OS SIMPSONS UMA CRÍTICA AO ESTILO DE VIDA NORTE-AMERICANO

 

Alessandra Almeida da Rocha (CIFEFIL)
Flavia da Silva Pires
(UERJ)
Kátia Regina Costa Cardoso
(UERJ)
Nataniel dos Santos Gomes
(UFRJ/SUAM/CIFEFIL)

 

Os Simpsons são; sem a menor dúvida, o evento televisivo mais importante dos anos 90; muito embora a primeira temporada da série tenha iniciado em 1989.

Na verdade Os Simpsons se iniciaram ainda como personagens de uma vinheta da Fox em meados dos anos 80.  Em 1987 passaram a ser um quadro fixo dentro de um então famoso talk show americano, com um roteiro que beirava a esquizofrenia e um traço bastante tosco.  Esses episódios alcançaram grande popularidade, até que em 1989 foi ao ar a primeira temporada da série.  O mundo então conheceu o início do que viria a ser a série de maior duração de todos os tempos (barraram os Flinstones em 1997); e se curvou diante do caldeirão de referências, críticas sutis, e da originalidade da série, que apenas cresceu em conteúdo e qualidade nesses últimos nove anos.  É realmente impressionante o perfeccionismo da produção, no que se refere à linearidade dos episódios, e a ligação entre pequenos detalhes, na verdade nada ali é por acaso, como analisaremos ao longo deste.

As muitas referências feitas nos episódios podem ter um tom de sarcasmo, mas na maioria das vezes são homenagens a grandes obras.  Várias celebridades já passaram pelos episódios, emprestando voz e alma, entre eles Red Hot Chilli Peppers, Smashing Pumpkins, Sonic Youth, só para ficar na área do Rock.

 “Os Simpsons” pode ser considerado um dos melhores desenhos animados da TV deste milênio.  Nasceu em 1987 pelas mãos de Matt Groening, um cartunista profissional dos EUA e seu principal objetivo era representar uma família norte-americana de classe média, com seus problemas e suas soluções.

Este desenho estreou no ano de 1990 no Brasil exibido pela Rede Globo, aos sábados à tarde, passando em seguida para os domingos de manhã, onde permaneceu até julho de 1994, teve uma passagem relâmpago pela extinta TV Colosso, onde permaneceu no mês de julho daquele ano.  A série então saiu do ar, mas retornou para os sábados de manhã no princípio de 1995, exprimível entre o vomitável programa da Xuxa e alguma outra bobagem da época, até que, misteriosamente saiu do ar.  Uma pena, pois a emissora perdeu a oportunidade de enriquecer sua programação com um programa de nível (alias a Globo progride numa mediocridade que parece não ter volta.), porém a partir do ano de 1997, os episódios estão sendo apresentados pelo SBT, que adquiriu os direitos de transmitir a série, prometendo inéditos, e iniciou passando com irregularidade o programa, num esquema de “tapa-buracos”, pelo menos a ordem foi mantida.  Ultimamente vem transmitindo às terças-feiras, após o programa do Ratinho, que começou bem (como fonte de curiosidade para se checar a podridão humana), mas agora está insuportável, pois o apresentador resolveu se levar a sério.

Mas sorte é de quem tem TV a Cabo, pois podem assisti-los diariamente pela FOX, que cumpre sua obrigação de “mãe da criança”, e transmite todos os dias, às 19:30h os episódios da série, e aos domingos, inéditos, às 20:30h.  Eventualmente a Fox transmite “Maratonas dos Simpsons”, com cerca de 4 horas de duração, excelente para quem procura episódios antigos.

O autor dos Simpsons demonstrou muito bem o cotidiano da família americana em seu trabalho.  A família dos Simpsons é composta do cinco pessoas, ou cinco personagens distintos e indubitavelmente irreverentes e curiosos, e por outros personagens secundários.

Mesmo com todo o sucesso da série não poderíamos deixar de citar o desrespeito para conosco, telespectadores, no que se refere às traduções como no episódio Simpsoncalifragili... a frase que Bart escreve no quadro é:  “Não vou esconder o PROZAC da professora.”  Mas a VTI traduziu como:  “Não vou esconder o GIZ da professora.”  Será possível?  É notório que existe excesso de liberdade de tradução, prova disto é o fato do Domingão do Faustão já ter ido parar até na boca da Marge em um dos episódios.

Curioso e impressionante a forma como o autor da série animada consegue explicitar o cotidiano da família americana na íntegra.  O Rock e o Cinema não são os únicos assuntos em pauta.  Inicialmente abordaram-se temas desde os mais singelos valores da família americana, como situações também muito comum a todos nós ( aí está o segredo da série), até mesmo pavor nuclear, mas com o passar dos anos os temas vêm passeando por racismo, adultério, fanatismo religioso, a questão dos homossexuais, o ridículo de certas instituições, o atraso mental das corporações, e isso tudo sem ser partidário a nada, e muito menos moralista, embora muitas vezes, sutis reflexões perdurem após muitos episódios.  Exemplo disso são algumas atitudes praticadas pelas personagens como o fator de na maioria dos episódios toda a família Simpson estar utilizando o cinto de segurança no veículo e apenas Homer, o chefe da família, esquivar-se desta norma; outro exemplo é a mostra da modernidade americana como nos Simpsons especial de natal, onde na loja ao lado do Tatuador Marinheiro Feliz, existia uma placa:  “Removemos tatuagem com laser.”  Outro dado importante é a crítica empregada em relação à segurança nas indústrias e fábricas, como exemplo podemos citar a Usina Nuclear de Springfield que é um fracasso em termos de segurança.  Um cartaz aparece no episódio Uma noite encantada e diz:  “Cuidado.  Área radioativa.  Não fume, não coma, não faça brincadeiras tolas.  sete dias desde o último acidente.  Em caso de arrependimento quebre o vidro.”  OBS:  o detalhe é que o vidro já está quebrado...

Como característica americana não poderíamos deixar de citar a antipatia entre o povo americano e o povo francês.  Os franceses consideram os americanos incultos e selvagens e os americanos não suportam a “frieza” e o ar de superioridade francês.  Em vários episódios este tema é abordado:

 

·     Episódios

·     Os crepes da Ira – Bart vai para Paris e é explorado por dois vigaristas;

·     No dia das bruxas 8 – Springfield é destruída por um míssil nuclear atingido pelos franceses, inconformados pelo fato dos americanos terem chamado os franceses de sapos;

·     Só se muda duas vezes – O louco Hank Scorpio pergunta a Homer onde ele deve lançar a bomba nuclear “Itália ou França?” e Homer responde França.  Hank diz:  “Nunca me falaram Itália.”

 

Neste momento, vale a pena conhecer um pouco sobre cada um desses elementos “históricos” e, porque não dizer lendários - pois com certeza se tornarão - da TV mundial.

O primeiro da lista é o patriarca Homer Simpson.  Elemento totalmente estranho e engraçadíssimo.  Chefe da família constantemente acima do peso, 35 anos, inspetor de segurança do setor 7G na Usina Nuclear, ama beber cerveja e assistir TV.  Temos ainda que explicitar que a TV é um dos maiores problemas desta família, e na verdade não só de toda a família americana como das brasileiras também!  Homer é o primeiro a sentar-se frente à TV e ficar horas olhando para ela junto com seus filhos – principalmente assistindo ao “Comichão e Coçadinha” - o que irrita Marge imensamente no momento em que ela acha que a família devia reunir-se pelo menos no horário das refeições.  Na verdade Homer representa o preguiçoso tanto que no setor 7G, onde trabalha, a sua função se resume em:  monitorar a máquina de salgadinhos, olhar o relógio, estudar a pálpebra internamente e prevenir os problemas na pastelaria; já em sua casa, como pai dedicado, sua função é fazer patrulha deitada, distribuição de roupas “de baixo” e produção de migalhas de comida pelo chão.  Homer ama a sua família, e para defendê-los é capaz de cometer qualquer disparate, mesmo que isso o faça parecer mais idiota.  Ele tem verdadeira adoração por sua esposa Marge e por seus três filhos; seu medo de perder ou de desagradar a sua esposa é enorme, tanto que ele freqüentemente se questiona e pergunta, principalmente para a sua filha Lisa, se ele faz sua mulher feliz.

Algumas vezes, frustrado por ser gordo e careca, Homer utiliza o Flashback onde lembra de sua figura com um corpo forte e cheio de cabelo.

Marge Simpson (Marjorie Bouvier Simpson) é a mãe da família, 34 anos, dona-de-casa e não gosta de muitas mudanças.  O seu divertimento favorito, como de toda boa mãe, é reclamar e resmungar o tempo todo.  Marge representa muito mais do que uma simples mãe preocupada com seus filhos, ela representa a mulher dos anos 90 que começa a ajudar financeiramente seu marido, é aquela que busca o seu lugar no mundo frente a um mundo que era exclusivamente dos homens e inclusive já trabalhou do lado de seu marido na usina nuclear.  Depois de abandonar o seu emprego, Marge acusou seu chefe de abuso sexual, mas essa tentativa fracassou uma vez que seu advogado viu os advogados do Sr. Burns, e como todo advogado, advinha o que aconteceu?...

O único excesso deste personagem é o seu enorme e alto cabelo azul que ela faz daquele jeito todos os dias.  Seu cabelo é muito útil quando a família Simpson vai ao Zôo de Spingfield, onde ela é facilmente encontrada pelos outros membros da família.  O turbante azul seria em 1º lugar o elemento de paz e segurança da família, até mesmo pelo fato da cor ser azul e não um simples vermelho ‘berrante’ e em 2º, o lado de uma mulher exuberante porém discreta que sai do anonimato.

Bart Simpson (Bartholomew J. Simpson) estudante da Spingfield Elementary School e está na 4ª série, adora bagunça passando a maior parte do seriado junto de seus amigos a fazer travessuras.  Bart seria o que denominamos herói anti-herói ou o picaresco da história.  Bart é o Simpson mais mal interpretado.  Ele não entende porque os moradores de sua cidade o recriminam, embora ele tenha inclusive vendido sua alma por US$ 5.  É com certeza o personagem mais divertido da série devidas suas travessuras.  No fundo ele é um bom garoto, mas arteiro como toda criança de sua idade, adora andar de skate, mascar chicletes, pegar um homicida e levá-lo à justiça.  A vida escolar de Bart é cheia de altos e baixos, ora tira F ora D -, mas é muito engenhoso e inteligente.

A fala do personagem que o marca em quase todos os episódios é:  “Aye, caramba!”; e demonstra bem o seu gênero.

Lisa J. Simpson representa “o filho” inteligente dos Simpsons, está na 2ª série e tem sérios problemas de incompatibilidade com seu irmão Bart, é vegetariana e adora tocar Sax.  Quando tem um tempo livre ela adora andar de poney, ligar para a linha direta do Corey e assistir ao “Comichão e Coçadinha” na TV.  É uma menina extremamente inteligente e todos a elogiam e admiram por isto, também toca saxofone tão virtuosamente quanto seu maior ídolo Bleending Gums Murphy.  Enfim é o ser mais equilibrado de toda a família e por este motivo muitas vezes torna-se até mesmo conselheira de seu pai Homer, que com freqüência pergunta a ela se Marge está feliz em seu casamento.  Na verdade Lisa “puxou” um pouco o lado de cada família, sua inteligência, carinho, sensatez, e perspicácia da mãe e o sobrenome do pai.

Maggie Simpson (Marggaret Simpson) é a caçula dos Simpsons, 1 ano de idade, embora ainda não fale é um ser de grande expressão e adorada por todos, ama chupar sua chupeta e adora animais.

Há aproximadamente cinco anos que esta personagem vem aprendendo a pronunciar algumas poucas palavras e dentre elas “papai” o que deixa Homer completamente satisfeito.

Esta série maravilhosa, aqui no Brasil , foi recebida com certa frieza pelo grande público, que jamais conseguiu alcançar plenamente ao riqueza de referências e ritmo da série, e ao invés disso prefere ingerir o excremento global rotineiro.  Por outro lado, conquistou um seleto grupo de seguidores fiéis.

Você, bom amigo espectador de séries importadas, já deve estar acostumado com descaso com que somos tratados pelas emissoras, e isso não é privilégio dos Simpsons.  Mas a partir de março de 98, parece que o SBT começou a corrigir esta falha.

Na verdade os Simpsons moram em nossos corações.  É um desenho que já entrou na história e ficará nela por muito tempo por causa de seus fãs.  Sendo eles um grande sucesso, sempre vão existir os que gostam deles e os que não gostam, prova real de sua forte influência junto às pessoas.  Que nós possamos desfrutar muito ainda de sua presença...