VARIAÇÃO E AQUISIÇÃO DE L1
UM ESTUDO SOBRE AS LÍQUIDAS
NO PORTUGUÊS CARIOCA

Christina Abreu Gomes (UFRJ)
Márcia Cristina Pontes Vieira
(UFRJ)
Luciana Limeira Vieira
(UFRJ)
Cristiane Maria de Souza
(UFRJ)

Investigação da aquisição lingüística em contexto de input variável. Nos últimos 50 anos, a pesquisa variacionista mostrou a consistência da hipótese da heterogeneidade estruturada do sistema lingüístico e do caráter sistemático da variação no 0sistema lingüístico do adulto. Pretendemos investigar de que maneira a criança dá conta do input variável na aquisição através do estudo da alternância de líquidas em grupo consonantal. A pesquisa tem como ponto de partida os resultados já obtidos para o sistema adulto em estudos realizados por Gomes (1987) e Mollica e Paiva (1991). O interesse em focalizar o processo aquisitivo deve-se à possibilidade de ser possível testar de que maneira os princípios que regulam a variação no sistema do adulto atuam na aquisição. Com relação à alternância de líquidas, o grupo consonantal no PB formado por uma oclusiva ou fricativa apresenta a possibilidade de alternância na realização fonética da lateral subjacente /l/, podendo ser realizada como uma lateral alveolar ou um tap: planta ~ pranta (‘plant)’, claro ~craro (‘clear’). Estudo sobre a comunidade de fala do Rio de Janeiro mostraram que modo e ponto de articulação condicionam a variação. O processo também é sensível à presença de uma outra líquida: a presença de outra vibrante alveolar favorece a variante [r], como em flores ~ frores (‘flowers’). Diversos parâmetros, tais como registros históricos, a norma usada nas escolas, a distribuição das variantes de acordo com níveis de escolaridade no trabalho de Paiva e Mollica, levam à classificação inequívoca da variante [r] como uma variante estigmatizada. Existem evidências de que no processo aquisitivo (Lamprecht, 1991) a estrutura CCV é uma das últimas estruturas adquiridas e as crianças tendem a escolher uma das variantes como estratégia para realização da estrutura CCV. No final do processo, as crianças deveram apresentar dois tipos de grupo um com a lateral subjacente e outro com a vibrante alveolar (C/l/ -plástico ~ prástico, C/r/ -prato). O segundo grupo apresenta realização fonética categórica da líquida como [r], exceto por algumas hipercorreções como nas palavras sic[l]ano, originalmente sicrano (do Latim) e Cleuza , substantivo próprio, originalmente Creuza (do Grego). Type frequency e token frequency são tomados como base para responder as seguintes questões: A) podemos sustentar que a lateral /l/ é a forma subjacente para todos os falantes da comunidade de fala e para todos os itens léxicos sujeitos à variação? B) as estratégias relacionadas à aquisição do grupo consonantal são as mesmas para todas as crianças, independentemente de diferenças socio-econômicas? C) que caminhos guiam a aquisição do processo variável? D) na aquisição da estrutura CCV, a unidade é o item léxico ou o fonema?

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