Estilística da Frase e da Enunciação

Priscila Campos de Oliveira (Orientadora: MACL)

 

ESTILÍSTICA DA FRASE

Considerações Gerais

A sintaxe, que relaciona, combina as palavras na frase, é, sobretudo, atividade criadora, pertencendo tanto ao domínio gramatical como ao do estilo, e talvez mais a este, conforme muitos têm afirmado.

Na sintaxe, quem fala ou escreve escolhe entre os tipos de frase, obedecendo a um número mais ou menos restrito de regras rígidas. A dupla escolha do padrão sintático e do léxico corresponde à criatividade da frase, tendo o falante a possibilidade de produzir, em número infinito, frases novas e compreensíveis.

Baseando-se no aspecto usual da língua, na competência média dos usuários, estabelece o gramático o retrato da normalidade lingüística - o qual não deixa de ser uma medida subjetiva de competência, já que é o gramático que determina essa competência média guiado pelas suas intuições.

Os desvios da norma podem estar acima ou abaixo da competência média que a gramática estabelece: podem ser criações expressivas de artistas (inovações estilísticas) ou podem ser inadequações de falantes inaptos. Pode ainda suceder que o artista se valha destas inadequações para fins estilísticos.

À Estilística sintática interessa a consideração dessa norma - dos tipos de frase que se pode formar - e os desvios dela que constituem traços originais e expressivos.

 

Expressividade ligada à estrutura da frase

O conceito de frase

Convém precisar o conceito de frase, já que o termo aparece com diferentes significações.

Bally explica a frase como forma de comunicação de pensamento caracterizada por uma melodia, podendo o pensamento ser: um julgamento de fato (verdadeiro ou falso), um julgamento de valor (bom ou mau) ou uma volição (algo desejável ou indesejável). (cf. Linguistique générale et linguistique françaisse, cap.I, p. 35-42).

Mattoso Câmara, citando outros lingüistas, também considera a frase como a unidade do discurso, marcada por uma entoação ou tom frasal, que lhe assinala o começo e o fim. A frase não tem estrutura gramatical própria, podendo ter uma formulação extensa e elaborada ou ser apenas uma interjeição, vagamente articulada (Hum!); mas tem uma estrutura fônica particular, sendo a entonação que faz frase. (Princípios da lingüística geral, cap.XI, p.162/4).

Como unidade de comunicação, a frase exprime um sentido, encerra o conteúdo, que corresponde à sua função. A frase pode ser: declarativa, exclamativa, imperativa ou interrogativa.

 

Pleonasmo

Cláudio Brandão (Sintaxe clássica portuguesa) define pleonasmo como o emprego supérfluo de palavras e frases cujo sentido já está expresso num dos elementos da frase ou cuja função já figura no contexto da oração. E distingue o pleonasmo semântico, em que o sentido de uja palavra se repete em outra (ver com os olhos, remoçar de novo), e o pleonasmo sintático, em que uma mesma função é desempenhada por mais de um elemento, tendo eles a mesma referência (Vimo-lo a ele. A mim ninguém me engana).

Bally considera pleonasmo gramatical, obrigatório, a exigência da língua de que uma mesma noção seja expressa duas ou mais vezes no mesmo sintagma. Assim, em as meninas engraçadinhas temos três marcas de gênero e de número para o mesmo referente. Esse pleonasmo gramatical é, portanto, a redundância normal da língua. Pleonasmo vicioso é o que se deve à ignorância do significado exato ou da etimologia das palavras (hemorragia de sangue; decapitar a cabeça, etc.). E expressivo é o pleonasmo que enfatiza as idéias transmitidas. Portanto, o pleonasmo tanto pode ser um valioso recurso de estilo, imprimindo vigor, vivacidade ao pensamento, como pode ser uma excrescência grosseira, vulgar, que danifica a frase. O critério para distinguir esses dois tipos pleonásticos é, pois, muito subjetivo e variável. Na linguagem elaborada dos estilistas o pleonasmo aparece mais parcimoniosamente, enquanto é abundante na fala tosca, mas muitas vezes saborosa e pitoresca dos incultos.

 

Exemplos:

“...ninguém me consulta, a mim que...” (Apotegmas do vil metal. FERNANDES, Millôr);

“...aqui vai uma evidente evidência...” (Apotegmas do vil metal. FERNANDES, Millôr);

“...pois essa medida, ela é fundamental...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo);

“...mas também acho que essa nova lei, ela não pode ser colocada a nível de povo...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo);

“...acho que o governo, ele deveria reconsiderar...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo.);

Vou ir mais longe...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo);

“...expressar nossas idéias tão maravilhosamente quanto o inglês, ele é capaz de fazer...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo);

“...acho que nossos artistas, eles são, em sua grande maioria, maravilhosos...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo);

“...Essa lei, ela seria rejeitada por praticamente toda a população...” (Escrevendo Muderno. RIBEIRO, João Ubaldo);

 

Concordância

A concordância - ajustamento flexional entre palavras que se acham em determinadas relações sintáticas, a saber, sujeito e verbo, substantivo e adjetivo, ou pronome adjetivo em função de adjunto ou de predicativo - tem na língua portuguesa particular importância e, tal como o infinitivo pessoal e a colocação de pronomes oblíquos átonos, têm sido assunto privilegiado nas gramáticas portuguesas. Pois, além de ser um fato gramatical, é também um fato estilístico, constituindo-se mais rebelde à sistematização. Entretanto, na evolução da língua literária, nota-se a tendência para a regularização, tendo sido mais irregular a concordância nos autores antigos do que nos modernos. É ela um dos aspectos em que o uso culto e o popular da língua mais se distanciam, constituindo uma marca de classe social.

 

Concordância Irregular

São inúmeros os casos de erro de concordância e de ortografia no texto “Escrevendo Muderno”, de João Ubaldo Ribeiro. Isto se deve ao fato do autor querer aproximar a língua escrita da língua falada.

Exemplos:

A nível de governo...” (§1o linha 1);

“...por si só não querem dizer nada...” (§5o linhas 12-3);

“circunsquita” (§4o linha 11);

“...essa lei é fruta de falta(§8o linhas 18-9);

“almeija” (§8o linha 3);

Já no vídeo da Casa de Detenção de São Paulo, ocorre uma verdadeira reprodução da linguagem característica dos presidiários (classe baixa, sem instrução), estando o texto repleto de gírias, erros de ortografia e variações fonéticas.

Exemplos:

“...vô te dá um alô...” (§1o linha 2);

“...quem pegá essa praga ...” (§1o linha 4);

“...pega em home, pega bicha, pega em mulhé...” (§2o linha 4);

“esculachá” (§2o linha 1);

 

ESTILÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO

Eunciação e Enunciado

Enunciação é um ato de comunicação verbal. Um indivíduo A põe em um funcionamento a sua língua para dizer alguma coisa a outro(s) indivíduo(s) B que deve(m) conhecer também a mesma língua.

“enunciação é a atividade de linguagem exercida por aquele que fala no momento em que fala.” (Anscrombre e Ducrot).

O produto do ato de enunciação é o enunciado, seqüência acabada de palavras de uma língua emitida por um falante.

No dicionário das ciências da linguagem, Tzvetan Todorov distingue duas Estilísticas: a do enunciado que se ocupa do aspecto verbal, suas particularidades fônicas, morfológicas, semânticas, sintáticas; e a da enunciação, que se ocupa da relação entre protagonistas do discurso: locutor, receptor, referente.

 

Figuras retóricas vistas do ângulo da enunciação

Ironia

Entende-se por ironia o sentido oposto ao literal. Ironia é crítica.

Exemplo extraído do texto “Apotegmas do vil metal”, de Millôr Fernandes:

“...doando boa parte, talvez mesmo metade do que ganha, há pessoas necessitadas que ainda não chegaram ao mínimo absoluto...” (§2o linhas 14-17);

Exemplo extraído do texto “Som”, de Carlos Drummond de Andrade: “...vou curtir um som ausente de qualquer música e rico de curtição.” (linhas 17-9),

 

Paradoxo

No paradoxo, os aspectos contraditórios que se associam na caracterização do referente; oposição de idéias. Como exemplo, citamos o próprio texto “Escrevendo Muderno”, de João Ubaldo Ribeiro, onde o autor coloca como “maravilhosa” a idéia de resgatar o português e, logo em seguida, ele diz: “...alguém, a guisa de exemplo, pode imaginar um clássico como “Night and Day” cantado em português...”.

 

Hipérbole

A hipérbole é caracterizada pelo sentido alterado para atenuação, a diminuição ou o exagero.

Exemplo retirado do texto “Escrevendo Muderno”, de João Ubaldo Ribeiro: “A lista dos grandes artistas americanos é inenumerável, de tão longa.” (§6o linhas 6-7).

 

REFERÊNCIAS

Escrevendo Muderno

João Ubaldo Ribeiro

A nível de governo, acho maravilhosa a idéia de resgatar o português, atualmente tão relegado a favor do inglês. Acho também maravilhoso achar que pelo menos 90% da população concorda que essa medida, pois essa medida, ela é fundamental para resgatar nossa cultura, hoje tão penalizada pelo domínio do inglês. Mas também acho que essa nova lei, ela não pode se colocada a nível de povo propriamente dito, porque, apesar de maravilhosa em sua intenção, de boas intenções o inferno, ele está cheio. Como citei acima, nada tenho contra o governo, ele emitir suas próprias normas, aplicáveis aos funcionários dele e aos documentos dele.

Porém, a nível corporativo, acho que o governo, ele deveria reconsiderar tal decisão, porque a globalização, ela não pode ser brecada, não importa os antigos, que persistem no seu nacionalismo ultrapassado. Basta colocar o assunto objetivamente para se obter um insight maravilhosamente simples: a nível corporativo, o inglês já é universal, ao ponto de que já há - e de certa forma sempre houveram - empresas que exigem, ao nível médio de seus funcionários, o conhecimento da língua de Shakespear, até mesmo em função do processo irreversível, a nível de informática.

Coloco também que, a nível de fala popular, esta lei, ela com certeza terá o mesmo destino que sobreviveuu a tantas outras, de não pegar, ou seja, a lei, ela corre o risco de nunca ser aplicada. Vou ir mais longe: esta lei, ela não vai pegar na população, pois a verdade é que ela só iria penalizar os que usam termos em inglês ou inglesificados, que hoje são maioria, isto devido de que a língua portuguesa, ela não tem a capacidade de expressão da língua bretã, necessitando então de que usemos o vocabulário inglês. Seria maravilhoso que nós tivéssemos uma língua capaz de expressar nossas idéias tão maravilhosamente quanto o inglês, ele é capaz de fazer.

Não nego, o mérito de nossos artistas, que hoje atinge um nível maravilhoso. Na verdade, devo colocar a ressalva de que acho que os nossos artistas, eles são, em sua grande maioria, maravilhosos, principalmente na televisão, este poderoso meio de comunicação. Menos verdade seria declarar o contrário. Mas a realidade é que a língua portuguesa, ela não é circunsquita a televisão, e ela é do povo em geral. E, mesmo na televisão, ela perde bastante do inglês, que é uma língua muito mais apropriada para o diálogo do que o português. I love you, ele tem o som super mais natural do que eu te amo. Muitos negam isso para não ir ao encontro dos nacionalistas que dominam as mídias, mas, se a pessoa for examinar bem sua consciência, verá que estou super coberto de razão.

Na música, é a mesma coisa. A nossa música, ele é reconhecidamente rica, com supertalentos maravilhosos, que eu adoro. Adoro, não. Muito mais que isso, eu amo a música brasileira, do funk ao axé e seria tapar uma peneira com o sol querer negar como são maravilhosos artistas do porte de Chico Buarque, Caetano Veloso e tantos outros que me não deixam (o que atrai o pronome - mas ninguém fala assim, ou sejam, as regras por si só não querem dizer nada, o que se vem de encontro as minhas afirmações anteriores), que me não deixam mentir.

Mas, contudo, a verdade é que a grande música é em inglês e sempre foi, através por seus maravilhosos intérpretes, do saudável Frank Sinatra ao superturbinado Michael Jackson. A lista dos grandes artistas americanos é inenumerável, de tão longa. E vamos pensandoo com objetividade, a nível de racional, sem posicionamentos baseados em preconceitos super sem sentido: a música brasileira, com todos os seus talentos, é meia medíocre, se defrontada com a música americana. Alguém, a guisa de exemplo, pode imaginar um clássico como “Night and Day” cantado em português? Não dá.

A nível de literatura, nossa língua, vamos reconhecer, ela não tem ninguém que chegue perto do já mencionado maravilhoso Shakespear. E onde está, por exemplo, o nosso Stephen King? Vamos catando por aí e a ninguém chegaremos com tal estrutura supermaravilhosa de talento literário. Pode-se alegar que temos um Machado de Assis, mas hoje, ao contrário do próprio Shakespear, que qualquer um pode ir no teatro e entender, são raros os que podem ler Machado de Assis, que, apesar de seu grande valor, usa uma linguagem superultrapassada, que já foi maravilhosa em seu tempo, mas esse tempo, vamos colocar as coisas em esenção, ele já é super antigo, não importe o quanto já foi maravilhoso.

Haveriam muitas mais coisas a colocar a respeito dessa lei, mas a falta de espaço penaliza a quem almeija de esgotar determinado assunto num espaço superlimitado. Está certo, o brasileiro, ele é um povo superalegre, superbom, supercordial, um povo efetivamente maravilhoso. Mas sua língua, ela já era, e tem exemplos claros desse fato, como qualquer pessoa que vá na Barra da Tijuca poderá atestificar. Ao invés de ficar se preocupando com esses assuntos que já foi vencido pela globalização, os nossos políticos, eles deviam era de estarem preocupando-se com a fome, a inclusão social, ou sejam, coisas que de fato interessa. Eu diria mesmo de que essa lei é fruta de falta de ter o que fazer, porque, se não pudemos nos livrarmos de tantas mazelas herdadas da colonização portuguesa, pudemos pelo menos nos livrar de uma língua que nos isola do mundo e atrapalha nossa ascensão como povo. Que o governo lhe conserve, tudo bem, seria uma tradição louvável. Todavia, porém, posso concluir garantindo super com certeza: se essa lei fosse submetida a um plebiscito, não exito em fazer uma previsão, no meu ver, supercorreta. Essa lei, ela seria rejeitada por praticamente toda a população, sem exceção. Mas não, tudo indica que será aprovada. Durma-se com um barulho destes.

 

Apotegmas do vil metal

Millôr Fernandes

Aumenta o mínimo, não aumenta o mínimo, o Congresso vota, o presidente veta, o certo é que ninguém me consulta; a mim que, como leitor não ignora ou ignora, o que dá no mesmo, tenho sempre as idéias mais geniais à mão e jamais deixei que uma câmara me subisse à cabeça.

Pois aqui vai a evidente evidência: a maneira mais simples de resolver o problema do salário mínimo é transformá-lo em mínimo mesmo. Cientificamente um mínimo absoluto, congelando-o em R$ 000,00. Com essa quantia, o trabalhador poderá sempre:

§ Respirar todo o ar que achar fundamental à sua sobrevivência ou lazer.

§ Exercer suas virtudes humanísticas, dando boa parte, talvez mesmo a metade do que ganha, a pessoas mais necessitadas que ainda não chegaram ao mínimo absoluto, sem diminuir em nada o que destina à sua família.

§ Arriscar na bolsa tudo o que ganha e continuar com o mesmo caso um Naji Hahas puxe o tapete pela banda podre.

§ Eliminar de vez o vício do consumo pelo consumo, porque jamais conseguirá gastar tudo do nada que não ganha.

§ Sentir o alívio de estar isento totalmente do Imposto de Renda.

In: _____ O Dia, Opinião. Rio de Janeiro, 18/04/00.

 

Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo

TV CULTURA, 1988

Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô. Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem chorem nem vela, nem aí Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu?, pelo esperma e pelo sangue! (Pausa)

Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca. Não é porque tu tá na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim. Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids. Então, já viu: transá só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (Pausa)

Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o companheiro na força bruta, na congesta! Pára com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento de macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulé, pega em roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais malandro, no dia de visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra casa a Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida. Sexo, só com camisinha. (Pausa)

Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros outros. (Pausa) Sexo, só com camisinha. Num tem escolha, transá, só com camisinha.

Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pra Aids. No desespero, tu não se toca, num vê, num qué nem sabê, que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direto em ti. Às vezes,ela parece que vem limpona, e vem com a praga. E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que não pode aguentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (Pausa) E a farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza por Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente dá valor pra ela quando ela já era!

 

Som

Carlos Drummond de Andrade

Nem soneto nem sonata

Vou curtir um som

Dissonante dos sonidos

Som

Ressonante de sibildos

Som

Sonotinto de sonalgas

Nem sonoro nem sonouro

Vou curtir um som

Mui sonso, mui insolúvel

Som não sonoterápico

Bem insondável, som

De raspante derrapante

Rouco reco ronco rato

Som superenrolado

Com se sona hoje-em-noite

Vou curtir, vou curtir um som

Ausente de qualquer música

E rico de curtição.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa. 5 ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1979. p. 784

 

 

BIBLIOGRAFIA

Bally, Charles. El lenguaje y la vida. Trad. De Amado Alonso. Buenos Aires : Losada, 1941, 2 v.

Câmara Jr., Joaquim Mattoso. Contribuição à Estilística Portuguesa. 3ª ed.. Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, 1977.

------. Princípios de lingüística geral, 4ª ed. Rio de Janeiro : Acadêmica, 1967.

------. Dicionário de filologia e gramática. 6ª ed. Rio de Janeiro, J.Ozon, 1974.

Dantas, José Maria de Souza. Novo Manual de Literatura. Rio de Janeiro : DIFEL, 1979.

Enkvist, Nils Erik et alii. Lingüística e Estilo. Trad. de José Paulo Paes e de Jamir Martins. São Paulo : Cultrix, 1970.

Guirard, Pierre. A estilística. Trad. de Miguel Mailler. São Paulo : Mestre Jou, 1970.

Martins, Nilce de Sant’anna. Introdução à estilística. 2ª ed. revista e aumentada. São Paulo, 1977.

Mounin, Georges. Clefs pour la linguistique. Ed. rev e corrigida. Paris, Seghers, 1971. (Introdução à linguística. Trad. de José Meirelles. Lisboa : Iniciativas Editoriais, 1970.)

Rey-Debove, Josette. “Lexique et dictionaire”, in Le langage, sob a direção de Bernard Pottier. Paris : Retz, 1973.

Said Ali, Manuel. Meios de expressão e alterações semânticas. 3a ed. revista. Rio de Janeiro : Fundação Getúlio Vargas, 1971.

Spitzer, Leo. Lingüística e história literária. 2a ed. Trad. de José Perez Riesgo. Madri : Gredos, 1968.

Ullmann, Stephen. Semântica - uma introdução à ciência do significado. Trad. de J.A. Osório Mateus. 2a ed. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1970.