O FALAR BRASILEIRO
O CASO DA MATA SUL DE PERNAMBUCO
(SELEÇÃO LEXICAL)

João Constantino Gomes Ferreira Neto (FAMASUL)

INTRODUÇÃO

A abrangência dos linguajares existentes no Brasil faz com que se perceba a necessidade de um estudo aprofundado e minucioso dos mesmos, em razão das inúmeras dificuldades que estão ligadas à amplitude e à complexidade inerentes aos fenômenos referentes à língua.

Diante disso, é preciso que haja uma abordagem adequada para cada um dos diferentes níveis de linguagem, visando a obtenção de um quadro mais abrangente, embora não definitivo, desse universo fascinante e de todas as suas variantes.

Assim, este trabalho procura mostrar uma ínfima parte dessa diversidade do falar brasileiro, para que se perceba o quanto a língua tem se mostrado eclética e pode se adequar às necessidades de cada falante, mantendo os significados preponderantemente semânticos usados tanto para definir as partes do discurso, quanto para identificar as categorias a que se chegou para melhor classificação dos recursos utilizados, através da abordagem de algumas particularidades na comunicação oral em Pernambuco; especificamente na Região da Zona da Mata Sul deste Estado, que possui características bastante peculiares que a diferenciam de outras áreas do Nordeste e do Brasil.

Teorização

De acordo com Ana Tereza Pinto, léxico e vocabulário são sinônimos. Entretanto, modernamente, tem-se distinguido os dois termos.

Léxico é o conjunto teoricamente infinito de todas as palavras já realizadas e potenciais de uma língua. Nesta definição encaixam-se todas as palavras do português, até mesmo os neologismos.

Vocabulário é o conjunto de palavras efetivamente realizadas ou empregadas pelo falante.

Dessas duas definições conclui-se que o vocabulário de uma pessoa é apenas parte de seu léxico, pois nele incluem-se:

- As palavras que o falante não usa, mas cujo significado conhece (vocabulário passivo);

- As palavras cujo significado pode ser captado através do contexto;

- Os neologismos, as palavras que podem ser criadas;

- Os arcaísmos, palavras usadas em períodos anteriores, resgatadas e empregadas com o mesmo significado.

O vocabulário está para o léxico assim como a fala está para a língua, ou seja, tanto a língua quanto o léxico pertencem a todos os indivíduos de uma mesma comunidade, mas só se concretizam um através da fala e o outro através do vocabulário de um dado indivíduo.

Os estudos de lexicologia, embora de área bastante ampla, tornam-se, de certo modo, complexos, desde que se deva levar em consideração a instabilidade lexical da língua. A necessidade de atualização da linguagem, de acordo com as conveniências ou exigências da vida moderna, a interferência dos estrangeirismos, o intercâmbio social e cultural, as criações vocabulares regionais determinadas pelas instituições, inclusive, impostas pelo ambiente de trabalho, as gírias mal interpretadas e valorizadas nos tempos atuais, em fim, tudo faz com que o estudo do léxico se torne trabalhoso.

Daí, a grande preocupação dos escritores na eleição (seleção) vocabular, que parece, em princípio, muito fácil, o que, na verdade, nos parece falsa impressão. Mesmo porque a seleção vocabular está determinada pela formação cultural do escritor ou pela natureza do gênero literário.

Aprender a língua não significa apenas aprender as palavras e suas combinações, mas apreender seus significados, que são construídos no processo de interação verbal, determinados pelo contexto. Portanto, a língua é mais do que um código e está em contínua mudança. è a prática da linguagem, enquanto discurso, enquanto produção social, que dá vida à língua posta a serviço da intenção comunicativa. Prática, portanto, não neutra, visto que os processos que a constituem são histórico-sociais e trazem consigo a visão do mundo de seus produtores, como diz João Wanderley Geraldi, “a língua não é um sistema fechado, pronto, acabado, de que podemos nos apropriar. No próprio ato de falarmos, de nos comunicarmos uns com os outros, pela forma como o fazemos, estamos participando, queiramos ou não, do processo de constituição da língua”.

O indivíduo que utiliza a língua não é um ser passivo, mas alguém que interfere na constituição do significado do ato comunicativo. Portanto, há uma relação intrínseca entre o lingüístico e o social que precisa ser considerada no estudo da língua.

Para que a comunicação efetivamente exista, entre outros requisitos, é necessária a escolha adequada do nível de linguagem a ser utilizado. A língua permite uma multiplicidade de usos dependendo das situações comunicacionais. Para que a comunicação ocorra de forma coerente, é preciso que o emissor e o receptor estejam em harmonia com o mesmo universo lingüístico. Desse modo, o conhecimento das variantes lingüísticas determina a eficácia dessa comunicação.

Essas variantes se devem a diversas influências:

- geográficas: onde verificam-se as variantes regionais;

- sociológicas: onde verificam-se as diversas classes sociais impondo traços lingüísticos diferentes;

- contextuais: aquela, onde o momento da fala pode determinar o nível de linguagem a ser utilizado.

Em geral, podemos delinear três principais níveis ou registros de linguagem:

- linguagem culta ou variante padrão;

- linguagem familiar ou coloquial;

- linguagem popular.

Linguagem culta:

É utilizada pelas classes intelectualizadas da sociedade. É a variante de maior prestígio e aquela ensinada nas escolas. Sua sintaxe é mais complexa, seu vocabulário mais amplo e há nela uma absoluta obediência à gramática normativa e à língua dos escritores clássicos.

Linguagem coloquial:

É utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nível menos formal, mais cotidiano. Relativamente, a linguagem coloquial apresenta limitações vocabulares incapazes para a comunicação do conhecimento filosófico, científico, artístico, etc. Possui, entretanto, maior liberdade de expressão, sobretudo, no que se refere à gramática normativa. Desenvolvendo-se livre e indisciplinadamente e, não raro, isola-se em falares típicos regionais e em gírias. O Modernismo efetivou a apologia da linguagem cotidiana como melhor veículo de expressão literária, por sua velocidade, espontaneidade e dinamismo, condenando a linguagem culta.

Linguagem popular:

É utilizada por pessoas de baixa ou nenhuma escolaridade. Este nível raramente aparece na forma escrita e caracteriza-se como subpadrão lingüístico. Neste nível, o vocabulário é bastante restrito, com muitas gírias, onomatopéias e formas gramaticalmente incorretas (oropa, pobrema, poblema, nóis vai, nóis fumo, vi ela, lâmpia, etc). Não há, aqui, preocupação com as regras gramaticais.

Regionalismo:

Os estudos dialetológicos de caráter científico iniciaram-se no Brasil com o “Dialeto caipira”, de Amadeu Amaral, publicado em 1920, mas, apesar disso, as pesquisas referentes a esse tema ainda estão, relativamente, em estado primário. Lamentavelmente, grande parte dos livros sobre regionalismo não se preocupa em mostrar as diferenças existentes entre os falares nacionais e sim em mostrar as diferenças entre o Português do Brasil e o Português de Portugal.

O falar brasileiro divide-se entre sul e norte. O que caracteriza esses dois grupos é a expressão cadenciada; a abertura de vogais, a existência de sílabas protônicas, vocábulos diminutivos, advérbios e adjetivos locais, setorizados. Além disso, o regionalismo pode ser definido como meio peculiar de expressão de uma determinada região, refletindo os hábitos e costumes do povo que a habita. Esses vocabulários, expressões e modismos servem, quase que exclusivamente, para comunicar “a cor local”. Para tanto, nem sempre é possível respeitar-se rigorosamente os cânones gramaticais impostos na língua-padrão.

Jargão profissional:

A língua grupal, por sua vez, é hermética, porque pertence a grupos fechados, e existe para tantos quanto forem esses grupos.

O jargão é um dos tipos de linguagem grupal. É uma conversação em termos técnicos, daí falar-se em “economês”, “engenheirês”, “sociologês”, etc.

Portanto, o jargão caracteriza-se pela competência de quem o utiliza, por isso, tem que se adequar coerentemente aos nossos vocábulos, enriquecendo-os para que se tenha um bom êxito profissional.

Linguagem giriática:

Outro tipo de linguagem grupal é a gíria. Assim como o jargão, existem tantas gírias quantos forem os grupos que as utilizam: gírias dos jovens (ravers, darkes, clubbers, bykers, skaters, etc.), dos policiais, dos aeronautas, dos jornalistas, etc. A chamada gíria grosseira recebe o nome de calão, contudo, não se deve confundir a gíria com o calão, que é a linguagem dos delinqüentes, dos excluídos.

A gíria pode ser um linguajar muito adequado à expressão informal; é colorida, expressiva, trepidante, dinâmica e, de acordo com Rodrigues Lapa, a gíria nada mais é do que uma forma exagerada de linguagem familiar.

O dinamismo característico da gíria é talvez seu maior defeito, o que, de outra parte, não pode ser recomendado como elemento de estilo. Nem sempre é possível estabelecer distinção precisa entre gíria e expressão popular, mesmo porque, sendo a gíria freqüentemente de origem popular, termina popularizando-se, não poucas vezes, incorporando-se definitivamente à língua.

Antenor Nascentes, em seu livro A Gíria Brasileira, afirma: “Nossa gíria se acha num estado um tanto caótico”; declara: “...inclui a gíria, ao lado da linguagem secreta dos malfeitores (ladrões, malandros, gigolôs, capoeiras) a terminologia especial de certas classes, de certas profissões lícitas, o conjunto de termos particulares, muitas vezes, cômicos, usados por certos grupos sociais como os de estudantes, os de atores, esportistas, militares, etc”.

Neologismos:

Segundo Matoso Câmara Júnior, neologismos são inovações lingüísticas que se firmam numa determinada língua. Podem tratar-se de vocábulos novos (neologismos vocabulares) ou de novos tipos de construção frasal (neologismos sintáticos).

Lingüisticamente, os neologismos resultam do espírito de atualização dos meios de comunicação pela linguagem. Mas João Ribeiro faz uma restrição “Quanto à faculdade de formar palavras novas, é difícil dizer até que limite se deve conceder, mesmo ao escritor, essa regalia”.

Os neologismos revitalizam e atualizam a língua. Por certo, devem ser evitados os abusos, pois todo abuso é passível de censura. As inovações construtivas, porém, que resultam do espírito criador do escritor, estas merecem e exigem o respeito e a admiração do leitor de bom gosto ou justificada formação acadêmica. Cabe, pois, ao escritor, recorrer ao neologismo, no momento oportuno, para atender à exigência da forma de comunicação.

Arcaísmos:

Ainda, de acordo com Matoso Câmara Júnior, em seu Dicionário de Filologia e Gramática, os arcaísmos são vocábulos, formas ou construções frasais que saíram do uso na língua corrente e nela refletem fases anteriores, nas quais eram vigentes. Do ponto de vista comum e sua norma, diz-se que há arcaísmos em falares regionais e que se mantêm por tradição oral formas e construções que a língua comum abandonou e não mais entram em seu uso normal.

Alguns autores apontam como causas dos arcaísmos a pejoração semântica e sinonímica, sobretudo, a chamada pejoração perfeita e procuram dividi-la em reversíveis e irreversíveis, conforme posam ou não voltar à linguagem contemporânea.

Os arcaísmos podem ser gráficos, flexionais, sintáticos e semânticos, sem excluir os arcaísmos léxicos (abordados nesta pesquisa) e devem ser explorados estilisticamente, para que a frase se revigore e, ao mesmo tempo, se torne original.

Desenvolvimento

Para que nos comuniquemos, é necessário que façamos uso de alguma forma de linguagem. Via de regra, a maneira mais comum de comunicação entre os homens tem sido, ao longo dos tempos, a comunicação oral, ou seja, o uso do léxico, que se constitui no repertório de recursos de que uma língua dispõe. No nosso caso, devido a uma série de circunstâncias: históricas, sociais, geográficas e políticas, a língua portuguesa caracterizada como português do Brasil.

A diversidade étnica que nos caracteriza desde a nossa origem, nos fez diferentes e, conseqüentemente a nossa língua também passou (e passa) por um processo ininterrupto de mutações, o que a deixa ainda mais fascinante e diversificada, pois cada região possui características próprias, singulares na sua forma de comunicação, incorporando palavras a um universo vocabular de variabilidade imensurável, particularmente, à língua coloquial, seja pela introdução de neologismos, por empréstimos, adaptações, regionalismos ou pela revitalização de arcaísmos.

Resultado de complexa evolução histórica, as línguas caracterizam-se por um conjunto de tendências que se diversificam a partir de vários fatores. Esses, por sua vez, podem contribuir para a sua integração ou desagregação e, de acordo com as condições sociológicas de cada região, determinam a rapidez ou a lentidão das modificações ocorridas ao longo da história dessas localidades.

Para que possamos nos comunicar, é preciso que utilizemos a linguagem e esta nada mais é do que o léxico, ou seja, o repertório de palavras de que uma língua dispõe.

A vida em sociedade nos proporciona uma série ininterrupta de contatos e interações. Através da soma das atividades dos indivíduos, podem-se perceber as influências de uns sobre os outros e, conseqüentemente, existem, em cada grupo social ou regional, aqueles que se sobrepõem ou tentam impor-se, fazendo com que determinados usos sejam absorvidos por imposição ou imitação. Com isso, verificam-se as variações ou ainda as equivocadamente chamadas “deformações”, que, a nosso ver, são decodificações feitas a partir de interpenetrações lingüísticas adaptadas e postas em uso. Disso decorre um jogo, por vezes, sutil de gradações onde cada grupo procura imitar o que lhe é imediatamente superior, sendo que, em diversos casos, verificam-se as variações, normalmente, de natureza fonética.

A história da nossa formação lexical nos remete ao início da colonização brasileira, ocorrida em Pernambuco, a partir de 1535. No século XVII, a expansão das lavouras de cana-de-açúcar fez com que a província se estendesse até Porto Calvo (atualmente, Norte de Alagoas). Conseqüentemente, a circulação de pessoas de origem e culturas diferentes deu margem ao aparecimento de um universo lexical nessa região extremamente rico e variado, e essa herança, consolidada por meio dessas características, oportunizou o surgimento de uma seleção lexical bastante interessante, que diferencia a Região da Mata Sul do Estado de Pernambuco de outras regiões do país.

Este trabalho propõe ampliar as discussões sobre a utilização e as transformações da linguagem que corroboram avanços na prática comunicativa cotidiana brasileira, concentrando-se em uma determinada região de características singulares, em razão das contribuições recebidas e das modificações ocorridas em razão de fatores diversos.

É importante salientar que o falar brasileiro é constituído de diferentes níveis que são adequados aos mais diversos padrões sociais, fazendo com que se percebam aspectos diferenciados que contribuem para com a formação dessa nossa língua, que se nos mostra, a cada dia, cada vez mais abrangente e diversificada.

Dessa forma, a equipe procurou identificar características singulares num raio de aproximadamente 100km, compreendendo 15 cidades da Zona da Mata Sul pernambucana: Água Preta; Amaraji; Barreiros; Bonito; Catende; Escada; Gameleira; jaqueira; Palmares; Primavera; Ribeirão; Rio Formoso; São José da Coroa Grande; Sirinhaém e Tamandaré.

A coleta de dados aconteceu no campo e nas cidades, sendo abordadas e entrevistadas cerca de 900 pessoas de diversas faixas etárias e pertencentes a classes sociais diferenciadas, em assentamentos de trabalhadores rurais, associações de moradores, barracões de engenhos, colônias de pescadores, feiras livres e usinas de cana-de-açúcar.

Essas variações são identificadas em vários segmentos, os quais, através de seleções próprias, criam, adaptam, transformam, resgatam e adequam as palavras a realidades distintas, donde verifica-se um léxico com as seguintes características:

Empréstimos: palavras estrangeiras, “abrasileiradas”, conservando significado parecido:

esquipar = saltar, fugir (de To skip’inglês’)

saidear = evitar, sair, ficar de fora (de Side ‘inglês’)

muquifo = barraco (de mocambo ‘angolano’)

Waldisney = nome próprio (de Walt Disney ‘inglês’)

Arcaísmos: palavras do vocabulário colonial, há muito não utilizadas:

cuma ? = como, de que modo?

arriba, em riba = em cima, pra cima

vosmecê = vossa mercê, vossa senhoria

empaiar = atrapalhar

mode = para, pra (trabaiá, mode ganhá dinheiro)

derradeiro = último

derna = desde (derna de ontonte que chove)

ontonte = anteontem

encangado = junto, unido, amarrado (estar sob uma canga ‘espécie de sela’)

lapa = pedaço grande; coisa avantajada (lapa de pé)

preguntar = perguntar

Associativismo: palavras cujo significado pode ser captado através do contexto em que são utilizadas:

peniqueira = empregada doméstica

berrado= armado (com um revólver ‘berro’ )

casca-de-jaca = pessoa grosseira

matuto = pessoa que vive na zona rural “no mato”

cheiro = carinho (vou te dar um cheiro)

fachear = pescar à luz de fachos “fachear agulha em noite de lua nova”

aruá = pessoa lenta, lerda (escargô)

Neologismo: palavras ou estruturas inteiras criadas:

guenzo = desnutrido, franzino

troncho = fora de alinhamento, torto

vote ! = interjeição de espanto

xoxo = franzino, pequeno, murcho

imbuá = lesma, pessoa lenta, sem reflexos

eca ! = interjeição de nojo

eita ! = interjeição de surpresa, de espanto

enxerido = afoito, inconveniente

farrapar = descumprir compromisso “esfarrapar”

goga = arrogância, vaidade

gréia = anarquia, zombaria

Vocabulário passivo: estruturas que o falante não usa ou utiliza muito pouco, mas conhece o seu significado:

oropa = Europa

malamanhado = maltrapilho, desajeitado

marra = força, físico avantajado, no caso, imposto a outrem (teve que fazer ‘na marra’)

Onomatopéia: palavras que procuram imitar os sons a que se referem:

cush, cush = expressão utilizada para “chamar” porcos

muxoxo = expressão de descontentamento, de desagrado

Metaplasmos: Alterações que as palavras sofrem ao longo do tempo. Essas alterações são de natureza fonética, conservando, as palavras, a mesma significação:

aférese = supressão de fonema (s) no início da palavra: sco = fresco (homossexual masculino): scondição = condição / condições

síncope = supressão de um fonema no meio do vocábulo: píula = pílula

metátese = transposição de um fonema na mesma sílaba: pro = por

apócope = supressão de um fonema no final da palavra: demai = demais

sinalefa = síncope de vogais iniciais e junção da vogal final de uma palavra com a vogal inicial de outra, na formação de expressões compostas: d’está = deixa estar

hipértese = transposição de um fonema de uma sílaba para outra: estáuta = estátua, táuba = tábua

Considerações finais

Diante do aqui exposto, esperamos haver instigado a curiosidade e o interesse por este tipo de investigação científica, pois constatamos que, apesar da semelhança existente entre léxico e vocabulário, estes constituem partes distintas de uma língua, embora estejam intimamente ligados, porque cada indivíduo possui um vocabulário particular que deve ser adequado a cada situação a que for submetido para a concretização da comunicação.

A partir do momento em que nos fazemos usuários e falantes da língua, percebemos as divergências e as transformações sofridas no âmbito social, o que vem ocasionar os diferentes níveis de linguagem, particularmente, observadas no Nordeste brasileiro, em razão de todo um conjunto de fatores que corroboram para com a seleção lexical do homem desta região; fenômeno este que deve ser estudado mais profínquamente, não apenas pelo fascínio que desperta, mas, principalmente pela importância do seu desvendamento e de sua compreensão, para que se tenha a dimensão dessas variantes, riquíssimas do ponto de vista cultural, porém tão pejorativamente marcadas.

À medida que o homem nordestino contribui para com o enriquecimento do léxico, ele amplia e desenvolve sua competência comunicativa e discursiva; sua capacidade de utilizar a língua de modo variado e adequado ao contexto e sua criatividade para se adequar às diferentes situações e práticas sociais.

Naturalmente, as variações, e mesmo modificações, objeto de estudo deste trabalho, ocorrem majoritariamente em nível oral e na comunicação coloquial, onde as limitações vocabulares são acentuadas, estando muito aquém do conhecimento transmitido na linguagem padrão. Entretanto, são características que apresentam sobretudo, uma maior liberdade de expressão no que se refere à norma-padrão e, não raro, isolam-se em falares típicos regionais (como é o caso aqui estudado), mas que merecem uma abordagem científica mais detalhada, que as identifique e que as catalogue, para que possam ser entendidas como alternativas de comunicação de valor histórico, cultural e lingüísticos imensuráveis. Por isso, fizemos questão de notificar a importância dessas variações ocorridas na língua portuguesa, praticada na Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco, concebendo-as como formadoras da identidade nacional.

Bibliografia

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VILANOVA, José Brasileiro. Aspectos estilísticos da língua portuguesa. Condensada e simplificada por Antônio Fernando Viana. Recife: A.F. Viana, 2001.

Equipe VI Período do Curso de Letras da Famasul - Palmares / PE
Alessandro Gomes de Cerqueira Cibelle Karine da Silva Sales
Maria Madalena Lopes da Silva Marta Maria Silva dos Santos
José Ribeiro da Silva Poliana Maciel Loureiro
Silvane Maria dos Santos Verônica Maria G. do Nascimento
Coordenação: Prof. João Constantino Gomes Ferreira Neto