Tradurrindo o Italiano

Amarílis Gallo Coelho (UFRJ)

Diferentes linguagens ligam tempos e espaços através da comunicação oral e escrita. A tradição oral se faz presente nas lendas, fábulas, canções, ditos populares e anedotas, em um processo infinito de transmissão cultural. Formas sintéticas, resultantes da experiência e do saber popular, dão testemunho de outras gerações e de outros costumes, registrados, às vezes, por códigos e signos bastante diversificados.

Pesquisadores envolvidos com o estudo de diferentes processos de tradução analisam e questionam problemas e soluções que ocorrem quando o objetivo é recriar, na passagem de uma cultura à outra, o caminho que leva ao riso.

Este trabalho pretende comentar algumas situações interessantes, tendo como corpus a língua italiana, quando o alvo é traduzir humor. Por que um enunciado provoca o riso enquanto outro, não? Como fazê-lo “funcionar” em outra língua? Quais elementos estão em jogo? Como atuam? Como traduzi-los? Estas são algumas das questões que estamos tentando responder e organizar.

Tendo como fundamentação teórica ROSAS (2002), em uma espécie de resenha, selecionamos alguns elementos já catalogados pela autora, buscando uma análise inicial da tradução do chiste ou piada em italiano.

Segundo Rosas, recapturar todas as significações do texto, fazer coincidir plenamente original e tradução seria tarefa de um “super-leitor”. Já é trabalho bem difícil, ativar uma pluralidade inesgotável de significações, pois

...constata-se que a tradução não pertence a lugar nenhum, a não ser ao “desterritorializado” lugar de passagem. O ato de tradução não diz propriamente respeito nem ao original nem ao texto traduzido, ele aparece “entre” um e outro. Nesse “meio” em que reina, a tradução não é dotada de um ser próprio: sua “natureza”, se assim é possível dizer, ela toma de empréstimo ora ao original, ora à sua versão em outro idioma. O tradutor-intérprete está sempre no “transe” entre um texto e outro. Razão pela qual a possibilidade de reproposição dos signos de base que o original oferece se torna ilimitada. (NASCIMENTO, 1999)

Todo enunciado, para ser valorizado em seu contexto de partida, deve ser estudado levando-se em conta informações sobre o emissor e o receptor, o conhecimento compartilhado, a situação em que se encontram e o curso que normalmente seguem os acontecimentos em cada tipo de interação verbal.

A linguagem, instrumento de relação com o mundo, é uma forma individual de expressão, embora também seja social e coletiva, uma vez que “ela não possui um valor em si, mas ‘em mim’” - e poderíamos acrescentar, na relação que “eu” estabeleço com o “outro”. (ALMEIDA, 1999)

Estão intimamente ligados, a produção de sentido, a interpretação e a “comunidade interpretativa” (Fish,1980), ou seja, o grupo no qual o indivíduo se insere e cujos padrões de conduta segue.

Portanto, da mesma forma que acontece com outras linguagens, a interpretação constitui elemento chave na decodificação da linguagem humorística, já que

O senso de humor depende de vários fatores sociais e mesmo individuais. Uma vez que cada comunidade cultural organiza seu próprio sistema de valores, costumes e comportamentos de modo distinto do de qualquer outra comunidade, as normas e incongruências humorísticas variam de cultura para cultura. Na verdade, a percepção e a expressão do humor são determinadas pela lógica coletiva de uma dada comunidade e pela lógica particular, dela derivada, que possui cada membro dessa comunidade. (NIEDZIELSKI, 1989)

Para o sucesso da comunicação, o receptor / intérprete / tradutor precisa dispor de informações lingüísticas e culturais suficientes para saber por que um determinado enunciado poderia ser engraçado, já que as piadas são uma espécie de sintoma, relativas a domínios discursivos “quentes” (Possenti,1998 in Rosas, 2002)

Além de serem textos breves, contêm todas as informações necessárias ao contexto que criam, trazendo em si princípio, meio e fim. Diferem, por exemplo, dos textos de adivinhação, onde se espera que o ouvinte descubra o que falta à compreensão. Ao analisá-las, portanto, é indispensável uma visão do tecido cultural das línguas de partida (LPs) e de chegada (LCs) - ou seja, as línguas-culturas (Agar: 1991) envolvidas.

A tradução de humor é um desafio estimulante que

requer a precisa decodificação de um discurso humorístico em seu contexto original, sua transferência para um ambiente diferente e, muitas vezes, discrepante em termos lingüísticos e culturais e sua reformulação em um novo enunciado que tenha sucesso na recaptura da intenção da mensagem humorística original, suscitando no público-alvo uma reação de prazer e divertimento equivalentes. (LEIBOLD, 1989: 109-111)

As piadas se inserem no modo de comunicação não-confiável, embora possam também transmitir informação confiável. O emissor não se compromete com a verdade de sua mensagem, nem está muito interessado em fornecer muita informação ao receptor. Pelo contrário, valendo-se do conhecimento compartilhado, o emissor elabora ou, simplesmente, veicula um discurso cujas lacunas serão preenchidas, em um universo de expectativas partilhadas, como no exemplo abaixo (Rosas:2002):

Dois turistas encontram um cemitério brasileiro (argentino etc.). Vêem uma lápide na qual se lê: “Aqui jaz um político e um homem honesto”. E um dos turistas comenta: - Que estranho. Os brasileiros (argentinos etc.) enterram duas pessoas no mesmo túmulo!? (ROSAS, 2002)

Nesse exemplo, verifica-se a transmissão de informação confiável (já que o político corrupto constitui um tópico, justamente por ser comum em tantas culturas). No entanto, essa informação não é veiculada de forma inequívoca (o gatilho está justamente na dubiedade do enunciado “Aqui jaz um político e um homem honesto”, que pode referir-se a uma ou duas pessoas).

Para que a piada surta efeito, a idéia que une política e corrupção (dois scripts) deve fazer parte do conhecimento compartilhado entre o emissor e o receptor. Um script define-se como um feixe de informações sobre um determinado assunto ou situação; uma estrutura cognitiva internalizada pelo falante que lhe permite saber como o mundo se organiza e funciona. Os scripts estão intimamente relacionados a itens lexicais e podem ser por eles evocados.

Apesar de estabelecer uma distinção entre os scripts dependentes de informação puramente lingüística (conhecimento lexical) e aqueles que dependem de informação enciclopédica (conhecimento do mundo), Raskin (1985) os apresenta indistintamente como ligados por elos de natureza semântica (sinonímia, antonímia, homonímia etc.), formando redes. A partir daí, propõe que um texto pode ser caracterizado como humorístico se, como já foi dito, for compatível, integral ou parcialmente, com dois scripts que se oponham em um sentido especial, como, por exemplo, real / não-real. Esta oposição - que configura o que se poderia chamar de bitextualidade (Almeida: 1999) - tem na economia um de seus maiores requisitos.

A simples sobreposição de dois scripts não é necessariamente a causa do humor, pois ela pode ocorrer em diversos tipos de texto que não sejam engraçados. De modo geral, os textos ambíguos apresentam sobreposição de scripts. Todavia, eles só serão engraçados se os dois scripts forem opostos (Rosas:2002).

Assim sendo, as condições para o chiste ou piada são (Raskin in: Possenti 1998):

a) uma mudança do modo de comunicação bona-fide para o modo não bona-fide de contar piadas;

b) o texto considerado chistoso (elementos indicadores: gestual, sinais fisionômicos);

c) dois scripts parcialmente superpostos compatíveis com o texto;

d) uma relação de oposição entre os dois scripts;

e) um “gatilho”, óbvio ou implícito, que permite passar de um script a outro.

O texto humorístico (e, em especial, a piada) estabelece uma interação não-usual e, até certo ponto, conflituosa - pois, na maioria dos casos, o objetivo do emissor é criar no receptor uma expectativa “falsa”, levando-o a optar por uma interpretação que no final se revelará não-pertinente.

Ao contrário da linguagem de outros tipos de texto, que exigem que a ambigüidade se reduza ao mínimo, a linguagem do humor (como também a da poesia) a requer como condição necessária para sua própria existência. Contudo, esta ambigüidade não deve prestar-se a uma multiplicidade de interpretações, mas sim a uma interpretação alternativa, cujo equívoco será revelado no final do texto, com o fecho ou punchline - a frase concludente da piada -, que tem por característica principal a brevidade e a imprevisibilidade (Rosas:2002).

A linguagem do humor tem de ser ambígua, mas nunca redundante: a economia é um fator fundamental para o cumprimento do objetivo do emissor, que é provocar o riso do receptor. Portanto, na tradução de uma piada ou de qualquer texto em que haja humor, a seleção de estruturas e itens fonéticos e lexicais precisa dar margem à transcriação de um efeito como o que é provocado pelo texto de partida. Em outras palavras, essa seleção deve recriar a superposição dos dois scripts opostos - ou, se quisermos, a bitextualidade - presente na origem do caráter fundamentalmente dúplice do texto humorístico.

A tradução funcional do humor deve obedecer às seguintes etapas (Rosas:2002):

1. determinação do escopo - deve-se considerar o público-alvo e seu nível de conhecimento lingüístico, saber enciclopédico e abertura ideológica (tolerância com piadas politicamente incorretas);

2. possível atribuição prévia, conforme o escopo fixado, de novos “valores” às distintas partes do texto de partida: detecção inicial do gatilho e da análise do que este representa em relação aos demais elementos (lingüísticos e culturais) presentes no texto;

3. realização do escopo: decidida a manutenção ou não da função original na translação; estabelecido o critério de avaliação do que importava preservar ou alterar em cada parte do texto-fonte; definidos os novos “valores”, procede-se à busca de alternativas na língua-cultura de chegada que permitissem a obtenção de um efeito análogo ao que o texto provoca na língua-cultura de partida.

A partir dos dados teóricos colhidos em Rosas:, apresentamos a seguir algumas amostras selecionadas no corpus humorístico italiano (Internet - site: barzellette.it), comentando sempre que necessário, problemas e possíveis soluções, de acordo com cada tipo de humor, levando-se em conta determinadas questões culturais, assim como aspectos semânticos e lingüísticos.

Levaremos em conta duas possibilidades de tradução:

1. literal: correspondência de elementos lingüísticos e culturais entre o texto-fonte e o texto-meta (ou texto-alvo) - situação de caráter transcultural, sobreposição de palavras, sentidos e acepções: “Nonna, nonna, senti che odore da morto! nonna?!...Nonna?!...” (“Vovó, vovó, sente que cheiro de morto! Vó?!...Vó?!...)

2. funcional: manutenção do alvo na transposição, através de mecanismos diversos (notas, adequações, mudanças contextuais, recriação do “gatilho” etc.).

“Dottore, com la diarrea si può fare il bagno?” “Certo, se ne fa tanta può fare anche i tuffi!!” (Tradução literal= “Doutor, com a diarréia se pode fazer o banho?” “Certamente, se faz muita diarréia, pode fazer até os mergulhos!” ; Tradução funcional= “Doutor, com diarréia, pode-se tomar banho?” “Certamente, se tiver muita (diarréia) pode até mergulhar !!”)

Alguns elementos envolvidos com a situação de humor devem ser ressaltados (Rosas, 2002), já que são a base dos problemas mais comuns durante o processo de transposição do riso, de uma realidade à outra. Citamos abaixo algumas amostras de humor à italiana para ilustrar o que expomos:

1. quebra (ou frustração) de expectativas criadas (ou do princípio de cooperação) com o objetivo de abalar noções preestabelecidas: -combinação de palavras e sentidos subentendidos que, de alguma forma, são incongruentes ou inesperados - incongruência pragmática ou idiomática por implicaturas conversacionais.

Tradução literal, com manutenção do objetivo inicial:

Um tizio va all’ospedale a trovare un amico che aveva subito un piccolo intervento chirurgico. Entrato in camera rimane sorpreso dal via vai di infermiere che premurose lo accudiscono, chi accomoda i cuscini, chi rifa il letto, chi porta um dolcetto.

- Ma come mai tutte queste attenzioni? - domanda il tizio all’amico - mi sembra che tu non stia poi così male?

- Sì è vero... ma si è sparsa la voce che per la mia circoncisione ci sono voluti 27 punti...!

Um fulano vai ao hospital visitar um amigo que havia sofrido uma pequena intervenção cirúrgica. Ao entrar no quarto fica surpreso com o vai e vem de enfermeiras que solícitas o acodem, ora acomodando os travesseiros ou arrumando a cama, ora trazendo um docinho.

- Mas por que todas estas atenções - pergunta o fulano ao amigo - me parece que você não esteja tão mal...

- Sim, é verdade...mas se espalhou a notícia de que para a minha circuncisão foram necessários 27 pontos...!

2. abordagem de temas-tabus (sexo, funções corporais e excretoras etc.)

Tradução literal, com manutenção do objetivo inicial:

Alla USL ci sono due file di persone, una dietro lo sportello per la donazione del sangue, e una dietro quello della Banca del Seme. La coda del primo sportello è formata da molte persone, mentre l’altra è composta solo da uomini e da una donna. La sua presenza crea non poca curiosità nelle persone che vogliono donare il proprio seme. Comincia a crearsi un certo brusio, c’ è chi dice che può aver sbagliato coda, che può essere un travestito, che può essere lì per accompagnare il marito. Alla fine si fa avanti un temerario che le dice: “Signora, non vorrei sembrarle scortese, ma si è acorta che sta seguendo la fila per la donazione del seme?”. La donna annuendo con la testa, e cercando di nascondere con le mani la bocca rigonfia dice: “Mmmmm...lo sooo!.

Na USL há duas filas de pessoas, uma diante do guichê para doação de sangue, e uma diante do Banco de Sêmen. A fila do primeiro guichê é formada por muitas pessoas, enquanto a outra é composta só de homens e uma mulher. A sua presença cria não pouca curiosidade nas pessoas que querem doar o próprio sêmen. Começa a criar-se um certo rumor, há quem diga que pode ter errado de fila, que pode ser um travesti, que pode estar ali pra acompanhar o marido. Por fim se aproxima um corajoso que lhe diz: “Senhora, não quero parecer descortês, mas já notou que está seguindo a fila para a doação de sêmen?”. A mulher, dizendo que sim com a cabeça, e procurando esconder com as mãos a boca cheia, diz: “ Mmmmm... eu seiiii!.

3. ataque a instituições e figuras consideradas importantes:chiste tendencioso com incongruência pragmática ou contextual: No exemplo abaixo, ocorre a ênfase do sexo oral, detalhe amplamente explorado pela imprensa, no caso Clinton.

Tradução literal, com manutenção do objetivo inicial:

Ancora problemi al processo Clinton (Ainda problemas no processo Clinton

MONICA APRE BOCCA MONICA ABRE A BOCA

Ma Clinton non vuole venire!!! Mas Clinton não quer vir.)

4. Ambigüidade, polissemia, duplo-sentido:“non-sense” (o que nega o sentido) ou “nonsense” (o que não tem sentido)

Não foi possível a tradução literal, devido `a falta de equivalência, em português, para “scontrino”= notinha de compra e “scontro”= batida de carros.

Um bambino va al supermercato dove acquista due modellini di macchinine, appena pagato e superata la cassa una guardia lo ferma e gli chiede “Scusi, potrei vedere lo scontrino?” E il bambino risponde, prendendo le due macchinine: “Certo!.... CRASH...”

Um menino vai ao supermercado onde adquire dois modelinhos de carrinhos. Tão logo pagou e saiu do caixa, um guarda o parou e lhe perguntou: “Perdão, posso ver a notinha?” E o menino responde: “Certo!......CRASH...”

5. Inadequação discursiva: contextual, pragmática, idiomática (“jogos” lingüísticos, neologismos, inadequações de registro, diferenças regionais, efeitos idiomáticos especiais, estruturas frasais sem equivalência etc.) - Perdem a graça quando traduzidos “literalmente”.

Não foi possível a tradução literal. No exemplo abaixo, joga-se com “the”= chá e “te”= ti. Na passagem do italiano para o português, este jogo se desfaz, anulando-se o alvo inicial:

Sai che differenza c’ è tra me e te?

Che tu puoi offrire una tazza di the a me, io invece non posso offrire una tazza di me a te

Sabes que diferença existe entre mim e ti?

Que tu podes oferecer uma xícara de chá a mim, eu, ao contrário, não posso oferecer uma xícara de mim a ti

6. Ironia: constante no humor em geral, principalmente no inglês = dissimulação: modo de exprimir-se que consiste em dizer, de forma disfarçada, aquilo que se pretende. Ainda sobre Clinton e a Lewinski:

Tradução literal, com manutenção do objetivo inicial:

Gli esami non finiscono mai!!!!!!!!

La Lewinski è sparita? Beh, dopo gli orali si sta preparando per gli scritti!!!!!

Os exames não acabam nunca!!!!!!!!!

A Lewinski desapareceu? Bem, depois dos orais, está se preparando para os escritos!!!!!!!!!

7. Humor étnico ou politicamente incorreto:Crítica irônica de cunho racista (contra grupo racial ou nacionalidade) ou preconceituosa em relação a indivíduo ou grupo-alvo.

Tradução funcional, mediante adaptação dos marcadores ( escocesa / recruta) à realidade brasileira.

Che tipo di olio usa la massaia scozzese? Quello della vicina!!

Que tipo de azeite usa a cozinheira escocesa ? O da vizinha!!

I carabinieri si lavano le mani prima o dopo di pisciare? ...Durante...

Os recrutas lavam as mãos antes ou depois de urinar? ...Durante...

8. Aspecto transgressivo: inferiorizar o alvo através de sua ridicularização ou marcar características grotescas de alguma situação ou indivíduo / “humor negro” / “baixo nível” / Scripts carregados ou tendenciosos:

Tradução literal, com manutenção do objetivo inicial:

“Mamma, mamma! I miei amici mi prendono in giro, mi dicono che ho la testa grossa. Mamma, dimmi, è vero?” “Ma no, Enrichetto mio, i tuoi amici sono cattivi, non è vero che hai la testa grossa. A proposito, già che sei qui, mi vai a comperare 3 chili di patate?” “Ma mamma, dove li metto 3 chili di patate?” “Ma, nel tuo berrettino Enrichetto mio!”

“Mamãe, mamãe, os meus amigos riem de mim, me dizem que tenho a cabeça grande. Mamãe, me diz, é verdade?” “Mas claro que não, meu Henriquinho, os teus amigos são maus, não é verdade que tens a cabeça grande. A propósito, já que estás aqui, vai comprar 3 quilos de batatas para mim?” “Mas mamãe, onde coloco 3 quilos de batatas?” “Ora, no teu bonezinho, meu Henriquinho!!!”

9. “gatilho” no plano semântico: a interpretação pode ocorrer muitas vezes a partir de um único substantivo, a partir da alusão ou do “não-dito” (o silêncio ou o “som” alusivo constitui elemento subjacente necessário) .

Tradução funcional, com adaptação do efeito de representação sonora:

“C’è um palloncino che dice all’altro: “Attento a quel cactus!” “Quale cactusssssss...............?”

(“Um balãozinho diz ao outro: “Cuidado com o cacto (> com os espinhos!)” “Qual cacto (> Quais espinhossssssssssss....?” )

10. “gatilho” no plano fonológico: associações possibilitadas pela rima, segmentação, homofonias, semelhança de sons, aliterações etc.

Não foi possível a tradução literal, pois se perde o “gatilho” no plano fonológico: com-Tusi (nome próprio) / contusi = contundidos)

Due caramba si incontrano e uno dice:

- Ma lo sai che è morto Tusi?

- Ma no? Tusi? E quando?

-E, leggi il giornale: cinque morti e sei con-tusi

Dois recrutas se encontram e um diz:

-Você sabe que morreu Tusi?

- Mas não? Tusi? E quando?

- Ei, leia o jornal: Cinco mortos e seis contundidos.

Este trabalho não pretende esgotar o tema, mas apenas divulgar resultados iniciais - pois estamos ainda dando os primeiros passos - e provocar outras incursões neste contexto.

Outros exemplos poderiam ser citados, mas ficam para uma próxima oportunidade, quando já teremos avançado mais em nossa pesquisa, chegando, certamente, a outros dados e conclusões bastante úteis.

Apesar das dificuldades sempre presentes no trabalho de tradução, continuamos acreditando que existe sempre a possibilidade de, com bastante esforço, conseguirmos ultrapassar as barreiras lingüístico-culturais que ocorrem, em maior ou menor escala, na passagem de um código a outro.

BIBLIOGRAFIA

AGAR, M. The Biculture in Bilingual. Language in Society, 1991.

ALMEIDA, Fernando Afonso de.Linguagem e humor: comicidade em Lês Frustres, de Bretécher. Niterói: EdUFF, 1999.

ALMEIDA,Fernando Afonso de . Linguagem e humor. Niterói: EdUFF, 1999.

LEIBOLD, A.The Translation of Humor: Who says it Can’t Be Done? 1989.

NASCIMENTO, E.Uma poética da tradução: teoria e crítica na poesia concreta. Vitória: Contexto, 1999.

NIEDZIELSKI, H. Cultural Identification as a Prerequisite to the Translation of Humor. University of Hawaii, 1989.

POSSENTI, S. Os humores da língua: análises lingüísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998.

RASKIN, V. Semantic mechanisms of Humor. Dordrecht: D. Reidel, 1985.

ROSAS, Marta. Tradução de Humor. Transcriando Piadas. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.