Livro de Resumos - 4a (e última) parte


O ENCONTRO DE A. S. BYATT COM O AMAZONAS

UM FORMIGUEIRO NA MANSÃO VITORIANA

Maria Cristina Gariglio Stark(UERJ)

O trabalho propõe uma análise do encontro do Outro, estrangeiro, com a realidade brasileira em obras de ficção, refletindo sobre de que forma autores ingleses nos tornam estranha uma realidade que nos parece familiar, uma realidade que lhes julgamos desconhecida e pretendemos conhecer. Discute também tipos de relacionamento os personagens criados por um homem e uma mulher desenvolvem com a nossa realidade no século XX e como aceitamos a representação desses relacionamentos?

A análise da novela Morpho Eugenia (1992), de A. S. Byatt, é o ponto de partida do trabalho. Nela, um cientista vitoriano, tendo perdido num naufrágio espécimes colecionados na Amazônia brasileira, vê-se forçado a catalogar a coleção comprada de um rico naturalista amador numa Londres decadente. Byatt mistura a Inglaterra e o Amazonas numa fusão poética fascinante e encantadora. A base teórica desse estudo é a estética desenvolvida por Wolfgang Iser em Prospecting: from Reader Response to Literary Anthropology (1992), que permite ao leitor participar do jogo literário de Byatt, os ensaios editados por Michael Worton e Judith Still em Intertextuality: Theories and practices (1991), que conduzem a relação entre textos distintos num processo de resposta da leitora, e a obra de Umberto Eco, Serendipities: Language and Lunacy (1998), que oferece em um de seus ensaios uma discussão dos desentendimentos e choques pertinentes ao encontro de culturas distintas. Segundo o autor, isso pode resultar em conquista e em pilhagem cultural, mas também em intercâmbio. Essas três possibilidades serão examinadas tomando como referência os textos literários de A. S. Byatt, Evelyn Waugh e William Boyd.

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O ENGENDRAMENTO DE CONCEITOS EM LINGUAGENS DE ESPECIALIDADE, EM DISCURSOS LITERÁRIOS E EM DISCURSOS SOCIAIS NÃO-LITERÁRIOS

Maria Aparecida Barbosa (USP)

Este trabalho examina aspectos relevantes dos níveis conceptual, lexemático e terminológico do percurso gerativo da enunciação de codificação e de decodificação. São analisadas a complexidade estrutural e funcional dos constructos do primeiro nível – conceptus, arquiconceptus, metaconceptus, metametaconceptus - e as diferenças conceituais e metodológicas entre conceptus e definição, enquanto subsídios, para uma metodologia de configuração de traços semântico-conceptuais do conceptus. Foi possível observar as especificidades de engendramento do conceptus nas linguagens de especialidade, nos discursos literários e nos discursos sociais-não-literários. A construção do conceptus assume características semânticas, sintáticas, semióticas, pragmáticas diversas, de acordo com os universos de discurso em que ocorre. Logo, o modo de engendramento de um conceptus está em função da classe de discurso em que se manifesta. Assinalemos, aqui, uma diferença marcante: no discurso científico, sujeito e anti-sujeito correspondem freqüentemente a interlocutores; no discurso literário, sujeito e anti-sujeito são instalados no texto pelo autor. No discurso científico/tecnológico, o engendramento de um conceito geralmente se dá em relações intertextuais/interdiscursivas de vários pesquisadores, simultaneamente à formulação da teoria que o contém; no discurso literário, uma obra pode ser auto-suficiente, no engendramento de um conceptus, numa intertextualidade intradiscursiva. No discurso técnico-científico, teórico e/ou prático, assim como no discurso literário, o engendramento do conceito é sintagmático, narrativo, transfrástico; no discurso terminológico, é eminentemente paradigmático, como processo e produto final, embora resulte de extrações de contextos de natureza transfrástica.

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O “FEITIÇO DAS PALAVRAS”
EM FAMIGERADO, DE GUIMARÃES ROSA

Wagner Guimarães da Silva Almeida (UERJ)

O escritor Guimarães Rosa demonstrou, ao longo de sua obra, grande originalidade e uma profunda força criadora, experimentando e subvertendo, tal qual um “feiticeiro das palavras”, a língua e a linguagem, qualidades que revelam seu vasto conhecimento da língua pátria e também de outros idiomas. No conto Famigerado, objeto deste estudo, o autor descreve o confronto em palavras entre um perigoso jagunço, que, aflito, deseja saber o significado da palavra “famigerado”, e um temeroso homem culto, a quem se dirige esperando encontrar a resposta. Como recursos, Guimarães Rosa utiliza, de forma singular, regionalismos, neologismos, registros da oralidade e inventivas construções sintáticas e morfológicas, a fim de tratar da própria linguagem e de seu reflexo como instrumento de diferenciação social.

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O ITEM VOCÊ SOB PERSPECTIVA FUNCIONAL

Márcia de Assis Ferreira(UFF)

O trabalho tem como objetivo apresentar uma primeira etapa da pesquisa para dissertação de Mestrado em andamento. Tal estudo consiste numa análise interpretativa do item “você” usado de modo genérico em textos orais e escritos, a fim de buscar subsídios para confirmação de uma possível gramaticalização, nos termos como é definida pelos funcionalismo lingüístico (Givón, 1995; Martelotta et alii, 96). Esse termo tem sido tradicionalmente classificado como pronome de tratamento, o que não parece dar conta da variedade de usos que o item apresenta.

O corpus ora analisado é o Discurso & Gramática – a língua falada e escrita no Brasil. Trabalhamos com as amostras provenientes das cidades do Rio Grande, Juiz de Fora, Niterói, Rio de Janeiro e Natal, coletadas na década de 90. Tal corpus é constituído de cinco subgêneros diferentes de textos, a saber: narrativa de experiência pessoal, narrativa recontada, relato de opinião, relato de procedimento e descrição de local. Conta com informantes cujo nível de escolaridade compreende desde a alfabetização ao nível superior. Todos os informantes, numa segunda etapa de entrevista, reproduzem por escrito seus textos orais. Pela natureza monologal do corpus, revela-se material bastante produtivo para estudos sobre a realidade lingüística do Brasil, incluindo-se o tema aqui abordado.

Em conformidade com o funcionalismo americano, partimos do postulado básico da relação motivada entre forma e função, a chamada iconicidade. Nesse sentido, estamos procurando verificar, nesta primeira fase da pesquisa, que tipos de texto são favorecedores de usos mais específicos do “você”, o nível de escolaridade em que mais ocorrem, a região do país, bem como motivações pragmático-discursivas para tais distintas ocorrências.

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O LÉXICO DA HISTÓRIA NOS MINIDICIONÁRIOS

Evandro Silva Martins (UFU)

Esta comunicação objetiva  relatar parte do projeto de pesquisa Léxico: dicionário e ensino, desenvolvido pelo Grupo de Lexicologia, Lexicografia e Terminologia da Universidade Federal de Uberlândia. A pesquisa foi voltada para o vocabulário pertinente à disciplina História, ministrada na escola fundamental de Uberlândia. Como a Terminologia ensina,  conhecer uma ciência para pela necessidade de se conhecer o seu vocabulário,   foi levantado um corpus constante dos   termos referentes à disciplina História. De posse dos termos levantados, o professor deveria recorrer às fontes lexicográficas à sua disposição. Ora, a fonte lexical conhecida pela maioria dos professores  são os minidicionários que, dada a indigência pela qual passa a escola de ensino fundamental, tornam-se o único material de consulta da escola. Nossa pesquisa demonstrou que as fontes consultadas têm dado pouca contribuição para o alunado, no tocante ao léxico da História, pois boa parte dos termos desta disciplina não foi contemplado nos minidicionários pesquisados.

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O LÉXICO DE 'OS SERTÕES' DE EUCLIDES DA CUNHA

Maria Lúcia Mexias Simon (UVA/USS)

Rompendo a tradição corrente na Literatura Brasileira, de que os autores não nomeiam elementos da flora e da fauna, de maneira específica, 'Os sertões' vale por um estudo, não só biológico, como  geológico, do ambiente em que se desenrolou a epopéia de Canudos.

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O LÉXICO METAFÓRICO EM DIVERSAS INSTÂNCIAS DISCURSIVAS

Paula Lenz Costa Lima(UECE)

O uso de metáforas na nossa linguagem do dia-a-dia é tão comum e rotineiro que geralmente passa desapercebido. No entanto, vários estudos têm identificado os diversos sistemas metafóricos pelos quais nos comunicamos, quer na linguagem comum quer na especializada. A presença da metáfora nas várias instâncias discursivas não é um fenômeno arbitrário, mas revela que o nosso sistema conceitual é fundamentalmente metafórico. São nossas experiências corpóreas, de diferentes dimensões, que, sendo recorrentes e co-ocorrentes, geram as metáforas que subjazem à forma como falamos. Assim, por exemplo, a metáfora DESEJAR É TER FOME, que existe no nosso sistema conceitual porque sempre que temos fome experienciamos também o desejo de comer, licencia as mais diversas expressões lingüísticas presentes não só na linguagem cotidiana (e.g. meu vizinho ganhou na loteria sozinho e deixou todo mundo de água na boca) e na poesia (e.g. cesse de uma vez meu vão desejo de que o poema sirva a todas as fomes...), mas também no discurso de divulgação de temas sobre economia (e.g. os acionistas têm sede de lucros cada vez maiores), política (e.g. nossos políticos têm fome de poder), esporte (e.g. a equipe contratou um francês baixinho e gordinho com um apetite enorme por vitórias), publicidade (e.g. A nova promoção da RTC é um prato cheio pra quem tem fome de TV) etc., tanto em inglês quanto em português. Uma vez que grande parte da linguagem é um reflexo das metáforas que organizam nosso sistema conceitual, dar atenção a essas metáforas traz contribuições relevantes para o estudo do léxico, com repercussões diretas para os profissionais que lidam com mais de uma língua, como tradutores e professores de língua estrangeira.

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O MANUSCRITO E A METAMORFOSE DA CRIAÇÃO

Edina Regina Pugas Panichi (UEL)

O presente trabalho tem por objetivo analisar a construção do texto a partir do estudo dos documentos de processo empregados pelo memorialista Pedro Nava na elaboração de sua escrita. O percurso encontrado na conexão entre os arquivos do autor e as páginas de sua autoria fazendo uso desses registros, apresenta um conjunto de etapas, procedimentos, ações em seqüência que merecem estudo e são reveladoras de princípios, atitudes e modos de pensar. A criação é, assim, observada como um processo em contínua metamorfose, atividade que se insere na ordem do fazer, ilustrando a organização do raciocínio e do texto em contínuo movimento.

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O NEOLOGISMO POR EMPRÉSTIMO NO VOCABULÁRIO DA MODA

Emilia Maria Peixoto Farias (UFC)

O fenômeno neológico, no nível lexical, diz respeito às formações novas por processos autóctones ou ao empréstimo de unidades lexicais oriundas de outras línguas. O universo discursivo da Moda encontra nos empréstimos lingüísticos uma rica fonte de atualização lexical. Este trabalho discute as diferentes formas de adaptação que os neologismos por empréstimo sofrem ao integrarem o domínio da Moda. A metodologia empregada na análise dessas formações neológicas fundamenta-se, principalmente, em Alves (1996), Carvalho (1989) e Santos (1984).

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O PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO DO BRASIL ESTRANGEIRISMOS NO ESPAÇO PRIVADO

Zara Peixoto Vieira (USP)

A adoção de léxico estrangeiro em alguns segmentos econômicos, e seus reflexos lingüísticos na língua portuguesa do Brasil tem sido objeto de constantes reflexões. O mercado imobiliário de São Paulo tem se destacado nos últimos anos pelo número de empréstimos lexicais aplicados à sugestão de uso do espaço privado em seus lançamentos. Objetivando uma análise bilateral para esse procedimento, contemplando as razões do mercado empresarial e do consumidor, este trabalho buscou subsídios na metodologia onomástica de DICK (1992) e o amparo teórico das ciências lexicais, antropológicas e sociológicas. O corpus foi levantado a partir da media impressa da cidade de São Paulo, e submetido a classificações geográficas e econômicas a fim de estabelecer os diferentes públicos atingidos pelos estrangeirismos. A Lexicologia mostrou-se eficaz para a análise do elenco onomástico, possibilitando classificá-los como “dicionarizados” ou “empréstimos temporários”. Constatou-se nesse trabalho uma diversidade de influências lingüísticas na língua portuguesa, com a presença de léxicos franceses, italianos e ingleses principalmente. Confirmou-se, através da análise do mercado imobiliário, a grande penetração da língua inglesa no cotidiano dos habitantes da metrópole de São Paulo e duas grandes motivações para esse fato foram observadas: por um lado, a do mercado em modernizar seu antigo produto sugerindo a polissemia do ambiente privado através de suas renomeações; por outro, o constante esforço do consumidor em galgar os círculos sociais estratificados (FEATHERSTONE: 1995), acrescentando a seu status social, modernidade e cultura.

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O PORTUGUÊS DO BRASIL NO PERÍODO COLONIAL

Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick (USP)

O estudo da diversidade lingüística no português brasileiro (PB) remete a considerações etno-lingüísticas que não se circunscrevem, apenas, às características inerentes ao idioma transplantado (PE). As variáveis da colonização assentam suas marcas nas diferentes etnias que, aqui, imprimiram valores e traços semânticos especiais à língua popular. O cruzamento dos diversos sistemas, geradores de adstratos socioculturais específicos (europeu, índio e africano) (SILVA NETO, 1970. 2a ed.: 601), alterou a formação das matrizes lexicais européias, que acabaram por incorporar traços distintos dos da metrópole, principalmente no período seiscentista da língua, das chamadas línguas gerais brasílicas ou brasilianas. O país conheceu mais de uma, de acordo com a distribuição geográfica das ocorrências, em variação diatópica. Com isso, abrem-se, nesse período formador do PB, perspectivas sociológicas de reflexão sobre conceitos relativos à aculturação, inculturação, deculturação e que remetem à funcionalidade da linguagem no território americano e ao próprio repertório lexical em uso. Há, portanto, todo um processo de criação dialetal interferindo na conduta lingüística dos falantes e colocando em confronto outros dados, como o entendimento de língua franca, vernacular, língua nacional, língua disciplinada, interferências e transferências de linguagens. Nesta mesa, pretende-se, assim, abordar os contatos de línguas no período colonial, reportando-se ao mundo mestiço intermediário e ao deslocamento dos falares regionais.

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O PRESIDENTE, A TELEVISÃO, SUA ESTRELA   E O FLAGRANTE: LINHAS E ENTRELINHAS FOTOGRÁFICAS E LINGÜÍSTICAS

Claudio Cezar Henriques (UERJ)

Nos estudos acadêmicos contemporâneos, observa-se que o texto jornalístico vem recebendo posição de destaque, ocupando para alguns o lugar que já pertenceu ao texto literário. Os que defendem esse ponto de vista colocam frente à frente, de um lado, a preocupação estética, expressiva ou experimental da produção literária e, de outro, a suposta objetividade do texto jornalístico. Em nome desse princípio, costumam considerar os usos da imprensa como modelo de norma a ser seguida pela comunidade idiomática.

Tal opção merece ser relativizada, pois o citado "modelo" de linguagem, além de dar o devido desconto às questões de imediatismo dos jornais diários, deveria incorporar os usos da linguagem oficial (constituições e documentos de governo, por exemplo), da linguagem técnica e, mesmo, da linguagem literária (excetuadas as falas dos personagens e os casos em que o texto do narrador é nitidamente oral).

Quanto ao jornal, é indiscutível a contribuição que pode oferecer para os estudos de língua portuguesa. É o que ocorre, por exemplo, com o texto de manchetes, de subtítulos e de legendas de fotografias. Nesta comunicação, pretendo analisar a primeira página da edição do dia 24 de novembro de 2000 dos jornais O Globo, Jornal do Brasil, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, que tratam da visita feita por artistas da TV Globo ao presidente Fernando Henrique na semana em que a Justiça proibira a participação de crianças nas gravações da novela "Laços de Família".

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O PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO NAS ENTREVISTAS

UMA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA

Maria Lúcia da C. V. de Oliveira Andrade(USP)

O objetivo deste trabalho é descrever a sistemática por meio da qual um entrevistador usa os vários elementos pragmáticos, dentre eles os atos de fala, em entrevistas jornalísticas e talk show, com a finalidade de dirigir e restringir as opções discursivas do entrevistado. O corpus analisado demonstrou que o entrevistador emprega uma série de estratégias pragmático-discursivas para controlar a situação de entrevista; entretanto o entrevistado também utiliza estratégias de controle e negociação para produzir e participar da atividade interacional de maneira eficaz, preservando sua imagem.

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O PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO COMO FORMA DE EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE DO SUJEITO ENUNCIADOR

Lívia Lemos Duarte (UERJ )

Orient.: Marísia Teixeira Carneiro (UERJ)

Com base na teoria semiolingüística de Patrick Charaudeau ( Grammaire du sens et de l’expression, 1992 ), pretendemos, neste trabalho, discutir de que modo as formas de qualificação sinalizam a identidade do sujeito enunciador em seus valores semânticos e discursivos. Serão apresentados aspectos da pesquisa Qualificação e identidade do sujeito, que teve por objetivo interpretar as qualificações empregadas por alunos da 6a série do ensino fundamental em suas redações escolares. Enfocaremos a questão da posição do qualificante em relação ao qualificado nas expressões qualificativas analisadas e também as categorias formais de língua utilizadas nestas expressões. Tenciona-se, assim, salientar a importância da língua na produção da discursividade e o valor das atividades de redação como meio de expressão e autoconhecimento do aluno.

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O RECURSO ESTILÍSTICO E CÔMICO DA AMBIGÜIDADE EM PLAUTO

Márcio Luiz Moitinha Ribeiro (UERJ)

O professor, latinista e filólogo, Márcio Luiz Moitinha Ribeiro, pretende, neste minicurso, tecer considerações acerca do estilo do comediógrafo Plauto, sobretudo do qüiproquó, tão explorado por este como recurso do cômico. As comédias AVLVLARIA (A Aululária) e o AMPHITRYON (O Anfitrião), do autor supracitado, foram selecionadas para este minicurso e serão comentadas pelo professor, outrossim, sobre o ponto de vista filológico e psicológico.

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O REFLEXO DA MEMÓRIA SOCIAL NA TOPONÍMIA

O ESPONTÂNEO E O POPULAR.

Zara Peixoto Vieira(USP)

Este artigo propõe-se a examinar a existência dos topônimos populares e paralelos e sua importância como fundo de memória social. O estudo enfoca a toponímia da cidade de Socorro, estado de São Paulo. As denominações foram registradas a partir da memória oral com o intuito de resgatar parte do cotidiano da história social local. Os topônimos, como expressão popular e espontânea, evidenciaram algumas mudanças históricas e sociais ocorridas através do comportamento lingüístico-toponímico do homem local.

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O SUPERLATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Maria Thereza Francisca Isabel de Sulima Arczynska

O poder da linguagem coloquial e da linguagem jornalístico-social atual. Retorno ao rotacismo latino. Concomitância das formas do superlativo absoluto sintético singular e irregular. Generalização de formas anormais. A criação lexical para superlativos.

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O UNIVERSO FEMININO NO PINCEL E NO PAPEL

Maria Aparecida Meyer Nascimento (UFJF)

Qualidades como a criatividade e a sensibilidade privilegiam os homens com a percepção de um universo externo, para o qual cada pessoa possui uma representação interior de memórias associativas, de pensamentos e linguagens simbólicas, portanto, da experiência de viver.  É nela que se originam as potencialidades criativas dos homens, criando riquezas de formas expressivas verbais como da literatura ou ainda, de outras formas de arte.   Ao estudar a literatura, os leitores não desenvolvem apenas interpretações das obras lidas, mas também adquirem a compreensão de como ela funciona ante a variedade de possibilidades de ocorrências representativas, conforme sua relação com outras artes.   Assim como a literatura, a pintura também está sujeita a interpretações.  Num quadro, a identidade do que está representado é continuamente remetida para além, o significado sempre deslocado e a análise é um infindável desdobramento.  Esse caráter infinito da linguagem constitui, exatamente, o sistema do quadro onde a imagem é criada.  E poesia é expressar imagens num papel, é o instante mágico de criar emoções através da escritura.   Apresentaremos o universo feminino com o poema A Catedral de Colônia, de Affonso Romano de Sant’Anna e, paralelamente, faremos uma leitura poética de alguns quadros de Cândido Portinari.

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O VERBO HAVER E A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE IMPESSOALIDADE

Cirineu Cecote Stein

Tomado, historicamente, como evolução do verbo latino habere, o verbo haver português sempre foi motivo de controvérsia quanto a sua natureza existencial. Embora atualmente exista um consenso quanto a sua impessoalidade, nessa acepção, alguns gramáticos do passado discordavam dela, estabelecendo-se intensas discussões quanto ao seu uso.

Um fator, no entanto, é bastante instigante quando se pensa haver impessoal: desde um passado remoto até os presentes dias, o povo – incluindo-se nele mesmo muitas pessoas letradas – estabelece, freqüentemente, a flexão plural, numa percepção clara de que existe um sujeito com o qual essa forma verbal deva concordar, embora a normatização da língua estabeleça esse uso como impessoal.

De acordo com a percepção dos falantes nativos da Língua Portuguesa, duas reflexões, ao menos, se colocam: a) talvez fosse razoável, já que o sentir de boa parcela desses falantes institui o verbo haver como pessoal, mesmo que usado no campo semântico de existir, o estabelecimento de uma concordância entre a forma verbal e o seu possível sujeito; e b) quais os critérios utilizados para a aceitação de determinados usos como norma, se há já séculos o povo permanece constante no estabelecimento dessa concordância verbal

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OBRAS PUBLICADAS NO BRASIL SOBRE PORTUGUÊS HISTÓRICO: UM OLHAR CRÍTICO

Maria Luci de Mesquita Prestes(FAPA)

Embora meio que passados ao esquecimento, os estudos de português histórico fazem parte dos currículos dos cursos de Letras. No IV Congresso Nacional de Lingüística e Filologia, ao apresentarmos propostas de trabalho para o ensino de língua portuguesa em uma perspectiva histórica para os três níveis de ensino, já comentávamos sobre a escassez de obras publicadas no Brasil para poder colocar essas propostas em prática. Nesta quinta edição do Congresso, pretendemos mostrar a necessidade de uma análise mais acurada dessas obras, apontando questões relativas às suas condições de produção e aos pontos de vista de seus autores, não com o objetivo de propor que se descarte o uso de   algumas delas - muitas com primeira edição entre as décadas de 1930 e de 1940 -, mas que sejam utilizadas sob uma ótica mais crítica.

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OBSERVAÇÕES PANCRÔNICO-FUNCIONAIS PARA UMA ORDEM CIRCUNSTANCIAL-VERBO-SUJEITO

            Ângelo Santos Farias(UFF)

Segundo os princípios funcionalistas de Givón (1995), algumas das motivações para o posicionamento dos termos na oração são de origem pragmático-discursiva e não arbitrárias.  Neles baseados, examinávamos a ordem verbo-sujeito (VS) em sua utilização em seções do discurso de baixa tensão comunicativa, conforme Naro & Votre (1998).

Contudo, constatamos no decorrer das pesquisas uma alta freqüência de circunstanciais (X) à esquerda do verbo da VS, alcançando aproximadamente 4/5 em textos de natureza não narrativa, como Vita Christi.  Estes dados refinaram a nossa hipótese inicial de uma estrutura VS apenas para a de uma composição circunstancial-verbo-sujeito (XVS), em oposição à ordem canônica SVC.

O escopo deste novo trabalho é, assim, a investigação dessa construção XVS e das questões relacionadas à sua ocorrência, avaliando, sobretudo, se há a proeminência de fato de uma ordem XVS sobre a VS em textos argumentativos e os pontos relacionados à permanência ou à alteração de função de ambas as construções.

Para tanto, adotamos uma perspectiva pancrônica, tomando como corpus Vita Christi: texto religioso produzido em latim no ano de 1344 e traduzido para o português arcaico em 1495, do qual analisaremos os capítulos I e II; a Carta Encíclica Fides et Ratio, do Sumo Pontífice João Paulo II (1998) e o Sermão de São Roque, do Pe. Antônio Vieira (Wittschier, 1973).

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ORAÇÕES REDUZIDAS ADJETIVAS

ARTICULAÇÃO NO USO COTIDIANO

Luciano Arêas do Nascimento (UFF)
Mariângela Rios
(UFF)

Inserido nas pesquisas realizadas pelo Grupo de Discurso & Gramática da Universidade Federal Fluminense (UFF), o presente trabalho vem, numa perspectiva sincrônica, analisar o uso das orações reduzidas subordinadas adjetivas na região metropolitana do Rio de Janeiro. Utilizamos como corpus textos de informantes da cidade de Niterói que estão em processo de escolarização (do ensino fundamental à graduação). Dentro desse corpus, são observadas tipologias de textos das mais distintas categorias (da narração de fatos cotidianos a textos de opinião), em registros orais e escritos.

Dentro de uma análise que tenta ultrapassar a abordagem tradicional, normativa, da Gramática ao inserir também as motivações do contexto, ou seja, do nível pragmático-semântico, o estudo busca descrever os usos de orações subordinadas reduzidas adjetivas numa metodologia quantitativa e qualitativa. Para realizar esse estudo qualitativo de dados, usa-se como orientação teórica a vertente funcionalista norte-americana, baseando-se principalmente nos estudos de Givón sobre iconicidade (1990) e marcação (1995), e ainda, no trabalho de Hopper e Traugott (1993) sobre a determinação de graus de vinculação sintático-semântica entre as orações (parataxe/hipotaxe/subordinação). A partir dessa base teórica pretende-se promover uma reflexão sobre usos mais sistemáticos deste tipo de estrutura, na articulação de textos orais e escritos de indivíduos dos mais diversos níveis de escolaridade, para tentar entender até que ponto as adjetivas reduzidas se integram ou não ao sintagma nominal antecedente.

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OS DISCURSOS DE VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA NOS MANUAIS DE ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

Angela Corrêa Ferreira (UERJ)

O trabalho tem por objetivo analisar, a partir do referencial teórico proposto pela Análise do Discurso de orientação francesa, marcas de discurso de vulgarização científica em manuais de livros didáticos de inglês publicado por editoras nacionais.

A análise propõe comparar manuais de livros didáticos divididos em duas categorias: (1) livros didáticos de inglês como língua estrangeira destinados alunos do 1o segmento do Ensino Fundamental; (2) livros didáticos de inglês como língua estrangeira destinados alunos do 2o segmento do Ensino Fundamental.

A organização do corpus deu-se através do levantamento, em catálogos convencionais e on-line das editoras, dos títulos publicados na década de 90 pelas principais editoras nacionais que atendem ao município do Rio de Janeiro. Foram selecionados cinco manuais de livros destinados ao 1o segmento e dez do 2o segmento do Ensino Fundamental.

Ao levar em consideração a extensão dos manuais, optou-se por delimitar um subcorpus concentrando apenas as partes que têm maior relevância para análise discursiva, a saber, a parte introdutória ou apresentação da obra, os procedimentos metodológicos e o referencial teórico, quando existente.

A macrocategoria de análise a ser trabalhada será o conceito de cenografia discursiva elaborado por Maingueneau (1995,1997,1998,2001). No entanto, para analisar o “perfume de ciência” encontrado em tais manuais, será necessário trabalhar com a categoria discurso de vulgarização científica, entendido como a reformulação de um discurso primeiro em discurso segundo destinado à difusão de teorias em geral para um grande público, desenvolvida por Authier (1998), Mortureux (1982) e Mazière (1982).

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OS GRAFEMAS S e Z   NOS SUFIXOS DA ORTOGAFIA PORTUGUESA: CONTRASTES E  CONFRONTOS

Tadeu Luciano Siqueira Andrade(UNEB)

A ortografia,  nos manuais gramaticais, apresenta – se em  formas de regras convencionais e razões etimológicas. Esses artifícios, nem sempre, são coerentes por dois motivos:

l. As regras, às vazes, não justificam  claramente os casos de ortografia e

2. Nem todo usuário conhece  o processo etimológico das palavras da Língua Portuguesa.

Neste artigo, foram  escolhidos   os grafemas  S   e   Z  na grafia portuguesa, fazendo uma retrospectiva, do período fonético até o simplificado, observando os diversos pontos de vista dos filólogos e gramáticos, realizando uma análise nos dois planos da língua na sincronia e na diacronia.

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OS PROCESSOS MAIS RECORRENTES NA FORMAÇÃO DE PALAVRAS NA IMPRENSA DE FORTALEZA

Expedito Eloísio Ximenes (UFCE)

Toda língua está sujeita a constante transformação e renovação, principalmente, no seu léxico.Enquanto algumas palavras deixam de ser utilizadas tornando-se arcaicas, uma grande quantidade de palavras novas entra na língua através de vários recursos oriundos da própria língua ou através de empréstimo de outras línguas. Essa pesquisa visa fazer um levantamento das palavras novas como também de seus processos de formação mais recorrentes. Os jornais de circulação diária no Ceará constituem o corpus do nosso estudo. O primeiro passo do trabalho é a leitura dos textos jornalísticos e a transcrição dos contextos onde as palavras aparecem. O segundo passo será a classificação dos processos que as formaram e a avaliação se essas palavras já se encontram dicionarizadas. Tomaremos como base o Novo Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda. Por último, queremos disponibilizar os resultados da pesquisa aos nossos alunos como uma fonte de estudo em sala de aula. A pesquisa encontra-se em desenvolvimento, porém já é possível perceber a ocorrência de muitas palavras novas que são introduzidas na língua escrita circulando livremente na imprensa. Essas palavras são formadas através de recursos autóctones como a prefixação, a sufixação, a composição, a truncação, a palavra-valise, a reduplicação e o recurso de empréstimos, principalmente, da língua inglesa.

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OS SIGNOS DO AMOR E DA MORTE EM POEMAS DE  LEONIDAS DE TARENTO E LYA LUFT

Iza Quelhas (UERJ)

Os temas do amor e da morte analisados a partir do signo da finitude em Leônidas de Tarento (início do século III a.C.) e  do signo da perda em Lya Luft. A percepção da finitude e da fragilidade da condição humana na dimensão grega de Leônidas de Tarento (“... lembrado sempre, do fundo da alma, enquanto estejas// entre os vivos, de que palha tu és feito.”) ecoa nos signos da perda e do amor (O lado fatal, 1988), estudados como marcas da inserção das subjetividades dos sujeitos na cena histórica, revelando em comum a transitoriedade da carne na variedade dos signos profanos.

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OS SÍMILES EM LA FAMILIA DE PASCUAL DUARTE
DE CAMILO JOSÉ CELA

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

O romance La familia de Pascual Duarte de Camilo José Cela apresenta uma grande quantidade de símiles, alguns deles de uso geral na língua, outros criados ou renovados pelo autor, assim como muitas outras imagens. Pretendemos fazer uma análise dos símiles que consideramos mais interessantes do ponto de vista da expressividade e inovação lingüística. Comentaremos sua equivalência semântica no português, apresentando símiles equivalentes, quando tivermos conhecimento de sua existência na língua.

Utilizamos como livro texto, o seguinte:

CELA, Camilo José. La familia de Pascual Duarte. Barcelona: Plaza & Janés, 1999.

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PADRÕES LEXICAIS DO VERBO DE MOVIMENTO
ENTRAR
NA LÍNGUA PORTUGUESA
A METÁFORA NO DISCURSO

Cirlene Magalhães Almeida (UnB)

Este estudo pretende responder às seguintes questões: (1) quais seriam os padrões lexicais de “entrar” em Língua Portuguesa, utilizando-se os fundamentos da semântica dos “frames” (Fillmore,1997)?; (2) em que sentido um estudo dessa natureza poderia contribuir para a descrição lingüística da Língua Portuguesa e para possíveis aplicações à lexicografia e ao ensino do português como primeira ou segunda língua? Foi utilizada a ferramenta de colocação do programa WordSmith, tendo sido selecionadas 291 entradas para o item lexical “entrou”, extraídas do corpusFolha de São Paulo, ano 1994. O estudo mostrou haver dois tipos principais de padrões lexicais no item “entrar”.O primeiro uso do verbo entrar contém locativo. Ele é empregado no sentido literal com sujeito agente e circunstância de lugar representada por um nominal concreto. O segundo padrão é empregado no sentido metafórico e apresenta a forma não locativa. O “frame” dessa categoria seria: algo ou alguém ingressa em algo para: (1) tornar-se parte integrante de algo; (2) dar entrada em algum lugar; (3) iniciar um novo processo; (4) indicar o modo como se entra em algo; (5) começar a estar em. Na acepção literal, houve 33,3% do total de ocorrências. Esta análise é reveladora: 66,7% dos usos são não literais, sendo 50% metafóricos e 16% construções composicionais incluindo-se expressões idiomáticas. Estes números corroboram os resultados obtidos por Deignan (1999): (i) primazia do sentido metafórico sobre o literal; (ii) dificuldade de se estabelecerem limites claros entre o literal e o não literal, entre usos cristalizados da língua e expressões idiomáticas; (iii) metodologia menos parcial e fidedigna.

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PALAVRAS DERIVADAS NO LEXICO MENTAL

ABORDAGENS GERATIVAS E PSICOLINGÜÍSTICAS

Antônio Sérgio Cavalcante da Cunha (UERJ)

Este trabalho propõe a viabilidade de um diálogo entre a Teoria Morfológica de base gerativa e a Psicolingüística Experimental. Tomando-se por horizonte o ideal de uma integração entre representação e processamento lexical, apesar da distinção dos objetos teóricos denominados “léxico” nas duas abordagens, defende-se a tese de que resultados de experimentos psicolingüísticos podem constituir subsídios para a avaliação de propostas gerativas sobre representação lexical. Um experimento psicolingüístico, realizado em duas modalidades com dados do português, é descrito em detalhes para mostrar a relevância do que propomos em nosso trabalho. Os resultados do experimento sugerem, na equivalência dos demais fatores, uma maior adequação de modelos de representação lexical que definem estruturas morfológicas como princípios de organização do léxico, em oposição a propostas que consideram o léxico mental como uma lista não-ordenada de diversos tipos de elementos.

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PENSANDO AS CATEGORIAS LEXICAIS NUMA LÍNGUA INDÍGENA BRASILEIRA

Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ/UNAM/UNESA/UniverCidade)

As classes abertas são formadas por quatro tipos de palavras: nome, verbo, adjetivo e advérbio. O objetivo do nosso trabalho é descrever estas palavras numa língua indígena brasileira, mostrando como elas se estruturam e como se processam as formações vocabulares. Pensamos numa língua indígena porque são poucos os trabalhos que não estão ligados ao Português.

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PERSPECTIVA DE ATUALIZAÇÃO LINGÜÍSTICA EM VITA NUOVA DE DANTE ALIGHIERI

Alcebíades Martins Arêas (UERJ)

Delia Cambeiro (UERJ)

Atualizar um texto em italiano antigo não significa mutilar ou mesmo diminuir o grau de intensidade da função poética altamente desenvolvida na obra literária. Visto que o material a ser estudado obedece ao programa de Literatura Italiana, convém assinalar que o objetivo essencial não é proceder a uma reescritura artística. A finalidade consiste, num primeiro momento, em auxiliar o aluno na prática da compreensão da estrutura morfossintática, sempre difícil, devido ao léxico e às normas gramaticais vigentes até um certo período da História da Língua Italiana.

Em verdade, o labor da atualização visa, em especial, à leitura total da obra. Aproximar o antigo ao novo mostra-se, portanto, de importante valia para a articulação da carga semântica, pois, decodificada a arquitetura lingüística, desvela-se mais facilmente a leitura da mensagem literária eternizada no texto.

Em Vita nuova, do poeta Dante Alighieri, apresentam-se problemas interessantes de ordem lingüística a serem assinalados e reestruturados no italiano atual. Porém, com tal prática, nem o estudo da História Literária Italiana nem o da Teoria Literária podem ser colocados em plano secundário face ao da Língua. Na citada obra – ou em qualquer outra de cunho artístico – o léxico e a norma já atualizados servem apenas para sensibilizar o estudante na percepção do horizonte da Linguagem, ou seja, as engenhosas possibilidades da proposta poética.

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POSSIBILIDADES DE USO DA INFORMÁTICA

NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Wagner Guimarães da Silva Almeida (UERJ)

A informática tem estado cada vez mais presente nas atividades humanas, inclusive na educação, onde sua aplicação vem oferecendo novos recursos metodológicos.

A utilização da informática contribui grandemente para a dinamização do ensino de língua portuguesa, ao proporcionar ao aluno a possibilidade de produção de seus próprios textos.

Diferentes softwares educativos ou convencionais permitem a elaboração de jornais, livros etc., contextualizando o conteúdo da disciplina.

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PLURALIDADE SÍGNICA DA LINGUAGEM DA PUBLICIDADE

Raquel Oliveira de Castro (UERJ)

O presente trabalho tem por objetivo mostrar como a linguagem publicitária dialoga com inúmeros signos, que se articulam, ajudando a construir a unidade da mensagem de forma criativa. Para tanto, selecionamos algumas propagandas divulgadas em revistas (NOVA, VEJA e ÉPOCA), no período de agosto de 1999 a junho de 2001, em que serão abordados aspectos estilísticos, sígnicos e ideológicos, entre outros.

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PRESERVAÇÃO OU DIVERSIFICAÇÃO DA FORMA DRAMÁTICA?   ARGUMENTOS SOBRE CONCEITOS SZONDIANOS ABORDANDO O CASO FRANCÊS CONTEMPORÂNEO

Geraldo Ramos Pontes Junior (UERJ)

O estudo da preservação da forma dramática de Peter Szondi (Théorie du drame moderne) identifica queStões estilísticas na construção do sujeito e do objeto do drama. Averiguando casos como o da dramaturgia sartriana, o teórico alemão reflete sobre o quanto este autor está para a preservação da forma, em contraposição a Beckett, por sua vez associado à transgressão. Tudo se configuraria através da representação das idéias hegemônicas da época de cada um e da funcionalidade da enunciação segundo a forma com que cada autor fundamenta a comunicação e a condição humana, e com que olha para sua própria cultura. A relação entre os interlocutores (personagens) sendo sua medida fundamental, lê-se nas determinações discursivas em que os mesmos estão implicados, nas referências mútuas (ou na falta das mesmas), a marca cultural da representação de mundo de cada forma dramática. Partindo desses pressupostos, estudarei a conseqüência de se manter o ponto de vista de Szondi ao ler autores franceses contemporâneos como J.-P. Wenzel, M. Deutsch, V. Haïm, J.-C. Grumberg que, passando por discussões de crises sociais e políticas, propõem, de forma heterogênea, uma diversidade de estilos que requer a ampliação desse terreno de conceituações.

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PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE DEFINIÇÕES

Jeni Silva Turazza (PUC/SP)

Esse trabalho situa-se na área da Lexicologia e, numa interface com a área da Lingüística de Texto, trata das definições como formas lingüísticas que facultam aos homens objetivizar conceitos: representações de conhecimentos de mundo(s), organizados ou estruturados por modelos cognitivos socioculturais.O objetivo desse estudo é tratar desses processos de objetivização, a partir do pressuposto de que os conhecimentos humanos sempre estão contextualizados e textualmente formalizados em língua; razão por que as palavras jamais são empregadas isoladamente e jamais têm sentido único. Os resultados obtidos apontam que dois são os processos pelos quais são construídas as definições: por condensação e por expansão. Pela condensação designa-se um dado conceito, inserindo-o numa dada matriz cultural de um grupo social, o que justifica o fato de uma lexia-ocorrência remeter-se a vários conjuntos de definições vocabulares, no caso do vocabulário geral. Pela expansão predicam-se outros atributos ou valores ao conceito designado de forma a redefini-lo ou parafraseá-lo por um outro quadro de referências sócio-cultural.

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PROCESSOS METONÍMICOS NO CALÃO

Afrânio da Silva Garcia (UERJ)

A definição do calão e a diferenciação entre calão e vulgarismo levam-nos refletir sobre a metonímia e processos metonímicos na formação do calão, que podem ser identificados como termos do calão devidos a uma relação parte-todo, de causa-e-efeito, de substância, de característica, de função e de forma, além de relações metonímicas complexas e outros devidos a restrição de significado.

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PRODUTIVIDADE DE UM ENFOQUE DISCURSIVO NA ANÁLIDE CORPORA VARIADOS

Décio Rocha (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a diversidade de corpora que, nas últimas décadas, vem representando o interesse de pesquisas na área da linguagem, reafirmando uma perspectiva interdisciplinar para o profissional de Lingüística.

Tomando por base o quadro teórico da Análise do discurso de orientação francesa, que consiste fundamentalmente em distinguir os planos empírico e discursivo, apontamos alguns dos horizontes que se abrem mais recentemente para a investigação lingüística.

O conjunto de trabalhos apresentados tem por objetivo central oferecer uma visão panorâmica de pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na área de Lingüística (Graduação e Programa de Pós-graduação em Letras) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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PROVÉRBIOS   FALADOS NO NORDESTE
UM OLHAR LINGÜÍSTICO E HISTÓRICO

Tadeu Luciano Siqueira Andrade   (CODEFAS/ UNEB)

Durante algum tempo, os provérbios foram considerados pelas classes escolarizadas com certa aversão ou até mesmo desprezo.

Para elas,  os provérbios são arcaicos, contraditórios e impossíveis de ser levados a sério.(Cf. OBELKEVICH).

Neste trabalho, foi realizada uma pesquisa, dez provérbios falados no Nordeste, nos campos da Lingüística da História, partindo da dimensão lingüística, considerando –os como um texto dotado de estrutura  e   um “e co de sentido”, até a dimensão histórica, refletindo sobre o contexto da enunciação dos provérbios (onde? Quem o disse? Quando? Por quê?)

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QUEM É QUE SUSTENTARIA A TESE

DE QUE SUBSTANTIVO TEM FLEXÃO DE GÊNERO?

Beatriz Pereira da Silva (UVA)

Poucos gramáticos e lingüistas se atrevem a explicitar que “a determinação genérica não se manifesta no substantivo pelo processo de flexão”, mas tentam explicar formas e regras para esse fato inexistente. Daí a confusão estabelecida, algumas vezes, entre vogal temática e desinência de gênero de substantivos.

A flexão de gênero nos substantivos é fixada pela tradição e pela norma, com base numa inconsistente analogia nunca assumida com os artigos e com os adjetivos, fato totalmente desprovido de fundamentos racionais e lingüísticos.

O que justifica banco, caderno, evangelho, livro, papel e poema serem palavras masculinas e cadeira, caderneta, bíblia, folha e poesia serem femininas?

E pares do tipo: barco e barca, jarro e jarra, cerco e cerca, lenho e lenha, linho e linha?

E por que a lua é feminina em português e masculina em alemão, o mar é masculino em português, feminino em francês e neutro em latim? Os substantivos que sofrem pequenas alterações sufixais confundidas com flexão de gênero são tão poucos que seria ridículo dizer que se trata de uma flexão. É quase certo que não passa de um ou dois por cento a ocorrência de substantivos do tipo menino – menina, cachorro – cachorra, aluno – aluna etc. porque eles se constituem apenas de alguns pares de machos e fêmeas que têm papel muitíssimo importante na vida do homem.

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RECURSOS AUXILIARES DO DISCURSO NA LINGUAGEM DE PROPAGANDA

Letícia Moraes (UERJ/FEUDUC)

O trabalho tem como objetivo mostrar como a mensagem de propaganda tem utilizado, cada vez mais de recursos lingüísticos para atrair a atenção do possível comprador. Pretendemos mostrar como a mensagem de propaganda tem usado recursos, antes considerados do mundo da literatura, como elementos auxiliares na captação de clientes.

Partindo do pressuposto de que a função da mensagem publicitária é criar um mundo ideologicamente favorável e perfeito com a contribuição do produto a ser vendido a palestrante observará que esta mensagem tratará a base informativa de forma manipulada objetivando transformar a consciência do possível comprador.

Para convencer o consumidor a realizar uma ação pré-determinada o out-door utiliza formas simples, com elementos justapostos (mensagem escrita, foto do produto, slogan e/ou marca) para possibilitar a fácil compreensão da massa de consumidores. Esta seria a forma como se apresenta o discurso de publicidade em out-door.

Entretanto a busca cada vez mais acirrada pelo mercado consumidor e o fato deste mercado estar se tornado cada vez mais crítico e exigente fazem com que estas mensagem utilizem cada vez mais de recursos lingüísticos e visuais como recursos auxiliares ao discurso publicitário. Se antes bastava apenas chamar atenção através da imagem e convencer através da mensagem escrita, hoje é necessário decifrar as mensagens embutidas em discursos aparentemente ingênuos.

Não se contestará a utilização da forma simples já citada que também é utilizada nos out-doors selecionados para análise. O que se demonstrará é que o discurso de publicidade em out-door tem mostrado uma sofisticação lingüística na sua busca por captar a confiança e a credibilidade do mercado consumidor.

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RECURSOS PARA UMA DESAMBIGÜIZAÇÃO DAS
“FRASES” VEICULADAS PELAS REVISTAS VEJA E ISTOÉ

Cleide Emília Faye Pedrosa(UFS)

Um texto diz respeito a qualquer passagem, seja ela falada ou escrita, e que seja um todo significativo, independente de sua extensão. Essa visão de texto serve de base para o estudo que procederemos tendo as “frases” veiculadas pelas revistas Veja e Isto É como material de análise. Tornou-se óbvio que o todo significativo desses “textos” (frases), para o leitor, só acontece juntamente com o contexto (ou texto do editor?) recuperado pela mídia, tendo em vista o leitor não se encontrar presente no momento da enunciação. Pela impossibilidade  do leitor   tirar suas dúvidas de compreensão da mensagem com o autor, é necessário que o texto escrito explore   seu caráter de explicitude, ser muito preciso   e tentar  evitar, ao máximo, a ambigüidade. Nesse tipo de material que estamos analisando, a ambigüidade é desfeita, principalmente, no contexto situacional recuperado pelo editor e pelos tipos de apostos explorados por ele.

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RELAÇÕES ARGUMENTATIVAS ENTRE ENUMERADOR E ENUNCIATÁRIO

Maria Geralda de Miranda (UFRJ/UNAM)

Segundo FIORIN, a finalidade única de todo ato não é informar, mas persuadir o outro a aceitar o que está sendo comunicado (Elementos de Análise de Discurso, 2000). Partindo dos estudos realizados por este autor – e também da teorização de Chaïm Perelman sobre a argumentação – se pretende mostrar através de alguns textos, os mecanismos sintáticos e semânticos, usados pelo enunciador para levar o enunciatário a crer naquilo que se transmite. Dentre esses mecanismos, trataremos das projeções de pessoa, tempo e espaço e das coberturas figurativas.

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RELEVÂNCIA DISCURSIVA EM SAMBAS DE ENREDO

Paulo Monteiro Soares (UFF)

A comunicação a ser apresentada consiste em um resultado da pesquisa desenvolvida para a dissertação de  Mestrado   em Letras da UFF (área de concentração: Língua Portuguesa) intitulada Relevância discursiva em sambas de enredo do carnaval carioca dos anos 90, defendida em dezembro de 2000. Partimos  dos pressupostos do Funcionalismo norte-americano para proceder à aplicação de traços caracterizadores do  plano de figura (Hopper & Thompson, 1980; Silveira, 1990, 1997; Neves, 1997; Naro & Votre, 1996)  a 150 letras de sambas de enredo, produzidas entre 1990 e 1999 pelas escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Constatamos que há um continuum de relevância discursiva no tocante a tipos de sambas de enredo (Soares, 2000), obedecendo à seguinte ordem: narrativos, híbridos e   temáticos.  Os sambas de enredo narrativos encontram-se mais próximos das narrativas prototípicas  por comportarem grande parte dos traços caracterizadores do plano de figura de narrativas orais e/ou escritas (Silveira, 1990); os híbridos são resultantes da fusão dos planos de figura dos narrativos com os não-narrativos; os temáticos (os não-narrativos), por sua vez, caracterizam-se pelo maior afastamento do eixo central de prototipicidade, ou seja, apresentam-se marcados pela metaforização dos temas que servem de base para os enredos das escolas   de samba do Rio de Janeiro.

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RESERVA DO NÃO-VISTO
JOÃO GILBERTO NOLL

UM OLHAR FICCIONAL ENTRE LUZES E SOMBRAS

Regina Céli Alves da Silva(UniverCidade)

Os textos ficcionais de João Gilberto Noll são produzidos a partir de uma relação (in)tensa entre a linguagem e o olhar. Nessa interseção, seus narradores, sempre em primeira pessoa, constróem as narrativas conduzidos por movimentos palpebrais que, girando para todos os lados, enunciam o visível e o invisível. No registro dos olhos avistam-se cidades e corpos mutilados; cenas e signos que se repetem; desejos e dúvidas e, acima de tudo, uma busca incessante por novas paisagens e imagens. Assim, entre luzes e sombras, o contorno ficcional dos romances nollianos é desenhado, deixando aos leitores interrogações acerca da realidade contemporânea e da linguagem como virtualidade que apalpa o visto e o não-visto.

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SEMIÓTICA APLICADA À LEITURA E À REDAÇÃO

Elaine Ferrari Antunes (UERJ)

O presente trabalho tem por finalidade descrever os processos de ensino/aprendizagem da leitura da imagem, tomando o texto em linguagem verbal como imagem e estabelecendo um diálogo entre os códigos verbal e não verbal objetivando a produção de sentido.

Este estudo procura demonstrar que o conhecimento prévio da linguagem não verbal é a chave de entrada para a linguagem verbal, ou seja, aborda-se a possibilidade de dedução do segmento verbal por meio das inferências trazidas do não-verbal. Teoriza-se, ainda, sobre o valor das cores, formas, posições, expressões faciais, do gestual, etc. na produção de sentido.

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SER OU NÃO SER?
A DIALÉTICA DO EU, EM FLORBELA ESPANCA

Tatiana Alves Soares (UNESA / UniverCidade)

Florbela Espanca, poetisa portuguesa das primeira décadas do século XX, apresenta uma obra marcada pelo lirismo amoroso.  Seus sonetos traduzem as inquietações da alma feminina, sendo a sensualidade e o panteísmo algumas de suas mais marcantes características.

O presente trabalho estabelece uma análise comparativa de dois sonetos homônimos intitulados Eu, publicados em 1919 e 1930, respectivamente.   Nossa leitura analisa o processo de construção da identidade e da auto-imagem a partir de uma dialética detectável na própria estruturação dos sonetos.  Acreditando que o segundo soneto dialoga com o primeiro, constituindo um contraponto daquele, nosso estudo enfoca essa intertextualidade, afirmando a releitura por ele proposta, tendo por base os aspectos morfológicos e lexicais neles encontrados.

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SERAFIM DA SILVA NETO
E AS “HISTÓRIAS DE TRANCOSO”

Fernando Ozório Rodrigues (UFF/ABF)

Para o desenvolvimento do nosso projeto de realizar a edição crítica dos Contos e histórias de proveito e exemplo, de Gonçalo Fernandes Trancoso, escritor quinhentista português, foram encontrados muitos obstáculos. Entre esses obstáculos conta-se o fato de existirem poucos exemplares das edições mais antigas do texto, e, nas existentes que consultamos, terem sido constatadas inúmeras supressões e alterações em relação ao texto original. A rigor, os bibliógrafos portugueses tinham notícia de que a obra tivera uma edição datada de 1575, que supunham ter sido a primeira, mas não sabiam informar sobre a existência de algum exemplar. Foi o Professor Serafim da Silva Neto que, em viagem aos Estados Unidos, encontrou na Biblioteca da Universidade Católica de Washington um exemplar dessa primeira edição, tendo dado notícia de sua descoberta no livro Ensaios de filologia portuguesa, publicado em São Paulo pela Editora Nacional, em 1956. Nessa mesma ocasião, o Prof. Serafim deu também notícia a respeito de outro exemplar dos Contos, datado de 1594 e existente na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, acerca do qual nenhum bibliógrafo português até então tinha dado qualquer informação. Consultado o exemplar de 1575 e cotejado com o de 1585 (2a edição), pudemos constatar as supressões e alterações acima referidas. A descoberta do Prof. Serafim da Silva Neto, portanto, foi fundamental para que pudéssemos preparar a edição dos Contos, projeto que realizamos e apresentamos como Tese de Doutorado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, em março de 2000, sob a orientação do Prof. Edwaldo Cafezeiro.

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SERAFIM DA SILVA NETO E OS ESTUDOS DIALETOLÓGICOS NO BRASIL

Maria Margarida de Andrade (UNIBERO)

O duplo objetivo deste trabalho é abordar a evolução dos estudos dialetológicos no Brasil e destacar o papel relevante de Serafim da Silva Neto nos estudos da língua portuguesa do Brasil e na prática das pesquisas dos falares regionais de nosso País.Estudar a língua empregada no Brasil tem sido preocupação dos estudiosos de todos os tempos, desde Anchieta, no período colonial. Contudo, os estudos de dialetologia produzidos até meados do século XX, no Brasil, embora de inegável valor para a época, foram poucos e carentes de apoio metodológico: até o final dos anos 40 vigorou uma linha empírica de pesquisa. Algumas obras, de diferente valor e orientação diversa que foram até então publicadas ilustram as tentativas feitas com o objetivo de estudar de maneira mais profunda a língua portuguesa do Brasil.A publicação das obras de Serafim da Silva Neto proporcionou aos interessados no estudo dos falares brasileiros não só modelos, mas também parâmetros para o planejamento e execução de pesquisas dialetológicas verdadeiramente científicas. Seguindo o conselho do Mestre, muitas monografias, dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o assunto foram elaboradas nos nossos meios acadêmicos. Os Atlas lingüísticos parciais, com muitas dificuldades de toda natureza, estão sendo lentamente publicados em várias regiões do País. Este é o caminho preconizado por Serafim da Silva Neto: que se façam muitas monografias e estudos parciais, até que se possa alcançar o ideal da publicação do ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL.

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TOPONÍMIA PARANAENSE DE ORIGEM TUPI

Ricardo Tupiniquim Ramos (UNEB/UnC)

Em nossa dissertação de mestrado, Nomes próprios de origem tupi no Brasil do século XIX, estudamos os tupinismos usados como nomes próprios em textos literários e jornalísticos brasileiros posteriores à década de 40 daquele século. Além de um glossário de 500 lexias, analisamos a natureza léxico-semântica e a questão do ingresso dessas formas no português do Brasil. Uma das conclusões aponta para o fato de a maioria dos tupinismos empregados como nomes próprios no português brasileiro oitocentista (80 % das lexias estudadas) se constituir de topônimos. A partir deste trabalho, pretendemos observar a presença tupi na toponímia municipal brasileira e verificar a validade das conclusões de nossa dissertação na atual sincronia. Embora não seja o Paraná o Estado brasileiro mais dotado de topônimos municipais de origem tupi - posto que ocupado por São Paulo -, ele é o único cujo próprio nome e o da Capital, têm origem tupi. Fora este motivo, a escolha foi até certo ponto aleatória. Utilizamos como fonte para a coleta dos nomes dos municípios atuais o guia postal da Empresa de Correios e Telégrafos editado no ano 2000.

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TRADUÇÃO AUTOMÁTICA
AINDA UM ENIGMA MULTIDISCIPLINAR

Milena Uzeda (PUC-Rio)

A Lingüística Computacional é geralmente definida como a interseção entre Lingüística e Computação: duas áreas que embora aparentemente nada tenham em comum, trabalham, na prática, com a razão e a lógica. É a Lingüística Formal de Noam Chomsky o grande elo entre as duas disciplinas. Este campo nasce como conseqüência das pesquisas em Inteligência Artificial — que pode ser definida como resultado de métodos programáveis em computador que simulam atividades mentais humanas envolvendo inteligência.

O objetivo do presente estudo é abordar uma das motivações tecnológicas DA Lingüística Computaciona — a Tradução Automática — buscando compreender sua evolução pela história e sua aplicação atual. Do otimismo dos anos 50, com as tentativas frustradas de desenvolver sistemas potentes, para o ceticismo da década seguinte, com os estudos persuasivos do lógico israelense Bar-Hillel, passando por uma retomada de interesse nos anos 80, em conseqüência da explosão da informatização e da criação da Comunidade Econômica Européia.

Desde então, os sistemas de Tradução Automática passaram a ser considerados por uma perspectiva pragmática: atualmente, o grau de aceitação desses programas é medido pela quantidade de pré e pós-revisão requerida; ou seja, é uma ferramenta computacional que prevê a intervenção humana.

Note-se que com a proliferação da Internet, nos anos 90, os Tradutores Automáticos são utilizados de forma exaustiva. Portanto, estes programas, embora imperfeitos, desempenham um papel singular na obtenção e disseminação de informação em nível mundial. Daí a necessidade de contínuos estudos neste domínio multidisciplinar.

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TRANSCRIÇÃO SEMI-DIPLOMÁTICA DOS DOCUMENTOS
PR-AN-IS-OM-017: 0165, 017: 0166, 017: 0167-NX
DA COLEÇÃO ARTHUR DE SALLES

Norma Suely da Silva Pereira (UFBA)

O texto manuscrito escolhido para o presente trabalho é um inédito de Arthur Gonçalves de Salles (1879 – 1952), poeta baiano representante das tradições simbolista e parnasiana, embora tenha produzido bastante, não compilou a maior parte de sua obra, que permaneceu dispersa, publicada em periódicos de sua época. Trata-se de manuscrito autógrafo, sem data, incompleto, escrito em 04 fólios de papel pautado, sem margens, amarelado pelo tempo. Escrita cursiva do século XX. Reproduziu-se o texto mantendo uma postura conservadora, com vistas à manutenção de suas características lingüísticas, para preservar o usus scribendi do autor e ainda porque representam a realidade gráfica do período. Para facilitar a leitura, a transcrição foi acompanhada de descrição, glossário e xerox dos originais manuscritos. As anotações contidas nos documentos 017: 0165, 017: 0166, 017: 0167 da Coleção Arthur de Salles apresentam unidade e podem ser classificadas como parte de um único documento. A pesquisa revelou ser o documento um conjunto de verbetes anotados pelo autor, como a formar um glossário, ¾ conforme sugere o título dado por este ao doc. PR-AN-IS-OM-017-0167-NX: 01/ 04, fº1 rº, Pequeno diccionario de palavras e phrases antigas ¾ e de outros dados, certamente úteis na composição de textos literários de um autor que se auto-classificava parnasiano, o que pretendemos apresentar nesta comunicação, esperando, com este trabalho, poder favorecer os estudos em outras áreas do saber.

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TUDO SOBRE MINHA MÃE, CLITEMNESTRA

Carlinda Fragale Pate Nuñez (UERJ)

A especificidade do mito de Electra reside na problemática do matricídio, muito mais desejado por esta filha que por seu irmão, Orestes, o real executor do crime. As psicopatologias da personagem, tanto quanto a sua variabilidade de atuação, em cada uma das três versões gregas do tema, contêm um painel de imagens que vem sendo aprofundado e explorado por diferentes dramaturgos, nos palcos internacionais de todos os tempos, bem como por múltiplas áreas das Ciências Socias, todos interessados no discurso que apresenta a mãe associada à mítica dos insetos (em Ésquilo), à retórica judicial (em Sófocles) e ao campo das alucinações (em Eurípides).

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UM ESTUDO SOBRE A PRODUTIVIDADE DOS SUFIXOS AUMENTATIVOS EM PORTUGUÊS

Patrícia Botelho Santos(UFRJ)

Este estudo encontrou motivação a partir da leitura da dissertação de mestrado de ROSA (1982) Formação de nomes aumentativos: Um estudo da produtividade de alguns sufixos portugueses. Neste estudo, ROSA fez uma análise sobre os aumentativos formados por derivação sufixal com o objetivo de testar a produtividade de dez sufixos, e ainda, qual dentre eles entrariam na formação de novas palavras. Os sufixos analisados foram: –oila, -ola, -orro, -orra, -arrão, -eirão, -alhão, -az, -aço e –ão.

O presente trabalho tem por objetivo ratificar, após vinte anos, a produtividade dos dez sufixos aumentativos, estudados por ROSA (1982). Além disso, verificar se esses dez sufixos são realmente interpretados pelos falantes como aumentativo, e ainda, se eles entram na formação de novas palavras. Tal proposta de análise está vinculada aos estudos de BASÍLIO (1980) e ARONOFF(1976).

A fim de verificar a análise da estrutura de palavras com a produção de novas palavras no léxico, Basílio propõe um modelo em que as regras produtivas de formação de palavras (REPs) são distintas das regras que analisam a estrutura interna das palavras (RAEs). O presente estudo se utilizará de tais regras tal como formuladas por Basílio.

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UM GÊNERO MEDIEVAL REVISITADO POR EÇA

Maria do Amparo Tavares Maleval (UERJ)

Eça de Queirós em não poucas das suas obras revisitou a Meia-Idade, como temos tido ocasião de demonstrar em estudos divulgados em periódicos e eventos diversos. Dando continuidade a essas reflexões, pretendemos analisar-lhe as hagiografias, gênero literário tipicamente medieval, observando as peculiaridades do escritor na sua recriação; bem como as teses do historiador português António Sérgio quanto a serem as mesmas uma síntese conclusiva da obra de Eça; e, ainda, o sentido desse retorno ao passado, à primeira vista estranho, já que efetivado por um escritor afeto ao Realismo-Naturalismo, que propugnava, acima de tudo, a observação científico-crítica do presente.

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UM MORCEGO SE ENCONTRA COM HOMERO

Thomaz Pereira de Amorim Neto (UERJ)

Este trabalho pretende analisar três obras comparativamente: duas de Homero – Ilíada e Odisséia – e uma obra que completou dez anos em 1997: Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.

Não se pretende, neste trabalho, discutir a questão de história em quadrinhos vista como literatura (sabendo-se que este é o tópico do trabalho: quadrinhos são literatura). Não  irá se discutir, também, o caráter de autoria das obras homéricas, neste caso, consideraremos um único autor para as duas obras e o chamaremos de Homero.

O foco deste trabalho está na figura heróica pertencente às três obras acima citadas, pretendemos traçar um paralelo que acabará na afirmação: a literatura se renova, mas, às vezes, utiliza-se das velhas fôrmas para se enriquecer.

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UM PERCURSO DE LEITURA DA APOLOGIA CONTRA RUFINO, DE SÃO JERÔNIMO

Luís Carlos Lima Carpinetti (UFJF)

A partir de um fragmento do texto citado de São Jerônimo, percorremos uma caminho pelo texto bíblico, com enfoque especial no profeta Isaías, e no prólogo ao Comentário sobre Isaías, de S. Jerônimo para chegar a compreender melhor a resposta que São Jerônimo dá às atitudes de seu ex-amigo, Rufino de Aquiléia. Encontramos nessa resposta idéias que muitos teóricos de tradução defendem em dias atuais. O trabalho que vou apresentar é basicamente este percurso.

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UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS

Isabel Cristina Rodrigues (UERJ)

Na última década, intensificou-se o movimento de reivindicação dos surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais (LSB) como primeira língua, no sentido de serem reconhecidos como minoria lingüística e de garantir a oficialização da LSB de modo integrado à Língua Portuguesa (LP), sobretudo nos espaços escolares. Paralelamente a este fato, aumentou o número de pesquisas acadêmicas relacionadas à descrição da gramática da LSB e às possibilidades de educação bilíngüe para surdos.

Este trabalho se insere nesse contexto e tem por proposta investigar possíveis abordagens de ensino da modalidade escrita da LP como segunda língua para surdos. Nosso corpus, em fase de constituição, compõe-se de entrevistas com profissionais surdos usuários da LSB e da LP e de observações de uma escola pública que adota a educação bilíngüe em suas classes de surdos. O quadro teórico em que nos baseamos é o da escola francesa da Análise do Discurso, com ênfase nas categorias de interdiscurso, prática discursiva e gênero discursivo (Maingueneau,1989).

Em nossa análise, partimos da concepção de que os modos de organização dos grupos sociais e de seus discursos são indissociáveis. Parece-nos relevante, portanto, compreender em qual espaço discursivo se inscreve essa comunidade de minoria lingüística, refletindo sobre as seguintes questões: como definir uma comunidade lingüística por critérios outros que não os geográficos ou étnicos? que práticas de ensino de línguas adotar para cada grupo particular, considerando o fato de que lemos ou escrevemos sempre dentro de gêneros determinados?

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UMA ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES DA LÍNGUA ESPANHOLA NOS DISCURSOS JORNALÍSTICOS

Sandra Di Lullo Arias (UERJ)

Tomando como referencial teórico a Análise do Discurso de linha francesa, o trabalho tem por objetivo analisar as construções discursivas sobre a língua espanhola presentes nos discursos jornalísticos.

A pesquisa toma como base artigos veiculados pelos jornais O Globo e Folha de São Paulo, e pela revista Veja, no ano de 2000.

O propósito da análise é observar de que maneira os discursos jornalísticos interagem, corroborando representações sobre a língua espanhola.

A seleção do corpus deu-se através do levantamento de artigos a partir de uma pesquisa realizada via computador. Foram escolhidas como entradas para a seleção do material os termos portunhol, língua espanhola, idioma espanhol. Por um lado, o conceito de heterogeneidade discursiva (Authier 1998) orientará a reflexão sobre as marcas discursivas que compõe a enunciação. Por outro lado, a categoria de interlíngua, tal como definida pela análise do discurso (Maingueneau, 1997) orientará a análise de conteúdos presentes nas construções discursivas.

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UMA GRAMÁTICA, SEU AUTOR
E O CONTEXTO DE PRODUÇÃO DE SUA OBRA

Márcia A G Molina (USP/UNISA)

Sabemos que antes de qualquer pesquisa, cujo objetivo seja analisar um autor e sua obra, a fim de traçar a história de seu pensamento lingüístico, importante faz-se investigar – buscando ‘recuperar’ e descrever - o contexto sócio-histórico em que ele viveu e produziu seu trabalho, pois como diz Koerner, 1974 “(...) histories of linguistics have failed to increase our awareness of the impact of matters or events outside the field – (in) particular socio-economical conditions, historical events, or political situations, often have had considerable influence on the motivation of writing the history of a particular discipline (...) “ (p.4).

Por isso, neste trabalho nosso objetivo é estudar o autor Eduardo Carlos Pereira, importante pastor protestante e seriíssimo filólogo do final do século XIX e início do XX, cujas Gramáticas ( a do Curso Superior e a do Curso Elementar), com mais de 100 edições, estiveram presentes por mais de meio século na vida estudantil brasileira.

Procuraremos descrever quem foi ele, quando viveu, em que e em quem acreditou, qual linha de pensamento norteava os estudiosos da Língua Portuguesa na ocasião da escritura de sua obra, época de importante renovação nos estudos lingüísticos e momento em que se buscavam instrumentos e símbolos de identidade nacional.

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UMA PROPOSTA DE EDIÇÃO

Arlete Silva Santos (UFBA)

De grande utilidade para as diversas áreas do conhecimento, a Edição Diplomática do Inventário dos Bens de Antônio Gomes de Souza apresenta características peculiares da escrita do período compreendido entre 1730 e 1763 e revela também outros aspectos que merecem um estudo mais cuidadoso, como as marcas d’água e as abreviaturas presentes no manuscrito, além de ratificar aspectos da história do Brasil do período em questão.

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VARIEDADES SEMÂNTICAS DO LATIM VULGAR

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

Cuida o presente trabalho de apresentar algumas variedades semânticas do latim vulgar, enfocando, principalmente, palavras e expressões que se refletiram na língua portuguesa e também fornecendo a respectiva correspondência dessas variedades entre as línguas românicas.

É o caso, por exemplo, de comedere e manducare, magis e plus, caseus formaticus, equus e caballus, iecur ficatum, além de tantas outras que se irão seguir.

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VÊNUS E O LIVRO QUATRO DOS FASTOS DE OVÍDIO

Laert Ribeiro de Souza (UERJ)

A importância da deusa Vênus na sociedade romana, como protetora da cidade e como ancestral da gens Iulia, através do troiano Enéias, na visão de Ovídio, no livro quatro dos Fastos.

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VOCABULÁRIO DE CAPOEIRA

Luiz Carlos Ferreira (Mestre Luizinho Capoeira)

O vocabulário da capoeira é bastante simples e é mais fácil de ser entendido através de uma demonstração do que de uma explicação. E é isto que se fará, através de alguns capoeristas que se disporão a fazer as demonstrações para os ouvintes. Por exemplo:

-> grito de comando nas rodas de capoeira para iniciar uma ladainha, parar o jogo ou terminar a roda. São três tipos de IÊ: breve -> parar o jogo; semibreve -> terminar a roda e longo -> cantar uma ladainha.

Ladainha -> cantiga de lamento para jogo de capoeira angola.

Corrido -> cantiga usada para jogo de capoeira regional.

Chula -> todo tipo de cantiga de capoeira.

Berimbau -> instrumento usado nas rodas de capoeira é o instrumento que dita o ritmo e as normas do jogo de capoeira. São três tipos de berimbaus: guga, médio e viola.

Na roda de capoeira completa são usados os seguintes instrumentos: três berimbaus; um atabaque e um pandeiro, podendo ser usado um agogô, indispensável no maculelê (dança de facão ou bastão).

Entrar no aço -> testar o jogo de um capoeirista.

Saroba -> capoeirista sem base nem técnica.

Abadá -> uniforme de capoeira.

Mulambeiro -> capoeirista imundo, com uniforme sujo.

Trairagem -> maldade com que o capoerista finge jogar limpo pra fazer covardia.

Cordel ou corda -> serve para identificar a graduação do aluno, cada cor indica um grau do aluno.

Pé do berimbau -> lugar em que se inicia o primeiro jogo de capoeira.

Descamisado -> aluno sem uniforme ou proibido de usar o seu cordel.

Quebra jereba -> jogo rápido e malicioso, em que o capoeirista tem que ficar esperto, pois é um desafio.

Boca de espera -> técnica em que o capoeirista marca o jogo do outro, espera que ele solte um golpe e contra ataca.

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XUKURU – UM POVO À BUSCA DE SUA LÍNGUA

Rosely de Souza Lacerda (UFPE)

Temos em Pernambuco uma situação lingüística bastante interessante: os índios Xukuru, que já não falam sua língua (são monolíngües em português), decidiram tentar recuperá-la. Para isso coletaram algumas palavras ainda faladas pelos mais velhos, pesquisaram documentos de Lapenda (1962) e Nimuendaju (1934), tentaram, enfim, recuperar algumas formas lexicais que pensavam estivessem totalmente perdidas.

Os Xukuru conseguiram recuperar cerca de 150 itens lexicais; com esses componentes experimentam falar um língua, cujo uso depende das estruturas morfossintáticas do português, além de utilizarem muitos traços fonológicos do português como  o uso de paroxítonas, o ensurdecimento de fonemas finais como /e/ e /o/.

São exemplos dessa língua:

inxa                                         ó carne

xetkubú                                   ó brasa

kwébra                                    ó pedra

Xennunpr tayegêgo xurak   ó índio doente fome

(O índio está doente de fome.)

A partir dessa pesquisa, os professores Xukuru passaram, então, a ensinar os vocábulos, que conseguiram recuperar, nas escolas da aldeia. Hoje incentivam não só as crianças como os adultos a utilizarem palavras Xukuru no seu dia-a-dia. Com isso pretendem que um dia se fale uma língua Xukuru. Se isso for possível (e eles vêm se empenhando para que isso ocorra), terão forçado a existência de um língua com características de língua  anti-crioulo, tal como a define Couto (1992).

Cabe ressaltar a força com que esse povo vem se distinguindo em sua tentativa de reviver e fortalecer não só sua língua como todas as suas raízes.

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ZIRALDO: UM ESCRITOR MALUQUINHO

Oswaldo Eurico Rodrigues da Silva (UERJ)

Análise estilística baseada em critérios fonéticos e fonológicos, semânticos e morfossintáticos de parte da obra do escritor mineiro Ziraldo Alves Pinto com enfoque na produção literária dedicada ao público infantil.

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