTRODUÇÃO
A
palavra
possui aspectos
expressivos
que estão ligados a
componentes
semânticos e morfológicos, os quais não estão
completamente separados dos aspectos sintáticos
e contextuais. Tomaremos com mais ênfase neste trabalho o caráter semântico
da palavra, levando
em
consideração os
demais
aspectos, que
são de grande
importância
para
o entendimento da
palavra
em determinado
contexto.
Ao lado disso, a palavra sofre alterações
semânticas
determinadas pelos inúmeros contextos nos quais são empregados. Tais
alterações são causadas por variados fatores,
entre eles
a metáfora e metonímia,
as quais estaremos abordando neste trabalho.
Para analisar
as alterações semânticas metafóricas e
metonímicas, usaremos como corpus da pesquisa a linguagem
publicitária que
constitui um
recurso
rico na elaboração
de enunciados
largamente
utilizados para atrair o receptor - consumidor.
Tais recursos
são artifícios
que têm como
intenção principal
encantar através
da fantasia e da
elaboração
de uma imagem mental.
Língua
e palavra – organismos
vivos
A Língua é um organismo vivo, e por isso, sofre transformações
através
dos tempos, as transformações são frutos do convívio social,
onde as palavras
sofrem mudanças de sentidos, determinadas
pelo meio. Como fruto social, a língua,
assim como
as relações econômicas e políticas, individualiza as
pessoas, isolando-as em
grupos. Uma coisa é
certa,
todos adquirem uma
língua
enquadrada nos
moldes
da língua culta/padrão ou familiar/ coloquial
e, até mesmo,
as duas. Neste caso, o indivíduo tem a possibilidade de
escolher
entre a língua
culta ou
coloquial, dependendo do ambiente.
Dentro desse contexto, está a escolha
das palavras. Há
grupos
com vasto
e variado vocabulário
(jurídico,
financeiro,
literário, etc) e
outros
com vocabulário
limitado, causado, talvez, pela falta de acesso à leitura,
que constitui um
meio rico na aquisição de novos vocabulários. Cabe ressaltar
que não
estamos aqui com
intuito de fazer
uma crítica
social,
mas de demonstrar
que apesar
das diferenças e variações lingüísticas, há condição
para comunicação,
pois mesmo
havendo
certo
distanciamento
lingüístico os
indivíduos
de classes
diferentes
são capazes
de se entenderem. Portanto, fazendo uso correto da norma culta ou usando a linguagem
coloquial, há
comunicação.
Este é um
dos aspectos que
torna a língua
rica, pois além das diferenças
causadas através do
tempo, existe a diferença
sócio-cultural, o que não impende
uma real
comunicação
entre os grupos.
Para
exemplificar
a riqueza das significações de uma palavra citaremos trechos
da pesquisa feita
por Letícia Miranda Medeiros e Lígia Moraes de Matos,
(MEDEIROS, 2001) em
que
a palavra cabeça
e boca são
usadas nos mais
diferentes
contextos
e significações. As autoras tiveram como
base de consulta o
Dicionário
Brasileiro de Fraseologia.
No trecho: “Não repare nas minhas
tolices. Estou
hoje
sem cabeça”
encontramos a expressão
estar
sem cabeça.
Não significa, é
claro
que uma pessoa
está sem a parte
superior que
fica acima do
pescoço, e sim,
que
está sem vigor
para fazer qualquer coisa. O cérebro fica na cabeça,
portanto, estar
sem cabeça
quer dizer não se achar em condições de
pensar,raciocinar...
Na frase :
“ ... Se algum
dia
te volto a apanhar
com a boca
na botija ...” (Tomás de Figueiredo, Nó Cego),
encontramos a expressão com a boca na botija. Segundo
o dicionário Aurélio a
palavra
botija é um
vaso cilíndrico,
de boca estreita,
gargalo curto
e pequena asa.
Porém, a
expressão
acima quer
enfatizar alguém
pegado no flagrante e não uma pessoa que esteja com
a boca no objeto
chamado botija....
A expressão botar a boca no mundo tem um sentido figurado,
conotativo muito
forte.
Não quer
dizer que alguém irá colocar a boca (literalmente)
no mundo inteiro.
Podemos analisá-la como alguém que faz gritaria, produz alarido,
propaga boato ou
mentira, reclama. Portanto,
da mesma forma,
é usar as palavras
para propagar uma mensagem.
Ademais,
a palavra
evoca as condições socioculturais dos falantes, exemplo:
policial/ polícia,
resíduo/resto,
redigir/escrever entre outros, o
primeiro de cada
par refere-se à forma
culta, o segundo
ao uso mais
coloquial.
Além das diferentes variações de uso
das palavras, existe a variação de sentido, que
está intrinsecamente ligada ao uso em determinado contexto.
Tatiana Slama-Czacu na obra Lenguaje y
contexto
define palavra
como:
signo
sonoro,
que contém um
núcleo significativo,
que se atualiza e se
completa
pelo seu aparecimento em
um conjunto
de linguagem
concreta. As palavras
exprimem a realidade
justamente porque
podem moldar ou
completar o significado
conforme a
situação.
Como
vimos, as palavras podem adquirir novos sentidos
quando
usadas em diferentes situações. Além
disso, segundo a autora,
A língua
oferece amplas possibilidades de continuar criando, para as mesmas palavras,
novos
significados. As notas
particulares,
casuais, em
geral desaparecem
depois
de seu emprego
concreto e
momentâneo,
mas, quando
o sentido novo
corresponde a uma necessidade de expressão mais extensa, pode penetrar no vocabulário e finalmente
tornar-se essencial
para
todos.
E é assim que as palavras
com seus
mais variados
sentidos
vão surgindo sendo
amplamente
utilizadas pelos
usuários
da língua.
Mas qual seria a definição
de palavra? Em
um texto,
as palavras são
facilmente percebidas na língua escrita pelos espaços em branco ou pontuação que ocorrem
entre uma e outra.
Convém ressaltar que, levando em
consideração o aspecto
morfológico Valter kedhi (op. cit.
p. 10)) menciona que a
palavra,
segundo a NGB –
Nomenclatura
Gramatical
Brasileira, é considerada, foneticamente,
como
constituída de fonemas e sílabas e provida ou
não de tonicidade,
dentro
desse aspecto é denominada
vocábulo. E do ponto
de vista
semântico
a denominamos palavra. Estaremos,
neste trabalho, utilizando a denominação palavra,
pois
ressaltaremos os recursos semânticos.
Além do mais, a palavra
recebe outras designações dependendo do ponto de vista em que está sendo analisada. Na sintaxe,
a palavra é denominada termo. Exemplo, na oração
“O livro foi editado no ano 2000”, “livro”
é o termo da
oração
que exerce função
de núcleo do sujeito.
Cabe ressaltar que a palavra,
às vezes, não
coincide com o vocábulo,
pois pode acontecer de
duas palavras terem o mesmo vocábulo fonológico. Exemplo:
“Falta cavá-lo”,
este exemplo na língua
falada pode causar
dúvidas quanto
ao sentido da
palavra,
pois o mesmo vocábulo fonológico
pode referir-se à uma palavra: substantivo masculino
cavalo ou
duas palavras:
verbo
cavar mais o pronome oblíquo “lo”.
Por
causa
dessa particularidade, na morfologia usa-se duas designações, palavra ou vocábulo. A denominação
“palavra” é utilizada quando esta apresenta significação lexical.
É necessário
notar
que as palavras
assumem uma conotação especial causadas, dentre
outros motivos,
pelo emprego metafórico ou
metonímico e são
largamente
utilizadas tanto na
língua
culta, quanto
na língua
coloquial. As metáforas
populares,
exemplo: “Ela
é uma gata” (gata
= metáfora
de mulher bonita),
tão freqüentes
na gíria, são
menos
surpreendentes
e se repetem até se desgastarem, já as metáforas
dos artistas são
originais, imprevistas e não se repetem. “O amor
é fogo
que arde sem
se ver” (Camões). O
importante
é saber que
as alterações semânticas das palavras ocorrem determinados
pelo contexto
e pelo uso
nas mais
diferentes
classes sociais.
Metáfora
e Metonímia: conceito
e uso
As relações entre palavras
numa língua,
segundo
Ullmann (1997), podem ser estabelecidas entre dois nomes, entre dois sentidos ou entre nomes e sentidos
ao mesmo tempo.
Existem as alterações causadas por relações de semelhança de sentidos e por
contiguidade de sentidos.
Nas mudanças semânticas
por semelhanças
de sentidos,
metáfora, há uma associação mental, objetiva ou subjetiva entre
os significados. As mudanças objetivas são
baseadas em
semelhanças
na aparência,
exemplo: “Pizza
maracanã - sentido
de muito
grande”;
ou de função: “
Matar a fome” –
com função
de acabar com,
eliminar.
Já
as mudanças subjetivas, geram inúmeras metáforas sensoriais.
Exemplo, “Música
doce”, “Idéias
luminosas” Existe também a transferência
de sentido, de
domínio
conceitual
relativo
ao homem, “Pé
da montanha”, “Pulmão da cidade”,
“Boca
da garrafa”, entre
outros, e domínio
conceitual
referente
a animais,
exemplo, “Ele fez
um
gato”,
gato
no sentido de
desvio
de energia. “Ele
é um gato”
A palavra gato refere-se a homem
bonito.
As alterações por
contiguidade de sentidos, a metonímia, refere-se a
elementos dos mais
diversos planos
conceituais, uma aproximação
entre
o significado de uma palavra e uma parte
do significado de
outra
palavra, dos
quais
citaremos alguns.
a)
criador pelo produto, “Ler Machado de Assis”,
b)
objeto pela pessoa que o possui, “Ele
é o câmara” –
indivíduo
que opera o
equipamento.
c)
marca pelo objeto, “Comprei
a gilete”,
lâmina
de barbear.
d)
a
parte pelo todo ou o todo pela parte. “Ele não tem um teto” – uma casa.
e)
tempo ou lugar pelas pessoas
que se acham no
tempo
ou lugar,
“A nação
americana
sofreu um
atentado” – componentes da
nação
f)
o continente pelo conteúdo ou vice-versa,
“Comi dois pratos”
– o conteúdo do prato.
g)
A
matéria pelo objeto, “compro ouro”
– cordão, anel, pulseira de ouro.
h)
Lugar pelo produto ou características ou
vice-versa, “Estamos em greve”,
Place de la Greve
foi o local
da primeira
reunião
onde foi decidida
a manifestação.
i)
Abstrato pelo concreto,
“Pratique a caridade” ,
ou seja, atos
de caridade.
j)
O sinal, ou símbolo, pela coisa significada ou vice-versa, “Ele
abdicou o trono”, deixou de
ser
rei.
A metáfora
e metonímia são recursos estilísticos usados para
dar elegância e criar imagens em um texto escrito ou falado. Neste
caso, a palavra
desenvolve, a par de seu sentido original, novos
valores
semânticos.
Linguagem Publicitária
e
recursos metafóricos e metonímicos
Na linguagem Publicitária são
usados vários
recursos
para persuadir o consumidor, assim
como a figura,
as cores, a
linguagem
figurada, etc. Estaremos analisando os anúncios que
contêm os recursos
semânticos
de metáfora e/ou
metonimia, para que
possamos perceber o quando
tais recursos
ajudam na persuasão do
receptor
– consumidor.
Partiremos da definição
de ‘Linguagem’
como
sistema de sinais
empregados pelo
homem para comunicar suas idéias e pensamentos;
a transmissão do
pensamento
por meio
da palavra ou
de qualquer outro
meio de exprimir
o que sente e o
que
pensa. E ‘Publicidade’,
o termo referente
à vulgarição, divulgação e à
propaganda
por anúncios,
cartazes, reclamos etc. No presente trabalho, selecionamos
algumas propagandas vinculadas na “Revista Veja”, “Revista
Domingo”, parte
integrante do “Jornal
do Brasil”, e também “Jornal O Globo”.
Queremos explicar que daremos ênfase
à frase principal
da propaganda,
que
possui metáfora e/ou
metonímia, deixando de lado
os textos
explicativos
que porventura
aparecerem nos
anúncios.
Estaremos dispondo em
anexo somente
as três primeiras
propagandas
analisadas, pois as figuras
exercem um papel
muito importante
na interpretação do
texto
do anúncio.
1 – O banco
“Santander” veiculou uma propaganda com a figura de
dois pares de
pés, um
par de adulto
e um par
de um bebê, com o texto Toca aqui.
Aqui tem um
dedinho do Santander, trazendo mais confiança para
você. Na palavra “dedinho”
há uma relação metonímica de concreto
pelo abstrato
em que
o banco Santander exerce certa influência, dando o apoio necessário. O banco oferece uma estabilidade,
assim como
é sugerida na figura, em que o pai exerce uma relação
de confiança com
o bebê fazendo com
que este
desenvolva sua auto-confiança para começar a
andar.
2 – O anúncio
da “Nationwide Marítima”, Veja, 28 de novembro de 2001, tem como
texto principal:
Se é assim
que o leão
vê seus
investimentos, está na hora de correr para os Investimentos
e Aposentadorias da Nationwide Marítima. Junto
ao texto aparece a
figura
de uma carne
vermelha,
que irá completar
a idéia do texto:
o leão vê
os investimentos
como
carne. Sabemos
que
o Imposto de
Renda
tem como imagem
símbolo a figura
do leão, por
ter este animal a boca grande e abocanhar com rapidez e voracidade o máximo
de alimento possível
ao mesmo tempo,
da mesma forma,
as características do leão se assemelha numa relação
de similaridade com o Imposto de renda,
sendo temido por
muito. Temos, nesse caso,
o leão metaforizado.
3 – A propaganda dos colchões “Simmons” veiculados na
Revista
“Veja” em 20 de
junho
de 2001. Possui como texto principal Acorde no primeiro
mundo. “Primeiro
mundo” está metaforizado seguindo uma relação de similaridade com
os Estados Unidos da América, pois a bandeira do país serve de pano
de fundo para
o anúncio. É feita
uma comparação implícita com a qualidade
de vida
dos
países do primeiro
mundo com
a qualidade do
produto
anunciado.
4 – Na propaganda da Churrascaria “Oásis” (Revista
Domingo, 12 de agosto,
2001) na qual aparece a figura
de um par
de sapatos de couro
com uma etiqueta
especificando o preço, R$ 380,00 e como texto principal, Por
muito menos,
você pode ter as partes mais nobres deste boi.
Neste texto percebemos uma relação de contiguidade e,
portanto, uma metonímia,
em
que há uma
relação
de parte pelo
todo. Do boi
utilizamos a carne e o
couro, no texto “as
partes
mais nobres”
referem-se à carne
bovina.
5 – No anúncio Se você quer uma revelação na hora,
fique sabendo que a De Plá faz em minutos.
(Revista Domingo,
12 de agosto, 2001) Temos uma relação metonímica quando
cita o nome da empresa
pelos
funcionários
que nela trabalham fazendo a revelação das fotos.
6 – A
ótica
“Bausch & Lomb” vinculou na “Especial
Mulher” da
Revista
“Veja” no dia 12 de
Dezembro
de 2001 uma propaganda formada pela disposição de cinco (5) tipos
de bilhetes de sedução.
Em cada
papel há um texto dos quais
citaremos quatro (4) por conterem relações
metonímicas, que é a proposta do nosso
trabalho. 1- “Tô de olho
nesses olhos
azuis”. Nesta frase há uso de linguagem
coloquial pois
se refere a um
ambiente
informal. “Olhos
azuis’ é uma metonímia que
sugere uma relação de parte pelo todo, no caso
os olhos são
partes
integrantes
de uma mulher. 2- “Acho
que já
vi esse par
de olhos verdes
em algum
lugar. Felipe (no
balcão)”.
Mais uma vez
há metonímia, com
relação de contiguidade entre parte pelo todo, “par de olhos verdes” refere à uma mulher
com olhos
verdes. 3- “Oi.
Qual o telefone
desses olhos cor
de mel? Beto” Há uma
metonímia
com relação
de parte pelo
todo, onde
olhos cor
de mel refere-se à uma mulher. 4- “Eu sabia que
gatinhas angorás de
olho
cinza só
saem à noite. Rogério” Temos nesse caso uma metáfora,
onde “gatinhas
angorás
de olhos cinza”
é uma comparação implícita, com relação de
similaridade entre o termo “gatinhas” e as mulheres.
7 – A Varig lançou o
serviço
de entrega de
encomendas
e anunciou, na Revista Veja em 19 de Dezembro
de 2001, uma propagando que continha o texto Agora você não precisa mais pedir ajuda para sua encomenda chegar na hora. Chegou Velog. Sua
encomenda voando Varig. Há uma
relação metafórica em “voando Varig”, pois
Varig sugere a rapidez da entrega da encomenda
através de um
dos meios de
transporte
mais rápidos,
o avião. Se nos
atermos a relação de marca pelo objeto, no caso,
nome da empresa
pelo avião,
teremos uma relação metonímica.
8 – A “Nossa
Caixa” do Estado
de São Paulo
vinculou um
anúncio, na Revista Veja,
26 de setembro de 2001,com
o seguinte texto:
Deixe sua
vida mais
colorida. É primavera na Nossa caixa” O termo “colorida” está metaforizado com sentido de mais alegre, mais feliz. O mesmo acontece com
o termo “primavera”
que , no texto,
tem sentido de
alegria
proporcionada pelas flores e, ao mesmo tempo,
significa prévia dos lucros, pois as flores precedem os frutos
na colheita, e o banco
Nossa Caixa deseja que seus clientes
poupem para mais
tarde verem os
lucros
dos investimentos.
9 – No Jornal O Globo, 9 de dezembro
de 2001- caderno de
Economia
p. 41, o carro Audi foi exposto numa propaganda
com o texto
: “Se tem que ficar
preso no
trânsito, exija uma cela
especial.” Os termos “preso”
e “cela” são
metáforas significando respectivamente, parado e o
carro
anunciado, que oferece muito conforto.
10 – A propaganda do
Red Bull com o
texto: “Crise de
energia? Red Bull te dá
aaasas.” foi anunciado na Revista
Veja, 23 de maio de 2001. Temos aí
a contextualização com a problemática da crise
de energia do Brasil, porém o anúncio
refere-se à falta de energia física,
pois a bebida
anunciada é um composto
energético. No texto, “Red Bull” é uma metonímia de nome do produto pela bebida anunciada e “te
dá aaasas” é uma métafora de alegria, liberdade, força
o que está intrinsecamente ligado ao conteúdo do produto
que é energético.
11 – A Revista Veja,
1º de agosto de 2001, vinculou
a propaganda do cartão “Membership Rewards” em
uma parceria com
a TAM (empresa aérea)
com o texto:
Se viajar já
deixa qualquer
um de alto-astral,
viajar sem pagar a passagem vai deixar você nas nuvens.” O termo
“nas nuvens” está metaforizado com sentido de deixar o consumidor muito feliz e satisfeito, pois são oferecidas
passagens
de avião num programa de recompensas
pelo uso do cartão.
12 – A “Todeschini” na Revista
Veja Rio, 12 de setembro
de 2001. Apresentou seus produtos, móveis
de quarto e cozinha,
com o texto:
Todeschini O coração da casa. O termo
“coração” está metaforizado com sentido de parte mais importante, pois o coração, além
do cérebro, é o
que
dá vida ao corpo.
No anúncio os
produtos
Todeschini têm o intuito
de deixar a casa
mais bonita,
com mais
vida.
13 – O Vinho “Vini
Portugal” anunciou, na Revista Veja Rio, 19 de dezembro
de 2001, o seu
produto
com o texto:
Suave, cheiroso
e gostoso. Estamos falando do
vinho
Junto ao texto,
aparece a imagem do
rosto
de um rapaz.
Associado à
imagem, as palavras “cheiroso
e gostoso” ficam metaforizadas, dando um duplo sentido, referindo na primeira
leitura ao rapaz,
caracterizando-o, e também ao vinho português, que é o produto
anunciado.
14 – A revista “Arquitetura e Construção”
colocou um
anúncio
na Revista Veja Rio,
2 de junho de 2001,
com
o texto: A
revista
que dá mãos
a sua obra.
O termo “dá mãos”
é uma metonímia com
relação de
concreto
pelo abstrato,
no sentido de oferecer
ajuda e idéias
inovadoras.
15 – A “Bigfral” anunciou seu
produto na
revista
Veja, 21 de novembro de 2001, com o texto:
Bigfral Plus você só troca por
Bigfral Plus. Bigfral constitui uma metonímia com relação de nome do produto
pelo produto,
no caso do
anúncio,
nome do produto,
Bigfral Plus, pelo produto,
a fralda.
16 – A revista Veja,
26 de setembro de 2001, vinculou a propaganda do atum
“Pescador” com
o texto: Nada
mais saudável
do que o mar.
Atum é gostoso.
É Pescador. Os
termos
“mar” e “Pescador”
exercem relação metonímica. “Mar” possui uma relação
de todo pela
parte, no caso
do anúncio, o mar
pelo o que ele possui, o atum.
“Pescador” tem uma
relação
de produtor pelo
produto, ou
seja, nome da
fábrica, “Pescador”,
pelo
que ela
oferece, o atum.
17 – A IG, internet grátis, vinculou na Revista
Veja, 3 de outubro de 2001, um anúncio com o texto:
No 2º lugar
em
audiência, o iG está se achando
um
gato. Junto
ao texto aparece a
figura
de um gato
branco. “Gato”
está metaforizado com sentido de esperto,
pois apesar
do 2º lugar, ainda exerce grande
influência entre
os usuários da
internet.
18 – Na revista
Veja, 3 de outubro de 2001 foi anunciado
a propaganda da Band-Aid
com o texto:
O lado ruim
da vida é que
os momentos mais
gostosos passam
rápido. O lado
bom
é que os esfolados
também. O anúncio é
formado a partir
de um paralelismo
comparando o lado
bom
e o ruim. A
palavra
“esfolados” é metáfora de momentos ruins,
dolorosos.
19 – A “Itautec” junto
a “Intel inside” anunciou na Revista
Veja, 28 de novembro de 2001., o computador “Transglobe” com
o texto: Desta
torre
, você comanda
o seu futuro.
A palavra “torre”
é uma metonímia com
relação de parte
pelo todo, pois como sabemos, a torre refere-se ao HD que
é o local onde
são processados
todos
os programas e
onde
ficam os arquivos,
com
isso a torre
do computador,
que
é a parte mais
importante, é usado
para
referir-se a todo o
computador
composto pela
tela, teclado,
etc.
20 – Na revista
veja, 28 de novembro de 2001. O Jornal do Brasil vinculou um
anúncio com
o texto:
Melhor a gente
dando furos
do que você.
“Furos” é uma
metáfora
com relação
de similaridade, com sentido de cometer um erro, uma
gafe.
Como
podemos perceber, a linguagem figurada
enriquece o texto
publicitário, provocando reflexões,
fazendo comparações, produzindo uma imagem mental que despertam o
interesse do consumidor.
Muitas das vezes, a
metáfora
e metonímia são
tão usadas e
comuns
que o leitor
não se dá conta
do recurso usado. A comparação implícita já
está tão enraizada
que
passa
desapercebida, sendo facilmente identificadas as mudanças
semânticas
da palavra.
Conclusão
A Língua Portuguesa
possui recursos
ricos
no que consiste as variações lingüísticas, que
são determinadas pelo
meio em
que é utilizada.
Junto
a isso, estão as
palavras,
com seus
aspectos
expressivos
semânticos e morfológicos, que desenvolvem variados
sentidos, estando intimamente ligadas com o contexto em que são usadas.
Como
vimos a linguagem
figurada é
largamente
utilizada tanto
nos
textos literários,
como na linguagem
coloquial. A
metáfora
e a metonímia constituem um
recurso importantíssimo na comparação implícita entre
termos e na
criação
de imagens
mentais. A linguagem
publicitária
utiliza os recursos metafóricos e
metonímicos para chamar a
atenção do
receptor–consumidor, com
intuito de divertir,
fazer refletir e principalmente de persuadir.
Enfim,
a língua, que é um instrumento social,
vive em constante
mudança, acompanhando o desenvolvimento da sociedade
que a utiliza
como
meio de
comunicação. A publicidade,
assim
como os demais
usuários da
Língua
Portuguesa, utiliza as alterações semânticas
das palavras para
se comunicarem, tirando delas novos valores expressivos.
BIBLIOGRAFIA
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texto
na sala de aula
. 3ª ed. São
Paulo : Ática, 2001.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática
portuguesa. 37ª ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A Coerência Textual
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MARQUES, Maria
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Rio de
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: Cifefil, 2000
ULLMANN, S. Semântica: uma
introdução
à ciência do
significado. 4ª ed. Trad. J.ª Osório
Mateus. Lisboa : Calouste Gulbenkian, 1977.
Composição
por Prefixação
ou
Derivação
prefixal?
SUMÁRIO
Flavia Maia Bomfim
1. INTRODUÇÃO
Esse presente trabalho está ligado ao processo de formação
de palavras na
Língua
Portuguesa e vem com o objetivo de discutir um problema que, por muitas
vezes, passa
despercebido pelas nossas
gramáticas: será a prefixação
um
processo de composição
ou de derivação.
Quando abordado esta
questão
não aparece
sempre
na mesma seção
nas gramáticas
atuais, umas vezes aparece
na parte da Morfologia,
outras vezes, na
Etimologia. Na Morfologia,
por
uma questão mais
clara, por
se tratar do estudo
da forma das palavras
e convencionalmente é aí que se
reflete a estrutura e os processos de formação
de palavras. Na
Etimologia,
por ser aí que se
explica a origem dos termos, pois o maior problema
na questão a se tratar
é considerar ou
não o vocábulo
autônomo (e
primitivo) na língua
vernácula.
Para se fazer
essa reflexão, procuraram-se os dados em gramáticas tanto
de Ensino Médio,
para saber o que se passa
aos alunos, como
de autores
conceituados
estudados em
faculdades. Comparamos as duas visões
e percebemos as polêmicas
que
vamos tentar aqui
não esclarecê-las,
mas
refletir sobre
elas:
A fundamentação,
de raízes históricas, esteava-se no fato
de os prefixos serem antigos advérbios
e preposições latinas e constituírem formas gramaticais
autônomas. Numa terminologia mais recente,
dir-se-ia
que os prefixos
são antigas forma
livres que,
por um
processo de gramaticalização, tornaram-se formas presas em português.
(CAVALIERE, Ricardo Savola. Fonologia e
Morfologia
na gramática científica
brasileira.
Niterói: EdUFF, 2000., p. 308)
Vejamos outra opinião:
Mas
os prefixos são, na maior parte, preposições
e advérbios, isto
é, vocábulos de
existência
independente, combináveis com
outras palavras. equivale isto a dizer que não está bem demarcada a fronteira
entre a derivação
prefixal e a composição .(SAID
ALI.
Gramática Histórica
da língua portuguesa, 3a.
ed. São Paulo, Melhoramentos, 1964, p. 229)
DESENVOLVIMENTO
O
que
é a prefixação?
Generalizando, prefixação
é o processo pelo qual uma palavra
nova é criada
á partir de outra
já existente na
língua,
através de um
elemento colocado
antes
do radical. Esse
elemento que
se junta ao
radical
para formar novas palavras
é chamado de afixo,
mais
especificamente, um
prefixo,
que é o afixo
que se agrega
antes
do radical. Esses
afixos são
capazes de mudar
o sentido do
radical
a que são
anexados. Podemos observar
isso
com a palavra
leal, acrescentando-lhe o prefixo latino
de negação des-, teremos uma
nova palavra desleal,
o que muda
completamente o
significado.
Outro exemplo
seria com a
palavra
portar, que
significa locomover algo de um lugar para outro, com o acréscimo
do prefixo latino
ex-, a nova
idéia que
surge é algo que
se soma a idéia
anterior: exportar
é locomover algo de
dentro
para fora, enquanto que se
usássemos o prefixo in-, seria o
contrário, importar, seria carregar algo de fora para dentro. Sem contar que neste último exemplo, a idéia
de “portar” já
migrou para a de “comprar
de fora” (quando
for “importar”) e “vender
para fora” (quando for “exportar”). O prefixo muito raramente pode fazer a nova palavra que surge assumir uma classe gramatical diferente da palavra
de origem, mas
pode acontecer, como
por exemplo,
a palavra
inflação,
que seria um
substantivo, formar
uma nova palavra
com o prefixo
anti-, porém, essa
nova palavra, assumiria
um papel
de adjetivo dependendo do
contexto,
como é o caso
de “pacto antiinflação”.
Outro
exemplo, com
o substantivo
bairro, a partir da
prefixação
poderia vir em
forma
de adjetivo: “transporte
interbairros”.
O prefixo, algumas vezes, poderá preceder a outro prefixo, como no exemplo:
desajustar (des+a+justo+ar). Alguns
gramáticos não
concordam com essa afirmação pois acham mais viável afirmar que o prefixo
des- antecede o radical
-ajust- e o a- só seria prefixo na palavra
ajustar, onde,
na verdade, funcionaria como
“circunfixo”, na derivação
parassintética.
Os prefixos poderão assumir várias funções:
advérbio (anônimo,
de negação); preposição
(contrapor, de
oposição); numeral
(bisneto, de duplicidade).
Vêm ocorrendo com muita freqüência,
na língua portuguesa, atualmente casos
de migrações, quando preposições e advérbios
estão sendo usados como prefixos. Por exemplo, a preposição
sem, nos
casos: sem-amor,
sem-terra, sem-teto, sem-fim,
sem-vergonha, sem-família. Ocorrendo
também com
os advérbios
não
e quase: não-alinhado,
não-euclidiano, não-violência, não-engajamento, não-essencial, não-ficção,
não-metal, não-participante; quase-delito, quase-equilíbrio, quase-posse,
quase-suicida. Isso ocorre com a finalidade
de dinamizar a língua
por parte
do falante, tornando a comunicação mais
rápida e
eficiente,
só tendo cuidado
com alguns
equívocos, como,
por exemplo,
saber que
não-socialista é diferente
de anti-socialista.
Um caso interessante é o do “pseudoprefixos”, quando alguns radicais de origem
grega passaram a ter
uma significação especial em português. O radical grego auto que
parece em automóvel
(= que se move por
si) passou, com
a redução dessa palavra, a ter significação própria
(auto=veículo)
e é com esse
significado que
entra na formação de novas palavras,
como auto-estrada,
auto-escola,
autopeça, etc. O mesmo
fenômeno
pode ser observado
com o radical
tele, que
veio
a se aplicar a tudo
o que se refere a
televisão
e, nesse sentido, passou a entrar na formação de
novas palavras,
como telenovela,
telecurso,
telejornal.
Nesse trabalho, queremos, no entanto, analisar de qual processo de formação de palavras
a prefixação faz
parte: a derivação
ou
a composição. Vejamos um de cada.
O
que
é a derivação?
Segundo os gramáticos, em geral, é o processo pelo qual palavras novas
(derivadas) são criadas a
partir
de outras já existentes (primitivas).
Vemos então que
há uma relação bem
próxima ao que
vimos na prefixação. Porém, comecemos por
ver o que
seria a palavra
primitiva.
Segundo Ernani Terra,
“são aquelas que,
na língua portuguesa, não provêm de outra”,
por exemplo,
casa,
pedra,
flor, sombra,
árvore, região.
As derivadas desses exemplos seriam:
casinha, pedreira,
florista,
sombreiro,
arvoredo,
regional. Já se
convencionou tratar
a prefixação por
derivação. Vejamos o que nos diz Rocha Lima sobre o caso:
Os prefixos, porque correspondam, em
regra, a
preposições
ou a advérbios,
têm um sentido
mais ou
menos preciso,
com o qual
modificam o sentido da palavra primitiva:
pôr – transpor; feliz – infeliz; leal – desleal.
Tal norma
se verifica na maioria dos casos, mas isto não quer dizer que ocorra universal e
obrigatoriamente. Em
exceder, preceder,
não
entra a idéia de
ceder, nem
se sente com
clareza
a significação dos prefixos ex, pro
e pre. Por outro lado, nem sempre palavras derivadas se relacionam
com
palavras primitivas
que
tenham existência
autônoma
em português;
muitas vezes, a
um
elemento vocabular herdado do latim ou do grego se apõe uma série
de prefixos com
os quais se formam
numerosos
derivados. (ROCHA
LIMA. Gramática
normativa. 35a. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998. P. 201).
Daí resulta a polêmica.
Poderá a palavra
entreabrir ser
derivação? Não
estaria ela muito
mais propensa
a composição? Vejamos então o que
seria a composição.
O que
é a composição?
Em termos gerais, é
o processo pelo qual a formação
de palavras se dá
pela
união de dois ou mais radicais, formando uma nova
palavra, por
exemplo, amor
+ perfeito: amor-perfeito. Quando os radicais
não são
formas livres
na língua, o composto
é chamado de erudito:
democracia,
filosofia.
Então, são duas palavras
simples, primitivas
que
se juntam, formando uma só palavras. Novamente,
deparamo-nos com o
problema
da palavra
primitiva. Poderíamos realmente
incluir
como compostos
os radicais combinados ainda em latim? No ponto de vista diacrônico,
a resposta seria
sim,
pois esses processos não são ignorados mesmo
depois da língua
morrer. No ponto de vista sincrônico, a resposta
seria não, pois
os mecanismos que
levaram à união já
perderam sua significação enquanto termos
isolados. Exemplo:
vinagre
funcionaria como
primitivo
autêntico, e não
vinho +
acre.
Isso se estende a
vocábulos
formados no português arcaico,
como fidalgo,
que teria perdido o
seu
sentido de
filho + de + algo.
Composição por
justaposição
Quando os
elementos constituintes têm acento
tônico individual
ou a composição
sem alteração
fonológica
dos membros:
couve-flor.
Composição
por aglutinação
Quando as formas unidas têm apenas
um acento
tônico ou
a composição
em que há alteração dos elementos
constituintes:
planalto.
Algumas
correntes
dão aos compostos
significados
gramaticais:
– coordenação ou concordância:
onde haveria um
determinante e um
determinado.
Exemplos: amor-perfeito,
livre-pensador,
fogo-fátuo,
papel-moeda.
– subordinação ou dependência:
onde faz-se necessário
um sintagma
que lhe
explique o sentido.
Exemplos:
terremoto
(movimento da terra);
beira-mar
(beira do mar);
cosmografia (descrição
do mundo).
– compostos
de frases verbais:
compõe-se de verbo e de outro termo, ou complemento ou adjunto. Exemplos: beija-flor, bota-fora, busca-pé, guarda-roupa.
Alguns autores afirmam que
em alguns
casos de
compostos, há elipse
vocabular, como, por exemplo, em couve-flor, que
na verdade, seria couve-que-tem-o-formato-de-flor,
sobre
isso assim
se colocar o autor
Said Ali:
Logo
que o espírito reúne em
uma só idéia
duas noções até
então separadas, todas as sortes de reduções ou
de petrificações do
primeiro
termo se tornam
possíveis.
Mas são
fatos acessórios,
cuja presença
ou ausência
em nada
alteram a essência das cousas. A
verdadeira composição tem seu critério no
espírito. (ALI,
1971 a, p. 259).
Há
correntes
que indicam a
natureza
da composição sendo
apenas
de âmbito morfológico, porém, ela
orbita muita mais
o psicológico, já
que é o resultado
da função
semântica
configurando uma diferenciação entre os termos
fundidos. Dois termos
se unem, perdendo seu conceito original
e formando um
terceiro.
Além disso, seria
apenas
uma locução, ou
composição em
curso. Exemplos:
dona-de-casa e pôr-do-sol. Alguns gramáticos, porém,
já os consideram
como
compostos e, mais,
ainda incluem aí
as locuções adverbiais e prepositivas.
A par
daqueles exemplos que
satisfazem a todos os requisitos, mostrando consumada
por completo
a fusão semântica,
ocorrem naturalmente combinações que
se acham ou parecem achar-se na fase de transição, isto é, em via de se tornarem palavras
compostas. Dificultam sobremodo a análise não
sendo de admirar que
a seu respeito
reine desacordo
entre
lingüistas, classificando uns como verdadeiras palavras
compostas o que a
outros
se afigura como
meros
grupos sintáticos
do tipo comum.
(ALI, 1971 a, p. 258).
Conclusão
Composto
por prefixação ou derivação prefixal?
Até
a década de 50, havia 3 modalidades de composição:
por justaposição;
por aglutinação;
por
prefixação. Na
língua
latina, os
advérbios
eram formas
gramaticais
livres, que
tornaram-se presas
em
português. alguns
mantiveram o grau de autonomia. Exemplo,
um grande
número de
preposições:
contra, de, extra,
semi, supra, ultra (contrapor,
entreabrir). Mas,
hoje
em dia,
a maioria dos
prefixos
de origem latina
e grega não
podem ser usados como
forma autônoma.
Exemplo: desigual,
rever.
Há
prefixos
que funcionam
como
verdadeiros radicais, cheios de conteúdo
significativo, podendo até
ser usados isoladamente. Por
exemplo, o
prefixo
vice-, que
sempre terá de vir
isolado por hífen.
Porém, em
alguns casos,
ele se configura
até
mesmo sozinho
na frase, exemplo:
“O Vasco sempre
é somente vice.”
Não se faz necessário
o complemento.
Por
ser tão autônomo, faz-nos pensar em composição e
não derivação
o caso de “vice-campeão”, “vice-reitor”,
“vice-cônsul”.
Da
mesma
maneira além-, aquém-, recém-, ex-,
pró-, pré- são
prefixos
inteiramente
autônomos, usados muitas vezes como formas livres.
Veja os exemplos
em
frases: “Não
pôde ir além
das primeiras casa
da cidade.”; “O
meu
chalé está
aquém da serra”; “Aquela é minha
ex.”; “Esses
são os prós
e os contras da questão.”; “Preciso estudar para o vestibular, por isso, entrei
para o pré.” Está
claro que
em alguns
desses casos, a
palavra
que seguiria
esses
prefixos está subentendido, como em “pré-vestibular”, mas não se pode
negar a força
de expressão que
está no uso isolado desses termos.
Vejamos
outro
exemplo, o caso
dos prefixos mal- e bem- que isoladamente são
advérbios o que
seria suficiente para
os configurarmos numa composição no caso de “mal-assombrado’,
“mal-educado”, “bem-educado”, e não como derivação.
Veja o
que
nos diz Celso
Cunha sobre
o assunto:
Os prefixos são mais independentes que
os sufixos, pois
se autônoma
na língua. A
rigor, poderíamos, até discernir as formações em que entram prefixos
que são
meras partículas,
sem
existência
própria
no idioma (como
dis- em
dispor, re- em
reter), daquelas de
que participam elementos
prefixais que costumam
funcionar
também como
palavras
independentes
(assim: contra- e,
contrapor, entre- em
entreter). No primeiro
caso
haveria derivação; no segundo, seria justo
falar-se em
composição.
Mas nem
sempre é fácil
estabelecer tal
diferença, razão
por que
preferimos considerar a formação de palavras
mediante o
emprego
de prefixos um
tipo de derivação
– a derivação prefixal. (Ali, 1971a, p. 259).
Percebemos
então
ao fim de nossa
pesquisa que
a prefixação é um
processo que talvez pudesse se enquadrar
em ambos
os casos de
derivação
e composição, resguardados seus devidos caracteres, pois há casos que melhor se enquadram como
derivação por
prefixação (infeliz,
desleal, reler,
inativo, desfazer,
perfurar, desamor,
remoçar), e outros
que melhor
se encaixariam em
composição
por prefixação,
devido a
autonomia
semântica de suas
partes (preconceito,
pronome,
ultra-som, vice-presidente, antebraço, pós-guerra, contra-revolução,
ex-aluno, extra-oficial, hiperácido. Veja
o que diz Bechara sobre o assunto:
Os prefixos
assumem valor
semântico
que empresta ao
radical
um novo significado, patenteando, assim,
a sua natureza
de elemento mórfico de significação externa subsidiária.
Baseados nisto, a
gramática
antiga e vários
autores modernos
fazem da prefixação
um
processo de composição
de palavras. (BECHARA, Evanildo.
Moderna Gramática Portuguesa. 37a. ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2001, p. 357).
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática
portuguesa. 31a. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro
: Lucerna, 2001.
ROCHA
LIMA, Carlos Henrique da.
Gramática normativa da língua
portuguesa. 35a. ed. Rio
de Janeiro : J. Olympio,
1998.
TERRA,
Ernani & NICOLA, José de. Gramática,
Literatura e Redação para o ensino médio.
São Paulo
: Scipione, 1997.
CEREJA,
William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagem:
literatura, produção de texto e gramática, volume III. 3a. ed. rev. e ampl.. São Paulo : Atual, 1999.
CAVALIERE, Ricardo Stavola. Fonologia e
Morfologia
na gramática científica
brasileira.
Niterói
: EdUFF, 2000.
CUNHA,
Celso Ferreira
da. Gramática da
Língua
portuguesa. 5a. ed. Rio
de Janeiro : Fename, 1979.
KEHDI, Valter.
Formação de palavras
em português.
2a. ed. Rio de Janeiro : Ática, 2001.
KEHDI, Valter.
Morfemas do português. 3a.
ed. Rio de Janeiro : Ática, 2001.
INFANTE,
Ulisses. Curso de
gramática
aplicada aos textos. São Paulo :
Scipione, 2001.
INDIANISMOS EM
IRACEMA
SUMÁRIO
Luciana Barbosa Duarte
INTRODUÇÃO
Este
trabalho
visa apontar
e elucidar os indianismos do
romance
Iracema, de José de Alencar. Este foi um grande romancista,
o autor mais
importante do
Romantismo, a nosso
ver.
Sabe-se que o Romantismo foi o primeiro movimento literário
após a Independência do
Brasil, e, por
este
motivo, apresenta
um
forte traço
nacionalista. Uma das formas de Alencar expressar tal traço romântico é por
meio da linguagem.
O índio, nesse contexto, é o ser “puramente nacional”,
e a sua língua
representa a língua
nacional. Alencar foi um
mestre
na incorporação do “falar
brasileiro” na literatura,
alguns até
o criticaram por
isto.
Podemos comprovar o fato descrito anteriormente
de forma clara
em sua
obra. Senhora
e Lucíola podem ser representantes do linguajar da corte; O
Sertanejo, do interior;
e O guarani, Iracema, etc.
o falar
indígena. Sendo
este
o que vamos tratar
neste trabalho, como
já mencionado.
Para tal,
faremos um levantamento
das palavras
indígenas
encontradas em Iracema,
verificaremos seu significado e posteriormente
serão expostos
exemplos de
frases
com tais
palavras e onde
se encontram no livro.
PALAVRAS INDÍGENAS
DE IRACEMA
ABAETÉ
– sm Homem verdadeiro, de palavra,
honrado. EX: O ABAETÉ derrubou a fronte
aos peitos, e não
falou mais, nem
mais se moveu. (p. 68)
ABATII
– sm milho
pequenino,
isto é, arroz.
EX: “- O coração de Iracema está como a ABATI n’água
do rio.” (p. 40). “- Quando
o teu
filho deixar
o seio de Iracema,
ela
morrerá, como o abati depois que deu seu fruto.” (p.
83).
ANAGÉ
– s. Gavião de rapina. Ortografia
preferível anajé. EX: “Tuas armas só chegam
até onde
mede a sombra do
teu
corpo; as armas
deles voam alto e
direto
como o ANAJÊ.” (p. 43). “O jaguar, senhor da floresta, e o ANAJÊ, senhor
das nuvens, combatem só o inimigo.”
(p. 47). “- Assim
como
o ANAJÊ cai das nuvens, assim cai o braço
guerreiro sobre
o inimigo.” (p. 73)
ANANÁS- sm. `fruto do ananaseiro` , Ananas sativus, da fam. Das broméliaceas.
Do tupi na`na. EX: “Iracema,
acendeu o fogo da hospitalidade;
e trouxe o que havia de provisões para satisfazer a fome e a
sede: trouxe o
resto
da caça, a
farinha
d’água, os frutos
silvestres, os
favos
de mel, o vinho
de caju e ANANÁS.”
(p. 20)
ANDIRA
– sm nome tupi
do morcego. EX: “É o velho herói, que cresceu na sanha,
crescendo nos
anos, é o feroz
ANDIRA que derrubou o
tacape,
núncio da próxima
luta.” (p. 25). “O
velho
ANDIRA, irmão do
pajé, entrou na cabana;”
(p. 39). “- A raiva de Irapuã é como
a ANDIRA: foge da luz e voa nas trevas.” (p. 44)
ANDIROBA – sf. Planta
da família das meliáceas. Do tupi nãni`roua (nã`ni ‘óleo,
azeite’+’roua’amargo).
EX: “Enquanto Iracema colhia na floresta a ANDIROBA,
para ungir o corpo do velho que a mão piedosa do neto
encerrou no camucim.” (p. 69)
ANGICO – s.
Árvore
de grande porte
(Piptadenia peregrina). EX: “Martim
amparou o corpo trêmulo
da virgem; ela
reclinou lânguida
sobre
o peito guerreiro,
como o tenro
pâmpano da baunilha
que
enlaça o rijo
galho
do ANGICO.” (p. 31). “Ao
romper
d’alva, Poti partiu
para
colher as sementes
de crajuru que dão a bela tinta vermelha, e a casca
do ANGICO de onde
se extrai a cor
negra
mais lustrosa.”
(p. 72)
ANHANGÁ – s. O espírito
mau, o diabo.
EX: “ – ANHANGA turbou sem dúvida o sono
de Irapuã, que o trouxe perdido ao bosque da jurema,
onde nenhum
guerreiro penetra
contra a vontade
de Araquém.” (p. 29)
APODY
– Chapada, Ceará; Rio Grande do Norte. EX: “Já meus destroçados companheiros
voltaram por mar
ãs margens do Paraíba, de onde vieram; de onde
vieram; e o chefe,
desamparado
dos seus, atravessa
agora
os vastos sertões
do APODI.” (p. 21)
ARAÇÁ – s. fruto
do Psidium, fruta
silvestre
de sabor
agradável. EX: “ A boca do
guerreiro
pousou na boca
mimosa
da virgem. Ficaram ambos
assim unidos como
dois frutos gêmeos do ARAÇÁ,
que saíram do
seio
da mesma flor.”
(p. 35)
ARACATY – s. Nome de uma localidade na margem
do Jaguaribe, no Ceará. Vento de maresia. No Vale do Amazonas designa uma variedade
de castanha ou
pinha. EX: “Era
o tempo em
que o doce
ARACATI chega do
mar, e derrama a
deliciosa
frescura pelo
árido sertão.”
(p. 26)
ARAÇÓIA – sf. Saiote de pernas usado pelas índias no Brasil. Do tupi *ara’soia.
EX: “Iracema havia tecido
para
ele o cocar
e a ARAÇÓIA, ornatos dos chefes ilustres.”
(p. 73)
ARARA – s. Ave
psitacídea, maior que o papagaio, de plumagem
multicolorida. EX: “O alto cabeço se curva
à semelhança do bico
adunco da ARARA”
(p. 71)
ARIRANHA – s. De irara-ana a
falsa irara, que
imita a irara. É a lontra dos nossos rios.
EX: “ O
pajé
riu: e seu
sorriso
sinistro reboou pelo espaço como o
regougo da ARIRANHA. (p. 39).
ATI–
sf. Gaivota. Do tupi atiati. EX: “Ë a atiati, a
garça do mar, e tu és virgem da serra, que nunca
desceu às alvas
praias
onde arrebentam as
vagas” (p. 41)
BATURITÉ – s. De ybatyra-eté. A serra por excelência, nome
de uma localidade no Ceará e de São Paulo. EX: “`Tupã
não quer que
BATURITÉ o leve
mais
à guerra, pois
tirou a força do
seu
corpo, o
movimento
do seu braço
e a luz dos seus
olhos.” (p. 67)
“BATURITÉ
tomou o bordão
de sua velhice e caminhou.” (p. 67).
“BATURITÉ estava sentado sobre uma das lapas da cascata;”
(p. 68)
CAIÇARA –
Atualmente
denominação dos
habitantes
da costa sul
do Est. De São
Paulo. De caá-içara, o
cercado de paus
a pique, defesa
da taba. EX: “Os
guerreiros
tabajaras, acorridos à taba, esperavam o inimigo
diante da CAIÇARA.”
(p. 37). “A vista de Iracema já conheceu o crânio
de seus irmãos
espetados na CAIÇARA.” (p. 62). “Durante a noite
os pitiguaras fincam na praia a forte CAIÇARA
de espinho e levantam contra ela um muro de areia, onde o raio esfria e se apaga” (p. 85)
CAIUBI
– s. A folha
azul, o anil.
De caá, folha; oby,
azul. Vars.: Caoby, cayoby, cauby. EX: “- Guerreiro branco,
espera que
CAUBI volte da caça” (p. 23). “- O guerreiro
CAUBI vai chegar à taba
de seus irmãos.”
(p. 31). “Já partiu CAUBI
para
a grande taba;”
(p. 41). “A porta entretercida dos talos da carnaúba
foi aberta por
fora. CAUBI entrou.” (p. 45). “Ressoa perto o estúpido
dos guerreiros; travam-se as vozes iradas de Irapuã e CAUBI” (p. 46)
CAJU – s De acayu – A fruta amarela, fruta ácida muito usada para refrescos. EX: “Iracema, acendeu o fogo da hospitalidade;
e trouxe o que havia de provisões para satisfazer a fome e a
sede: trouxe o
resto
da caça, a
farinha
d’água, os frutos
silvestres, os
favos
de mel, o vinho
de CAJU e ananás.”
(p. 20). “Depois
que
partiram do Soipé, os viajantes
atravessaram o rio Taíba, em
cujas margens vagavam bandos de porcos-de-mato; mais
longe corria o Cauípe, onde se fabricava excelente
vinho de CAJU.”
(p. 64). “De passagem ele colhia os doces
CAJUS, que
aplacam a sede
nos
guerreiros, e aspanhava conchas mimosas para ornar seu colo.” (p. 65)
CAMUCI
– s. o mesmo que cambuci.
CAMBUCI- Vars.: CAMUCIM, camotim, camoti. Pote, utensílio
para água feito de casca
deste fruto. De caá-mbocy, a
fruta de duas partes. EX: “ (...) rara
é a cabana onde
já não
rugiu contra ele
o grito da vingança, porque cada golpe do válido
tacape deitou um
guerreiro
tabajara
em seu
CAMUCIM.” (p. 42). “Três sóis havia que Martim e Iracema estavam nas
terras
dos pitiguaras, senhores, senhores das margens
do CAMUCIM e Acaracu.” (p. 61) . “O mar
entrando por ele,
formava uma bacia
cheia
de água
cristalina, e cavada na
pedra
como um
CAMUCIM.” (p. 65). “Enquanto Iracema colhia na
floresta
a andiroba, para
ungir o corpo
do velho que
a mão piedosa
do neto encerrou no CAMUCIM.” (p. 69).
CAPIVARA – sf. Veja capibara
CAPIBARA – sf. Capivara, animal semelhante
ao porco e que
se alimenta de
capim. De capii, capim,
erva, urara, comedor. EX: “Os
guerreiros
chegaram aonde a
serra
quebrava para o sertão:
já tinham passado
aquela parte da
montanha,
que por
ser despida
de arvoredo e tosquiada como a CAPIVARA,
a gente de Tupã
chamava Ibiapina.” (p. 60).
CARIMÃ – sm. Bolo feito de mandioca
fermentada. De quirin- mã.. EX: “Ela dissolveu a alva
CARIMÃ e preparou ao fogo o mingau para nutrir o filho” (p. 89)
CARIOBA – s. De cari + oba; camisa usada pelos
índios. EX: “Quando
Iracema foi de volta, já o pajé não estava na cabana;
tirou a virgem do seio
o vaso que
ali trazia
oculto
sob a CARIOBA de
algodão
entretecida de penas.” (p. 51).
“Caminhava
para eles com o passo altivo da garça
que passeia
à beira d’água:
por cima
da CARIOBA trazia uma cintura das flores da maniva,
que era
o símbolo da
fecundidade.” (p. 71)
CARNAUBA – sf. O mesmo
que
carnayba, nome
de uma palmeira da
qual
se extrai a cera
dita
de carnaúba. EX: “Verdes
mares bravios
de minha terra
natal, onde
canta a jandaia
nas frondes da
CARNAÚBA.” (p. 17). “O ancião
fumava à porta sentado na esteira
da CARNAÚBA, meditando os sagrados ritos
de Tupã.” (p. 20). “Iracema dobrou a
cabeça sobre a espádua,
como a tenra
palma da CARNAÚBA,
quando a chuva
peneira na várzea.”
(p. 26). “No meio da cabana, entre
as redes armadas
em quadro,
estendeu Iracema a esteira de CARNAÚBA”
(p. 41). A porta entretercida dos talos da CARNAÚBA
foi aberta por
fora.” (p. 45).
CAUIM – Vinho
feito
de milho fermentado. EX: “ – Andira, o velho Andira, bebeu mais
sangue na guerra
do que já
beberam CAUIM nas festas
de Tupã, todos
quantos
guerreiros
alumia agora a
luz
de seus olhos.”
(p. 25). “ O CAUIM perturbou o
espírito
dos guerreiros;
eles
vêm contra o
estrangeiro.” (p. 45). “Os guerreiros tabajaras, excitados com
as copiosas libações do
espumante
CAUIM, se inflamam à voz
de Irapuã que tantas vezes os guiou ao combate,
quantas à vitória.” (p. 46). “O
chefe
pitiguara pensava que o amor é como o CAUIM, o qual bebido com moderação, fortalece o
guerreiro, e tomado em
excesso,
abate a coragem
do herói.” (p. 56).
CEARÁ
– s . De Ciara :Canto
da jandaia que
é uma casta de
papagaios
pequenos e
grasnador. EX: “E foi assim
que
um dia
veio a chamar-se CEARÁ o
rio
onde crescia o coqueiro,
e os campos onde
serpeja o rio.” (p. 93). “O
cajueiro floresceu quatro vezes depois que
Martim partiu das praias do CEARÁ,
levando no frágil barco
o filho e o cão
fiel.” (p. 93). “A mairi que Martim erguera à margem
do rio, nas praias
do CEARÁ, medrou.” (p. 94).
COLIBRI – s.
beija-flor. É de origem
galibi da região caribe. EX: “- Teu
hóspede fica, a virgem
dos olhos negros:
ele fica pra
ver abrir em tuas faces a
flor da alegria,
e para sorver, como o COLIBRI,
o mel de teus
lábios.” (p. 31). “ A
voz
maviosa, débil
como sussurro
de COLIBRI, murmura. “ (p. 43). “Como o COLIBRI
borboleteando entre as flores da acácia,
ela discorria as amenas campinas.” (p.
70).
CONDOR – s. A águia
dos Andes. Do quéchua kuntur. EX: “O cabo sombranceiro parece a
cabeça
calva do CONDOR,
esperando ali a
borrasca,
que vem dos
confins
do oceano.” (p. 65)
COPAÍBA- sf. De cupa-yba, a árvore de depósito
ou que
tem jazida;
alusão
ã capacidade que
possui o tronco desta árvore de guardar, no seu interior, abundância de óleo balsâmico, medicinal,
precioso, para cuja extração, em época própria, a dos grandes
calores se procede
como
se o tronco fosse
um
barril, praticando-se-lhe um pequeno furo, a certa altura, para a introdução do ar
e, sangrando-se a árvore, que dá de si, sem mais trabalho, o óleo que
tiver. EX: “Ai da esposa!... Sentiu
já o golpe
no coração e como
a COPAÍBA ferida
no âmago, destila as lágrimas
em fio.”
(p. 81)
COPE-
Na roça. De cô
roça, pe em. EX: “
(...)talvez um
dia COPE a verde
folhagem e enflore.” (p. 80)
COPIM-
s. Mais
correntemente
cupim, formigueiro
que se ergue em
forma cônica
nas terras pouco
produtivas. A forma original
é coii, a formiga
branca. Aplicou-se o nome de cupim ao caruncho da madeira.
EX: “ (...)é como o
outeiro
que abriga
do vendaval o
tronco
forte e robusto
do ubiratã, quando o
cupim
lhe broca
o âmago.” (p. 92).
CUTIA-
sf. Escreve-se também cotia.
Pequeno
roedor. EX: “Martim seguiu silencioso a virgem, que fugia entre
as árvores como
a selvagem CUTIA.”
(p. 56)
EMBOABA – adj. Inimigo,
agressor, provocador. EX: “Já os EMBOABAS
estiveram no jaguaribe; logo estarão em nossos campos e com eles os potiguaras.”
(p. 24). “Celebra, Irapuã, a vinda dos emboabas e deixa
que cheguem todos
aos nossos campos.”
(p. 25).
GRAÚNA – De guira-una,
pássaro preto.
EX: “Iracema, a virgem dos
lábios
de mel, que
tinha os cabelos
mais negros
que a asa
da GRAÚNA e mais
longos que
o talhe da
palmeira.” (p. 18)
GUARACIABA
– sf. Loura, de cabelos
cor
do sol. EX: “O
sol
já nasceu; os
guerreiros
GUARACIABAS e os tupinambás, seus amigos,
correm sobre as
ondas
das ligeiras pirogas e pojam na praia.” (p. 84) . “Nessa hora
em que
o canto guerreiro
dos pitiguaras celebrava a derrota dos
GUARACIABAS, o primeiro filho
que o sangue
da raça branca,
gerou nessa terra da
liberdade,
via a luz nos campos da Porangaba.” (p. 85). “Vencidos os GUARACIABAS, na baía dos papagaios, o
guerreiro cristão
quis partir para as margens do Mearim, onde
habitava o bárbaro
aliado
dos tupinambás.” (p. 91)
IBIAPABA- s. A chapada, o
planalto.
Serra entre
o Ceará e o Piauí. Forma
correta: Ybyapaba. EX: “O maior
chefe da nação
tabajara, Irapuã, descera do alto da serra
IBIAPABA, para levar as tribos do sertão
contra o inimigo
pitiguara.” (p. 22). “A fama do
bravo
Poti, irmão de Jacaúna subiu das ribeiras do mar
ao cimo da IBIAPABA” (p. 42). “- O
branco
tapuia está na IBIAPABA
para
ajudar os tabajaras
a combater contra
Jacaúna.” (p. 76)
IBIAPINA – s. A terra
pelada, escarvada, sem
vegetação.
Forma correta:
Ybyapaba. EX: “Os guerreiros chegaram aonde
a serra quebrava para
o sertão: já
tinham passado aquela parte da montanha,
que por
ser despida
de arvoredo e tosquiada como a capivara,
a gente de Tupã
chamava IBIAPINA.” (p. 60).
ICÓ
– v. int. Ser, estar, viver, andar. EX: “_ tua voz queima, filha de Araquém, como
o sopro que
vem dos sertões do ICÓ, no tempo dos grandes
calores.” (p. 83).
IGAÇABA – sf. De yg água e açaba, o
transporte. Urna
funerária: pote,
cântaro. EX: “- Fica tu, escondido entre
as IGAÇABAS de vinho, fica, velho morcego, porque temes a luz
do dia, e só
bebes o sangue da
vítima
que dorme” (p. 25). “Quando a virgem tornou,
trazia numa folha
gotas
de verde e
estranho
licor vazadas da
IGAÇABA,
que ela
tirara do seio da terra.”
(p. 27). “Vem Iracema com a IGAÇABA cheia
do verde licor.”
(p. 53).
IGARA
– sf. De Ygara, canoa. EX: “Ele
já
esteve no alto Mocoripe; e de lá viu correr no mar as grandes
IGARAS dos guerreiros brancos, teus inimigos, que
estão no Mearim.” (p. 65). “Nestas águas as grandes
IGARAS vêm de longes terras, se esconderiam do vento
e do mar” (p. 66). “ – A IGARA grande do
branco tapuia
passou no mar.” (p. 75). “Agora só buscas as praia
ardentes, porque
o mar que
lá murmura vem dos
campos
em que
nasceste; e o morro das areias, porque
do alto se avista a IGARA que passa.” (p.
82).
IMBU – De Y-mb-u – O
que dá de beber,
que tem água.
O mesmo que
embu, umbu,
árvore cujas raízes guardam água e matam a sede
dos viandantes. EX: “O IMBU, filho da serra se nasce na várzea porque o vento ou as aves
truxeram a semente, vinga, achando boa terra e fresca sombra;” (p. 80)
INTANHA – De Ji,
rã, tã, forte: é uma rã cujo coaxar lembra uma martelada
em bigorna.
EX: “Voltou Iracema à cabana; em meio do caminho perceberam seus
olhos as sombras
de muitos
guerreiros
que rojavam pelo
chão como
a INTANHA.” (p. 45).
INÚBIA – Trombeta
de guerra usada pelo
tupinambás do Rio de Janeiro.
EX: “- A filha de Araquém é mais forte que o chefe dos guerreiros, disse Iracema travando da INÚBIA.” (p. 29). “De repente
o ruoco som da
INÚBIA
reboou pela mata;”
(p. 37). “O chefe pitiguara está só: não deve rugir a INÚBIA que chamará contra
si todods os
guerreiros
tabajaras.” (p. 48). “Nada separa dois guerreiros amigos
quando troa a
INÚBIA
da guerra.” (p. 76). “Martim e seu irmão
haviam chegado à
taba
de Jacaúna, quando soava a INÚBIA: eles
guiaram ao combate os mil
arcos de Poti.” (p. 79).
IPÚ
– s. De I (y) água; pu, estrondo. A fonte, o olho d`água.
Pode
ser a água que sai barulhenta.
EX: “Mais rápida
que a ema
selvagem, a morena
virgem corria o sertão
e as matas do IPU,
onde
campeava sua
guerreira
tribo, da grande
nação tabajara.”
(p. 18). “Quando estiverem todos adormecidos, o guerreiro
branco deixará os
campos
de IPU, e os olhos de Iracema, mas sua alma, não.” (p.
48). “Vi os formosos campos do IPU, as encostas
da serra onde
nascera, a cabana de Araquém, e teve saudades;” (p. 79).
IRAPUÃ
– De ira-apoã – O enxu redondo, a casa
redonda das
abelhas. EX: “O maior
chefe
da nação tabajara,
IRAPUÃ, descera do alto da serra ibiapaba, para levar as tribos do sertão contra o
inimigo pitiguara.” (p. 22). “-IRAPUÃ
falou: disse.” (p. 24). “IRAPUÃ desceu de seu
ninho de águia
para seguir na várzea a garça do rio.” (p. 29). “Contra,
cem guerreiros
tabajaras com
IRAPUÃ à frente, formavam arco.” (p. 36). “Referiu Iracema
como
a cólera de IRAPUÃ se havia assanhado contra o estrangeiro,
até que
a voz de Tupã,
chamado pelo Pajé,
tinha acalmado
seu
furor.” (p. 44). “Ressoa perto o estúpido
dos guerreiros; travam-se as vozes iradas de IRAPUÃ e Caubi.” (p. 46)
ITAOCA – s. De itá-
oca
ou oga a
casa de pedra, a lapa, a
furna. EX: “crescia o número
de guerreiros
brancos,
que já
tinham levantado na ilha a
grande
ITAOCA, para despedir o raio.” (p.
91)
JAÇANÃ - s. De ya-ça-nã, o
que grita alto. EX:
“ Iracema seguindo com os olhos o esposo, divagava como a JAÇANÃ em torno do lindo seio, que ali fez a terra para
receber
o mar.” (p. 65). “ atirava-se à água, e nadava com
as garças brancas e as vermelhas JAÇANÃS.” (p. 70).
JACAÚNA – s. De ya-cã-una. Aquele que tem a
cabeça preta. A
glande
preta. Nome
de um cacique
do séc. XVI. EX: “Só eu de tantos
fiquei, porque estava entre os pitiguaras de Acaracu, na cabana do bravo
Poti, irmão de JACAÚNA, que plantou comigo
a árvore da
amizade.” (p. 21). “A fama
do bravo Poti
irmão
de JACAÚNA, subiu das ribeiras do mar ao cimo da
Ibiapaba” (p. 42). “Seu coração não
deixou que voltasse
para
avisar aos guerreiros
de sua taba:
mas despediu o
cão
fiel ao grande
JACAÚNA (p. 48). “JACAÚNA atacou Irapuã.” (p. 58). “-JACAÚNA é um grande chefe, seu colar de guerra dá três voltas ao peito.” (p. 59).
JANDAIA – s. Periquito-rei. EX: “Verdes mares bravios de minha
terra natal, onde canta a JANDAIA nas frondes
da carnaúba” (p. 17). “A gente tupi a
chamava JANDAIA,
porque
sempre alegre
estrugia os campos
com
seu campo
fremente” (p. 36). “ A JANDAIA rugira ao romper d’alva e para não tornar mais à cabana.”
(p. 51). “Fugindo, os tabajaras
arrebataram seu chefe
ao ódio da filha
de Araquém que o podia
abater,
como a JANDAIA
abate o prócero
coqueiro
roendo o cerne.” (p. 59).“ Ergueu ela os olhos e
viu entre as
folhas
da palmeira sua
linda JANDAIA,
que batia as asas,
e arrufava as penas
com
o prazer de vê-la.” (p. 79)
JATI
– s, De ya-ti que está por
tinga, branco.
Espécie de
abelhas
claras. EX: “O
favo
da JATI não era
doce como
o seu sorriso;”
(p. 18). “- A JATI fabrica o mel no tronco cheiroso
do sassafrás;” (p. 86).
JATOBÁ – sm. O
mesmo que jatay. EX: “Poti levou o
cristão aonde crescia um
frondoso JATOBÁ,
que afrontava as
árvores
do mais alto
píncaro da
serrania; “ (p. 60). “O luar passava
entre
as folhas do
JATOBÁ.” (p. 61). “Mas
Tupã
foi bom para ele, pois lhe deu um filho como o guerreiro JATOBÁ.”
(p. 67). “ – Como o
JATOBÁ
na floresta,
assim
é o guerreiro Coatiabo entre o irmão e
a esposa;” (p. 74).
JATAÍ – s. De
ya-atã-yba: a árvore
de fruto duro.
Tem a forma
de um estojo
duríssimo e dentro está o fruto semelhante
a uma pequena
banana. O mesmo
que
jatobá. É planta
medicinal da qual
a farmacopéia
brasileira
fez um elixir.
EX: “Só aplacou essa chama quando ele tocou a terra, onde dormia sua
esposa; porque
nesse instante
seu
coração transudou,
como
o tronco do JETAÍ
nos
ardentes calores,
e orvalhou sua tristeza
de lágrimas abundantes.” (p. 93)
JENIPAPO – s. De Iyanipab. Fruto que dá na
extremidade (do
galho) e oleoso. Do
suco
desta fruta extraiam os índios uma tinta
avermelhada e escura com a qual
pintavam o corpo. EX: “Batuireté estava
sentado sobre uma das lapas da cascata;
e o sol ardente
caía sobre sua
cabeça, nua de
cabelos
e cheia de rugas
como o JENIPAPO.”
(p. 68). “A filha de Araquém, foi buscar ã cabana as iguarias do festim
e os vinhos de
JENIPAPO
e mandioca.” (p. 73)
JETYCA
– s. De yetica. Batata-doce.
EX: “Pousando a criança nos braços paternos, a desventurada mãe
desfaleceu, como a JETICA se lhe arrancam o bulbo.” (p.
92)
JIBOIA
– sf. Um dos grandes ofídios
dos lugares
pantanosos
e rios do Brasil.
Pertence, cientificamente, ã família
Boidae e ao gênero
constrictor. EX: “Tua boca mente como o ronco da
JIBÓIA: exclamou Iracema.” (p. 38)
JIRAU – sm. Aparador
de utensílios culinários. Armação de madeira,
estrado para evitar a umidade.
EX: “ a
espaços
o olhar por tênue lágrimas
cai sobre o JIRAU,
onde folgam as duas
inocentes
criaturas, companheiras de seu infortúnio.”
(p. 17). “A ará, pousada no JIRAU fronteiro,
alonga para sua
formosa senhora
os verdes tristes
olhos.” (p. 35).
JOSSARA (Jussara) – v. De iossá, comichão. Arder,
despertar
comichão. EX: “Às vezes
sobre os ramos
da árvore e de lá
chama a virgem
pelo nome:
outras remexe o uru de palha matizada, onde
traz a selvagem seus
perfumes, os
alvos
fios do crautá, as
agulhas
da JUÇARA com
que tece a renda,
e as tintas de
que
matiza o algodão.” (p. 19)
JUREMA – s. De yu-r-ema –Árvore
espinhosa
muito comum
na Bahia, sobretudo, a jurema
branca. EX: “ É
ela
que guarda
o segredo da
JUREMA
e o mistério do sonho.”
(p. 22). “Era de
JUREMA
o bosque sagrado.”
(p. 27). “ – Anhanga turbou sem dúvida o sono
de Irapuã, que o trouxe perdido ao bosque da JUREMA,
onde nenhum
guerreiro penetra
contra a vontade
de Araquém.” (p. 29). “Na vida, os lábios da virgem de Tupã, amargam e doem como
o espinho da JUREMA” (p. 51)
MAIRÍ
– s. (Mairy) – T. Sampaio diz: “nome
dado pelos
tupis às cidades
e povoações dos franceses depois da conquista.
(...) Depois Mairy se generalizou,
significando cidade. EX: “Muitos
guerreiros
de sua raça
acompanharam o chefe branco
para fundar com ele a MAIRI
dos cristãos.” (p. 93). “A MAIRI que Martim erguera à margem
do rio, nas praias
do Ceará, medrou.” (p. 94)
MANACÁ – sm.
Bonita flor branca e azul de suave perfume. Quando
na época das flores
toda a pequena
árvore se transforma num ramilhete. Por isto lhe deram o nome
de mana, ramilhete,
cã, de pé, B.
Caetano difere na explicação de maneaquá
ramalhete cheiroso,
feixe cheiroso.
EX: “O MANACÁ rugiu-lhe na destra; tiniram os guizos
com o passo
hirto e lento.”
(p. 43). “O esposo viu então
como a dor
tinha consumido
seu
belo corpo;
mas a formosura
ainda morava nela,
como
na flor caída
do MANACÁ.” (p. 92).
MANDIOCA – Manioca, raíz
comestível
que foi a base
da alimentação dos
índios
o seu verdadeiro
pão. EX: “A filha
de Araquém, foi buscar ã
cabana
as iguarias do
festim
e os vinhos de
jenipapo
e MANDIOCA.” (p. 73).
MANGABA – s. fruto
da mangabeira. EX: “Iracema saiu do banho: o aljôfar
d’água ainda
a roreja, como à
doce
MANGABA que
corou amanhã de
chuva.” (p. 18)
MARACAJÁ – s. O gato, o gato do mato.
EX: “O vulto de Caubi enche o vão da porta; suas armas
guardam diante dele o espaço de um bote do MARACAJÁ. “ (p. 47)
MARACUJÁ – s. Alteração do guarani mbaracayá, propriamente,
gato. Fruto
do maracujazeiro,
planta
trepadeira que
produz primeiramente uma flor cujas tintas
lembram a cara de um
gato; depois
um fruto
arredondado, ora
verde,
ora roxo escuro cujo conteúdo, de um
leve sabor
agridoce é muito
apreciado. EX: “- Ele manda que
Iracema ande para trás,
como o goiamum, e guarde sua lembrança, como o MARACUJÁ
guarda sua
flor todo
o tempo até
morrer. “ (p. 78). “Prepara
para
o filho um
berço da macia
rama do MARACUJÁ;
e senta-se perto.” (p. 90)
MARANGUAPE – s. No vale da
batalha
ou da luta.
Nome de uma serra
e cidade do Ceará. EX: “Ä serra onde outrora estava a cabana
tomou o nome de MARANGUAPE;” (p. 69)
MATÁ
– s. De ymatá ou
mata e T. Sampaio afirma: “árvores
muitas ou árvores
abundantes, isto é, a
mata.” EX: “Quando o
sol
descambava sobre a
crista
dos montes, e a
rola
desatava do fundo da
MATA
os primeiros
arrulhos,
eles descobriram no
vale
a grande taba;”
(p. 20). “Eles
ocupavam as margens do Soipé, cobertas de MATAS,
onde os veados,
as gordas pacas e os macios jacus abundavam. “ (p. 64)
MEMBY
– s. Flauta. EX: “Ela
deve encostar o tacape da
luta para tanger o MEMBI da festa.
“ (p. 25)
MERUOCA – S. De mberú mosca; oca, casa. A casa, o local
dos mosquitos,
mosquiteiro. EX: “Passou além
da fértil
montanha, onde
a abundância dos frutos
criava grande
quantidade
de moscas, de que
lhe veio
o nome de MERUOCA.” (p. 63)
MOCORIPE – s. No rio dos mocuras, das
raposas. EX: “O chefe
tabajara
e seu povo
iam precipitar sobre
os fugitivos,
como
a vaga encapelada
que
arrebenta na MOCORIPE. “ (p. 58). “Martim subiu com
Poti ao cimo
do MOCORIPE. “ (p. 65). “ O guerreiro
arrancou das asas as longas
penas, e subindo ao MOCORIPE, rugiu a
inúbia.” (p. 72). “Poti acordou a voz
da inúbia; e os dois guerreiros partiram ambos
para o MOCORIPE.” (p. 84). “Volve o rosto para o MOCORIPE. “ (p.
86)
MOQUEM
– SM. De moca~e,
fazer seco, assar. Var. Muquem.
Espécie
de grelha, mas
feita de varas,
na qual assavam as
carnes; o assador. EX: “- Filha
de Araquém, escolhe para o
teu
hóspede o presente
da volta e
prepara
o MOQUÉM da
viagem.” (p. 33). “Iracema foi preparar
o MOQUÉM da viagem.”
(p. 34). “Entretanto Poti do alto da rocha,
fisgava o saboroso camoropim que brincava na pequena
baía do Mundaú; e preparava o
MOQUÉM
para a refeição.” (p. 63)
MUNDAÚ-
s. Bebedouro, aguada
dos ladrões. EX: “Entretanto
Poti do alto da
rocha, fisgava o saboroso
camoropim que brincava na pequena
baía do MUNDAÚ; e preparava o
moquém
para a refeição.” (p. 63).
OCA – sf. Casa.
EX: “Depois que
plantou urtiga à
porta,
para defender contra os animais
a OCA abandonada, Poti despediu-se triste daqueles sítios,
e tornou com seus
companheiros à
borda
do mar. “ (p. 69).
OITICICA - sm. De uiti e icica,
resina. O oiti
resinoso,
viscoso, grudento. EX: “Banhava-lhe o corpo a sombra
da OITICICA, mais
fresca do que
o orvalho da noite.”
(p. 18)
PACA – s. mamífero
roedor cuja
carne tem sabor
de carne de porco.
EX: “Eles ocupavam as margens do Soipé, cobertas
de matas, onde
os veados, as gordas PACAS e os macios
jacus abundavam. “ (p. 64). “Eles subiram pela
encosta da Guaiúba
por
onde as águas
descem para o vale, e
foram at’;e o córrego habitada pelas PACAS” (p. 71)
PACATUBA – s. De paca+tyba
sufixo
quantitativo. Pode ser
também pacatyba,
com o mesmo significado.
Lugar onde
há pacas. EX: “Só
havia sol no bico
da arara, quando
os caçadores desceram de PACATUBA ao tabuleiro.”
(p. 71)
PIRANHA – sf. De Pirá + ãi,
tesoura. Ao pé da letra:
peixe-tesoura,
terrível peixe
devorador, dos
rios. Atraídos sempre
pelo
odor de sangue
fresco, em
poucos minutos
um cardume
de piranhas devora
um
boi, deixando
apenas
o esqueleto. EX: “Cada
guerreiro tomba
crivado de muitas flechas, como a presa que as PIRANHAS
disputam nas águas do
lago.” (p. 85).
PIRAPORA – De pira (peixe);
pora,
lugar que
tem: lugar que
tem peixe. Lugar
abundante em
peixes. EX: “Foram seguindo o curso do rio até onde nele
entrava o ribeiro de PIRAPORA” (p. 68).
PIROGA – s. Canoa
feita
de tronco escavado, esfolado, aparelhado.
EX: “O sol já
nasceu; os guerreiros guaraciabas e os tupinambás, seus
amigos, correm
sobre
as ondas das ligeiras PIROGAS e pojam na praia.”
(p. 84). “Os inimigos embarcaram outra vez nas PIROGAS, e voltaram ao maracatim
em
busca dos grandes
e pesados trovões,
que
um homem
só, nem
dois, podem manejar.” (p.
85). “Ainda a espuma
não se apagara, e
já
a PIROGA inimiga
se afundou, parecendo que a tragara uma baleia. “ (p. 85)
PITANGA – sf. Fruto
da pitangueira
que
se qualifica pela
sua
cor vermelha;
que tem a pele,
a cutis vermelha, corada. Segundo B. Caetano era
o designativo das
crianças
de pele tenra
e corada. EX: “Alongando fagueira o colo, com o negro bico
alisou-lhe os cabelos e beliscou a boca mimosa e vermelha como a
PITANGA.” (p. 79). “Põe no
regaço
um por
um os filhos
da irara: e lhes abandonou os seios mimosos, cuja teta rubra como a PITANGA ungiu do mel
da abelha.” (p. 90)
POCEMA
– s. Grito de guerra.
V. gritar. Lemos Barbosa grafa possema. EX:
“”Troa e retroa a POCEMA da
guerra.” (p. 24). “A POCEMA dos guerreiros, troando pelo vale, o arrancou ao doce
engano: sentiu
que
já não
sonhava, mas vivia.” (p. 51). “Logo após soa a POCEMA,
estreita-se o espaço, e a luta se trava face a face.”
(p. 58). “ Soava a POCEMA da vitória.” (p. 59)
PORANGABA – adj. Beleza.
EX: “ Os guerreiros pitiguaras que apareciam por
aquelas paragens, chamavam essa lagoa PORANGABA,
ou lagoa
da beleza, porque
nela se banhava Iracema, a mais bela filha da raça de Tupã.” (p. 70). “De longe viram Iracema, que
viera esperá-los à margem de sua lagoa da PORANGABA.” (p. 71). “Nessa
hora
em que
o canto guerreiro
dos pitiguaras celebrava a derrota dos
guaraciabas, o primeiro filho
que o sangue
da raça branca,
gerou nessa terra da
liberdade,
via a luz nos campos da PORANGABA.” (p. 85)
PORAQUÊ – s. Está por
poraquê: fazer dormir, quer entorpecer. É o torpedo, peixe-elétrico
cuja descarga
adormece a mão de
quem
o apanha. EX: “O cristão
parou calcando a mão no peito para
sofrear
o coração, que
saltava como o PORAQUÊ.”
(p. 91)
POTI
–
defecar, aliviar o ventre; excremento. EX: “Só eu de tantos fiquei, porque
estava entre os pitiguaras de Acaracu, na
cabana do bravo
POTI, irmão de Jacaúna, que plantou comigo
a árvore da
amizade.” (p. 21). “A fama
do bravo POTI
irmão
de Jacaúna, subiu das ribeiras do mar ao cimo da
Ibiapaba” (p. 42). “Guerreiro POTI, teu irmão chama pela boca de Iracema.” (p. 43). “POTI chegou;” (p. 62).
“POTI acordou a voz da
inúbia.” (p. 84)
POTIGUARA – adj. Comedor de
camarão. EX: “Já os
emboabas
estiveram no jaguaribe; logo estarão em nossos campos e com eles os POTIGUARAS.”
(p. 24). Os guerreiros da grande nação que habitava as bordas
do mar, se chamavam a si mesmos
pitiguaras, senhores dos vales; mas os tabajaras, seus
inimigos, por
escárnio os apelidavam
POTIGUARAS, comedores de camarão.”
(p. 41).
SABIÁ – De soó-biá,
mavioso, cantador.
É o passaro de canto
admirável, o sabiá
também
tem a sabiá, podendo
Ter
os dois gêneros.
O povo conhece várias espécies deste pássaro
canoro: sabiá-poca, sabiá-una,
sabiá-laranjeira,
sabiá do peito
amarelo, etc. EX: “Enquanto
repousa, empluma as penas do gará as flechas de seu arco, e concerta
com o SABIÁ
da mata, pousado no galho
próximo, o canto
agreste.” (p. 18).“O SABIÁ do sertão,
mavioso cantar
da tarde, escondido nas moitas espessas da ubaia soltava
já
os prelúdios da suave
endecha. “ (p. 34). “Iracema recosta-se
langue ao punho da
rede;
seus olhos
negros e fúlgidos,
tenros
olhos de SABIÁ,
buscam o estrangeiro, e lhe entregam n’alma.”
(p. 49).
SAÍ
– sm. Nome de um pássaro do gênero Tanagra. EX: “A mesma
lua que o viu
chegar aluminou a rede
onde SAÍ, sua
esposa, lhe
deu mais um
guerreiro de seu
sangue.” (p. 61).
SAPÉ
– Gramínea de
folhas
compridas e resistentes com as quais se fazem cobertas
de casa pobres.
EX: “Mas o sono
é leve nos
olhos de Araquém,
como
o fumo do SAPÉ
no cocuruto da serra.”
(p. 33)
SAPIRANGA – sm. De eçá olho; piranga,
vermelho. Olho
vermelho, isto
é, dor d’olhos;
adj. Colérico, raivoso, ameaçador, furioso. EX: “Outra vez não era a
Jereraú que a levava sua vontade, mas do oposto lado, a SAPIRANGA, cujas águas
inflamavam os olhos
como
diziam os pajés.” (p. 70).
SAPOPEMA – De sapó,
raiz, pema esquinada, que
se projetam para fora da terra, grossas e chatas.
Var. sapopemba. Nome de figueiras, gameleiras.
EX: “Quem seus
olhos primeiro
viram, Martim, estava tranquilamente sentado em
uma SAPOPEMA, olhando o que passava ali.”
(p. 36)
SUCURI – De suú-curi, morde rápido, atira o bote.
É a serpente
aquática
Ennectes murinus. EX: “Bramiu Irapuã; o grito
rouco
troou nas arcas do
peito,
como o frêmito
da SUCURI na profundeza do rio.” (p. 38).
TABAJARA – s.m. De
taba e yara senhor,
dono, patrão,
etc.O nome da
aldeia.
Nome de uma tribo
da Paraíba do Norte. EX: “Mais
rápida que
a ema selvagem,
a morena virgem
corria o sertão e as matas do ipu, onde
campeava sua
guerreira
tribo, da grande
nação TABAJARA.”
(p. 18). “O maior chefe
da nação TABAJARA,
Irapuã, descera do alto da serra ibiapaba, para levar as tribos do sertão contra o
inimigo pitiguara.” (p. 22). “Os guerreiros TABAJARAS,
acorridos à taba, esperavam o inimigo diante
da caiçara.” (p. 37). “seu ouvido já escutou o canto
de morte dos cativos
TABAJARAS;” (p. 62). “- O branco tapuia
está na ibiapaba para ajudar
os TABAJARAS a combater
contra Jacaúna.” (p. 76).
TACAPE – s. Borduna, porrete arma de
ataque para espancar. EX: “O irado chefe
brande o TACAPE e o arremessa no meio do campo.”
(p. 24). “É o velho
herói,
que cresceu na
sanha,
crescendo nos
anos, é o feroz
andira que derrubou o
TACAPE,
núncio da próxima
luta.” (p. 25). “O
chefe
cerrou ainda o
punho
do formidável TACAPE;”
(p. 30).“O chefe tabajara
rugiu de alegria;
sua
mão possante
brandiu o TACAPE.” (p. 37). “ (...) rara é a cabana
onde já
não rugiu contra
ele o grito
da vingança, porque
cada golpe
do válido TACAPE
deitou um
guerreiro
tabajara em
seu camucim.” (p. 42).
TAMANDUÁ – S. De ta-monduá, o
caçador de formigas. EX: “Valente
e forte
é o TAMANDUÁ, que
mordem os gatos
selvagens
por serem muitos
e o acabam.” (p. 42). A vos do cristão
transmitiu a Poti o pensamento de
Iracema: o chefe pitiguara,
prudente
como o TAMANDUÁ,
pensou e respondeu:” (p. 49).
TAPUIA – s. De tapyya, o
índio considerado bárbaro pelos demais. EX: “ – A igara grande
do branco TAPUIA
passou no mar.” (p. 75). “Ainda
dessa vez os
tabajaras,
apesar da aliança
dos brancos
TAPUIAS
do Mearim, foram levados de vencida pelos valentes
pitiguaras.” (p. 79). “Depois que se transpuseram o braço
corrente do mar
que vem da serra
de Tauatinga e ganha as várzeas onde se
pesca o piau, viram
enfim
as praias do Mearim, e a velha taba do bárbaro TAPUIA.”
(p. 91). “Tempo
depois,
quando veio
Albuquerque, o grande
chefe
dos guerreiros
brancos, Martim e Camarão
partiram para
as margens do Mearim a
castigar
o feroz tupinambá
e expulsar o branco
TAPUIA.” (p. 94).
TAQUARA – s Bambu.
A haste furada,
oca. EX: “Martim cavou a terra e
fabricou a porta das fasquias da TAQUARA.”
(p. 66).
TAUAPE
– s. Loc. Adv. No barreiro, no brejo. Localidade
do Ceará. EX: “Por
esse
tempo pisava Martim os campos amarelos
do TAUAPE;” (p. 91)
TUPÃ – sm. Var tupana. B. Caetano explica:
“...dá Montoya este
nome como
formado da interj. Tu
e da interr. Pang. Parece antes de ser um part. Nom. de tub
estar, que dá
tupara=tupana aquele
que está, ou
aquele que
faz o ser, no que
concorda com o infin. Tub,
que
já é substantivo
e significa “pae”. Deus. EX: “O ancião fumava à porta
sentado na esteira da carnaúba, meditando os sagrados
ritos de TUPÃ.”
(p. 20). “O Pajé inspirado conduzia o sagrado tripúdio e dizia ao
povo
crente os
segredos
de TUPÔ (p. 22). “Em
torno corria os
troncos
rugosos da árvore
de TUPÃ;” (p. 27). “- Eles
vêm; mas TUPÃ
salvará teu
hóspede.” (p. 46). “TUPÃ
te
fortaleça, e traga
outra
vez à cabana
de Jacaúna, para que
ele festeje tua boa-vinda.” (p. 62)
TUPINAMBÁ – s. De tupi-nã-mbá, descendentes dos tupis.
Nome de uma tribo
numerosa que
se extendia desde o Maranhão até o Rio
de Janeiro. EX: “- Poti é
senhor de mil
arcos; se é teu
desejo ele
te acompanhará
com
seus guerreiros
às margens do Mearim,
para
vencer o tapuitinga e seu
amigo, o pérfido
TUPINAMBÁ.” (p. 75). “- E a ânsia de combater o TUPINAMBÁ que
volve o passo do
guerreiro
para as bordas
do mar: respondeu o
cristão.” (p. 82). “A raça dos
cabelos
de sol cada
vez mais
ganhava a amizade dos TUPINAMBÁS:” (p. 91). “Tempo
depois, quando
veio Albuquerque, o
grande
chefe dos guerreiros
brancos, Martim e
Camarão
partiram para as margens
do Mearim a castigar o feroz
TUPINAMBÁ e expulsar
o branco tapuia.”
(p. 94)
UBAIA-UVAIA – s. Fruto
azedo,
ácido, amarelo.
EX: “O sabiá do
sertão,
mavioso cantar
da tarde, escondido nas moitas espessas da UBAIA soltava
já
os prelúdios da suave
endecha. “ (p. 34). “A filha de Araquém estava além,
entre as verdes
moitas de UBAIA, sentada na relva.” (p. 81).
URÚ
– s. cesto
feito
com folhas
de carnaúba, dotado de alças. EX: “Às vezes
sobre os ramos
da árvore e de lá
chama a virgem
pelo nome:
outras remexe o URU de palha matizada, onde
traz a selvagem seus
perfumes, os
alvos
fios do crautá, as
agulhas
da juçara com
que tece a renda,
e as tintas de
que
matiza o algodão.” (p. 19). “Enquanto
Caubi pendurava no fumeiro as peças de caça,
Iracema colheu sua
alva
rede de algodão
com franjas
de penas, e acomodou-a dentro do URU
da palha trançada.” (p. 33)
CONCLUSÃO
Concluímos essa amostra
das palavras
indígenas
que apresenta Iracema, admitindo
que
haveria muito
mais
num trabalho mais
detalhado.
No entanto,
acreditamos que essa pesquisa possa ser de algum proveito para a contemplação e
maior
entendimento
de Iracema. Sabemos, que ainda há muito a ser feito, mas
esperamos
que essa seja uma boa contribuição e incentivo
para mais trabalhos voltados para a língua indígena
e estudos de
linguagens
presentes em
obras literárias.
Mesmo
porque a língua
e a literatura devem andar
sempre juntas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, José de. Iracema. Rio de Janeiro
: Klick, 1999.
BUENO, Francisco da Silveira. Vocabulário Tupi Guarani / Português. 3ª ed. São Paulo : Brasilivro, 1984.
CUNHA,
Antônio Geraldo da. Dicionário
Etimológico
nova fronteira
da L;ingua Portuguesa. Rio
de Janeiro : Nova Fronteira,
1982.
FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo
dicionário
da Língua Portuguesa. 2ª ed. rev. e
aum. Rio de Janeiro : Nova
Fronteira, 1986.
ESTUDO ETIMOLÓGICO
GRANDE FERRAMENTA
PARA O USO CORRETO
DOS
HOMÔNIMOS
HOMÓFONOS
SUMÁRIO
Sylvia Costa
Barbosa (UERJ)
INTRODUÇÃO
Quando estamos
em contato
com pessoas,
com toda
certeza, aprendemos
muito
ou pelo menos suscitamos questões
interessantes de serem pesquisadas. Assim
aconteceu com a
proposta
de trabalho que
será aqui
desenvolvida,
pois durante
uma aula dada
à turma em um Curso Preparatório no qual
leciono descobri que, dentre outras dificuldades,
os alunos não
conseguem estabelecer a
diferença
entre os usos
das palavras homônimas. É bom lembrarmos que
as palavras homônimas podem ser: homônimas homógrafas (palavras
iguais na grafia,
mas diferentes
na pronúncia e no
significado), homônimas homófonas (palavras iguais na pronúncia,
mas diferentes
na grafia e no
significado)
ou homônimas perfeitas (palavras iguais
na grafia e
pronúncia,
mas diferentes
no significado). A
grande
dificuldade do
corpo
discente está em
desfazer a confusão que existe entre
os homônimos homófonos, uma vez
que o fato
de serem pronunciados da mesma maneira torna difícil a identificação
da grafia das
palavras
em alguns
casos.
Após assistir
à comunicação do Prof. Bruno F. Bassetto, “Estudos Filológicos”, no
Encontro
Nacional com
a Filologia, na
Academia Brasileira
de Letras em maio de 2001,
foi possível descobri que esta dificuldade
existe em função
dos alunos, e
mesmo
alguns
professores,
não conhecerem a
origem
e evolução das
palavras.
O
presente trabalho pretende, portanto,
analisar algumas palavras
homônimas, apenas as homônimas
homófonas, buscando apresentar sua origem e
registrando a diferença entre os pares
(ou trios)
existentes.
Foi utilizada, como ponto de partida, uma “revista”
chamada Frustrando a
ignorância
– 1290 palavras Homônimas e Parônimas
(SILVA, [s/d]), vendida em algumas bancas
de jornal, a qual
facilitou a escolha
pelos
homônimos apresentados neste trabalho. O corpus
do trabalho de fato, porém, foi
selecionado a partir
do Dicionário Aurélio
em
CD-ROM.
Como o objetivo é verificar a origem das palavras
encontradas, observando a sua evolução na língua
portuguesa, optou-se por
consultar
o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, pois
o mesmo apresenta a
origem
das palavras, a
data
de entrada na
Língua
Portuguesa e em
que
documento ou
texto, e o respectivo
autor, elas
apareceram pela
primeira
vez, isto
é, a fonte de datação.
Sendo assim, são
apresentados num primeiro
momento
os pares (ou
trios) de
vocábulos
homônimos e suas
respectivas definições e, a partir daí, são feitas as considerações
em relação
à etimologia de
cada
palavra, estabelecendo as diferenças e/ou
semelhanças existentes.
ESTUDO ETIMOLÓGICO
GRANDE FERRAMENTA PARA O USO CORRETO
DOS HOMÔNIMOS HOMÓFONOS
ACEITAR x
ASSEITAR
Aceitar
– (V.) Consentir em receber (coisa oferecida ou dada); estar de acordo com; concordar com; anuir a; conformar-se com
(fato,
circunstância, etc.).
Asseitar – (V.) Tramar ciladas para; enganar, trair;
andar
à espreita.
Com entrada no português em 1352, o verbo
aceitar provém do
latim
acceptare. Já o
verbo
asseitar teve sua
entrada
no português no século
XIII e provém do latim assectare
pelo verbo depoente
adssectari (que quer dizer
acompanhar, cortejar,
seguir) de acordo com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
[s.d.].
ACENDER x ASCENDER
Acender
– (V.) Pôr fogo, fazer
arder;
queimar, incendiar; levar fogo a (pavio, cigarro,
charuto, cachimbo,
etc.) para fazer arder ou produzir fogo em (fogão, lareira, forno,
etc.); riscar, fazendo que
se queime por
atrito
(acender um fósforo.); pôr em funcionamento
(sistema elétrico
de iluminação).
Ascender
– (V.) Subir; elevar-se; atingir
(certo
valor, ou
custo, ou
patamar): O quilo
da carne ascendeu de 4 reais para 6 reais.
Com entrada no português em séculos diferentes, acender
(XIII) provém do latim accendere,
e ascender
(XIV) é proveniente do latim
ascendere, de acordo
com Antônio Geraldo da Cunha. (CUNHA,
1982, s.v.).
ACENTO x
ASSENTO
Acento
– (S. m.) Estudos
da Linguagem:
maior
intensidade ou
altura que
opõe a enunciação de uma sílaba à enunciação
das que lhe
são contíguas;
tom
de voz; inflexão,
timbre: "Por
volta de onze
horas,
um acento
desconhecido na
voz, Teixeira gritou por
Inocência." (Orígenes Lessa, Rua do
Sol,
p. 244.)
Assento
– (S. m.) Objeto
ou lugar
em que
a gente se senta;
lugar
em que
alguma coisa está assente;
base; tampo
de cadeira, banco,
sofá, etc.; termo
de qualquer ato
oficial.
Com entrada no português em 1562, segundo
Hieronimum Cardozum (CARDOZUM, 1562), o
substantivo acento tem origem
no latim accentu, com provável
interveniência do francês accent,
datado
de 1220. Já
assento,
que é datado
do século XV de
acordo
com Antônio Geraldo Cunha, (CUNHA,
1982, s.v.) é um
substantivo
formado por
derivação
regressiva do
verbo
assentar
(século XIII), provavelmente do latim vulgar
*adsentare, derivado de sedeo, es, sedi, sessum, sedere (estar
sentado, tomar assento).
ACERTO x ASSERTO
Acerto
(ê) – (S. m.) Ato ou efeito de acertar; acertamento; ajuste,
acordo, concerto.
Asserto (ê) – (S. m.)
Proposição afirmativa;
asserção, assertiva.
ACESSÓRIO x
ASSESSÓRIO
Acessório – (S.m.) Aquilo
que se junta
ao objeto principal,
ou é dependente
dele; complemento;
cada
uma das peças ou
objetos que
contribuem para a harmonia
do vestuário, ou
da decoração de um
ambiente,
quer como
complemento, quer
como adorno;
objeto ou
utensílio destinado a
facilitar
o desempenho de uma
atividade.
Assessório – (Adj.) Mesmo
que assessorial;
referente ou
pertencente a assessor; que
é da alçada do assessor.
Do latim medieval
accessorius, o substantivo
acessório teve entrada no português em 1539, de acordo
com o Corpo
Diplomático Portuguez (SILVA, L.A.R., p. 108), e
este de accedere na acepção
de ajuntar. O adjetivo
assessório
é datado de 1858
segundo
Antônio de Morais Silva (SILVA,
1958, s.v.), proveniente do latim assessorius, a, um.
ACÉTICO x
ASCÉTICO
Acético
– (Adj.) Química:
referente ao
ácido
acético, ou
próprio dele. Pertencente ou
relativo ao
vinagre.
Ascético – (Adj.) Relativo
a ascetas ou
ao ascetismo; devoto,
místico; contemplativo.
Com entrada na língua
em 1818, de
acordo
com o Dicionário
dos Dicionários Portugueses,
(MESSNER, 1994) o adjetivo
acético é proveniente do
francês acétique (1787).
Já ascético, provém do
francês
ascétique, datado de 1679 de acordo
com o Pe. Antônio Vieira (VIEIRA,
1679-90), o qual é proveniente do grego
asketikós.
ÁGIL x ÁGIO
Ágil
– (Adj. 2g.) Que
se move com destreza;
destro, hábil,
desenvolto:
dançarino
ágil; Com
suas mãos
ágeis, em três
tempos arrumou a
casa;
rápido,
desembaraçado,
ligeiro, veloz;
ativo, expedito,
diligente.
Ágio
– (S. m.) Economia:
lucro resultante
de operações de
câmbio;
diferença entre
o valor pago
por um
título e seu
valor nominal;
adicional cobrado
sobre
um preço
tabelado quando, a
esse
preço, a procura
supera a oferta;
comissão
cobrada pela
transferência
de financiamento, etc.
Do latim agile, o adjetivo
ágil teve entrada
na língua
portuguesa em 1912 de acordo com o Dicionário da Língua
Portuguesa, e o substantivo ágio provém do italiano aggio,
datado de 1801, segundo Antônio de Morais
Silva (SILVA, 1958, s.v.).
APREÇAR x APRESSAR
Apreçar
– (V.) Ajustar o preço de; atribuir grande preço ou valor a; ter apreço a.
Apressar
– (V.) Dar pressa a; tornar rápido ou mais rápido; acelerar; antecipar; abreviar; instar,
instigar,
induzir; tornar-se ligeiro,
rápido; aprontar-se
ou
preparar-se apressadamente; despachar-se.
A forma verbal apreçar, com entrada na língua em 1209,
segundo Leges et Consuetudines (In
Leges et Consuetudines, 2 vol.; in Portugaliae
Monumenta Historica a saeculo VIII post Christum usque ad Quintum
decimum.), é formada por derivação a
partir do prefixo
a, o substantivo
preço
e o sufixo ar.
O substantivo preço
é datado do século
XIII, proveniente do latim pretium.
Já
a forma verbal
apressar, com
entrada na língua
em 1344, é formada
por
derivação a partir
do prefixo a, o
substantivo pressa e o sufixo ar.
O substantivo
pressa
é datado do
século
XIII, sendo a forma feminina
de pressus, a, um. Os
dois verbos
têm como fonte
de datação o
Índice do Vocabulário do
Português
Medieval (Fichário)
(CUNHA, [s.d.], s.v.).
Na mesma
análise dos
homônimos
homófonos, estão enquadrados os substantivos apreço
e apresso, os quais
são
formados por
derivação
regressiva a partir
dos verbos apreçar
e apressar
respectivamente.
ARPAR
x HARPAR
Arpar –
(V.) Arpoar; arremessar
o arpão, arpear;
fisgar com arpão.
Harpar
– (V.) Harpear, tocar harpa.
Com entrada na língua
em 1543, segundo
Jorge Ferreira de Vasconcelos,
(Cf. ASENSIO, 1951, p. 17) o verbo arpar é proveniente do
francês
harper (século
XII), derivado do francês harpe e
do escandinavo
harpa
que significam “garra”;
como o vocábulo
ocorre nas diversas línguas românicas,
admite-se que o
escandinavo
difundiu-se por
intermédio
de um latim
*harpare “apanhar por meio de instrumento de garra”.
O verbo harpar
é formado por
derivação
sufixal a partir do
substantivo
harpa
e o sufixo ar.
Já
o substantivo
harpa
(século XIV), tem
origem
no francês harpe, datado do século
XI.
ARROCHAR x
ARROXAR
Arrochar
– (V.) Apertar (carga) com arrocho; apertar muito; ser exigente com aqueles que
estão sob sua
dependência; apertar-se, comprimir-se.
Arroxar
– (V.) Roxear,
arroxear; tornar-se
roxo
ou semelhante
ao roxo.
Datado
de 1533 no Dicionário da
Língua Portuguesa, (SILVA, 1958, s.v.) o verbo arrochar é
formado a partir do
substantivo
arrocho e o sufixo ar.
Já o substantivo arrocho, datado de antes
de 1523 em Gil Vicente, é de origem obscura.
José Pedro Machado (MACHADO,
1952-9, s.v) lembra possível relação com
garrocha, garrocho; note-se também
o português garrote
“arrocho, pedaço
de pau curto
com que
se torcem cordas usadas
para
apertar”, do francês
garrot (garrote).
Formado a partir
do prefixo a, o
adjetivo roxo e o
sufixo
ar, o
verbo arroxar
é datado de 1864 no
Dicionário de Língua
Portuguesa (SILVA, 1958, s.v.). O adjetivo
que
o constitui provém do latim russeus,
a,
um, datado de 1572 segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1966).
ÁS x AZ
Ás
– (S. m.) Carta
de baralho marcada
com
um só
ponto e que
inicia (ou,
conforme
o jogo, termina) a
seqüência
de cartas de cada
naipe; pessoa
exímia em
determinada
atividade.
Az –
(S. m.) Ala
de exército;
esquadrão.
Do latim
as, assis, o substantivo
as é
datado do século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha, (CUNHA,
1982, s.v.) assim
como
az que provém do latim acies, e teve
entrada
no português no mesmo
século e possui a
mesma
fonte de datação.
ASADO
x AZADO
Asado –
(Adj. ) Que tem
asas;
alado. (S. m.)
Vaso
com asas.
Azado
– (Adj.) Propício,
oportuno, próprio.
Particípio
passado do verbo
asar, o
vocábulo
asado
entrou na língua
em
1145 de acordo
com
José Pedro Machado (MACHADO, 1977, s.v.). O verbo
asar,
por sua
ve z, é formado pelo vocábulo
latino ansa, ae,
datado
do século XIII de
acordo
com Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.).
ASCETA x ASSETA
Asceta
– (S. 2 g.) Pessoa
que se consagra à
ascese
(Exercício
prático
que leva
à efetiva
realização
da virtude, à
plenitude
da vida moral,
do grego áskesis, 'exercício espiritual).
Asseta
– (V.) Assetear, provocar ferimento em ou matar com seta ou instrumento de incisão.
Com
entrada
no português em
1836, de acordo
com
Francisco Solano Constâncio (CONSTÂNCIO, 1836), o
substantivo asceta provém do
baixo-latim
asceta que veio do grego asketés, “que
pratica uma certa arte
ou certo
ofício”.
Já
a forma
verbal asseta apresenta-se na 3ª pessoa do singular no
Presente do Indicativo,
datada do século
XV. O verbo é formado
pelo
prefixo a, o
substantivo seta (= flecha) e o sufixo
ar. O
substantivo seta
teve entrada no português no século XIII e provém do latim
sagitta, ae pelo
português
antigo saeta, seeta.
O verbo e o substantivo
têm como fonte
de datação o
Índice do Vocabulário do
Português
Medieval (CUNHA,
1982, s.v.).
BROCHA x
BROXA
Brocha
– (S. f.) Prego
curto, de cabeça
larga e chata;
tacha; cunha
ou chaveta
de madeira ou
de ferro, que
se põe nas extremidades dos eixos dos carros
a fim de segurar
as rodas; correia
de couro que
cinge o pescoço do
boi
pela parte
inferior da canga.
Broxa
– (S. f.) Pincel
grande, de pêlos
ordinários, empregado
em caiação e noutros tipos de pintura
pouco apurada. (S. m.) Termo chulo: Indivíduo sem potência sexual.
Os dois substantivos são
datados do século
XIV, de acordo
com
o Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.). O
substantivo
brocha é proveniente do
francês
broche
(1121), pelo latim
vulgar *brocca,
que é a forma
feminina
substantiva
do adjetivo latino
broc(c)us, broc(c)hus, a, um “saliente, proeminente, pontudo”, e broxa é proveniente do
francês
brosse.
BUCHO
x BUXO
Bucho – (S. m.)
Estômago dos
mamíferos
e dos peixes;
popularmente, o estômago
do homem;
ventre, barriga.
Buxo
– (S. m.) Gênero-tipo das buxáceas, com arbustos e
arvoretas, originários da Europa e da
Ásia. Qualquer
espécie
desse gênero,
como,
por exemplo,
Buxus sempervirens, dotado de flores
pequenas e alvas,
frutos capsulares, e de madeira útil para marchetaria, torno, instrumentos
musicais de sopro e
instrumentos
de desenho, cujo
nome vulgar é
buxeiro.
Datado do
século XIV, o substantivo
bucho tem origem
controversa e
obscura.
Já o substantivo buxo
provém do latim buxus, i,
adaptado do grego
púxos,ou e teve
entrada no português
em 1344. Os dois
substantivos têm
como
fonte de datação
o Índice do
Vocabulário
do Português Medieval
(CUNHA, 1982, s.v.).
CAÇAR x CASSAR
Caçar
– (V.) Perseguir (animais silvestres)
a tiro, a laço,
a rede, etc., para
os aprisionar ou
matar: caçar veados, elefantes;
procurar, buscar.
Cassar
– (V.) Fazer cessar, tornar nulos ou sem efeito, os direitos políticos
ou de cidadão.
Do latim
vulgar *captiare,
pelo latim clássico capto, as, avi,
atum, are, o
verbo caçar é
datado do século
XIII e o verbo
cassar, do latim
casso, as, avi, atum, cassare, é
datado de 1257 de acordo
com o Índice
do Vocabulário do Português
Medieval (suplemento)
(MACHADO, 1977, s.v.).
CALÇÃO x
CAUÇÃO
Calção
– (S. m.) Calça curta e entufada que ia da cintura às virilhas, depois até o
meio da coxa e, por fim, até o joelho; calça de bocas um tanto largas, que não
ultrapassa o meio da coxa.
Caução
– (S. f.) Cautela, precaução; garantia, segurança; o que serve de penhor a um
empréstimo, ou a um adiantamento; depósito de valores aceitos para tornar
efetiva a responsabilidade dum encargo.
Datado
de 1559 de acordo
com a
Documentação
para a História
das Missões do Padroado
Português
do Oriente (SÁ, p. 317),
calção
é um substantivo
formado por
calça e o sufixo ão. O
substantivo
calça
entrou no português antes
de 1252, de acordo
com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.), do
latim
vulgar *calcea, derivado de
calceus, i.
Já
o substantivo caução provém do latim
cautio, onis, datado de 1217 segundo
Leges et Consuetudines (CUNHA,
[s.d.], s.v.).
CALDA x CAUDA
Calda
– (S. f.) Solução de açúcar e água fervidos conjuntamente; xarope; sumo de
qualquer fruta fervido com açúcar.
Cauda
– (S. f.) Prolongamento posterior, mais ou menos comprido, do corpo de alguns
animais; rabo. Por extensão, a parte do vestido ou manto que se arrasta
posteriormente; a parte posterior ou o prolongamento de certas coisas: a cauda
de um avião.
Os dois substantivos entraram no português
no mesmo século
(XIV) de acordo
com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.), possuindo,
porém,
origens
diferentes:
calda provém do latim caldus, a, um,
(< calidus, a, um), sendo a
forma feminina
do substantivo; e
cauda
provém do latim
cauda, ae,
por via culta.
CEDE x SEDE
Cede
– (V.) Transferir (a outrem) direitos, posse ou propriedade de alguma coisa. Pôr
(algo) à disposição de alguém; emprestar: Cedo-lhe por uma semana minha casa de
campo. Não resistir; sucumbir; dobrar-se, curvar-se.
CÉDULA x SÉDULA
Cédula
– (S. f.) Documento
escrito;
apontamento;
papel representativo de moeda
de curso legal;
nota.; papel com o nome de candidato a cargo eletivo, e próprio para votação.
Sédula – (Adj.) Ativo, cuidadoso,
diligente.
Do latim schedula, ae,
diminutivo de scheda, ae “folha
de livro, página”,
é proveniente o substantivo cédula, datado
de 1324 de acordo
com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.).
Já o adjetivo sédula, provém do
latim
sedulus, a, um, sendo a
forma feminina
que significa “cuidadosa, aplicada, zelosa”, com entrada na língua
em 1665 de acordo
com a Academia
dos Singulares de Lisboa (Lisboa,
1665).
CEGAR x SEGAR
Cegar
– (V.) Tirar a vista a; tornar cego; privar do sentido da visão;
fazer perder a razão; alucinar; tirar o fio ou o gume de (faca, navalha, tesoura, etc.); embotar.
Segar
– (V.) Ceifar, cortar; pôr
fim
a; acabar com.
Do latim caeco, as, avi,
atum, are “cegar,
privar da vista”, derivado de caecus, a,
um “cego”, é proveniente o verbo
cegar; o verbo
segar, porém,
provém do latim
seco, as, secui, sectum, secare “cortar, separar cortando”, por via popular, ambos com entrada no português no século
XIII de acordo
com
Antônio Geraldo da Cunha (fichário) (ASENSIO, 1951,
apud CUNHA, 1962).
CEITA x SEITA
Ceita – (S. f.)
Tributo
de dez-réis por
família,
que se pagava para
se ficar isento
de ir servir pessoalmente em
Ceuta.
Seita
– (S. f.) Doutrina ou sistema que diverge da opinião
geral e é seguido
por
muitos; conjunto
de indivíduos que
professam a mesma
doutrina;
comunidade fechada, de cunho radical; teoria de um mestre seguida por numerosos prosélitos.
CELA x SELA
Cela
– (S. f.) Pequena
alcova ou
quarto de dormir; aposento de frades
ou de freiras,
nos conventos;
aposento de condenado, em penitenciárias.
Sela
– (S. f.) Arreio
de cavalgadura, o
qual
constitui assento
sobre
que monta
o cavaleiro.
No latim cella, ae “lugar em que se guarda
alguma coisa, despensa, adega, celeiro, pequeno compartimento”, tem origem o
substantivo cela.
Do latim sella, ae “cadeira,
assento”, é proveniente o substantivo sela. Ambos
são datados
do século XIII, de
acordo
com o
Índice
do Vocabulário do Português Medieval
(CUNHA,
1982, s.v.).
CELEIRO x
SELEIRO
Celeiro
– (S. m.) Casa
onde se ajuntam e guardam cereais; depósito
de provisões.
Seleiro
– (S. m.) Fabricante
ou vendedor
de selas. (Adj.)
Que
é bom cavaleiro
ou se firma
bem na sela;
diz-se do cavalo
que
já experimentou
sela.
Do latim cellarium, ii, o
substantivo celeiro teve
entrada
no português em
1032 de acordo
com
José Pedro Machado (MACHADO, 1977, s.v.). Já
o substantivo
seleiro
é formado a partir do
substantivo
sela (Do
latim
sella, ae “cadeira,
assento”, com
entrada no português
no século XIII de
acordo
com o IVPM.) e o
sufixo
eiro, com
entrada no português
em 1393 de acordo
com o Índice
do Vocabulário
do Português Medieval
(fichário) (CUNHA, 1982, s.v.).
CEM x SEM
Cem
– (Num.) Quantidade
que é uma unidade
maior que
99; noventa mais
dez;
número
correspondente
a essa quantidade (nessa
acepção
representa-se em
algarismos
arábicos por
100, e em
algarismos
romanos, por
C).
Sem
– (Prep. ) Indica falta,
privação,
exclusão,
ausência,
condição,
exceção.
Forma apocopada de cento, em decorrência de
próclise, do latim centum “cem, cento”, o numeral cem teve
entrada no português em 1275. No português arcaico, cem e cento
eram empregados indiferentemente, com igual sentido; atualmente cento só
é usado se combinado com unidades e dezenas (Ex.: cento e um; cento e dez).
Já a preposição sem
provém do latim sine,
com entrada no português no século XIII. Ambos
têm como fonte
de datação o
Índice do Vocabulário do
Português
Medieval (CUNHA,
1982, s.v.).
CENA x SENA
Cena
– (S. f.) A arte teatral; a arte do espetáculo; o drama; qualquer marcação
ou diálogo
dos atores; cada
uma das unidades de
ação
duma peça, cuja
divisão se faz segundo
as entradas ou
saídas dos atores;
cena francesa;
cada
uma das situações
ou
lances no decorrer
da evolução da
intriga
de uma peça,
filme,
novela, romance,
etc.; episódio.
Sena
– (S. f.) Carta
de jogar, dado,
ou peça
de dominó com
seis pintas
ou pontos.
(S. 2 g.) Indivíduo dos senas, um dos povos que
habitam as províncias de Sofala, Manica,
Zambézia e Tete (Moçambique); a língua falada pelos senas, pertencente ao grupo
banto.
Do grego skené “barraca,
cabana,
tenda ou
qualquer construção
para servir de abrigo”, pelo latim scena, ae “arte
dramática,
arte ou profissão de cômico”,
o substantivo
cena
teve entrada no
português
em 1619, de
acordo
com Francisco Rodrigues Lobo (Corte na Aldeia.
1619.).
Já o substantivo sena
provém do latim
clássico
sena,
plural neutro
do numeral distributivo seni,
senae, sena, “de seis
em
seis, a cada
seis”, com
entrada no português
no século XIII de
acordo
com Antônio Geraldo da Cunha.
CENÁRIO x SENÁRIO
Cenário
– (S. m.) Conjunto
dos diversos
materiais
e efeitos cênicos
(telões, bambolinas, bastidores, móveis,
luzes, formas
e cores), que
serve para criar a realidade visual ou a atmosfera
dos locais onde
decorre a ação dramática;
conjunto de
elementos
que compõem o
espaço
criado para realização de um
espetáculo artístico,
filme
cinematográfico
ou programa
de televisão.
Senário –
(Adj.) Que contém seis unidades; que tem a base de seis: sistema senário; diz-se
do verso latino composto de seis pés jâmbicos.
Com entrada no português em 1833, de acordo
com a Revista
de Portugal, Série A. Língua Portuguesa. p. 72. Lisboa, 1942, o substantivo cenário
é proveniente do latim tardio scaenarium, ii “lugar
de cena”, provavelmente pelo
italiano scenario (antes de 1665) “papel com as indicações
necessárias do contra-regra”.
Do latim senarius, a,
um “composto de
seis”, provém o substantivo
senário, datado do século
XV de acordo com
Antônio Geraldo da Cunha.
CENSO x
SENSO
Censo
– (S. m.) Conjunto
dos dados
estatísticos
dos habitantes de uma cidade, província,
estado, nação,
etc., com todas as
suas
características;
censo
demográfico, recenseamento.
Senso
– (S. m.) Faculdade
de apreciar, de julgar, entendimento; juízo,
tino, siso,
discrição, circunspeção.
Já o substantivo senso provém do latim sensus
“sentido, órgão sensório, sentimento, juízo, razão, inteligência”, com entrada
no português no século XIV, de acordo com Antônio Geraldo da Cunha
(fichário).
CENSÓRIO x SENSÓRIO
Censório
– (Adj.) De, ou pertencente ou relativo a censor (subst.) ou a censura.
Sensório – (Adj.) Respeitante
à sensibilidade;
próprio
para transmitir sensações. (S. m.) Qualquer
centro nervoso
sensitivo; sede
de sensação, de localização
encefálica.
Do
latim
censorius, a, um,
censório teve entrada no português em 1589, de acordo
com Amador
Arrais ARRAIS,
1589).
Com entrada no português em 1789, segundo
Antônio de Morais Silva SILVA,
1789), sensório
é proveniente do baixo-latim
sensorium “sede
de uma faculdade”, derivado de sensus,
pelo francês
sensorium (1718) “órgão central onde as sensações
provenientes de diversos órgãos sensoriais
se sintetizam de maneira a permitir a percepção
de um objeto”.
CÉPTICO x
SÉPTICO
Céptico
– (Adj.) Que
duvida de tudo;
descrente; pertencente ou
relativo
ao cepticismo.
Séptico
– (Adj.) Que
provoca infecção; que
contém germes
patogênicos.
Do grego skeptikós, pelo latim scepticu, o
adjetivo céptico teve entrada
no português em
1702 com o Pe. Sebastião Pacheco
Varela (VARELA, 1702), e o adjetivo séptico
provém do grego septikós, 'que causa putrefação',
pelo
latim septicus, a,
um “corrosivo, que
faz apodrecer” e teve
entrada
no português em
1601, de acordo
com
Antônio da Cruz (CRUZ,
1601).
CÉRIO x
SÉRIO
Cério
– (S. m.) Química:
elemento de
número
atômico 58, metálico, pertencente aos
lantanídeos, usado em ligas [símbolo:
Ce].
Sério
– (Adj.) Que
merece atenção,
cuidado,
consideração;
importante;
que tem valor,
mérito,
importância;
que denota
gravidade,
sobriedade; sóbrio,
austero.
Com entrada no português em 1844, de acordo
com o Jornal
de Sciencias, Lettras e Artes, segundo Antônio Geraldo da
Cunha,
cério é proveniente do latim científico
cerium (de Ceres + -ium), introduzido
por Berzelius na
linguagem
internacional da
Química
em 1804, em
alusão ao nome
do planeta.
Já
sério, é proveniente do
latim
serius, a, um,
com entrada
no português em
1652, de acordo
com
Pe. Antônio Vieira (VIEIRA, 1652).
CERRAÇÃO x SERRAÇÃO
Cerração – (S. f.) Nevoeiro
espesso; escuridão, treva(s).
Serração – (S. f.) Ato ou efeito de serrar; serradura,
serramento, serradela, serragem.
O
substantivo
cerração é uma palavra formada por
derivação sufixal (de
cerrar
+ -ção), com
entrada
no português no século
XV de acordo com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.).
Também
é um
derivado sufixal o substantivo
serração (de serrar + -ção),
com
entrada no português
em 1836, de
acordo
com Francisco Solano Constâncio
(CONSTÂNCIO, 1836).
CERRAR x SERRAR
Cerrar
– (V.) Fechar; unir fortemente; apertar: cerrar os punhos, os dentes.
Fechar-se, unir-se, juntar-se (as partes
separadas ou afastadas de).
Serrar
– (V.) Cortar, separar, dividir, com serra ou serrote; trabalhar com serra ou serrote.
Os dois
verbos tiveram
entrada
no português no século
XIII, de acordo
com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.). O verbo
cerrar provém do latim
tardio serare, de sera
“fechadura, ferrolho”,
e o verbo serrar
é proveniente do latim serro,
as, avi, atum,
are, derivado de serra,
ae “serra”.
CERVO x
SERVO
Cervo
– (S. m.) Mamífero
artiodáctilo, cervídeo (Blastoceros
dichotomus), das regiões pantanosas da
Bolívia, Brasil meridional, Paraguai e
Uruguai. Castanho-claro, pés
escuros,
anel branco
em torno
da boca, e
garganta
e abdome claros;
mede 2m de comprimento e 1,30m de altura, e a galhada
tem 0,50m de comprido, podendo chegar a quatro ou mais pontas em cada chifre, ramificadas
dicotomicamente. Muda de galhada entre agosto e dezembro,
e prefere as regiões de banhados e pântanos.
Servo
– (S. m.) Aquele
que não
tem direitos, ou
não dispõe de sua
pessoa e bens;
na época feudal, indivíduo
cujo serviço
estava adstrito à gleba
e se transferia com
ela,
embora não
fosse escravo;
criado,
servidor,
servente;
serviçal.
Os
dois substantivos tiveram entrada
no português no século
XIII, de acordo
com
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.).. Cervo
provém do latim
científico
cervus, descrito em 1758, o
qual
foi calcado no latim cervum, i
“veado, cervo”,
e servo do
latim
servus, i.
CESSÃO x SEÇÃO
x SESSÃO
Cessão
– (S. f.) Ato
de ceder.
Seção
– (S. f.) Ato
ou efeito
de secionar(-se); parte
de um todo;
segmento; cada
uma das divisões
ou
subdivisões de uma
repartição
pública ou
de um estabelecimento
qualquer,
correspondente a
serviço
ou assunto
determinado; setor:
seção eleitoral;
seção médica;
seção de pessoal;
seção de arte. O conjunto dos balcões
duma loja
comercial
que vendem um
mesmo tipo
de mercadoria: seção
de roupas; seção
de bijuteria.
Sessão
– (S. f.) Espaço
de tempo que
dura a reunião
de um corpo
deliberativo, consultivo, etc.; espaço de tempo
durante o qual
funciona um
congresso, uma junta,
etc.; espaço
de tempo durante
o qual se realiza
um
trabalho ou parte dele: Levou três
sessões para pintar o retrato. Nos teatros e cinemas, espaço
de tempo em
que se leva
o programa diversas
vezes
ao dia, cada
um desses
espetáculos.
Com entrada no português no século XVI, de acordo
com a Ordenação
Filippina (século
XVI), cessão provém do latim cessio, onis “ação
de ceder, transferência”; seção
é variação de secção, do latim sectio, onis, do
radical sectum, supino
de secare. Já
sessão é proveniente do latim sessione, 'ato
de assentar-se', derivado de
sedere
“estar
sentado, ter assento”,
com entrada
no português antes
de 1595, de acordo
com
a Jornada del-rei Dom Sebastião à África (ed. de 1878, p. 159).
CESSAR x SESSAR
Cessar
– (V.) Não
continuar; interromper-se; acabar,
parar; deixar, desistir; interromper, suspender.
Sessar
– (V.) Joeirar pela urupema;
peneirar.
Com entrada no português em 1344, de acordo
com Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.)., cessar provém do latim cesso, as, avi,
atum, are,
freqüentativo de cedere.
Segundo
Antenor Nascentes (NASCENTES,
1988), sessar é proveniente do
quimbundo
kusesa.; Nei Lopes tira
do quimbundo e do quicongo
sesa “peneirar,
joeirar”, com entrada no português em 1836 de acordo com
Francisco Solano Constâncio (Cf. CUNHA,
1982, s.v.).
CHÁ x XÁ
Chá
– (S. m.) Árvore
regular, ou arbusto, da família
das teáceas (Thea sinensis), de frutos verdes e carnosos,
flores alvas,
hermafroditas, e de cujas folhas, coriáceas e lanceoladas, se faz uma infusão largamente
usada em todo
o mundo; as
folhas
secas e preparadas dessa planta; a infusão
dessas folhas.
Xá
– (S. m.) Título
do ex-soberano do Irã (antiga Pérsia).
Com entrada no português em 1565, chá
provém do chinês ch’a (dialeto mandarino), segundo
Monsenhor Sebastião Rodolfo
Dalgado (DALGADO, 1919-21).
Já
o substantivo
xá, com
entrada no português
em 1523, provém do
persa
xah, antigo
persa ksayathiya.
Segundo
Dalgado, o vocábulo foi
levado
à Índia, onde
era posposto ao
nome
próprio, enquanto
na Pérsia é anteposto. Os
dois
substantivos têm
como
fonte
de datação o
Glossário Luso-Asiático (DALGADO,
1919-21).
CHÁCARA x XÁCARA
Chácara
– (S. f.) Pequena propriedade
campestre, em
geral perto
da cidade, com
casa de habitação;
terreno urbano
de grandes
dimensões,
com casa
de moradia,
jardim,
horta, pomar,
etc.
Xácara
– (S. f.) Narrativa
popular em
verso.
Com
entrada
no português em
1710, segundo as
Expedições, de E. Brazão,
chácara
provém do quíchua
(quéchua) antigo chacra, hoje chajra, provavelmente
pelo
espanhol chácara,
com anaptixe; Antenor Nascentes (NASCENTES,
1988) considera uma variação epentética de chacra.
Da mesma origem que o espanhol
jácara, 'romance
popular alegre
em que
se narram trechos de vida airada', é o substantivo
xácara com
entrada no português
em 1836 segundo
Francisco Solano Constâncio (Cf. CUNHA,
1982, s.v.).
CHEQUE x
XEQUE
Cheque
– (S. m.) Ordem
de pagamento de determinada
quantia dirigida a
um
banco, por
pessoa ou firma que aí tenha conta de depósito, em favor de outra pessoa ou firma.
Xeque
–
(S. m.) No jogo de
xadrez,
lance em
que o rei
fica numa casa
atacada
por uma peça
adversária;
acontecimento
parlamentar que
envolve perigo para
o governo; risco,
perigo,
contratempo.
Xeque
– (S. m.) Entre
os árabes, chefe
de tribo, ou soberano.
Com
entrada
no português em
1840, segundo
Ferreira Borges,Dicionário
Jurídico-Comercial, 1840, cheque provém do inglês
norte-americano check
(1774)
ou do inglês britânico cheque
(grafia usada para
diferenciar do substantivo
check em outras acepções, derivado do verbo
to check nas acepções “controlar, verificar”.).
Já
o substantivo
xeque, ligado ao jogo de xadrez,
teve entrada no
português
em 1899, segundo
Cândido de Figueiredo (Figueiredo,
1899), e provém do persa xah,
pelo árabe xah,
através da forma
xaque por
influência do francês
échec. Com
o significado de
chefe de tribo, o
substantivo
teve entrada no
português
em 1327, segundo
Monsenhor Sebastião Rodolfo Dalgado
(DALGADO, 1919-21), e provém do árabe xauh
“velho, ancião, chefe, soberano”,
variação de xeique.
CILÍCIO x
SILÍCIO
Cilício
– (S. m.) Pequena
túnica ou
cinto ou
cordão, de crina, de lã áspera, às vezes com farpas de madeira,
que, por
penitência, se trazia vestido diretamente
sobre a pele.
Sacrifício
voluntário;
martírio a que
alguém se submete
com
resignação.
Silício
– (S. m.) Elemento
de número atômico 14, não metálico,
cinzento, leve,
duro,
muito abundante
na crosta terrestre,
semicondutor
largamente
utilizado em
eletrônica
de estado sólido
[símbolo: Si
].
Com
entrada
no português no século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.), cilício provém do latim cilicium, ii “pano
grosseiro feito
do pêlo de cabra
da Cilícia de que
se cobriam soldados e marinheiros; armação
que servia de
defesa
contra projéteis e
armas
de arremesso”, no latim tardio cilício
do grego kilíkion, substantivo neutro
de kilíkios, a, um “da Cilícia”.
Já silício provém do latim
científico silicium, formado do
latim silex, icis “seixo,
pedra”, para
o elemento obtido
em
1822 por Berzelius,
com
entrada no português
em 1836, segundo
Francisco Solano Constâncio (Cf. CUNHA,
1982, s.v.).
CINTO x SINTO
Cinto
– (S. m.) Faixa
ou tira
de tecido, couro,
etc., que cinge o
meio
do corpo, em
geral com
uma só volta.
Sinto – (V.) 1ª pessoa do singular no
Presente do Indicativo
do verbo sentir:
Perceber por meio dos sentidos;
experimentar (sensação
física ou
moral); ser afetado por; ser sensível a.
As duas
palavras tiveram entrada no português no século XIII, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.). O
substantivo
provém do latim
cinctus
“ação de cingir, cinturão, cintura,”, de
cinctum
supino de
cingere
'cingir’; a forma verbal provém do latim
sentio, is, sensi, sensum, sentire.
CÍRIO x SÍRIO
Círio
– (S. m.) Vela
grande, de cera.
Procissão que,
partindo de determinado lugar, vai levar um círio a outro lugar.
Sírio
– (S. m.) Grande
estrela da
constelação
do Cão Maior.
(Adj. / S. m.) Da, ou pertencente ou relativo à Síria (Ásia); o natural
ou habitante
da Síria.
Com entrada no português no século XIII, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.), o
substantivo
círio provém do latim
cereus, i substantivo
masculino de cereus,
a, um “céreo,
de cera”, derivado de cera, ae.
Já sírio, na
acepção de
estrela, teve entrada no
português
em 1624, segundo
Leonel da Costa (COSTA,
1624) e provém do grego seírios,
pelo
latim sirius, ii
ou latim sirius, a,
um “relativo
à estrela Sírio”,
e na acepção de ‘natural
ou habitante
da Síria’ provém do grego
súrioi forma singular de
súrios, a, on,
com
entrada no português
em 1899, segundo
Cândido de Figueiredo (Cf.
SILVA, 1958, s.v.).
CISÃO x SISÃO
Cisão
– (S. f.) Ato
ou efeito
de cindir; divergência,
desacordo, dissensão;
separação do
corpo
de um partido,
de uma sociedade, de uma
doutrina. (Variação de cissão).
Sisão – (S. m.) Ave pardacenta muito semelhante
ao adem,
que apresenta uma
espécie
de colar de penas
negras no pescoço.
Com entrada no português em 1843, de acordo
com o Jornal
de Sciencias, Lettras e Artes (Minerva
Brasiliense, publicado por
huma
Associação de Litteratos. nº 1, p. 5. Rio de Janeiro,
na Typographia de J. E. S. Cabral, 1843-1845.), o
substantivo
cisão provém do latim scissio, onis, do
radical de scissum,
supino de scindere “fender, romper,
rachar,
partir”; talvez
a redução do –ss– do étimo latino a
–s– se deva
à influência
de palavras como
decisão,
incisão
compostas de caedere (cortar), radical semanticamente
aparentado.
Já o substantivo sisão provém do catalão sisó,
pelo espanhol
sisón. No dicionário
Houaiss, não há indicação sobre
a fonte de datação
de entrada no português.
CONCELHO x CONSELHO
Concelho – (S. m.) Circunscrição administrativa
de categoria
imediatamente
inferior ao
distrito, do qual é
divisão.
Conselho – (S. m.) Parecer,
juízo, opinião;
advertência que
se emite; admoestação, aviso; senso do que
convém; tino,
prudência, aviso.
Com entrada no português em 991, segundo
José Pedro Machado (MACHADO, 1977, s.v.), concelho provém do latim concilium, ii
por via
popular.
Já conselho, provém do
latim
consilium, ii, com entrada no português no século
XIII,
segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.).
CONCERTO x CONSERTO
Concerto
– (S. m.) Ato
ou efeito
de concertar; comparação, cotejo,
confronto; consonância
de instrumentos,
ou
de vozes no canto;
harmonia;
composição
musical extensa para
um instrumento
solista, com
acompanhamento de orquestra; espetáculo em que se executam obras
musicais.
Conserto
– (S. m.) Ato
ou efeito
de consertar; reparo.
Com entrada no português em 1364, segundo
Antônio Geraldo da Cunha, concerto é derivação
regressiva de
concertar; na acepção
musical, é empréstimo do italiano concerto, talvez através
do francês concert.
Conserto
também
é derivação
regressiva
do verbo consertar,
proveniente do latim
vulgar
*consertare freqüentativo do latim clássico
conserere “ligar,
atar, juntar partes entre si”, com entrada no português no século XIV, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.).
COSER x COZER
Coser
– (V.) Unir com pontos de agulha; costurar.
Cozer
– (V.) Preparar
(alimentos) pela
ação do fogo;
submeter à ação do fogo (substâncias
dentro de líquido);
cozinhar.
Os dois
verbos tiveram
entrada
no português no século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.). O verbo
coser provém do latim
vulgar
*cosere, por
consuo, is, sui, sutum suere “unir uma coisa a outra”, e cozer
provém do latim vulgar
*coco, is, coxi, coctum, ere.
DECENTE x DESCENTE
Decente – (Adj. 2 g.)
Conforme à decência, ao
decoro, ao bom-tom;
correto, digno;
que age com
decência; honesto,
honrado, sério;
que
mostra recato,
pudor: moça
decente; conveniente,
satisfatório, adequado.
Descente – (Adj. 2 g. / S.
f.) Que desce. Descida; vazante.
Com entrada no português em 1572, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.), o adjetivo
decente provém do latim
decens, entis particípio
presente do verbo
impessoal latino
decet, decebat, decuit, ere “ser decoroso, conveniente”.
Já descente,
com entrada
no português no século
XV, segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.), é uma derivação sufixal do verbo descer (descer + -nte), o qual
tem entrada no
português
em 1244 e provém do
latim
descendo, is, di, sum, ere “descender, aproximar-se de, descer,
provir”.
EMPOÇAR x EMPOSSAR
Empoçar
– (V.) Meter em poço ou poça; formar poça; cair em poça; atolar-se.
Empossar
– (V.) Dar posse a; investir na posse; tomar posse; apossar-se, apoderar-se, assenhorear-se.
Com entrada no português em 1562, segundo
Hieronimum Cardozum (CARDOZUM, 1962), o verbo
empoçar
é uma derivação do
substantivo
poço [de em- + poço + -ar], o qual
tem entrada na
língua
em 937, segundo
José Pedro Machado (MACHADO, 1977, s.v.), e provém do
latim
puteus, i “buraco, fossa, poço de mina; cisterna ou cova onde se
guardam grãos etc.”.
Já empossar, com entrada no português em 1537, de acordo
com o Corpo
Diplomático Portuguez (SILVA, L.A.R, p. 406), é uma
derivação
do substantivo
posse
[de em- + posse + -ar], o qual tem entrada
na língua no
século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.), e provém de posse
substantivo
infinitivo latino
de possum, potes, potui,
posse “poder,
ser capaz
de”.
ESPEÇAR x
ESPESSAR
Espeçar – (V.) Tornar mais comprido
(uma peça à qual
se junta outra
longitudinalmente).
Espessar
– (V.) Tornar espesso, grosso ou denso; engrossar; condensar.
Com entrada no português em 1899, segundo
Cândido de Figueiredo (Cf.
CUNHA, 1982, s.v.), o verbo espeçar
tem origem
obscura.
Para alguns autores, a base
deve ser peça;
há quem veja no vocábulo a mesma formação
do antigo verbo
repeçar “juntar
ou pregar peças, remendar”.
Já o verbo espessar, com entrada no português no século
XIV, segundo Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO, 1951,
apud CUNHA, 1962),
provém do latim spisso, as, avi,
atum,
are “condensar,
fazer espesso, apertado”.
ESPECTADOR x
EXPECTADOR
Espectador – (S. m.) Aquele
que vê
qualquer ato;
testemunha;
aquele
que assiste a
qualquer
espetáculo.
Expectador
– (S. m.) Aquele
que tem expectativa,
que está na expectativa.
Com entrada no português em 1677, segundo
Duarte Ribeiro de Macedo (MACEDO,
1677), o substantivo espectador
provém do latim spectator, oris.
Já expectador, com
entrada no português
em 1762, segundo
Francisco Calmon (CALMON, 1982), provém do latim
expectator
por exspectator, oris,
do radical de exspectum,
supino de exspectare.
ESPERTO x
EXPERTO
Esperto
– (Adj.) Acordado, desperto; inteligente, fino,
arguto; enérgico,
vigoroso; espertalhão.
Experto
– (Adj. / S. m.) Que
tem experiência; experimentado, experiente; que sabe ou tem conhecimento;
sabedor, ciente;
indivíduo que
adquiriu grande
conhecimento
ou habilidade
graças à
experiência, à prática.
Com entrada no português no século XIII, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud
CUNHA, 1962),
esperto
provém do latim vulgar
expertus, a, um,
forma contrata
de expergitus, a, um
particípio
passado
de expergo, is, gi, gitum, ere “despertar,
acordar”.
Já o adjetivo experto,
provém do latim expertus, a,
um, particípio passado
de experior, iris, ertus, sum, eriri,
com entrada
no português em
1572, segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1982, s.v.).
ESPIAR x EXPIAR
Espiar
– (V.) Observar secretamente; procurar descobrir, com o fim de fazer danos, as ações
de; espionar; olhar, observar furtivamente,
disfarçadamente.
Expiar
– (V.) Remir (a
culpa), cumprindo
pena;
pagar; sofrer as conseqüências de; sofrer, padecer; purificar-se (de crimes
ou pecados).
Com entrada no português no século XV, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud
CUNHA, 1962), o
verbo
espiar tem origem
provavelmente no gótico spaíhôn.
Sua forma homônima provém
do latim expio, as, avi,
atum, are, com
entrada no português
antes de 1669,
segundo
Antônio de Morais Silva (SILVA,
1958).
ESPIRAR x EXPIRAR
Espirar
– (V.) Exalar, desprender, emanar: As flores
espiram perfumes;
emitir
sopro; bafejar,
soprar; respirar; estar ou parecer vivo.
Expirar
– (V.) Expelir
(o ar) dos
pulmões;
exalar, bafejar, respirar; chegar ao fim; acabar,
terminar,
finalizar(-se); extinguir-se a
pouco
e pouco; sumir-se,
definhar;
morrer.
Os dois
verbos tiveram
entrada
no português no século
XIV, segundo Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962). A forma verbal
espirar provém do
latim
spiro, as, avi, atum,
are,
e expirar
provém do latim expiro
por exspiro, as, avi, atum,
are.
ESTÁTICO x
EXTÁTICO
Estático
– (Adj.) Imóvel
como estátua;
sem movimento;
parado, hirto;
que
se acha em estado de repouso
(em oposição
a dinâmico); parado.
Extático
– (Adj.)
Posto em
êxtase; absorto,
enlevado.
Com
entrada
no português em
1644, tendo como fonte
de datação as
Anedotas Portuguesas e Memórias
Biográficas da Corte Quinhentista (LUND, 1980, p. 75.), o
adjetivo estático provém do grego
statikós, é, ón.
Já o
adjetivo extático teve
entrada no português no
século
XV, segundo Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962), e é proveniente do grego
ekstatikós, é, ón.
ESTERNO x
EXTERNO
Esterno
– (S. m.) Osso
ímpar, situado na parte
anterior
do tórax, e com
o qual se articulam as clavículas e as cartilagens
costais das sete primeiras costelas.
Externo
– (Adj.) Que
está por fora,
ou que
vem de fora;
exterior.
Com entrada no português em 1670, segundo
António Ferreira (FERREIRA,
1670), o substantivo esterno provém do latim
científico esternum
pelo grego
stérnon “peito,
caixa torácica”.
O adjetivo
externo,
com
entrada no português
em 1660, segundo
Dom Francisco Manuel de Melo
(MELO, 1977), provém do latim externus, a,
um,
radical estendido de exterus, a,
um de ex (fora
de) + -ter (sufixo
nominalizador).
ESTRATO x
EXTRATO
Estrato
– (S. m.) Cada
uma das camadas das
rochas
estratificadas. Faixa ou camada de uma população quanto
ao nível de renda,
posição social,
educação, etc.
Extrato
– (S. m.) Coisa que se extraiu de outra;
trecho, fragmento;
resumo, síntese;
reprodução, cópia;
produto
industrial
constituído de essência aromática; perfume;
produto obtido pelo
tratamento de
substâncias
animais ou
vegetais por
um dissolvente
apropriado, evaporando-se depois até à consistência desejada o excipiente
que se empregou.
Com entrada no português em 1873, segundo
Frei
Domingos
Vieira (VIEIRA, 1871-4), estrato provém do latim
stratum, i, substantivo neutro
singular do
particípio
passado de sternere “estender por cima, pôr em cima, desdobrar”.
E o substantivo extrato,
com entrada
no português em
1540, de acordo
com
o Corpo Diplomático Portuguez
(SILVA, L. A. R.), provém do latim extractum, i,
substantivo neutro singular
do particípio
passado
extractus, a, um, de
extraere.
INCERTO x INSERTO
Incerto – (Adj.) Não certo; indeterminado, impreciso;
duvidoso,
hipotético,
problemático,
contingente,
aleatório;
inconstante,
variável, mudável;
indeciso,
irresoluto,
vacilante,
hesitante.
Inserto
– (Adj.) Introduzido, inserido; publicado entre outras coisas.
Com entrada no português no século XIV, adjetivo
incerto provém do latim
incertus, a, um “que não é preciso, não
fixado, não
determinado”.
Já inserto provém do latim
insertus, a, um
“metido, introduzido”, com entrada no português no século
XV. Os dois adjetivos
possuem como fonte
de datação o
Índice do Vocabulário do
Português
Medieval (Fichário)
(ASENSIO, apud
CUNHA, 1962).
INCIPIENTE
x INSIPIENTE
Incipiente –
(Adj. 2 g.) Que está no
começo; principiante.
Insipiente
– (Adj. 2 g.) Não
sapiente;
ignorante;
desassisado,
insensato; sem
cautela;
imprudente.
Com entrada no português em 1735, segundo
Manoel Rodrigues Coelho (COELHO,
1735), incipiente provém do
latim incipiens, entis
particípio
presente de incipere, 'começar,
dar princípio'.
Já o adjetivo insipiente
provém do latim insipiens, entis
‘desarrazoado, insensato’,
com entrada
no português em
1589, segundo
Amador
Arrais (ARRAIS,
1589).
INTENÇÃO x INTENSÃO
Intenção
– (S. f.) Ato de tender;
intento, tenção;
vontade, desejo,
pensamento; propósito,
plano,
deliberação.
Intensão – (S. f.)
Veemência, intensidade;
aumento
de tensão.
Com entrada no português no século XIII, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud
CUNHA, 1962),
intenção
provém do latim intentio, onis
“ação de entesar, de estender, pressão, esforço, vontade etc.”.
Já o substantivo intensão,
com
entrada no português
em 1540, segundo
João de Barros (BARROS,
[s.d.]), provém do latim intensio,
onis “ação
de entesar, tensão,
esforço”; note-se
que
intenção e intensão
especializaram seus
sentidos
para cada forma, ainda que ambas provenham do supino
de intendere (estender, entesar) que possui
duas formas: uma intentum e
a outra
intensum.
INTERCESSÃO x
INTERSEÇÃO
Intercessão
– (S. f.) Ato de
interceder;
intervenção.
Interseção
– (S. f.) Ato
de cortar; corte; cruzamento. Operação
por meio
da qual se forma
o conjunto de
todos
os elementos que
pertencem simultaneamente a dois ou mais conjuntos; produto.
(Variação de intersecção.)
Com entrada no português no século XV, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud
CUNHA, 1962),
intercessão
provém do latim intercessio, onis
‘interposição, mediação’.
Já o substantivo interseção,
com entrada
no português em
1678, segundo Pe. Antônio Carvalho da Costa
(COSTA, 1678), provém do
latim intersectio, onis ‘o espaço entre dois dentículos nos
capitéis das colunas jônicas e
coríntias’.
LAÇO x LASSO
Laço
–
(S. m.) Nó que
se desata sem
esforço, e que apresenta
uma, duas ou mais alças; aliança,
vínculo, união.
Lasso
– (Adj.) Cansado, fatigado, enervado;
frouxo, bambo, relaxado,
laxo.
As duas formas tiveram entrada
no português no século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962). O substantivo laço provém do latim
vulgar *laceus, i
por
laqueu ‘laço,
nó, qualquer
armadilha para caça, cilada, empecilho’, e o adjetivo lasso provém do latim
lassus, a, um ‘cansado,
fatigado, inclinado, debruçado, caído,
derrubado, lânguido, abatido, enfermo’.
MAÇA x
MASSA
Maça
– (S. f.) Clava;
arma
de ferro ou
de outro material,
com uma
extremidade
esférica provida de
pontas
aguçadas; pilão
cilíndrico
usado pelos
calceteiros;
maço; instrumento
com que
se maça o linho.
Massa
– (S. f.) Quantidade mais ou menos considerável
de matéria sólida
ou pastosa,
em geral
de forma indefinida;
aglomerado de
elementos
(em geral
da mesma natureza)
que formam um
conjunto; a totalidade,
ou grande
maioria; mistura
de farinha com
água ou
com outro
líquido, formando pasta;
substância mole
e pastosa
preparada
para determinado
fim; pasta.
Com entrada no português no século XIV, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.), o
substantivo
maça provém do latim vulgar *matea
ou
*mattea, provavelmente do latim mateola, ae 'pau,
instrumento
agrícola, cabo
de enxada'.
Já massa provém do
grego
máza, pelo
latim massa,
ae ‘monte,
massa, o todo,
a totalidade’ e teve entrada
no português no século
XIII, de acordo
com
o Índice do
Vocabulário
do Português Medieval (Fichário) (ASENSIO, apud
CUNHA, 1962).
MAIS x MAS
Mais
– (Adv.) Designa aumento,
grandeza, superioridade
ou comparação.
Mas
– (Conj.) Exprime oposição ou restrição; porém, todavia,
entretanto, no
entanto,
contudo.
As duas formas tiveram entrada
no português no século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962). O advérbio
mais
provém do latim magis o
qual, pelo português arcaico, deu origem
à conjunção
mas. O valor
adversativo
originou-se do fato de, em muitos contextos em que se usava esta partícula,
a idéia de
adversativa
estar implícita,
do que resultou a
fixação
desse sentido na
partícula.
PAÇO x
PASSO
Paço
– (S. m.) Palácio
real ou
episcopal; edifício
suntuoso,
nobre; a corte;
os cortesãos.
Passo
– (S. m.) Ato
de deslocar o ponto de apoio do corpo de um pé para o outro, por meio de movimentos para a frente, para trás ou para os lados; o espaço percorrido a cada
um desses
movimentos; o ato de
andar;
andamento, marcha
Com entrada no português no século XIII, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud
CUNHA, 1962), o
substantivo
paço provém do latim palatium, i ‘Palatino’,
colina
de Roma onde ficava a moradia imperial; na poesia
da época imperial e na prosa
de baixa
época, passou a designar palácio, com síncope, por via popular.
Já o substantivo passo,
com entrada
no português em
1008, segundo José Pedro Machado (MACHADO,
1977, s.v.), provém do latim
passus, us e tardio
passus, i, propriamente afastamento das
pernas, donde espaço compreendido entre
esse afastamento;
passada,
medida itinerária
acerca de um
metro e meio,
derivado de pandere ‘estender,
abrir,
desenrolar, afastar’.
POLPA x POUPA
Polpa
– (S. f.) Carne musculosa, sem ossos nem gorduras; a
parte carnosa
dos frutos, raízes, etc.
Poupa – (S. f.) Pássaro semelhante
à pega. Tufo
de pena que
adorna a cabeça
de algumas aves;
crista,
penacho. (V.) 3ª pessoa
do singular no Presente
do Indicativo do
verbo
poupar: gastar com moderação ou
economia; despender
com parcimônia;
não desperdiçar;
economizar; viver com economia; amealhar.
Com entrada no português em 1563, segundo
João de Barros BARROS), o substantivo
polpa provém do latim pulpa, ae ‘parte
carnosa
(dos animais),
fibra,
carne (das
pessoas),
corpo, polpa
(dos frutos)’.
Por outro lado, a forma poupa, com
entrada no português
antes de 1580, de
acordo
com a Lírica
de Camões (edição
de José Maria Rodrigues e Afonso Lopes Vieira de 1918), provém do
latim
upupa, ae, e o verbo poupar
provém do latim
palpo, as, avi, atum,
are ‘tocar
levemente com
a mão, acariciar,
afagar’, com entrada no português no século XIII, de acordo
com o
Cancioneiro da Biblioteca
Nacional
(MACHADO, 1949-64). Antenor
Nascentes (NASCENTES,
1988). comenta que a idéia de gastar moderadamente provém “das
cautelas
de quem apalpa”.
PRESAR x PREZAR
Presar
– (V.) Apresar; tomar como presa;
capturar,
aprisionar, apreender.
Prezar
– (V.) Ter em alto preço; ter em grande consideração ou
respeito; estimar
muito; apreciar;
desejar, amar, querer.
Com
entrada no português em 1899, segundo Cândido
de Figueiredo (Cf. CUNHA, 1982,
s.v.), é formado pelo
substantivo
presa + o sufixo
-ar. Já o
substantivo
presa teve entrada
no português no século
XIII, segundo Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962), sendo um
substantivo
feminino de preso,
particípio
irregular
de prender do latim
prehensus, a, um particípio passado
de prehendere.
Já a forma verbal prezar, com entrada no português no mesmo século em que o substantivo presa e
de acordo com
a mesma fonte
de datação, provém do latim pretio, as, avi,
atum,
are ‘apreciar, estimar’, derivado de pretium, ii ‘preço, valor, merecimento’.
REMIÇÃO x
REMISSÃO
Remição
– (S. f.) Ato ou
efeito de remir(-se);
libertação,
resgate; salvação de pecados
ou
de crimes por
meio da expiação.
Remissão – (S. f.) Ação ou efeito de remitir(-se); remitência;
misericórdia,
clemência,
indulgência;
perdão; ação ou efeito de remeter, de mandar a um ponto dado.
Com entrada no português em 1844, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA, 1982, s.v.), remição
é formado pelo verbo
remir + o sufixo
-ção. O verbo
remir
teve entrada no
português
no século XIII,
segundo
o Índice do
Vocabulário
do Português Medieval (fichário) (ASENSIO, apud
CUNHA, 1962), proveniente do
latim redimo, is, emi, emptum/emtum, imere ‘resgatar,
comprar
para substituir, libertar, salvar etc.’, por via popular.
Já o substantivo remissão,
com entrada
no português no mesmo
século em
que o verbo
remir e, de acordo
com a mesma
fonte de datação,
provém do latim remissio, onis
‘ação
de pôr a caminho
de novo; diminuição;
isenção’.
RUÇO x RUSSO
Ruço
– (Adj.) Tirante a
pardo;
pardacento, pardaço; diz-se do cabelo ou da barba grisalha,
arruçada, ou
da pessoa que
tem cabelos ou
barbas dessa cor.
Difícil, complicado, apertado.
Russo – (Adj. / S. m.) Da,
ou pertencente ou relativo à
Rússia ou aos
seus
habitantes; o
natural
ou habitante
da Rússia; vocábulo dessa
língua.
Com entrada no português no século XIV, segundo
Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud
CUNHA, 1962), o
adjetivo
ruço provém, provavelmente, do latim roscidus, a, um
'orvalhado'.
Já russo é de
origem controversa:
segundo Antônio Geraldo da Cunha (CUNHA,
1966), provém do latim
medieval
russi plural russos,
derivado do russo rús de origem
escandinava;
segundo
José Pedro Machado (MACHADO, 1977, s.v.), é proveniente do francês russe (século
XV) e segundo Antenor Nascentes
(NASCENTES, 1988), do Finlandês ruotsen.
TACHA x TAXA
Tacha
– (S. f.) Pequeno
prego
de cabeça larga
e chata; brocha;
mancha, nódoa;
defeito moral,
mácula.
Taxa
– (S. f.) Tributo, imposto;
preço cobrado por
certos serviços;
tarifa.
O substantivo tacha
é de origem
controversa.
Com a acepção
de pequeno prego, teve entrada
no português em
1508, segundo
Conde de Sabugosa (SABUGOSA, 1905).
Conforme
Antenor Nascentes e Antônio
Geraldo da Cunha provém do espanhol tacha,
do occitânico tacha, sendo este
de origem incerta, segundo
Joan Corominas (COROMINAS, 1980). Já
na acepção
de mancha (século
XV), mácula (século
XIV), de acordo
com
Índice do
Vocabulário
do Português Medieval
(fichário) (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962), provém do francês tache
(século
XI), de origem
incerta, talvez do
gótico
taikn ‘sinal, marca’,
latinizado *tacca ou de
um
latim vulgar
*tagicare, derivado de tangere ‘tanger,
tocar’, sob influência de tingere ‘tingir’.
Já o substantivo taxa, com entrada no português em 1372, de
acordo com
os Descobrimentos Portugueses (MARQUES, 1944), é formado
por derivação regressiva
do verbo taxar,
o qual provém do
latim
taxo, as, avi, atum, are.
TERÇO x TERSO
Terço
– (Num.) Terceiro; fracionário correspondente a três. (S. m.) A terça parte de
qualquer coisa; a terça parte do rosário.
Terso – (Adj.) Puro, limpo; lustroso, polido;
correto, vernáculo.
Com entrada no português no século XIII, de acordo
com Antônio Geraldo da Cunha (ASENSIO,
apud CUNHA,
1962), terço provém do latim clássico
tertius, a, um
por via popular.
Já o adjetivo terso provém do latim
tersus, a, um,
com entrada no português em 1588, segundo
Luís Pereira Brandão (BRANDÃO,
1958).
TESTO x
TEXTO
Testo
(ê) – (S. m.) Tampa de barro ou de ferro, para vasilhas.
Texto
– (S. m.) Conjunto
de palavras, de
frases
escritas; obra
escrita considerada na sua redação original e autêntica
(por oposição
a sumário,
tradução,
notas,
comentários, etc.). Toda e
qualquer
expressão, ou
conjunto de
expressões,
que a escrita
fixou.
As duas formas tiveram entrada no português no século XIV,
de acordo com Antônio Geraldo da Cunha. O substantivo testo
provém do latim testu (indeclinável) ou testum, i.
Por outro lado, texto provém do latim textus, us
'narrativa, exposição', do verbo latino texo, is, xui, xtum, ere ‘tecer,
fazer tecido, entrançar, entrelaçar’.
TRANSVASAR x
TRANSVAZAR
Transvasar
– (V.) Passar dum vaso para outro; trasfegar, transfundir. (Variação de
trasvasar).
Transvazar
– (V.) Pôr fora; entornar, verter, transudar; entornar-se,
derramar-se.
Com entrada no português em 1858, segundo
Antônio de Morais Silva (SILVA,
1958), o verbo
transvasar é formado a partir do substantivo
vaso (de trans- + vaso + -ar], o qual
é proveniente do latim
vulgar
*vasum, do latim clássico
vas, asis, com entrada no português no século
XIII, de acordo
com
o Índice do
Vocabulário
do Português Medieval
(fichário) (ASENSIO,
apud CUNHA, 1962).
Já transvazar, com
entrada no português
em 1874, segundo
Frei
Domingos
Vieira (VIEIRA, 1871-4), é formado pelo
prefixo
trans- e o verbo
vazar
[de trans- + vazar], que
é uma alteração de vaziar,
proveniente de vazio pelo latim
vacivus, a, um.
TRÁS x TRAZ
Trás
– (Prep. / Adv.) Depois de, após; atrás, detrás; em seguida.
Traz – (V.) 3ª pessoa do singular do
Presente do Indicativo
do verbo trazer:
conduzir ou
transportar para o local onde está
o falante; transferir
de um lugar
para outro; transmitir; ter consigo; transportar, levar, portar.
Com entrada no português em 960, a palavra trás
provém do latim trans 'além de, para lá de'.
Já a forma verbal trazer, com entrada no português em 1034, provém do latim
clássico *traho, is, xi, ctum, ere 'puxar',
'arrastar',
pelo latim vulgar *trago,
*tragui, e pelo português arcaico trager.
As duas formas
possuem a mesma fonte
de datação,
segundo
José Pedro Machado (MACHADO, 1977, s.v.).
VÓS x VOZ
Vós
– Pronome
pessoal da 2ª pessoa
do plural de
ambos
os gêneros. Usa-se
quando
nos dirigimos a muitas pessoas (ou animais ou coisas personificados), funcionando como sujeito, como predicativo
e como regime
de preposições.
Voz
– (S. f.) Som
ou conjunto
de sons emitidos pelo
aparelho fonador.
Faculdade
de falar; fala.
Com entrada no português no século XIII, segundo
o Cancioneiro da Biblioteca Nacional
(Cf. NASCENTES, 1988, s.v.), o pronome vós
provém do latim vos (tônico),
nominativo
de vos, vostri
ou vostrum.
Já o substantivo voz,
com entrada
no português em
978, segundo José Pedro Machado (MACHADO,
1977, s.v.), provém do latim vox,
vocis ‘som da voz, voz’.
CONCLUSÃO
A execução deste trabalho possibilitou um grande aprendizado e um enorme
interesse pela pesquisa no que diz respeito à etimologia das palavras existentes
em nossa língua.
Para realização deste trabalho foram analisados
adjetivos,
verbos
e
substantivos
que utilizamos normalmente em nosso dia-a-dia. A pesquisa permitiu um contato
mais próximo à Língua Portuguesa no que diz respeito à origem das palavras
homônimas
homófonas.
Se todas as pessoas, alunos e professores, tivessem conhecimento da origem e
evolução das palavras, seria muito fácil estabelecer as diferenças e fazer o uso
correto de cada palavra.
Em relação aos
homônimos homófonos,
isto seria extremamente importante pois por pronunciarmos as palavras da mesma
maneira, às vezes, poderíamos escrevê-las erradamente, o que causaria um grande
problema, uma vez que ao trocarmos a grafia, modificaríamos também o significado
das palavras. Como foi visto no trabalho, o conhecimento prévio da etimologia de
cada palavra, especialmente das homônimas homófonas, possibilitaria o uso
adequado de cada vocábulo respeitando, inclusive, o significado pedido pelo
contexto analisado.
O breve estudo etimológico desenvolvido nesta monografia possibilitou a
observação de alguns processos existentes na Língua Portuguesa que se mostraram
invariáveis, como por exemplo o fato de todo –one
em latim evoluir para –ão
em português. Isso pôde ser verificado, como vimos, em palavras como
cessione
>
cessão,
sessione
>
sessão,
intensione
>
intensão,
intercessione
>
intercessão.
Outro aspecto importante observado foi o fato de todo –tione
em latim ter evoluído para –ção
em português, como por exemplo em sectione
> se(c)ção,
intentione
> intenção,
intersectione
> interse(c)ção.
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OS SUFIXOS FORMADORES DE ADJETIVOS
COM IDÉIA NEGATIVA
SUMÁRIO
Juliana C. de Lima
Muniz
INTRODUÇÃO
O
objetivo
deste trabalho, intitulado "Sufixos formadores
de adjetivos com
idéias negativas",
é justamente fazer
um levantamento
dos sufixos de
que
se vale Manuel Antônio de Almeida na feitura de seu romance Memórias
de um sargento de milícias e o quão
produtivos podem ser
esses sufixos.
Baseamo-nos, para nossa
pesquisa, no
livro: "Memórias de
um
sargento de
milícias".
No
tocante
ao estudo dos
sufixos
da língua portuguesa, existe vasta literatura sobre o assunto,
entretanto constitui material rico, a ser melhor explorado,
o teor de produtividade dos sufixos.
Analisaremos,
pois, o processo de
formação
dos adjetivos,
através
da derivação sufixal, numa perspectiva sincrônica, ou
seja, levando em conta
apenas o falar
do nosso tempo
histórico. O
autor
escolhido, entretanto, dará uma pitada de diacronia
ao trabalho, já
que se trata
de um autor
do século passado.
Não podemos nos
esquecer que
a língua não
é algo estável
e constante, mas
sim um
organismo vivo,
em constantes
modificações, principalmente a "língua funcional",
Por isso
mesmo, qualquer
tentativa de estudo
da língua não
é uma regra geral,
a riqueza da língua
está justamente nas
exceções.
A DERIVAÇÃO
COMO PROCESSO
DE FORMAÇÃO DE
PALAVRAS
Os
principais
processos de
formação
de palavras novas,
ou melhor,
os de mais alta
produtividade são a
derivação
e a composição.
Entretanto, interessa-nos em
particular
a derivação.
O processo
de derivação se caracteriza pela junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base
para a formação
de uma palavra.
Assim,
dizemos que uma palavra é derivada quando
ela se constitui de uma base e um afixo. Por exemplo, as formas
retratista (retrato
+ ista), livreiro
( livro + eiro),
predispor
( pre + dispor) são
formas derivadas, nelas verificamos a presença de uma base
+ sufixo ou
prefixo + base.
Como
nos esclarece Bechara (2000:338):
O sufixo não tem curso independente na língua (e por isso se chama forma presa)
para
formar uma palavra
nova, emprestando-lhe uma idéia acessória
e marcando-lhe a categoria (substantivo, adjetivo, etc)
a que pertence.
(...) ao contrário dos sufixos, que
assumem valor morfológico, os prefixos têm mais
força
significativa.
A
maior
diferença entre
prefixo e sufixo
parece residir, no entanto,
no aspecto estrutural ou
sintático. O sufixo
é sempre o
determinado, o núcleo ou elemento principal ou subordinante, só
tem sentido junto
da base. Já
o prefixo é
sempre
determinante, o
adjunto ou
elemento
subordinado
ou secundário
da estrutura vocabular. O prefixo, além
do mais, só
muda a classe
ou subclasse da
base:
fixar é verbo
e pré-fixar também
o é, feliz
é adjetivo e infeliz também. O sufixo
por ser determinado
é o núcleo da
palavra
e tem a função de
mudar
a classe da mesma: amigo (substantivo)
e amigável (adjetivo).
Prefixação X
Sufixação
Em
chatice, o
sufixo - ice tem função sintática
- transforma o adjetivo em
substantivo - e
semântica: o resultado da
sufixação
é o sentido
depreciativo,
que a base
chato não
tem necessariamente.
Como
diferenças
principais
entre prefixação
e sufixação temos, pois,
que a prefixação
tem função
primordialmente
semântica e a
sufixação
principalmente
sintática,
por outro
lado, o sufixo,
excetuando o de grau, constitui o núcleo da palavra
complexa produzida, e o prefixo, o adjunto.
De uma forma
ou de outra,
o resultado da
derivação
é sempre um
novo vocábulo, em que a palavra derivada amplia a
primitiva.
O
inventário
de afixos, embora
mais amplo
do que o de gramemas flexionais é também mais
fechado, o que significa que seu número é limitado e que
novas criações
são raras na
história
da língua. Isso
significa que se formam palavras novas
a partir de combinações
de afixos já
existentes. É por
isso
que a fala
atualiza a língua, o falante escolhe os
afixos e os radicais
que formarão
palavras
novas, de acordo
com a sua
ideologia, sua
filosofia, sua
cultura, enfim,
sua postura
diante da vida.
Diferença entre flexão e derivação
A
flexão
consiste no acréscimo ao radical de um morfema aditivo
sufixal (casa,
casa
+ s), enquanto na
derivação
é acrescido ao radical um sufixo lexical (casa, casa + inha).
O último
exemplo nos
permite afirmar com
segurança que
em língua
portuguesa, grau
não
é flexão, é
derivação, ao contrário do
que
é apresentado na NGB. Vejamos a opinião
do Professor Bechara: "A
flexão
se processa de
modo
sistemático,
coerente
e obrigatório em
toda classe homogênea, fato
que não
ocorre na derivação, o que já levara o
gramático e
erudito
romano Varrão
a considerá-la uma derivatio voluntaria."
É
importante
ressaltar que
uma vez usados os
sufixos
derivacionais, estaremos formando novas palavras, o que
não ocorre, é
claro,
quando usamos
sufixos
flexionais (ou
morfema
aditivo sufixal). O
caráter
fixo e restrito destes se contrasta com a enormidade
de combinações daqueles. Além disso, ao flexionar
uma palavra, o
falante
da língua se vê
obrigado a utilizar
o pequeno número
de sufixos flexionais, no caso da derivação
as opções são
infinitas e as escolhas são feitas de acordo com a vontade do falante.
A
gradação
em português,
tanto no
substantivo
quanto no adjetivo,
se manifesta por
procedimentos sintáticos, e não morfológicos, como
era no latim,
ou por
sufixos derivacionais.
COMO FORMAMOS PALAVRAS NOVAS
Em
nosso cotidiano,
geralmente, não
paramos para pensar como se formam palavras.
Formamos palavras
freqüentemente
e não percebemos
que
são criações
novas, como
por exemplo,
caretice
e muitas outras, usadas na fala coloquial, além
dos inúmeros diminutivos e aumentativos que
formamos diariamente.
Os
processos
de formação de
palavras
nem sempre
é algo fácil
de se sistematizar, alguns
escondem mistérios difíceis de se explicar, isso se
deve ao fato de a
língua
ser um organismo vivo,
em constante
modificação.
Por
que será que
construções como
"imexível" e "escapação" soam tão
mal aos ouvidos?
Uma explicação
possível
é a que diz
respeito
ao uso: desprezamos o que nos soa estranho.
Muitas
vezes, desprezamos algumas construções porque o lugar já está ocupado.
Por exemplo,
não se tornou
hábito
dizermos "escapação" porque já nos
acostumamos
com o termo
escapatória, consagrado pelo
uso.
Formamos
palavras
novas também
quando necessitamos de
usar
uma palavra de classe
já existente,
como
por exemplo
verbo, em
outra classe gramatical, como
substantivo. É o
caso
dos deverbais:
caçar
(verbo) gera caça
(substantivo). Processo
inclusive muito
comum e de fácil
execução.
No
entanto, o diminutivo
sempre
acompanha a classe de palavra
básica à qual
se aplica: livro/livrinho (substantivos).
Enfim,
a língua, como
já dissemos, é um
organismo vivo
e, por isso,
flexível. É essa flexibilidade que nos permite
contar com um número grande de elementos
básicos sem
termos que
sobrecarregar a memória
com um
número ainda
maior de palavras.
Produtividade lexical
Sabemos
que
através da
derivação
podemos criar palavras
novas. Todavia,
os afixos possuem
um
teor de produtividade variável. Ou
seja, uns são
mais
produtivos que
outros.
Este
talvez seja o ponto
central do presente
trabalho, isto
porque nos
interessa saber que
sufixos são
mais produtivos
na formação de
adjetivos
De
acordo
com Basilio (1995),
anteriormente
se supunha que a
formação
de palavras de
diferentes
classes a partir
do mesmo sufixo
era determinante
da produtividade, entretanto alguns afixos como o sufixo -ista, forma palavras da mesma
classe e é bastante
produtivo
O fator relevante
na produtividade desses sufixos não é a função
de mudança de classe,
mas a
generalidade
das noções envolvidas na função do processo de formação. Assim,
por exemplo,
noções como
a negação, o grau,
a designação de indivíduos (...) são noções bastante comuns
e de grande
generalidade;
conseqüentemente, esperamos que processos que incluam tais
noções em
sua função
sejam altamente
produtivos.
Já processos
apresentando funções mais particulares
teriam produtividade menor. (Basilio,
1995:50)
Sandmann(1997) acrescenta que
a mudança de classe gramatical da palavra,
por exemplo,
de verbo para
adjetivo (intimidar
- intimidatório), é um
fato
muito comum,
favorecendo a produtividade dos modelos,
porque facilita a
expressão, dando-lhe outras alternativas ou variedade.
Um
exemplo de regra
pouco produtiva,
temos no sufixo de
grau
-aço (golaço, tarifaço), em oposição ao aumentativo
-ão (pacotão, brizolão) com bastante força
expressional. Também são de grande
produtividade os sufixos -ismo
(petismo, malufismo), -ista (consumista,
colunista) e -ção (miniaturização,
consumação).
A Produtividade dos sufixos aumentativos
e diminutivos
Embora
não estando
presentes
no corpus
deste trabalho, não
podemos deixar de mencionar
os sufixos
formadores
de aumentativos e
diminutivos,
por serem de
grande
produtividade dentro da língua portuguesa, e por
expressarem o sentido negativo das palavras
com tanta
intensidade.
A
língua
não é apenas
veículo de
comunicação,
segundo Ullmann (1964: 265) ela é "também
um meio
de despertar emoções
e de as fazer surgir nos outros."
Por isso,
os sufixos são
de grande
utilidade
para os usuários
da língua,
principalmente
os formadores de
adjetivos
com sentido
pejorativo.
Segundo
Ullmann (p. 273) eles "acrescentam uma
nota emotiva
ou um
juízo de valor
ao significado do
radical", podendo o usuário
ou
o escritor fazer
uso destes
sufixos,
para despertar emoções no ouvinte
ou leitor
e, ao mesmo tempo,
fazer com que estes
compreendam seu
pensamento.
Contudo,
como lembra-nos Monteiro (1995:17), qualquer rendimento
estilístico só ocorre em função do contexto. Isto
é, "o vocábulo mais
banal pode carregar-se de expressividade,
tudo depende dos fatores ligados ao contexto."
Isto
posto, apresentaremos neste item do trabalho alguns sufixos
de relevância.
Sufixos Aumentativos
-aço, -uça
Formam
adjetivos
com força
aumentativa e
pejorativa.
Exemplos: ricaço,
dentuça,
animalaço.
-ão
É o
formador
de aumentativos
por
excelência. Ex.:
sabichão,
mandão, valentão,
malandrão.
-arro, -arra
Sufixos
de pouca produtividade na língua, apesar
de ter forte
valor
depreciativo. Ex.: bebarro, bebarra, beiçorra,
cabeçorra.
Em
épocas mais
antigas, estes
sufixos
não tinham o
forte
valor
depreciativo
de hoje. A forma
-orro, por
exemplo, aparece em
cachorro, palavra que, na
acepção primitiva
de 'filhote de
cão
e de algumas feras', deveria ter sido um diminutivo. ( Cunha,1989)
-astro
Neste
sufixo,
que aparece em
pouquíssimas palavras da língua, o valor
pejorativo é o
mais
saliente. Ex.: medicastro "médico
ruim,
charlatão", poetastro "poeta medíocre". O sufixo
assume a forma -asto, -asta em padrasto, madrasta.
Sufixos diminutivos
Faz-se
mister, nesta passagem do
trabalho, abordarmos novamente o tema contextualização. Tendo em
vista que
a função do
diminutivo
é dar idéia
de redução de tamanho, nada impede que
ele assuma
diferentes
valores. Tomemos
como
exemplo o sufixo
-inho, o mais utilizado na língua, ele
pode assumir vários
sentidos, dependendo do contexto:
a)
No exemplo: A bolinha é feita
de meia. a
palavra bolinha indica uma
diminuição de
tamanho.
b)
Em: Minha
filhinha fez quarenta anos! Apesar da filha
já Ter
completado quarenta anos, ainda é tratada
com
afetividade.
c)
Em: Aquela mulherzinha
não se toca!
Vive me convidando para
sair! O diminutivo
de mulher está
empregado
com sentido
depreciativo.
Os
exemplos
comprovam que, para
um sufixo
diminutivo formar
palavras com
valor negativo,
é preciso levar
em conta o contexto no qual
está inserido o discurso do falante, já que é justamente
o contexto que
definirá o grau de expressividade positiva ou negativa do vocábulo e, por que não dizer, do próprio discurso.
Vejamos alguns
sufixos
diminutivos:
-ebre
De
origem
desconhecida, aparece apenas em casebre, onde tem caráter
pejorativo.
-eco
De acentuado valor pejorativo.
Origina jornaleco, livreco.
OS ADJETIVOS
O adjetivo
é uma palavra
variável,
porque combina
com
os morfemas flexionais ou desinênciais, que
acompanha o substantivo, imprimindo neste
uma noção
qualitativa.
De
acordo
com Bechara:
O adjetivo pertence a um inventário aberto, sempre suscetível de ser aumentado. A estrutura interna
ou constitucional
do adjetivo consiste, nas
línguas
flexivas, na combinação de um signo lexical expresso
pelo radical com signos
morfológicos expressos por desinência
e alternâncias, ambas destituídas de existência própria
fora dessas
combinações.
A partir
daí, é possível
imaginar
a importância do
emprego
dos adjetivos na
literatura,
dado que
toda qualidade
manifestada implica sempre uma atitude valorativa. Monteiro afirma
que
"é uma das classes que mais
indicam o lado
afetivo
da comunicação."
Ocorre
que
o falante é dono
e senhor do seu
discurso e pode fazer
as escolhas que
quiser, inclusive pelo fato de que cada indivíduo
é tocado pela
palavra
de modo diferente.
Assim, cada
palavra desperta
em
nós tonalidades
afetivas inesperadas e novas, e é a partir disso que
fazemos nossas escolhas. Entretanto, há palavras
que já
apresentam uma tonalidade afetiva negativa
ou positiva,
encerradas em si
próprias, tonalidade essa que talvez
possa ser explicada pela
história, haja
visto
que a língua
é um sistema
de signos convencionados.
Como exemplo podemos citar a palavra madrasta.
Bechara diz
que:
A função informativa as evita ou
procura empregá-las de maneira a reduzi-las ao seu
significado
neutro. A expressividade, ao contrário,
faz delas instintivamente cabos elétricos
da mais alta
tensão.
ANÁLISE DE DADOS
Neste
item
do trabalho exploraremos os
sufixos
formadores de
adjetivos
com idéia
negativa no
romance
Memórias de
um
sargento de
milícias
de Manuel Antônio de Almeida.
Antes, porém, é importante
que se fale um
pouco a respeito
desse brilhante escritor
brasileiro. Almeida foi um
médico que
nunca clinicou,
sempre
se dedicou à literatura e às
artes. De origem
humilde, foi colega de
trabalho
do também
desvalido
Machado de Assis. Teve vida curta,
vindo a falecer aos trinta
anos
de idade num
naufrágio
na Baía de Guanabara. O referido romance, embora
escrito durante
o período romântico, é considerado obra de transição
para um novo estilo de época: o Realismo/Naturalismo. Trata-se de um
romance de humor
popular, baseado
nas aventuras de
tipos
humanos bem característicos da sociedade
carioca do séc. XIX. Não foi somente nas personagens que
inovou, seu
estilo
brilhante revela aos leitores
o quão divertido
e bem-humorado pode vir a ser
o cotidiano das pessoas
de baixa renda,
cheio de encantamentos e, porque não dizer, de adjetivos.
Os quadros anexos
demonstram o quanto os sufixos retirados do texto
podem ser produtivos
na formação de
adjetivos
com valor
negativo.
Comprovamos, a
partir
destes e de outros
sufixos,
aqui abordados,
que
a derivação sufixal é um processo de formação de palavras
altamente
produtivo
na língua portuguesa.
Quadro 1
Sufixos |
Palavras retiradas do livro |
Outras palavras da língua |
-oso, osa
(provido ou cheio de... ) |
presunçosa, ocioso, tinhoso, melindroso,
estrondoso, desgostoso |
furioso, venenoso, orgulhoso, nebuloso,
teimoso, vergonhoso, manhoso |
-ado, -ada
( a. provido ou cheio de... b. que tem o
caráter de...) |
sarapantado, acabrunhado, impacientado
|
enrolado (uso coloquial), assustado,
adamado, desdentado, fracassado, complicado, esfomeado |
-ento
(a provido ou cheio de... b. que tem
caráter de...) |
PachorrentO |
rabugento, peçonhento, ciumento,
turbulento |
-eira
( relação, posse, origem) |
Bisbilhoteira |
fofoqueira, quizumbeira(uso coloquial) |
-ível
(possibilidade de praticar ou sofrer uma
ação) |
Falível |
perecível, punível, desprezível,
discutível |
-aco
(estado íntimo) |
Velhaco |
maníaco, demoníaco |
-ona
(sufixo aumentativo feminino) |
bonachona, matrona |
solteirona, chorona |
-eirão
(sufixo aumentativo) |
Moleirão |
asneirão, toleirão |
-aço
(suf. aumentativo) |
Meirinhaço |
mulheraço, ricaço |
-azão
(suf. aumentativo |
Folgazão |
|
-esco
(referência, semelhança) |
Grotesco |
dantesco, burlesco |
-ivo
(modo de ser) |
Enjoativo |
fugitivo, negativo |
-ão
(suf. aumentativo) |
maganão, chorão |
folgadão, "entrão" |
Quadro 2
Sufixos |
Palavras retiradas do livro |
Outras palavras da língua |
-oso, osa
(provido ou cheio de... ) |
Presunçosa,
ocioso,
tinhoso, melindroso, estrondoso, desgostoso |
furioso, venenoso, orgulhoso,
nebuloso, teimoso, vergonhoso, manhoso |
-oso, osa
(provido ou cheio de... ) |
Presunçosa,
ocioso,
tinhoso, melindroso, estrondoso, desgostoso |
furioso, venenoso, orgulhoso,
nebuloso, teimoso, vergonhoso, manhoso |
-ado, -ada
( a. provido ou cheio de... b. que
tem o caráter de...) |
sarapantado, acabrunhado,
impacientado |
enrolado (uso coloquial), assustado,
adamado, desdentado, fracassado, complicado, esfomeado |
ento
(a provido ou cheio de... b. que tem
caráter de...) |
pachorrento, |
rabugento, peçonhento, ciumento,
turbulento |
eira
( relação, posse, origem) |
bisbilhoteira |
fofoqueira, quizumbeira(uso
coloquial) |
-ível
(possibilidade de praticar ou sofrer
uma ação) |
falível |
perecível, punível, desprezível,
discutível |
-aco
(estado íntimo) |
velhaco |
maníaco, demoníaco |
eirão
(sufixo aumentativo) |
moleirão |
asneirão, toleirão |
-aço
(suf. aumentativo) |
meirinhaço |
mulheraço, ricaço |
-azão
(suf. aumentativo |
folgazão |
|
-esco
(referência, semelhança) |
grotesco |
dantesco, burlesco |
-ivo
(modo de ser) |
enjoativo |
fugitivo, negativo |
-ão
(suf. aumentativo) |
maganão, chorão |
folgadão, "entrão" |
CONCLUSÃO
O trabalho
que ora
concluímos é uma humilde investigação acerca
da produtividade dos sufixos, muito ainda se
tem que pesquisar,
principalmente no
que
diz respeito à
língua
coloquial, campo
de estudo
bastante
interessante porque demonstra o quanto a língua
culta pode ser
influenciada pela
coloquial.
Durante
a pesquisa pudemos
avaliar
o alto grau
de produtividade dos sufixos, quando estes
formam adjetivos
com
valor negativo.
A qualidade dessas
formações
reside no fato dos
sufixos
exercerem uma função sintática, ao contrário
dos prefixos que
exercem um função
semântica, assim,
adjetivos são
formados a partir de verbos
ou substantivos.
A partir
do romance de Manuel Antônio de Almeida,
pudemos comprovar a produtividade dos sufixos, bem como a grande
expressividade dos adjetivos.
É,
então, a partir destas
considerações
finais, que
concluímos nosso
trabalho.
REFERÊNCIAS
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Manuel Antônio de. Memórias de
um
sargento de
milícias. São
Paulo
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BASILIO, Margarida. Teoria
Lexical.
São Paulo
: Ática, 1995.
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Portuguesa. Rio de Janeiro : Lucenna, 2000.
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Jr., Joaquim Mattoso. Dicionário de
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Vozes, 1997.
———.
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———.
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Flávia de Barros. Morfosintaxe.
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Aplicada ao Português:
Morfologia.
São Paulo
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ULLMANN,
Stephen. Semântica - Uma
introdução
à ciência do
significado. Lisboa : Fundação
Calouste Gulbenkian, 1964.
PALAVRA,
VOCÁBULO E TERMO
SUMÁRIO
Luciana Barbosa Duarte
INTRODUÇÃO
Este
trabalho visa
elucidar as semelhanças
e as diferenças
entre
palavra,
vocábulo e termo,
apontando seus
usos
e aplicações
Para
tal, utilizaremos a base
teórica
de diversos
autores, consultando gramáticas, dicionários (de língua
portuguesa, etimológico, de lingüística, etc.) e livros
sobre lingüística.
Nossa
hipótese é que
os três (
palavra, vocábulo
e termo)
são sinônimos
parciais. Baseamos esta afirmação em Bloomfield que
diz que:
sinônimos
perfeitos
não existem ou,
quando existem, existem por apenas um curto período de tempo,
partindo do pressuposto que se duas palavras ou formas lingüísticas
possuíssem exatamente o mesmo significado
e ocorressem exatamente nas mesmas situações e contextos,
a tendência
inexorável
da língua seria,
mais
cedo ou
mais tarde,
optar por
uma forma lingüística em lugar de outra.”
Sendo
assim, o que procuraremos
será encontrar
as diferenças de
situação,
contexto, etc.
que
distinguem a sinonímia dos
termos
citados.
Palavra
Devido
a complexidade da questão, primeiro
apresentaremos algumas definições para depois entrar nas questões polêmicas.
1.
Palavra s.f. Unidade lingüística
portadora de significação externa.
2.
Palavra são os signos acústicos de uma conformação
fonética e
capacidade
contextual simbólica.
3.
Palavra é a parte menor do discurso autônoma,
caracterizada como uma unidade de construção do plano fonético
(e também gráfico),
gramatical e
semântico
e que, tanto
do ponto de vista
material como
do ponto de vista
material como
do ponto de vista
semântico, entra
em
relação com
as restantes unidades da língua. Por isso a palavra
é uma unidade de forma
e de conteúdo.
4.
Palavra [Do gr. Parabolé,
pelo lat. Parabola] s.f. fonema ou grupos de fonemas
com uma significação.
5.
Palavra s.f. vocábulo provido de significação.
6.
Palavra é uma unidade de expressão
que os falantes
nativos reconhecem intuitivamente, tanto na linguagem
escrita como
na falada.
Partiremos
agora
para as complexidades do
termo
palavra e de suas
definições.
Zélio dos Santos Jota
apresenta três
fases
da palavra:
perceptual,
quando temos da coisa
a imagem visual
ou auditiva;
afetiva, quando
tal imagem
se transforma em
idéia;
conceitual,
quando
a idéia, bem
arraigada, já é
capaz
de provocar outras idéias,
ou é sentida
como elemento
sintático (assim,
à idéia lápis
correlacionamos escrever, da
mesma
forma que
sentimos como
nome: o lápis,
um
lápis).
Posteriormente,
ele afirma que
a palavra deixa
o aspecto fônico e gráfico
para o vocábulo e o fonológico deve caber à palavra já que a função do
fonema é distinguir
palavras. Considerando a palavra como
“uma entidade fonética-psicológica, de conteúdo significativo”.
Esta afirmação se contrapõe ao Dicionário Brasileiro da Língua
Portuguesa que coloca palavra como vocábulo representado graficamente.
Também
encontramos a aproximação de
vocábulo
e voz em
outros
dicionários. Zélio, porém,
também
liga o vocábulo
a parte gráfica.
Contudo,
há uma outra questão
que parece com
uma certa
freqüência: se palavras
flexionadas como (ando, andas,
andamos) são
palavras
diferentes ou
variações de uma mesma palavra.
Bechara, explica os fatos acima
classificando palavra sob três formas:
a) seu aspecto material,
fônico, como
significante
ou expressão;
b) sua significação
gramatical
como uma classe
de palavra ; c) a
sua
significação lexical, isto é, o que
significa a palavra (em relação a outra).
No primeiro
caso, ele
compara palavra
com
vocábulo “do latim
vox, que significa ‘ a voz’”. Entretanto,
duas palavras (uma
tônica
e uma átona) na
fala
se unem formando um
só
vocábulo, como
em aluga-se.
Além
de diferenciar vocábulo
de palavra, Bechara propõe a
classificação em dois
tipos de palavras:
palavras
gramaticais
e palavras léxicas. A primeira está relacionada ao
critério
b. Assim, cheguei, chegaste são duas palavras gramaticais, por
terem classificações gramaticais diferentes. Já
o mesmo exemplo,
de acordo com
o critério c, seriam uma única palavra léxica, pois têm a mesma significação apenas
com flexões
diferentes.
David Crystal, por sua vez, apresenta também
três tipos
de palavra. No primeiro
caso, palavras
como “máquina
de lavar” seriam uma palavra
composta de três
vocábulos; no
segundo, considera “ andar, andei,
andaste, andando” como variantes
de uma mesma
palavra, e as variantes
seriam lexemas; e o terceiro tipo é
a unidade
gramatical.
Ele ainda
apresenta alguns
critérios
para distinguir palavras na fala:
um
desses critérios
reza que as
palavras
são as mais
estáveis de todas as unidades lingüísticas,
com respeito
a sua estrutura
interna, isto
é, as partes
CONSTITUINTES
de uma palavra
complexa
tem poucas possibilidades de reorganização
em comparação com
a relativa MOBILIDADE
POSICIONAL dos constituintes das sentenças e outras estruturas
gramaticais
Outro
critério é a “coesão
das palavras” o
que
levou Bloomfield a definir “
palavra
como uma forma
livre mínima”.
Contudo,
é interessante que Crystal coloca a palavra como “
uma unidade de
expressão
que os falantes
nativos reconhecem intuitivamente tanto na linguagem
escrita quanto
na falada.”
Talvez
seja por isso
que os falantes
usam, sem maiores
problemas,
palavra,
vocábulo e termo,
a utilização é certamente
intuitiva, não apresentando a
complexidade estudada pelo
especialista.
Mário Vilela e Igedore Koch
explicam que por
causa da amplitude
de usos e valores
de “palavra” há a
tendência
de substitui-la por
outro
termo como
“ lexema, unidade
lexical, monema” , incluímos, em muitos casos, vocábulo e termo. Eles conceituam palavra
“como uma das
unidades
do sistema
lingüístico
e definimo-la como a unidade menor potencialmente isolável,
autônoma, portadora de significado
e função, que é
separada, como
seqüência
de grafemas (ou
letras), de outras palavras
e que, no caso
das palavras flexionais, dispõe de várias
formas”.
Esta,
em
nossa opinião
é a definição e
explicação
mais completa
e cremos que todas as complexidades e questões expostas são
feitas devido
ao ponto de vista
que encara-se
palavra, se é fonético,
morfológico ou sintático.
Vocábulo
1.
Vocábulo sm. Palavra que faz parte
de uma língua;
termo
(tb.dicção, no Aurélio );
2.
Vocábulo sm. Palavra
considerada apenas
quanto
à forma, independentemente
da significação que nela se encerra.
3.
Vocábulo sm.(l. vocabulu) Gram. 1.
Palavra
considerada especialmente quanto ao seu aspecto material (pronúncia, constituição
e escrita). 2. Dicção,
voz.
4.
Vocábulo sm. Palavra,
independentemente de sua significação ou
categoria (Do lat. vocabulu, nome com que se chama
uma coisa ou pessoa).
Segundo
Manoel
Pinto Ribeiro
há dois tipos
de vocábulos: o
fonológico
e o formal. O primeiro
seria o que possui
acento
tônico e o
segundo,
um segmento
fônico que se associa a uma significação
léxica e/ou
gramatical.
Dentro
deste conceito, os
vocábulos
formais podem ser
formas livres
ou dependentes.
As livres são
as que possuem significação própria (substantivo,
adjetivo, advérbios)
e as dependentes,
como
o próprio nome
diz depende, ou está ligada a outra
(artigo,
preposição, etc).
Podemos
perceber ainda que, este autor
utiliza vocábulo como
sinônimo de
palavra,
pois divide a morfologia
em: “formação
de vocábulos,
famílias
de vocábulos, processo
de formação de
vocábulos, etc”.
Para
Maria Cecília “o vocábulo formal ou morfológico apresenta-se,
então,
como a unidade
que se chega
quando não
é possível nova
divisão em
duas ou mais
formas livres”,
ou dependentes
de acordo com
Mattoso Câmara. Ela
não considera o
vocábulo
fonológico citado
anteriormente.
Horácio Rollim,
mencionando Mattoso, considera os dois
tipos
de vocábulos, o
formal
e o fonológico.
Segundo
Carone, “o conceito de vocábulo diz respeito a uma estrutura,
algo interno:
o vocábulo é uma unidade
constituída de morfemas”. Ela também
expõe a oposição
entre
vocábulo formal
ou morfológico e
vocábulo
fonológico. Assim,
a
forma dependente
é um vocábulo
formal que
não é um
vocábulo fonológico.
Inversamente, a palavra composta por justaposição consta de mais
de um vocábulo
fonológico, mas
o conjunto é
apenas
um vocábulo formal. Quando
os elementos do
composto
se aglutinam, dá-se o encontro: passam a
coincidir.
Certamente
esta distinção entre
vocábulo formal
e fonológico existe
para
aproximar vocábulo de palavra. O vocábulo formal é o tradicional, ou
o que aparece nos
dicionários, comparado a voz, som, fonema e o vocábulo fonológico é o que
se assemelha a palavra,
pois
se leva em
conta o significado.
Termo
1.
Termo - vocábulo, palavra, expressão:
um termo
obsoleto.
2.
Termo sm. Palavra
considerada quanto à extensão de seu
significado.
3.
Termo sm. Vocábulo ou conjunto de vocábulos que
representam uma unidade funcional: o predicado
é o termo
essencial
da oração. //
palavra
com sentido
específico: Esse
termo foi mal
empregado. São
termos médicos.
4.
Termo sm. Palavra
ou expressão
própria de uma arte
ou ciência.
5.
Termo sm. Vocábulo, dicção, palavra, expressão. Lóg. Termo
representado por uma expressão verbal.
Termos acessórios
da oração.
6.
Termo sm. Gram. Elemento
de oração. Vocábulo
ou locução
que denomina
conceito,
prévia e
rigorosamente
definido,
peculiar
a uma ciência , arte,
profissão, ofício.
Não
há muitas discussões em relação a termo.
As questões giram
em
torno de palavra
e vocábulo. Termo
é algo especializado, relacionado a uma ciência ou profissão, ou a
oração. Não
há grandes
problemas,
pois termo em geral se liga à sintaxe, enquanto vocábulo
liga-se à fonética e a morfologia
e a palavra às
três
áreas gramaticais.
CONCLUSÃO
Concluímos acreditando que
palavra é um
“termo” mais
geral, tendo como
característica principal um significado,
podendo ser simples,
isto é, composta
apenas por
um vocábulo (cadeira) ou composta, ou
seja, composta
por
dois ou mais vocábulos
(guarda-chuva, pé-de-moleque).
Já
vocábulo
seria uma unidade
sonora
de uma determinada
língua,
não tendo
necessidade
de um significado.
Cada unidade
é um vocábulo,
por exemplo
a palavra
pé-de-moleque, citada anteriormente
é constituída de três vocábulos
(1.
pé; 2.de; 3.moleque),
não sendo preso
a palavra como
um todo.
O termo, por outro lado, é empregado em casos específicos como
conceitos, nomes
técnicos, etc.
Além
disso, está ligado a estruturas
sintáticas, conhecidas como termos da oração.
Nesta ocasião, o
termo
engloba uma unidade
maior,
como o sujeito,
o predicado, etc.
Como
exemplo vejamos a
frase: Douglas é muito
interessante, “Douglas” pode ser considerado
tanto
palavra como
termo (sujeito);
já “é muito
interessante” são
três
palavras (1. é-
verbo, muito- advérbio, e
interessante - adjetivo), mas só um termo, o predicado.
Contudo, de forma geral, podemos considerar palavra, vocábulo e termo como sinônimos.
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KOOGAN/ HOUAISS.
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PÂNDU, Pandiá.
Moderno dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro
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RIBEIRO,
Manoel P., Gramática Aplicada da
Língua
Portuguesa. 9ª ed. Rio de
Janeiro : Metáfora, 1996.
SILVA, Maria Cecília Pérez de Souza e. Lingüística
Aplicada ao Português:
Morfologia. 8ª ed. São Paulo :
Cortez, 1997.
VILELA, Mário & Koch, Igedore
Villaça. Gramática da
Língua
Portuguesa. Coimbra : Almedina, 2001.
“Primavera” também designa comemoração de
aniversário, podendo significar
mais
um ano
de vida do “Nossa
Caixa”