A FRASEOLOGIA ROMÂNICA: (estudo comparativo)

 

A necessidade de um estudo comparativo da fraseologia das línguas românicas. A convergência e a divergência na comparação das frases feitas de sete línguas românicas, semântica, fonética e morfossintaticamente. A utilidade do estudo comparativo das frases feitas das línguas românicas.

 

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

A CONVERGÊNCIA NA FRASEOLOGIA ROMÂNICA

A DIVERGÊNCIA NA FRASEOLOGIA ROMÂNICA

FRASES FEITAS SINÔNIMAS EM LÍNGUAS ROMÂNICAS

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

 

NOTAS

A tarefa social dos filólogos refere-se, de facto, aos textos de uso repetido: os filólogos são encarregados de vigiar a tradição litúrgica e também literária da comunidade.

(HEINRICH LAUSBERG)

1 - INTRODUÇÃO

Estudaremos algumas das frases feitas da língua portuguesa documentadas literariamente por Carlos Drummond de Andrade em suas crônicas. Tal estudo consistirá, basicamente, na comparação de nossas frases feitas com as frases feitas correspondentes semanticamente em outras línguas românicas.

Não tivemos a ousadia de atingir um grande número de expressões nem de compará-las com as existentes em todas as línguas românicas. Aliás, nem mesmo as línguas que elegemos para fazermos nossa comparação, puderam ser exaustivamente examinadas, visto a escassez de bibliografia disponível.

Partindo do português, examinamos a fraseologia galega, a espanhola, a italiana, a francesa, a romena e a latina.

Para os fins deste trabalho, consideraremos como frase feita toda locução cristalizada e todo tipo de expressão fixa, tais como provérbios, adágios, anexins, etc., utilizados na linguagem oral e documentados literariamente.

Como língua românica também, ousamos incluir o latim literário, fugindo ao tradicional conceito universalmente aceito pelos romanistas. Justificar-nos-emos disto pelo fato de serem, as frases feitas, expressões cristalizadas numa língua, que refletem o espírito de seus falantes e não de seus artífices. Assim sendo, acreditamos que as frases feitas encontradas no latim literário sejam as mesmas do latim oral e vulgar, como são as que se encontram nas literaturas de línguas neolatinas. Portanto, do latim vulgar também.

Além disso, a comparação se torna mais abrangente, se levarmos em conta uma fase das línguas românicas bastante mais antiga. Com isto, além de observarmos os diferentes usos de uma locução ou provérbio nas diversas línguas românicas comparadas, notaremos também a antigüidade de algumas delas, que já se usavam em latim. Na realidade, o latim é um estágio anterior das nossas línguas.

As nossas limitações pessoais, mais as limitações impostas pelo tema, cuja bibliografia não é das melhores, mais as limitações relativas à natureza do trabalho, que tem um cronograma apertado, tudo isto junto é responsável por não ampliarmos um pouco mais as nossas pesquisas agora.

Além de ficarmos apenas no português, galego, espanhol, italiano, francês, romeno e latim, como dissemos, não utilizamos frases feitas de todas estas línguas nas diversas comparações realizadas. Aliás, isto acontece raríssimas vezes.

Além de não existirem formas correspondentes, como frases feitas, em todas as línguas comparadas, nem todas as existentes tivemos acesso. Noutros casos, as expressões que traziam semelhança semântica eram tão diferentes da nossa ou têm aplicações tão diversas, que nos desanimaram a incluí-las no trabalho.

Algumas frases feitas são tão semelhantes que mais parecem traduções literais. Isto não é de estranhar, pois têm origem comum todas as línguas em que elas se encontram.

O número de frases feitas estudadas pouco passa de uma centena em português, ficando bastante aquém em todas as demais línguas. Confessamos que nossa bibliografia sobre o assunto é muito deficiente.

O único dicionário bilíngüe romeno-português, editado em 1977, é uma raridade. Mesmo assim, ainda agradecemos a Deus por termos este, pois o fato é muito mais lamentável quando tratamos das outras línguas românicas que não se tornaram línguas nacionais , como é o caso do galego.

É urgente que se levantem questões sobre estas entre-palavras-e-frases, tão ricas de expressividade, e que se amplie a bibliografia comparativa da fraseologia entre as diversas línguas românicas, ou mesmos, simples dicionários bilíngües de locuções, que seriam as bases destes estudos.

Quanto ao galego, por exemplo, nada encontramos a respeito. Nossa fonte de consulta foi o Prof. Alfredo Maceira Rodríguez, galego, poliglota, e estudioso apaixonado das fatos referentes às línguas românicas.

Filólogo, professor de Português, Espanhol, Inglês e Esperanto, é autor de uma gramática espanhola para falantes de português, e pretende publicar, em breve, um opúsculo de divulgação do galego. Sua tese de doutorado, cujo curso ainda não começou, já está definida: será sobre o galego.

Eis os passos que seguimos para realização deste trabalho.

Inicialmente, levantamos a fraseologia nas crônicas de Carlos Drummond de Andrade, que foi o nosso corpus básico para diversos outros trabalhos. Das 700 frases feitas constantes no trabalho A Fraseologia nas Crônicas de Carlos Drummond de Andrade: subsídios para um dicionário básico, após verificação da fraseologia nas línguas românicas selecionadas, escolhemos 108 frases feitas entre as 175 que tiveram pelo menos em três línguas uma forma proverbial ou locucional correspondente.

Antes de começar este estudo comparativo, estudamos o seu significado e fizemos sua abonação com exemplos extraídos das crônicas drummondianas, conjeturamos sobre a sua origem e a sua história, apoiado na melhor bibliografia existente sobre o assunto, e procuramos demonstrar a sua estrutura morfo-sintática, ou seja, a sua constituição interna.

Estabelecido assim o nosso corpus para este trabalho, analisaremos comparativamente algumas dessas expressões, levando em conta a sua estrutura semântica, a sua estrutura morfo-sintática e a sua estrutura morfo-sintática e a sua estrutura métrico-rímica.

Quanto aos dois últimos aspectos, faremos considerações nos dois primeiros capítulos seguintes, levando em conta a convergência e a divergência nessas formas. Quanto ao aspecto semântico, sem discussões mais personalizadas, apresentamos as frases feitas em ordem alfabética da palavra-chave da forma portuguesa, de acordo com os critérios adotados por Antenor Nascentes e por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, e adotados também por nós em nossos trabalhos anteriores. V. capítulo 4.

No capítulo 2, trataremos da convergência na fraseologia das línguas românicas, observando que quase sempre esta convergência é parcial, pois as cores locais sempre ficam evidentes na fraseologia do falantes de cada língua, e apresentando hipóteses para explicar alguns casos. Observamos, inclusive, que a convergência pode se dar em relação a duas línguas, em relação a um fato, ou em relação a uma estruturação qualquer. Também, que pode haver convergência só em relação a duas ou três línguas e não em relação às demais.

O mesmo que dissemos em relação à convergência é válido para os fatos divergentes, que trataremos no capítulo 3.

O nosso objetivo principal, com elaboração deste trabalho, é mostrar aos estudiosos da Filologia e da Lingüística Românicas que existe uma área de estudos comparativos da mais alta importância para o desenvolvimento das ciências da linguagem, das ciências humanas, de diversas áreas do conhecimento, que está quase totalmente intocado.

Lembramos, inclusive, que o estudo comparativo das diversas fraseologias (portuguesa, galega, espanhola, italiana, francesa, romena, latina, etc.) será muito importante para a compreensão de fatos relativos a cada uma destas línguas e de todas, no conjunto da romanidade lingüística.

2 – A CONVERGÊNCIA NA FRASEOLOGIA ROMÂNICA

Embora saibamos que as frases feitas sinônimas em línguas diferentes e com a mesma estrutura morfo-sintática são muito raras, podemos afirmar que elas não são tão raras assim, quando se trata das línguas românicas. Basta que admitamos que os sinônimos sejam imperfeitos ou que formem séries sinonímicas. Além do mias, podemos encontrar pontos de convergência até em construções locucionais bastante diferenciadas. A final de contas, estamos lidando com línguas que têm um ponto de partida comum, ao latim vulgar.

Muitas vezes, o que é uma locução ou uma frase feita em uma língua, em outra é uma palavra composta simplesmente. Isto acontece com muita freqüência quando a frase feita se constitui de apenas dois ou três elementos vocabulares.

Como escolhemos a fraseologia como elemento de comparação, neste trabalho, não consideraremos tais casos, mesmo quando as formas correspondentes contiverem os mesmos elementos mórficos constituintes. Mesmo sabendo também que isto é muito mais um problema convencional de ortografia do que um problema de natureza semântica ou morfo-sintática.

É claro que existem muitas frases-feitas que não têm forma locucional em outras línguas ou em algumas outras línguas. Existem até semas que não possuem correspondentes em tais outras línguas.

Aliás, dentro de uma mesma língua, é possível encontrar formas locucionais paralelas a palavras compostas. Vejamos os seguintes casos, em português: "cabeça fria" e "cabeça-chata"; "água mineral" e "água-comum" ou "aguarrás"; em cima" e "embaixo"; etc.

Não achamos fácil explicar por que umas dessas palavras constituem "palavras compostas" e outras palavras, da mesma natureza e classe morfo-semântica, constituem "locuções".

Entre línguas diferentes também ocorre o mesmo fato. Eis alguns exemplos: o português "talvez" corresponde à locução galega e espanhola "tal vez"; a nossa locução "por isto" corresponde ao vocábulo italiano "perciò"; o português "mestre-cuca" corresponde à locução francesa "maître coq".

Dados os graus de afinidades geo-políticas e culturais, o português é mais parecido com o galego, com a qual se confundiu durante a sua fase proto-histórica, e com o espanhol. A seguir, com o italiano e com o francês, com que teve relações histórico-culturais que não se podem desprezar.

O latim, por estar no tempo, e o romeno, por se ter isolado no espaço, estão igualmente muito distantes da estrutura atual da língua portuguesa, considerando-se que são todas de uma mesma família, numa relação de irmãs e de filha-mãe.

Analisemos, comparativamente, algumas frases feitas, considerando os seus diferentes níveis e natureza de convergência.

A nossa frase-feita "uma andorinha só não faz verão", por exemplo, converge com a correspondente espanhola em relação à partícula de restrição. É claro que, mesmo nesta convergência, a forma espanhola diverge sutilmente da nossa por ser claramente adjetivante, enquanto a nossa partícula mantenha a ambigüidade, podendo ser analisada também como adverbial, modificando o determinante de andorinha. Portanto, em português, podemos analisar a frase como "uma andorinha sozinha..."ou "uma andorinha somente...".

A expressão espanhola "uma golodrina sola no hace verano" e a portuguesa "uma andorinha só não faz verão" ainda têm em comum a referência ao verão, enquanto que nas demais a estação do ano em que as andorinhas devem aparecer é a primavera. Ei-las, todas juntas:

Português: Uma andorinha só não faz verão.

Espanhol: Una golondrina sola no hace verano.

Italiano: Una rondine no fa primavera.

Francês: Une hirondelle ne fait pas le printemps.

Latim: Una hirundo no facit ver.

Como as frases-feitas refletem o meio ambiente em que surgiram e prosperaram, os costumes e a história do povo que as cultivaram, etc., podemos concluir, provisoriamente, que as andorinhas costumavam estacionar-se no território da Península Ibérica durante a primavera. Mais ainda. Podemos concluir que estas aves migratórias mantém o seu hábito de revoar sobre as cabeças dos romanos, desde a época em que sua língua era o latim, durante a estação da primavera.

Aí está, portanto, uma frase em que é importante a inclusão da língua latina junto às línguas românicas neste trabalho comparativo. Com isto documentamos um fato relativamente interessante em relação ao hábito migratório das andorinha no território europeu desde priscas eras.

Podemos ainda observar, em relação à estrutura destes provérbios românicos, que todos têm a forma de um negação que diz respeito ao que uma andorinha não pode fazer sozinha.

Em todas se entrevê, portanto, a crença popular de que as andorinhas é que trazem o verão ou, para os outros, a primavera.

Um outro exemplo é a locução portuguesa "por acaso", que tem correspondente em espanhol, "por acaso", em italiano, "per caso", em francês, "par hasard", em romeno, "po brodite", em latim, "per accidens", e em galego, "por suposto".

Em todos os casos, as locuções se constituem de preposição mais nome. Nos três primeiros casos, os nomes têm os mesmos traços semânticos, enquanto nos demais casos eles têm constituição morfo-semântica apenas semelhante.

O português "levantar âncora" corresponde ao espanhol "levar anclas, aoitaliano "salpere ancora" e ao latim "ancoras vellere" ou ancoras moliri". Todos os casos documentados acima se constituem dos mesmos elementos mórficos. A diferença está apenas na colocação inversa, no latim, em relação às demais línguas, e no plural da palavra âncora em espanhol e latim.

Acreditamos que isto está relacionado ao tipo mais comum de barcos ou embarcações em cada uma dessas regiões. As embarcações em cada uma dessas regiões. As embarcações menores podiam fixar-se com uma âncora apenas, ao passo que as maiores precisavam de mais de uma. Por outro lado, registramos o fato de que existe a variante "levantar âncoras" também em português, com a ressalva de que tal expressão só se usa quando o sujeito da ação está no plural, podendo-se supor que cada um esteja em embarcação diferente.

A frase-feita "sem dizer água vai" tem correspondente literal em espanhol, que é "sin decir água va". Em francês também a frase tem forma muito parecida com a nossa. Principalmente se considerarmos a história da frase, em que a situação já é suficiente para esclarecer que também os franceses queriam dizer "água vai".

Se considerarmos que gritar é uma forma especial de dizer, a frase francesa "sans crier gare" considera a situação, em que, realmente, não se dizia, mas se gritava para os transeuntes: água vai! Como aviso de que iria lançar alguma coisa à rua. Como na realidade não se jogava apenas água, parece mais lógica a expressão francesa do que as outras duas. Sendo "gare" uma palavra de situação real de seu uso, sem trazer expressa a informação que trazem as formas ibéricas, sem dizer o que é que se pretende jogar à rua.

"Quem não arrisca não petisca." Provérbio português de sentido prático evidente, cuja intenção é persuadir o seu decodificador a ousar, a tentar ultrapassar os eus próprios limites. Pode ser interpretado também de maneira passiva, como justificação de alguém, que fracassou numa aventura arriscada, mas com objetivos práticos.

Nos cinco casos documentados, em português, espanhol, italiano, francês e latim, a estrutura morfossintática é idêntica. É uma frase com sujeito oracional e oração principal negativa, que tem significado afirmativo, visto se negar a respeito de uma outra negação. Além disso, em todas elas, existe uma preocupação com a rima grande. A tal ponto de ser quase totalmente desprovida de valor semântico a última palavra de cada uma dessas frases. A última palavra da primeira oração rima com a última palavra da frase.

Confira:

Português: Quem não arrisca não petisca.

Espanhol: Quien no arriesca no pesca.

Italiano: Chi no risica, non rosica.

Francês: Qui ne risque rien, n’a rien.

Latim: Nilhil lucri cepit que nulla pericla subivit.

A frase-feita que significa tomar um gole de bebida alcoólica em jejum, tem origem numa história de que duvidamos um pouco.

Conta-se que uma senhora sentiu um a forte dor e morreu dentro de pouco tempo, sem se poder saber a causa de sua morte. Como era gente de bem, uma equipe médica abriu-lhe o cadáver para examinar as suas entranhas, encontrando um pequeno verme atravessado em seu coração, violentamente encravado.

Extraindo-o, aplicaram sobre ele os mais diferentes remédios sem lhe causar o menor mal.

Esgotados todos os recursos, colocaram-no sobre um pedaço de pão embebido em vinho e ele morreu imediatamente.

Sabendo disso, passou-se a tomar uma dose de bebida alcoólica pela manhã, com o pretexto de "matar o verme".

Como correr dos anos, mata-se o bicho a qualquer hora.

Pois bem. Esta frase tem esta mesma origem nas três línguas em que a encontrei: português, espanhol e francês.

Curiosamente, a palavra que traduz a palavra copo, em italiano, é "bicchiere’. Por isto, tomar um copinho ou tomar uma dose de bebida, traduz-se como "tracannare un bicchierino", que forma uma expressão aparentemente semelhante.

Nessas quatro línguas, as expressões referidas são: "matar o bicho"(português), "matar el gusanillo" (espanhol), "tuer le ver"(francês) e "tracannare un bicchierino"(italiano, com devida ressalva).

Outra expressão também interessante é "bode expiatório".

Em português, espanhol, italiano e romeno, a locução tem a mesma estrutura morfo-semântica: "bode expiatório", "chivo expiatorio", "capro espiatorio"e "tap ispasitor", respectivamente.

Em espanhol e em francês existe aproximada, também convergente nestas duas línguas: "chivo emisario" e "bouc emissaire".

Embora esteja ligada à mesma origem, provavelmente, a expressão romena "cal de bataie", que quer dizer cavalo de pancada, lembra muito mais de perto a cena das tragédias gregas em que se espancava um bode no palco.

As demais frases acima, inclusive as variantes, lembram o costume dos judeus de abandonarem um bode no deserto para expiar os pecados do povo.

Por fim, consideremos a frase, "quem canta, seus males espanta", que é uma daquelas inúmeras frases feitas românicas que refletem o veio poético do povo.

Como na frase "quem não arrisca não petisca", também nesta a rima e o ritmo são importantes. A pausa entre o sujeito oracional e o seu predicado marca o fim de um verso que rima com o seu par, formando um dueto.

A forma espanhola constitui um par sem nenhuma divergência com o português. No entanto, a forma francesa tem o objeto da segunda oração no singular, em oposição à nossa e em convergência com a italiana. Esta, por sua vez diverge com todas as demais eliminando a idéia de posse no objeto da segunda oração.

Fora esses detalhes, em tudo mais são convergentes entre si, como se pode ver:

Português: Quem canta, seus males espanta.

Espanhol: Quein canta, sus males espanta.

Italiano: Chi canta, il soffrir incanta.

Francês: Qui chante, son mal enchante.

Seria cansativo enumerar todos os casos convergentes na fraseologia mostrada neste trabalho. Esta pode ser até mesmo gratificante, se for feita ao sabor do leitor, que poderá ir descobrindo detalhes interessantíssimos nesta comparação. Por isto mesmo é que deixaremos inúmeros casos, apenas arrumados, em ordem alfabética, para que possam ser cotejados por quem quiser fazer disso um lazer.

Muitas vezes a convergência está entre duas línguas estrangeiras, e não, entre uma estrangeira e a nossa. Nuns casos a convergência é mais abrangente, noutros envolve apenas alguns aspectos. Enfim, é difícil encontrarmos frases sinônimas em diferentes línguas românicas em que não haja algum tipo de convergência, mesmo que sutil. Quando isto acontece, o caso é de um frase feita que reflete uma situação exclusiva de uma população ou de um período histórico de um povo, totalmente desligado da história e da evolução dos demais.

Por outro lado, também existem divergências na maioria das frases-feitas de línguas diferentes. É que, embora sejam todas estas línguas descendentes diretas do latim vulgar, cada um se desenvolveu num meio ambiente particular, com características que não se confundem com as dos demais.

É isto que veremos no capítulo seguinte.

 

3 – A DIVERGÊNCIA NA FRASEOLOGIA ROMÂNICA

Como a fraseologia constitui o que de mais característico existe no léxico de qualquer língua, é natural que aí apareçam as divergências e as convergências que caracterizam cada uma dessas línguas em relação a todas as outras do grupo a que pertencem. Através da fraseologia afloram os fatos sociais, o aspecto geo-político, a cultura e a história dos falantes de cada região e de cada povo.

Os fatos convergentes são a prova da unidade na diversidade, enquanto os fatos divergentes são a prova da diversidade na unidade.

A "unidade na diversidade e a diversidade na unidade" a que se refere Serafim da Silva Neto talvez seja mais válida em relação às línguas românicas em conjunto do que a cada uma delas em particular. Basta verificar que a extensão territorial ocupada por falantes de línguas românicas é bastante maior do que a metade de toda porção ocupada de nosso planeta, sendo espantosas as diferenças de costumes entre todos esses homens, que vivem em ambientes das mais extremadas diferenças, a ponto de se tornar difícil qualquer tipo de comparação entre alguns deles com outros.

É exíguo o número de frases feitas totalmente convergentes entre línguas diferentes. Alias, tal exigüidade se estende aos povos diferentes que falam uma mesma língua, embora em menor extensão. Tanto assim é que poderíamos partir das mesmas frases feitas estudadas sob o ponto de vista da convergência, no capítulo anterior, e chegaríamos a resultados interessantes, como é fácil entrever das poucas observações que ali fizemos a tal respeito.

Vamos considerar a divergência, portanto, em expressões que estão muito próximas das portuguesas.

Comecemos pela locução "num átimo", que corresponde à espanhola "en un santiamén" e à romena "cît sa( zici miau".

As duas primeiras locuções, embora sejam as mais semelhantes, têm diferenças essenciais em seus núcleos constituintes.

A forma portuguesa provém da linguagem erudita, através da palavra átomo, que é a menor parte da matéria e tomou o significado de menor parte do tempo.

A expressão espanhola provém diretamente do latim dos cristãos, através do sinal-da-cruz, que termina com as palavras "sancti, amem". A oração, que já é pequena: "In nomine Patris, et Fili et Spiritus Sancti. Amen.", ao ser reduzida às suas duas últimas palavras demonstra uma grande pressa, ou a exigüidade de tempo disponível.

Quanto à frase romena, que mais parece com a nossa frase "enquanto o Diabo esfrega um olho", traduz-se literalmente como enquanto o gato diz miau E o seu sentido é facilmente compreensível.

A frase feita "casa da Mãe Joana", que já foi por nós explicada noutro lugar, tem forma correspondente em francês e em romeno.

A expressão francesa, "la cour du rei Pétaud", tem estrutura idêntica à nossa. Analisadas em sua estrutura profunda, para utilizarmos uma expressão do gerativismo, as duas frases são semanticamente igualmente estruturadas. Mas a sua estrutura superficial, digamos, é uma para cada uma das línguas.

Certamente, aquele "roi Pétaud" dos franceses tenha admitido livremente quaisquer pessoas em sua corte, como fizera a rainha Joana, conhecida como Mãe Joana, em seu palácio.

A expressão romena correspondente é "sat fa( ra( cîini", que se traduz literalmente como casa sem cachorros. Isto significa que nessa casa também entram todos os que quiserem, pois não já o que impeça a alguém de fazê-lo.

A expressão latina correspondente à portuguesa "fechado a sete chaves" ou à espanhola "bajo siete llaves" diverge no numeral, principalmente, cem e não sete.

No entanto, a expressão latina "servatus centum clavibus" significa exatamente o mesmo que a nossa, pois, tanto o numeral sete quanto o numeral cem são palavras que indicam quantidade indefinida. Nada mais indicam do que uma grande quantidade ou um número exagerado de chaves.

Também neste caso, a divergência é apenas superficial.

De outro lado, os franceses têm a expressão "tirer son épingle du jeu", que se traduz literalmente como tirar seu alfinete do jogo, que corresponde à nossa "tirar o corpo fora" e à espanhola "echar el cuerpo fuera".

Tanto as frases ibéricas quanto a francesa, sem dúvida se referem a algum jogo, ao menos na sua origem. A frase portuguesa lembra o jogo de futebol, como tivemos oportunidade de mostrar em outro trabalho. A frase espanhola pode ser uma adaptação da nossa (ou vice-versa), aplicada à tourada, que é seu esporte favorito.

No caso dos franceses, não é o corpo que está em jogo. É um alfinete. E o jogo, certamente, é um jogo de azar.

Se o alfinete a que se refere a frase é o que se usa para prender coisas, a origem da frase se torna obscura. No entanto, é bem mais provável que alfinete seja uma jóia que os homens usam presas à gravata, em forma de alfinete, ou a jóia em forma de broche que as mulheres costumam usar na roupa.

Com este último sentido, é muito fácil o entendimento da frase feita acima.

São muito mais divergentes entre si as frases feitas correspondentes à nossa "dia de São Nunca, de tarde".

A maioria tem em comum a característica de indicara data através de um fato estranho ao calendário. E entre essas está a nossa.

Os espanhóis costumam dizer: "cuando febrero tenga treinta días",. Os franceses dizem: "la semaine des quatre jeudis" ou "trois jours après jamais". Diziam os romanos: "ad kalendas graecas".

Ora, como não existem fevereiro de trinta dias, nem semana de quatro quintas-feiras, também não é possível chegar ao terceiro dia após jamais. Quanto às calendas, elas não existiram no calendário dos gregos, mas no latino. Deste modo, quem fizer quais compromissos para essas datas, não tem a menor intenção de executá-los.

Além dessas formas, os franceses costumam marcar para "`a Pâques ou à la Trinité", deixando imprecisa a data.

Os romenos usam expressões que correspondem também à nossa "quando a galinha nascer dente". Dizem eles "cînd s-o face agrida( miere", ou seja, quando a uva verde fica doce. Dizem também "de joi pîna( mai apoi", que se traduz literalmente como de quinta-feira até mais depois ou de Quinta-feira em diante. Em ambos os casos, a interpretação fácil dispensa esclarecimentos.

Nossa frase feita "ensinar padre-nosso ao vigário" tem correspondentes em galego, espanhol e latim.

Em galego se diz "ensinar a seu pai a fazer fillos"; em espanhol se diz "enseñar al cura a decir misa" e em latim se diz "piscem natare doces".

Embora todos se refiram ao fato de alguém pretender ensinar alguma coisa a alguém que já sabe com perfeição esta coisa, cada um considera ações diferentes para serem ensinadas e pessoas diferentes para receberem os ensinamentos.

Os espanhóis são os que mais se aproximam dos portugueses, embora ensinem a rezar missa e não o padre-nosso apenas. Os galegos descem um pouco o nível, embora permaneçam na mesma idéia básica. Mas os latinos esquecem o ser humano para considerarem o peixe como sendo quem já sabe nadar muito bem.

De qualquer modo, perde-se o tempo de ensinar a quem já sabe.

Para a expressão "pão, pão; queijo, queijo", os italianos e os espanhóis mudaram o queijo pelo vinho, construindo frases feitas parecidas com a nossa. Os primeiros dizem "pane al pane, vino al vino", enquanto os espanhóis dizem "al pan pan, y al vino vino".

Os franceses e os romenos têm bastante mais divergentes em relação à nossa. Dizem os franceses: "appeler un chat un chat". Os romenos dizem: "ori alba( , ori neagra( ", que se traduz literalmente: ou branco, ou negro.

Há frases feitas curiosas, ou cômicas, como as francesas correspondentes à nossa "comer o pão que o Diabo amassou". Dizem eles: "tirer le Diable par la queue"(puxar o Diabo pelo rabo) ou ainda "manger de la vache enragée" (comer carne de vaca zangada).

Como não poderíamos mostrar todos os casos, vamos concluindo esta amostragem com a conhecida expressão com que se iniciam os contos infantis: "era uma vez".

Com uma estrutura mais ou menos semelhante, só descobrimos a forma italiana "céra una volta".

Os espanhóis dizem: "erase que se era". Os galegos dizem: "foi no tempo de María Castaña". Os romenos dizem: "a fost odata( ", que se traduz literariamente como em antiga vez.

Era de se supor que forma como esta, de um certo modo iliterária, tivesse constituição mais semelhante entre as diversas línguas românicas. No entanto, é o que se vê, são totalmente diferentes.

Para que o leitor possa analisar outros casos ou fazer a sua análise pessoal dessas mesmas expressões já apresentadas, passamos a apresentá-las em ordem alfabética.

 

4 – FRASES FEITAS SINÔNIMAS EM LÍNGUAS ROMÂNICAS

 

P. POR ACASO

G. Por suposto

E. Por acaso.

I. Per caso.

F. Par hasard; Des fois.

R. Pe brodite.

L. Per accidens, Forte quandam.

 

P. NÃO SE DAR POR ACHADO

G. Non se inteirar.

E. No darse por enterado.

I Fare l’indiano.

 

P. ESTAR DE ACORDO.

F. Tomber d’accord; Vouloir bien.

R. A ga( si cu cale.

L. Consentire cum aliquo.

 

P. SEM DIZER ÁGUA VAI

E. Sin decir agua va.

F. Sans crier gare.

 

P. LEVANTAR ÂNCORA

E. Levar anclas; Irse com la música a outra parte.

I Salpere ancora.

L. Ancoras vellere; Ancoras moliri.

 

P. UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO.

E. Ni una flor hace ramo, ni una golodrina sola hace verano.

I Una rondine no fa primavera.

F. Une hirondelle ne fait pas le printemps.

L. Una hirundo non facit ver; Una hirundo non efficit ver.

 

P. QUEM NÃO ARRISCA NÃO PETISCA.

E. Quien no arriesca no pesca.

I Chi no risica, non rosica.

F. Qui ne risque rien, n’a rien.

L. Nihil lucri cepit Qui nulla pericla subivit

 

P. ASSIM ASSIM

E. Así, así.

I Cosí, cosí.

F. Cousi-cousi

R. S2 i bino s2 i ra( u.

 

P. NUM ÁTIMO

E. En un santiamén.

R Cît sa& zici miau; cît ai da.

 

P. MATAR O BICHO.

E Matar el gusanillo.

F. Tuer le ver.

 

P. BODE EXPIATÓRIO

E. Chivo expiatorio; chivo emisario.

I Capro espiatorio.

F. Bouc emissaire.

R.T7 ap ispa& s7 itor; cal de ba& taie.

 

P. (FALAR) COM SEUS BOTÕES.

E. Hablar para sus adentros.

I Parlare fra sé e sé.

F. À part soi.

R. A-s1 i s1 opti în barbã.

 

P. NÃO DAR O BRAÇO A TORCER.

E. No dar el brazo a torcer.

I. No dar filo da torcer.

 

P. NÃO ENTENDER PATAVINA (BULHUFAS, VÍRGULA, ETC.)

E. No entender ni torta.

F. Ný voir Qui du feu; N’entendre goutte à; N’y comprendre que dalle.

 

P. PERDER A CABEÇA.

E. Irsele a uno la cabeza.

R. A ies1 i din mint1 i; A-s1 i pierde mint1 ile.

L. Animo ceficer; Exire de consilio.

 

P. DAR CABO DE.

E. Dar buena cuenta de.

F. Venir à bout de.

R. A mînca fript (pe cineva).

 

P. CAIR EM SI.

E. Volver en sí.

I. Tornare in sé.

 

P. (DAR ou VENDER) A CAMISA DO CORPO.

E.(Vender) uno hasta la camisa.

F. (Y laisser) as dernière chemise.

 

P. QUEM CANTA, SEUS MALES ESPANTA.

E. Quien canta, sus males espanta.

I. Chi canta, il soffir incanta.

F. Qui chante, son mal enchante.

 

P. FAZER CARA FEIA.

E. Poner cara de pocos amigos.

R. Ase face cîrlig.

L. Oculis infestis conspire; Excipere malo vultu.

 

P. NEM CARNE NEM PEIXE.

E. Ni carne ni pescado; Ni chicha ni limonada (ou limoná)

I. Nè carne, nè pesce.

F. n’être ni chair ni poisson.

 

P. BOTAR AS CARTAS NA MESA.

F. Jouer cartes sur table; Jouer ses cartes sur la table.

R. A da în ca( rti.

L. Astuto nihil esse acturus.

 

P. DAR AS CARTAS.

I. Avere il mestolo in mano.

F. Tenir le dé; Tenir la queue de la poêle.

R. A da cu ca( rt2 ile.

 

P. CASA DA MÃE JOANA.

F. La cour du roi Pétaud.

R. Sat fa( ra( cîini.

 

P. EM TODO CASO.

E. En todo caso.

I. In tutti i modi.

F. En tout cas; À tout hasard.

R. În tot cazul.

L. Quidquid est; Utcumque erit; Utcumque casura res est.

 

P.CAVALO DADO NÃO SE OLHA A IDADE.

E. A caballo de presente no se le mira el diente.

I. A caval donato non si guarda in bocca.

F. À cheval donné on ne regarde pas la bouche.

L. Equi donati dentes non insipicuntur.

 

P. FAZER CENA.

E. Hacer escenas.

I. Far escenate.

F. Faire une scène à quelqu’un; Faire du chichi; Faire dis chichis.

 

P. A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR.

E. Lo de Cesar dalo a Cesar.

I. A Cesare quello che é di Cesare.

F. À César ce qui appartient à César.

L. Quæ sunto Cæsaris, Cæsari.

 

P. CAÍDO DO CÉU.

f. Tombé du ciel.

L. Missus caelo.

 

P. A SETE CHAVES.

E. Bajo siete llaves.

L. Servatus centus clavibus.

 

P. AFINAL DE CONTAS

G. Ao fin e ao cabo.

I. Alla fine dei conti.

F. Au bout du compte; Après tout; Tout compte fait; À tout prendre.

 

P. FAZER DE CONTA

I. Far conto.

F. Faire semblant.

 

P. TER EM CONTA DE

G. Ter en conta.

E. Llevar en cuenta.

I. Tenere in conto di.

F. Tenir compte; Faire la part de quelque chose.

R. A face caz.

 

P. DE COR

E. De coro; De memoria.

I. A memória.

F. Par couer.

R. Pe de rost; Din gînd; Pe dinafara( ; Pe din afara( .

 

P. TIRAR O CORPO FORA.

E. Echar el cuerpo fuera.

F. Tiere son ‘pingle du jeu; Se tirer d’affaire; Tirer au flanc; Tirer au cul

 

P. TER COSTAS QUENTES.

E. Tener las espaldas cubiertas.

F. Avoir bom dos.

 

P. VOLTAR AS COSTAS A ALGUÉM.

E. Dar la espalda alguien.

L. Tergum vertere.

 

P. ENTRAR NO COURO.

F. Prendre une piquette.

R. A mînca ba( taie; A lua la depa( nat.

 

P. DAR-SE MAL

E. Llevarse mal.

R. A ajunge ra( u.

 

P. POUCO SE ME DÁ

E. Me importa muy poco.

F. Je m’en fiche.

 

P. DIA DE SÃO NUNCA DE TARDE.

E. Quando febrero tenga treinta días.

F. Trois jours après jamais; La semaine des quatre jeudis; À Pâques ou à la Trinité.

R. Cînd s-o face agurida( miere; De joi pîna( ami apoi.

L. As kalendas græcas.

 

P. HOJE EM DIA.

E. Hoy en día; Hoy poer hoy; Hoy día.

I. Al giorno d’oggi.

F. Des nos jours.

 

P. O DIABO QUE O CARREGUE.

F. Que le Diable l’emporte.

R. Bata( -te sa( te bata(!

 

P. POBRE DIABO.

E. Pobre diablo.

F. Un pauvre diable.

L. Homo nihili.

 

P. VÁ PARA O DIABO.

F. Va te faire fiche.

R. La dracu cu; Du-te la naiba!

L. Abi ad Acheronstem; Abi in malam pestem.

 

P. POR ASSIM DIZER.

F. Pour ainsi dire; Autant vaut dire.

R. Ca sa( zic as2 a.

 

P. PASSAR A ESPONJA

F. Passer l’éponge.

R. A da cu buretele.

L. Spongie delere.

 

P. PERDER AS ESTRIBEIRAS.

E. Perder los estribos.

R. A scoate din pepeni.

 

P. COM A FACA E O QUEIJO NA MÃO

E. Estar con la sartén por el mange; Ser el que corta el bacalao.

I. Avere il coltello per il manico.

F. voir beau jeu.

 

P. POR FAVOR.

E. Por favor.

F. S’il vous plaît.

R. Prin hatir.

 

P. ESTAR FRITO

I. Esser fritto; Star fresco.

F. Être frit; Être fichu; Être fait.

 

P. O FUTURO A DEUS PERTENCE.

E. El futuro es de Dios.

I. L’avenire è nelle mani di Dio.

 

P. FAZER ALGUÉM DE GARO-SAPATO.

E. Tomar el pelo a alguien.

I. Fare qualcuno de mosca cieca.

 

P. GRAÇAS A DEUS.

E. !Gracias a Dios!

F. Dieu merci!

R. Slava& Domnului!

L. Deo Gratias!

 

P. DE HORA EM HORA DEUS MELHORA.

I. Di ora in ora, Iddio migliora.

F. Enpeou d’heures, Dieu labeure.

L. Utile quid nobis novit Deus omnibus horis

 

P. IDAS E VENIDAS.

E. Idas y venidas.

F. Allées et venues.

 

P. IR PARA O INFERNO.

I. Andare al diavelo.

L. Sub terras ire.

 

P. ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS.

E. Donde el diablo perdió el poncho; Por las lomas de Zamora.

F. Au diable vauvert; Au diable vert.

 

P. PERDER O SEU LATIM.

G. Gastar o seu latín.

F. Y perdre son latin.

L. Non habeo quo me vertam.

 

P. LEVAR A MAL

E. Llevar a mal.

I. Aversela a male.

F. Prendre en mauvaise part.

 

P. MAIS OU MENOS.

E. Mas o menos.

I. Più o meno.

F. À peu-près; À peu de chose près; Pas mal.

L. Plus minus.

 

P. Botar a mão no fogo.

E. Poner las manos en el fuego.

I. Metter la mano sul fuoco.

F. En metre la main au feu.

 

P. DAR AS MÃOS À PALMATÓRIA

F. Faire amende honorable; Batre as coulpe.

L. Manus dare.

 

P. FICAR DE MÃOS ABANANDO

E. Quedar com las manos vacías.

I. Tornarsene a mani voute.

F. Revenir bredouille; Rentrer bredouille.

 

P. À MEDIDA QUE.

E. A medida que.

F. À mesure que; Au fur et à mesure.

R. Cu cît.

L. Ut quieque.

 

P. DANÇAR CONFORME A MÚSICA

G. En terra de lobos ai que ouvear como todos.

F. Hurler avec les loups.

 

P. DE NADA.

E. Por nada.

F. Il n’y a pas de quoi.

 

P. POR QUE NÃO?

E. ?Por qué no?

F. Porquoi pas?

R. D-apoi cum nu?

 

P. METER O NARIZ EM.

E. Meter las narinas en; Meter la nariz.

I. Mettere il naso.

F. Fourrer le nez dans; Fourrer son nez partout.

R. A-s2 i baga nasul în toate; A se anesteca unde nu-i fierbe oala.

L.Immiscere se alicuius negotiis.

 

P. FICAR A VER NAVIOS.

E. Quadarse a la luna de Valencia; Quedase con un palmo de narices.

I. Restare con un pugno de mosche; Restare con un palmo de naso.

F. Être de la revue.

 

P. À NOITE TODOS OS GATOS SÃO PARDOS.

E. De noche todos los gatos son pardos.

I. Al buio tutte le gatte son bigie; Di notte tutti i gatti son tigi.

F. La muit, tous les chats son gris.

L. Nocte latent mendæ; Lucerna sublata nihil discriminis inter mulieres.

 

P. CAIR DAS NUVENS

E. Caer de las nubes.

I. Cader dalle nuvole.

F. Tomber des nues.

L. Attonitis animis haerere.

 

P. PÔR ALGUÉM NAS NUVENS.

E. Poneer alguien en las nubes.

L. Ad cælum ferre aliquem.

 

P. NÃO PREGAR OLHO.

G. Non cerrar ollo.

E. No pegar ojo.

F. Ne pas fermer l’oeil.

L. Somnum non vidit.

 

P. SER DURO DE OUVIDO.

I. Duro d’orecchio; Duro d’orecchi.

F. Être dur d’oreille; Avoir l’oreille dure; Être dur de la feuille.

L. Aures habetiores.

 

P. ENSINAR PADRE-NOSSO AO VIGÁRIO.

G. Ensinar a seu pai a fazer fillos.

E. Enseñar al cura a decir misa.

L. Piscem natare doces.

 

P. PALAVRA DE HONRA.

E. Palabra de honor.

F. Parole d’honneur.

R. Pe crucea mea.

L. Medius fidius.

 

P. PEDIR A PALAVRA.

E. Pedir la palabra.

I. Chiedere la parola.

L. Ius dicendi petere.

 

P. NÃO MOVER UMA PALHA.

E. No mover una paja.

F. Ne pas en ficher une secousse.

 

P. PANO DE FUNDO.

E. Telón de fondo.

I. Scena di fondo.

 

P. PÃO-PÃO, QUEIJO-QUEIJO.

E. Al pan pan, y al vino vino.

I. Pane al pane, vino al vino.

F. Appeler un chat un caht.

R. Ori alba( , ori neagra.(

 

P. COMER O PÃO QUE O DIABO AMASSOU.

I. Vivere fra gli stenti.

F. Tirer le Diable par la queue; Manger de la vache enragée.

 

P. NÃO TER PAPAS NA LÍNGUA.

E. No tener pelos en la lengua.

F. Ne pas avoir la langue dans as poche.

 

P. TIRAR PARTIDO DE.

E. Sacar partido de.

I. Prender partito di.

R. A lua partea cuiva; A t2 ine cu.

 

P. SE QUERES A PAZ, PREPARA A GUERRA.

F. Si tu veux la paix, prépare la guerre.

L. Si vis pacem, para bellum.

 

P. PÉ ANTE PÉ.

G. Andar pe ante pe.

E. De puntillas; A la chita callando; Paso a paso.

I. In punta di piedi.

F. À pas de loup; À pas de velours.

 

P. SEM PÉ NEM CABEÇA.

E. No tener ni pies ni cabeza.

I. Senza capo né coda.

F. Sans queue ni tête.

L. Nec caput nec pedes habere.

 

P. VALER A PENA.

E. Merecer la pena.

I. Valere la pena.

F. Ca vaut le coup.

R. A merita osteneala.

 

P. TIRAR UMA PESTANA.

I. Fare un sonnellino.

F. Piquer un roupillon.

 

P. PÔR OS PINGOS NOS IS.

E. Poner los puntos sobre las íes.

F. Mettre les points sur les i.

 

P. QUEM PLANTA COLHE.

E. Quien siembra, coger espera.

I. Chi semina, racconglie.

F. Il faut semer pour récolter.

 

P. ANDAR NA PONTA DOS PÉS

E. Andar de puntillas.

I. Sulla punta dei piedi.

L. Ire gradu suspenso; Summis digitis ambulare.

 

P. DE PONTA A PONTA.

G. De riba a baixo.

E. De punta a punta; De cabo a rabo.

I. De cima al fondo.

R. Din cap in cap; Din fir pîna& in at2 a& .

 

P. SABER NA PONTA DA LÍNGUA.

E. En la punta de la lengua.

I. Sapere a fil di campanello.

F. Savoir sur le bout de la langue.

R. A s2 ti pe degete.

 

P. DE QUANDO EM QUANDO.

E. De cuando en cuando.

I. Di tanto in tanto.

R. Din cînd în cînd; Cînd s2 i cînd; Pe alocuri.

 

P. OLHAR COM O RABO DO OLHO.

G. Ollar de reollo.

E. Mirar com el rabillo de ojo.

R. A se uita acru la cinova.

L. Limis oculis adspicere; Limis oculis intueri.

 

P. COM O RABO ENTRE AS PERNAS.

E. Com el rabo entre las peirnas.

R. Cu coada între picicare.

L. Remulcere caudam.

 

P. BATER EM RETIRADA.

I. Battere in ritirata.

F. Batre en retraite.

R. A da înda& ra& t (înapoi).

 

P. NÃO SEI O QUÊ.

E. No sé qué.

I. No so che.

R. Nu stiu ce.

 

P. TIRAR SARDINHA COM MÃO DE GATO.

I. Cavar la castagna del fucco con la zampa altrui; Togliere le castagen dal fuoco com lo zampino del gatto.

F. Faire commo le singe; Tirer les marrons du feu avec la pattes du chat.

 

P. O SEGURO MORREU DE VELHO.

G. Quen dunha escapa cen aos vive.

E. Dona Prudencia murió de vieja.

F. La prudence est la mère de la sureté.

 

P. TAL QUAL.

G. Tal cal.

E. Tal cual.

I. Tale e quale.

R. Iac-as2 a.

L. Talis qualis.

 

P. MATAR O TEMPO.

E. Matar al tiempo.

I. Ammazzare il tempo.

F. Tuer le temps.

R. A-s2 i împlini timpul.

 

P. (CONTAR) TINTIM POR TINTIM.

E. Con pelos y señales; Punto por punto; C’por bé.

I. Punto per punto.

F. Conter par le menu; Raconter par le menu.

 

P. PERDER A TRAMONTANA.

E. Perder la tramontana; Perder el rumbo.

I. Perdere la tramontana.

F. Perdre la tramontane; Battre la campagne.

R. A ies1 i din balamale.

L. Mantem amittere.

 

P. DE VEZ EM QUANDO.

G. De vez en cando.

E. De vez en cuando.

F. De temps en temps; De temps à autre; Par moments.

 

P. ERA UMA VEZ.

G. Foi no tempo de María Castaña.

E. Erase que se era.

I. C’era una volta.

R. A fost odatã.

 

P. DAR ÀS DE VILA-DIOGO.

E. Tomar las de Villadiego; Coger las de Villadiego.

F. Prendre le chemin de Saint Jacques.

R. A-s2 i lua cîmpii.

 

5 – CONCLUSÃO:

As frases feitas, nas línguas românicas, são elementos de vital importância para o conhecimento da história externa de cada uma delas, isoladamente, e de todas elas, no conjunto da romanidade lingüística.

Sua análise pode entremostrar as mais diversas naturezas de fatos com os quais esteve relacionada uma língua durante a sua história. Desde os fatos históricos, propriamente ditos, aos que seus falantes, e mesmo com os que dizem respeito ao meio ambiente em que ela se desenvolve ou se desenvolveu, em determinado período.

Analisada do ângulo da fraseologia, a unidade lingüística românica será compreendida de um modo bastante globalizante. Talvez maior do que se o for de qualquer outro ponto de vista.

Além disso, através de provérbios, rifões, anexins, adágios, etc., a diversidade subjacente nesta unidade maior poderá ser vista com grande naturalidade, tornando, certamente, mais simples, interessante e curioso estudo comparativo das línguas que constituem esta família lingüística.

Analisando a convergência e a divergência da fraseologia românica, pretendemos ter mostrado a viabilidade de um importante estudo de tal natureza. Não o concretizamos aqui e agora porque nos faltam meios para conseguir uma amostragem suficientemente confiável e porque não dispomos de tempo.

Mesmo assim, estamos convictos de termos contribuído para o desenvolvimento da Lingüística e da Filologia Românica, alertando os estudiosos para este interessante ramo dos estudos lingüísticos e filológicos.

Com as limitações a que nos submetemos, já descritas na introdução, deixamos ainda uma amostragem de 108 frases feitas para que os interessados possam experimentar a nossa sugestão, antes de se embrenharem numa pesquisa mais demorada.

Voltamos a lembrar que a nossa bibliografia de línguas estrangeiras é insuficiente. Daí o número e a qualidade de expressões nestas línguas, que pode ser melhorado muito, com alguma pesquisa. Inclusive com maior proximidade e semântica a morfo-sintática.

Enfim, agradecemos a paciência e a gentileza do leitor, por ter chegado até aqui.

Esperamos que tenha valido a pena.

 

6 – BIBLIOGRAFIA:

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