GLADSTONE CHAVES DE MELO
1917-2001

João Alves Pereira Penha[1]

 

O filólogo e lingüista Gladstone Chaves de Melo, nascido em Campanha (MG) a 12 de junho de 1917, morreu no Rio de Janeiro a 7 de dezembro de 2001.

Era filho de Joaquim Gabriel Chaves de Melo e D. Maria de Lourdes Chaves de Melo.

Fez os estudos primários e secundários na terra natal. Transferindo-se de Campanha para o Rio, bacharelou-se em 1938 pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Mas consagrou-se ao estudo da língua e recebeu pela mesma universidade o título de Doutor e Livre-Docente em Língua Portuguesa no ano de 1946.

Em 23 de dezembro de 1941, casou-se com Cordélia Paula Rodrigues (que passou a assinar-se Cordélia Rodrigues Chaves de Melo), mulher de boa formação, inteligente e culta, com quem formou uma família de 7 filhos (Paulo de Tarso, Maria de Lourdes, Tomás de Aquino, Bernardo Gladstone, Maria Teresa, Maria da Glória e Agostinho), genro, noras, 15 netos e uma bisneta. Em 17 de fevereiro de 1994, teve de lamentar imensa perda: faleceu a esposa querida.

Dedicando-se desde cedo aos estudos clássicos e de língua portuguesa, a princípio sob a orientação de um grande mestre, o filólogo Padre Augusto Magne, foi por indicação do mesmo que em junho de 1941  passou a ocupar o lugar de assistente do Professor Sousa da Silveira, catedrático de Língua Portuguesa da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.[2]

Votado ao magistério de Língua Portuguesa, lecionou também Lingüística e Filologia Românica.

Foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Universidade Federal Fluminense, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Faculdade de Filosofia e Letras de Juiz de Fora, na Universidade de Coimbra (Portugal) e na Universidade de Tübingen (Alemanha).

Contra a sua vontade, foi indicado para disputar cargos eletivos na política do antigo Distrito Federal. Eleito entre os três vereadores mais votados em 1951, cumpriu dois mandatos até 1960. Elegendo-se deputado estadual, encerrou em 1962, por livre decisão, sua participação na política.

Ocupou por dois períodos (de 1962 a 1964 e de 1972 a q974) o cargo de Adido Cultural do Brasil em Lisboa. Foi membro do Conselho Federal de Educação (1970) e do Conselho Federal de Cultura (1970 a 1972).

Pertenceu a instituições nacionais e estrangeiras: Academia Brasileira de Filologia, Círculo Lingüístico do Rio de Janeiro, Sociedade de Língua Portuguesa (Lisboa), Academia Portuguesa de História (Lisboa), Associação Internacional de Lusitanistas, Associaçom Galega de Língua (Espanha), sócio benemérito do Real Gabinete Português de Leitura, sócio honorário do Liceu Literário Português e outras entidades congêneres.

Apresentou muitos trabalhos em Congressos do Brasil e do exterior e ministrou cursos em várias universidades de Portugal e de outros países europeus.

Era Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal), Benemérito da Ordem dos Pregadores (Roma), foi agraciado com a Medalha de Prata da Clausura do Concílio Vaticano II (Roma), Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra (Portugal, 1993).

Obras, em ordem de publicação:

1 Formulário Ortográfico (1938).

2 – A Linguagem dos Livros Brasileiros de Literatura Infantil. Tese de Concurso (1940).

3 – A Língua do Brasil (1946).

Estudioso do português do Brasil, deu, com esse livro, contribuição valiosa para combater a idéia de língua brasileira. Quyis, com sua tese, provar que não temos outra língua: usamos a mesma de Portugal, com algumas alterações e estilo brasileiro. É um volume de oito capítulos: A Língua Portuguesa no Brasil. A Influência Tupi, A Influência Africana, A Língua Popular, A nossa Pronúncia, Língua e Estilo, O Nosso Vocabulário e A Língua Literária Em 1971, veio ed. melhorada e aumentada. Seguiram-se outras edições, algumas cm acréscimo.

Sobre essa obra, diz o filólogo e lingüista Silvio Elia:

O livro de Gladstone Chaves de Melo, A Língua do Brasil (1946), é um dos mais bem pensados que sobre o tema possuímos. Carreou material bastante, apresentou-o de maneira sistematizada, trouxe enfim ao problema lúcida e penetrante contribuição crítica.[3]

4 – Dicionários Portugueses (1947).

Um dos mais completos e seguros comentários dos léxicos portugueses.

5 – Iracema, de José de Alencar (1948). Introdução, Notas e Apêndice: Alencar e a “Língua Brasileira”.

Esse trabalho foi antes sua tese de Livre Docência apresentada para a Cadeira de Língua Portuguesa da Faculdade Nacional de Filosofia, do Rio.

Estuda-se na introdução a vida e a obra de José de Alencar e o critério que presidiu à elaboração dos textos de Iracema e de suas edições. Em seguida, entre outros esclarecimentos, Gladstone procura mostrar a verdadeira posição de Alencar diante do problema da língua.

6 – A Língua e o Estilo de Rui Barbosa (1950).

7 – Conceito e Método da Filologia (1951). Colaboração com Serafim da Silva Neto. Prefácio de Sousa da Silveira.

8 – Iniciação à Filologia Portuguesa (1951).

Obra da maior importância, que revelava um autor em contato com o ensino superior da língua.

O novo livro de Gladstone Chaves de Melo, resultado também das suas pesquisas e estudos na preparação das aulas para as suas turmas da Faculdade Nacional de Filosofia, muito devia – como acentuou o autor – ao estímulo que lhe dera o professor Sousa da Silveira: ‘à sólida orientação, aos sábios conselhos, às judiciosas e finais observações, à crítica serena e lúcida, à arguta exegese, às lições discretas e multiplicadas’ de que usufruíra ‘em dez anos de afetuosa convivência com o venerando mestre das Lições de Português[4].

O livro destinava-se aos que tinham a missão de dar à juventude uma formação de base científica. Divide-se em Prefácio, Parte Geral, Perspectiva Histórica, Parte Especial e Diretrizes. Na Parte Geral, tratou de Posições, Problemas e Método – o Caráter Científico da Filologia Filologia e Lingüística – Da Formação Filológica – A importância dos Textos – A Lição dos Textos e as Normas Gramaticais – A Seleção e Gradação da Bibliografia – A Classificação das Línguas. Seguem-se os capítulos que integram Perspectiva Histórica, Parte Especial e Diretrizes. Em, 1957, saiu 2ª ed. refundida e aumentada, com três mapas coloridos. A 4ª ed. (1971) foi acrescida de novos capítulos, com o título Iniciação à Filologia e à Lingüística Portuguesa. A última edição revista pelo autor é a sexta (1981). Para atender à demanda do livro em todo o Brasil, foi a 6ª ed. reimpressa em 1984 e 1988.

9 – Rui Barbosa Textos escolhidos (1962).

Síntese de autor e obra para a coleção Nossos Clássicos, da Livraria Agir.

10 – Novo Manual de Análise Sintática (19540.

Trabalho em que se pretendeu tornar mais simples e racional o ensino da análise sintática.

11 – Gramática Fundamental da Língua Portuguesa (1968).

Com a advertência de queToda a doutrina deste manual é inspirada na Lingüística e na Filologia modernas.”

12 – Origem, Formação e Aspectos da Cultura Brasileira (1974).

Deixa nessa obra “o apreço ao que julga melhor e mais significativo na cultura brasileira”.

13 – Ensaio de Estilística da Língua Portuguesa (1976))

Informa o autor que não quis escrever sobre os “recursos da língua como fez Rodrigues Lapa na linha de Albalat. Desejou construir uma Estilística com feição mais atual.

14 – Alencar e a “Língua Brasileira”: seguida de Alencar, Cultor e Artífice da Língua, 3ª ed. (1972).

15 – Alfonsus de Guimaraens – Poesia (1958).

Síntese de autor e obra para a coleção Nossos Clássicos.

16 – Quincas Borba, de Machado de Assis.

Edição crítica, com introdução, notas, aparato e registro filológico (1973).

17 – Os “Brasileirismos” de Frei Luís de Sousa (1985).

18 – Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira (1985).

Introdução, estabelecimento filológico do texto, nota e comentários.

19 – A Excelência Vernácula de Gonçalves Dias (1992).

Deixou ainda numerosos artigos em jornais e revistas nacionais e estrangeiros.

Além de filólogo e lingüista, com sua cultura religiosa e filosófica, foi um líder cristão que se projetou em importantes conferências pelo País.

Gladstone Chaves de Melo, um dos renovadores de nossos estudos filológicos, foi para Maximiano de Carvalho e Silva “uma das grandes figuras do magistério e da vida cultural do Brasil”[5].

 


 

[1] Sócio Correspondente da Academia Brasileira de Filologia surpreendido pela morte às vésperas de sua posse, homenageado pela ABF através da fala do acadêmico Rosalvo do Valle. Tomou posse na Academia Brasileira de Filologia, postumamente, na pessoa de uma de suas filhas. Esse texto foi extraído de sua obra Filólogos Brasileiros, p. 157-164, lançado no dia do aniversário da Academia em 2002, em sessão especial do VI Congresso Nacional de Lingüística e Filologia.

[2] SILVA, Maximiano de Carvalho e. Síntese biográfica preparada em 7 dez. 2001, data da morte do filólogo.

[3] ELIA, Silvio. Os estudos lingüísticos na América Latina. Littera. Rio de Janeiro, ano III, n° 8, p. 21, maio/ago.1973.

[4] SILVA, Maximiano de Carvalho e. In: Miscelânea em homenagem ao Prof. Dr. Gladstone Chaves de Melo. Rio de Janeiro: Lucerna, 1995, p. 136.

[5] SILVA, op.cit., p. 142.