AULAS DE ITALIANO E DE OUTRAS
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA A ‘MELHOR IDADE’

Maria Franca Zuccarello (UERJ)

Introdução

O objetivo deste nosso trabalho é o de comentar nossa experiência como professor de uma língua estrangeira para os alunos da Terceira Idade, tencionamos demonstrar os resultados obtidos junto à UnATI /UERJ no Programa de ensino da língua italiana e de outras línguas estrangeiras para a 3ª idade através da música ou de jogos interativos.

As aulas são ministradas a partir de canções ou de jogos cuja linguagem é utilizada como recurso didático facilitador e enriquecedor no processo de aprendizagem, tanto no que se refere à língua oral quanto à língua escrita.

As canções, assim como os jogos, filmes, ou outros materiais hoje oferecidos pela mídia, além de servirem como elemento de ligação para a aprendizagem do léxico e das noções gramaticais de línguas estrangeiras, ampliam a bagagem cultural de nossos alunos e se fazem investigadores da memória e do emocional, possibilitando o desenvolvimento harmonioso entre o físico e o mental, ao mesmo tempo em que ajudam a manter o relacionamento interpessoal dos grupos.

O professor, o aluno, os materiais de ensino

Devemos partir do fato de que o aprendizado de uma língua estrangeira é sempre um processo complexo, pois as variantes intrínsecas em que se desenvolve a aprendizagem envolvem o próprio aluno, devendo-se analisar as necessidades básicas de cada tipo de aluno e solucioná-las.

Queremos salientar que hoje as aulas fogem aos traçados e aos tempos rigorosamente marcados de antigamente, e se configuram como atividades construtivas e criativas, capazes de ampliar horizontes, de tal forma que qualquer tipo de atividade possa ser direcionada para o ensino/aprendizagem, desde que esta leve ao objetivo que se quer alcançar. Objetivo esse que não seja somente um ocioso jogo verbal ou uma inútil diversão, pois nenhuma metodologia utilizada para o ensino de língua estrangeira e de sua cultura é inadequada, quando esta se transforma num pressuposto de verdadeiro diálogo educativo, isto é, de indagação, de aprofundamento de interesses.

Nasce, disso, a exigência de que a atividade pedagógica se desenvolva numa linha metodológica ativa que responda a claras diretrizes didáticas, tanto para uma motivação induzida quanto para uma que tenha surgido espontaneamente.

Desta forma o ‘dar aulas’ não continuará a ser considerado um mero exercício de veleidade, mas sim uma prática metodológica que tende a disciplinar as sementes plantadas no terreno da sala de aula e os encaminhará em direção ao desenrolar de um processo de crescimento voltado para a produção de determinados resultados. E para que obtenhamos estes resultados satisfatórios devemos analisar três itens: primeiramente o trabalho do professor, depois os materiais de ensino utilizados nas diversas aulas e por último - porém, não por isso menos importante - a qual tipo de aluno se destina aquelas aulas.

A pedagogia, atualmente, discute a respeito do papel do professor e do papel preponderante do aluno, no ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira falada e/ou escrita, processo este visto como uma construção, fazendo com que os materiais de ensino sejam vistos como fruto da inteiração de ambos, e que sirvam de apoio para executar certas atividades que possam gerar novas interações e novas tarefas do processo de ensino/aprendizagem. Assim sendo, utilizam-se de outros meios de expressão, pois a escolha da metodologia didática e pedagógica a ser usada depende do objetivo de ensino da unidade didática que nos propomos ensinar. De fato, muitas vezes, a leitura e a audição são acompanhadas de imagens e sons, como, por exemplo, o uso de um CD de canções, uma revista em quadrinhos, um videocassete, um filme, etc., pois ao aprender a ‘ler’ uma canção, um desenho humorístico, um manifesto, um filme, se supõe que o aluno tome consciência dos diversos códigos e da forma como estes se entrelaçam. Forma essa em que vários códigos se sobrepõem, com recíprocas relações, muitas vezes tão sutis que nem se percebem. Assim as estratégias didáticas que utilizam a linguagem musical, a fílmica, a mímica, a gráfico-figurativa, etc., são, sempre, extremamente funcionais e, em situações especiais, de grande ajuda.

O ensino da língua italiana na UnATI/UERJ

A língua italiana, assim como as outras línguas neolatinas, por ter uma morfologia muito rica de regras e de casos de irregularidades, apresenta dificuldades maiores do que outras línguas nas quais a substituição de um ou mais elementos das frases a serem construídas leva a uma mais fácil fixação e conseqüentemente à uma mais fácil aprendizagem.

Como podemos, então, proceder num plano da praxe didática para ensinarmos uma língua estrangeira aos alunos de forma prazerosa e lúdica, porém eficiente? Foi esta a pergunta que nos fizemos ao apresentarmos uma oficina na UERJ sem muros em 1992, onde o nosso objetivo era demonstrar como a partir de uma canção - cujo ritmo faz com que até as pessoas que não a conhecem acompanhem o canto - possa levar estas pessoas (ao prepararmos nossa atividade não sabíamos o perfil nem a idade delas) a querer aprender a língua em que a canção é apresentada. Consideramos ter sido aquela experiência bastante proveitosa, pois, naquele dia, mais uma vez, o nosso objetivo foi alcançado, tanto a ocasionar um convite para participarmos de um curso de Italiano através da canção (inicialmente de um só semestre) para os alunos da UnATI.

A nossa preocupação era, então, para com este público relativamente novo para nós - e digo relativamente novo porque eu havia já ensinado (ou reensinado) a língua italiana para italianos e seus descendentes, onde o público era bastante heterogêneo, pois ao lado de um jovem de 12/13 anos encontrava-se um(a) senhor(a) de 60 anos ou mais, e junto ao estudante universitário, ao médico ou professor estava a dona de casa que, há muitos anos, havia cursado as primeiras séries do ensino fundamental, geralmente, na Itália!

Agora, mais de que nunca, se fazia necessário refletir a respeito de como (ZUCCARELLO: 2002)

O ensinar através de “fazer lição” faz sentido e tem um verdadeiro cabimento formativo na medida em que motive, suscite e estimule o crescimento das capacidades de construção-criação autônoma em cada aluno, e o “dar aula”, assim entendido, não tem por finalidade o conhecer-memorizar-repetir, mas o saber conhecer-compreender-aplicar, porque somente este tipo de metodologia promove a verdadeira formação do aluno, tornando-o capaz, gradativamente, de aprender e de fazer por si mesmo.

Assim começamos o que deveria ser um módulo isolado de Língua Italiana através das canções. Iniciamos a primeira aula com a canção mundialmente conhecida, Volare (Nel blu dipinto di blu). Os alunos, ao acompanharem o canto lendo as palavras desconhecidas, depararam-se imediatamente com as primeiras diferenças das duas línguas advindas das diferenças fonéticas, diferenças essas que se tornaram mais fáceis de serem eliminadas de quando, para a aprendizagem de uma língua estrangeira, era usada a antiga metodologia, isto é, conhecer-memorizar-repitir, e que hoje teria se modificado com uma metodologia nova baseada em conhecer-comprender-aplicar.

Depois de deixar repetir as palavras até a obtenção de uma boa pronuncia, fazíamos uma leitura a nível lexical (tentando, ajudados pela transparência das duas línguas, não fazer a tradução para que houvesse uma maior fixação), depois disso abordávamos a parte gramatical que objetivamos. Tudo isso coadjuvado com exercícios para a conferência do entendimento e para fixação da leitura, do léxico e da gramática.

Para o acompanhamento das aulas preparamos apostilas com material retirado de manuais de ensino da língua italiana para estrangeiros, correlacionado a letras de canções, a pequenos textos para leitura, a noções gramaticais - mostradas de uma forma bem resumida para que a fixação fosse mais fácil para os alunos da terceira idade -, e exercícios, para que se solidificasse o que já havia sido visto.

É claro que inicialmente, eles procuravam traduzir todos, ou quase todos, os vocábulos que apareciam (era assim que em seu tempo de estudo se ensinavam as línguas estrangeiras) e nós insistíamos que em muitos casos a tradução é desnecessária, primeiramente porque a língua portuguesa e a italiana, sendo línguas neolatinas, na maioria dos casos conservam o mesmo radical, e também para que entendessem a tal palavra - que ainda lhes faltava no quebra-cabeça da nova língua que estavam aprendendo - pelo contexto.

Assim procedemos durante todo aquele primeiro semestre e nos subseqüentes (implantados a pedido dos alunos) até chegarmos a completar quatro semestres (módulos) e mais dois de Conversação e Cultura, sempre participando às Oficinas de final de ano, da UERJ sem muros ou a qualquer outra atividade que envolvesse a participação ativa dos alunos, enquanto preparávamos uma apostila, Cantiamo e parliamo, com as características do material usado inicialmente, isto é, um tipo de material especifico para a 3ª Idade, cujo texto inicial de cada unidade (ou aula) é uma canção italiana, que contenha o que pretendemos ensinar especificamente naquela unidade (geralmente escolhemos canções um pouco mais antigas - que marcaram a juventude de nossos alunos - ou que sejam conhecidas pelo grande público. Este material de ensino - apesar de não ter sido ainda editado - é usado com os nossos alunos da UnATI, e podemos dizer ser bastante funcional, apesar de ser uma forma nova de aprender uma língua estrangeira para este publico: um publico ‘novo’ até mesmo para a nossa universidade.

Em relação às avaliações, essas são feitas, principalmente, através da participação ativa dos alunos, com os quais fazemos ditados, em que eles devem mostrar que alem de saber ouvir, sabem escrever pequenas redações, apresentar seminários, assim como participar de outras atividades que envolvem os vários grupos de Italiano, atividades essas que às vezes acontecem dentro da UERJ, como a UERJ sem muros, ou fora da UERJ, onde os nossos alunos levam a alegria e o prazer de estarem aprendendo a língua e a cultura italiana.

Hoje temos um grupo que, depois de ter completado os quatro módulos iniciais e os dois de conversação, continua a freqüentar semanalmente as aulas, nas quais é revisado todo o conteúdo programático anterior e são estudados também novos textos que abordam a cultura italiana: tudo isso sempre intercalado à canções, material lúdico e básico desde o início das atividades do curso.

Embasados nesta programação ficam os alunos preparados para que possam demonstrar o resultado de nosso trabalho, e dizendo ‘nosso’ quero dizer meu e de meus alunos: é este o ‘Grupo permanente de italiano da UnATI/UERJ’.

Todos os alunos deste Grupo já prepararam e apresentaram seminários e Workshopings a respeito de vários assuntos referentes à cultura italiana em geral, e escreveram e falaram a respeito deles mesmos, de seus anseios, de seus sonhos e realizações, e para todos eles a UnATI e o estudo da língua italiana é algo muito importante em suas vidas atuais. Entre eles há quem já escreveu poesias em italiano (onde a necessidade da correção foi quase irrelevante diante do fato de escrever versos em italiano). Dentro deste Grupo Permanente conseguimos formar um pequeno Grupo (inicialmente de apenas seis componentes, ensaiados pela professora de Dança Sênior) de danças típicas italianas, como a tarantella. Durante as apresentações, enquanto uns dançam o restante do Grupo canta: isto é algo que nos deixa felizes ao ver o resultado de nosso trabalho, e que nos emociona muito.

Este nosso trabalho nos levou já muitas vezes a participar de diversos eventos, tais como Congressos, Encontros, Semanas, etc. dentro da própria UERJ, na cidade do Rio de Janeiro, assim como fora desta e fora do Estado do Rio de Janeiro.

O ensino de inglês na UnATI/ UERJ.

O curso de inglês na UnATI/UERJ tem uma história um pouco diferente das outras línguas, pois antes de 1996 as aulas eram ministradas por uma ´professora contratada’, externa da UERJ, que havia registrado o curso como “Inglês através da Música”, motivo pelo qual o curso foi chamado de “O Ensino da Língua Inglesa através de jogos, dramatizações e outras atividades lúdicas”.

Diversas professoras do Instituto de Letras passaram por este curso tornando-se depois Coordenadoras dos estagiários. Hoje as aulas dos diversos módulos são conduzidas por Bolsistas de Iniciação à Docência, que - segundo relato da atual Coordenadora - desde a primeira, sempre fizeram um trabalho muito bonito, usando também seus conhecimentos musicais, cativando todo o grupo de alunos de inglês.

O principal objetivo da Coordenação e dos Bolsistas de Iniciação à Docência, é desenvolver a expressão oral em inglês dos participantes de maneira prazerosa, promovendo integração e auto-conhecimento. Para tal tarefa são usados diversos tipos de atividades, principalmente jogos e pequenas dramatizações.

As principais motivações relatadas pelos alunos - que consideram o curso de cunho bastante positivo - para estudarem inglês são: interesse pela língua e cultura, viagens, pois alguns deles têm familiares no exterior!

Atualmente, o curso de inglês da UnATI, assim como os outros cursos de línguas estrangeiras, tem quatro módulos iniciais e um/dois de Conversação.

A atual Coordenadora se empenha em realizar várias apresentações relacionadas a este trabalho, dentro e fora do País, sempre divulgando o ensino o ensino da língua inglesa à Terceira Idade.

O ensino de alemão na UnATI/ UERJ.

O curso de alemão da UnATI iniciou-se em 1995 e, primeiramente sucederam-se, nas aulas, dois professores de alemão do Instituto de Letras da UERJ. Hoje as aulas são ministradas por dois Bolsistas de Iniciação à Docência, coordenados por um Professor do Instituto de Letras.

Este curso, devido a não transparência da língua alemã e ao fato de ser uma língua cuja aquisição é bastante difícil, não segue inteiramente a metodologia usada pelas línguas neolatinas, que usam como material básico inicial a canção.

Este curso também é constituído de quatro módulos e cada módulo abrange 3 horas/aulas semanais, porém não é oferecido o curso de conversação.

Nas aulas são trabalhadas as seguintes atividades: produção oral e escrita, conversação, cultura, música, jogos, filmes.

O Coordenador de alemão, em parceria com a Coordenadora do Setor, assim como vem fazendo a Coordenadora de Italiano na UnATI, após a experiência de dois semestres de aulas para estes alunos, houve por bem elaborar material didático específico para a Terceira Idade.

Conclusão

Concluímos este nosso trabalho, no qual abordamos a importância que atribuímos ao material didático, material esse que deve ser específico para cada finalidade ao qual é destinado, e principalmente deve ser específico para o tipo de aluno com o qual o usamos. Aqui estamos nos referindo ao trabalho que desenvolvemos junto aos alunos da Terceira Idade da UERJ.

Pontualizamos o prazer que intercorre durante as aulas com estes nossos alunos, um público que era ainda desconhecido em nossas atividades de ensino.

Finalizamos afirmando que a receptividade de nossos ensinamentos por estes alunos nós é gratificante e é um estímulo para continuarmos o nosso trabalho, buscando inovações para que o resultado seja ainda mais satisfatório. E é claro que quando os alunos sentem prazer de participarem de uma aula, nós, como educadores, sentimos o mesmo prazer que o aluno sente ao perceber que está aprendendo, que está sendo capaz de entender e de formar frases.

Quanto ao nosso prazer, isto é, a singularidade do nosso trabalho, está no fato de ser desenvolvido junto a um público tão especial como é o dos alunos da terceira idade, cujo conhecimento da língua e da cultura italiana, inicialmente, é primário. São eles pessoas cuja idade mínima exigida para ingressarem na UnATI é de 60 anos, mas a idade de conhecimento de vida com a qual ingressam é a máxima, assim como é máxima a sede de aprender que elas têm.

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