EMPRÉSTIMOS AMERÍNDIOS
AO ESPANHOL E AO PORTUGUÊS

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

 

INTRODUÇÃO

Os colonizadores espanhóis e portugueses na América depararam-se com culturas muito diferentes, que viviam de acordo com os recursos que a natureza lhes oferecia. Nessas enormes extensões territoriais encontraram civilizações diferentes, assim como flora e fauna variadas, em grande parte desconhecidas nos países de origem dos colonizadores. Os povos indígenas que viviam nestes territórios pertenciam a culturas diversas e falavam línguas pertencentes a distintas famílias lingüísticas. Essas línguas, denominadas globalmente línguas americanas, eram na sua maior parte, orais. o maia e o náuatle possuíam representação escrita. Em geral, essas línguas eram faladas por nações indígenas, algumas politicamente bem administradas, como a dos maias e dos astecas; outras sem esse grau de organização, mas possuindo uma cultura relacionada com o seu habitat, sustentada pelos recursos naturais, que garantiam seu modo de vida.

Os colonizadores espanhóis e portugueses encontraram nos territórios que passaram a ocupar culturas com elementos para eles desconhecidos, portanto, sem denominação. Isso ocorreu em grande parte com elementos ligados à natureza como plantas e animais. Alguns destes elementos receberam nomes de outros semelhantes que ocorriam na terra dos colonizadores. Assim, plantas e animais da América receberam nomes de outros similares da Europa, comprovando-se mais tarde, às vezes, que pertenciam a famílias diferentes. Outras vezes foi feita uma aproximação fonética do vocábulo para a língua espanhola ou portuguesa. Estes vocábulos constituem a maior parte dos empréstimos de línguas ameríndias ao português e ao espanhol.

Alguns destes empréstimos são comuns às duas línguas, por tê-los recebido da mesma fonte. Outras vezes passaram de uma língua para outra e até para outras línguas européias, porém um grande número destes vocábulos tem uso limitado a certas regiões do espanhol americano ou do português do Brasil, embora figurem nos bons dicionários europeus de ambas as línguas.

 

Principais línguas-fonte

O espanhol recebeu os empréstimos ameríndios das línguas faladas na América, destacando-se o sul da América do Norte, as ilhas do Caribe, a América Central e grande parte da América do Sul, enquanto o português recebeu mais empréstimos de línguas da América do Sul, particularmente de nações indígenas do atual território brasileiro e de nações vizinhas.

 

Empréstimos vocabulares ao espanhol

Registramos os principais empréstimos vocabulares de palavras primitivas de línguas ameríndias, cuja origem é tida como certa nas fontes consultadas.

 

Aruaque

Estes elementos lexicais provêm do grupo aruaque, em sua maior parte do taino. Entre eles encontram-se os seguintes:

Fauna:

Caimán (caimão), iguana (iguana), guaicán, guayaco, (árvore da América tropical), manatí (manatim, peixe-boi).

Flora:

Cacao (cacau), maíz (maís, milhete), caoba (caoba), maní (amendoim), bejuco (bejuco, nome de plantas semelhantes a cipós), tuna (tuna, espécie de figueira e seu figo), guanábano (árvore das Antilhas), guayaba (goiaba).

Cultura:

Caníbal (canibal), baquiano (condutor, guia), canoa (canoa), hamaca (maca, padiola), enagua (enágua).

Natureza:

Huracán (furacão).

 

Caribe

Fauna:

Colibrí (colibri, beija-flor), agamí (agami, ave da América do Sul do tamanho de uma galinha e que pode ser usada para tomar conta de outras aves), loro (louro, papagaio), macagua (ave de rapina; serpente venenosa).

Flora:

Curí (árvore das coníferas da América do Sul), papaya (papaia, mamão), yuca (iúca, certo tipo de mandioca), yaiti (árvore das euforbiáceas), yaimaje (árvore das sapindáceas), macagua (árvore silvestre de Cuba).

Cultura:

Cacique (cacique), piragua (pirágua, piroga), curare (curare, certo veneno usado por algumas tribus indígenas), macana (arma com cabo de madeira e fio de pedra, espécie de machadinha).

Natureza:

Sabana (savana, planície semidesértica própria dos pampas).

 

Náuatle

Fauna:

Guacamayo (espécie de papagaio), guajolote (pavão, adj. bobo), mapache (mamífero carnívoro da América do Norte), nahui (cobra grande e venenosa com quatro fossas nasais).

Flora:

Aguacate (abacate), tomate (tomate), acahual (espécie de girassol comum no México), guácima, guácimo (árvore silvestre de vários países da América Central e do Sul), milpa (milharal), olote (caroço de milho), nanacate (cogumelo comestível e alucinógeno, México).

Cultura:

Chocolate (chocolate), petate (esteira de folhas de palmeira para dormir), jícara (xícara), guacal (espécie de padiola), ahuacamol, ahuacamole (salada de abacate moído, com cebola, etc. na América Central, Cuba e México), chicle (chicle, secreção de uma planta), hule (goma, caucho, tela pintada e envernizada), petaca (cigarreira), tiza (giz), guadringo (adj. astuto, gozador; subs. certo peixe), guachinango (adj. astuto, gozador, em Cuba e Porto Rico), guaje (menino, jovem, em Honduras e México; cabaça para vinho), mástil (espécie de sunga que usavam os astecas), mecate (barbante, cordel de pita), piocha (buço, barba do queixo, México).

 

Quíchua

Fauna:

Vicuña (vicunha), puma (puma), llama (lhama), guanaco (guanaco), bagual (potro ou cavalo selvagem), cóndor (condor), guacho (filhote), quinquincho (espécie de tatu da América do Sul), puchú (cervo pequeno dos Andes, em Argentina e Chile), etc.

Flora:

Papa (batata, no esp. americano), batata (batata-doce), mate (mate), hevea (hévea, caucho), cancha (milho torrado), poroto (espécie de feijão), quino (certa árvore americana), quinua (certa planta anual na Argentina, Bolívia e Peru), paico (planta herbácea usada na medicina popular), pacay (árvore da família das mimosáceas), mulli (árvore das anacardiáceas).

Natureza:

Cancha (recinto fechado, campo de esporte), guano (guano, excremento de certas aves para adubo), chacra (chácara), puna (terra alta próxima dos Andes. Na América do Sul, grande extensão de terra plana e erma), paraca (vento forte do Pacífico).

Cultura:

Guacho (adj. pobre, carente, órfão), guagua (menino que mama), yanacona (índio que estava ao serviço dos espanhóis), carpa (toldo), quncha (tecido de juncos para construção, América do Sul; parede de bambu ou material semelhante na Argentina, Chile e Peru), minga (aluguel, especialmente de jornaleiros, mutirão), huacho (rego feito com o arado), llicta (certa massa feita de batatas fervidas, etc.), yapa (gorjeta), yaraví (espécie de canto doce e melancólico de algumas regiões da América do Sul), achura (assado de uma rês, vísceras de reses) ¡achalay! (interj. Que lindo!, que bom! Norte da Argentina, Equador e Peru), quipu (cada uma das ramificações dos nós nas cordas que serviam como escrita, usadas pelos índios), pichana (v. varrer; na Argentina, vassoura rústica feita com ramos silvestres), piti (pequeno, porção de qualquer coisa pequena, Colômbia e Equador),  pucará (fortaleza que os índios construíam em alturas estratégicas), pucho (sobra, resto, resíduo, guimba de charuto, cigarro), nuto, ta (adj. esmagado, reduzido a ; carne macia ou amaciada, Norte da Argentina, Colômbia, Equador e Peru), patasca (pipoca), pállay (v. recolher do solo).

 

Araucano (mapuche)

Fauna:

Pololo (inseto de aprox. 1,5 cm, comum no Chile), guaicán (rêmora, nas Antilhas), guala (certa ave palmípede do Chile. Em Colômbia e Venezuela recebe este nome outra ave), quique (doninha), pichihuén (certo peixe), pidén (certa ave do Chile), pilmi (certo coleóptero preto do Chile), pingüén (espécie de sanguessuga do Chile), pinguén (certa ave do Chile).

Flora:

Llaullau (cogumelo que se cria em árvores), mitén (certa árvore do Chile), mañín (certa árvore do Chile). quila (espécie de bambu), quilmay (planta trepadeira das apocináceas, Chile), quilquil (planta silvestre das polipodeáceas), quinchamali (planta medicinal das santaláceas, Chile), quillay (árvore das rosáceas, Argentina e Chile), rimú (árvore da família das oxalidáceas), pichi (arbusto das solanáceas no Chile), pitao (árvore da família das rutáceas), patagua (árvore das liliáceas do Chile), ñire (árvore das fagáceas do Chile), pangue (certa árvore do Chile), nalca (pecíolo comestível do pangue).

Cultura:

Malón (ataque inesperado de índios, coisa ruim), guachapear (furtar, roubar, no Chile, poncho (poncho), guajiro (senhor, homem poderoso), machi (curandeiro profissional no Chile), puelche (indígena que vive na parte oriental da cordilheira dos Andes, no Chile).

Fauna:

Jaguar, yaguar (jaguar), tucán (tucano), acutí (aguti, cutia), tatú (tatu), ipecacuana (ipecacuanha, certa cobra não venenosa; certa erva das rubiáceas), tamanduá (tamanduá), tapir (tapir), guariba (certo macaco, bugio), yapú (certa ave, semelhante ao tordo), sagüi (gambá), ñandú (avestruz, aranha), ñacurutú (ave noturna domesticável, espécie de coruja), pacú (certo peixe de rio, Argentina), maracaná (espécie de papagaio).

Flora:

Ananá, ananás (ananá, ananás, espécie de abacaxi), guariba (certa árvore grande de Argentina, Paraguai e Uruguai), guabiyú (guabiju, árvore das mirtáceas de Argentina, Paraguai e Uruguai), irupé (vitória-régia), tapioca (tapioca), mandioca (mandioca), guabirá (certa árvore grande da Argentina, Paraguai e Uruguai), yataí, yatay (planta da família das palmeiras do norte da Argentina, Paraguai e Uruguai), ñandubay (árvore da família das mimosáceas), ñapindá (planta da família das mimosáceas, muito espinhosa).

Cultura:

Catinga (catinga, mau cheiro), tapera (tapera), guaca (demônio da casa, sepulcro, etc.), abañeén  (abanheenga, língua de gente, falar), copaíba (copaíba), guaraní (guarani, homem de guerra), aimoré (aimoré, que não fala a língua tupi), ñanduti (tecido fino para roupa branca), ñangostarse (v. - pôr-se de cócoras, humilhar-se, submeter-se, Porto Rico e Santo Domingo).

 

Empréstimos vocabulares ao português

O português, particularmente o do Brasil, recebeu grande número de empréstimos de línguas indígenas com as quais manteve ou ainda mantém contato. Alguns destes empréstimos também foram adotados pelo espanhol, pois, em muitos casos a língua-fonte é a mesma, outras vezes os empréstimos eram repassados de uma língua à outra. No entanto, predominam, no português, os empréstimos ameríndios de origem tupi, geralmente atribuídos à variante denominada tupi-guarani.

É pequeno o número de tupinismos no português europeu porque estes se relacionam com a cultura indígena e com a fauna e flora do Brasil. Muitos destes tupinismos possuem sinônimos de outras origens, assim como apresentam variações fonéticas e morfológicas, algumas delas também recolhidas nos dicionários.

Ocorrem em muitos casos dúvidas quanto à filiação de diversos vocábulos, pois, além da precariedade ou inexistência de fontes escritas, ainda existe a concorrência de línguas africanas e de outras origens, assim, há bastantes divergências entre os devotados pesquisadores que se dedicaram ou se dedicam ao estudo das línguas indígenas no Brasil. Neste trabalho, pretendemos apenas apresentar alguns elementos lexicais cuja origem não parece discutida e que contribuíram para o enriquecimento do português do Brasil. Tomamos estes elementos lexicais do português, sem tentar transcrever a fonética dos mesmos, que, porém, pode ser consultada nas fontes indicadas nas referências bibliográficas. Estes elementos lexicais podem aparecer como palavras primitivas ou como elementos de composição com outros elementos indígenas ou ainda formando hibridismos com elementos do português. O vocabulário de origem tupi é muito freqüente em topônimos por grande parte da geografia brasileira, assim como em antropônimos, muitos deles popularizados pelos escritores indianistas do período romântico.

Apresentamos a seguir uma relação de empréstimos do tupi ao português do Brasil. Mesmo no português do Brasil, alguns são regionalismos, conhecidos apenas em uma parte do território..

 

Alguns empréstimos do tupi

acari (peixe cascudo)

aguá, agua- (redondo)

ara, ara- (papagaio, periquito ou ave afim)

ati (ave aquática, gaivota)

baiaçu, baiacu- (cabeça-chata, peixe)

-canga (espinha, osso, sustentáculo); derivado –acanga (cabeça)

caju, caju- (fruta do cajueiro)

cipó, cipó- (plantas lenhosas e trepadeiras)

cunhã (cunhã, mulher indígena; por extensão, esposa ou companheira de índio, caboclo ou branco)

guaiá, guaiá- (caranguejo)

-guaçu, uaçu, -açu (grande)

guri (bagre, bagre novo, por extensão, criança)

-iba, -aba (haste de planta, tronco, árbore)

iba-, aba-, ba- a- (fruta, fruto)

ibira, embira, imbira (que tem fibra)

jabuti, jabuti-(quelônio da família dos testudíneos)

jacaré, jacaré- (réptil da família dos aligatorídeos)

jararaca (cobra venenosa)

ji-, ()

-juba, -juva (amarelo)

juruti, juriti (ave columbiforme)

mandioca

maracujá, maracujá-

-mbóia, -bóia (cobra não venenosa)

mirim, mirim-, -mirim, -im, -i (pequeno)

oca, oca- (casa de índio)

peba, -peba, -pé (plano, achatado)

pirá, pirá- (peixe)

pitanga, -pitanga (vermelho, avermelhado)

pixuna, -pixuna (negro, escuro)

-rana (semelhante, parecido)

-roba (amargo)

sagüi, sagüi- (designação de pequenos primatas)

siri, siri-

siricaia (manjar preparado com ovos, leite e açúcar)

tamanduá

tapioca

tapir

tatu, tatu-

timbó, timbó- (planta com seiva tóxica de usada para envenenar peixes)

-una (preto, negro, escuro)

urubu (ave ciconiforme)

urucá (espécie de chocalho)

uacumá, (acumã, espécie de palmeira)

xará

xerimbabo (animal de estimação)

 

Vocábulos compostos com elementos do tupi

acapurana (acapu,árvore das leguminosas): acapu + rana (semelhante)

acarapitanga (vermelho, peixe): acará (peixe escamoso) + pitanga (vermelho)

acarapixuna (peixe teleósteo caraciforme): acara (escamoso, cascudo) + pixuna (preto)

aguapé (vitória-régia): agua (redondo) + pe (chato, plano, achatado)

ajurujuba (papagaio amarelo): ajura (papagaio) + juba (amarelo)

ajurujubacanga (jandaia): ajuru (papagaio) + juba (amarelo) + acanga (cabeça)

ara (papagaio) arara (aumento por repetição = papagaio grande)

araracanga (arara-macau, arara-vermelha): arara + acanga (cabeça)

ararambóia (cobra-papagaio): arara + mboia (cobra d’água)

babaçu (palmeira) ba (fruta) + açu (grande)

babaçu: ba (fruta) + açu (grande)

baiacuaçu: baiacu + açu (grande)

caatinga (caatinga): caa (mato) + tinga (branco, esbranquiçado)

cajuçara (certo arbusto) ca, (mato, erva) + juçara (comichão)

capivara (capivara): capi < caa (capim) + vara < guara (comedor)

guaçubóia (jibóia-vermelha): guaçu (veado) + bóia (cobra)

guaçucatinga (veado-virá): guaçu (veado) + catinga (caatinga)

guaianumbiapirati (beija-flor-de-topete): guaianumbi (beija-flor) + api (cabeça) + ati (pontuda)

ibirapitanga (pau-brasil): ibira (que tem fibra) + pitanga (vermelho)

itacuruba (lugar pedregoso): ita (pedra) + curuba (fragmento de pedra, seixo)

itaoca (formiga-correição): ita (pedra) + oca (casa)

jabuti-aperema: jabuti + aperema (espécie de cágado)

jabuticaba (fruto da jabuticabeira)

jibóia (cobra grande da família dos boídeos): ji () + bóia (cobra d’água)

maracujá-açu (maracujá-grande): maracujá + açu (grande)

ocara (praça em aldeia índia): oca (casa) + cara (rua)

parati (peixe teleósteo): pira (peixe) + tinga (branco, claro)

paricarana (certa leguminosa): paricá (fava-de-bolota) + rana (semelhante)

pindaíba (árvore ou arbusto das anonáceas): pinda (anzol) + iba (haste, vara)

urubupeba (urubu): urubu + peba (chato, achatado)

urubutinga (urubu): urubu + tinga (branco)

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os espanhóis se depararam na época da conquista da América com mais de 123 famílias lingüísticas, porém as que deixaram marcas no espanhol ali transplantado foram o aruaque, desaparecido, que se falava nas Antilhas; o caribe, que se falava nas Antilhas do sul, nas Guianas e na Venezuela; o náuatle, a língua mais estendida no império mexicano; o quíchua, falado no Peru e propagado pelos incas ao longo dos Andes, desde o Equador até o norte de Chile e noroeste argentino; o araucano (ou mapuche) no sul do Chile, e o guarani, falado pelos habitantes das bacias do Paraguai e do Paraná, e num amplo território no Brasil.

A relação de empréstimos destas línguas ao espanhol corresponde-se, na sua maior parte com a do português, contudo, em muitos casos, limita-se a áreas regionais onde existiram ou ainda existem falantes dessas línguas. Alguns vocábulos, porém, firmaram-se também no espanhol peninsular, passando alguns ao português e a outras línguas européias. Entre os empréstimos das línguas mais conhecidas temos:

Do náuatle aguacate, cacao, cacahuete, tomate, hule, jícara e petaca.

Do quíchua são vicuña, guanaco, puma, llama, coca, guano, mate, pampa, puna, papa[1] (batata), carpa, chacra, pucho (gimba de charuto), porotot[2] (feijão) e outras.

Do caribe colibrí, loro, papaya, cacique, curare, piragua.

Do aruaque caimán, cacao, canoa, maní[3], maíz, caníbal, baquiano, enagua, caoba, hamaca, huracán.

Do tupi-guarani ananá, yagua,,yacaré, tucán, tatú, tamanduá, ñandu, tapir, tapioca, mandioca.

Alguns empréstimos ameríndios, embora não sejam desconhecidos no espanhol peninsular, concorrem com outros termos mais universais: caníbal com antropófago; ananás com piña de América; tamanduá com oso hormiguero; tatú com armadillo, etc.

O português recebeu mais empréstimos do tupi-guarani, mas também recebeu muitos dos que passaram ao espanhol, ou diretamente ou repassados desta língua.  Seguem-se alguns dos mais divulgados.

Do aruaque caimão, cacau, maís (milhete), caoba, goiaba, canibal, canoa, curare, maca, anágua, cacique, curare, papaia.

Do náuatle abacate, tomate, chocolate.

Do quíchua lhama, condor, guanaco, vicunha, puma.

Do tupi-guarani abacaxi, ananás, jaguar, mandioca, tapioca, catinga, cipó, tucano, tatu, amendoim, guri, jabuti, jararaca, jibóia, pitanga, maracujá, siri, sagüi, tapir, urubu, e muitos outros.

Como vimos, o espanhol e o português, devido à longa permanência nos territórios americanos, sofreram a influência das diversas línguas com que estiveram em contato. Esta influência é mais visível no léxico, embora também se possa detectar em outros aspectos lingüísticos. E este léxico é mais freqüente em referência à flora, fauna y culturas locais. No caso do português do Brasil, alguns elementos lexicais indígenas foram tomados de empréstimo para formar vocábulos compostos com outros elementos do tupi ou até compostos híbridos, geralmente com elementos lexicais do português. A toponímia brasileira faz grande uso destes compostos, mesmo sem que haja, muitas vezes, certeza da origem ou do significado destes elementos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COROMINAS, J. Breve diccionario etimológico de la lengua castellana.3. ed. muy rev. e mej. Madrid: Gredos, 1980.

DICCIONARIO de la Lengua Española. 21. ed. Edición electrónica. Madrid: Real Academia Española / Espasa Calpe, 1998.

DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss / Editora Objetiva, 2001.

ENTWISTLE, J. William. Las lenguas de España: castellano, catalán, vasco y gallego-portugués. Trad. Francisco Vilar. Madrid: Ediciones Itsmo, 1969.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO eletrônico Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

MACHADO, José Pedro.Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4. ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1987.

RODRÍGUEZ, Alfredo Maceira. Espanhol da Espanha e espanhol da América. Anais do II Congresso Nacional de Lingüística e Filologia. Rio de Janeiro: Digraf, 1999.

ZAMORA VICENTE, Alonso. Dialectología española. 2. ed. muy aum. Madrid: Gredos, 1967.


 

[1] No espanhol peninsular, patata é a designação equivalente ao português batata, termo que resultou do cruzamento de papa com batata (nome reservado em espanhol para batata-doce).

[2] O vocábulo quíchua poroto (feijão) concorre em espanhol com habichuela, fríjol e fréjol.

[3]O espanhol recebeu dois empréstimos para a equivalência do português amendoim (empréstimo do tupi). Cacahuete do náutle e maní do aruaque.