VIABILIDADE DO ESPERANTO
DO
PONTO DE VISTA DA LINGÜÍSTICA

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

 

INTRODUÇÃO

O Esperanto é uma língua que foi planejada no final do século XIX com o objetivo de servir como segunda língua entre os usuários das diversas línguas existentes no mundo. Naquela época se sentia a necessidade de uma língua que resolvesse, ou ao menos atenuasse, as dificuldades causadas pelas barreiras lingüísticas.

Durante a vigência do Império Romano e mesmo muitos séculos depois de seu desaparecimento, o latim desempenhou de alguma forma o papel de língua internacional, principalmente nas chancelarias e tabelionatos do Ocidente. Ainda hoje é a língua oficial da Igreja Católica, porém devido à efervescência política e à importância crescente do comércio exterior, assim como à elevação da burguesia e do proletariado às lideranças políticas e econômicas, não se aconselha a adoção do latim por ser uma língua complexa, portanto de difícil e demorada aprendizagem.

Assim, o problema da língua internacional preocupava as elites, suscitando diversos projetos de solução, porém nenhum deles totalmente satisfatório. Descartado o latim, ficava a opção que parecia mais lógica: a adoção de uma das grandes línguas nacionais. Ocorre que a adoção de uma língua pertencente a um país ou a uma comunidade lingüística, confere a seus nativos uma superioridade cultural sobre as demais comunidades, além de todas elas serem difíceis de aprender, mesmo imperfeitamente, pelos falantes das demais línguas, visto as irregularidades e idiotismos de que todas estão permeadas.

Ficava então a opção de criar uma língua ad hoc, que não tivesse “proprietários para não ferir sensibilidades e que fosse mais fácil de aprender do que as línguas das comunidades existentes. As tentativas de criar as denominadas “línguas universais” foram diversas, a maior parte das quais nem chegaram a ser divulgadas, não passando de projetos com visões diferentes do que poderia ser uma língua universal. Tudo o que se refere a línguas universais é objeto de estudo da Interlingüística.

Numa época e num meio por demais agitados por mudanças e novidades, apareceu, em 1897, o Esperanto, que logo se divulgou e foi a única língua internacional que permaneceu, suscitando polêmicas apaixonadas, que até hoje não deixaram de existir. Na atualidade, apesar dos enormes avanços científicos e tecnológicos, o problema da diversidade lingüística perdura, e continua freando o relacionamento humano. O inglês é a língua predominante no comércio internacional e na internet, mas não é a única. A percentagem dos não-nativos que conseguem dominar esta língua é muito pequena. Outras línguas, inclusive o Esperanto, vêm aumentando sua participação principalmente na internet.

Na segunda metade do século XX, refazendo-se das duas terríveis guerras mundiais, a tão decantada paz ainda não reina no universo, pois as guerras continuam em diversas regiões e repercutem imediatamente em todo o mundo, no entanto, a globalização é um fato consumado. Nenhuma região do mundo, por importante que seja, pode prescindir de contatos, ao menos comerciais, com o resto do mundo, o que significa que a comunicação rápida é indispensável. E comunicação humana pressupõe língua humana.

Uma tendência dos tempos modernos é a agrupação de países em blocos cada vez mais amplos, com finalidades comerciais ou de defesa. Muitos desses blocos incluem países de línguas diferentes, o que ocasiona, mesmo para os delegados ou representantes que participam das indispensáveis reuniões, problemas de tradução oral, ou ao menos escrita, pois poucos são os que conseguem expressar-se em outras línguas.

O organismo internacional constituído por mais países é a ONU (Organização das Nações Unidas). Mesmo elegendo apenas algumas línguas para suas sessões de trabalho, a despesa com tradução em todas as línguas ali representadas é enorme. O mesmo ocorre com outras entidades internacionais. A UE (União Européia) vai ampliar para 25 o número de seus países membros, quase todos com língua própria. Até agora, com 15 membros, os problemas de tradução se fazem sentir no terreno político-administrativo e financeiro, porém agravar-se-ão a partir de 2004, quando se incorporem mais 10 membros.

Para atenuar o problema da comunicação entre as diversas línguas, várias propostas e sugestões vêm sendo oferecidas, entre elas a de uma língua-ponte para a qual seriam traduzidos os documentos produzidos em qualquer língua ali representada e dali retraduzidos para as demais línguas da União Européia. Esta língua-ponte seria o Esperanto, devido a sua simplicidade e facilidade de aprendizagem.

Do ponto de vista lingüístico, nãoqualquer impedimento para o uso dessa língua, pois além de sua estrutura simples e lógica, tem mais de um século de existência e seu uso oral ou escrito nas mais diversas situações lingüísticas não deixa lugar a dúvida quanto à sua viabilidade, máxime quando está sendo usada intensamente na internet. Vejamos, a seguir, em linhas muito gerais a sua estrutura.

 

ESTRUTURA DO ESPERANTO

Como as demais línguas humanas modernas, o Esperanto é uma língua oral e escrita, cujas unidades significativas se compõem de fonemas, morfemas e lexemas que podem ser representados na escrita por meio de grafemas, como nas demais línguas humanas não ágrafas. A diferença entre uma língua planejada, como é o Esperanto, e as chamadas línguas naturais é que estas se formaram e se desenvolveram ao sabor de influências e fatores diversos em suas comunidades de falantes nativos, o que fez com que adquirissem inúmeras irregularidades que podem nem ser percebidas pelos nativos, mas que se tornam escolhos difíceis de serem superados pelos falantes de outras comunidades lingüísticas.

O Esperanto não é, como alguns erroneamente têm sustentado, uma língua artificial, pois possui os mesmos elementos das demais, porém organizados e classificados com lógica para serem aprendidos com segurança e facilidade. O número de radicais é bem menor do que nas demais línguas porque o Esperanto dispõe de desinências, afixos e outros elementos mórficos, que permitem diversas variantes de significado ao ser acrescentados a radicais.

 

Fonética

Vogais: somente cinco vogais orais: a, e, i, o, u. Toda vogal corresponde a uma sílaba. (A penúltima sílaba é sempre a tônica, o que dispensa o uso de acentos).

Semivogais: j [i], ŭ [u]. Exemplos: viroj [´viroi] (homens), kaŭzoj [´kauzoi] (causas), garantioj [garan´tioi] (garantias).

Consoantes: Todas as consoantes possuem uma pronúncia.

 

Classes de palavras

O substantivo é marcado com a desinência –o: papero, lumo, amiko (papel, luz, amigo).

O adjetivo indica-se com a desinência –a: blanka, bela, alta (branco, a; belo, a; alto, a).

O advérbio indica-se pelo –e: alte, bele, klare (altamente, belamente, claramente).

 

Verbos

Os verbos são sempre regulares e dispõem apenas de desinências modo-temporais; -i (infinitivo), -as (presente), -is (passado), -os (futuro), -us (condicional, futuro do pretérito), -u (volitivo, imperativo). O número e a pessoa são indicados pelo pronome pessoal.

Ami (amar), kanti (cantar), vendi (vender), dormi (dormir)

Mi kantas, vi kantas, ni kantas (eu canto, tu cantas ou você canta, nóscantamos).

Li amis, mi amis, ni amis (ele amou, ele amava, ele amara; eu amei, eu amava, eu amara; nós amamos, nós amávamos, nós amáramos).

Ŝi parolos, vi parolos, ili parolos (ela falará, tu falarás ou você falará; eles ou elas falarão)

Mi pensus, li pensus, ni pensus (eu pensaria, ele pensaria, nós pensaríamos).

Venu vi, venu ŝi, venu.ili (vem tu ou venha você; venha ela; venham eles, elas, as coisas).

 

Morfologia

Número. O plural dos nomes (substantivos e adjetivos) é indicado pela desinência –j [i]: libro – libroj; (livro livros); la bela domo – la belaj domoj (a bela casa – as belas casas).(O artigo la (o, a, os, as) é invariável).

Gênero. No gênero, se indica o feminino quando é necessário. É marcado com o sufixoin-. Exemplos: viro (homem), virino (mulher); bovo (boi), bovino (vaca). Não se indica gênero nos demais casos: tablo (mesa), domo malgranda (casa pequena), la arbo alta (a árvore alta).

 

Sintaxe

A sintaxe não tem complicações porque a ordem vocabular é muito livre. Por exemplo, uma sentença como: Li vizitas amikon (Ele visita um amigo), não altera o significado em qualquer ordem: Amikon visitas li; Vizitas li amikon, Vizitas amikon li, Li amikon vizitas. A marcação do objeto direto elimina a possível ambigüidade da ordem vocabular.

O Esperanto dispõe de elementos mórficos com significados específicos que podem ser adicionados a um radical, mesmo que não se conheça seu uso anterior na língua. Por exemplo, patro (pai), patra (paterno, paterna, paternal), patre (paternalmente).

Os afixos permitem expressar nuanças ou variedades de significado: alveni (chegar) forma-se com o infinitivo veni (vir) e a preposição al (para, em direção a); malsano (doença) forma-se com o prefixo mal- (oposição, contrário a) e o substantivo sano (saúde), dometo (casa pequena) forma-se com o radical domo (casa) e o sufixoet-, seguido da desinência de substantivo -o.

 

Formação de palavras

Composição. A composição é um processo formador de palavras de que o Esperanto faz grande uso, o que lhe muita flexibilidade e transparência. Exemplos: fero (ferro) e vojo (caminho) formam fervojo (caminho de ferro); okulo (olho) e vitroj (vidros) forma okulvitroj (óculos), e assim por diante. As línguas naturais podem usar esses recursos, mas sem a regularidade do Esperanto. Além disso, nessas línguas, esses processos lexicais estão geralmente fechados, enquanto no Esperanto permanecem em aberto, não importa que não se conheçam na tradição da língua. Qualquer usuário pode fazer uso deles, respeitando apenas suas 16 regras gramaticais.

Existem outros morfemas para indicar funções ou nuanças necessárias à comunicação lingüística que, por falta de espaço, não podemos analisar aqui, porém fica claro que o Esperanto é uma língua tão natural como qualquer outra, embora, muitas vezes, venham a público opiniões que traduzem o desconhecimento do que seja artificialidade.

 

OPINIÕES PRÓ E CONTRA O ESPERANTO

Em matéria lingüística muita gente gosta de opinar, mesmo aqueles que têm pouco conhecimento das Ciências da Linguagem. Baseiam-se no gosto pessoal ou em informações deturpadas. Entre os muitos projetos de línguas universais ou interlínguas, o Esperanto foi o único que provou sua eficiência logo depois do seu lançamento, há mais de um século. Nas primeiras décadas do século XX, o Esperanto teve entusiastas divulgadores assim como críticos que usaram os mais diversos argumentos para combatê-lo. Inicialmente foi muito divulgado na Rússia porque permitia aos proletários comunicar-se com seus colegas dos outros países a respeito da luta de classes que pretendia ter amplitude universal. O volume de correspondência pessoal foi muito grande, devido à facilidade da língua. Este volume de correspondência, que inicialmente mereceu o apoio dos dirigentes, foi mais tarde visto por alguns como um perigo porque permitia o acesso à comunicação a pessoas de todas as classes, o que por diversas ocasiões, não agradava aos lideres, que passaram a combatê-lo por diversos meios, chegando à perseguição, deportação e até a eliminação de esperantistas, dependendo da cor política que se lhe atribuía à língua. Na Rússia houve marchas e contramarchas a respeito do Esperanto, às vezes sendo considerado como língua que favorecia aos burgueses, tidos como reacionários. na Alemanha nazista, o Esperanto era tido como língua de judeus porque seu autor era dessa origem. Mas não ditadores se insurgiram por vezes contra o Esperanto. Até alguns lingüistas, mas principalmente pseudolingüistas, usaram argumentos lingüísticos pouco consistentes para opor-se a esta língua internacional.

Entre os diversos argumentos que se têm esgrimido contra o Esperanto, encontra-se o de sua artificialidade, o da falta de uma cultura própria das línguas étnicas, o de não servir para a poesia, etc. Alguns detratores por vezes chegam à agressividade direta ou usam do sarcasmo e da ironia.

Quanto ao argumento de artificialidade, ficou evidente que não se justifica. As línguas humanas compõem-se dos mesmos elementos: fonemas organizados para compor signos lingüísticos, geralmente arbitrários, representados graficamente, também de forma convencional, uso de imagens como metáforas, metonímia e muitas outras, que também se hajam presentes no Esperanto, etc. Às vezes alega-se que as línguas chamadas naturais não foram criadas por uma pessoa ou entidade humana, mas elas se derivaram de outras e evoluíram sem a interferência intencional de ninguém. Isso é verdade, mas nada impede que se organize qualquer outra língua com o material lingüístico disponível e que pode ser organizado de forma mais racional. No caso do Esperanto, seu autor utilizou elementos das várias línguas que conhecia e selecionou-os visando à maior simplicidade e coerência. Embora Zamenhof não fosse um lingüista de direito, não cabe dúvida que o era de fato, como fica bem evidenciado não pela criação da língua como por sua contribuição lingüística e literária.

Outra alegação que às vezes se faz é que por não ser uma língua étnica não possui uma tradição literária e por isso serviria para funcionar como um código porque lhe falta vida, pois houve um período na lingüística Histórico-Comparativa em que as línguas eram consideradas organismos vivos, seguindo a teoria darwinista das Ciências Naturais. Mais tarde, com o advento do Estruturalismo, as línguas passaram a considerar-se instrumentos sociais. A vida de que dispõe uma língua é a que lhe confere a comunidade que a usa. Essa comunidade é quem a altera e quem a enriquece com o material oral ou escrito que lhe aporta. No caso do Esperanto, por ser uma língua de criação recente, não disporia de patrimônio semelhante ao de suas concorrentes. Acontece, porém, que a finalidade de uma interlíngua ou língua universal não é a de ser concorrente com as demais e sim de servir de ponte para as línguas do mundo, pelo que sua função é a de intermediária de todas as demais. É claro que nada impede que tenha sua própria literatura, pois desde a sua origem até hoje, além do acervo traduzido das mais diversas línguas, possui vasta literatura original nos gêneros mais diversos, que está à disposição de todas as culturas, até mesmo porque existem pessoas cuja língua nativa é o Esperanto. Além disso, a finalidade principal é servir de intermediária de outras culturas, ajudando a preservar as línguas minoritárias e suas culturas. Os esperantistas de todo o mundo têm a sua disposição cultura e literatura de línguas praticamente desconhecidas fora de sua pequena comunidade.

Outra alegação freqüente é sua relativa estagnação. Não falta quem diga que o Esperanto fracassou ou até que é uma língua morta. Claro que nas primeiras décadas do século XX, expandiu-se rapidamente, chegando a parecer que logo seria realmente uma segunda língua no mundo todo ou em grande parte dele. Não foi o que aconteceu por avatares políticos e fatores outros que restringiram seu uso, porém a língua nunca deixou de ser cultivada, em alguns países com mais ou menos intensidade do que em outros, dependendo de fatores geralmente extralingüísticos. Haja vista as instituições esperantistas internacionais que se mantêm atuantes e a quantidade de periódicos e publicações diversas que se produzem, somando-se recentemente as atividades virtuais através da internet. Além disso, os Congressos universais de Esperanto, organizados pela UEA (Associação Universal de Esperanto) vêm-se realizando anualmente desde 1905, em países diferentes, com uma média aproximada de 2000 participantes. Também ocorrem eventos nacionais e regionais de diversos níveis, que testemunham a vitalidade da língua.

 

O ESPERANTO: PRESENTE E FUTURO

Da mesma maneira que houve detratores, tampouco têm faltado adeptos entusiastas, tanto entre os que militam nas Ciências da Linguagem como entre os que aderem à língua por sua simplicidade e harmonia. Passado o período das paixões pró e contra, parece chegada a hora de reflexão quanto à sua utilidade ou necessidade nas cada vez mais rápidas e complexas relações internacionais. Haja vista a facilidade com que podemos comunicar-nos com qualquer rincão do planeta com os recursos propiciados pela Ciência e pela Tecnologia, mas que, pelo geral, esbarram na diversidade lingüística. Alega-se que o inglês vem exercendo a função da comunicação internacional, mas não qualquer acordo internacional que o qualifique ou o autorize a isso. O número de falantes nativos do inglês é de cerca de 10% da população mundial e sua aquisição como segunda língua é difícil e custosa. Apesar do enorme investimento que se faz em muitos países para a aprendizagem do inglês, os resultados não são animadores. Poucos são os que chegam a dominá-lo a menos que morem durante um longo período de tempo em algum país de fala inglesa, mesmo assim dificilmente se confundirão com os nativos. Muitos acidentes aéreos ocorreram por causa da não compreensão pelos pilotos de outras de outras línguas de ordens que recebem em inglês.

Estudos recentes demonstram que muitos dos desastres da aviação civil internacional se deveram simplesmente a dificuldades de comunicação entre pilotos e torres de controle de vôo. Dentre as causas dessas dificuldades, a obsolescência dos sistemas de rádio ainda em uso, o excesso de tráfego em alguns aeroportos e a barreira das línguas. Este último fator contribui com 11% dos acidentes fatais segundo um estudo da Boeing... (PIRON, 2002: 281)

O Esperanto vem sendo novamente cogitado como possível solução para o cada vez mais complexo problema de comunicação nos foros internacionais e até para substituir o latim como língua da Igreja Católica:

existem sinais de que a Igreja está pronta a aceitar o esperanto. Eu quero mencionar somente alguns: Emissões em esperanto da Rádio do Vaticano, aprovação dos textos litúrgicos nessa língua, saudações do Santo Padre em esperanto, reconhecimento da União Internacional Católica Esperantista por parte do Pontifício Conselho para os Leigos, entre outros.

As vantagens do esperanto e os serviços que essa língua poderia prestar à Igreja são agora apresentados neste livro de Ulrich Matthias. Eu espero que suas traduções em diversas línguas nacionais ajudem a que mais e mais pessoas reconheçam o valor e a utilidade de esperanto para entendimento de todo o mundo.[1]

Até aqui o problema tentou-se resolver com a adoção de algumas línguas como línguas de trabalho. A ONU começou com quatro línguas: francês, inglês, russo e chinês, acrescentando-se depois o espanhol e, finalmente, o árabe. Os custos relacionados com tradução são altíssimos com somente essas línguas. Outras entidades internacionais defrontam-se com problemas semelhantes. O Fórum Social Mundial em 2001, em Porto Alegre adotou quatro línguas de trabalho (português, espanhol, francês e inglês), mas no ano seguinte, em Florença foram oito línguas e a demanda por outras continua. Talvez a entidade que tenha mais problemas devido à diferença lingüística seja a União Européia. Constituída por 15 países com 11 línguas, consome uma grande parte de seu orçamento em traduções e edições para tantas línguas, mas logo se somarão outros dez países, todos com língua própria, o que dificultará ainda mais a comunicação entre todos os países membros.

Os defensores do esperanto como língua universal e como principal segunda língua vêem cada vez mais uma chance de que a União venha a usar essa língua como língua de trabalho. Diante da perspectiva de uma União ampliada para, talvez, 30 países, torna-se por fim cada vez mais grave o problema das línguas oficiais e línguas de trabalho.

O esperanto é uma língua que pode ser aprendida com relativa rapidez.

A experiência mostra, além disso, que crianças que aprendem o esperanto são mais adiantadas que as outras crianças da mesma idade no desenvolvimento geral e, sobretudo, no aprendizado de línguas estrangeiras.

Será que a Comissão consideraria adequado desenvolver projetos experimentais sobre o esperanto (por exemplo, o projeto Funda-Pax realizado em colaboração com a UNESCO) nos Estados-Membros da União, para ao final fazer uma avaliação profunda e detalhada? (MATTHIAS, 2003: 70).

Propostas. Tanto a ONU quanto outros organismos internacionais têm recebido fundamentadas propostas para o uso de uma língua neutra que facilite a comunicação sem que nenhum membro seja privilegiado. Embora a idéia sempre encontre simpatizantes, fatores políticos impediram até agora sua adoção, apesar de a UNESCO ter recomendado o seu estudo aos países membros. O Parlamento Europeu realizou em junho de 2003 um simpósio para tratar do estabelecimento de uma política para o multilingüísmo na União Européia. Foram estabelecidos alguns princípios gerais sobre o problema, porém não se decidiu pela eleição de qualquer língua. Ao que parece, haverá outros debates antes da incorporação dos novos países membros. Uma proposta apresentada foi a de que os textos de todas as línguas da EU sejam traduzidos ao Esperanto e depois retraduzidos para as demais línguas, sempre por tradutores nativos. Os tradutores teriam que aprender Esperanto e saber a sua própria língua. Não teriam necessidade de conhecer as demais línguas.

Está-se intensificado o uso do Esperanto na internet e na mídia em geral. Importantes publicações internacionais como The Guardian e Newsweek publicaram recentemente matérias favoráveis ao Esperanto.

 

CONCLUSÃO

Como vimos, o Esperanto é uma língua humana, criada para facilitar a comunicação entre usuários de línguas diversas. Na sua constituição não se diferencia das demais línguas, pelo que pode ser aprendida pelos nativos de qualquer outra língua. É uma língua planejada para sua fácil aprendizagem, o que vem sendo demonstrado nos mais diversos países ao longo de sua existência. Os argumentos apresentados contra o uso do Esperanto como língua auxiliar internacional têm sido quase sempre políticos, sem qualquer pesquisa lingüística séria. Alguns têm opinado que seria a língua ideal para a comunicação internacional, mas que era uma utopia, visto que contrariava interesses porque se temia que substituísse ou diminuísse o prestígio das línguas existentes, aureoladas por sua história, tradições e literatura, porém não há o propósito de concorrer com as línguas nacionais e sim de servir como ponte nas comunicações internacionais em nada contrariando a importância das demais línguas.

Cada dia torna-se mais premente a necessidade de comunicar-se, pois a “aldeia global não mais suporta a diversidade lingüística e a solução mais viável é a adoção de uma língua comum simples e lógica, mas que não seja apenas um código para algum uso científico e sim uma língua que permita expor os complexos pensamentos e sentimentos do ser humano. Essa língua não precisa ser criada porque está disponível em todas as suas modalidades, experimentada e aprovada para seu uso imediato, pois é praticada diariamente desde mais de um século em todo o mundo. Essa língua é o Esperanto.

 

BIBLIOGRAFIA

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CHAVES, Sylla. Por um mundo melhor: Através da poesia e do esperanto. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1970.

LINS, Ulrich. La danĝera lingvo. 2ª ed. Rotterdam: Universala Esperanto-Asocio, 1990.

LYONS, John, Linguagem e lingüística: Uma introdução. Trad. Marilda Winkler Averbug. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

MATTHIAS, Ulrich. Esperanto: O novo latim da igreja e do ecumenismo. Trad. Ismael Mattos Andrade Ávila. Campinas: Pontes; Sorocaba: BEKO, 2003

NEWNHAM, David. A begginers guide to Esperanto. The Guardian, 12/07/2003

PASSINI, José. Bilingüismo: Utopia ou antibabel? 2ª ed. Campinas: Pontes, 1995.

PIRON, Claude. O desafio das línguas: Da má gestão ao bom senso. Trad. Ismael Mattos de Andrade Ávila. Campinas: Pontes; Brasília: BEL, 2002

ROBINS, R.H. Lingüística geral. 2ª ed. Trad. Elizabeth Corbetta da Cunha et alii. Porto Alegre-Rio de Janeiro: Globo, 1981.

RODRÍGUEZ, Alfredo Maceira. Esperanto hoje. In: Caderno Seminal (6): 11-25, Rio de Janeiro: UERJ, 1998.

SALLES J[air]. Esperanto conversacional. Curso básico. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cooperativa Cultural dos Esperantistas, 1996.

SARTORATO, Aloísio. Esperanto para principiantes. Curso básico. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1997.


 

[1] Dr. György Jakubinyi, Arcebispo de Alba Iulia, Romênia (MATTHIAS, 2003: 10)..