VOZES E SUBJETIVIDADES EM CONTRAPONTO:
PAULO HONÓRIO E SARGENTO GETÚLIO

Fátima Cristina Dias Rocha (UERJ)

Os romances São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos, e Sargento Getúlio (1971), de João Ubaldo Ribeiro, colocam em cena personagens caracterizados pela agressividade de temperamento, de conduta e de linguagem: Paulo Honório e Getúlio, respectivamente.

Escritos na primeira pessoa, os dois romances apresentam-se como relatos ásperos de homens que se fizeram na violência e na crueldade. Constituindo duas distintas “leituras da aspereza”, tais narrativas incitam-nos a abordá-las sob um viés que evidencie tanto seus traços convergentes quanto os aspectos que as distinguem - viés que destacará a complementaridade das vozes encenadas por Graciliano Ramos e João Ubaldo Ribeiro.

Segundo livro de Graciliano Ramos, publicado em pleno surto nordestino, São Bernardo dá continuidade ao projeto ficcional que já se esboçara em Caetés, romance de estréia do autor alagoano, no qual o cuidado da escrita e o equilíbrio do plano contrastavam com os livros talentosos e algo apressados de então. Com São Bernardo, Graciliano Ramos torna mais incisivo o corte crítico na estética neonaturalista de Trinta, marcada pela verbosidade e pela obsessão fotográfica e documental. Acompanhando a natureza do protagonista, tudo em São Bernardo é seco, bruto e cortante; obtendo o efeito máximo com o mínimo de recursos, São Bernardo mostra-se como romance ímpar, pois talvez não haja em nossa literatura outro livro tão reduzido ao essencial, capaz de exprimir tanta coisa com tão rara economia de meios.

Sargento Getúlio também é o segundo romance de João Ubaldo Ribeiro, acrescentando à forte conotação política e à experimentação formal do primeiro livro do autor (Setembro não tem sentido, de 1968) a matéria regional, à qual o escritor confere um tratamento singular: ao mesmo tempo que retoma a tradição do romance regionalista de visada crítica, aproxima-se da “escritura” de Guimarães Rosa e de sua “invenção mitopoética”. Sem esquecer que Sargento Getúlio ainda pode ser lido como uma espécie de reescritura de Os sertões.

Ressaltada a feição original de cada uma das obras, vamos desenhar o perfil e o percurso de seus protagonistas.

Paulo Honório, filho de pais incógnitos, “rolou por aí à toa” (Ramos, 1981: 12): foi guia de cego, negociou miudezas, sofreu sede e fome, efetuou transações comerciais de armas engatilhadas. Graças à tenacidade infatigável com que manobrou a vida, pisando escrúpulos e visando ao alvo por todos os meios - assassinato de vizinhos incômodos, corrupção de funcionários e jornalistas, brutalização dos subordinados --, eleva-se a grande fazendeiro, assenhoreando-se da propriedade onde fora trabalhador de enxada, e que dá nome ao livro. Aos quarenta e cinco anos casa-se com Madalena, cuja bondade humanitária ameaça a hierarquia fundamental da propriedade e o egoísmo implacável com que foi possível obtê-la. Percebendo a fraternidade da mulher - que participa da vida dos trabalhadores da fazenda, para ele simples autômatos - , Paulo Honório reage contra a dissolução sutil de sua dureza. Tiraniza-a sob a forma de um ciúme agressivo e degradante; Madalena se suicida, cansada de lutar, deixando-o só e, tarde demais, consciente. Corroído pelo sentimento de frustração, decide contar num livro a sua história, e, ao escrever, sente a inutilidade de sua vida, orientada exclusivamente para as coisas exteriores.

Quanto ao Sargento Getúlio, sua origem é semelhante à de Paulo Honório. Embora Getúlio não se refira com maiores detalhes à infância, vivida no sertão de Sergipe, algumas de suas palavras permitem-nos identificar a miséria de sua condição:

Mas se eu não sou um homem despachado ainda estava lá no sertão sem nome, mastigando semente de mucunã, magro como o filho do cão, dois trastes como possuídos, uma ruma de filhos, um tico de comida por semana e um cavalo mofino para buscar as tresmalhadas de qualquer dono (RIBEIRO, 1982: 14).

Escapando do sertão, ao chegar a Aracaju Getúlio foi engraxate e só depois “botou farda”. Ocupando o posto de Sargento da Polícia Militar - na prática, um “valentão a soldo” do Coronel Acrísio Antunes - , Getúlio vê a condição de sargento e de “capanga” do chefe político Acrísio Antunes como uma saída para a situação de penúria em que sempre vivera: adota como padrões de conduta a violência e a obediência cega às ordens do chefe, tomando-o, inclusive, como modelo de comportamento. Assim, Getúlio não hesita quando recebe ordens para conduzir um preso - um “comunista” - do interior do estado do Sergipe para a capital.

O relato de Getúlio acompanha essa viagem, que o Sargento vai pontuando com a descrição de suas façanhas e atrocidades. No meio do trajeto, chegam notícias de que o chefe ordenara interromper o percurso, pois a política havia mudado. Getúlio, entretanto, vê-se confuso e inseguro quanto à decisão a tomar - uma vez que, nos estreitos limites de sua autoconsciência, as novas ordens só teriam validade se dadas diretamente pelo chefe político. O Sargento acaba por prosseguir a viagem, tomando atitudes que o distanciam cada vez mais da esfera de proteção do chefe político: além de extrair quatro dentes do prisioneiro com um alicate enferrujado, degola um tenente que viera retirar o preso de suas mãos. Conscientizando-se da precariedade de sua condição, Getúlio decide levar o preso a qualquer custo, escolhendo a rebeldia e a auto-afirmação através da valentia e do sentimento de onipotência:

Eu levo esse lixo de qualquer jeito, chego lá e entrego. (...) Quero ver esse bom em Aracaju que me diz que eu não posso, porque eu sou Getúlio Santos Bezerra e igual a mim ainda não nasceu (RIBEIRO, 1982: 84).

Defendendo a autonomia que acabara de conquistar, o Sargento Getúlio enfrenta, sozinho - resistindo até a morte - o cerco que lhe fazem os soldados do governo.

Os perfis que acabamos de desenhar revelam-nos dois personagens que, oriundos da chamada “plebe rural brasileira”, superam as condições adversas de sua origem. Seus percursos são distintos - e vale lembrar que a trajetória de Paulo Honório se inscreve no quadro das transformações históricas e econômicas ocorridas a partir das últimas décadas do século XIX, transformações que levaram à ruína as grandes propriedades do passado, que se transferiram para as mãos de uma outra classe social. Quanto à ocupação do Sargento Getúlio, o próprio Graciliano Ramos descreveu, no texto “Comandantes de burros”, as possibilidades que se ofereciam para a

parte mais forte da nossa população rural: [São] os indivíduos que dormem montados a cavalo, os que suportam as secas alimentados com raiz de imbu e caroços de mucunã, os que não trabalham porque não têm onde trabalhar, vivem nas brenhas, como bichos, ignorados pela gente do litoral. / Os que não têm coração mole encontram-se, quando o verão queima a caatinga, numa situação medonha. Três saídas: morrer de fome, assentar praça na polícia, emigrar para o sul (RAMOS, apud Revista do IEB, 1993: 208). (Grifos nossos).

Embora estacionando em degraus diferentes da sociedade - por força de suas distintas “histórias de vida”--, Paulo Honório e Getúlio serviram-se de uma couraça feita de rudeza, violência e primitivismo, aspectos que os inabilitaram para as aventuras da sensibilidade e da troca afetiva. Personagens aparentemente maciços, acabam por ver fraturada a brutalidade esterilizante que os mantivera, momento em que percebem o fracasso de sua existência - fracasso que, paradoxalmente, é também sua “vitória”, visto que têm a percepção do verdadeiro retrato de sua situação, mesmo que à sua revelia.

“Leituras da aspereza”, São Bernardo e Sargento Getúlio são também “leituras da incapacidade afetiva” e do “descortínio do próprio malogro”.

Como se cruzam e se suplementam (mais do que se complementam) essas leituras? É o que abordaremos a seguir.

Um dos elementos temáticos que unificam o romance São Bernardo é o sentimento de propriedade que domina o autoritário Paulo Honório, sentimento “de que resultam uma ética, uma estética e até uma metafísica” (Candido, 1992: 25). Embora essa “ética dos números” (Idem:25) tenha sido estudada de modo preciso tanto por Antonio Candido, em “Ficção e confissão”, quanto por Luiz Costa Lima, no ensaio “A reificação de Paulo Honório” - e ainda por João Luiz Lafetá em “O mundo à revelia”-- , retomaremos aqui algumas dimensões da reificação da vida e de seus valores estabelecida por Paulo Honório no afã de adquirir ou conservar bens materiais.

O utilitarismo estreito já se mostra com clareza nos dois capítulos iniciais, quando Paulo Honório expõe seu primeiro projeto textual, baseado na divisão do trabalho e no propósito de reservar para si a melhor parte: “o nome na capa”. Logo em seguida, no capítulo 3, o narrador nos dá vários exemplos de sua atitude materialista, que seleciona da vida e dos homens os aspectos meramente quantitativos ou redutíveis à quantidade:

Se tentasse contar-lhes a minha meninice, precisava mentir. Julgo que rolei por aí à toa. Lembro-me de um cego que me puxava as orelhas e da velha Margarida, que vendia doces. O cego desapareceu. A velha Margarida mora aqui em S. Bernardo, numa casinha limpa, e ninguém a incomoda. Custa-me dez mil-réis por semana, quantia suficiente para compensar o bocado que me deu (Ramos, 1981: 12-3).

Deste modo, nas páginas escritas por Paulo Honório, homens, coisas, relações, sentimentos, assim como a análise da própria conduta, são convertidos em quantidade:

A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me deram prejuízo; fiz coisas ruins que me deram lucro (Idem: 39).

O mesmo procedimento é adotado no processo da escrita: “(...) extraio dos acontecimentos algumas parcelas; o resto é bagaço” (Idem: 77-8).

O mundo reificado se desvela com nitidez na objetividade do estilo - direto e rude, feito de movimentos bruscos:

Essa gente quase nunca morre direito. (...) / Na pedreira perdi um. (...) Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se. / Para diminuir a mortandade e aumentar a produção, proibi a aguardente (Idem: 38-9).

A secura e a crueza dos períodos curtos servem à vontade de domínio e ao dinamismo de Paulo Honório, e é por meio da modulação do tom narrativo que ficamos conhecendo o caráter violento e maciço do proprietário de São Bernardo. A este respeito, João Luiz Lafetá acrescenta que, no capítulo 4, no qual Paulo Honório narra a apropriação da fazenda São Bernardo, a marcação obsessiva do tempo, cronometrada com precisão pelo narrador, delimita as ações de forma clara e produz um efeito de crueldade.

A violência de Paulo Honório, diz-nos Antonio Candido (1992: 29), tanto se volta contra homens e coisas, quanto se dirige contra ele mesmo. Da primeira resulta São Bernardo-fazenda, que Paulo Honório incorpora ao seu próprio ser - imagem concreta da vitória sobre homens e obstáculos de todo tipo, reduzidos, superados ou esmagados.

Voltada para dentro, a violência caracteriza-se pelo cultivo implacável do ciúme - manifestação do sentimento de propriedade e do senso de exclusivismo que norteiam Paulo Honório na posse dos bens materiais. Nesse processo de autodevoração pelo ciúme e pela dúvida, Paulo Honório anula a construção anterior, vislumbrando a vacuidade das realizações materiais e negando o próprio ser. Surge, então, uma necessidade nova - escrever - e dela nasce uma nova construção: o livro em que conta a sua derrota, pois é ao entregar-se ao processo de escrever que Paulo Honório descortina o seu malogro, sendo capaz de perceber a precariedade dos valores que antes endossara.

O autoconhecimento proporcionado pela escrita faz com que a construção do livro oscile entre dois pólos disjuntivos, correspondentes respectivamente aos capítulos 1-18 e 19-36. Na primeira parte - em que aparecem os conteúdos ideológicos que virão a ser questionados a partir do capítulo 19 - , Paulo Honório, depois de referir-se ao seu projeto textual, faz um retrospecto da própria vida: de guia de cego a proprietário, casado e pronto para constituir família. São páginas em que o protagonista narra com minúcias o desejo e a concretização da posse econômica, mostrando-se bastante apto para discernir seus atos, os atos alheios e o que considera a exata medida da realidade que o circunda. Nesse primeiro momento, sua linguagem é concisa, brutal, econômica - revelando o homem esmagador, que ruma direto e firme para seus fins, que governa o mundo e nele imprime o seu ritmo. Já observamos, em outro momento, que esta objetividade implacável tem endereço certo: a apropriação de alguma coisa, seja da fazenda São Bernardo, seja da mulher com quem se casa. É exemplar, neste aspecto, o diálogo em que decide o casamento com Madalena:

Madalena soltou o bordado. / - Parece que nos entendemos. Sempre desejei viver no campo, acordar cedo, cuidar de um jardim. (...) Mas por que não espera mais um pouco? Para ser franca, não sinto amor. / - Ora essa! [diz Paulo Honório] Se a senhora dissesse que sentia isso, eu não acreditava. E não gosto de gente que se apaixona e toma resoluções às cegas. (...) Vamos marcar o dia.

Madalena responde: “ - Não há pressa. Talvez daqui a um ano... Eu preciso preparar-me”. E Paulo Honório retruca, taxativo: “- Um ano? Negócio com prazo de ano não presta. Que é que falta? Um vestido branco faz-se em vinte e quatro horas”(Idem: 93-4).

Após o encontro de Paulo Honório com Madalena - que instaura a “diferença” no mundo do proprietário, recusando-se ao papel de objeto possuído - , o controle e o domínio de si e dos outros tão ciosamente cultivados começam a ruir. Afirma, por exemplo, Paulo Honório, no capítulo 12, referindo-se à mulher nova e loura que havia conhecido:

De repente conheci que estava querendo bem à pequena. Precisamente o contrário da mulher que eu andava imaginando - mas agradava-me, com os diabos. Miudinha. Fraquinha. D. Marcela era um bichão. Uma peitaria, um pé-de-rabo, um toitiço! (Idem: 68).

Se desde o capítulo 9 - quando o narrador menciona Madalena pela primeira vez - , o tom compacto se distende e a narrativa ganha contornos mais macios, é a partir do capítulo 19 que se intensifica o processo de desrecalcamento do que fora anteriormente recalcado. Nesse capítulo, Paulo Honório entrega-se às lembranças, misturando a realidade presente e a representação evocativa. A unidade e a coerência do protagonista, mantidas anteriormente e que deveriam ser retratadas no livro, são subvertidas pela descontinuidade e pelo ilogicismo de imagens rebeldes a todo ajustamento:

A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a vejo com os olhos. / Estou encostado à mesa, as mãos cruzadas. Os objetos fundiram-se, e não enxergo sequer a toalha branca. / - Madalena... / A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente que mande algum dinheiro a Mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é diferente das outras, é uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Loucura estar uma pessoa ao mesmo tempo zangada e tranqüila. Mas estou assim. Irritado contra quem? Contra mestre Caetano. Não obstante ele ter morrido, acho bom que vá trabalhar. Mandrião! (Idem: 102-3).

Com efeito, o fracasso do desejo de posse do “enigma-Madalena” ganha relevo do capítulo 19 ao 36 - capítulos nos quais a linha reta de ação se enovela e a narrativa caminha em ziguezagues. Sem conseguir manter-se nos limites da “concisão e clareza”, a linguagem de Paulo Honório passa a ser contaminada pelas “ciladas” e pelo veneno do vocabulário de Madalena:

Quem estaria futucando portas? Quem estaria destelhando a casa? / Aproximava-me de Madalena, observava-lhe o rosto. Teria ouvido? Ou estaria a fingir que dormia? / (...) Com certeza ninguém tinha bulido na fechadura nem nas telhas. Maluqueiras de sonho. Talvez as pisadas também tivessem sido abusão de sonho. Um pesadelo. Isso. Era possível que o assobio fosse grito de coruja. / Uma pancada no relógio da sala de jantar? Que horas seriam? Meia? Uma? Uma e meia? Ou metade de qualquer outra hora? (Idem: 152-3).

Se a capacidade de controlar o tempo estava ligada, na primeira parte do romance, à capacidade de ação e domínio, nesse segundo momento a incerteza representa a impotência e o desnorteamento a que está reduzido o narrador. Impotência e desnorteamento que avultam no capítulo final - demonstração patente da derrota de Paulo Honório e paradoxalmente de sua “vitória”, uma vez que a revisão da experiência vivida - feita discurso - permite-lhe o encontro consigo mesmo, tornando insignificante a manutenção do sistema de valores antes endossado:

Cinqüenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo? / (...) Além disso estou certo de que a escrituração mercantil, os manuais de agricultura e pecuária, que forneceram a essência da minha instrução, não me tornaram melhor que o que eu era quando arrastava a peroba. (...) / Quanto às vantagens restantes - casas, terras, móveis, semoventes, consideração de políticos, etc. - é preciso convir em que tudo está fora de mim. / Julgo que me desnorteei numa errada (Idem: 181-3). (Grifos nossos).

O desnorteamento, a impotência, o descortínio da própria precariedade e o encontro consigo mesmo aproximam de Paulo Honório esse outro personagem que, também premido pelas circunstâncias, empreende a “leitura” de seu percurso existencial: o truculento Sargento Getúlio.

De imediato, uma diferença crucial afasta os dois personagens: Getúlio não escreve; ele “fala”, e o faz enquanto conduz um prisioneiro do interior do Sergipe para a capital. Nessa viagem, o Sargento tem como principal interlocutor o motorista Amaro, que não gosta de conversar. A narrativa de João Ubaldo Ribeiro constrói-se, então, como um monólogo - que deixa fluir o pensamento de Getúlio - , monólogo inserido, por vezes, numa situação dialógica, pois mais unilateral que se constitua esse diálogo, subjugado que está pelo autoritarismo e arbitrariedade do Sargento.

Na primeira parte da viagem, por exemplo, Getúlio “prosa o tempo todo, para não dormir” (Ribeiro, 1982: 26), ziguezagueando de uma idéia a outra, num fluxo ininterrupto de pensamentos. Embora mantenha seu nível de tensão e até o amplie, a fala de Getúlio sofre variações de ritmo, ao sabor mesmo do ritmo da viagem e do estado interior do protagonista. Por vezes, o vaguear da consciência de Getúlio é mais intenso e acelerado, como quando os três homens percorrem, de carro, a estrada de carroça de que o Sargento tanto se queixa:

Ô Amaro, porventura onde estamos? Me avise-me quando chegar em Curituba Velha, arreceio tocaias. Pior da quentura, os bichinhos de asa vão entrando pela janela e vão se grudando no suor da cara. (...) Em Buquim, aquela mosquitaria, que era ver. Buquim é Brasil? Porto da Folha é Brasil, com aqueles alemãos falando arrastado? Aracaju não é Brasil. Baiano fala cantando. Necessário tomar banho uma hora dessas. Quentura do crânio rodete. E esses bichos batendo na cara dum cristão. Me aposento-me (Idem: 14-5).

Outras vezes, as lembranças voluntárias e involuntárias dão à fala de Getúlio o tom mais distendido da rememoração, predominando ainda, em várias passagens, um ritmo fragmentado e solto, que acompanha as fantasias de valentia e onipotência que pontuam o discurso do Sargento:

Diga se não é Sergipe o meio do mundo? Se não é aqui as grandes belezas e os verdes matos, que chão. Se aqui não temos tudo e preferimos ficar aqui? Diga se não é. Posso ser o reis do Congo. Tocando porca. Fazendo o sete pelo quatro. O diabo (Idem: 40).

Marcada pelo excesso e pelo transbordamento, a fala de Getúlio contrasta vivamente com a parcimônia de palavras e a brevidade dos períodos da escrita de Paulo Honório. Num aspecto, entretanto, a linguagem dos dois personagens se assemelha - e é imperioso ressaltá-lo, embora nossa abordagem não vá se deter nesse traço convergente entre as duas obras: os dois personagens expressam-se num “brasileiro encrencado, muito diferente desse que aparece nos livros da gente da cidade, um brasileiro de matuto, com uma quantidade enorme de expressões inéditas” (Ramos, 1981a: 130). Esta afirmação, feita por Graciliano Ramos a respeito da composição de São Bernardo, chama a atenção para a importância primordial do trabalho com a linguagem que se revela tanto no romance do escritor alagoano quanto no de João Ubaldo Ribeiro: ambos optaram pela oralidade e pelo popular, reelaborando magistralmente o coloquial sertanejo - preferindo a transcriação à transcrição lingüística.

Retomando o cotejo dos dois personagens, lembramos que, além das diferenças quanto à situação discursiva, há uma outra, também relevante e já assinalada anteriormente: Getúlio superou a miséria do “sertão sem nome” (RIBEIRO, 1982: 14), mas, longe de tornar-se um proprietário, como Paulo Honório, transferiu-se para a cidade e alçou-se à ocupação de soldado sob as ordens do chefe político Acrísio Antunes. Para apresentarmos os predicados exigidos por tal função, podemos nos valer das sintéticas e expressivas palavras de Paulo Honório ao referir-se a seu capanga Casimiro Lopes: “Gosto dele. É corajoso, laça, rasteja, tem faro de cão e fidelidade de cão” (Ramos, 1981: 15). Coragem e fidelidade de cão: com expressões tão simples, Paulo Honório refere-se a dois traços indispensáveis ao sistema de dominação pessoal que preside tanto as relações entre o proprietário e seu capanga quanto o vínculo entre o Sargento Getúlio e o “coronel” Acrísio Antunes. Esses traços, que Getúlio compartilha com Casimiro Lopes, são: a obediência servil e ilimitada ao proprietário ou chefe político e a prática cotidiana da violência no cumprimento das funções que é preciso desempenhar.

Assim, se Paulo Honório, em seu livro, exibe a visão de mundo do homem pobre e livre que se converteu em proprietário, o Sargento Getúlio, em sua “fala”, expõe o ponto de vista de um sertanejo também pobre e livre que, para escapar da miséria, coloca-se a serviço de um chefe político, passando a agir no território movediço das relações pessoais e contingentes. E, de modo semelhante a Paulo Honório, que vivencia - e registra - o desmoronamento do mundo que acreditara solidamente edificado, Getúlio descortina a fragilidade dos vínculos que davam sentido à sua “existência avulsa”.

Vamos, então, acompanhar Getúlio em seu percurso.

Já observamos que, ocupando o posto de Sargento da Polícia Militar, Getúlio não se vê como um sertanejo qualquer, mas como aquele capaz de avaliar criticamente a sua situação de vida e de interferir nela: se não fosse “despachado” não seria o Sargento Getúlio, homem de confiança do coronel Acrísio Antunes. Na autodescrição levada a efeito pelo personagem logo no início de seu relato, Getúlio vangloria-se de sua posição e das mais de vinte mortes que cometeu: “E eu de vinte mortes nas costas. Mais de vinte. Olhando para mim, não se diz. (...) Mas de vinte nas costas, veja vosmecê, é como mulher, não se consegue lembrar todas” (Ribeiro, 1982: 14-5).

A autodescrição empreendida por Getúlio também evidencia que o Sargento interpreta a realidade segundo uma estrutura mínima, fundamentada na dicotomia “nós/eles”. “Nós” abrange o Sargento Getúlio, o chefe, o partido. “Eles significa não-pessedista, ou seja, comunista, integralista, udenista, às vezes outros jagunços e o povo em geral - de que Getúlio pretende se distinguir. (Um pequeno parêntese, para que tal dicotomia seja compreendida: por mais fragmentadas que sejam as referências do Sargento ao momento político em que se insere sua atuação, algumas de suas palavras permitem-nos identificar o início da década de 1950, quando foram lançadas para a presidência do país as candidaturas de Getúlio Vargas, pelo PTB; do Brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN; e de Cristiano Machado, apoiado oficialmente pelo PSD, mas sem expressão eleitoral e sem o apoio efetivo dos pessedistas. Getúlio venceu as eleições, e tudo indica que a inexpressiva candidatura de Cristiano Machado não tenha passado de uma manobra).

Aos olhos de Getúlio, Acrísio Antunes encarna a trajetória virtual do Sargento ao sair do sertão e instalar-se na cidade. Erigindo-o como modelo, Getúlio interioriza as regras e valores ditados pelo chefe, o que o conduz à obediência cega e, conseqüentemente, à ausência de rebeldia e contestação. Como policial e capanga de Acrísio Antunes, o Sargento eleva a brutalidade e a violência ao nível dos princípios: tanto uma quanto outra integram a concepção que o Sargento faz de si próprio, do mesmo modo que fundamentam a orientação da conduta de Getúlio em relação a seus semelhantes. Lembramos aqui que as condições sociais em que vivem chefes políticos e capangas os unem no cumprimento de um destino comum: o de sobreviver à custa da violência - a mesma violência que Paulo Honório emprega para eliminar adversários, como o vizinho Mendonça. Enquanto os “coronéis” se encontram numa situação que lhes permite delegar a outros a parte “suja” e sangrenta de seus próprios conflitos - exatamente como faz Paulo Honório - , os capangas tornam os desígnios alheios um estímulo a mais para fazer jus à sua valentia. Nesse contexto, a maior capacidade de violência dos subordinados constitui condição fundamental para enfrentar uma vida plena de rivalidades.

O caráter primitivo e cruel do mundo em que se movimenta o Sargento Getúlio está nitidamente impresso em sua fala, marcada pelo tom brutal, destacando-se a crueza e a naturalidade com que Getúlio descreve atos de intensa violência e cenas de uma truculência desmedida:

Em Buquim, fizemos uma tocaia amuntados. (...) Tonico levou a metralhadora anã e passou ela e não foi bom, que os miolos se desmilingüiram-se e saiu pedaço de queixada e foi lasca de homem por tudo que era lado (...). As ordens que vieram era: não encosta no corpo. Mas mal corpo havia, aquilo é uma espirrada que desparrama sangue por todo canto e não deixa nada inteiro (Idem: 24).

Cenas como essa se repetem em todo o relato de Getúlio, que chega mesmo a descrever com detalhes o ato de degola de um tenente que o ofendera. A crueldade excessiva de tais cenas - contadas por quem exerce a brutalidade - contrasta com o tom contido e seco com que Paulo Honório registra os assassinatos que manda praticar:

No outro dia, sábado, matei o carneiro para os eleitores. Domingo à tarde, de volta da eleição, Mendonça recebeu um tiro na costela mindinha e bateu as botas ali mesmo, na estrada, perto de Bom-Sucesso. No lugar há hoje uma cruz com um braço de menos (Ramos, 1981: 34).

Enquanto, no discurso de Paulo Honório, o efeito de crueldade é obtido pela secura e indiferença com que o fazendeiro se refere à supressão da vida de seu adversário, na fala de Getúlio, a descrição pormenorizada do gesto violento - para o Sargento, um gesto como qualquer outro - se faz acompanhar do gosto pelo despedaçamento do corpo do inimigo.

Preenchendo o vazio de sua existência com as missões encomendadas pelo mandante, Getúlio transfere os conflitos alheios para sua própria vida. Constrói, deste modo, um modelo elementar, fechado e rígido, em que predomina a indissociabilidade ou indiferenciação em relação ao chefe político, como bem o exemplificam as palavras que se seguem:

Campe-se, se eu for pensar, não vou entender mesmo, de maneiras que o mundo é assim: é o chefe e sou eu. Quer dizer, existe outras pessoas, mas não são pessoas para mim, porque estão fora. Não sei. Hum. Quer dizer, eu estou aqui. Sou eu. Para eu ser eu direito, tem que ser como o chefe, porque senão eu era outra coisa, mas eu sou eu e não posso ser outra coisa (Ribeiro, 1982: 94). (Grifos nossos).

A frágil constituição psíquica de Getúlio e a debilidade de sua representação de si mesmo explicam por que o Sargento resiste de modo tão compacto à mudança dos planos previamente traçados para a viagem. Interromper a missão a que fora destinado, obedecer a ordens que não são dadas diretamente pelo chefe: tais atitudes ameaçam a solidez - ainda que ilusória - do modelo que preside os esquemas de conduta de Getúlio. Aferrando-se aos objetivos da missão que lhe foi inicialmente determinada e deixando-se dominar, diante de condições adversas, pelo impulso da violência, Getúlio se afasta cada vez mais da esfera de proteção de Acrísio Antunes; uma vez que as relações entre ambos apóiam-se no nível puramente pessoal - não havendo um fundamento objetivo capaz de conferir-lhes sentido e continuidade - , tais relações desfazem-se sob o “desinteresse” do chefe político. Suprimida a “proteção” de Acrísio Antunes - isto é, suprimido o vínculo que dava sentido à existência avulsa de Getúlio -, o Sargento percebe o caráter precário e supérfluo de sua vida. Obrigado a tomar uma decisão, opta pelo gesto de rebeldia, desobedecendo às novas ordens do chefe.

É, pois, a partir do momento em que “escolhe” a revolta e o caminho individuais que Getúlio se dissocia do chefe político, experimentando a autodeterminação e o auto-reconhecimento. A expressão “eu sou eu” - tantas vezes repetida pelo personagem - ganha, então, um outro sentido: o de afirmação da nova individualidade que o Sargento começa a descortinar. Diz, por exemplo, Getúlio, nas etapas finais de sua viagem, depois que já largou a túnica de sargento:

Eu era sargento, veja vosmecê, do enfiador do sapato até o emblema. (...) Então não sou mais macaco. (...) O que é que eu fiz até agora? Nada. Eu não era eu, era um pedaço de outro, mas agora eu sou eu sempre e quem pode? Eu vou lhe levar, peste, até o meio de Aracaju, lhe levo na rua João Pessoa de coleira e vou dizer: se eu quiser ser governador, eu vou ser governador e quem quiser que se acerte com o meu Exércio, que quase nem cabe no Estado de Sergipe (Idem: 141). (Grifos nossos).

Assim, ao separar-se do chefe - descobrindo a diferença constitutiva da identidade - , Getúlio, afirma sem cessar a noção do próprio eu, representando-se como um homem corajoso e invencível, inspirando-se, para essa auto-representação, na tradição oral das cantigas, festas e romances populares sertanejos: “(...) não semos tudo o mesmo? Agora não muito, porque eu sou eu, Getúlio Santos Bezerra e meu nome é um verso que vai ser sempre versado (...), eu sou maior do que o reis da Hungria” (Idem: 155).

Entretanto, a rebeldia e a tentativa de auto-afirmação, circunscrevendo-se à imediatez do momento vivido, não permitem a Getúlio superar a situação que enfrenta com tanta intrepidez. A morte vem tolhê-lo no momento em que o personagem conscientiza-se da própria individualidade, arriscando-se a construir uma história própria: “(...) não sou mais aquele que o senhor mandou para Paulo Afonso, eu era ele e agora eu sou eu”(Idem: 152).

Desse modo, vitória e malogro também coexistem, paradoxalmente, nos momentos finais do relato e da vida de Getúlio: no instante em que se encontra consigo mesmo e projeta desvendar o mundo do ponto de vista das possibilidades então entrevistas - “tem tanta coisa que eu não pude fazer porque eu não sabia” (Idem: 156), aquelas mesmas forças que o modelaram para a fragilidade da autoconsciência impedem que sua existência disponível adquira um sentido e que Getúlio constitua um mundo mais pleno e seu.

Portanto, Paulo Honório e Getúlio, a princípio tão distantes - se considerarmos sua posição de proprietário e de sargento sob as ordens de um chefe político, respectivamente - , aproximam-se na condição de sertanejos que, para escapar à miséria da origem, aferram-se a sistemas de valores que os distanciam de si mesmos e do outro.

Neste aspecto, cada um dos romances - cada uma das “leituras da aspereza” aqui estudadas - expõe uma face desse homem do sertão. Em São Bernardo, o fazendeiro - o que se enclausura no mundo fechado da propriedade e do lucro, o que vê seus subordinados como molambos, bichos, simples peças da engrenagem rural; o que manda praticar os crimes, não sujando suas mãos. Em Sargento Getúlio, o “valentão a soldo” - o que pauta sua conduta pela identificação acrítica com o chefe; o que faz da violência padrão de comportamento; o homem “mais bravo e mais inútil da nossa terra” - como já o descrevia, admiravelmente, o primeiro escritor que revelou ao país um retrato sem retoques do sertanejo: Euclides da Cunha, em Os sertões (Cunha, 1985: 261).

Graciliano Ramos e João Ubaldo Ribeiro acrescentam - ou suplementam, na acepção de Silviano Santiago (1989: 115) - à representação do sertanejo proposta por Euclides da Cunha a figuração de seus aspectos mais recônditos, de sua “alma rústica”, perscrutando, sob a aspereza de sua face e discurso, fissuras de sensibilidade e de lirismo que aquele que é “antes de tudo um forte” precisa abafar a todo custo.

Descortinando o seu malogro, percebendo a precariedade dos valores que os sustinham, Paulo Honório e Getúlio acabam por encontrar-se com aquela parte de si mesmos que não souberam trazer à tona, recalcada que fora pela inteireza - ilusória - do modelo com que se identificaram e que os desumanizou.

E, se Paulo Honório conclui, referindo-se à propriedade que antes constituía uma parte de si mesmo: “(...) é preciso convir que tudo está fora de mim” (RAMOS, 1981: 183), Getúlio exclama, assinalando a diferença que passa a constituí-lo: “(...) não sou mais aquele que o senhor mandou para Paulo Afonso, eu era ele e agora eu sou eu”(Ribeiro, 1982: 152).

BIBLIOGRAFIA

ABDALA JUNIOR, Benjamin. O pio da coruja e as cercas de Paulo Honório. In: MOTA, Lourenço Dantas e JUNIOR, Benjamin Abdala (org.). Personae. Grandes personagens da literatura brasileira. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001.

BRAYNER, Sônia (Org. e sel. de textos). Graciliano Ramos. Coleção Fortuna Crítica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Cadernos de Literatura Brasileira. João Ubaldo Ribeiro. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 1999. n° 7.

CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão. Ensaios sobre Graciliano Ramos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

COUTINHO, Carlos Nelson. Graciliano Ramos. In: ---. Cultura e sociedade no Brasil. Ensaios sobre idéias e formas. 2ª ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

COUTINHO, Wilson. João Ubaldo Ribeiro. Um estilo da sedução. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1998.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. Ed. crítica organizada por Walnice Nogueira Galvão. São Paulo: Brasiliense, 1985.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed. São Paulo: Unesp, 1997.

LAFETÁ, João Luiz. O mundo à revelia. In: RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 37ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1981.

LIMA, Luiz Costa. A reificação de Paulo Honório. In: ---. Por que literatura. Petrópolis: Vozes, 1969.

MEZAN, Renato. A vingança da esfinge. Ensaios de psicanálise. São Paulo: Brasiliense, 1988.

MIYAZAKI, Tieko Yamaguchi. Um tema em três tempos. João Ubaldo Ribeiro, João Guimarães Rosa, José Lins do Rego. São Paulo: Unesp, 1996.

MIRANDA, Wander Melo. Corpos escritos. Graciliano Ramos e Silviano Santiago. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Belo Horizonte: UFMG, 1992.

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 37ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1981.

------. Cartas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1981a.

------. Linhas tortas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1981b.

------. Comandante de burros. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo, 35:207-9, 1993.

RIBEIRO, João Ubaldo. Sargento Getúlio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

------. Política. Quem manda, por que manda, como manda. 2ª ed. revista pelo autor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

SANTIAGO, Silviano. A permanência do discurso da tradição no Modernismo. In: ---. Nas malhas da letra. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SILVERMAN, Malcolm. As distintas facetas de João Ubaldo Ribeiro. In: ---. Moderna ficção brasileira. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1981.

SÜSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua história: o Naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.