O Auto de São Lourenço, de José de Anchieta

Cássio Silveira (USP)

Anchieta compôs algumas dos primeiros autos teatrais do Brasil, entre as quais o famoso Auto de São Lourenço e o auto Na Aldeia de Guaraparim. Este último foi escrito exclusivamente em Tupi. Essas peças visavam a evangelizar os índios e os colonos, de forma branda e lúdica. Nelas percebe-se uma forte influência de Gil Vicente, o fundador do teatro popular português.

O Auto de São Lourenço é a mais longa e rica peça de Anchieta. Ela foi escrita em três línguas, tupi, português e castelhano, à semelhança de muitos autos de Gil Vicente, que mostram a situação de bilingüismo vigente em Portugal no século dezesseis. Do ponto de vista da lingüística americana, essa peça é das mais importantes, pois mostra como o Tupi da Costa era efetivamente falado. Nesse auto, vemos os diabos Guaixará, Aimbirê e Saravaia a tentar perverter a aldeia, no que são impedidos por São Lourenço e por São Sebastião. Anchieta recorre muito às alegorias, isto é, à personificação de nomes abstratos ou à atribuição de qualidades humanas a seres inanimados, recurso também muito empregado por Gil Vicente em seus autos. Assim, vemos no Auto de São Lourenço o Amor e o Temor de Deus como personagens, a aconselharem aos índios a caridade e a confiança em São Lourenço. Essa concretude era eficiente na transmissão dos conteúdos doutrinários cristãos, dada a concretude do pensamento mítico no qual o mundo indígena estava mergulhado.

ÍNDICE


...........................................................................................................................................................

Copyright © Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos