PIGUARAS DA CULTURA MESTIÇA[1]

Itana Nogueira Nunes (UNEB)

 Recordando o que interessasse ser recordado e deletando da memória aquilo que não contribuísse para uma história gloriosa, fomos, num conhecido jogo dialético, tentando construir desde o Romantismo o esboço de uma tradição literária que assegurasse uma confiabilidade aos intelectuais brasileiros dos períodos subseqüentes.

Estes aspectos fizeram parte da construção de um processo histórico de onde emergiriam: o sentimento nacionalista e a primeira figura representativa da nossa cultura, sob forma de herói nacional: o índio.

Nessa busca de um lugar sob o sol da civilização ocidental que era regida pelas nações cultural e economicamente independentes, a vida literária brasileira teve, neste período, alguns intelectuais que tomaram para si o propósito de fundação desta identidade, entre os quais um de maior destaque se fez indelével na nossa história: José de Alencar, que buscou criar inicialmente o modelo do homem brasileiro como resultante do cruzamento do europeu com o indígena.

Assim, somente temos uma inserção da figura do negro como herói e representante de nossa cultura de forma mais definida a partir do que se chamou de “regionalismo nordestino”, mais precisamente, a partir da terceira década do século passado. Nas páginas dos romances de Jorge Amado para tomar como referência um regionalismo geograficamente mais determinado – o negro pode enfim ser visto como um verdadeiro modelo de força, virilidade e sensualidade traduzindo de uma forma quase que encantada os traços do homem brasileiro.

Como Alencar, também o escritor baiano, em boa parte da sua produção, toma para si a responsabilidade de fundador de uma identidade nacional complementando o que seria a tríade formadora da nossa identidade e assegurando definitivamente um espaço para o negro no imaginário do povo brasileiro.

Desta sorte, ambos, Alencar e Amado, cada um a seu tempo, séculos XIX e XX, expressaram com imensa propriedade a vontade de “ser nação da nossa gente brasileira.


 

[1] Tomamos de empréstimo o termo Piguara (que significa em indígena senhor dos caminhos, guia) ao título do livro de Elvya Pereira, Piguara, Alencar e a Invenção do Brasil.

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