A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NAS OBRAS MODERNAS
A PARTIR DE ESTUDOS CRÍTICOS E FILOLÓGICOS
NA POESIA BRASILEIRA

Camillo Baptista Oliveira Cavalcanti (UFF)

 

O levantamento do léxico na poesia moderna brasileira permite, dentre outros resultados, a apreciação da construção do espaço na lírica de poetas consagrados de nossa literatura. A partir da tríade romântica (Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves) e da tríade parnasiana (Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Vicente de Carvalho), é possível identificar onde o EU-lírico da modernidade brasileira atua: ou seja, de que forma o território íntimo é metaforizado como espaço verossímil.

Essa relação é fundamental para a consolidação de uma obra literária. Sem uma organização espacial satisfatória para o leitor, a lírica se torna confusa e inteligível apenas para o escritor. Por exemplo, o que seria da lírica de Castro Alves se o EU-lírico não fragmentasse a noite, construindo casas e ruas? E se Bilac construísse a Via-Láctea de dia?

Portanto, a organização espacial não só é imprescindível como também identificadora de aspectos literários, filosóficos e lingüísticos muito importantes. É pela organização espacial que o poeta irá selecionar o léxico mais adequado, e, a partir disso, fomentar a formulação de análises críticas e filológicas.

Assim, pode-se mapear os lugares que o EU-lírico engendrou. No caso dos românticos, o espaço é estreitamente ligado a uma verossimilhança externa sem fronteiras, muitas vezes dando a impressão de confidências[1]. Já as obras parnasianas dispõem de uma construção espacial muito mais fantasiosa e onírica.

Todavia, nem sempre o dicionário resolve o problema de levantamento lexical nos poetas, porque não raro se utilizam de formas arcaicas do latim ou do galego em substituição de formas atuais. Muitas vezes, tomando a língua como sistema de possibilidades para criação de palavras, os poetas parnasianos, por exemplo, apresentam formas como "rúmuros"[2], no sentido de produzir rumores, à semelhança de "múrmuros", no mesmo sentido. É uma escolha pela eufonia. Os românticos, por sua vez, registraram "revel"[3], empréstimo da linguagem jurídica, mas com o significado arcaico da forma latina "rebelle" (revolto, rebelde). Nesses casos, somente um pouco de conhecimento da história da língua resolve. Retomaremos esse estudo filológico ao final do texto.

No caso de Gonçalves Dias, a organização espacial teve tanta força na obra que o EU-lírico demorou a localizar a si mesmo e à sua amada. Em primeiro lugar, o EU-lírico identifica a amada como "flor", porém ainda sem saber qual espécie ou onde está; acredita nesse momento, inclusive, que "minha musa não é como a ninfa que se enleva das águas". Num segundo momento, percebe que ela é uma "rosa"[4]. Alguns anos mais tarde, afirma que "ia a virgem descuidosa, quando a rosa do seu seio no chão lhe cai: vem um'onda bonançosa, qu'impiedosa a flor consigo retrai."[5]. O EU-lírico conseguiu construir um espaço para a amada: o mar, que no primeiro momento foi negado enquanto local da musa. A partir desta organização espacial, o EU-lírico pôde metaforizar a água como lágrimas. A lírica encontra sua plenitude quando o EU-lírico descobre que está na terra: "entra em meu coração, ocupa-o todo, fibra por fibra enlaça-te com ele, desce com ele à sepultura; e quando jazer eu na eternidade, minha flor, minha saudade, tu procura a aura celeste, rompe a terra, transforma-te em cipreste" e que o mar simboliza ao mesmo tempo toda sua paixão e toda a dificuldade com a amada: "pode o raio num píncaro caindo, torná-lo dois, e o mar entre ambos"[6].

O mar é retomado em Álvares de Azevedo. A organização espacial é a mesma: a amada no mar e o EU-lírico na terra. Porém, a amada não será mais uma rosa, e o mar cumprirá o papel de adoecê-la: "as roupas de gaza te molham de escuma; de noite - aos serenos - a areia é tão fria, tão úmido o vento que os ares perfuma! És tão doentia!"[7]. Nesse mesmo poema, o levantamento lexical aponta um campo semântico de doença e morte[8]. Tal é a importância desse levantamento lexical para a configuração da amada em A. Azevedo que toda a sua obra se contaminará dessa enfermidade: tanto o espaço, quanto o EU-lírico. Embora a obra apresente uma fragmentação notável, em que são identificados vários elementos da cidade e do campo[9], tudo acaba de certa forma convergindo para uma indissolúvel escuridão, que metaforiza o sofrimento, pois o desejo do EU-lírico é se relacionar com a amada, mas para tanto, é necessário morrer: ela está morta ou prestes a morrer. O célebre Soneto confirma esse estado de coisas: "por ti - as noites eu velei chorando, por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!"[10]. Inclusive parece retomar toda a atmosfera da praia; o EU-lírico é revestido de sofrimento, solidão e frustrações[11]. A indefinição sobre a morte da amada é um imperativo na obra de A. Azevedo: ele resgatou-a do mar ou chorou o enterro da pálida doentia? Em Virgem Morta, o EU-lírico consegue expressar a morte da amada, profetizando sua morte. Na Segunda Pare da Lira dos vinte anos, morre um poeta. Surge outro em Idéias Íntimas, que se pretende boêmio e de inúmeros amores; porém não era outro senão o próprio EU-lírico da Primeira Parte que volta à sua verdadeira essência em Namoro a cavalo, que fez renascer na Terceira Parte o primeiro Álvares de Azevedo.

A noite também foi vasto campo de atuação para o EU-lírico de Castro Alves: a diferença é que Álvares sofria e Castro se divertia. Por isso, a escuridão não será imersa em prantos, mas em amores realizados. Levantando os nomes próprios femininos que se envolveram amorosamente com o EU-lírico, encontram-se duas dezenas de exemplos, aproximadamente, apenas em Espumas flutuantes[12]. Ao contrário de Álvares de Azevedo, Castro Alves fragmenta o espaço sem confluir as partes. Nenhum campo semântico consegue conter a diferença entre os espaços; não há, por exemplo, o sofrimento para convergir os diversos fragmentos. Pelo contrário: para que o EU-lírico continue sua diversidade na relação amorosa, a busca pelo amor e pelo prazer sustenta a diferenciação dos espaços, necessária para seus inúmeros casos de amor. Os anjos da meia-noite demonstram bem essa fragmentação: o espaço das oito sombras não se tangenciam, justamente para que a organização espacial permita a multiplicidade amorosa. O local de Marieta é a noite; de Bárbara, a escuma; de Ester, o Oriente; de Fabíola, o céu; Cândida e Laura, dois palácios ou dois planetas; de Dulce, o pântano; de Último fantasma, a chuva. É realmente notável a organização de tantos fragmentos, configurando um espaço repleto de abismos: Bárbara não conhecerá Ester, nem Fabíola verá Dulce, e assim por diante - para garantir toda a diversidade de amores.

Alberto de Oliveira terá a mesma diversidade, porém voltada à retratação da paisagem por vias subjetivas. Já numa época em que a cidade já estabelecia toda sua tecnologia, o EU-lírico cuida de registrar a natureza, ora de forma nacionalista, ora universalista. O volume de poemas que tenho traz a produção de Alberto entre 1892 e 1911. Parece-me bastante impressionista, a despeito da impassibilidade que cerca sua reputação. Num mesmo poema, por exemplo, Alberto é capaz de combinar múltiplas cores e vários sons, até mesmo a sensação de tato é explorada com muita distinção. Exemplo disto é Escada fantástica, poema em que encontramos mais de uma dezena de cores, levantando o léxico pertinente ao sentido da visão[13]. No mesmo poema, várias sensações de tato, de olfato e de audição. Mas esses levantamentos podem ser feitos em outros poemas também significativos, para enriquecer o corpus do trabalho. Em Fio d'água, por exemplo, quase uma dezena de sensações relacionadas ao tato[14]. O espaço toma feição universal quando carece um registro mais apurado de léxico indígena ou típico do Brasil, como em Praia Longínqua, poema em que a natureza é transmitida por aproximadamente vinte termos "universais", ou seja, não típicos de um lugar específico[15]. Somente os termos "braúna" e "palanquim" acusam lugares específicos: braúna, típica do Brasil; palanquim, típico do sul da Ásia. Talvez um orientalismo, talvez apenas um empréstimo (pois o dicionário aponta um significado já brasileiro). Por outro lado, Dia de Viagem e Pedra Açu trazem, cada um, mais de uma dezena de vocábulos específicos da geografia brasileira[16]. Essa capacidade notável de combinar cores, sons, cheiros e tato em temas paisagísticos irá revelar um EU-lírico extremamente sensível e franco consigo mesmo e com o leitor. Em O que eu lhe dizia, pode-se levantar um léxico rico sobre a questão amorosa, somando mais de vinte termos diferentes[17]. É incrível esse poeta impassível de múltiplas faces, que, num só poema, é capaz de expressar tanto sentimento! Esse poema é um elogio à amada. Já Desenlace serve ao poeta para suas confissões: o léxico irá acusar um paradigma de sofrimento, em aproximadamente trinta vocábulos[18]. Esses dois poemas foram escritos em datas próximas, apesar da distância entre as páginas: é que Alberto produziu muito. É lamentável que seja conhecido como o construtor de vasos e leques.

A vida deu mais sorte a Olavo Bilac. Dentre os parnasianos, o mais celebrado e com mais reconhecimento de público, tanto em sua época como agora. O volume intitulado Poesias traz Panóplias, Via-Láctea, Sarças de Fogo, Alma Inquieta, As Viagens, O Caçador de Esmeraldas, Tarde. Na verdade, a obra de Bilac dispersa por estes livros três temas fundamentais: nacionalismo, civilizações antigas, questões amorosas. O tema do nacional está concentrado quase que exclusivamente em O Caçador de Esmeraldas[19], do qual se pode fazer um levantamento de mais de vinte vocábulos que aludem à nossa terra brasileira[20], além de vinte e cinco termos indígenas em A Morte de Tapir, poema que abre Panóplias[21]. Quanto ao tema das civilizações antigas, As Viagens somam pelo menos nove poemas claramente de cunho histórico e Panóplias apresentam seis[22]. Muitos outros poemas de temas antigos se dispersam nas Poesias[23], à exceção de Via-Láctea e O caçador de esmeraldas.

A construção do espaço em Via-Láctea cumpre papel fundamental na lírica de Bilac, porque embora o levantamento lexical aponte uma certa melancolia noturna, o imperativo é a busca pelo amor-estrela, e a esperança invade o EU-lírico. Um levantamento dos principais topônimos justificará o título do livro, pois são sempre muito grandes, amplos ou profundos, recobertos de uma atmosfera noturna[24]. Outros topônimos como "floresta", "serra", "montanha" são tomados pelas características que lembrem a Via-láctea: densidade, profundidade, amplitude.

Via-Láctea traz um espaço talvez inédito. Os seres que o habitam trazem um aspecto mágico,maravilhoso e encantatório, sejam tomados no todo ou em parte[25]. Inclusive alguns seres inanimados, como o luar, ganham vida e capacidade de produzir linguagem. É exatamente neste ponto que a lírica de Bilac se diferencia de Álvares de Azevedo: a atmosfera é fabulosa e nela o EU-lírico alimenta toda uma esperança bonançosa de alcançar a amada. O que em Álvares se recobre de luto e sofrimento fará uma noite mais soturna que noturna, cheia de negatividade; enquanto em Bilac o espaço é mais maravilhoso que pavoroso, cheio de ingenuidade. Essa esperança de alcançar a amada também está em Gonçalves Dias, porém este não constrói um espaço noturno; já o EU-lírico de Castro Alves passeia pela noite, mas não possui a mesma obsessão em torno de uma amada, o que em Álvares e Bilac é muito claro. A singularidade de Bilac está justamente em construir um espaço noturno, com certos aspectos lúbricos, mas o sofrimento não vence a vontade de encontrar a amada, enquanto em Azevedo a angústia é ratificada.

Aparentemente, o espaço em Vicente de Carvalho também é organizado sob uma atmosfera noturna. Mas não é bem o aspecto noturno que recobre o espaço de atuação do EU-lírico.  Nesse sentido, Vicente de Carvalho está mais perto de Gonçalves Dias do que de Álvares e Bilac. O espaço deveria ser claro, mas é afetado pelo que se pode chamar de "queixume" do EU-lírico, que, como a própria palavra indica, traz um tom melancólico como o Gonçalves Dias de Quadras de minha vida, somado a uma certa tendência ao antiquário. Em Poemas e Canções, Vicente de Carvalho reorganizou sua obra, mas com uma intensidade tal que o livro Rosa, Rosa de amor, um dos primeiros a serem escritos, configura o final da sua seleta. A ordenação dos livros direciona a análise para uma primeira e maior atenção ao espaço, e depois, para a problemática amorosa e existencial do EU-lírico. Manterei a escrita tal como está na edição de 1946.

Embora Velho Tema seja um livro que apresente essa problemática, a atenção deve incidir mais na estruturação do espaço. No levantamento lexical, nota-se o uso de palavras cujo significado é arcaico. Exemplo disto é "arreada", no sentido de adornada, no soneto I. O soneto II é um pastiche de Camões[26]; enquanto os sonetos III, IV e V apontam vocábulos quase em desuso como "andrajoso", "celeuma", "denodo" ou termos e expressões que sobreviveram na língua desde o galego como "e indiferente e desdenhoso as vejo", "são penas e verdades de sobejo", "com o meu sonho de amor e de pecado", lembrando as cantigas medievais. Em Menina moça, o espaço escolhido é o mar[27]; porém adiante o que se repetirá muito na obra de Vicente de Carvalho é um signo muito próximo: a praia. O léxico pode oscilar entre palavras de estreita relação como "areia", "onda" e outras de referências indiretas. Os seres ganham vida nos poemas: o mar tem voz, brutalidade, ferocidade, ternura, agressividade; é gigantesco, monstro, raivoso, arrogante, etc[28].

Note-se que a caracterização do espaço veio antes do mergulho na problemática amorosa, o que se dá em Fragmentos da arte de amar e Cantigas praianas, embora já se possa encontrar um esboço da questão amorosa desde o começo de Poemas e Canções. A ligação com Gonçalves é forte, pois a amada também é metaforizada por "rosa"; a noite não é um elemento imprescindível, nem muito menos se reveste de morbidez, que existe sem a conexão sofrer/noite típica de Álvares de Azevedo, mas de "estranho"[29] e mítico. Fujindo ao cativeiro propõe um cárcere longe da praia: na Serra do Mar. Lá não há praia, apenas cascatas; outros detalhes desse espaço podem ser encontrados num levantamento lexical que ora não nos importa, pois embora tenha todo o mérito de tratar com humanidade a questão da escravatura, foge a nosso objetivo de pesquisar o espaço da lírica que, em Vicente, reiteradamente indica a praia. Se até aqui, já vimos vários vocábulos nesse paradigma da praia, o poema Cantigas praianas já traz no título a resolução do EU-lírico por esse espaço. Os elementos da praia não são numerosos: além da areia, do mar, das ondas, do sol e da lua (luar), o máximo que ainda pode existir é vegetação de palmeiras ao longe. Portanto, o EU-lírico de Vicente de Carvalho irá trabalhar com idéias e elementos da natureza que "visitam" a praia: como é o caso do vento, de uma ave.

O mais importante na obra de Vicente de Carvalho para este artigo é justamente a riqueza que ele manifesta na escolha vocabular, como meio de conservar e manter formas que poderiam cair em desuso, se é que já não estão restritas só ao texto literário escrito e de que forma a escassez de elementos naturais o levou a uma poesia muito filosófica. Tais características é que mais contribuem para a impressão de um "antiquário" precioso. Abaixo, listarei, dele e de Gonçalves Dias, algumas palavras que julgo terem importância; a riqueza vocabular de nosso inventário aberto está em situação de ameaça quando, por exemplo, palavras populares vão sendo tomadas como eruditas, pela ação do tempo. Nesse sentido e em muitos outros, o século XIX é um território muito fecundo para estudos em diversas áreas. Há que se preservar muito desse léxico, pois, se por um lado a língua ganha com as novas palavras, perde por outro certas formas importantes como estas abaixo. Algumas cumprem um papel apenas de registro de variantes ou arcaísmos. Mas será que todas essas formas são erudição? Nenhuma constitui um lapso de memória em nossa língua, esperando serem usadas e perguntando: trouxeste a chave?

 

Gonçalves Dias :

anelos; assoma; altivo; afanoso; al; airosas; acerba (adj.); almo; arreia (poét.); alfageme; alpendres; azinha; arroja; augurava; arfar; argênteas; atraiçoa; aragem; atros; alvacenta; antiste (subst.); arenosa; adejam; ameigar; arruído (var. ruído); acérrima; áloes (aportug. aloe); aventei; anosa; ajardinado; apestre; agoireiro.

baldado; bonança; batel; benfadada.

carmim; corça; condão; carpir (subst.); choça; colossal; cálix; carcomida; crestada; cardo; crebos; corcel; contritas; cingia; cicia (verbo).

desditoso; destra; deslembrado; donosas; debalde; descantes (subst.); decrépito; o dó (com artigo); dissabor; diche; desterro; dita (subst.); despegado; degredo.

esmalta (verbo); erma; entesada; ebúrneo; enleiado; endechas; envolto; etérea; extremoso; embalde; engrinaldada; excelsa; extreme (var. extremo); estilha; ecúleo; esperdicei; embaciado; embalsamado; espessas; exangue; estivo; eflúvios; encapelam-se.

fragatas; fulgores; fagueiras; falerno; frauta; frenético; fruí; frondoso; férvido; fulgentes; fronte; funéreo; feno; festim; fenece (verbo).

ginete; geiras; golfeja; grado; garridas; gardingo.

haquenéas(?); hibernal; hástea (var. hasta).

incauta; inflora (verbo); infanção; ínvias; indômito; inóspita; impróvidas; impúdicas (prosódia castiça); infrenes (adj.); infausto;  imo; inefável.

lisonjeira; linfa; lauta; luzeiros; leda; luzir; lânguido; lufadas; lenitivo; loução (louco); liba.

mimosa; mavioso; melindrosa; mancebo; missiva; merencório; morrião; macerado; melindres; mesta; miserandos; montesinho (adj.); mirrado; mádida; mimo.

nódoa; nebris; nitre; negror; ninfa; nauta; néscio; nenufar (prosódia castiça); nitrir.

onagro; ombra (var. obra); olvidar; ocaso; óbulo; orladas; oiropel.

plúmea; preiando; purpúrea; prazenteiro; pegureiro; pungentes; praz; praguejo; placidez; palpita; perlustraram; precípites; pajens; pegão; pútrido; palor; pesaroso; portentosa; pávida; primazia.

reboa; ruidosa; rubro; rorejada(?); rutila; rinchar; rubins; rebuçado; rebentam.

sofrear; sanhudo; sibilando; senda; saltério; sazonado; seixo; soidão (var. solidão); sôfregos; sazão; senho.

trás; turba; tropel; ventura; tiritar; torva; tardança; truão; trescalando; tépidos.

usança; umbrosa.

vária; varletes (var. valetes); vagas (poét.); vórtice; volvo (adj. e verbo); volteia; viço; vanglória; vislumbres.

 

Vicente de Carvalho:

atalaias; alcantis; aluvião (fem.); apregoa; aureolado; alarma (var. alarme); augusto; ante; abroquelado; ardis; alígera; altiva; abrolha; aroeiras; alampadário; alarido; auréola; andores; arfam; atulhando; alfombra; abóbada; apoteose; argonauta; argonauta; apinhem-se; antro; arroubo; arroteando; arqueja; ablução; alumia; açoute; acalentada; amortalhasse; adejar; arrulam; acirrado; arrima; aragem; adusta; andrajoso.

baqueia; barrocais; batoque; boçal; brame; borrascas; brejaúva; bergantis; brade; bruma; bruxoleio; bubuia; caliça; carnagem; cintila; caitetus; cálix; carabina; calhaus; corça; coriscando; chofre; cingem; celeuma; cômoros; conventual; cantilena; chafurda; clarins; contrito; choraminga; corisco; craguatás; cutilada.

debruar; debalde; denodo; derredor; desgrenhado; desfraldadas; deslumbramento; desvão; dorido.

estravaga; esguio; estuga; esgueira-se; embuçado; escarpas; encalço; estrépitos; exangue; encarquilhadas; envoltos; esvaída; estróina; estroinice; erriça; eito; esparzir:; espraia-se; ermo; embaciado; exsurge; extasiado; exproba; ensombre; escarpas; êxtase; engalanada.

fímbria; frêmitos; formidando; farfalhante; furna; folhedo; fulgor; fragor; funérea; flux; frondes; frangalhos; fráguas; fraga; furtivos; furor; forjas; fugidiça; fraguedo; fendido; flâmula.

golfo; goivos; galeões; gárrula; guaianás; galeras; gorjeio; grotões; garrida; galhada.

hirtos; hirsuta.

inteiriça; inclemência; irisada; inúbia; inerme; incólume; ignóbil; ignavo; indolente; impando; inefável; indômita; insulado; infusório; imprecações.

Jabaquara; jissara.

ladrando-lhes; lascivas; lastima; loas; louçanias; lamúrias; lépido; lívido.

matilha; magote; murta; marulho; madraçaria; mandriões; mofinas; marchetar; maretas; motim; mística; mortiço.

naus; nimbo

oblação; obsta; olvida; opulência.

paira; pérfido; penedos; peleja; palpita; parcéis; plácido; porfia; pio; prédica; penumbra; páramos; procela; rodopia.

rama; rumoreja; restrugindo; resurreto; riste; redouças; rilha; rebojo; ribombo; rozicler; rosais; ruflam.

sanhudo; sibilo; sítio; sueto; sobranceiro; sargaços; socavões; sebe; soldadesca; salsugem.

tange; torso; trôpega; turbilhões; torvo; tiritando; turbilhonado; tropel; tope; trapoeirabas; tapuia; touceiras.

undoso; ululante

viço; várzea; vagalhões; vargem; viçosas; vil; vergel.

 

BIBLIOGRAFIA DE CONSULTA BÁSICA

ALVES, Castro. Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1974.

––––––. A Cachoeira de Paulo Afonso e Os Escravos. Rio de Janeiro: Guanabara [s. d.]

AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996 (coleção prestígio)

BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Ediouro, [s. d.].

CARVALHO, Vicente de. Poemas e canções. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946.

DIAS, Gonçalves. Poesias completas. Rio de Janeiro: Zélio Valverde, 1944. vols. 1 e 2

OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1978. (edição crítica vol. II) (coleção fluminense).

 

BIBLIOGRAFIA INICIAL DE PESQUISA ESPECÍFICA

 

BABITT, Irving. Rousseau and Romanticism. New York, Meridian Books, 1955

BANDEIRA, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana. Rio de Janeiro: MES, 1940.

––––––. Apresentação da poesia brasileira. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1946.

BAUDELAIRE, Charles. Algumas Flores de Flores do Mal. (trad. Guilherme de Almeida). Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. (ed. bilíngüe.)

––––––. As flores do mal. São Paulo: Martin Claret, 2002.

––––––. Sobre a modernidade: o pintor da vida moderna. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

BENJAMIM, Walter. Obras Escolhidas III: Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo. (3a. ed.) São Paulo: Brasiliense, 1994.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura Brasileira. (36a. ed. revisada) São Paulo: Cultrix, 1994.

CAMILO, Wagner. Risos e Pares: o humor romântico. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 1999.

CAMPOS, Geir. Alberto de Oliveira: poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1969 (nossos clássicos 32)

CÂNDIDO, Antônio. Presença da literatura Brasileira. São Paulo: DIEFEL, 1964, vols. 1 e 2

––––––. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Edusp, 1975 (vol. 2)

––––––. Na sala de aula. cadernos de análise literária. São Paulo: Ática, 1985

CARA, Salete de Almeida. A recepção crítica (o momento parnasiano-simbolista no Brasil). São Paulo: Ática, 1983 (ensaios, 98).

CARVALHO, Ronald de. Pequena história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: F. Briguiet e Cia., 1929.

CASTELO BRANCO, Camilo. Cancioneiro Alegre. Porto: Lello & Irmão, 1887

CAVALCANTI, Camillo. A solidão na poesia romântica brasileira. Niterói: Cadernos de Letras/UFF, 2002. (p. 7-24)

COUTINHO, Afrânio. (org). A Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio/EDUFF, 1986, v. 3 (3a. ed.)

CUNHA, Fausto. Vicente de Carvalho: poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1965 (nossos clássicos 81)

FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da Lírica Moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1991

GARCIA, Otto M. Luz e fogo no lirismo de Gonçalves Dias. in: ––.Esfinge clara e outros enigmas: ensaios estilísticos. (2a. ed.) Rio de Janeiro: Topbooks, 1996

GARBUGLIO, José Carlos. Os Melhores Poemas de Gonçalves Dias. São Paulo: Global/Santuário, 1991.

GAUTIER, Théophile. Baudelaire. São Paulo: Boitempo, 2001.

GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1978.

HAUSER, Arnold. História Social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1998

HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime: tradução do Prefácio de Cronwell. São Paulo: Perspectiva [s. d.] (Elos, 5)

IVO, Ledo. Os melhores poemas de Castro Alves. São Paulo: Global, 1985.

KEATS, John. Sonetos, odas y otros poemas. Madrid: Visor Libros, 1982.

LIMA, Alceu Amoroso. Olavo Bilac: poesia. Rio de Janeiro: Agir,

LOBO, Luíza. Teorias poéticas do Romantismo. Porto Alegre: Mercado Aberto/UFRJ, 1987

LÖWY, Michael & SAYRE, Robert. Revolta e Melancolia. Petrópolis: Vozes, 1995

MARTINO, Pierre. Parnasse et symbolisme. Paris: Armand Colin, 1967. (coleção U2)

MONTALEGRE, Duarte de. Ensaio sobre o parnasianismo brasileiro. Coimbra: Coimbra Ed., 1945.

MORTIMER, J. Adler & CAIN, Seymour. Imaginative Literature II: from Cervantes to Dostoevsky. Chicago: Enc. Britannica, 1962

PEIXOTO, Sérgio Alves. A consciência criadora na poesia brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987 (tese de doutorado)

PRAZ, Mario. The romantic agony. (2a. ed.) (trad. Angus Davidson). London: Oxford Univerty Press, 1951.

––––––. A carne, a morte e o diabo na literatura romântica. Campinas: Unicamp, 1996.

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Panorama da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Bras., 1959. (v. 3: parnasianismo)

SERPA, Phocion. Alberto de Oliveira. Rio de Janeiro: Liv. São José, 1957. (ensaios)

WATT, Ian. Mitos do individualismo moderno: Fausto, D. Quixote, D. Juan, Robson Crusoe. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.



[1] Não é possível determinar quanto da obra romântica se constitui imaginação ou confissão. Se, por um lado, Golçalves Dias parece conhecer a realidade do índio (por ser mestiço), por outro lado, Álvares de Azevedo dificilmente escaparia impune de todas as atrocidades cometidas na Noite na Taverna.

[2] OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1978. (edição crítica vol. II) p. 222-223 (coleção fluminense).

[3] ALVES, Castro. Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1974. (p. 38).

[4] DIAS, Gonçalves. A minha musa. A leviana. in: ---. Poesias completas. Rio de Janeiro: Zélio Valverde, 1944. vol. 1 (p. 12-16)

[5] DIAS, Gonçalves. Rosa do mar. in: ---. Poesias completas. Rio de Janeiro: Zélio Valverde, 1944. vol. 1 (p. 49-51)

[6] GARBUGLIO, José Carlos (org.). Se se morre de amor!. in: ---. Gonçalves Dias: melhores poemas. Rio de Janeiro: Global, 1991(p. 69-71)

[7] AZEVEDO, Álvares de. Sonhando. in: ---. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro [s .d.] (p. 9-10)

[8] pálida, fria, esfria, suspira, desmaia, soluço, tremeu, regelada, molhou, imóvel, branca, neve, gelou, etc. idem ibidem (p. 9-10)

[9] pinheiros, cantiga, rancho, tropeiros, viola, estrada, restinga, oceano, lua, praia, flores, ar, amanhecer, serra, céu, vale, florinhas, donzela, serros, mangueira, vento, flores, verão tropical, montanha, aves, laranjeira, luar, arvoredo, firmamento, folhas, floresta, terra. cf. AZEVEDO, Álvares de. Na minha terra. (opus cit.) p. 16-17 . O levantamento foi feito só em um poema, o que mostra a enorme capacidade azevediana de fragmentar o espaço.

[10] AZEVEDO, Álvares. Soneto. (opus cit.) p. 22

[11] pobre, louco, doido, triste, errante, só, moribundo, trêmulo, abandonado, descorado, febril, mancebo, esquálido. Um levantamento rápido apenas da Primeira Parte de Lira dos vinte anos. (opus cit.) p. 8-38

[12] Pepita, Eleonora, Julieta, Júlia, Teresa, Maria, Marion, Consuelo, Inês, Marieta, Bárbara, Ester, Fabíola, Cândida, Laura, Dulce, Nini, etc. in: ALVES, Castro. (opus cit.).

[13] luz, purpúrea, azul, rosa, coral, sol, pálida, fogo, aurora, violeta, verdura, ouro, laranjeira, níveos, campina, prata. in: OLIVEIRA, Alberto. Poesias completas. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1978 (p. 26-27).

[14] tênue, espinhoso, escorre, rentes, vibrando, afeição, presa, escassa, selvagem, acercados, frágua. opus cit. (p. 35-36)

[15] mar, praia, flor, ramos, areais, céus, luar, colinas, nuvens, areias, bosque, arvoredo, ventos, ares, cipós, penedia, insetos, ondas, lua, archote, floresta. opus cit. (p. 166-168)

[16] Dia de Viagem: charneca, marreca, codorna, saracura, garça, morro da Boa Vista, canas, lavouras, ranchos, cabanas, bois, carro de bois. (opus cit.) p. 214-216. Pedra Açu: Pedra açu, Itaboraí, bico-rateiro, garça, carros de bois, canas, senzalas, choupanas, roças de milho, laranjais, anu-do-brejo, inambu. (opus cit.) p. 220-221.

[17] noiva, amada, desejada, peito, paixão, gozo, coração, amo, beija, ventura, instinto, amor, divina, fervoroso, afeto, atração, formoso, alma, canta, salta, alumia, amar, inspiração, fogo, inflamo, sorriso, calma, chama, ardente, vulcão, profundo, sentimento, flor, vida, eternas, imortal. (opus cit.) p. 114-116.

[18] enfim, acaba, desaba, pobre, pena, baixou, queda, insensível, caiu, aranha, sem viço, sem cor, falta, protesto, grito, ai, dor, lágrima, cansada, simular, mentir, hipocrisia, acabar, dura, esfriou, nada, secou. (opus cit.) p. 317-319.

[19] o tema do nacional também se dispersa pelas Poesias. Em Panóplias: A morte de Tapir, A Gonçalves Dias; em As Viagens: O Brasil; em Tarde: Pátria, Língua Portuguesa, Música brasileira, Anchieta, Os Goiasis, Os Matuius, Os Curinqueãs, As Amazonas, Vila Rica.

[20] sertão, Pátria, índios, cachopos, pirogas, juçaras, pajé, caiçaras, lianas, cipós, anta, onça, Vupabaçu, aguaçais, lamarões, leziras, cocar, macaréus, Guaicuí, Cruzeiro do Sul, noitibó. in: BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Ediouro, [s. d.] (p. 159-168)

[21] arco, cinta, enduape, tanga, aiucara, canitar, lança, uapi, tacape, flecha, onças, Tapir, Juraci, rede, igara, redes, urucu, taba, Tupã, acanguapes, maracá, pajés, poracés. (opus cit.) p. 11-14.

[22] de As Viagens: Primeira migração; Os fenícios; Israel; Alexandre; César; Os Bárbaros; As cruzadas; As Índias; A missa de Purna; de Panóplias: A sesta de Nero, O incêndio de Roma, O sonho de Marco Antônio, Lendo a Ilíada, Messalina, Delenda Carthago!;

[23] de Sarças de Fogo: O julgamento de Frinéia, A tentação de Xenócrates; de Alma Inquieta: Vilfredo, etc.; de Tarde: Trilogia, Édipo, Cleópatra, A velhice de Aspásia, A morte de Orfeu, etc.

[24] estrelas trêmulas, tenebrosa escada, estrada pavorosa e escura, abismo da loucura, círculos do inferno, treva, caminho, floresta secular e sombria, pélago sem fundo, universo, via-láctea, pálio aberto, céu sombrio, bosque tenebroso e frio etc. (opus cit.) p. 30-49.

[25] anjo com harpa dourada, sombras vaporosas, fugitivo coração, bocas de serpentes, olhar do mundo, aroma, sílfide, arcanjo, etc. (opus cit.) p. 30-49.

[26] soneto de Camões: Eu cantarei de amor tão docemente/ Por uns termos em si tão concertados/Que dous mil accidentes namorados/faça sentir ao peito que não sente;/Farei que amor a todos avivente, /Pintando mil segredos delicados/Brandas iras, sospiros magoados,/ Temerosa ousadia e pena ausente;/Também[,] Senhora[,] do desprezo honesto/ De vossa vista branda e rigurosa,/ Contentar-m'-ei dizendo a menos parte;/ Porém[,] pera cantar de vosso gesto/ A composição alta e milagrosa/ Aqui falta saber, engenho e arte. in: BERARDINELLI, Cleonice S. M. Sonetos de Camões. Lisboa e Paris: Centre Culturel Portugais/Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1980; soneto de Vicente de Carvalho: Eu cantarei de amor tão fortemente/ Com tal celeuma e com tamanhos brados/ Que afinal seus ouvidos dominados,/ Hão de à força escutar quanto eu sustente./Quero que meu amor se te apresente/ - Não andrajozo e mendigando agrados,/ Mas tal como é: - rizonho e sem cuidados/ Muito de altivo, um tanto de insolente./ Nem ele mais a dezejar se atreve/ Do que merece: eu te amo, e o meu desejo/ Apenas cobra um bem que se me deve./ Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;/ E vou de olhos enxutos e alma leve/ À galharda conquista do teu beijo. in: CARVALHO, Vicente de. Poemas e canções. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. (p. 34) [transcrito sem adaptações ortográficas]

[27] "Na areia solta da vida/ Brota rozeiras em flôr." (opus cit.) p. 44.

[28] cf. Sujestões do Crepusculo. (opus cit.) p.60-68

[29] os conceitos de "estranho" usado neste exemplo e de "encantatório/maravilhoso" em Via-Láctea encontram excelente explicação em TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1975 (debates 98).