MARCAS DA ENUNCIAÇÃO

Verônica Palmira Salme de Aragão (UFRJ)
Maria Aparecida Lino Pauliukonis
(UFRJ)

APRESENTAÇÃO

Os textos jornalísticos buscam, normalmente, expressar os fatos da forma mais imparcial possível, visto que eles não são a tradução da palavra de um indivíduo, mas a palavra dos sujeitos coletivos, por isso lhes é vetado falar em primeira pessoa. Por outro lado, mesmo optando pela busca de uma objetividade, a função do jornalismo é reconfirmar uma instituição social. E como tudo isso é feito pela palavra, daí se poder afirmar que todo o seu poder se funda na língua e a ela deve se conformar para reconstituição do real. Dessa forma, o desafio deste trabalho é analisar como se dá a relação entre a linguagem, sua significação e o contexto social, pois ao colocar os indivíduos em interação, a língua cria o sentido e os lugares sociais. Este trabalho propõe-se a fazer uma análise discursiva do uso de modalizadores em textos jornalísticos, sob a perspectiva da Análise Semiolingüística do Discurso, corrente, que, conforme Charaudeau (2003:07), privilegia “descrever a maneira pela qual se articulam, de um lado, a materialidade da linguagem, através do estudo das marcas formais, e de outro, o sentido social, através da análise do que se entende por imaginários sociais”.

O objetivo geral a ser considerado é a análise do sujeito enunciador dos textos midiáticos de forma que se identifique o seu grau de comprometimento frente a sua afirmação. Para isso, numa primeira etapa da pesquisa, realizada na UFRJ, já foram analisadas marcas lingüísticas, denominadas autonímicas, de textos jornalísticos opinativos; tais marcas foram definidas por Mainguenau (2001: 158) como o “tipo de emprego em que o enunciador se refere ao uso dos signos em si mesmos e se opõe ao uso corrente”. Posteriormente, em uma outra fase da pesquisa, visou-se a categorizar o complexo e diferenciado conjunto de modalizadores, com o fim de se propor uma classificação, que os distinga por sua natureza e função discursiva, será esse o objeto principal deste trabalho.

Sobre aplicabilidade didática da pesquisa, sabe-se que conhecer a intenção do sujeito enunciador, por meio do emprego de marcas lingüísticas, é fundamental para o ensino de leitura e interpretação de textos, pois torna possível fornecer ao aluno um instrumental importante para a compreensão da intencionalidade de quem enuncia. Além disso, esse conhecimento pode ser aplicado à aula sobre texto dissertativo-argumentativo, visto que oferece ao aluno novos recursos lingüísticos a serem empregados em seus textos, de forma consciente, isto é, considerando-se o grau de intencionalidade de quem enuncia, bem como a tipologia textual.

O corpus utilizado limitar-se-á a análise de advérbios, verbos e locuções por serem os que melhor traduzem as características metaenunciativas presentes em uma enunciação e privilegiou-se a análise de artigos assinados, porque nesses, o sujeito enunciador pode ser identificado em função de sua parcialidade. Os estudos foram feitos em artigos do Jornal do Brasil no período de fevereiro a junho de 2003. Buscou-se identificar os modalizadores, considerando o seu aspecto semântico e sua função morfossintática para, posteriormente, proceder-se a uma classificação.

A perspectiva teórica a respeito do sujeito enunciativo na perspectiva da Análise do Discurso perpassa obrigatoriamente por Benveniste (1976), com sua teoria da subjetividade, Ducrot (1987), que retoma as noções de polifônica e do Ethos, Jaqueline Authier-Revuz (1998), pelas novas propostas para as não-coincidências do dizer e Maingueneau (2001), que aborda todas as teorias anteriores de forma didática.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Benveniste (1976) foi um dos teóricos a questionar o sistemático estudo do texto como produto e verificar a importância da subjetividade constituinte de qualquer enunciado. Sua visão baseia-se na existência de um sujeito que enuncia, logo o sentido do texto está sempre comprometido com o ponto de vista do enunciador. A partir de seus postulados, a teoria da Enunciação e os estudos sobre a subjetividade ganharam destaque:

No quadro teórico benvenistiano, o sujeito ocupa uma posição privilegiada e o ato enunciativo é o lugar de constituição da subjetividade. Pelo menos duas conseqüências teóricas derivam dessa concepção sobre a subjetividade: a referenciação lingüística só se concretiza no ato enunciativo e a significação tem no sujeito sua principal fonte geradora de sentido. (Cf. Pauliukonis, 2003: 38)

Segundo Benveniste, a enunciação é a atividade lingüística daquele que fala no momento que fala. Então é possível identificar em cada enunciado realizado pistas ou marcas lingüísticas, que evidenciem o sujeito, visto que embora se encontre disperso no enunciado, é possível de ser identificado.

O questionamento da unicidade do sujeito, instaurando pela noção de dialogismo ou polifonia, inovou a investigação discursiva, visto que esta “passou a incorporar a figura do Outro como constitutivo da significação”, segundo Pauliukonis (2003: 39). Ducrot (1987) retoma a noção de polifonia de Bakhtin e observa a sua manifestação nos discursos relatados, nos quais há um desdobramento para que os interlocutores se pronunciem. O autor exemplifica com o discurso direto, no qual o enunciador se distancia da fala citada pelo emprego de marcas lingüísticas, uso de verbos dicendi, dois pontos e travessão, como ocorre em João disse: ­ Eu vou! No discurso indireto, as falas misturam-se pelo uso da conjunção integrante, como no exemplo, João disse que virá.

O emprego dos modalizadores nos discursos possibilita a identificação do ponto de vista do enunciador no discurso, como no exemplo seguinte: Talvez João venha. Dessa forma, torna-se possível analisar a posição do enunciador em relação ao próprio enunciado que realiza.

Ducrot propõe, ainda, a revisão de um outro conceito, proposto por Aristóteles, denominado Ethos, cuja forma de persuasão demonstra uma imagem favorável, que seduz o ouvinte e capta a sua benevolência. Isso ocorre em função da fluência, entonação calorosa ou severa, a escolha das palavras, os argumentos utilizados nos textos. Assim para Pauliukonis (2003: 41), “O Ethos possui materialidade lingüística, pois se firma em marcas da enunciação, é preciso, portanto, analisar quais são essas marcas, através das quais se pode identificar cada ethos discursivo”.

Jaqueline Authier-Revuz (1998) retoma as teorias de polifonia, de Bakhtin, e de Ethos, de Aristóteles, para propor uma categorização dos desdobramentos da fala do enunciador, em forma de comentário. O signo interpõe-se em sua materialidade (significado e significante), ou seja, a metalinguagem natural (interna) à língua. Dessa forma, o sujeito avalia e controla o instrumento de linguagem e sua utilização com o objetivo de se comunicar com eficácia. A autora considera o desdobramento metaenunciativo da modalidade autonímica como o dizer junto ao seu comentário, assim o dizer se representa como não sendo mais óbvio.

Authier-Revuz propõe uma classificação, que aqui será exposta segundo a abordagem, de Maingueneau (2001), em função de sua abordagem simplificada e didática. O autor explica o processo de modalização autonímica da seguinte forma: “ao comentar assim sua própria fala, o enunciador produz uma espécie de enlaçamento na enunciação” (2001: 159).

Maingueneau conceitua os quatro tipos de modalizações, propostos por Authier-Revuz, a saber: não-coincidência interlocutiva, não-coincidência do discurso consigo mesmo, não-coincidência entre as palavras e as coisas e a não-coincidência das palavras consigo mesmas. A seguir, um quadro resumitivo, com as principais expressões:

Definição de Maingueneau para as Marcas Autonímicas (2001: 158)

não-coincidência interlocutiva quando as modalizações autonímicas indicam uma distância entre os coenunciadores. Desculpe a expressão, se se pode dizer, se você preferir, entende o que eu quero dizer ? Como você mesmo diz...
não-coincidência do discurso consigo mesmo quando o enunciador alude a um outro discurso dentro de seu próprio discurso. Como diz x, para usar as palavras de x, para falar como os esnobes, o assim chamado..., o que se costuma chamar...
não-coincidência entre as palavras e as coisas quando se trata de indicar que as palavras empregadas não correspondem exatamente à realidade que deveriam designar. O que é preciso chamar x, poderíamos dizer, como dizer ? ía dizer x, x ou melhor y, já que é necessário nomear...
não-coincidência das palavras consigo mesmas quando o enunciador se confronta com o fato de que o sentido das palavras é ambíguo. Em todos os sentidos da palavra, no sentido primeiro da palavra, literalmente, eis a palavra adequada...

 

ANÁLISE DO CORPUS

Nos exemplos dados, a seguir, serão analisados alguns modalizadores aqui denominados de metaenunciativos, os quais podem ser argumentativo ou avaliativo/qualitativo (conforme sua função semântica) e marcadores discursivos ou modificadores de termos (por sua função gramatical).

Observe-se o procedimento de análise das marcas modalizadoras nos seguintes fragmentos:

1. (19/04/2002): De leveza quase insustentável,
de Dora Kramer

Não é querer agourar os planos de ninguém, mas, francamente, do jeito que vai, a aliança PPS-PTB-PDT que abriga a candidatura de Ciro Gomes, não tem exatamente uma vida longa pela frente.

O modalizador francamente introduz explicitamente o discurso do enunciador, exercendo assim a função de um marcador discursivo. Essa intromissão, no modo como o discurso é dado, revela a qualidade metaenunciativa, ou seja, seu forte traço autonímico, bem como torna explicita a opinião do enunciador.

O signo francamente apresenta os seguintes traços:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

Daí, sua classificação de metaenunciativo argumentativo (função semântica) e marcador discursivo (segundo sua função gramatical).

Os advérbios do jeito que vai e exatamente exercem a mesma função, a de acrescentar uma informação circunstancial, respectivamente, localizando o momento da aliança e precisando a idéia dita. Em ambos, os traços metaenunciativo e presença explícita do sujeito-enunciador são fracos em relação ao sigo em si, visto que são carregados semanticamente. Os termos estão ligados a elementos lingüísticos específicos, respectivamente, aliança e tem neste caso, o que os tornam simples advérbios de frase.

Portanto, seus traços mais fortes são:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

A classificação sugerida para os advérbios, que apresentam estes traços é de metaenunciativos avaliativos/qualitativos, segundo sua função semântica, e de modificadores de termos, por sua função gramatical.

2. (26/04/2002) REFORMA NA LEI E NA PRÁTICA,
DE DORA KRAMER

Depois da decisão sobre a uniformidade das coligações partidárias, tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral, o Supremo tribunal Federal derrubou privilégio que permitia aos detentores de mandato concorrer a nova eleição sem precisar disputar legenda dentro dos partidos. São atos que organizam o processo e, de forma alguma, como argumentam aqui e ali deputados e senadores, significam usurpação de poder. No máximo, evidenciam a omissão de um dos poderes.

A marca autonímica de forma alguma acrescenta a idéia de negação ao verbo significam, ao qual se refere. Trata-se, então, de um modalizador de frase e possui os seguintes traços semânticos mais intensos:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

Sua classificação, logo, será de metaenunciativo avaliativo/qualitativo e de modificador de termo.

A locução verbal como argumentam aqui e ali deputados e senadores remete-se ao verbo significam, com o intuito de inserir outras vozes no discurso, causando, assim, um confronto entre as mesmas. Este embate ocorre, segundo a perspectiva de Authier-Revuz, na não-coincidência do discurso consigo mesmo, na qual a enunciadora empregou um outro domínio com a intenção de negá-lo.

Os traços mais marcantes do modalizador são:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

Dessa forma, tratar-se-á de um metaenunciativo avaliativo/qualitativo (semanticamente) e modificador de termo (gramaticalmente).

Por último, o modalizador no máximo introduz um novo discurso, agindo, portanto como um marcador discursivo, ainda possui forte traço metaenunciativo, visto que caracteriza o discurso em si e destaca a perspectiva do sujeito-enunciador.

Sendo assim, o conteúdo semântico do modalizador não acrescenta sentido à frase, daí seus traços:

- informativo + presença do enunciador - metaenunciativo

Trata-se, portanto de um metaenunciador argumentativo (função semântica) e marcador discursivo (função gramatical).

3. (Continuação do texto)

Essa desculpa para a suspensão dos trabalhos de ontem não serve, portanto. Mais provável é que os líderes dessa aliança tenham chegado à óbvia conclusão de que depois da luta (com cenas explícitas de pugilato em gabinetes do congresso) em que se envolveram por causa de uma improbabilíssima aliança com o PFL, não protagonizaram cenas exatamente edificantes numa grande reunião pública.

Mais provável introduz o discurso, antecipando a idéia de que se trata da opinião do enunciador, portanto age como um marcador discursivo. O modalizador denota a idéia de “voz geral” ou fato consensual quando, na verdade, expressa a opinião do enunciador.

Seus traços mais fortes são:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

Portanto, sua classificação é de metaenunciador argumentativo e marcador discursivo.

Exatamente acrescenta uma informação à opinião do sujeito e se refere ao termo edificantes. Por conseguinte, seus traços mais marcantes são:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

E sua classificação: metaenunciativo avaliativo/qualitativo (semanticamente) e modificador de termo (gramaticalmente).

4. (Continuação do texto)

Claro, pois se o parlamentar que pretende outra eleição precisa brigar pela legenda em igualdade de condições com outros postulantes, mais chances ele terá quanto mais ativa, presente e constante for a sua atividade partidária.

O modalizador remete-se ao discurso como um marcador discursivo, visto que introduz o mesmo, e tenta exprimir a idéia de “voz geral”, mas na verdade se percebe a explicitação da opinião do sujeito-enunciador.

Os traços mais presentes são:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

Logo se trata de um metaenunciador argumentativo (conforme a função semântica) e marcador discursivo (segundo função gramatical).

5. Voz do dono

De qualquer forma, José Serra só entrará nas tratativas depois que o PMDB resolver suas querelas internas. Ele, no entanto, continua achando que uma vice mulher seria excelente providência.

O modalizador não se refere a nenhum termo apenas introduz um novo discurso de forma argumentativa. Daí, seus traços:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

E sua classificação: metaenunciador argumentativo e marcador discursivo.

6. Aids põe China “à beira da catástrofe”, de Elizabeth Rosenthal

Diplomaticamente, informe da ONU aceitou mais ou menos as estatísticas da China, colocando o número de infectados, no fim de 2001, entre 800 mil e 0,5 milhões.

O advérbio exerce as mesmas funções que o exemplo supracitado:

+ informativo + presença do enunciador - metaenunciativo

O termo foge as classificações mais constantes, no entanto pode ser classificado como marcador discursivo e, visto que sua atuação implica no modo discursivo, sua classificação, ainda, pode ser de metaenunciativo argumentativo.

Segundo a perspectiva de Authier-Revuz, a presença do dialogismo bakhtiniano no discurso é uma particularidade da não-coincidência do discurso consigo mesmo.

7. Cartas ao Editor: Eleições

Portanto, em termos programáticos, Lula é também um candidato de centro esquerda.

A locução refere-se ao verbo ser, o que significa dizer que se trata de um advérbio de frase, ou modificador de termo. O eu-enunciador explica o seu ponto de vista, circunscrevendo-o a um determinado campo, ou domínio, e, ainda, age ironicamente de forma implícita.

Os traços mais fortes são:

+ informativo + presença do enunciador - metaenunciativo

O modalizador foge as classificações anteriores, porque modifica um termo, porém parece atuar sobre o modo do enunciado, daí sua classificação ser de metaenunciador argumentativo.

Além disso, o termo apresenta o conceito dialógico de Bakhtin, o que o caracteriza, conforme Authier-Revuz, como não-coincidência do discurso consigo mesmo.

8. Limitações para atuar, de Orlando Carneiro

Apesar do ponto de vista de Marco Aurélio, a questão não é pacífica. Um outro ministro lembra que a jurisprudência do STF não considera os membros do Executivo que tenham chegado ao Tribunal impedidos de julgar ações que questionem a constitucionalidade de atos nos quais atuaram. A conduta é diferente para o procurador-geral da República. Uma vez no supremo, está automaticamente impedido de votar em processos nos quais tenha emitido parecer antes de se tornar ministro.

A marca autonímica refere-se ao verbo está, acrescentando-lhe uma informação. Os traços que se destacam no modalizador são:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

Sendo um dos usos mais encontrados em textos midiáticos, o modalizador é classificado como modificador de termo e metaenunciador avaliativo/qualitativo.

9. Contra-ataque, de Ricardo Boechat

O Senador José Sarney telefonou, ontem, para Itamar Franco e Orestes Quércia. Está empenhado em levar o PMDB a romper, definitivamente, com a candidatura de José Serra no Planalto.

A marca autonímica remete-se ao verbo romper para acrescentar-lhe uma idéia. Portanto, assim como o exemplo anterior, possui os traços:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

E se classifica como modificador de termo e metaenunciador avaliativo/qualitativo.

10. JB (12/10/2002): Presentes de grego, de Dora Kramer

São justamente pautados pelas conveniências e circunstâncias de cada um, muito mais que pela identidade que tenham com os projetos de governo de Lula ou Serra.

O metaenunciador parece não equivaler à de forma justa, assim não seria um advérbio simples e não se relacionaria a um termo. Logo, o modalizador agiria como um marcador discursivo, modificando o modo do discurso e introduzindo a opinião do sujeito enunciador.

Os traços que caracterizam o modalizador são:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

Daí, sua classificação ser de marcador discursivo e metaenunciador argumentativo.

11. Contra-ataque, de Ricardo Boechat

O Senador José Sarney telefonou, ontem, para Itamar Franco e Orestes Quércia. Está empenhado em levar o PMDB a romper, definitivamente, com a candidatura de José Serra no Planalto.

A marca autonímica remete-se ao verbo romper para acrescentar-lhe uma idéia. Portanto, assim como o exemplo anterior, possui os traços:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

E se classifica como modificador de termo e metaenunciador avaliativo/qualitativo.

12. JB (12/10/2002): Presentes de grego, de Dora Kramer

São justamente pautados pelas conveniências e circunstâncias de cada um, muito mais que pela identidade que tenham com os projetos de governo de Lula ou Serra.

O metaenunciador parece não equivaler à de forma justa, assim não seria um advérbio simples e não se relacionaria a um termo. Logo, o modalizador agiria como um marcador discursivo, modificando o modo do discurso e introduzindo a opinião do sujeito enunciador.

Os traços que caracterizam o modalizador são:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

Daí, sua classificação ser de marcador discursivo e metaenunciador argumentativo.

13. (continuação)

Associar-se a PC Farias e manipular verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador, tudo certo. Agora, que coisas assim sejam ditas em praça pública, realmente é inadmissível (...)

O modalizador parece ambíguo, pois pode está modificando o verbo, acrescentando-lhe a idéia ratificadora, como pode está apenas introduzindo o discurso.

Para a primeira interpretação, a classificação seria de modificador de termo e metaenunciador avaliativo/qualitativo e na segunda, seria um marcador discursivo e metaenunciador argumentativo.

14. (continuação)

Até poderiam, mas provavelmente não estão dispostos a contrariar o sentimento nacional majoritariamente favorável a Lula nem se arriscar a serem apontados como omissos.

O advérbio provavelmente introduz um novo discurso ao seu modo, além disso possui os traços:

- informativo + presença do enunciador + metaenunciativo

Daí, sua classificação ser de marcador discursivo e metaenunciador argumentativo.

O modalizador majoritariamente modifica apenas o adjetivo favorável para acrescentar-lhe uma informação. Seus traços fundamentais são:

+ informativo - presença do enunciador - metaenunciativo

E se classifica como modificador de termo e metaenunciador

Considerações Finais

Ao longo da pesquisa percebeu-se que, os modalizadores analisados diferenciam-se em duas categorias básicas, considerando sua função semântica e sua função gramatical.

Os modalizadores avaliativos ou qualitativos constituem modalizadores, que modificam um termo específico presente no enunciado. Dessa forma, modificam o “dito”, isto é, o seu próprio conteúdo com o intuito de acrescentar-lhe uma idéia circunstancial.

Os modalizadores argumentativos, em que, normalmente, o sujeito se posiciona em relação ao discurso e que atuam na oração como um marcador discursivo, modificam o “modo”, pelo qual o discurso é proferido. Entretanto, alguns exemplos supracitatos apresentaram especificidades nesta categoria. Há um caso em que o modalizador modifica apenas um termo (vide exemplo 7) e, ainda, inclui-se na classificação de Jaqueline Authier, segundo a teoria bakhtiniana do dialogismo.

Sendo assim, a não-coincidência do discurso consigo mesmo pressupõe uma visão argumentativa, o que comprova a subjetividade do enunciador ao empregar outras vozes em seu discurso. Portanto, a aparição dessa marca apenas em metaenunciativos argumentativos destaca o comprometimento que o enunciador assume para defender suas idéias. Um aprofundamento dessa categoria - modalizadores argumentativos - faz-se necessário para a instrumentação interpretativa em relação ao grau de comprometimento de quem enuncia.

Em uma próxima etapa do trabalho propor-se-á uma nova classificação que contemple os diferentes modalizadores para uma futura aplicação ao ensino.

Referências Bibliográficas

AUTHIER-REVUZ, Jaqueline. Palavras Incertas: as não-coincidências do dizer.Campinas: UNICAMP, 1998.

BENVENISTE, Emile. Problemas de lingüística geral. Vol. I, São Paulo: Cultrix, 1976.

CHARAUDEAU, Patrick. Prefácio In: PAULIUKONIS, M.A.L. & GAVAZZI, S. Texto e discurso. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2001.

PAULIUKONIS, Maria A. L. e GAVAZZI, S. Texto e discurso: mídia, literatura e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

------. Marcas discursivas do enunciador midiático: casos de modalização autonímica. In: Texto e discurso: mídia, literatura e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003: 38-51.