AS REPRESENTAÇÕES
DO EU
E SEUS EFEITOS
DE SENTIDO
José
Pereira da Silva (UERJ)
SILVA, Gustavo Adolfo
Pinheiro da. Pragmática: a ordem
dêitica do discurso
(as representações do EU e seus efeitos de sentido).
Rio de Janeiro:
Enelivros, 2005, 208 p.
(enelivros@terra.com.br
e (21) 2568-6870)
Gustavo Adolfo partiu do princípio
de que toda
atividade de
linguagem
é um processo
marcado pela
inscrição
do sujeito no discursos,
estimulado pelo estudo
das representações do eu e seus efeitos de sentido,
assim como
do princípio de
que
são
principalmente
os dêiticos que
carregam essas marcas de subjetividade.
(Cf. p. xv)
É por isto que esse livro tem por objetivo o estudo este tipo especial
de signo – o
signo
dêitico (Cf. p. 1), considerando-se que
“as línguas inserem-se num espaço real, num
tempo histórico
e são faladas por
seres situados nesse espaço e nesse tempo”
(p. 121). Noutras palavras, “no âmbito da linguagem,
o que pertence
à ordem da
história
é o discurso
e não o
sistema” lingüístico.
A quarta capa do livro
traz uma síntese feliz
do seu conteúdo,
que é o seguinte:
Este
trabalho examina um tipo especial de signo:
o signo dêitico.
Em
especial a dêixis de
pessoa. Ao postulado da
unicidade do sujeito, isto é, de que o único responsável pelas
representações,
verbais ou
não verbais,
presentes num
determinado
objeto
significante
é o indivíduo reconhecido socialmente como
seu autor
empírico, contrapõe-se a manifestação do sujeito plural. A heterogeneidade enunciativa manifesta-se num
texto como
polifonia (Bakhtin, Ducrot) ou como
heterogeneidade mostrada (Authier), caracterizada pela
manifestação
explícita
de uma multiplicidade de vozes. As condições de produção do discurso se definem como
um conjunto
de textos, já
dados pela
cultura, que
são citados pelo
texto presente,
o que caracteriza a intertextualidade.
Quatro especialistas de renome
abonam o trabalho de Gustavo Adolfo em termos de admiração pela qualidade da exposição do autor em área tão recente dos estudos
lingüísticos: Maria Aparecida Lino
Pauliukonis, André Crim Valente, Maria de
Lourdes de Almeida Cardoso e Nelson Rodrigues Filho.
A professora Maria Aparecida, da UFRJ, diz que
Após
a definição clássica
de Benveniste de que “a enunciação é a colocação
em funcionamento
da língua por
um ato
individual da
utilização” (1974: 80), vários
estudos
têm se dedicado a esse intrincado tema,
alguns com
acuidade e muito
sucesso, como
é o caso desse trabalho
do Professor Doutor
Gustavo Adolfo da Silva, que, ao examinar a dêixis de pessoa
contrapõe à idéia de unicidade do sujeito a heterogeneidade enunciativa
manifesta
no texto como
polifonia, ou
como heterogeneidade mostrada. Uma das contribuições fundamentais
de suas reflexões
sobre a
enunciação
lingüística é a de pôr em evidência toda uma dimensão
reflexiva da
atividade
lingüística, em
que se destacam
noções
básicas como multiplicidade de vozes e intertextualidade. É uma
obra
de grande
interesse
para todos que trabalham com
o discurso. (1ª
orelha).
André Valente, da
UERJ, além de concordar
com Pauliukonis, acrescenta considerações positivas que
vale a pena
serem registradas aqui:
A obra do Professor Doutor
Gustavo Adolfo da Silva traz importantes
contribuições para
os estudos
lingüísticos
no Brasil, principalmente na área da Pragmática.
Seu trabalho
explora o fenômeno da dêixis na
perspectiva
polifônica, posto
que
destaca a heterogeneidade enunciativa. Atualmente,
as diversas teorias
sobre
o texto têm ressaltado que ele não existe por si só: resulta
de outros já
produzidos. Importam, então, as condições de produção do discurso e os múltiplos
aspectos da textualidade. De onde vem um texto? Para onde vai o texto?
Que efeitos
de sentido dele se podem
extrair?
São perguntas,
surgidas nas três últimas décadas, em busca de resposta
dos lingüistas. O
livro
de Gustavo Adolfo procura responder-lhes
e, para tanto,
o autor se apropria de consistente teoria para
desenvolver
a sua práxis.
De tal combinação,
fica uma proposta de abordagem lingüística com reflexões que vão interessar a docentes
e discentes na
área
de Letras. (1ª
orelha).
A professora Maria de Lourdes, de Lisboa, registra o fato
de que “são
poucos os livros
sobre Pragmática
no Brasil”, afirmando ser de “grande
oportunidade e
mérito” o trabalho do
Professor
Gustavo, com o
qual
“ganhamos todos,
docentes,
discentes e todos
aqueles que
se dedicam, profissionalmente ou não, ao estudo da linguagem
humana” (2ª
orelha).
Arrematando as considerações
críticas ao excelente
trabalho, Nelson Rodrigues (da UERJ e da Gama Filho) também opina:
Aparece, agora, em livro a tese de doutoramento
do Professor Doutor
Gustavo Adolfo, sobre Pragmática, na qual
é objeto de
estudo
o signo dêitico,
em
especial o de pessoa.
Além da qualidade
do trabalho de especialista,
é de realçar a oportunidade
da publicação, uma vez que, nos últimos anos,
têm-se procurado dar especial
ênfase ao estudo
do ato de fala,
relegado, durante
muito
tempo, pela
preocupação com
o estudo do
enunciado,
em detrimento
da enunciação. (4ª
capa).
Gustavo Adolfo, depois
de uma introdução
teórica
bastante densa
de informações,
fundamenta
suas teorias
com uma visão
geral da matéria
no tópico “A Propósito
da Pragmática”,
seguida
de uma cuidadosa revisão bibliográfica, em que
sintetiza criticamente a posição de
Bühler, de Benveniste, de Roman Jakobson, de Lyons, de Mattoso
Câmara
Jr. e de Levinson.
A seguir, no
mesmo
capítulo, faz um
amplo estudo
da dêixis, dedicando um subtópico especial para os três tipos de
dêixis: temporal,
espacial
e discursiva, sem
esquecer
de tratar também
das proformas e da mostração dêitica.
Quando trata da heterogeneidade enunciativa, divide seu estudo em quatro tópicos: a negação
polêmica, o aspeamento, o discurso relatado e a neutralização de oposição categorial de pessoa.
Enfim, valeu a pena ao dedicado professor
Adolfo gastar alguns
meses de pesquisa e
sua
tese para, depois de amadurecidas as suas
reflexões, apresentá-las como brilhante contribuição teórica
para uma especialidade
dos estudos
lingüísticos
que se destaca nas últimas décadas.
Parabéns,
Colega!...