OS NOMES PRÓPRIOS NO DICIONÁRIO

Claudia Assad Alvares (UFRJ e USP)

Introdução

O escritor senta-se à mesa para elaborar um texto. À sua volta estão seus objetos pessoais de uso: um computador, o cigarro, um cinzeiro, papéis variados, canetas, um equipamento de som, CDs, livros e disquetes. Apesar de bem aparelhado, a inspiração não vem e o escritor experimenta sentimentos de raiva e impotência; nem mesmo a pontuação adequada é capaz de transpor sua mente conturbada para registrar seus sinais gráficos no papel.

De repente uma determinada palavra, uma “imagem” e a busca ao dicionário: lá está a definição, pujante e esclarecedora, pois, os dicionários, de um modo geral, apresentam exemplificação abundante; suas abonações são, em sua maioria, extraídas dos clássicos portugueses ou brasileiros e encontram-se em quase todas as definições dadas para cada verbete pesquisado.

Por outras palavras, há uma grande preocupação em contextualizar cada definição oferecida para cada verbete e facilitar, portanto, o seu uso, uma vez que a exemplificação farta impede que empreguemos uma palavra pela outra aleatoriamente, fato que, ressalte-se, se não constitui propriamente um modo explícito de tratar o fenômeno da sinonímia, pelo menos exclui o mau uso de um determinado vocábulo e mostra-nos que sinônimos perfeitos não existem, ou são muito difíceis de encontrar.

Mas é só. O universo dos dicionários não inclui, em seu arcabouço, o acervo de nomes próprios existentes, já que estes não se definem, ao menos, não como os substantivos comuns.

Os nomes próprios em oposição aos nomes comuns

Carneiro (1996: 81), ao falar-nos sobre o processo de transformação do “mundo a significar” para o “mundo significado”, destaca seis operações que compõem o referido processo; interessa-nos aqui a operação de identificação,

que reconhece e conceitua os seres do mundo. Essa operação dá origem às entidades discursivas que podem ser nomeadas textualmente por seres concretos ou abstratos, representados lingüisticamente pela classe dos substantivos.

Ainda segundo o autor,

ao nomear um referente, o falante realiza um processo de seleção entre elementos da língua, já que há uma grande variedade de aspectos pelos quais um objeto pode ser designado e só um deles é escolhido (...).

De fato, sabemos, por exemplo, que uma cadeira é um objeto que se destina a acomodar uma pessoa sentada; além disso, pode ou não possuir “braços”, mas necessariamente terá que possuir “costas” ou “encosto”, caso contrário, deixa de ser cadeira e passa a ser banco. Há ainda uma infinidade de pormenores que nos fazem optar por uma determinada cadeira em detrimento de outra, como, por exemplo, a cor, o tipo de estofamento, o conforto que proporciona etc.

Nada disso ocorre com os nomes próprios, que, por sua função exclusivamente denominativa, não podem ser definidos nos dicionários como as palavras “cadeira”, “livro” ou “alegria”, cujos sememas permitem uma descrição pormenorizada dos respectivos verbetes. Se, por um lado, podemos atribuir uma gama enorme de significados aos diferentes sentimentos, estados de espírito e objetos que nos cercam (como, por exemplo, a raiva e a impotência do nosso escritor), por outro, como fazê-lo a “João”, “Maria” ou “José”?

Segundo Boulanger (1995: 99),

(...) En bref, il s’agit de savoir si le nom propre fait ou non partie du code de la langue et, par conséquent, de la linguistique, s’il supporte la conceptualisation et s’il est générateur de sens.

E mais adiante afirma-nos que

(...) Le NPr représente le moyen de référence idéal, car il désigne un individu parmi d’autres, il le particularise, sans le catégoriser, ni le classifier, autrement dit sans le définir comme on définit un nom commun. (...).

Compartilhando as questões expostas por Boulanger, podemos afirmar ainda que o nome próprio é, de fato, “gerador de sentidos”, mas tal função ocorre no interior (ou não) de uma lexia complexa, quando o nome próprio deixa de sê-lo e passa a substantivo comum.

É de se notar que os nomes próprios, quando aparecem no dicionário, de um modo geral, integram - como substantivos comuns - lexias complexas como, por exemplo, “maria-vai-com-as-outras” e “joão-ninguém”, de modo que seja possível atribuir-lhes um semema que forneça sua descrição e se possa, a partir daí, caracterizá-los tal como o fazemos a “cadeira” ou a qualquer outra palavra que não tenha função exclusivamente denominativa; acrescente-se que tais lexias complexas constituem verdadeiros sintagmas bloqueados, já que não podemos, por exemplo, dizer “maria-não-vai-com-as-outras”.

Desse modo, o falante pode servir-se dos nomes próprios como o faria com qualquer nome comum que satisfizesse suas necessidades discursivas.

O que segue é a análise do modo como alguns nomes próprios são tratados nos dicionários Houaiss (2001), Aurélio (1999), Caldas Aulete (1964), Morais Silva (1958), Laudelino Freire (1954), Vieira (1871) e Bluteau (1712).

O tratamento dado aos nomes próprios
pelos dicionários

Inicialmente, vamos analisar os substantivos “patricinha” e “maria-mijona”; vejamos as definições:

PATRICINHA

patricinha. s.f. (1966) 1 pequena ou jovem patrícia (‘conterrânea’) 2 B S.E. infrm. pej. jovem do sexo feminino que se veste com apuro, esp. preocupada com a elegância e que ger. freqüenta os lugares da moda. cf. mauricinho. ETIM. patrícia + -inha, contraparte de mauricinho (...). (HOUAISS, 2001)

patricinha. [Do dim. do antr. Patrícia.] S.f. Bras. (...). Jovem do sexo feminino, que se veste com esmero e, ger., tem comportamento consumista. (AURÉLIO, 1999)

patricinha - não consta. (CALDAS AULETE, 1964); (MORAIS, 1958); (L. FREIRE, 1954); (VIEIRA, 1871); (BLUTEAU, 1712)

MARIA-MIJONA

maria-mijona. s.f. 1. B infrm. menina ou mulher vestida com roupa (saia ou vestido) excessivamente comprida e deselegante 2 (...) comprido demais para quem veste (diz-se de vestido ou saia) pl. do subst. marias-mijonas. (HOUAISS, 2001)

maria-mijona. [Do antr. Maria + o f. de mijão.] Bras. Pop. S.f. 1. Mulher, moça ou criança cujo vestido ou saia tem aspecto deselegante, desajeitado, por ser bem mais longo que o normal. [Pl.: marias-mijonas.] Adj. 2 g. e 2 n. 2. Diz-se de vestido ou saia excessivamente compridos em relação ao comprimento ditado pela moda. (AURÉLIO, 1999)

MARIA-MIJONA, s.f. (Bras.) (gír.) mulher de saia muito comprida. Cf. Antenor Nascentes, Linguajar Carioca, p. 115. (CALDAS AULETE, 1964)

Maria-mijona, s.f. bras. gír. Mulher que tem a saia muito comprida. (MORAIS, 1958)

maria-mijona - não consta. (L. FREIRE, 1954); (VIEIRA, 1871); (BLUTEAU, 1712)

Basta uma leitura nas definições acima para percebermos que “patricinha” não é diminutivo carinhoso de “Patrícia”; ao contrário, “patricinha” pode ser a designação de qualquer moça que se enquadre na definição dada, independente do seu nome, que não precisa ser “Patrícia”.

Temos, pois, aqui, um nome próprio - “Patrícia” - sendo tratado como substantivo comum pelo acréscimo de um sufixo diminutivo (o mesmo ocorrendo com seu “par”, o “mauricinho”).

Desse modo, não podemos encontrar “Patrícia” no dicionário, visto sua função exclusivamente denominativa, mas, por outro lado, encontramos uma definição para “patricinha”, já que se trata de um substantivo comum.

Em oposição a “patricinha”, o verbete “maria-mijona” ilustra a mulher ou moça desprovidas de qualquer vaidade; no entanto, a oposição limita-se tão-somente a esse aspecto, mesmo com a presença de um sufixo em “mijona”, já que o verbete “maria-mijona” é uma lexia complexa e, como podemos observar, não é possível introduzir outros elementos na lexia, sob pena de desvirtuar-lhe o sentido, pois, se imaginarmos algo como “maria-que-não-é-mijona”, além da introdução de uma oração inteira na lexia, o sentido também se altera, podendo dar a impressão de alguém (mulher, moça ou criança) que não faz “xixi” na cama.

Assim, temos aqui um verbete que retira do nome próprio “Maria” o “status” de nome próprio e dota-o, por outro lado, de um semema que o define enquanto substantivo comum, fato que permite a sua inclusão nos dicionários.

Naturalmente, os verbetes que estamos analisando são relativamente recentes, sendo “patricinha” mais recente que “maria-mijona”, daí a sua não ocorrência nos dicionários mais antigos.

Vejamos mais alguns verbetes:

MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS

maria-vai-com-as-outras. s. 2 g. 2 n. (...) infrm. pessoa sem personalidade, que se deixa facilmente influenciar ou levar pelos outros. (HOUAISS, 2001)

maria-vai-com-as-outras. S. 2 g. e 2 n. Bras. Fam. Pessoa fraca, sem vontade, que se deixa levar pelos outros; carneiro, carneirinho: “Benevenor, atolado nos livros, era um maria-vai-com-as-outras, seria um bagaço nas mãos de Tiotônia.” (Nélson de Faria, Tiziu e Outras Estórias, p. 48.). (AURÉLIO, 1999)

MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS, s.m. e f. pessoa fraca, que se deixa levar pelos outros: O pior inimigo da palavra escrita é o lugar-comum, o possidônio, o refervido, resultante do hábito, da vicieira de falar, do maria-vai-com-as-outras. (Aq. Ribeiro, Lápides Partidas, p. 123, ed. 1945.). (CALDAS AULETE, 1964)

Maria-vai-com-as-outras, s. 2 gên. pessoa que não tem vontade própria, que faz o que os outros fazem, que se deixa levar, influenciar: “Bah, maria-vai-com-as-outras. Mas olhe meu senhor, eu a bem dizer não tenho escândula deste meu filho”, Aquilino Ribeiro, Volfrâmio (?), cap. I, 2I. (MORAIS, 1958)

MARIA VAI COM AS OUTRAS, s. m. indivíduo destituído de vontade, que segue os exemplos que vê. (L. FREIRE, 1954)

MARIA VAI COM AS OUTRAS - não consta. (VIEIRA, 1871); (BLUTEAU, 1712)

JOÃO-NINGUÉM

joão. s.m. B 1 FUTB jogador que é facilmente driblado 2 MÚS grande atabaque us. no jongo paulista; pai-joão (...)

joão-ninguém. s.m. (1881 cf CA 1) indivíduo sem importância, que não tem peso social e destituído de qualquer poder econômico. GRAM pl joões-ninguém. ETIM. f hist 1899 jan-ninguém. SIN / VAR ... berdamerda, bicho careta, borra-botas, bunda-suja, fabiano, gato pingado, joão-fernandes, merda, pé-de-chinelo, pobre-diabo, zé-dos-anzóis, zé-ninguém. (HOUAISS, 2001)

joão-ninguém. S.m. Indivíduo insignificante, sem importância; sujeito à-toa. [Sin.: joão-fernandes, badameco, badana, bangalafumenga, beldroegas, berdamerda, bereberê, bicho-careta, borra-botas, brochote, bunda, bunda-suja, fabiano, fubica, futrica, gato-pingado, janistroques, lagalhé ou leguelé, lheguelhé, maenga, mequetrefe, ningres-ningres, zé-dos-anzóis, zé-dos-anzóis-carapuça, zé-da-véstia, zé-prequeté. Pl.: joões-ninguém.] (AURÉLIO, 1999)

JOÃO-NINGUÉM, s.m. (pop.) homem sem importância alguma, homúnculo, janeanes, joão-fernandes. (CALDAS AULETE, 1964)

João-ninguém, s.m. pop. Indivíduo insignificante, humúnculo, jagodes. (MORAIS, 1958)

JOÃO-NINGUÉM - s.m. pop. Homúnculo; homem insignificante; joão-fernandes.

JOÃO-NINGUÉM - não consta. (VIEIRA, 1871); (BLUTEAU, 1712)

JOÃO-FERNANDES, s.m. pop. Janeanes, joão-ninguém; homem sem importância, que pouco vale, insignificante. (...). (L. FREIRE, 1954)

JOANNE. Antigamente ¦e dava em portugal e¦te nome a todos aquelles, q desprezando o mundo, faziaõ em lugares ¦olitarios vida penitente. A¦¦i o affirma o Croni¦ta da Congregaçao do Evangeli¦ta, Liv. 2. cap. 5. para e¦te nome deu motivo, a ¦anta vida do Servo de Deos, Joanne o pobre. (...) ve¦tido de burel, com tunica taõ curta, q lhe naõ cobria os juelhos, nem cotovelos, pa¦¦ou qua¦i vinte annos dormindo na terra fria, huma pedra por cabeceira, ¦u¦tentando¦e de ¦eccabroa, mendigada; ¦empre andou de¦calço, & com a cabeça de¦cuberta, & até a morte, depois que allí chegou, nunca mais fez a barba (...). (BLUTEAU, 1712)

JOÃO-SEM-BRAÇO

joão-sem-braço - não consta. (HOUAISS, 2001); (AURÉLIO, 1999); (CALDAS AULETE, 1964); (MORAIS, 1958); (L. FREIRE, 1954); (VIEIRA, 1871); (BLUTEAU, 1712)

No verbete “maria-vai-com-as-outras”, temos mais uma vez o nome próprio “Maria” inserido em uma lexia complexa, verdadeiro sintagma bloqueado; definido nos dicionários como substantivo comum, esse verbete aplica-se tão-somente a pessoas do sexo masculino para Freire (1954), ao passo que, para os outros, aplica-se a pessoas de ambos os sexos, como alguém que não possui vontade firme e não tem opinião própria.

Podemos notar ainda que, para Freire, o verbete não contém hifens, o que já não se verifica para os outros dicionários.

À semelhança de “maria-mijona”, também aqui não podemos introduzir quaisquer elementos no verbete, sob pena de descaracterizá-lo: em “maria-não-vai-com-as-outras” ou “maria-que-não-vai-com-as-outras”, não há uma oposição em relação ao verbete original, ou seja, o sentido aqui não é o de uma pessoa que “tem personalidade firme e vontade própria”, mas tão-só o sentido que possui uma “não-palavra”; na verdade, trata-se de um “não-sentido”.

O nome próprio “João” aparecerá em dois verbetes: “joão-ninguém” e “joão-sem-braço”; o primeiro rivaliza com “zé-ninguém”, forma reduzida do nome próprio “José”, ao passo que o segundo, verbete largamente utilizado em nossa cultura, surpreendentemente, não consta em nenhum dos sete dicionários pesquisados. Não é de hoje que a expressão “dar uma de joão-sem-braço” figura em nossa comunidade lingüística; esse verbete, como todos sabem, designa o sujeito oportunista, aquela pessoa que simula não ter habilidade ou capacidade para fazer algo, pois, desse modo, pode “encostar-se” no outro, que acaba por fazer o que o “joão-sem-braço” “não pôde”. Em outra situação, o “joão-sem-braço” “dá uma de desentendido” para deixar de fazer algo.

Não podemos nem mesmo afirmar que a lexia complexa “joão-sem-braço” é um neologismo e por isso não está registrada nos dicionários, já que não se trata de formação recente na língua.

Não obstante o dicionário Houaiss (2001) registrar o substantivo “joão”, não o define como substantivo próprio (até porque não poderia), mas como substantivo comum, na acepção de um jogador que é “facilmente driblado”, o que, mesmo não estando no mesmo campo associativo de “joão-ninguém”, constitui um demérito para o jogador assim rotulado.

Quanto ao verbete “joão-ninguém”, podemos observar ainda que também rivaliza com um outro nome próprio (“Fabiano”) utilizado como substantivo comum, mas bem menos conhecido que o verbete “zé-ninguém” ou até mesmo que “zé-dos-anzóis”.

Em quase todos os dicionários, vemos “joão-ninguém” rivalizar ainda com “joão-fernandes”, sendo este um sintagma composto de nome e sobrenome, mas usado como substantivo comum na mesma acepção de “joão-ninguém”.

Bluteau (1712), conquanto não defina o verbete “joão-ninguém”, registra a forma “joanne”, que, pela definição fornecida, parece-nos descerrar as cortinas da origem do substantivo comum “joão-ninguém”, afinal, “Joanne o pobre”, inicialmente, era apenas um homem que exibia as características do que viria a ser, no futuro, o “joão-ninguém”, tendo sido o seu nome usado para designar todos aqueles que vieram depois dele e que desprezavam o mundo, ergastulando-se voluntariamente em lugares ermos e solitários para uma vida paupérrima e eivada de sofrimentos e desenganos.

Hoje, vemos o “joão-ninguém” como aquele que não tem “onde cair morto”, mais ou menos o que acontecia com “Joanne o pobre” e com os que exibiram comportamento e atributos semelhantes aos dele. Acrescente-se ainda a semelhança entre os significantes de “joanne” e “janeanes”, estando este último registrado em Caldas Aulete (1964) e Freire (1954), com a diferença de que em Freire (1954) o verbete está registrado com letra maiúscula (característica dos nomes próprios), quando se trata de um substantivo comum.

Conclusão

Nas palavras de Boulanger (1995: 100),

La langue (...) est le produit d’une culture en même temps qu’elle transmet et pérennise cette culture; elle est l’instrument de communication par lequel une collectivité révèle, exprime et diffuse ses valeurs et ses représentations symboliques. Ce modèle et cette vision du monde forgés par la langue sont répercutés dans les dictionnaires. (...).

Sabemos que a língua é o sistema gramatical de um grupo de pessoas, bem como expressa a consciência de uma coletividade, é sua "marca registrada", sua "carteira de identidade". Através da língua, identificamos o mundo que nos cerca e atuamos sobre ele.

Dinâmica e mutável, evolui paralelamente à sociedade e permite, enquanto instrumento, a comunicação entre os indivíduos. Veículo do pensamento, ao associar as seqüências vocais aos seus respectivos significados, permite a compreensão, a decodificação das mensagens, entre emissor e receptor, além de tornar possível a expressão de um estado psíquico, como, por exemplo, dor, susto, desespero etc.

Segundo Boulanger (1995), o dicionário (assim como a língua) é um fenômeno intrinsecamente social; de fato, as definições fornecidas para os verbetes retratam o modo de ser e de pensar de toda uma comunidade, suas crenças, julgamentos e juízos de valor.

Há um grande acervo de nomes próprios sendo usados em nossa comunidade lingüística como substantivos comuns pelos falantes; assim, temos, por exemplo, “amélia”, “cristo”, “judas”, entre outros já mencionados, alguns integrando lexias complexas e outros não.

O falante, diante da impossibilidade de atribuir sememas aos nomes próprios, lexicaliza-os, ou seja, torna-os formas novas, sintagmas, unidades lexicais autônomas, de modo que cada substantivo próprio possa ser representado lingüisticamente como substantivo comum e receber um conjunto de traços semânticos que exerçam o papel de determinantes ou modificadores, como uma espécie de “carimbo”, ou, por outras palavras, de modo que possam essas novas lexias - complexas ou não - adquirir propriedades e características, por meio de atributos variados, que a definição confere aos verbetes para que o falante, em seu universo lingüístico, atualize-os no discurso de acordo com suas necessidades de comunicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1964.

BLUTEAU, D. Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de JESU, 1712.

BOULANGER, J.-C. e M. C. Cormier. Les noms propres dans l’espace dictionnairique. Università di Palermo, 1995.

CARNEIRO, A. D. Atualização discursiva dos nomes próprios. In: Discurso, Coesão, Argumentação. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1996.

CUNHA, C. e L. F. L. Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FREIRE, Laudelino. Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.

HOUAISS, A. e Villar, M. de S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Material apostilado, intitulado Propriedade no emprego do vocabulário, elaborado pelo grupo de pesquisadores que participa do Projeto de Estudos Textuais da Pós-Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. 1993.

Material apostilado, intitulado Traços semânticos, elaborado pelo Prof. Helênio Fonseca de Oliveira - Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. 1993.

MORAIS SILVA, Antônio de. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 10ª. ed. Lisboa: Confluência, 1958.

VIEIRA, Dr. Frei Domingos. Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Lingua Portugueza. Porto. Rio de Janeiro: E. Chardron e B. H. de Moraes, 1871.