A ESTRUTURA DAS FRASES FEITAS

 

  Estudo elementar da estrutura sintática e morfológica de 93 frases feitas, na forma em que aparecem nas crônicas de Carlos Drummond de Andrade. Classificação morfossintática dessas frases feitas em suas formas endo e exossêmicas.

 

SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO

ANÁLISE SINTÁTICA E MORFOLÓGICA DAS FRASES FEITAS

CLASSIFICAÇÃO DAS FRASES FEITAS

Frases Feitas Classificadas como Verbos

Frases feitas Classificadas Endossêmica e Exossemicamente como Verbos.

Frases feitas Classificadas Endossemicamente como Verbos e Exossemicamente como Substantivos.

Frases feitas Classificadas Endossemicamente como Verbos e Exossemicamente como Advérbios.

Frases Feitas Classificadas como Advérbios

Frases feitas Classificadas Endossêmica e Exossemicamente como Advérbios.

Frases feitas Classificadas Endossemicamente como Advérbio e Exossemicamente como Substantivo.

Frases Feitas Classificadas como Adjetivos

Frases Feitas Classificadas como Substantivos

Frases feitas Classificadas Endossêmica e Exossemicamente como Substantivos.

Frases feitas Classificadas Endossemicamente como Substantivo e Exossemicamente como Adjetivos.

Frases Feitas Classificadas como Interjeições

CONCLUSÕES

BIBLIOGRAFIA

NOTAS

ABREVIAÇÃO

a Advérbio

A Adjetivo

Adn Adjunto adnominal

Adv Adjunto adverbial

Ap Aposto

c Conjunção

Cn Complemento nominal

I Índice de indeterminação do sujeito

N Núcleo ou Numeral

Oadj Oração subordinada adjetiva

Oadv Oração subordinada adverbial

Oc Oração coordenada

Od Objeto direto

Oi Objeto indireto

Op Oração principal

Os Oração subordinada substantiva

P Período simples ou Pronome

Pa Partícula apassivadora

PC Período composto por coordenação

Pn Predicado nominal

Po Predicativo do objeto

Ps Predicativo do sujeito

PS Período composto por subordinação

Pv Predicado verbal

Pvn Predicado verbo-nominal

S Sujeito ou Substantivo

Sp Sujeito paciente

V Verbo ou verbo principal de uma locução verbal

v Verbo auxiliar

/ Artigo

+ Conectivo coordenante

_ Conectivo subordinante

( ) Inclusão da descrição do termo a que se pospõe

^ Indeterminação do termo a que se sobrepõe

~ Negação do termo a que se sobrepõe

Preposição ou conectivo vocabular

‘ Subentendimento do termo a que se sobrepõe

EPÍGRAFE

Pela tendência à cristalização, as frases feitas resistem através dos tempos, mas as palavras que as compõem perdem a potencialidade, neutralizam-se diante da imposição rítmica do texto.

(FERNANDO SABINO)

1 –INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em analisar sintática e morfologicamente a estrutura das frases feitas, ou seja, das locuções petrificadas na língua ou tornadas lugares-comuns, as abreviações ou paráfrases de provérbios, adágios, anexins, etc., ou meras alusões a estas expressões proverbiais, subordinadas sempre à construção da frase corrente.

Nestas expressões, consideradas na forma em que aparecem nas crônicas de Carlos Drummond de Andrade, observaremos e analisaremos elementarmente a sua estrutura morfossintática, de acordo com os padrões e nomenclatura tradicionais.

Como o nosso objetivo é observar e apresentar a estrutura básica da frase feita, tanto internamente com em suas relações com o contexto em que se encontra inserida, só faremos esparsos comentários quando os casos considerados nos parecerem ambíguos, admitindo maus de uma análise. Com isso, pretendemos ainda dar-lhes uma classificação, de acordo com a sua função morfossintática, considerando ao mesmo tempo o seu valor interno (ou endossêmico) e seu valor externo (ou exossêmico)

Nosso corpus será limitado a 93 frases feitas, todas colhidas nas crônicas de Carlos Drummond de Andrade, nos seguintes livros: Os Caminhos de João Brandão, De Notícias & Não Notícias Faz-se a Crônica, Os Dias Lindos e Boca de Luar.

Não Conhecemos nenhuma referência a trabalho que trate especificamente do tema que pretendemos desenvolver, embora sejam numerosos os que estudam a estrutura morfológica e sintática das línguas ou de alguns tipos de frases e também não é pequena a bibliografia sobre as formas petrificadas da linguagem, entre as quais se encontram as frases feitas.

O que torna peculiar o nosso critério de análise da estrutura frasal neste trabalho é, basicamente, o uso de abreviações. Com isto pretendemos fazer economia de espaço e facilitar uma visão de conjunto das análises de cada frase feita, com o que se facilita também uma abordagem comparativa.

No geral, esta forma abreviada de análise consiste em substituir a nomenclatura gramatical por abreviações convencionadas. Na análise morfológica, constituída apenas da indicação da classe de palavra de cada vocábulo formal, alinhamos simplesmente as abreviações convencionadas, na ordem em que aparecem no texto eleito como corpus. Na análise sintática, no entanto, tivemos de estabelecer uma hierarquia das funções, o que foi feito através de parênteses, com que inscrevemos a descrição detalhada do termo a que se segue a abertura dos referidos parênteses.

Exemplo: "Isto é dose para leão."

Análise sintática | DOSE PARA LEÃO | Análise morfológica

Ps ( Nadn (-N) ) | | S-S

Na análise sintática temos:

Predicativo do sujeito: Dose para leão;

Núcleo do predicativo do sujeito: Dose;

Adjunto adnominal do predicativo do sujeito: Para leão;

Preposição do adjunto adnominal: Para;

Núcleo do adjunto adnominal: Leão.

Na análise morfológica temos:

Substantivo: Dose; Preposição: Para; Substantivo: Leão.

A relação estabelecida entre a frase feita em questão e o contexto em que se insere está indicada pela primeira abreviação colocada na análise sintática, que, no caso acima, é Ps, ou seja, Predicativo do sujeito, que é uma função substantiva.

Em todos os casos, a análise sintática fica à esquerda e análise morfológica fica à direita, ambas na linha seguinte à em que transcrevemos em maiúsculas a frase em estudo.

Como todas as abonações são de Drummond, sua indicação bibliográfica, que remete sempre à bibliografia, constitui-se do nome do livro, seguido da indicação da página.

Na esperança de poder produzir algo melhor, aguardo ansioso, os comentários valiosos do exímio leitor.

Rio de Janeiro, fevereiro de 1985

José Pereira da Silva

Rua Visconde de Niterói, 512/97

20941 – Rio de Janeiro - RJ

2 – ANÁLISE SINTÁTICA E MORFOLÓGICA DAS FRASES FEITAS

Na ordem em que aparecem no texto, são analisadas as frases destacadas nos fragmentos citados, primeiro, sintaticamente, e depois, morfologicamente.

E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia.

(Poesia e Prosa, 1318)

LEVAVAM TÁBUA

Oadv (S^ Pv (V Od) ) VS

TIRAR O CAVALO DA CHUVA

Os (SpV (V Od (Adn N) Adv (-Adn) ) ) V/S-/S

IR PREGAR EM OUTRA FREGUESIA

Os (SPv (v V Adv (-Adn N) ) ) vV-PS

As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro.

(Poesia e Prosa, 1318).

TIRAR O PAI DA FORCA

Pv (V Od (Adn N) Oi (-Adn N) ) V/S-/S

NÃO CAÍAM DE CAVALO MAGRO

Pv (V) Cc (-N Adn) ) aV-SA

Algumas jogavam verdes para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa.

(Poesia e Prosa, 1318).

JOGAVAM VERDE PARA COLHER MADURO

Pv ( Vod ( N’adn) Oadv ( _S’Pv (VOd (Nadn) ) ) VA-VA

Ou

PvN (Vod Po) Oadv (-SPv (V Od Po) )

Obs.: Além das duas análises sintáticas diferentes apresentadas, ainda há um problema a ser considerado nessa frase:

Os dois verbos, embora pareçam ter o mesmo sujeito (algumas), aparece na forma impessoal no segundo, quando deveria concordar com o seu sujeito. Considerando isto, fizemos uma terceira análise, desta vez considerando que este verbo está na voz passiva sintética, com elipse da partícula apassivadora.

Neste caso, o sujeito do segundo verbo seria maduro, Ou seja:

Pvn (Vod Po) Oadv (_Pa Pv Sp (N Adn ) )

COM QUANTOS PAUS SE FAZ IMA CANOA

Os (Pv (Adv (-Adn N) Pa V) Sp (Adn N) ) -PSPV/S

Ou

Os (Pv (Adv (-Adn N) IVOd (Adn N) ) )

Obs.: Esta Segunda análise leva em conta o fato de que a partícula apassivadora e o sujeito paciente não são percebidos naturalmente como tais, criando-se um a espécie de análise artificial, onde os termos não correspondem à realidade percebida.

É óbvio, para mim, que não há intenção de se dizer, com esta frase, que uma canoa é feita. Que alguém faz uma canoa, num sentido ativo, é o que parece ser o sentido da construção se faz uma canoa.

O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada.

(Poesia e Prosa, 1319).

EMBARCASSE NUMA CANOA FURADA

Pv (VCc (-Nadn) ) V-SA

Encontravam alguém que lhes passava manta e azulava, dando às de Vila-Diogo.

(Poesia e Prosa, 1318).

LHES PASSAVA A MANTA

Pv (Oi Vod) PVS

DANDO ÀS DE VILA-DIOGO

Oadv (S^ Pv (VCc (-Adn N’ Adn (-N) ) ) ) V-/-S

Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água. (Poesia e Prosa, 1319).

SE METIAM EM CAMISAS DE ONZE VARAS

Pv (Od V Cc (-N Adn (-Adn N) ) ) PV-S-NS

(SE METIAM) EM CALÇAS PARDAS

Pv (Ód V’ Cc (-N Adn) ) ) P’V’-SA

DESSEM COM OS BURROS N’ÁGUA

Pv (VCc (-Adn N) Cc (-N) ) V-/S-S

Havia os que tomaram chá em criança, e, ao visitarem família de maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira.

(Poesia e Prosa, 1319)

TOMARAM CHÁ EM CRIANÇA

Pv (VOd Adv (-N) ) VS-S

Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e comisso punham a mão em cumbuca.

(Poesia e Prosa, 1319)

SEM SABER DA MISSA A METADE

Oadv (_) SPv (VCn (-Adn N) Od (Adn) ) ) -V-/S/S

ENSINAR PADRE-NOSSO AO VIGÁRIO

Os (SPv (VOd Od (-Adn N) ) ) VS-/S

PUNHAM A MÃO EM CUMBUCA

Pv (V Od (Adn N) Adv (-N) ) V/S-S

Era natural que com eles se perdesse a tramentana. (Poesia e Prosa, 1319)

SE PERDESSE A TRAMONTANA

Pv (IVOd (Adn N) ) ou Os (... Pa VSp (Adn N) ) PV/S

Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas.

(Poesia e Prosa, 1319)

A VER NAVIOS

Oadv (S Pv (_V Od) -VS

COM A BOCA NA BOTIJA

Adv (-Adn N Âdn Adv (-Adn N) ) -S/-S

TINTIM POR TINTIM

Adv (N-N) S-S

IAM COMER O PÃO QUE O DIABO AMASSOU

Oc (S’Pv (V (vV) Od (Adn N Adn (O adj (Od S (Adn N) V) ) ) ) )vV/SP/SV

ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS

O adj (AdvSPv (Vod (Adn N) ) ) PSV/S

Obs.: O antecedente da oração adjetiva acima é o advérbio de lugar lá, o que parece estranho, visto que o adjetivo é uma classe de palavra que funciona sempre com determinante de um substantivo. Tal estranheza desaparece ao analisarmos o significado deste advérbio, que nos dá, em qualquer contexto que o encontrarmos, "naquele lugar". Este, como outros advérbios, é pronome adverbial, subentendendo sempre um demonstrativo e o substantivo "lugar", que é o termo determinado.

Uns raros amarravam cachorro com lingüiça.

(Poesia e Prosa, 1319)

AMARRAVAM CACHORRO COM LINGÜIÇA

Pv (V Od Adv (-N) ) VS-S

E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde.

(Poesia e Prosa, 1319).

OUVIAM CANTAR O GALO, MAS NÃO SABIAM ONDE

Pv (V Od (Os (Pv S (Adn N) ) ) )+S’V) Od Os) VV/Sca VP

O pronome relativo e conectivo subordinante da última oração da frase feita analisada constitui o que se costuma chamar de vestígio. Ele representa toda a oração de que é o vestígio. Eliminando-se esta zeugma, além de ficar redundante, a frase resultante perderia toda a sua graça. Ficaria: Ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde o galo cantava.

Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por Ceca e Meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da Corte do Rio de Janeiro.

(Poesia e Prosa, 1319)

ANDANDO POR CECA E MECA

Oadv (S’Pv (VAdv (-N +N) ) ) V-ScS

Antigamente os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair aos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro.

(Poesia e Prosa, 1320)

DOBRAVAM A LÍNGUA

Pv (V Od (Adn N) ) V/S

CAIR NOS BRAÇOS DE MORFEU

Pv (VCc (-Adn N Adn (-N) ) ) V-/S-S

ENTRAR NO COURO

Os (S’Pv (VCc (-Adn N) ) ) V-/S

Não deviam também, se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir.

(Poesia e Prosa, 1320)

SEM TUGIR NEM MUGIR

Oadv (_) S& Pv)+) Oadv (S& Pv) -VcV

Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica.

(Poesia e Prosa, 1320)

NÃO ENTENDESSE PATAVINA

Oadv (S^ Pv (V) od) aVS

Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha.

(Poesia e Prosa, 1320)

JOGANDO COM PAU DE DOIS BICOS

Oadv (S’Pv (VCc (-N Adn (-Adn N) ) ) ) V-S-NS

MUITA CAUTELA E CALDO DE GALINHA

Od (Adn N + Nadn (-N) ) PScS-S

O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete; depois de fintar e engambelar os coiós, e antes de que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.

(Poesia e Prosa, 1320)

PÔR AS BARBAS DE MOLHO

Os (S^ Pvn (Vod (Adn N) Po (-N) ) ) V/S-S

PUSESSE TUDO EM PRATOS LIMPOS

PvOadv (IPv (Vod Adv (-N Adn) ) ) VP-AS

Ou

Oadv (Pv (Pa V Adv (-N Adn) ) Sp)

ABRIA O ARCO

Pv (Vod (Adn N) ) V/S

O diacho eram os filhos da Candinha: quem somava a candongas acabava na rua da amargura, lá encontrando, encatifada, muita gente na embira, que não tinha nem para matar o bicho; por exemplo, o mão-de-defunto.

(Poesia e Prosa, 1320)

OS FILHOS DA CANDINHA

S (Adn N Adn (-Adn N) /S-/S

NA RUA DA AMARGURA

Cc (-Adn N Adn (-AdnN) ) -/S-S

NA EMBIRA

Adv (-Adn) -/S

MATAR O BICHO

Oadv (S’Pv (V Od (N Adn N) ) ) V/S

Bom era ter costas quentes, dar as cartas com a faca e o queijo na mão; melhor ainda ter uma caixinha de pós de perlimpimpim, pois isso evitava de levar lata, ficar na pindaíba ou espichar a canela antes que fosse servido.

(Poesia e Prosa, 1320)

TER COSTAS QUENTES

Os (S^ Pv (Vod (N Adn) ) ) VSA

DAR AS CARTAS

Os (S^ Pv (V Od (Adn N) ) ) V/S

COM A FACA E O QUEIJO NA MÃO

Adv (-Adn N+Adn N Adv (-Adn N) ) -/Sc/S-/S

LEVAR LATA

Os (S^ Pv (V Od) ) VS

FICAR NA PINDAÍBA

Os (SPv (VCc (-Adn N) ) ) V-/S

FICAR NA PINDAÍBA

Os (SPv (VCc (-Adn N) ) ) V-/S

Qualquer um acabava enjerizado se lhe chegavam a urtiga ao nariz, ou se o faziam de gato-sapato.

(Poesia e Prosa, 1320)

O FAZIAM DE GATO-SAPATO

O adv (S^ Pvn (Od V Po(-N) ) ) PV-S

Ganhar vidro de cheiro marca barbante, isso não: a mocinha dava o cavaco.

(Poesia e Prosa, 1320)

DAVA O CAVACO

Pv (V Od (Adn N) V/S

Às vezes, sem tirte nem guarte, aparecia um doutor pomada, todo cheio de nove horas; ia-se ver, debaixo de tanta farofa era um doutor de mula ruça, um pé rapado, que espiga! (Poesia e Prosa, 1320)

SEM TIRTE NEM GUARTE

Adv (-) N+) N) -ScS

UM DOUTOR POMADA

S(Adn N Adn) /SS

TODO CHEIO DE NOVE HORAS

Ps (Adv N Cn (-Adn N) ) aA-NS

DEBAIXO DE TANTA FAROFA

Adv (- (N-) Adn N) a-PS

UM DOUTOR DE MULA RUÇA

Ps ( Adn N Adn N (-Nadn) /S-SA

UM PÉ RAPADO

Ps (Adn N Adn) /SA

E a moçoila, que começava a nutrir xodó por ele, que estava mesmo de rabicho, caía das nuvens.

(Poesia e Prosa, 1320)

NUTRIR XODÓ

Pv (Vod) VS

DE RABICHO

Ps (-N) -S

CAÍA DAS NUVENS

Pv (V Adv (-Adn N) ) V-/S

Daí se perder as estribeiras por uma tutaméia, um alcaide que o caixeiro nos impingia, dando de pinga um cascão de goiabada.

(Poesia e Prosa, 1320)

SE PERDER AS ESTRIBEIRAS

I Pv (V Od (Adn N) ) PV/S

DE PINGA

Po (-N) -S

Os tipos que havia: o pau-para-toda-obra, o vira-casaca (este cuspia no prato em que comera), o testa-de-ferro, o sabe-com-quem-está-falando, o sangue-de-barata, o Dr. Fiado que morreu ontem, o zé-povinho, o biltre, o peralvilho, o salta-pocinhas, o alferes, a polaca, o passador de nota falsa, o mequetrefe, o safardana, e maria-vai-com-as-outras...

(Poesia e Prosa, 1320)

CUSPIA NO PRATO EM QUE COMERA

Pc (V Cc (-Adn N) Oadv (-Adv S’Pv) ) V-/S-PV

Obs.: Este período é importante exemplo de como as frases feitas se assemelham às palavras compostas. É possível que as frases feitas sejam uma espécie de transição entre a frase corrente e apalavra composta. Um fato semelhante à transição existente entre uma gíria, de uso restrito a certas classes sociais ou grupos regionais, e o vocabulário comum.

Por que "o maria-vai-com-as-outras"é tão diferente da frase "Maria vai com as outras colegas à praia"?

Onde está a diferença estrutural entre "os filhos da Candinha" e "o testa-de-ferro" ou "o sangue-de-barata"? Não é apenas um problema de ortográfia?

Imaginamos que a frase feita é uma unidade semântica estruturada com tanta coerência quanto a palavra composta por justaposição, e como tal pode ser considerada. Tanto assim é que os lexicógrafos não conseguem unificar sua ortografia, ora escrevendo-os com hífens, ora sem hífens.

Se existe uma distinção clara, por que não divulgá-la, estabelecendo um critério ortográfico? É simplesmente porque não existe.

Depois de mil peripécias, assim ou assado, todo mundo acabava mesmo batendo com o rabo na cerca, ou simplesmente a bota, sem saber com descalça-la.

(Poesia e Prosa, 1320)

ASSIM OU ASSADO

Adv (N+N) aca

BATENDO COMO RABO NA CERCA

O adv (S Pv (V OD (-Adn N) Cc (-Adn N) ) ) V-/S-/S

Ele não se deu por achado: Ora, minha tia, então não vê que é de meu padrinho Sr. São José?

(Poesia e Prosa, 1179)

NÃO SE DEU POR ACHADO

Pvn (Od V Ps (-N) ) aPV-A

Com o aperto do laço, o infeliz punha a alma pela boca.

(Poesia e Prosa, 1118)

PUNHA A ALMA PELA BOCA

Pv (V Od (Adn N) Cc (-Adn N) V/S-/S

-Bem que este merecia um chá de casca de vaca!

(Poesia e Prosa, 1334)

UM CHÁ DE CASCA DE VACA

Od (Adn N Adn (-N Adn (-N) ) ) /S-S-S

Minha sogra acha que debaixo desse angu tem carne, e que o senhor pretende exprimir em símbolos uma realidade sutil.

(Os Dias Lindos, 13)

DEBAIXO DESSE ANGU TEM CARNE

Os (S’Pv (Adv (- (N-) Adn N) V Od) ) a-PSVS

Não vem que não tem!

(Os Dias Lindos, 64)

NÃO VEM QUE NÃO TEM

PS (Op (S’Pv (V) ) ) Oadv (_S’Pv (V) ôd) ) ) aVcaV

Isso aqui não é a casa da mãe Joana!

(Os Dias Lindos, 64)

A CASA DA MÃE JOANA

Ps (Adn N Adn (-Adn N Adn) ) S-/SS

Bons olhos o vejam!

(Os Dias Lindos, 64)

BONS OLHOS O VEJAM

P (S (Adn N) Pv (Od V) ) ASPV

Parar é regra de ouro (se não me falha a memória).

SE NÃO ME FALHA A MEMÓRIA

Oadv (_Pv (Oi V) ) Sp (Adn N) ) caPV/S

O problema é que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

(Os Dias Lindos, 68)

SE CORRER O BICHO PEGA, SE FICAR O BICHO COME

Oadv (_S^ Pv) Op ( S (Adn N) Pv) Oadv (_S^ Pv) Op (S (Adb N) Pv) Cv/SVcV/SV cV/SVcV/SV

Não tem papas na língua.

(Os Dias Lindos, 68)

NÃO TEM PAPAS NA LÍNGUA

P (S^ Pv (V Od Oi (-Adn N) ) ) aVS-/S

Não pode com uma gata pelo rabo.

(Os Dias Lindos, 68)

NÃO PODE COM UMA GATA PELO RABO

P (S^ Pv ( V Oi (-Adn N) Adv (-Adn N) ) ) aV-/S-/S

Não estou aqui para botar azeitona na empada de ninguém.

(Os Dias Lindos, 68)

BOTAR AZEITONA NA EMPADA DE NINGUÉM

O adv (S’Pv (V Od Adv (-Adn N Adn (-N) ) ) ) ) VS-/S-P

Não fede nem cheira.

(Os Dias Lindos, 68)

NÃO FEDE NEM CHEIRA

PC (S^ Pv (V) ) + S^ Pv (V) ) ) aVcV

Por que se dizem cobras e lagartos, e não se dizem rouxinóis e açucenas?

(Os Dias Lindos, 70)

SE DIZEM COBRAS E LAGARTOS

Oc (Pv (Pa V) Sp (N+N) ) PVScS

Também cabe referir aquelas coisas manifestadas com a ressalva: ‘Diga de passagem’.

DIGA-SE DE PASSAGEM

Ap (S^ Pv I Adv (-N) ) VP-S

A menos que o convicto (ou teimoso) diga: ‘Digo e repito’.

(Os Dias Lindos, 69)

DIGO E REPITO

Os (S’Pv ) +Os (S’Pv) VcV

E na variação, fica o dito por não dito.

(Os Dias Lindos, 69)

FICA O DITO POR NÃO DITO

P (Pvn (...VPs (-N^ Ãdn) ) S (Adn N^ Adn) ) V/A-aA

Tentei convencer (sem muita convicção) à recalcitrante que o fim era nobre, uma vez que se trata de prevenir o enfarte, ou infarto, dos sócios do clube, por uma terapêutica artístico-literária em que ela constituiria elemento essencial; que seu concurso seria verdadeira mão-na-roda; que tivesse paciência e desse uma mãozinha, mesmo de mão-beijada, pois o clube não falara em pagamento; enfim, que agüentasse a mão, mesmo que isso fosse uma tremenda mão-de-obra, para que os velhinhos convidadores não ficassem de mão abanando, ou com uma mão atrás e outra adiante, ou ainda, para falar mais claramente, na mão.

(Os Dias Lindos, 139)

DESSE UMA MÃOZINHA

Os (S’Pv (V Od (Adn N) ) ) V/S

DE MÃO-BEIJADA

Adv (-N Adn) -SA

AGÜENTASSE A MÃO

Os (S’Pv (V Od (Adn N) ) ) V/S

NÃO FICASSE DE MÃO ABANANDO

Pn (V) Ps (-N Adn (Oadj) ) ) aV-SV

COM UMA MÃO ATRÁS E OUTRA ADIANTE

Ps (-Adn N Adv + Adn N’Adv) -PSacPa

NA MÃO

Ps (-Adn N) -/S

A tudo ela respondeu com obstinada indiferença, que nem à mão de Deus Padre cederia.

(Os Dias Lindos, 139)

NEM À MÃO DE DEUS PADRE

Od (_) -Adn N Adn (-N) ) c-/S-SS

Alegou que para esse tipo de coisas tinha mão-de-pilão; além disso, não desejava meter a mão em cumbuca, e exortou-me a botar a mão na consciência: não estaria eu querendo tirar sardinha com mão de gato?

(Os Dias Lindos, 139)

METER A MÃO EM CUMBUCA

Os (S’Pv (V Od (Adn N) Oi (-N) ) ) V/S-S

Ou

Os (S’Pv(V Od (Adn N) Cc (-N) ) )

Obs.: Nem sempre é muito fácil distinguir o objeto indireto do complemento circunstancial. Talvez fosse por isso que a comissão organizadora da Nomenclatura Gramatical Brasileira tenha englobado ambos sob a rubrica de objeto indireto, em alguns casos, ou ambos sob o nome de adjunto adverbial, quando a confusão estabelecida estivesse entre estes dois últimos: complemento circunstancial e adjunto adverbial.

BOTAR A MÃO NA CONSCIÊNCIA

Os (S’Pv (V Od (Adn N) Oi (-Adn N) ) ) V/S-/S

Ou

Os (S’Pv (V Od (Adn N) Cc (-Adn N) ) )

Obs.: Vide observação acima.

TIRAR SARDINHA COM MÃO DE GATO

Os (S’Pv (V Od Adv (-N Adn (-N) ) ) ) VS-S-S

Dei as mãos à palmatória

(Os Dias Lindos, 139)

DEI AS MÃOS À PALMATÓRIA

P (S’Pv (V Od (Adn N) Oi (-Adn N) ) ) V/S-/S

Mas para não dar o braço a torcer, nem me declarar vencido pela competição das cervejas, concluí: Leovigil, traga a de sempre.

(De Notícias & Não Notícias Faz-se Crônica, 138)

NÃO DAR O BRAÇO A TORCER

O adv (S’Pv (V) Od (Adn N) Adv (O adv (_ Sp’Pv) ) ) ) aV/S-V

Eu sei, eu percebo. Faz bem em fechar-se em copas.

(De Notícias & Não Notícias Faz-se a Crônica, 12)

FECHAR-SE EM COPAS

O adv (S’Pv (V Od Cc (-N) ) ) VP-S

-Tou contratada. Vamos, não me negue uma colher de chá.

(Boca de Luar, 43)

UMA COLHER DE CHÁ

Od (Adn N Adn (-N) ) /S-S

3 – CLASSIFICAÇÃO DAS FRASES FEITAS

Fizemos a classificação morfossintática das 93 frases feitas estudadas levando em consideração o que ensina o Professor Aloizio Manna no seguinte fragmento de seu livro: Padrões Estruturais da Língua Portuguesa:

Cada fragmento de um conjugado semântico qualquer, a par de seu valor intrínseco – mais ou menos vago, considerado em si mesmo – irradia simultaneamente, no processo associativo, um valor semântico externo, fundamental na estruturação da língua. Ao mesmo tempo, o seu valor externo reflui sobre si mesmo, para delimitar, ou melhor, precisar o seu próprio valor interno.

Como se pode perceber, este duplo aspecto – endossêmico e exossêmico – se apresenta intimamente vinculado, e só se dissocia para efeito metodológico.

De acordo com a sua estrutura e função morfossintática , as frases feitas foram classificadas endossêmica e exossemicamente em cinco classes de palavras, a saber: verbos, substantivos, adjetivos, advérbios e interjeições.

Seu valor endossêmico é avaliado pela classe da palavra pela qual poderia ser substituída . Mas o seu valor exossêmico é determinado pela função sintática que desempenha no contexto frasal de que é extraída.

Reagrupadas, aqui, de acordo com este critério, cada frase feita estudada é destacada do texto e repetida, juntamente com a sua análise sintática e morfológica, para que se possa fazer mais facilmente um confronto.

Centralizada, em maiúsculas, vem a frase feita; abaixo e à esquerda, vem a análise sintática; e à direita, nesta mesma linha, vem a análise morfológica, sempre abreviadas.

3.1 – Frases Feitas Classificadas como Verbos

Considerando apenas a estrutura e o valor semântico interno, 64 das 93 frases feitas estudadas se constituem de verbos. Ou seja, 69% do total.

Desse número, 34 frases feitas, ou 37% do total, são classificada como verbos endossêmica e exossemicamente; 18, ou seja, 20% do total, são classificadas como verbos endossemicamente e como substantivos exossemicamente; 12 frases feitas, que constituem 12% do total, classificam-se exossemicamente como advérbios.

3.1.1. – Frases Feitas Classificadas Endossêmica e Exossemicamente como verbos.

TIRAR O PAI DA FORCA

Pv (V Od (Adn N) Oi (-Adn N) ) V/S-/S

NÃO CAÍAM DE CAVALO MAGRO

Pv (V) Cc (-N Adn) ) aV-SA

IAM COMER O PÃO QUE O DIABO AMASSOU

Oc (S’Pv (V (vV) Od (Adn N Adn (O adj (Od S (Adn N) V) ) ) ) )vV/SP/SV

TOMARAM CHÁ EM CRIANNÇA

Pv (VOd Adv (-N) ) VS-S

SE METIAM EM CAMISAS DE ONZE VARAS

Pv (Od V Cc (-N Adn (-Adn N) ) ) PV-S-NS

(SE METIAM) EM CALÇAS PARDAS

Pv (Ód V’ Cc (-N Adn) ) ) P’V’-SA

DESSEM COM OS BURROS N’ÁGUA

Pv (VCc (-Adn N) Cc (-N) ) V-/S-S

LHES PASSAVA A MANTA

Pv (Oi Vod) PVS

EMBARCASSE NUMA CANOA FURADA

Pv (VCc (-Nadn) ) V-SA

AMARRAVAM CACHORRO COM LINGÜIÇA

Pv (V Od Adv (-N) ) VS-S

OUVIAM CANTAR O GALO, MAS NÃO SABIAM ONDE

Pv (V Od (Os (Pv S (Adn N) ) ) )+S’V) Od Os) VV/Sca VP

DOBRAVAM A LÍNGUA

Pv (V Od (Adn N) ) V/S

CAIR NOS BRAÇOS DE MORFEU

Pv (VCc (-Adn N Adn (-N) ) ) V-/S-S

JOGAVAM VERDE PARA COLHER MADURO

Pv ( Vod ( N’adn) Oadv ( _S’Pv (VOd (Nadn) ) ) VA-VA

DAVA O CAVACO

Pv (V Od (Adn N) V/S

NUTRIR XODÓ

Pv (Vod) VS

CAÍA DAS NUVENS

Pv (V Adv (-Adn N) ) V-/S

SE PERDER AS ESTRIBEIRAS

I Pv (V Od (Adn N) ) PV/S

CUSPIA NO PRATO EM QUE COMERA

Pc (V Cc (-Adn N) Oadv (-Adv S’Pv) ) V-/S-PV

PUNHAM A MÃO EM CUMBUCA

Pv (V Od (Adn N) Adv (-N) ) V/S-S

SE PERDER A TRAMONTANA

Pv (IVOd (Adn N) ) PV/S

PUSESSE TUDO EM PRATOS LIMPOS

Pv (Vod Adv (-N Adn) ) VP-AS

ABRIA O ARCO

Pv (Vod (Adn N) ) V/S

NÃO FICASSEM DE MÃOS ABANANDO

Pn (V) Ps (-N Adn (Oadj) ) ) aV-SV

DEI AS MÃOS À PALMATÓRIA

P (S’Pv (V Od (Adn N) Oi (-Adn N) ) ) V/S-/S

FICA O DITO POR NÃO DITO

P (...VS (Adn N^ Adn) Ps (-N’Ãdn)) V/A-aA

SE CORRER O BICHO PEGA, SE FICAR O BICHO COME

Oadv (_S^ Pv) Op ( S (Adn N) Pv) Oadv (_S^ Pv) Op (S (Adb N) Pv) Cv/SVcV/SV cV/SVcV/SV

NÃO SE DEU POR ACHADO

Pvn (Od V Ps (-N) ) aPV-A

PUNHA A ALMA PELA BOCA

Pv (V Od (Adn N) Cc (-Adn N) V/S-/S

SE DIZEM COBRAS E LAGARTOS

Oc (Pv (Pa V) Sp (N+N) ) PVScS

NÃO FEDE NEM CHEIRA

PC (Oc (S^ Pv (V) ) + Oc (S^ Pv (V) ) ) ) aVcV

NÃO PODE COM UMA GATA PELO RABO

P (S^ Pv ( V Oi (-Adn N) Adv (-Adn N) ) ) aV-/S-/S

NÃO TEM PAPAS NA LÍNGUA

P (S^ Pv (V Od Oi (-Adn N) ) ) aVS-/S

NÃO DAR O BRAÇO A TORCER

O adv (S’Pv (V) Od (Adn N) Adv (O adv (_ Sp’Pv) ) ) ) aV/S-V

3.1.2 Frases Feitas Classificadas Endossemicamente como Verbos e Exossemicamente como Substantivos.

TER COSTAS QUENTES

Os (S^ Pv (Vod (N Adn) ) ) VSA

DAR AS CARTAS

Os (S^ Pv (V Od (Adn N) ) ) V/S

LEVAR LATA

Os (S^ Pv (V Od) ) VS

FICAR NA PINDAÍBA

Os (SPv (VCc (-Adn N) ) ) V-/S

FICAR NA PINDAÍBA

Os (SPv (VCc (-Adn N) ) ) V-/S

TIRAR O CAVALO DA CHUVA

Os (SpV (V Od (Adn N) Adv (-Adn) ) ) V/S-/S

IR PREGAR EM OUTRA FREGUESIA

Os (SPv (v V Adv (-Adn N) ) ) vV-PS

ENTRAR NO COURO

Os (S’Pv (VCc (-Adn N) ) ) V-/S

ENSINAR PADRE-NOSSO AO VIGÁRIO

Os (SPv (VOd Od (-Adn N) ) ) VS-/S

PÔR AS BARBAS DE MOLHO

Os (S^ Pvn (Vod (Adn N) Po (-N) ) ) V/S-S

DESSE UMA MÃOZINHA

Os (S’Pv (V Od (Adn N) ) ) V/S

AGÜENTASSE A MÃO

Os (S’Pv (V Od (Adn N) ) ) V/S

METER A MÃO EM CUMBUCA

Os (S’Pv (V Od (Adn N) Oi (-N) ) ) V/S-S

BOTAR A MÃO NA CONSCIÊNCIA

Os (S’Pv (V Od (Adn N) Oi (-Adn N) ) ) V/S-/S

TIRAR SARDINHA COM MÃO DE GATO

Os (S’Pv (V Od Adv (-N Adn (-N) ) ) ) VS-S-S

DIGO E REPITO

Os (S’Pv ) +Os (S’Pv) VcV

DIGA-SE DE PASSAGEM

Ap (S^ Pv I Adv (-N) ) VP-S

DEBAIXO DESSE ANGU TEM CARNE

Os (S’Pv (Adv (- (N-) Adn N) ) ) a-PSVS

3.1.3. Frases Feitas Classificadas Endossemicamente como Verbos e Exossemicamente como Advérbios

DANDO ÀS DE VILA-DIOGO

Oadv (S^ Pv (VCc (-Adn N’ Adn (-N) ) ) ) V-/-S

MATAR O BICHO

Oadv (S’Pv (V Od (N Adn N) ) ) V/S

LEVAVAM TÁBUA

Oadv (S^ Pv (V Od) ) VS

JOGANDO COM PAU DE DOIS BICOS

Oadv (S’Pv (VCc (-N Adn (-Adn N) ) ) ) V-S-NS

NÃO ENTENDESSE PATAVINA

Oadv (S^ Pv (V) od) aVS

ANDANDO POR CECA E MECA

Oadv (S’Pv (VAdv (-N +N) ) ) V-ScS

O FAZIAM DE GATO-SAPATO

O adv (S^ Pvn (Od V Po(-N) ) ) PV-S

BATENDO COMO RABO NA CERCA

O adv (S Pv (V OD (-Adn N) Cc (-Adn N) ) ) V-/S-/S

SE NÃO ME FALHA A MEMÓRIA

Oadv (_Pv (Oi V) ) Sp (Adn N) ) caPV/S

BOTAR AZEITONA NA EMPADA DE NINGUÉM

O adv (S’Pv (V Od Adv (-Adn N Adn (-N) ) ) ) ) VS-/S-P

FECHAR-SE EM COPAS

O adv (S’Pv (V Od Cc (-N) ) ) VP-S

SEM TUGIR NEM MUGIR

Oadv (_) S& Pv)+) Oadv (S& Pv) -VcV

3.2- Frases Feitas Classificadas como Advérbios

As frases feitas que têm valor de advérbio, considerando-se apenas a sua estrutura interna, são 12. O que corresponde a 13% do total de 93 estudadas neste trabalho. Dessas 12, 11 se classificam endossêmica e exossemicamente com advérbio (12% do total) e apenas 1 se classifica endossemicamente com advérbio e exossemicamente como substantivo (1% do total de 93). Ei-las:

3.2.1. – Frases Feitas Classificadas Endossêmica e Exossemicamente com Advérbios

SEM TUGIR NEM MUGIR

Oadv (_) S& Pv)+) Oadv (S& Pv) -VcV

COM A BOCA NA BOTIJA

Adv (-Adn N Âdn Adv (-Adn N) ) -S/-S

NA RUA DA AMARGURA

Cc (-Adn N Adn (-AdnN) ) -/S-S

NA EMBIRA

Adv (-Adn) -/S

COM A FACA E O QUEIJO NA MÃO

Adv (-Adn N+Adn N Adv (-Adn N) ) -/Sc/S-/S

DEBAIXO DE TANTA FAROFA

Adv (- (N-) Adn N) a-PS

SEM SABER DA MISSA A METADE

Oadv (_) SPv (VCn (-Adn N) Od (Adn) ) ) -V-/S/S

ASSIM OU ASSADO

Adv (N+N) aca

DE MÃO-BEIJADA

Adv (-N Adn) -SA

3.2.2. Frase Feita Classificada Endossemicamente com Advérbio e Exossemicamente como Substantivo

NEM À MÃO DE DEUS PADRE

Od (_) -Adn N Adn (-N) ) c-/S-SS

3.3. Frases Feitas Classificadas como Adjetivos

As 6 frases feitas classificadas como adjetivos são-no endessêmica e exossemicamente, constituindo 7% do total das frases feitas estudadas neste trabalho.

ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS

O adj (AdvSPv (Vod (Adn N) ) ) PSV/S

TODO CHEIO DE NOVE HORAS

Ps (Adv N Cn (-Adn N) ) aA-NS

DE RABICHO

Ps (-N) -S

DE PINGA

Po (-N) -S

COM UMA MÃO ATRÁS E OUTRA ADIANTE

Ps (-Adn N Adv + Adn N’Adv) -PSacPa

NA MÃO

Ps (-Adn N) -/S

3.4. Frases Feitas Classificadas como Substantivos

Das 9 frases feitas que se classificam como substantivos, constituindo 10% do total das frases feitas analisadas, 7 são endossêmicas e exossemicamente substantivos (8% do total) e 2 são endossemicamente substantivos e exossemicamente adjetivos, ou 22 % do total.

3.4.1. Frases Feitas Classificadas Endossêmica e Exossemicamente como Substantivos.

MUITA CAUTELA E CALDO DE GALINHA

Od (Adn N + Nadn (-N) ) PScS-S

COM QUANTOS PAUS SE FAZ IMA CANOA

Os (Pv (Adv (-Adn N) I V Od (Adn N) ) -PSPV/S

OS FILHOS DA CANDINHA

S (Adn N Adn (-Adn N) /S-/S

UM DOUTOR POMADA

S(Adn N Adn) /SS

A CASA DA MÃE JOANA

Ps (Adn N Adn (-Adn N Adn) ) S-/SS

UM CHÁ DE CASCA DE VACA

Od (Adn N Adn (-N Adn (-N) ) ) /S-S-S

UMA COLHER DE CHÁ

Od (Adn N Adn (-N) ) /S-S

3.4.2 – Frases Feitas Classificadas Endossemicamente como Substantivos e Exossemicamente como Adjetivos.

UM DOUTOR DE MULA RUÇA

Ps ( Adn N Adn N (-Nadn) /S-SA

UM PÉ RAPADO

Ps (Adn N Adn) /SA

3.5. Frases Feitas Classificadas como Interjeições

Só 2 frases feitas entre as 93 analisadas (2% do total) foram classificadas como interjeições.

BONS OLHOS O VEJAM

P (S (Adn N) Pv (Od V) ) ASPV

NÃO VEM QUE NÃO TEM

PS (Op (S’Pv (V) ) ) Oadv (_S’Pv (V) ) ) ) aVcaV

 

 

4 – CONCLUSÕES:

Sem grandes exercícios mentais, através da análise dos dados numéricos mostrados no desenvolvimento do trabalho, podemos concluir que a maior parte das frases feitas gira em torno do verbo.

Quanto à estrutura morfossintática dessas expressões, e considerando também o seu valor endossêmico, 69% delas se constitui de estruturas com valor de verbo, 13% com valor de advérbio, 10% com valor de substantivo, 7% com valor de adjetivo e 2% com valor de interjeição.

Quanto à estrutura morfológica, 45 das frases 93 frases feitas estudadas começam com verbos, 14 começam com advérbios, 14 com preposições, 9 com pronomes, 6 com artigos, 3 com conjunções, 1 com substantivo e 1 com adjetivo.

Observando ainda a freqüência dessas construções, notamos que apenas 39 delas se repetem em sua estrutura morfológica rigorosa e que 54 não se repetem, Das 39 que se repetem, 29 são estruturas frasais mais freqüentes em todo o corpus trabalhado.

As estruturas mais freqüentes são V/S, como "dobrar a língua" ou "agüentar a mão", com 9 casos; V/S-/S, como "tirar o pai da forca" ou "dar as mãos à palmatória", com 5 casos; VS, como "levar tábua", V-/S, "cair das nuvens" e V/S-S, como "pôr a mão em cumbuca", com 3 casos cada. As outras estruturas, que tiveram 2 casos cada, foram: VS-S, V-/S-S, PV/S, a-PS, -/S-/S, -/S e –S.

Ainda quanto ao aspecto da valorização do verbo, em 61 casos constatados de sujeito no interior das frases feitas, 52 não são expressos, ficando ora subentendidos, ora indeterminados. Há até um caso de oração sem sujeito, na frase: "Debaixo desse angu tem carne", em que o verbo Ter equivale ao haver impessoal.

Quanto ao número de palavras em cada estrutura, considerando o desmembramento das combinações e contrações de preposições com outras palavras, tivemos: 5 estruturas de 2 palavras, 20 estruturas de 5 palavras, 17 estruturas de 6 palavras, 8 estruturas de 7 palavras, 3 estruturas de 8 palavras, 1 estrutura de 9 e 1 de 10 palavras.

Das 93 frases feitas analisadas, 75 são redigidas com um número de palavras que varia entre 3 e 6 palavras.

Embora a nossa "mostra" seja insuficiente para formularmos hipóteses seguras sobre o assunto, pretendemos ter concluído que há uma decidida preferência pelas formas constituídas com um verbo em sua base e que a extensão da frase oscila, normalmente, entre 3 e 7 palavras. Assim como são poucas as frases feitas com apenas 2 palavras, menor ainda é o número das que ultrapassam o número de 7.

José Pereira da Silva

Rua Visconde de Niterói, 512/97

20941 – Rio de Janeiro –RJ

5- BIBLIOGRAFIA;

AMARAL, Amadeu. Paremiologia. In - Tradições populares. São Paulo, Instituto Progresso Editorial / 1948/ p. 213-273.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. /Rio de Janeiro/ Record /1984/. 217 p.

______. De notícias & não notícias faz-se crônica: histórias, diálogos, divagações. 3 ed. /Com dados biográficos do autor/. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1978. X+182 p.

______. Os dias lindos. 2 ed. /Com dados biográficos do autor/. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1978. X+145 p.

______. Poesia e prosa. Organizada pelo autor. Com nota editorial, de Afrânio Coutinho; As várias faces de uma poesia, de Emanuel de Moraes; Fortuna crítica; Cronologia da vida e da obra; Bibliografia. Rio de Janeiro, Aguilar, 1979. 1534 p. /Corresponde à 5 ed. da Obra Completa/.

MANNA, Aloizio. Padrões estruturais da língua portuguesa. /Prefácio de Gladstone Chaves de Melo/. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro; /Niterói/ Universidade Federal Fluminense, 1984. 205 p.

SILVA, José Pereira da. A fraseologia nas crônicas de Carlos Drummond de Andrade: subsídios para um dicionário básico. 118+VIII folhas datilografadas.

______. A origem das frases feitas e provérbios brasileiros: contribuições para sua história e etimologia. 105 folhas datilografadas.