O TEXTO JORNALÍSTICO EM SALA DE AULA
LEITURA E PRODUÇÃO

EMENTA

Leitura e produção de textos segundo os PCN. Projeto “O jornal na sala de aula”. Propostas de atividades de leitura e produção com base em textos jornalísticos.


Módulo 1

Leitura de textos jornalísticos

Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)

Toda educação comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência discursiva (p. 23).         

 

1 – Lingüística Textual e PCN de língua portuguesa para o ensino fundamental (3º. e 4º. Ciclos)

proposta dos PCN: leitura e a produção de textos como a base para a formação do aluno; língua não é homogênea, mas um somatório de possibilidades condicionadas pelo uso e pela situação discursiva; o texto = unidade de ensino; a diversidade de gêneros deve ser privilegiada na escola.

USO REFLEXÃO USO (p. 65)

 

2 – Interdisciplinaridade e temas transversais (ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo): o papel do texto jornalístico

 

3 – Práticas de trabalho com a linguagem

objetivo = desenvolver no aluno “o domínio da expressão oral e escritas em situações de uso público da linguagem, levando em conta a situação de produção social e material do texto (lugar social do locutor em relação ao(s) destinatário(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade ou intenção do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) e selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a produção do texto, operando sobre as dimensões pragmática, semântica e gramatical” (p. 49).

percepção de fenômenos lingüísticos e sua relação com os textos:

Quando se toma o texto como unidade de ensino, ainda que se considere a dimensão gramatical, não é possível adotar uma caracterização preestabelecida. Os textos submetem-se `as regularidades lingüísticas dos gêneros em que se organizam e `as especificidades de suas condições de produção: isso aponta para a necessidade de priorização de alguns conteúdos e não de outros (p. 78-79).

 

Sugestões de atividades

1) No texto a seguir, substitua “clorofila porclorofila e inhame” e reescreva o texto fazendo as adaptações necessárias em outros elementos do texto (Santos e Costa, apud Travaglia, 2003:224-5).

De uns tempos para , no entanto, os naturebas começaram a divulgar que a clorofila é capaz de operar verdadeiro milagre também nos corpinhos que não têm caule, folha e frutos. Ela limparia a corrente sangüínea, fortaleceria o sistema imunológico, revitalizaria o cérebro, diminuiria a depressão, retardaria o envelhecimento, evitaria a ressaca e – pasme – até ajudaria no tratamento de doenças como o câncer e a AIDS” (Veja, 10 ⁄ 04 ⁄ 2002, p. 73).

1.1)           Observar o papel dos verbos no futuro do pretérito no texto e que efeito de sentido esse tempo verbal causa.

1.2)           Destacar termos que colaboram com esse efeito de sentido.

1.3)           O fato de esse texto ter sido publicado em uma revista como a Veja causa que impressão no leitor? Justifique sua resposta.

1.4)           Substituir o futuro do pretérito pelo presente do indicativo e observar que efeito de sentido isso causa.

1.5)           Com essa mudança de tempo verbal, é necessário fazer mais alguma alteração para deixar o texto mais coerente com o efeito de sentido pretendido? Qual (is) ?

1.6)           Substituirnaturebas por cientistas e fazer as alterações que forem necessárias para que o texto mantenha uma unidade.

1.7)           Um texto como esse poderia ter sido publicado em uma revista de divulgação científica? Justifique sua resposta.

 

2) Leia esta reportagem do Jornal do Brasil (02/02/96, p. 4.) e responda às questões propostas:

 

Contatos imediatos em Varginha

Alexandre Medeiros

(...)O contato – A tarde do sábado, 20 de janeiro, era tórrida em Varginha – a 313 quilômetros de Belo Horizonte. Liliane de Fátima Silva, 16 anos, sua irmã Valquíria Aparecida Silva, de 14, e a amiga Kátia de Andrade Xavier, de 22, estavam voltando de um dia de trabalho como domésticas. Como moram no vizinho bairro de Santana, resolveram voltar a . Às 3h da tarde, chegaram a um terreno baldio e decidiram cortar caminho.

Nem bem andaram alguns passos e viram a criatura encostada ao muro de uma oficina mecânica. Mesmo entrevistadas em separado, as três descreveram a mesma cena. O crânio desenvolvido, careca, três protuberâncias na cabeça, os olhos grandes e vermelhos, veias saltadas pelo corpo, pés enormes, a pele marrom brilhando na luz do Sol, como se estivesse untada de óleo.

“A Kátia, que é muito nervosa, achou logo que era o capeta. Eu e Valquíria achamos que era um bicho, não era gente”, puxa Liliane pela memória. As três correram e foram parar na esquina na rua em que moram, onde encontraram Luiza, a mãe de Liliane, que as levou para casa.

 

O mistério – A notícia se espalhou com rapidez. Poucos minutos, dezenas de moradores correram ao terreno baldio indicado, mas nada viram. Contudo, em um outro lote abandonado, a duas quadras do primeiro, um grupo de moradores se reuniu para ver um carro do corpo de bombeiros retirando do matagal com uma rede um outro ser não identificado e levando-o para o hospital local. Logo se espalhou a informação que um casal de ETs tinha baixado em Varginha.

A partir daí, o que se tem são histórias desencontradas. O corpo de bombeiros informa que não recolheu qualquer ser no sábado em questão. O Hospital Regional do Sul de Minas divulgou nota oficial ontem negando a internação. Mas um grupo de ufólogos que atua em Varginha há pelo menos 25 anos colheu depoimentos de funcionários do hospital que afirmam terem sido internados no dia 20 de janeiro dois seres com as características descritas por Liliane, Valquíria e Kátia. Estes mesmos funcionários afirmaram ter visto cientistas da Universidade de São Paulo (USP) no domingo, 21 de janeiro, em uma ala isolada do Hospital Regional.

O mistério parece estar começando.

1) Procure identificar, no texto acima, a seguinte estrutura narrativa: apresentação, complicação, clímax, desfecho.

2) A descrição, de ambiente e/ou personagens, colabora para compor o clima da narrativa, às vezes proporcionando um clima de suspense, como ocorre no texto acima. Destaque passagens do texto que comprovem essa afirmativa e comente-as.

3) Em um texto narrativo, muitas vezes se sobrepõem pequenas narrativas, que servem para compor o ambiente, proporcionar suspense ou mesmo prender o leitor. Destaque as pequenas narrativas inseridas na reportagem e procure identificar sua utilidade para o conjunto do texto.

4) Os tempos verbais do passado, pertencentes ao mundo narrado, costumam ser utilizados nas narrativas. os tempos verbais do presente e do futuro, pertencentes ao mundo comentado, aparecem mais em textos argumentativos. Entretanto, no decorrer de uma narrativa, podem aparecer verbos conjugados em tempos do presente ou futuro. Destaque exemplos do texto e procure perceber o porquê desse uso.

5) Passe todos os verbos do 4º parágrafo (exceto a última locução verbal) para o presente e observe as diferenças ocorridas na narrativa:

6) O texto é um elemento de ligação entre o autor e o leitor. As intenções do autor podem ser percebidas, por exemplo, através da seleção lexical (escolha de vocabulário). o leitor pode "ler nas entrelinhas" e perceber se as informações contidas no texto foram manipuladas ou não, interpretando as palavras do autor. Releia a reportagem do JB e responda:

a – Que palavras do texto podem demonstrar um certo descrédito, por parte do autor, com relação ao fato ocorrido em Varginha?

b – Com base no seu "conhecimento de mundo", procure elementos no texto que possam ser considerados indícios de que a história contada pelas três moças talvez não seja verdadeira.

c – Agora procure indícios que possam comprovar que a história das moças é verdadeira.

3) Leia o texto a seguir, publicado no Jornal do Brasil (06/06/87), e responda às questões propostas:

Os ministros da Fazenda, Bresser Pereira, e do Planejamento, Aníbal Teixeira, e o presidente do Banco Central, Fernando Milliet, se deslocarão no final de semana para o coração do Nordeste pobre e seco. Eles vão, com deputados de toda a região e governadores, a Patos e Souza, na Paraíba, onde terão p retrato de uma realidade da qual nenhum cidadão de São Paulo tem a mínima idéia. Isso faz parte da mobilização do Nordeste por melhor tratamento da Constituinte.

a – Que vocábulo do texto repete o termo ministros?

b – Que vocábulo do texto repete se deslocarão?

c – Que vocábulos do texto repetem o termo Nordeste?

d – A que termo anterior se refere o vocábulo isso?

e – A que vocábulo(s) anterior(es) se refere o termo uma realidade e como esse mesmo termo se repete na seqüência do texto?

 

Referências bibliográficas

DIONÍSIO, Angela & BEZERRA, Ma. Auxiliadora (org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

FÁVERO, Leonor L. & KOCH, Ingedore G. V. Lingüística textual: introdução. São Paulo: Cortez, 1983.

GERALDI, João W. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.

NEVES, Iara C. B. et al. (2000) (org.). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 4ª ed. Porto Alegre: EDUFRGS, 2000.

KOCH, Ingedore G. V. Argumentação e linguagem. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1993.

LUFT, Celso P. Língua e liberdade – o gigolô das palavras. São Paulo: Ática, 1997.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. A gramática e o ensino de língua no contexto da investigação lingüística. In: BASTOS, Neusa (org.). Discutindo a prática docente. São Paulo: IP-PUC, 2000, p. 83-94.

MATTOS E SILVA, Rosa V. Contradições no ensino de português. São Paulo: Contexto, 1995.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS TERCEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL: LÍNGUA PORTUGUESA. Brasília, Secretaria de educação Fundamental MEC, 1998.

PERINI, Mario A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO & FIORIN. Para entender o texto leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990.

SOUZA, Luiz M. de. Por uma gramática pedagógica. Rio de Janeiro: UFRJ. Tese de Doutorado em Lingüística, 1984.

––––––. & CARVALHO, Sérgio Waldeck de. Compreensão e produção de textos. Petrópolis: Vozes, 1995.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.

––––––. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.


 

Módulo 2         
Produção de textos jornalísticos

Claudia de Souza Teixeira (UNIG, CBNB e UFRJ)

 

O jornal oferece aos alunos a possibilidade de entrar em contato com diferentes gêneros de textos. Dada a sua diversidade textual, ele pode ser utilizado como recurso didático em todos os níveis escolares, inclusive na alfabetização, em que manchetes e pequenos textos, como os anúncios e classificados, ajudarão os alunos não a desenvolver a escrita e a leitura, mas também a compreender a importância social da escrita.

Desde o Ensino Fundamental, é possível colocar em prática projetos que visem à produção de um "jornalzinho" escolar com temas de interesse dos alunos e fatos relacionados à comunidade. Poderiam, então, ser produzidas pelos alunos "colunas" como as de notícias, anúncios, recados, quadrinhos, curiosidades, etc. A periodicidade das edições e a forma de apresentação dependerá de fatores como as condições oferecidas pela escola e a disponibilidade de professores e alunos. O mais importante, no entanto, é que estes estejam conscientes da importância desses projetos para o desenvolvimento social, intelectual, cultural, lingüístico dos educandos.

Para que os alunos possam escrever textos jornalísticos de melhor qualidade, é necessário, porém, que os professores promovam atividades sistemáticas de produção textual em que se associem teoria e prática. Poderão, por exemplo, ser realizadas atividades com notícias e editoriais, como se verá adiante.

 

a) Atividades com notícias

As atividades com notícias poderão ser realizadas no Ensino Fundamental. Para isso, os alunos deverão apenas estar minimamente habilitados a reconhecer e produzir narrativas. A partir daí, o professor deverá, primeiramente, analisar notícias, evidenciando suas características, inclusive em termos de linguagem. Os alunos deverão saber que uma notícia deve dar respostas a 6 perguntas: Quem? O quê? Quando? Onde? Por quê? Como?[1]

Segue um exemplo de análise:

 

Estado começa a equipar salas de cinemas de R$1
Onze
municípios serão beneficiados até o fim do ano

O governo do estado iniciou a distribuição dos equipamentos para as salas populares de cinemas que serão criados em municípios do interior, com ingresso a um real. Até o fim deste ano, devem ser instaladas 11 salas.

As primeiras cidades beneficiadas são Mesquita, Belford Roxo, São João de Meriti e Japeri. os municípios de Engenheiro Paulo de Frontin, Mangaratiba, Carapebus, Santo Antônio de Pádua, Itaboraí, Duas Barras e Mendes serão atendidos até o fim do ano.

As prefeituras oferecem os espaços e recuperam as instalações e o governo do estado fornece os equipamentos necessários para o funcionamento das salas, como projetor, DVD player, videocassete, uniforme, caixas acústicas, tela de projeção e cortinas.

Em 2003, a Secretaria Estadual de Cultura realizou uma pesquisa e detectou que, dos 92 municípios fluminenses, 62 deles (67% do total) não tinham uma sala de cinema. (O Globo. 12/06/2004)

Quem? Governo do estado do Rio de Janeiro

O quê? Iniciou a distribuição de equipamentos para as salas populares de cinema com ingresso a um real.

Quando? A partir de junho de 2004 até o final do ano.

Onde? Em 11 cidades do interior e da Baixada Fluminense.

Como? As prefeituras oferecem os espaços e recuperam as instalações e o governo do estado fornece os equipamentos necessários para o funcionamento das salas.

Por quê? Em 2003, a Secretaria Estadual de Cultura realizou uma pesquisa e detectou que, dos 92 municípios fluminenses, 62 deles (67% do total) não tinham uma sala de cinema.

O professor poderá, ainda, promover uma discussão com os alunos sobre o conteúdo da notícia: importância da medida do governo, conseqüências dela, interesses políticos, etc.

Depois do trabalho conjunto de análise de algumas notícias, poderão ser realizadas as seguintes atividades:

a) pedir que os alunos recortem notícias de jornal e respondam as 6 perguntas e/ ou redijam comentários sobre os fatos narrados;

b) o professor fornece respostas para as 6 perguntas e pede que os alunos escrevam notícias;

c) o professor pede aos alunos que façam pesquisas (de campo, em jornais e revistas, através de entrevistas, etc.) e depois redijam notícias baseadas nos dados colhidos.

É importante que, de alguma forma, os textos dos alunos sejam divulgados. Poderão ser lidos para a turma ou afixados em murais, por exemplo.

Uma proposta interessante, realizada com alunos da 6ª série, foi a produção de notícias a partir do livro "extraclasse". Os alunos haviam lido Romeu e Julieta (adaptação) e foram levados a produzir a notícia do casamento das personagens[2]. Um dos textos produzidos por duas alunas, apresentado abaixo, apesar de simples, demonstra que elas compreenderam as características básicas da notícia:

 

O casamento proibido

Romeu Montecchio e Julieta Capuleto se casaram, ontem, às escondidas.

O casamento ocorreu à meia-noite, na cela de Frei Lourenço, em Verona. Os dois se casaram às escondidas, pois seus pais jamais aceitariam essa união.

Talvez, com essa união, volte a haver paz na cidade de Verona, e entre essas famílias inimigas. (Verona, 12/07/1600)

É importante destacar, por fim, que devido ao fato de os alunos estarem mais acostumados com narrativas literárias, de início, eles poderão ter dificuldades em escrever um texto mais direto como o da notícia.

 

b) Atividades com editoriais

No final do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, o professor poderá utilizar editoriais para desenvolver a habilidade dos alunos em produzir textos dissertativo-argumentativos. Para isso, os alunos precisarão apenas conhecer as características desse tipo de texto e a diferença entre fato e opinião.

O trabalho deverá partir da análise de alguns editoriais, em que o professor esclarecerá os alunos sobre algumas questões como o tipo de linguagem utilizada e as técnicas de argumentação.

Deve-se ter o cuidado de não repetir conceitos tradicionais, encontrados em manuais de redação, que não correspondem à realidade. No editorial atualmente, embora se obedeça à norma culta, em termos de vocabulário, dependendo do jornal, podem ser encontrados termos coloquiais; termos estes que costumam ser "proibidos" nos textos dissertativos. Por ser um texto opinativo, os critérios de impessoalidade e de objetividade jornalística não podem ser seguidos à risca. Além disso, diferentemente do que se ensina, a tese nem sempre aparece no início do texto. Primeiramente podem vir os fatos e depois os comentários e opiniões. Estas nem sempre são polêmicas, pois tendem a refletir os pontos de vista dos leitores. Como se pode observar, através da leitura de editoriais, o professor poderá também discutir com seus alunos questões relativas à linguagem jornalística e às formas de argumentação.

Uma proposta interessante é a produção de editoriais a partir de notícias ou reportagens. O professor deverá primeiro mostrar um exemplos como o que será apresentado abaixo:


 

Candidaturas são impugnadas depois de teste de alfabetização

da Agência Folha, em Bauru

O juiz eleitoral de Itapetininga Jairo Sampaio Incane Filho, 38, impugnou 20 dos 80 candidatos a prefeito e vereador das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari, na região de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo).

A impugnação foi motivada pelo fato de os candidatos terem sido reprovados em um teste de alfabetização realizado pelo juiz, no Fórum de Itapetininga.

Incane Filho disse que fez o texto com base na exigência contida na Lei Complementar nº 64/90, de 1992, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que proíbe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos.

O juiz afirmou que convocou os 80 candidatos que disseram ter grau incompleto e mostraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas candidaturas.

Os testes com os candidatos foram feitos individualmente. Seus nomes são mantidos em sigilo. ''Pedi a todos que lessem e interpretassem um texto de um jornal infantil. Em seguida, pedi que cada um redigisse um texto, expondo sua lógica'', disse.

Segundo Incane Filho, erros gramaticais não foram levados em conta. ''Apenas observei se o candidato tem condições de entender um texto, pois uma vez eleito, ele vai ter de trabalhar com leis e documentos.''

A assessoria de imprensa do TRE informou que o tribunal transmitiu uma recomendação aos juízes para que ''em caso de dúvida'', façam ''um teste de alfabetização'' nos candidatos. (Folha de São Paulo. 19/07/96)

 

ANALFABETOS

O juiz eleitoral de Itapetininga impugnou 20 de 80 candidatos a prefeito ou vereador das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari (interior de São Paulo e relativamente próximas à capital) pela simples razão de que não conseguiram ler e entender corretamente um texto publicado em jornal infantil. E isso no Estado mais rico da União, o que leva a imaginar o que deve ocorrer nas imensas regiões menos desenvolvidas do país.

Isso significa que 25% dos candidatos testados foram considerados analfabetos. Erros gramaticais não foram levados em conta, apenas a capacidade de compreensão de um texto simples escrito.

Parece mais do que óbvio que, sem negar a conquista democrática que representou o direito de voto para o analfabeto, para exercer funções executivas ou legislativas é necessário pelo menos poder ler e compreender um texto. De outra forma, quem exercerá o poder de fato será um assessor sem nenhum mandato eletivo, ou seja, ferindo o princípio da delegação popular do poder.

Infelizmente, o Brasil está ainda muito longe de atingir os níveis minimamente desejáveis de erradicação do analfabetismo. Em que pese o sucesso de alguns poucos projetos isolados, o número de brasileiros que não sabem ler – e isso segundo os pouco rígidos critérios do IBGE – é pouco inferior a 25%, ou seja, quase um quarto da população do país.

Como indicam diversos estudos dos mais variados organismos multilaterais, o investimento em educação é acima de tudo um investimento na melhoria das condições de vida do país, seja em termos de produtividade como em termos de desenvolvimento humano.

O fato de até as pessoas que almejam cargos eletivos como prefeito ou vereador serem incapazes de compreender o que está escrito num jornal infantil mostra o quanto o Brasil ainda tem a fazer no campo da educação básica. Revela também o quão imatura ainda é a jovem democracia brasileira. (Folha de São Paulo. 22/07/96)

Depois, trará uma notícia ou reportagem e, após um debate, proporá aos alunos que produzam um editorial baseado nela. Num outro momento, pedirá aos alunos para retirarem do jornal notícias ou reportagens e, a partir delas, escreverem editoriais. As atividades poderão ser feitas individualmente ou em dupla. É importante que os trabalhos sejam mostrados à turma, como por exemplo, através de murais.

Além de melhorar a qualidade dos textos em termos formais, o trabalho com editoriais associados a notícias e reportagens acarretará o aumento do conhecimento de mundo dos alunos; o que se refletirá na maior informatividade de seus textos.

 

Referências bibliográficas

CEREJA, W.R. e MAGALHÃES, T.C. Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2000.

CHIAPPINI, L. e CITELLI, A. (coord.). Aprender e ensinar com textos não escolares. São Paulo: Cortez, 1997.

FARIA, M.A. O jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2000.

SANTOS, M.L. A expressão livre no aprendizado da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1993.


 

[1] Pode-se partir de pequenas notícias para outras mais longas, em que os alunos aprenderiam, por exemplo, o que é um lide.

[2] Poderá também ser sugerido como tema a morte do casal, por exemplo.