O LÉXICO GRAMATICAL E SUA SEMÂNTICA
NA GRAMMATICA DA LINGOAGEM PORTUGUESA
DE FERNÃO DE OLIVEIRA

Regina Celia Pereira Werneck de Freitas (UFRJ)

“Cada hu fala como que e”
(FERNÃO DE OLIVEIRA, 1536.p. 17)

Estudo sobre o léxico gramatical e sua semântica na Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira. Levantamento de todas as palavras gramaticais, elenco fixo: pronomes -este, esse, aquele, preposições, conjunções e advérbios de tempo e de modo.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa se insere em uma perspectiva histórico-lingüística de estudo léxico-gramatical e sua semântica no século XVI.

Tratar-se-á aqui a questão da construção e utilização da gramática como instrumento lingüístico a partir de palavras gramaticais, ou seja, o elenco fixo, notadamente os pronomes demonstrativos este, esse, aquele (e suas flexões de gênero e de número); as preposições essenciais; as conjunções e os advérbios de tempo e de modo.

A Grammatica da Lingoagem Portuguesa, 1.536, de Fernão de Oliveira, foi a primeira que se publicou em português; foi a primeira que se publicou do português e em português e de um português; e foi a primeira que se publicou do Português e em Portugal e apresenta uma importância fundamental na história da gramatização das línguas faladas em Portugal, no continente europeu; no Brasil, no continente americano; em Açores, na Ilha da Madeira, em Angola, no arquipélago de Cabo Verde, em Guiné-Bissau, em Moçambique e nas Ilhas de São Tomé e Príncipe, no continente africano; em Goa, Diu, Damão e Macau, no continente asiático e em Timor, na Oceania.

Na apresentação de uma nova edição da gramática de Fernão de Oliveira, por Rodrigo de Sá Nogueira, há um estudo do próprio texto e outro acerca do autor e da sua gramática por Aníbal Henriques. No estudo do mesmo texto, comprova-se que a elaboração de instrumentos gramaticais faz parte do imenso processo de gramatização das línguas a partir da tradição latina. Entende-se Gramatização como: “o processo que conduz a descrever e a utilizar uma língua sobre a base de duas tecnologias que são, ainda hoje, os pilares do nosso saber lingüístico: a gramática e o dicionário.” (Auroux, 1.992:22).

A Grammatica da Lingoagem Portuguesa constitui um lugar fundador na história da nossa língua. Podem-se, nela, definir alguns pontos de interesse:

Definição de linguagem: “A Lingoagem é figura de entendimento.”;

Exaltação à nossa língua que deve ser preferida à latina (p. 21 e 24);

Conceito de unidade idiomática (p. 25);

Fonética - informações que não se podem desprezar, a partir do capitolo seysto”;

Anúncio do desejo de escrever um trabalho sobre sintaxe e estilo;

Referências à etimologia e à analogia (p. 62);

Evolução das línguas (p. 76);

Construção, isto é, “da sintaxe”.

Foi feita uma opção pelas palavras gramaticais, ou elenco fixo, uma vez que se tentou comparar estas gramáticas para verificar a evolução histórica da Língua Portuguesa do século XVI aos nossos dias. Como referência teórica e metodológica, mencionam-se a “Orthografia da língoa portuguesa”, 1576, de Duarte Nunes de Lião e “A Nova Gramática do Português Contemporâneo”, 1985, de Celso Cunha E Lindley Cintra.

Esta tomada como referência ao uso atual da língua; aquela, como um paralelo à obra de Fernão de Oliveira. Tomam-se como ponto de partida as divisões das partes do discurso.

DESENVOLVIMENTO

Os lingüistas classificam as gramáticas antigas como tradicionais, estabelecendo uma oposição em relação aos estudos gramaticais da lingüística moderna. Essa oposição corresponde também `a separação entre o normativo ou prescritivo (gramática tradicional) e o descritivo (gramática descritiva). A partir da noção de norma ou regra gramatical, situa-se a gramática de Fernão de Oliveira em meio aos estudos lingüísticos da época. Há diversos tipos de normas e, de acordo com o tratamento dispensado ao fato gramatical, a descrição ocupa um determinado lugar. Logo, as gramáticas antigas trabalham o aspecto descritivo, tal como ocorre em Fernão de Oliveira e se conclui que A Grammatica da Lingoagem Portuguesa é uma gramática descritiva.

Diante desse contexto mais amplo, demonstram-se por um lado, o trabalho teórico nocional e conceptual em Fernão de Oliveira; por outro, o funcionamento desse instrumento no século XVI. Para compreender as noções utilizadas por este autor, é preciso considerar alguns conceitos herdados da (s) gramática(s) grega (e latina).

Segundo Boescu, 1978,

Verificamos, portanto, que da gramática grega derivou a nossa ciência gramatical... O que se verifica é que o enunciado teórico grego encontra então, e só a partir dos Alexandrinos, a sua formulação sistemática. A gramática grega continua a ser, com efeito, o modelo ‘arquetípico’ de toda arquitectura gramatical, mas a sua construção a partir desse modelo é obra, sucessivamente, dos Alexandrinos, dos Romanos e dos homens da Idade Média.

A partir de Platão, para quem, “segundo a natureza, para cada ser, existe uma designação exata”, há a abordagem de um problema de ordem especulativa que vai servir de ponto de partida a Aristóteles para a elaboração de um sistema de categorias que exprimem a constituição da frase, a sua divisão em unidades e classes de palavras. As categorias lógicas de substância, qualidade e quantidade estão claramente representadas e correspondem simetricamente às categorias gramaticais de substantivo, adjetivo e advérbio. Nessa correspondência lógico-gramatical reside a fundamentação teórica da própria constituição da gramática. Esta se converte, então, no sustentáculo de todo o pensamento formal e o consenso geral nas gramáticas do século XVI é o de admitir oito partes do discurso: Nome, Pronome, Numeral, Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção e Interjeição. Há muita variação, conforme a gramática, no número de partes, na importância atribuída a cada uma, assim como à terminologia. Chama-se a atenção para o fato de que nessas gramáticas a parte do discurso ou parte da oração não é definida, havendo divergências ou antes pontos controversos no que diz respeito às “partes” do discurso.

Passando a organização da “Grammatica”, nota-se a disposição dos capítulos. A obra é redigida em cinqüenta capítulos, do modo como segue:

Dedicatória

1º capítulo: definição de linguagem;

2º capítulo: formação do território português;

3º capítulo: história política de Portugal;

4º capítulo: definição de gramática;

5º capítulo: os primeiros que a ensinaram;

6º capítulo: definição de letras e de fonemas;

7º capítulo: fonética;

8º capítulo: classificação das vogais;

9º capítulo: classificação de consoantes;

10º capítulo: o til e o h;

11º capítulo: a pronúncia de cada fonema;

12º capítulo: a pronúncia das vogais portuguesas;

13º capítulo: a pronúncia das consoantes portuguesas;

14º capítulo: continuação do capítulo anterior;

15º capítulo: vogais e consoantes líquidas;

16º capítulo: censura o imitarmos os latinos;

17º capítulo: letras k e q;

18º capítulo: as semelhanças entre os fonemas;

19º capítulo: definição de sílaba;

20º capítulo: final de sílabas;

21º capítulo: constituição da sílaba;

22º capítulo: a pronúncia portuguesa é clara;

23º capítulo: consoante i (mato, seyo, saya);

24º capítulo: nossa ortografia;

25º capítulo: contração da vogal final com outra inicial;

26º capítulo: consoantes que se mudam;

27º capítulo: quantidade de sílabas;

28º capítulo: definição de acento e anúncio do desejo de escrever um trabalho sobre sintaxe e estilo;

29º capítulo: acentos agudo e grave ;

30º capítulo: definição de dição, palavra, vocábulo;

31º capítulo: etimologia das nossas dições;

32º capítulo: etimologia das dições alheias;

33º capítulo: etimologia das dições comuns;

34º capítulo: definição das dições apartadas ou simples;

35º capítulo: definição das dições juntas ou compostas;

36º capítulo: definição das dições velhas ou arcaísmos;

37º capítulo: definição de neologismo;

38º capítulo: definição de dições usadas;

39º capítulo: definição de dições próprias;

40º capítulo: analogia;

41º capítulo: derivação vocabular;

42º capítulo: derivação vocabular;

43º capítulo: artigos;

44º capítulo: flexão;

45º capítulo: flexão;

46º capítulo: casos gregos e latinos;

47º capítulo: verbos;

48º capítulo: conjugação dos verbos;

49º capítulo: “construição”, isto é, sintaxe;

50º capítulo: posfácio à obra.

Pronomes demonstrativos

- Segundo Cunha & Cintra (1985, p.319), “os pronomes demonstrativos situam a pessoa ou a coisa designada relativamente às pessoas gramaticais. Podem situá-la no espaço ou no tempo.”

Em Nunez de Lião (1576, p.63/64) encontra-se este mesmo uso como nos segmentos:

“...não podíamos dar esta demonstração dos casos, socorremo-nos as preposições, de, &, a, pelas quaes os mostramos...”

“Porque acerca dos Castelhanos, quando dizem voy a Roma, aquelle, a , he preposição, & não põem articulo, por Roma ser nome próprio, que o não admitte.”

Os pronomes demonstrativos este, esse e aquele (e suas flexões de gênero e de número) aparecem na Grammatica sob as seguintes formas:

este - comeste por como este a este e a este chamamos esta - desta -, estes, estas, isto, esse, essa, - que por essa e não outra rezão - esses- dessestil) essas, isso, ysso essoutra, essoutras, essoutros, aquele, aqlles (=aquelles) --...disforme monstro do q são aqlles..., aquelloutro, aquellas.

Observam-se, por exemplo:

Esta tal cousa nunca ainda foy vista por tanto não pode ter nome se agora de novo for achada trará tambe voz nova consigo.”

“...e esses estudosfaze mais durar a glória da terra em q florescem “

“E se tambe quiseremos mais antiguar a edificação da nossa Lisboa podemos dizer q e aquella das cinco çidades já ditas a que elles chamarão Libisona”.

A capacidade de mostrar um objeto sem nomeá-lo, a chamada FUNÇÃO DEÍCTICA (do grego deiktikós = próprio para demonstrar, demonstrativo), é a que caracteriza fundamentalmente esta classe de pronomes.

Preposições

- Conforme a gramática normativa, preposições são “palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal forma que o sentido do primeiro-antecedente-- é explicado ou completado pelo segundo-conseqüente.”(Cunha &Cintra, 1985.p.542).

Em Duarte Nunez de Lião, encontram-se as preposições (e suas combinações e contrações) em uso exatamente igual ao que se faz hoje. À página 63, capítulo “DA OBSERVAÇÃO -Dos articulos, & como se devem screver. -observam-se: “ainda que na língoa Latina se escusem os articolos por as terminações.../...porque per elles...no caso em que eles stão, ...” Em Fernão de Oliveira, encontram-se as seguintes preposições:a (antre antre(nós) antrellas antrelles antros(antre os) ao (p. aos (a+ os) até ategora atre comcontra contrellesde (p. desde em para per per si pera (=para) por sem so (sob) sobre, te (=até) tras.

Notam-se em Fernão de Oliveira o seguinte uso das preposições:

Contendião em mi dous pareçeres diversos. Hum me dezia q não acupasse a grãdeza de seu enteder co esta minha peqna obra. E outro me amoestou não fosse buscar mais longe os favores de meus prinçipios poys a muyta nobreza e antiga dseu sangue me chamava. A qual nam se contentando com os altos prinçipios Dalmada: ajuntou consigo a gloria immortal e vitoria Dabrãches: e sobre tudo me prendeo a virtude mais que humana de sua merçe. Estas cousas me obrigão e fazem julgar q elle abasta não so pera meu intento q so hum home bayxo: e entendesse a pouco meu animo: mas...’

Conjunções

- As conjunções são “ vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes na mesma oração” (Cunha & Cintra, 1985. p. 565). As conjunções que relacionam termos ou orações de idêntica função gramatical têm o nome de coordenativas. As conjunções que introduzem orações dependentes (funcionam como termos essenciais, integrantes ou acessórios) de outra oração têm o nome de subordinativas.

Duarte Nunez de Lião utiliza-se das conjunções, tanto coordenativas como subordinativas, segundo o mesmo uso atual da Língua. À mesma p.63, lêem-se:

Ainda que na lingoa Latina se escusem os articulos, por as terminações dos casos, que mostrão quaes são, na lingoa Portuguesa onde os nomes são indeclináveis (tirada a differença dos números) são necessários, porque per elles vimos em conhecimento dos casos, pois no caso em que elles stão, sabemos star os nomes, a que se ajuntão.’

As conjunções coordenativas presentes no texto de Fernão de Oliveira são :assi, (contudo e logo), logo (= por conseqüência), mas, mas antes, mas contudo, mas cõtudo, mas porém, mas tãbe (mas tambem), portanto, poys, toda via, todavia, por tanto, por tãto, porem, porq, ;porque, ora...ora, p conseguinte, pois, por conseguinte, por isso, não somente...como, não somente...logo, não somente...mas, não somente...mas tambem, nem nam só...mas tambe, não...mas, não sempre... mas tambem, não só...mas, não só...mas tambem.

As conjunções coordenativas aditivas servem para ligar dois termos ou duas orações de idêntica função. São assim usadas hoje e assim o foram no século XIV, conforme nos mostra o autor da “Grammatica”.

Apresentam-se sob as formas:

E; não somente...como; não somente...logo; não somente...mas; não somente...mas também; nem; nam so...mas tambe; não...mas; não sempre...mas tambem; não so...mas; não so...mas tambem

EX :

E co tudo a estas duas.til. e h. não metemos em conto de letras perfeytas: porq de feito a força dellas e muy diminuyda e tanto q quasi a não sentimos sem ajutameto doutras letras: ne lhe podemos dar nome proprio que a pronuçiação dellas mostre: e assi ficão as nossas letras e trinta e duas: e tambe esta letra til serve em lugar doutra alghuas letras / em muytas abreviações. (Fernão de Oliveira, p. 30).

As conjunções coordenativas adversativas ligam dois termos ou duas orações de igual função, acrescentando-lhes, porém, uma idéia de contraste. Desta forma as utilizou Fernão de Oliveira. Destacam-se em sua obra: contudo, mas, mas antes, mas contudo, mas cõtudo, mas porem, mas tãbe, mas todavia, toda via, todavia, porem.

EX: Mas co tudo tabe pode ser a palavra d’hua so syilaba ouletra: como pão hua so sillaba e.e. terçeira pessoa do verbo sustativo hua so letra: O q primeiro...”(F. de Oliveira, p. 63)

As conjunções coordenativas alternativas ligam dois termos ou orações de sentido distinto, indicando que, ao cumprir-se um fato, o outro não se cumpre. São as conjunções ou (repetida ou não) e, quando repetidas: ora, quer, seja, nem, etc...

Na “Grammatica da Lingoagem Portuguesa”, foi encontrada a seguinte conjunção coordenativa alternativa: ora...ora (p.29) :

Disse q esta letra.m. não é semivogal nem pode fenecer em ella as nossas vozes: porq isto é verdade q nesses cabos onde a escrevemos e tambe no meyo das dições em cabo de muitas syllabas soa hua letra muy branda q nem he.m. nem.n. como não escrevemos ora hua dellas: ora outra imitando os latinos.

Conforme a citação acima, verifica-se em Fernão de Oliveira, século XVI, o uso da conjunção coordenativa alternativa como ocorre hoje.

As conjunções coordenativas conclusivas ligam à anterior uma oração que exprime conclusão, conseqüência. São: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim, etc... No século XVI, encontram-se: assi, logo (= por conseqüência), portanto, poys, p conseguinte, pois, por conseguinte, por isso, por tanto, por tãto.

A mesma conjunção coordenativa conclusiva portanto aparece grafada por tanto e por tãto uma vez que não havia formatização da escrita, mas o seu uso é exatamente o de hoje como se constata nos segmentos:

EX: “...e por tanto os aldeãos não sabe as falas da corte :e os..” (F.de Oliveira, p. 68).

“...mas não sinificão cousa alghua e por tato não lhe chamaremos partes da oração ou da lingua como são o nome e verbo e outras :mas...”(F. de Oliveira, p. 72).

“Esta tal cousa nunca ainda foy vista portanto não pode ter nome se agora de novo for achada trara tambe voz nova consigo. (F. de Oliveira, p. 78).

As conjunções coordenativas explicativas ligam duas orações, a segunda das quais justifica a idéia contida na primeira. São as conjunções que, porque, pois, porquanto. Na Grammatica foram encontradas: poys, pois, porq, porque, que.

EX:”E assi de qualqr outra maneira das q apotei e ey de tratar ou trato já: poys se qremos pregutar...”(F.de Oliveira, p. 67).

As conjunções subordinativas encontradas na Grammatica da Lingoagem Portuguesa são:

Assi, como, assi...como, assi como..., assi tambem, assi...como tambe, assi que (=assim como), assi tambem, assim como, assim...como, cá (=porque), coando, cõformes, como, como quer que, como quer que seja, como tãbem, porq, conforme, conforme a, conforme ao, depois que, desque, em quãto, mais...do que, mais... que, mal, para que, porque, porq, posto que, q (=que, conjunção integrante), qoando, quando, que (conjunção comparativa), que (conjunção integrante omitida), que (consecutiva), que (integrante), que (= como), se (conjunção condicional), se (conjunção integrante), se não, se não quando, se não que, se por ventura, se, se segundo (= conforme), segundo que si (=se), tanto q

De acordo com a gramática normativa, as conjunções subordinativas classificam - se em causais, concessivas, condicionais, finais, temporais, comparativas, consecutivas e integrantes. A N.G.B. inclui ainda as conjunções comparativas e proporcionais.

Em 1576, encontra-se em Duarte Nunez de Lião o uso das conjunções subordinativas como se observam:

Orthographia he sciencia de bem screver qualquer lingoagem: porque per ella sabemos com que letras se hão de screver as palavras. E diz se de orthos, que quer dizer directo, & grapho, screvo, como se dixessemos sciecia de directa mente screver. (D. N. de Lião, p. 50).

As conjunções subordinativas causais iniciam uma oração subordinada denotadora de causa, tanto nos dias atuais como no século XVI, como se pode observar em :porq (F.de Oliveira, p. 14):

...mas notarey o seu bo costume para q outros muitos aprendão e saybão quanto prima e a sua natureza dos nossos homes porq ella por sua votade busca e tem de seu a perfeyção da arte q outras nações aquirem com muyto trabalho...

As conjunções subordinativas concessivas iniciam uma oração subordinada em que se admite um fato contrário à ação principal mas incapaz de se impedi-la: embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, por mais que, por menos que, apesar de que, etc...

As conjunções subordinativas condicionais iniciam uma oração subordinada em que se indica uma hipótese ou uma condição necessária para que seja realizado ou não o fato principal.Observa - se em Fernão de Oliveira desque (p. 78)

Pois logo desque bem forem fingidos ou achados os vocábulos o As conjunções subordinativas concessivas iniciam uma oração subordinada em que se uso delles se fara com muitos resguardos o premeyro q desses vocabulos novos tomemos os mais velhos como dissemos no capitolo preçedente.

As conjunções subordinativas finais iniciam uma oração subordinada que indica a finalidade da oração principal. Encontra - se no século XVI: para que (F. de Oliveira, p.21) “Apontey isto para que desta nossa propria e natural nobreza nos prezemos e nam fabulizemos ou mintamos patranhas estrangeyras: e muyto menos...”

As conjunções subordinativas temporais iniciam uma oração subordinada indicadora de circunstância de tempo. Em Fernão de Oliveira, à página 80, tem - se: despoys:...despoys q os latinos acabarão não temos nos que não somos latinos...

As conjunções subordinativas consecutivas iniciam uma oração na qual se indica a conseqüência do que foi declarado na anterior. Também na Grammatica há essa ocorrência (p. 24) :”...mas apuremos tanto a nossa com boas doutrinas q a possamos ensinar a muytas outras gentes...”

As conjunções subordinativas comparativas iniciam uma oração que encerra o segundo membro de uma comparação ou confronto. Já na primeira gramática, observa-se (p. 62): “...das quaes també assi nesta parte dos açentos como de qualquer outra parte...”

As conjunções subordinativas integrantes servem para introduzir uma oração que funciona como sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal ou aposto de outra oração. Este mesmo uso foi encontrado à página 77 da GRAMMATICA :”...mas tambe não sejão muitas ne qyramos vangloriarnos por dizerem q vimos muitas anteguidades...”

Advérbios

- o advérbio é, fundamentalmente, um modificador do verbo (Cunha & Cintra, p. 529).

Encontram - se em Fernão de Oliveira os seguintes advérbios de tempo: Agora, ainda, ainda agora, aindagora, antes, ategora, cedo, despois, despoys já, já agora, jagora, logo, nuca, nunca, tarde.

Nota - se à página 15: “...E porem agora primeiro diremos que cousa he linguage...”

Encontram -se em Fernão de Oliveira os seguintes advérbios de modo :

Assi, bem, igualmente, juntamete, juntamente, maiormente, mal, novamente, particularmente, afincadamente.

Tem - se à página 17: “A lingoagem e figura do entendimento: e assi verdade q a boca...”

Comparando - se os textos das gramáticas de Fernão de Oliveira e de Nunez do Lião, constata - se o mesmo uso para advérbios de tempo e de modo.Vêem-se em Nunez de Lião (Capítulo DA OBSERVAÇÃO Dos articulos, & como se devem screver): advérbio de tempo (p.63 -à esquerda):

O que antes parecia durona alguus que não caião na razão disso.”; advérbio de modo (p.65- à esquerda): Ainda que nos appelidos, & cognomes de pessoas mui conhecidas, de que freqüentemente fazemos menção se ponhão alguas vezes, como quãdo dizemos, o Pinheiro, o Navarro.

CONCLUSÃO

Das inúmeras possibilidades de análise do texto da Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de 1.536, de Fernão de Oliveira, enveredou-se pela leitura das palavras gramaticais, ou elenco fixo, descritas ao longo deste trabalho, devido à perspectiva histórico -lingüística e à comparação entre esta obra, a gramática de Nunez de Lião (1576) e “A Nova Gramática do Português Contemporâneo”. (1.985).

Verificou-se outrossim, que estes aspectos gramaticais estão a serviço do texto de Fernão de Oliveira. Dentre os achamentos, constatou-se que o autor utiliza-se do elenco fixo analisado de forma equivalente à que se faz hoje. E acompanhar estes caminhos de produção é fundamental para a compreensão da evolução histórico-lingüística do nosso idioma.

Em meio ao Universo da Língua, a cada capítulo, a cada exemplo apontado a partir dos aspectos gramaticais, reafirma-se a questão da construção e utilização da gramática como instrumento lingüístico. Seu texto, como pode ser constatado, possui uma descrição clara da língua falada à sua época.

Supunha Fernão de Oliveira que seu texto traduzia o falar e o escrever, contendo em si valiosa carga de informação.

Foram feitos os percursos acima apresentados para compreender a evolução da língua o que propiciou a comparação mencionada. Considerando-se que esta obra constitui um lugar fundador na história da nossa língua, muitos estudos que comprovem a continuidade (e as mudanças) ainda se poderão fazer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUESCU, Maria Leonor Carvalhão. Gramáticos portugueses do século XVI. Lisboa: Biblioteca Breve, 1.978. 105 p.

CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1.985. 724p.

LIÃO, Duarte Nunez do. Orthographia da Lingoa Portuguesa.Lisboa: João da Barreira Impressor del Rei N.S., 1.576.

OLIVEIRA, Fernão de Grammatica da Lingoagem Portuguesa. 3ª ed Lisboa: Edição de José Fernandes Júnior, 1536. 141 p.