A SITUAÇÃO OFICIAL BRASILEIRA
DO FILÓLOGO e Do professor de filologia
NO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO

José Pereira da Silva (UERJ)

DESCRIÇÃO DO TRABALHO DA FAMÍLIA DE OCUPAÇÕES
2614: Filólogo, tradutor, lingüista e intérprete
(cf.
www.mtecbo.gov.br)

Inicialmente, a família de ocupações 2614 da CBO-2002 (Classificação Brasileira de Ocupações) era constituída apenas de filólogos, intérpretes e tradutores, na proposta apresentada, mas a discussão levou o grupo ao entendimento de que também os lingüistas devessem fazer parte da mesma família, apesar de não terem sido convidados para aquela etapa de trabalhos em que se discutiram estas definições.

Eis os códigos, títulos e sinônimos de cada uma das ocupações dessa família definidas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO-2002):

2614-05 - Filólogo - Crítico textual, Filólogo dicionarista

2614-10 - Intérprete - Intérprete comercial, Intérprete de comunicação eletrônica, Intérprete de conferência, Tradutor simultâneo

2614-15 - Lingüista - Lexicógrafo, Lexicólogo, Lingüista dicionarista, Vocabularista

2614-20 -Tradutor - Tradutor (exclusive público juramentado), Tradutor de textos eletrônicos, Tradutor de textos escritos, Tradutor público juramentado.

Descrição da família de filólogos,
intérpretes, lingüistas e tradutores

Traduzem, na forma escrita, textos de qualquer natureza, de um idioma para outro, considerando as variáveis culturais, bem como os aspectos terminológicos e estilísticos, tendo em vista um público-alvo específico. Interpretam oralmente, de forma simultânea ou consecutiva, de um idioma para outro, discursos, debates, textos, formas de comunicação eletrônica e linguagem de sinais, respeitando o respectivo contexto e as características culturais das partes. Tratam das características e do desenvolvimento de uma cultura, representados por sua linguagem; fazem a crítica dos textos.

Esta família não compreende a família de professores nas áreas de língua e literatura do ensino superior (código - 2346), mas o filólogo quase sempre tem também a ocupação de professor de filologia e crítica textual (código - 2346-76). E é por isto que esta ocupação vai também descrita neste texto.

Outras famílias de ocupações afins

1) PROFESSORES NAS ÁREAS DE LÍNGUA E LITERATURA DO ENSINO SUPERIOR <http://www.mtecbo.gov.br/busca/?codigo=2346> (2346)

2) PROFISSIONAIS DA ESCRITA <http://www.mtecbo.gov.br/busca/?codigo=2615> (2615)

3) EDITORES <http://www.mtecbo.gov.br/busca/?codigo=2616> (2616)

CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO

Condições gerais de exercício

Os filólogos trabalham de forma individual, predominantemente como empregados.

Formação e experiência

As ocupações da família requerem formações diferenciadas: curso de nível superior completo para Filólogos e Lingüistas e de nível médio ou o diploma de técnico para Tradutores e Intérpretes. O desenvolvimento pleno das atividades demanda experiência superior a cinco anos em toda a família.

ÁREAS DE ATIVIDADES

A- TRADUZIR TEXTOS www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20858&letra=A

B - INTERPRETAR DISCURSOS ORAIS www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20859&letra=B

C - RESGATAR A LÍNGUA COMO EXPRESSÃO DE UMA CULTURA www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20860&letra=C

D - PESQUISAR www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20861&letra=D

E - ELABORAR TEXTOS www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20862&letra=E

F - REALIZAR ATIVIDADES BUROCRÁTICAS www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20863&letra=F

G - EXERCER ATIVIDADES DE ENSINO www.mtecbo.gov.br/busca/mostra_descricao.asp?codigo=20864&letra=G

COMPETÊNCIAS PESSOAIS

1) Manter-se atualizado; 2) Manter a excelência da crítica; 3) Dispor de erudição; 4) Trabalhar em equipe; 5) Demonstrar capacidade de manter sigilo; 6) Demonstrar acuidade auditiva; 7) Estar disponível para deslocamentos a trabalho; 8) Manter a qualidade do trabalho por períodos determinados; 9) Demonstrar fluência verbal; 10) Integrar conhecimentos das ciências humanas; 11) Demonstrar capacidade de aplicar teoria literária; 11) Adaptar o discurso ao público alvo; 12) Coordenar equipes de trabalho; 13) Respeitar a integridade do texto; 14) Demonstrar capacidade de utilizar novas tecnologias; 15) Demonstrar conhecimentos de epigrafia, paleografia, ecdótica, codicologia.

RECURSOS DE TRABALHO

1*) Computador, 2*) Internet, 3*) Livros (Gramáticas descritivas e Manual de redação e estilo) são os recursos mais importantes.

1) Biblioteca de referência; 2) Classificação das línguas; 3) Dicionários etimológicos; 4) Enciclopédias; 5) Estudos sobre o indo-europeu; 6) Geografia geral; 7) Gramáticas históricas; 8) História geral; 9) Impressora; 10) Manuais de filologia; 11) Programas de editoração eletrônica; 12) Scanner; 13) Textos clássicos; 14) Tratados de ecdótica; 15) Tratados de exegese; 16) Tratados de filologia; 17) Tratados de hermenêutica; 18) Tratados de retórica.

FILÓLOGOS PARTICIPANTES DA DESCRIÇÃO

1) Bruno Fregni Bassetto (USP); 2) Evanildo Cavalcante Bechara (UERJ); 3) João Bortolanza (UFMS); 4) José Pereira da Silva (UERJ); 5) Luís Antônio Lindo (USP).

Código internacional deste grupo de ocupações: CIUO 88

Glossário

Códice: conjunto dessas placas, articulado por dobradiças, constituindo uma espécie de livro (Houaiss).

Ecdótica: ciência que busca, por meio de minuciosas regras de hermenêutica e exegese, restituir a forma mais próxima do que seria a redação inicial de um texto, a fim de que se estabeleça a sua edição definitiva; crítica textual (Houaiss).

Epigrafia: ciência que estuda as inscrições lapidares dos monumentos antigos (Aurélio).

Filologia: Estudo da língua em toda a sua amplitude, e dos documentos escritos que servem para documentá-la (Aurélio).

Lingüística: a ciência da linguagem (Aurélio)

Paleografia: qualquer forma antiga de escrita, tanto em documentos como em inscrições (Houaiss).

TABELA DE ATIVIDADES DO FILÓLOGO

A) TRADUZIR TEXTOS

1) Estudar línguas; 2) Interpretar textos para crítica filológica; 3) Compreender textos; 4) Interpretar textos; 5) Promover a comunicação entre diferentes línguas e culturas; 6) Ler textos; 7) Formatar textos; 8) Revisar textos; 9) Cotejar textos; 10) Consultar especialistas; 11) Comparar tradução com original; 12) Descrever textos; 13) Selecionar textos para tradução; 14) Trabalhar com textos antigos.

B) INTERPRETAR DISCURSOS ORAIS

1) Trabalhar em registros lingüísticos diversos; 2) Decodificar novas expressões lingüísticas; 3) Cunhar novos termos; 4) Transcrever gravações em diversas línguas.

C) RESGATAR A LÍNGUA
COMO EXPRESSÃO DE UMA CULTURA

1) Realizar crítica textual; 2) Realizar crítica histórico-literária; 3) Estudar a história das línguas; 4) Comparar línguas; 5) Preparar edições críticas; 6) Verificar a fidedignidade dos textos; 7) Fazer levantamento bibliográfico; 8) Interpretar a obra no seu contexto; 9) Inventariar os textos existentes; 10) Estudar línguas clássicas; 11) Divulgar obras clássicas; 12) Pesquisar as etimologias; 13) Abordar textos sob o ponto de vista da pancronia; 14) Estudar a estrutura interna das línguas; 15) Estudar o contexto histórico das línguas; 16) Fazer a exegese do pormenor; 17) Descrever o tipo de material do documento; 18) Interpretar manuscritos; 19) Realizar crítica autoral.

D) PESQUISAR

1) Pesquisar fontes; 2) Consultar dicionários, outras fontes escritas e orais e meios eletrônicos; 3) Explicitar novas terminologias; 4) Comparar textos de épocas diferentes; 5) Estudar áreas diversas para embasamento teórico.

E) ELABORAR TEXTOS

1) Escrever obras de referência; 2) Fazer fichas sobre os textos; 3) Fazer resenhas ; 4) Elaborar atlas lingüísticos; 5) Editar coletâneas; 6) Elaborar dicionários e glossários; 7) Elaborar gramáticas; 8) Elaborar notas filológicas, ecdóticas e lingüísticas; 9) Organizar coletâneas; 10) Realizar transcrição diplomática; 11) Realizar transliteração de textos; 12) Realizar transcrição diplomático-interpretativa; 13) Traduzir documentos

F) REALIZAR ATIVIDADES BUROCRÁTICAS

1) Planejar o tempo de trabalho

G) EXERCER ATIVIDADES DE ENSINO

1) Preparar aulas; 2) Ministrar aulas; 3) Fazer cursos de aperfeiçoamento; 4) Orientar alunos; 5) Planejar eventos acadêmicos e profissionais; 6) Realizar eventos acadêmicos e profissionais.

Z) DEMONSTRAR COMPETÊNCIAS PESSOAIS

1) Manter-se atualizado; 2) Manter a excelência da crítica; 3) Dispor de erudição; 4) Trabalhar em equipe; 5) Demonstrar fluência verbal; 6) Integrar conhecimentos das ciências humanas; 7) Demonstrar capacidade de aplicar teoria literária; 8) Adaptar o discurso ao público alvo; 9) Demonstrar conhecimentos de epigrafia, paleografia, ecdótica, códice; 10) Coordenar equipes de trabalho; 11) Respeitar a integridade do texto; 12) Demonstrar capacidade de utilizar novas tecnologias.

Como Professor de Filologia e Crítica Textual,
o filólogo deverá demonstrar competência em:

1) Dominar os fundamentos hitórico-teórico-metodológicos da área; 2) Demonstrar capacidade de reflexão; 3) Relacionar teoria e prática; 4) Demonstrar capacidade de análise e síntese; 5) Articular conhecimento de diferentes áreas; 6) Estimular senso crítico dos alunos; 7) Demonstrar capacidade de transmitir conhecimentos científicos, com clareza; 8) Analisar a interrelação entre formas verbais e não-verbais de linguagem; 9) Relacionar conhecimentos específicos da área a questões sócio-culturais; 10) Demonstrar capacidade de interagir com os alunos; 11) Trabalhar em equipe; 12) Demonstrar domínio instrumental de língua estrangeira

13) Atualizar-se na carreira acadêmica; 14) Demonstrar capacidade de liderança

15) Proceder com ética nas relações interpessoais e profissionais.

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Apesar de serem ocupações diferenciadas na Classificação Brasileira de Ocupações, o filólogo também pode ser e quase sempre é Professor de filologia e crítica textual (Professor de crítica textual, Professor de filologia, Professor de filologia germânica, Professor de filologia portuguesa, Professor de filologia românica, Professor de lingüística românica), cujo código na CBO 2002 é 2346-76 e em cuja descrição participou o organizador deste texto, na qualidade de professor de filologia e crítica textual.

A ocupação de Professor de Filologia e Crítica Textual está na família 2346, de Professores nas áreas de língua e literatura do Ensino Superior.

As atividades do Professor de Filologia e Crítica Textual se encontram nas seguintes áreas:

a) Ministrar aulas, cursos, seminários;

b) Realizar pesquisas;

c) Orientar alunos;

d) Realizar atividades de avaliação;

e) Realizar atividades de qualificação profissional;

f) Realizar atividades pedagógico-administrativas;

g) Organizar a produção do conhecimento na área;

h) Divulgar conhecimentos científicos.

A) MINISTRAR AULAS, CURSOS, SEMINÁRIOS

1) Promover estudos inter e transdisciplinares; 2) Promover estudos sobre interrelações de diferentes linguagens.

B) REALIZAR PESQUISAS

1) Pesquisar o uso de novas tecnologias de apoio para a área; 2) Analisar princípios metodológicos da área.

C) ORIENTAR ALUNOS

1) Dar atendimento individual aos alunos; 2) Orientar trabalhos de conclusão de curso - TCC; 3) Orientar trabalhos de monitoria; 4) Orientar trabalhos de iniciação científica; 5) Orientar trabalhos de especialização; 6) Orientar dissertações de mestrado; 7) Orientar teses de doutorado; 8) Indicar bibliografia; 9) Supervisionar estágios; 10) Orientar alunos na apresentação de trabalhos.

D) REALIZAR ATIVIDADES DE AVALIAÇÃO

1) Avaliar as necessidades dos alunos; 2) Estabelecer critérios de avaliação; 3) Preparar instrumentos de avaliação; 4) Avaliar o desenvolvimento de alunos no curso; 5) Avaliar a produção escrita de alunos; 6) Avaliar a leitura e compreensão de textos orais e escritos; 7) Discutir resultados da produção discente; 8) Avaliar grade curricular; 9) Avaliar o projeto pedagógico do curso; 10) Avaliar atividades de ensino, pesquisa e extensão; 11) Realizar auto-avaliação; 12) Participar de bancas examinadoras (TCC, ME, DO etc.); 13) Participar de júri de premiação acadêmica e científica; 14) Participar de júri de premiação cultural.

E) REALIZAR ATIVIDADES
DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

1) Freqüentar cursos de especialização, aperfeiçoamento, extensão etc.; 2) Elaborar dissertação de mestrado; 3) Elaborar tese de doutorado; 4) Desenvolver atividades de pós-doutorado; 5) Participar de eventos acadêmicos, científicos e culturais, nacionais e internacionais; 6) Realizar discussões teórico-metodológicas; 7) Participar de intercâmbios científicos e culturais, nacionais e internacionais; 8) Estudar novas tecnologias de apoio à pesquisa; 9) Estudar novas tecnologias de apoio ao ensino; 10) Participar de discussões sobre a área, pela Internet.

F) REALIZAR ATIVIDADES
PEDAGÓGICO-ADMINISTRATIVAS

1) Estruturar projetos pedagógicos na área; 2) Discutir propostas curriculares; 3) Planejar e implementar grades curriculares; 4) Preparar programas de cursos; 5) Distribuir disciplinas; 6) Organizar horários, cronogramas, etc.; 7) Exercer cargos de chefia, direção, supervisão e coordenação; 8) Representar os pares em comissões externas à instituição; 9) Participar de colegiados; 11) Participar da organização de bancas examinadoras; 12) Atualizar acervo bibliográfico da área na instituição; 13) Planejar orçamento; 14) Sugerir compra de materiais para laboratório de língua, informática, etc; 15) Participar da elaboração de propostas curriculares; 16) Elaborar e implementar projetos de extensão.

G) ORGANIZAR
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ÁREA

1) Realizar atividades de editoração; 2) Traduzir textos; 3) Organizar e editar publicações científicas; 4) Organizar edições didáticas de obras literárias; 5) Elaborar glossários; 6) Elaborar dicionários; 7) Organizar antologias; 8) Elaborar notas e resenhas sobre livros; 9) Escrever prefácio, posfácios, introduções, orelhas e quartas capas; 10) Elaborar críticas literárias; 11) Escrever verbetes; 12) Organizar edições diplomáticas; 13) Organizar atlas lingüísticos.

H) DIVULGAR CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS

1) Organizar eventos científicos e culturais; 2) Promover intercâmbios científicos e culturais; 3) Realizar palestras, conferências, etc; 4) Disponibilizar conhecimentos didático-pedagógicos, via meios impressos, eletrônicos e digitais; 5) Disponibilizar a produção científica, via meios impressos, eletrônicos e digitais; 6) Divulgar a produção discente; 7) Promover cursos de extensão para empresas, sindicatos, ONGS etc.; 8) Publicar traduções de textos.

CONCLUSÃO

O conhecimento da regulamentação oficial da ocupação do filólogo e professor de filologia é de extrema importância para o reconhecimento de suas atividades e para melhor se reconhecerem os pontos em que ele é importante para o desenvolvimento cultural, científico e tecnológico do País.

Para que a ocupação de filólogo seja mais valorizada, é importante que todos os que desenvolvem suas atividades profissionais nelas, aproveitem a oportunidade de reafirmar anualmente a sua produção ao declararem seu imposto de renda, informando o código de sua profissão na Receita Federal., que é 264.

Nosso próximo passo, agora, deverá ser a inclusão da Filologia entre as subáreas de conhecimento na tabela do CNPq para que todos possamos declarar nossas produções da forma mais precisa possível.