“EU FALEI COM UM PROFESSOR AÍ”:
EVIDENCIAS SEMANTICO-SINTÁTICAS
DE UM PROFESSOR DE GRAMATICALIZAÇÃO

Maria Alice Tavares (UFSC)

 

Introdução

Proponho aqui um percurso possível de ter sido seguido pelo item lingüístico em sua passagem pelo processo de gramaticalização que parte de usos dêiticos e desemboca na especificação de sintagmas nominais (SNs) indefinidos (cf. Tavares, 2001). O que é um especificador de SNs indefinidos? Tome-se a sentença (1) a seguir. Trata-se de uma sentença ambígua: podemos ter um dêitico locativo, que aponta para um ponto no espaço próximo ao ouvinte (dêitico 1), ou um dêitico locativo que aponta para um professor dentre um conjunto de professores, sendo a leitura do sintagma nominal um professor acompanhado do correspondente a um dos professores dentre os que estão aí (dêitico 2). Podemos ter ainda um especificador, que fornece ao SN um traço [+específico], isto é, o SN refere-se a um professor que, embora indefinido, é específico. Neste caso, o professor não está sendo apontado, podendo, inclusive, não estar presente no contexto.

(1) Eu falei com um professor .

A gramaticalização é um processo de mudança lingüística pelo qual elementos e construções lexicais adquirem funções gramaticais, e, uma vez gramaticalizados, podem desenvolver novas funções gramaticais (cf. Hopper e Traugott, 1993; Heine et alii, 1991). A reanálise, mecanismo de natureza sintática, tem sido considerada como envolvida no desenvolvimento de itens lexicais em itens gramaticais. Conforme Harris e Campbell (1995), a reanálise modifica a estrutura subjacente de uma expressão ou classe de expressões, envolvendo reorganização e mudança de regras lineares, sintagmáticas, freqüentemente locais, do que resulta a alteração da relação entre constituintes e a mudança da estrutura hierárquica e dos rótulos categoriais.

Este trabalho se enquadra na linha dos estudos de gramaticalização cuja concepção metodológica é a de que o desenvolvimento histórico e a posição sincrônica de um item em uma cadeia de gramaticalidade geralmente coincidirá, isto é, existe uma tendência de isomorfismo entre o desenvolvimento histórico e relações sincrônicas entre itens polissêmicos (Tabor e Traugott, 1998:263). Assim, discuto mudanças sofridas pelo por conta do mecanismo de reanálise tendo por base dados sincrônicos e considerando especialmente propriedades sintáticas, como posições ocupadas na sentença e presença de materiais intervenientes entre o nome indefinido e o .

A seguir, apresento a proposta de Enç (1991) para a especificidade no SN indefinido, aplicando tal proposta para o especificador de SNs. Na seqüência, busco indícios das etapas do percurso de gramaticalização sob investigação e da atuação da reanálise nesse processo de mudança. Utilizo dados extraídos de programas televisivos e especialmente sentenças criadas por mim, mas possíveis na língua.

 

Aí como marca de especificidade

Enç (1991:08) afirma que um SN indefinido, caracterizado por ela como não possuindo antecedentes no discurso, pode ser específico ou não específico. Será não específico se não estiver relacionado a referentes anteriores. Em contraste, será específico se estiver relacionado a referentes previamente estabelecidos no discurso, isto é, se receber interpretação partitiva. Segundo Enç, adjetivos como certain constituem uma exceção a essa proposta, já que atuam sempre como especificadores, embora não exijam interpretação partitiva.

No português, SNs indefinidos contendo podem estar em relação de partitividade com referentes discursivos anteriores ou não, assemelhando-se a SNs com certain no inglês. Lembrando que há a possibilidade de três leituras para um mesmo (duas dêiticas e uma especificadora), considero, nesta seção, para cada sentença, apenas a leitura especificadora. Os usos dêiticos do serão retomados na seção 3. Vejam-se:

(2) a. Várias meninas entraram correndo no meu quarto. Uma menina quebrou um vaso.

b. Várias meninas entraram correndo no meu quarto. Uma menina quebrou um vaso.

(3) a. A Cátia deve vencer uma atleta AÍ se quiser ser a primeira do ranking.

b. A Cátia deve vencer uma atleta se quiser ser a primeira do ranking.

Em (2a), o SN indefinido provido de refere-se a uma menina que faz parte do conjunto das meninas que entraram no quarto. Ou seja, há relação de partitividade implícita com um antecedente presente no contexto discursivo e a interpretação é a de que se trata de uma menina específica, parte de um conjunto dado anteriormente. Em (2b), o SN também é específico, pois apresenta leitura partitiva independentemente da presença de um adjetivo especificador. Soaria estranho dizer (2b) se a menina que quebrou o vaso não fosse uma das que entraram no quarto.

Diferentemente, em (3a), o SN indefinido traz a primeira menção à atleta, e, portanto, embora específico, não mantém relação com referentes discursivos lexicalmente explícitos no discurso anterior. A interpretação da sentença (3a) é de que Cátia deve vencer uma atleta específica. Já a sentença (3b), em que temos um SN indefinido sem adjetivo de especificidade, nada informa acerca da especificidade da atleta, sendo possível a interpretação de que se Cátia vencer qualquer atleta, será a primeira do ranking. O SN indefinido da sentença (3b) não está marcado positivamente para a especificidade, uma vez que não está em relação de partitividade nem é modificado por um item de especificidade, o que não significa necessariamente que se trata de qualquer atleta, mas sim que nada é informado pelo falante acerca da especificidade do SN indefinido. Nas sentenças com , a especificidade está marcada no SN - informa-se que a menina e a atleta em questão são específicas.

Uma propriedade do que ilustra seu caráter de item de especificidade é o fato de barrar a leitura genérica de sentenças:

(4) a. Um gato come carne.

b. Um gato AÍ come carne.

(4a) pode ter leitura genérica, isto é, para todo x, x um gato, x (caracteristicamente) come carne. Pode também ter leitura específica, isto é, há um x, x um gato, tal que x come carne, o que ocorre, por exemplo, em Tenho dois gatos. Um gato come carne, o outro come ração, caso em que o SN um gato tem leitura partitiva implícita: um dos meus gatos come carne. Já (4b) só permite leitura específica, conseqüência do traço [+específico] de .

O uso do não apenas marca a especificidade de um SN indefinido, mas põe em jogo determinadas implicaturas conversacionais (cf. Grice, 1975; Levinson, 1983). Veja-se a sentença a seguir:

(5) A Rafaela falou com um deputado AÍ para obter autorização para chegar mais tarde.

Em (5), pode estar em jogo a implicatura de que o falante conhece a identidade do deputado, mas por algum motivo referiu-se a ele através de um SN indefinido e não nominalmente. Contudo, o falante pode não saber exatamente qual é o deputado, sabendo apenas que se trata, por exemplo, de um dos deputados que estavam na Assembléia Legislativa naquele dia, ou de um dos deputados de um dado partido, isto é, um deputado de um conjunto que o falante tem em mente.

Se o falante sabe mais do que disse, por que não revelou? Implicaturas referentes ao motivo de o falante não esclarecer mais acerca da pessoa ou coisa a que se refere também estão em jogo no emprego do especificador. O falante, ao utilizar o especificador, geralmente implica que é pouco importante para o ouvinte saber mais sobre o referente do SN ou que ele (falante) não quer dizer mais. Observe-se o seguinte exemplo, extraído da fala de um personagem de novela televisiva:

(6) Vou sair. Vou aproveitar para resolver um assunto AÍ. Mais tarde eu volto. (Andando nas nuvens).

Fatos acontecidos antes permitem ao espectador saber que o falante tinha a intenção de não revelar nada acerca do que ia fazer para o ouvinte. Creio que essa intenção motiva o emprego do no SN indefinido, sinalizando uma leitura de que se trata de um assunto que não interessa ao ouvinte ou que não é de grande importância. Como o falante não deseja fornecer maiores detalhes, tenta implicar que se trata de algo que não merece maior atenção ou preocupação por parte do interlocutor.

 

O percurso de gramaticalização

rumo ao aí especificador

Ao analisar a sentença (1) acima, apontei a possibilidade de ocorrência de ambigüidade entre os empregos do como dêitico locativo 1, dêitico locativo 2 e especificador de SN indefinido, o que é um indício da gramaticalização. Esse processo de mudança lingüística é caracterizado pela gradualidade na passagem de um estágio a outro, resultando não raro em sobreposição de significados e, conseqüentemente, ambigüidade entre enunciados.

Dentre as possibilidades de interpretação da sentença (1), a dêitica 1 é a mais “concreta”, uma vez que envolve um apontamento para um local externo à fala, próximo ao ouvinte (nesse lugar). No decorrer do percurso rumo à modificação de SN, passa a apontar para as redondezas, dando origem ao dêitico 2. Assim, temos a leitura de um professor aí em (1) como um professor que está nas redondezas ou um professor dentre os que estão nas redondezas (um desses professores que estão por aí). Por fim, o adquire a propriedade de indicar que o elemento ao qual modifica - um nome indefinido - é específico. O dêitico 2 possui características que permitem considerá-lo como oriundo do dêitico 1 e constituindo a fonte do especificador. O dêitico 2 mantém a propriedade de apontar para um espaço externo ao discurso, presente no dêitico 1, mas passa a apontar também para um indivíduo, indicando ser este um ser que se encontra em lugar próximo ou um dentre outros que se encontram em um lugar próximo.

 

2.1 Reanálise: entrando no SN indefinido

Como o dêitico 2 segue um SN, não deve derivar de usos do dêitico 1 seguindo verbos (como em (7), por exemplo), mas sim de usos desse seguindo SNs, como em (8) ou (9). Como vimos anteriormente, uma sentença em que o segue um SN indefinido pode ser ambígua entre o dêitico 1, o dêitico 2 e o especificador de SN (cf. (11)). Uma sentença em que o segue um SN definido pode ser ambígua entre o dêitico 1 e o 2, mas não permite leitura especificadora (cf. (10)), o que é um indício de que o especificador, que fornece um traço de especificidade para um SN indefinido, deriva do uso do dêitico 2 seguindo um SN indefinido.

(7) Não senta que é perigoso.

(8) Eu falei com o professor (exatamente) .

(9) Eu falei com um professor (exatamente) .

(10) Eu falei com o professor AÍ e ele disse que tu não vinhas.

(11) Eu falei com um professor AÍ e ele disse que tu não vinhas.

Podemos ser ainda mais detalhistas no mapeamento da fonte do especificador: provavelmente trata-se de um dêitico 1 seguindo um SN indefinido posicionado depois do verbo (geralmente esse SN é objeto direto ou indireto), mas não um dêitico 1 seguindo um SN indefinido anteposto ao verbo, isto é, um SN sujeito. Vejam-se:

(12) Eu falei com um professor AÍ.

(13) Um professor AÍ comeu maçã.

Quando o SN indefinido seguido pelo está após o verbo, podemos ter o dêitico 1, o dêitico 2 e o especificador (cf. (12)). Quando o SN é sujeito, podemos ter o dêitico 2 e o especificador, mas não o dêitico 1 (cf. (13)): a sentença “Um professor nesse lugar comeu uma maçã” parece não ser possível na língua. Esse é mais um indício de que o especificador provém do dêitico 2 (ambos podem se situar junto ao sujeito e aos objetos). Este, por sua vez, deve ter sua origem no dêitico 1 seguindo um SN indefinido objeto, já que não parece possível que o dêitico 1 siga um SN sujeito. Ao passar a desempenhar o papel de dêitico 2, relacionado não mais apenas a um lugar, mas também a um indivíduo, o torna-se bastante ligado ao nome que refere tal indivíduo na fala, seja ele sujeito ou objeto, podendo, portanto, posicionar-se antes ou depois do verbo.

Tal fato poderia deixar a impressão de que dêitico 1 é mais restrito quanto a possíveis posições que dêitico 2 e especificador, o que contrariaria uma das conclusões de Heine e Reh (1984, apud Heine et alii, 1991a:15): quanto mais gramaticalizada uma unidade lingüística, mais sua variabilidade sintática decresce, isto é, sua posição na frase se torna mais fixa. No entanto, o dêitico 2 e o especificador não são menos fixos que sua fonte, o dêitico 1. Como podemos observar a seguir, parece impossível empregar o dêitico 1 após o sujeito (em (14)), mas ele pode vir junto à margem esquerda da sentença, junto à margem direita da sentença (neste caso, depois de um SV ou de um SN), em estruturas clivadas ou entre verbo e SN objeto. Já o dêitico 2 e o especificador podem ocupar somente uma posição: depois do SN, independentemente de este ser sujeito ou objeto. Se movermos apenas o , deixando o SN na posição original, poderemos ter o dêitico 1 ou uma estrutura inexistente na língua, mas não um dêitico 2 nem um especificador.

 

(a) Dêitico 1

(14) *Um professor (nesse lugar) comeu maçã. - após o SN sujeito

(15) (nesse lugar) eu falei com um professor. - margem esquerda da sentença

(16) O Rafael sentou (nesse lugar). - margem direita da sentença, após o SV

(17) Eu falei com um professor (nesse lugar). - margem direita da sentença, após o SN objeto

(18) Foi (nesse lugar) que eu falei com um professor. - estrutura clivada, ressaltando a independência do

(19) (nesse lugar) é que eu falei com um professor. - estrutura clivada, ressaltando a independência do

(20) Eu falei (nesse lugar) com um professor. - entre verbo e SN objeto

(21) Eu cozinho (nesse lugar) o arroz. - entre verbo e SN objeto

 

(b) Dêitico 2

(22) Eu falei com um professor (desses) . - após o SN objeto

(23) Um professor (desses) comeu maçã. - após o SN sujeito

(24) Foi com um professor (desses) que eu falei. - estrutura clivada, ressaltando a dependência do em relação ao SN.

 

(c) Especificador

(25) Eu falei com um professor AÍ. - após o SN objeto.

(26) Um professor AÍ comeu maçã. - após o SN sujeito.

(27) Foi com um professor AÍ que eu falei. - estrutura clivada, ressaltando a dependência do em relação ao SN.

Há a exigência de o especificador ficar adjacente ao núcleo do SN indefinido, como em (28). Parece ser possível também o uso desse posposto a um adjetivo (como em (30)). A existência de outro nome entre o nome modificado e o é vetada, pois este item especifica o nome mais próximo. Assim, não podemos entender , em (29) e (32), como modificando um casaco. Nesses exemplos, talvez possa haver a leitura de como modificando cinco botões e bastante tempo:

(28) Eu comprei um casaco AÍ com cinco botões.

(29) ??Eu comprei um casaco com cinco botões AÍ.

(30) ?Eu comprei um casaco azul AÍ.

(31) Eu comprei um casaco AÍ que eu desejava há bastante tempo.

(32) ??Eu comprei um casaco que eu desejava há bastante tempo AÍ.

O fato de o especificador aparecer apenas adjacente ao nome é indício de que integra o SN. Além disso, como vimos acima, se alterarmos a posição do SN indefinido objeto, por exemplo, antepondo-o ao verbo, o continua ocupando sua posição adjacente ao nome, movendo-se junto com este. O mesmo ocorre com o dêitico 2, um indício de que o processo de “entrada” no SN já se manifesta nesse emprego do . Uma diferença entre o dêitico 2 e o especificador é que aquele permite a inserção de um sintagma partitivo e/ou uma oração relativa entre si e o nome, como em um professor (desses) (que estão) aí ou um professor (que está por) aí. Diferentemente, o especificador é mais fortemente ligado ao nome, vindo imediatamente adjacente a ele. Contrastando com o dêitico 2 e o especificador, o dêitico 1 pode ter sua posição alterada sem necessitar do acompanhamento do SN, o que mostra sua independência em relação a este. Ou seja, o dêitico 2 e o especificador não podem ocupar a mesma variedade de posições possíveis para o dêitico 1, pois ligam-se a um SN, sofrendo restrições típicas de um qualificador de nome: apenas aparecem junto ao SN.

As observações quanto às posições ocupadas pelo em cada um dos empregos sob estudo mostram que houve a atuação da reanálise, com alterações na estrutura subjacente à medida que o item avançava em seu processo de gramaticalização. Embora a forma superficial possa ser a mesma, como em (33) a seguir, cada uma das leituras possíveis - dêitica 1, dêitica 2 e especificadora - possui uma estrutura subjacente diferenciada, como conseqüência da gradual entrada do no SN. Como dêitico 1, ele não faz parte do SN e indica apenas um lugar próximo ao ouvinte. Os contextos em que segue o SN indefinido, como em (17), permitiram a reanálise da estrutura, tornando-se o mais ligado ao nome, como dêitico 2 (em (22)).

(33) Eu falei com um professor AÍ.

O uso do como dêitico relacionado a um nome para cujo referente aponta permitiu nova reanálise rumo a uma maior proximidade com o nome: o torna-se imediatamente adjacente a este e passa a fornecer-lhe um traço de especificidade (cf. (25)). Ou seja, quanto maior o relacionamento do com o nome no plano do significado, maior a proximidade com o nome na estrutura sintática, alterando-se a relação entre constituintes (fora do SN como dêitico locativo 1 > dentro do SN como dêitico locativo 2 e especificador) e a estrutura hierárquica (independência do nome > dependência do nome). Em conseqüência, os rótulos categoriais também sofreram modificações: o dêitico 1 parece ser puramente um dêitico, o dêitico 2 parece um misto entre dêitico e especificador, e o especificador pode ser enquadrado entre os qualificadores ou mesmo pode ser considerado uma marca morfológica de especificidade, isto é, uma marca gramatical indicando tratar-se o SN um SN indefinido específico.

Proponho, portanto, o seguinte percurso de reanálise:

[SN] (em 34) > [SN / ] (em 35) > [SN ] (em 36)

(34) Eu falei com [um professor] [AÍ]. (nesse lugar)

(35) Eu falei com [um professor (desses que estão) AÍ].

(36) Eu falei com [um professor AÍ].

 

Considerações finais

Finalizo deixando algumas sugestões de continuidade para este trabalho. Há bastante ainda a ser investigado a respeito do especificador e daquilo que está envolvido em seu percurso de mudança. Depois de traçada uma trajetória de mudança a partir de dados sincrônicos como a proposta aqui, é importante testá-la por meio de dados diacrônicos. Uma análise envolvendo dados de diferentes épocas proporcionará resultados e conclusões mais refinados e confiáveis acerca do percurso de gramaticalização rumo à especificação de SNs indefinidos percorrido pelo . Se tanto os indícios sincrônicos quanto os diacrônicos apontarem para as mesmas ou semelhantes etapas de gramaticalização, teremos evidências mais substanciais acerca dos estágios das mudanças pelas quais vêm passando essa unidade ao longo do tempo. Como bem salientam Tabor e Traugott (1998:264), a evidência histórica é a principal fonte para a testagem de hipóteses acerca de percursos de gramaticalização.

Seria interessante também averiguar a possibilidade de emprego de outros itens de origem dêitica como especificadores, caso do e do ali em “Um cara lá/ali me disse que tu não vinhas.” Estariam esse e esse ali apontando para um lugar (com valor de “naquele lugar”), situando o referente do SN indefinido em um lugar (algo como “um cara que está lá/ali ou estava lá/ali”) ou atuando como especificador de SN indefinido? Se o e o ali forem especificadores de SN, quais as semelhanças e diferenças entre eles e o especificador?

 

 

Referências bibliográficas

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