MODERNA PERSPECTIVA DAS CLASSES DE PALAVRAS
Em Homenagem a J[oaquim] Mattoso Câmara Jr.

Camillo Baptista Oliveira Cavalcanti (UFF)

Cap. 1 - CONCEITOS GRAMATICAIS

Muitos questionamentos estão surgindo hoje quanto às classes gramaticais. De fato, existe uma confusão entre morfologia e semântica, tornando o estudo, por vezes, desgastante. Por isso, separamos a morfologia numa outra parte de nossos estudos.

1. NOÇÕES PRELIMINARES.

1.1. Palavras Lexicais e Gramaticais.

Existem dois tipos básicos de palavras: aquelas que se referem a objetos e a eventos do mundo real (ou de nossa imaginação) e outras que só existem para o funcionamento da língua. Dessa divisão surgem as palavras lexicais e as gramaticais.

Lexicais Gramaticais
o
três eu
levo que
bosque com
conquistou assim
encouraçado contigo

Como vemos, as palavras lexicais se referem a objetos ou processos existentes no mundo cotidiano e, portanto, são os nomes e os verbos, resp. Por outro lado, as palavras gramaticais abrangem os pronomes/artigos (que se limitam a localizar o ser no discurso, sem lhe acusar características) e os conectivos (elementos de ligação das outras palavras, ou de articulação do discurso), subdivididos em conjunções e preposições.

1.2. As Classes Gramaticais.

As gramáticas apresentam 10 classes de palavras: Substantivo, Artigo, Adjetivo, Pronome, Numeral, Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção e Interjeição. Entretanto, a classificação que melhor discerne os critérios está representada no quadro a seguir:

  critério semântico critério funcional
palavras lexicais (inventário aberto) Nome (inclusive Numeral) substantivo
    adjetivo
    advérbio
  Verbo  
palavras gramaticais (inventário fechado) Pronome (inclusive Artigo) "nome gramatical" substantivo
    adjetivo
    advérbio
  Conectivo coordenativo
    subordinativo

1.3. As Categorias de Substantivo, Adjetivo e Advérbio.

As modalidades substantivo, adjetivo e advérbio nascem da função exercida na frase e se aplicam tanto a nomes quanto a pronomes.

substantivo: termo que estabelece relação primária com um referente; exerce função de núcleo do sintagma;

principal característica: denota a essência do ser.

O gato tem instinto de caçador.

adjetivo: termo determinante, modificador no sintagma; estabelece relação secundária com o referente;

principal característica: expressa uma característica do ser. Um homem cabisbaixo não tem moral.

advérbio: também modificador, mas em relação terciária com o referente, isto é, só a partir das relações secundárias do verbo ou do adjetivo (subordinados ao sujeito e ao substantivo, respectivamente), se relacionam com o referente.

principal característica: forma invariável

Exemplos:

Nome substantivo: A aspereza daquela resposta me fez mal.

Nome adjetivo: Me senti mal com aquela resposta áspera.

Nome advérbio: Respondeu asperamente.

Pronome substantivo: Você gosta de sorvete?.

Pronome adjetivo: Sorvete é do seu agrado?

Pronome advérbio: O sorvete daqui é ótimo!

1.3.1. Formas dos Nomes Secundários e Terciários
(= Adjetivo e Advérbio)

Aproveitando o inventário aberto (léxico), pode-se deslocar uma forma originariamente substantiva para o exercício de uma função adjetiva ou adverbial, desde que antecedida de um subordinativo (se preposição, resulta locução; se conjunção, oração)

palavra:

Voz cristalina, só a de Elis Regina.

locução (expressão), formada de prep. + subst.:

Voz de cristal, só a de Elis Regina.

oração, formada com conjunção + verbo + subst.:

Voz que parece um cristal, só a de Elis Regina.

2. DISCURSO.

O discurso compreende tudo aquilo que o falante diz ou escreve. É organizado sob a forma direta ou indireta. Os tipos de discurso estão intimamente ligados aos pronomes, por localizarem os seres anonimamente na frase. Por isso, a importância maior de se estudar o discurso está nas três pessoas, que se manifestam através dos pronomes. Eles têm a função de posicionar os seres, ora substituindo-os, ora qualificando-os. A primeira pessoa é quem fala; a segunda, a quem se fala; e a terceira, uma posição distinta da do emissor e da do receptor.

Pessoa Pronomes
1ª (quem fala) eu me meu este
2ª (a quem se fala) tu te teu esse
3ª (longe da 1ª e da 2ª) ele se seu aquele

2.1. Discurso Direto.

No discurso direto, o próprio falante diz o enunciado. Quem está discursando permite que o falante possua voz própria:

Um anjo torto, desses que vive na sombra, disse: ¾ Vai, Carlos, ser gauche na vida.

Os jogadores protestaram: ¾ Foi falta, seu juiz!

2.2. Discurso Indireto.

No discurso indireto, a fala de uma pessoa é reelaborada por um informante, que revela o que o falante disse.

Sofia disse que não ia sair.

Ele continuava cismado e não parava de perguntar onde sua filha tinha estado.

2.3. Discurso Indireto Livre.

Nessa modalidade, a voz do falante aparece misturada ao que diz o informante e consta livremente no texto, geralmente sem marcações (travessão, dois pontos, etc.).

Cristóvão queria saber todos os detalhes. Vamos, diga logo, mas que coisa! Bradava ansiosamente.

Cap. 2 - NOMES

1. CATEGORIAS NOMINAIS.

Os nomes possuem uma característica muito marcante quanto à morfologia: eles variam em gênero, número e grau. São três categorias essencialmente nominais, não obstante os pronomes apresentarem gênero e número, e, por isso, serem chamados de "nomes gramaticais".

O gênero na língua portuguesa faz a oposição entre masculino e feminino. Algumas palavras só conhecem o masculino (sofá, garfo, aparelho) ou só o feminino (cadeira, faca, compota). É importante destacar que o gênero não corresponde à noção de sexo, embora muitas vezes possam coincidir. Por exemplo, "casa" não tem sexo, mas é feminino; "leoa" é fêmea e também apresenta gênero feminino. Do mesmo modo, "vidro" não tem sexo, mas é masculino; "gato" é macho e também do gênero masculino. A desinência que serve para marcar o feminino de uma palavra que se flexiona a partir de um masculino é o morfema -a. Nesse sentido, "leão" e "gato" recebem a desinência -a, marcadora do gênero feminino, gerando as formas "leoa" e "gata", enquanto "sofá", "garfo" e "aparelho" não se flexionam no feminino, assim como "cadeira", "faca" e "compota" não provêm de flexão (por isso, não possuem desinência -a).

O número também é marcado por uma desinência reiterativa, devido à regularidade do processo de flexão na língua portuguesa. Assim, o número faz a oposição entre singular, com morfema zero, e uma segunda forma originada desta, pelo acréscimo da desinência de número ­-s, marcadora da noção de plural. Servem de exemplo as palavras preciosa (morfema zero de número) e preciosas (desinência -s).

Por outro lado, ainda existe a categoria de grau ¾ exclusiva dos nomes, sem ocorrências nos pronomes ¾, que vinha de características flexionais, mas, devido à oscilação de sentido das formas originadas, passou a apresentar fortes características de derivação. Quanto aos tipos de grau, pode-se assinalar uma primeira distinção entre um processo que apenas marca uma quantidade indefinida e um segundo que compara. O primeiro diz-se superlativo absoluto, cujos exemplos são "belíssimo", "muito inteligente", "poucas casas". O segundo é chamado de comparativo de inferioridade, quando menospreza o sujeito do enunciado ante um outro ser ("Sávio é menos esperto que Romário"); ou de igualdade, quando coloca os dois emparelhados ("Sou tão pobre quanto Deus"); ou de superioridade, quando se superestima o sujeito do enunciado ("Fábio é mais alto do que André"). Ainda há uma modalidade que compara o sujeito com todos os demais, mas, por apresentar formas idênticas ao superlativo absoluto, foi chamado de superlativo relativo, e não de um comparativo, como realmente o é. Observe: "a criança é a mais perfeita das criaturas", isto é "de todas as criaturas, a criança é a perfeitíssima".

2. NOMES SUBSTANTIVOS.

Os nomes substantivos se relacionam com o seres existentes em nossa realidade, definindo sua totalidade e sua essência, quase sempre de maneira genérica (tanto para o indivíduo como para sua classe).

casa, mesa, carro, rua, homem,

fada, bruxa, graça,

humildade, coração, humanidade, postura.

Estes seres devem ser perceptíveis em algum plano material ou imaterial, onde estão nossos corpos ou nossa imaginação.

3. NOMES ADJETIVOS.

Nomes adjetivos são palavras que se relacionam com os seres existentes na nossa realidade, qualificando-os através de suas próprias características.

peludo, quadrúpede, carinhoso,

magro, malhado, feliz, pequeno

Note-se que essas palavras qualificam algum animal, que pode ser um gato ou um cachorro (seres existentes em nossa realidade), através de algumas de suas características.

Com uma relação de nomes adjetivos, podemos imaginar qual nome substantivo está em questão:

felino, manso, doméstico (gato)

venenosa, rastejante (cobra)

Entretanto, essa relação não é capaz de nos revelar o ser, por completo, em sua totalidade. Apenas as palavras "gato" e "cobra" conseguem, de uma só vez, definir o ser ou sua espécie, apresentando implicitamente suas características gerais (ao dizer "gato" já sabemos que é um animal felino, manso, doméstico).

3.1. Relação entre Adjetivos e Substantivos.

Os nomes adjetivos se organizam a redor de um nome substantivo. Às vezes, o adjetivo é identificado com ajuda do critério distributivo, que observa a ordem dos termos na frase. Por exemplo, a célebre oposição feita por Machado de Assis entre as expressões "autor defunto" e "defunto autor" só se realiza quando se percebe que o termo de valor substantivo assume tal posição unicamente pela ordenação da frase.

Outro fato interessante diz respeito à semântica do adjetivo. Como o substantivo já define o ser em sua totalidade e em sua essência, não podemos qualificar o ser genericamente, pois as generalidades estão contidas no próprio substantivo.

cavalo quadrúpede

senador político bola redonda

Já sabemos que o ser (cavalo), em sua totalidade, já transmite generalidades (quadrúpede). Por isso, o nome adjetivo se dispõe a redor do nome substantivo para dar qualidades mais subjetivas ou mais particulares:

cavalo malhado

senador honesto

bola amarela

Muitas vezes, o nome adjetivo é usado para selecionar um grupo dentre toda a espécie:

cavalo (espécie) árabe (seleção)

senador (esp.) governista (sel.)

bola (esp.) metálica (sel.)

Veja que apesar do caráter restritivo do adjetivo, a idéia fundamental ainda está nos nomes substantivos.

3.2. Substantivação dos Nomes Adjetivos.

Alguns nomes adjetivos podem assumir a função de substantivo. é bastante comum em nossa língua a mudança de classe gramatical.

homem velho (adj.) X o velho (subst.) indecente

planta amiga (adj.) X a amiga (subst.) sincera

cão louco (adj.) X esse louco (subst.) imbecil

3.3. Substantivos com valor de adjetivos.

Quando um nome substantivo regente é caracterizado por um outro nome substantivo, o termo regido adquire valor de adjetivo. Veja:

presidente João Goulart (adj.)

papo cabeça (adj.)

Instituto Félix Pacheco (adj.)

4. NOMES QUANTITATIVOS (NUMERAIS).

Os numerais vêm sendo estudados como uma classe à parte. Na verdade, eles são nomes porque integram o grupo das palavras lexicais, geralmente na posição de substantivo ou adjetivo.

Substantivos:

O evento atraiu os dois.

As cinco estão de castigo!

Duas vezes dois?

A década não encerrou.

Uma dúzia dá?

Os últimos serão os primeiros.

Adjetivos:

Para mim, eram dois moleques.

A estrela de Davi tem cinco pontas.

Há duas pausas nesta música.

Vou contar a história da Branca de Neve e os sete anões.

Mesmo possuindo função anafórica, ou seja, referindo-se a um antecedente, os numerais, na posição de substantivo, ainda são nomes porque pertencem ao universo léxico, de profundas relações com a realidade concreta.

5. NOME ADVERBIAL.

São os advérbios temporais (hoje, agora, cedo) ou aqueles terminados em -mente (felizmente, rapidamente, ociosamente).

Cap. 3 - VERBOS

1. CONCEITOS.

Verbos são palavras que expressam os processos por que passam os seres. Eles têm uma característica exclusiva: são os únicos capazes de apresentar, simultaneamente, a pessoa do discurso e o tempo.

Venceremos. (pessoa = nós; tempo = futuro)

Uma boa definição para verbo é “palavra que se conjuga”, pois se trata da classe gramatical com maior variedade de formas, segundo as três pessoas do discurso e os diversos tempos da ação, do estado ou do processo.

canto, cantei, cantarei (formas da primeira pessoa)

vendia, vendíamos, vendíeis (formas do tempo pretérito imperfeito)

2. CONJUGAÇÃO.

Existem três conjugações verbais na língua portuguesa. A primeira conjugação abrange os verbos cujo infinitivo termina em AR, a segunda conjugação em ER e a terceira em IR.

PRIMEIRA CONJUGAÇÃO SEGUNDA CONJUGAÇÃO TERCEIRA CONJUGAÇÃO
denunciAR atendER agIR
avisAR remetER repetIR
conquistAR esquecER permitIR
marcAR conhecER distinguIR
perguntAR prevalecER punIR

OBSERVAÇÃO: os verbos pôr e derivados (dispor, repor, transpor, etc.) pertencem a segunda conjugação, pois são evoluções do verbo POER, que terminava em ER.

3. VOGAL TEMÁTICA.

São as vogais temáticas A (1ª), E (2ª), I (3ª) que aparecem no infinitivo. Entretanto elas podem sofrer alterações em outros tempos ou em uma pessoa, gerando alomorfes (cantei, vendíamos, etc.).

4. MODOS, TEMPOS E ASPECTOS VERBAIS.

4.1. Modo: expressa a atitude do falante
durante o processo verbal.

4.1.1. Indicativo: ocorre sobretudo nas orações coordenadas e orações principais:

O Vasco venceu o Botafogo

4.1.2. Subjuntivo: costuma ser empregado nas orações subordinadas:

Espero que você me diga a verdade

Se você não quiser, nós não iremos.

4.1.3. Imperativo: modo que expressa uma ordem, pedido ou súplica

Diga para ele parar! (ordem)

Deixa-me quieto (pedido)

Não fique triste (súplica)

4.2. Tempo: expressa o momento
em que se dá o processo enunciado pelo verbo.

4.2.1. presente;

4.2.2. pretérito;

4.2.3. futuro.

4.2.4. O imperativo geralmente é considerado modo, mas pode denotar a necessidade urgente da realização da ação. Nesse sentido, comporta-se como indicador de tempo.

Pare em nome da lei!

4.2.5. Às vezes, tempo verbal pode apenas denotar um valor modal, isto é, a postura do falante com relação à sentença. Observe:

Será só imaginação? Será que é tudo isso em vão? (posição do falante: dúvida)

"Fi-lo porque qui-lo!" (posição do falante: ênfase imperativa)

4.3. Aspecto: expressa como se processa a ação.

É a duração da ação expressa pelo verbo, que pode ser encarada como conclusa ou como inconclusa,a depender do fim ou da continuidade da ação. Na língua portuguesa, o aspecto só sobreviveu no pretérito, tempo em que se faz a distinção entre uma ação que está em curso no passado a que se refere o verbo (imperfeito) ou que já conheceu o seu fim, naquele mesmo passado (perfeito). Desse modo, "naquela mesa, ele sentava sempre" diz que o sujeito, no passado, senta à mesa infinitas vezes, por força de hábito, conforme os dias passam; por outro lado, "senti na pele tua energia" expressa que o ato (sentir) só se deu em um determinado momento do passado e lá mesmo logrou fim.

Cap. 4 - PRONOMES E ARTIGOS

1. CONCEITOS.

São palavras que determinam a posição dos seres no discurso. Nesse sentido, os pronomes exercem, essencialmente, função dêitica (quando aponta/indica o ser, cujo exemplo maior é o demonstrativo) ou anafórica (quando remete a uma citação anterior, cujo exemplo maior é o pronome relativo).

função dêitica:

Olha aquela garota do outro lado da rua.

função anafórica:

Castro Alves foi quem defendeu a liberdade.

Os pronomes podem substituir ou qualificar os seres a que se referem, nesse processo de posicioná-los. Ao pronome que substitui os seres damos o nome de pronome substantivo e ao pronome que os qualifica damos o nome de pronome adjetivo. Tanto os pronomes substantivos quanto os adjetivos devem concordar com as características do ser a que se referem.

1.1. Pronomes Substantivos.

Ainda que não determinem a essência e completude dos seres, os pronomes substantivos são capazes de substituí-los, posicionando-os no discurso. A língua portuguesa admite três posições no discurso: a primeira pessoa (quem fala), a segunda pessoa (com quem se fala) e a terceira pessoa (de quem se fala).

Eu almocei. Quem fala? Eu.

Tu lembras? Com quem se fala? Tu.

Ele veio. De quem se fala? Ele.

1.1.1. Pronomes Pessoais.

Os pronomes substantivos que incorporam as três pessoas sem apresentar outros aspectos semânticos são chamados de pronomes pessoais. Semelhantes aos nomes, os pronomes pessoais podem se flexionar em número (singular/plural). Também podem desempenhar funções diferentes no discurso, mudando sua forma. São dois casos em que os pronomes pessoais podem aparecer:

Pessoa do discurso caso reto caso oblíquo
Singular Primeira EU ME, MIM, COMIGO
  Segunda TU TE, TI, CONTIGO
  Terceira ELE O, A, LHE, SE, SI, CONSIGO
Plural Primeira NÓS NOS, CONOSCO
  Segunda VÓS VOS, CONVOSCO
  Terceira ELES OS, AS, LHES, SE, SI, CONSIGO

No caso reto, os pronomes desempenham função de sujeito ou predicativo, enquanto que no caso oblíquo, desempenham função de objeto, embora haja exceções (p. ex.: entre eles).

1.1.2. Pronomes de Tratamento.

As palavras que substituem os seres atribuindo-lhes outras qualidades são chamadas de pronomes de tratamento. Veja que eles são capazes de substituir os seres e ao mesmo tempo atribuir-lhes alguma característica:

Pronome de Tratamento Qual ser é substituído? Como ele é qualificado?
Vossa Majestade = Major (soberano) o rei; ele é qualificado com a majestade de sua existência
Vossa Excelência = Excelência (importância) o político; ele é qualificado com a excelência de sua função
Vossa Santidade = Santo (sagrado, eleito) o papa; ele é qualificado com a santidade de seu cargo
Vossa Magnificência = Magnitude (exemplar) o reitor; ele é qualificado com a magnitude de seu exemplo
Vossa Senhoria = Sênior (evoluído) o graduado; ele é qualificado com o respeito por sua cultura
Vossa Alteza = Altura (superioridade) o príncipe; ele é qualificado pela altura de sua nobreza
Vossa Mercê (Você) = Mercê (disponibilidade) o ouvinte comum; ele é qualificado pela atenção cedida
Senhor = Sênior (experiência)* o experiente; ele é qualificado pela vivência/experiência

*Obs. 1: tradicionalmente, Senhor é usado para dirigir-se aos mais velhos. Atualmente vem sendo empregado para que tem alguma experiência. No mercado de trabalho, todos têm, de certa forma, experiência.

*Obs. 2: a curiosidade é que os pronomes de tratamento pedem um verbo na terceira pessoa do singular.

Vossa Santidade está doente.

Vossa Majestade proclama guerra.

1.2. Pronomes Adjetivos.

Como a linguagem verbal é característica dos seres humanos, a primeira pessoa (quem fala) e a segunda pessoa (com quem se fala) acabam representando seres humanos ou humanizados. Resta todo um universo de seres e objetos a se conhecer, que podem se relacionar com as pessoas do discurso. Essas relações são travadas pelos pronomes adjetivos, pois posicionam o ser ou o objeto perto da 1ª, da 2ª ou longe das duas (3ª pessoa).

1.2.1. Pronomes Possessivos.

São aqueles que estabelecem relação de posse entre os seres e alguma pessoa do discurso. Observe:

Meu cachorro está feliz.

Nesse exemplo, a palavra "meu" qualifica "cachorro", relacionando o ser com uma pessoa do discurso (primeira pessoa): eu tenho um cachorro e ele está feliz. Veja que sempre o possuidor é a pessoa do discurso, enquanto o ser em questão é possuído. Assim como os nomes, os pronomes também podem se flexionar em número (como já visto) e em gênero. Observe:

Pessoa do discurso (possuidor) Pronome possessivo que qualifica o ser possuído
Singular Primeira meu, minha, meus, minhas
  Segunda teu, tua, teus, tuas
  Terceira seu, sua, seus, suas
Plural Primeira nosso, nossa, nossos, nossas
  Segunda vosso, vossa, vossos, vossas
  Terceira seu, sua, seus, suas

2. PRONOMES DEMONSTRATIVOS.

São palavras capazes de apontar o ser em questão, marcando a distância dele em relação à primeira ou à segunda pessoa do discurso.

2.1. Pronome Substantivo Demonstrativo.

O pronome substantivo demonstrativo é aquele que, além de marcar a distância em relação a uma pessoa do discurso, consegue substituir o ser.

Isso faz bem.

Veja que o ser foi de tal maneira substituído que nem sabemos sua característica mais básica. Porém, entendemos que se trata de um ser próximo da primeira pessoa (quem fala). O ser pode estar, ainda, perto da segunda pessoa (com quem se fala) ou longe das duas. Veja o quadro

Pronome Demonstrativo Perto de Quem?
Isso perto da primeira pessoa
Isto perto da segunda pessoa
Aquilo não está perto nem da 1ª nem da 2ª

2.2. Pronome Adjetivo Demonstrativo.

Chamamos de pronome adjetivo demonstrativo aqueles que não substituem o ser, mas lhe conferem uma distância em relação à primeira ou à segunda pessoa do discurso. Observe:

Aquele Fusca é ótimo!

Veja que o pronome "aquele" consegue demonstrar a distância em relação à primeira e à segunda pessoa ao mesmo tempo. Nesse exemplo, o ser não foi substituído, pois ele está representado pelo seu nome (Fusca), porém o pronome qualifica esse ser, apontando a distância em relação às duas pessoas do discurso. Confira:

Pronome Demonstrativo Perto de quem?
Esse Primeira pessoa
Este Segunda pessoa
Aquele Nem da 1ª, nem da 2ª pessoa

Repare que esses pronomes demonstrativos podem se flexionar em gênero e número, o que para "isso", "isto" e "aquilo" é impossível.

Pronome Demonstrativo Perto de quem?
Masc. Sing. Fem. Sing. Masc. Plural Fem. Plural  
Esse Essa Esses Essas Primeira pessoa
Este Esta Estes Estas Segunda pessoa
Aquele Aquela Aqueles Aquelas Nem da 1ª, nem da 2ª pessoa

*Obs.: podemos usar os pronomes demonstrativos com função anafórica (que substitui o termo anterior).

Só falta a seleção brasileira acusar o juiz; este não tem nada com o desânimo dos jogadores.

Esse recurso está mais presente em estudos científicos ou jornalísticos. Repare:

O governo não quer dar aumento aos servidores; estes sofrem, enquanto aquele discursa.

Observe que o pronome "este" se refere sempre ao ser mais próximo ao mesmo tempo em que "aquele" se remete sempre ao mais distante. Na língua culta, vem se levantando a possibilidade de usarmos "esse" para termos ainda não citados e "este" para os termos já mencionados. Preste atenção:

O progresso e o consumo andam de mãos dadas; este (o consumo) causa desigualdades e aquele (o progresso) aliena os ignorantes. Esses dois males (termo ainda não citado) não podem mais existir.

Mesmo com esta norma, os falantes rejeitam a distinção entre "esse" e "este". Eles têm razão; até os acadêmicos confundem ou ignoram esse conselho estéril.

3. PRONOMES INDEFINIDOS.

Os pronomes que se referem ao ser dando a noção de quantidade aproximada são chamados de pronomes indefinidos. Eles marcam uma quantidade aproximada, estabelecendo a diferença entre a unidade e a multiplicidade.

Alguém precisa me amar. (unidade)

Tudo vai acabar bem. (multiplicidade)

3.1. Pronome Substantivo Indefinido.

Os pronomes indefinidos são substantivos quando assumem o lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.

Ninguém pode fazer nada!

Cristiani não disse nada.

Observe que esses pronomes tomam lugar do ser na frase e o indeterminam. Outros pronomes substantivos indefinidos podem fazer o mesmo. Eis alguns deles:

alguém tudo outrem nada algo ninguém

3.2. Pronome Adjetivo Indefinido.

Os pronomes indefinidos tem a função de adjetivo quando qualificam um ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade aproximada.

Várias pessoas vieram à passeata.

Queremos toda a verdade.

Veja que esses pronomes indeterminam o ser que está expresso na frase. Assim também são pronomes adjetivos indefinidos:

algum outro certo cada pouco qualquer
nenhum   vário todo muito quanto

*Obs. 1: flexão dos pronomes adjetivos indefinidos. Muitos pronomes adjetivos indefinidos podem se flexionar em número; alguns podem se flexionar até no feminino. Veja como acontece:

Pronome Masc. Sing Fem. Sing. Masc. Plural Fem. Plural
algum algum alguma alguns algumas
nenhum nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
outro outro outra outros outras
certo certo certa certos certas
vário vário vária vários várias
cada cada cada    
todo todo toda todos todas
pouco pouco pouca poucos poucas
muito muito muita muitos muitas
qualquer qualquer qualquer quaisquer quaisquer
quanto quanto quanta quantos quantas

É importante experimentar a flexão para ter certeza de que a palavra se trata realmente de um pronome indefinido, pois se essas formas forem invariáveis não serão pronomes adjetivos (exceto o pronome "cada").

*Obs. 2: o pronome "tudo" pode ser adjetivo. Nas expressões "tudo isso", "tudo isto" e "tudo aquilo", a palavra "tudo" é pronome adjetivo indefinido.

*Obs. 3: o pronome "todos" pode ser substantivo. Quando vier isolado, "todos" é classificado como pronome substantivo indefinido. Ex.: Todos aplaudiram.

4. PRONOMES INTERROGATIVOS.

Nas perguntas diretas ou indiretas, o pronome interrogativo indaga o conhecimento do ser. São transpostos da classe dos indefinidos.

Quem é aquele menino? É o filho de Seu Malaquias.

Veja que o pronome serve para perguntar sobre o ser, pois a pessoa que perguntou deseja o conhecimento do ser (menino). Existem outros pronomes interrogativos:

Que Qual Quem Quanto

Quantas pedras de açúcar você quer?

Que reboliço é esse?

Qual é o seu nome?

Quem é?

O pronome "quem" é substantivo, enquanto os demais são geralmente adjetivos.

Quem quer dinheiro?

Quem vai jogar?

Quem ousa arriscar?

Que dinheiro é esse?

Qual mistério te veste?

Quantos paus fazem uma canoa?

Porém, os pronomes "que", "qual" e "quanto" podem assumir função de substantivo.

Que desejas? Quanto custa? Qual esmorece?

Obs.: “quanto” é substantivo porque a resposta é um nome. Ex.: Quanto custa esta blusa. Custa sete reais.

5. PRONOMES RELATIVOS.

São pronomes que sempre se referem a um antecedente expresso na frase ou no pensamento. Trata-se de verdadeiros conectivos. Veja quais são:

quem que o qual cujo quanto onde

Empregamos exaustivamente o pronome relativo em nosso dia-a-dia, para não repetirmos o que já falamos:

Quero aquele desconto que a senhora me prometeu.

Como é o nome daquele professor que grita o tempo todo?

O lugar aonde vou você não pode saber.

Já percebeu que alguns pronomes relativos podem se flexionar?

Você é minha vida a qual não posso dominar.

Quero que me conte seus vacilos, dos quais ouvi dizer.

Revidava quantos lhe agrediam. (quantos = aqueles tantos que)

6. ARTIGO.

É um elemento gramatical que antecede o nome substantivo com uma relação de profunda dependência

o(s), a(s), um(a), uns, umas

Na verdade, eles vieram de uma evolução do pronome demonstrativo ile (latim). Portanto, o artigo preserva grande parte de sua função de demonstrativo, o que a gramática não contempla inteiramente, pois continua interpretando o artigo como classe gramatical independente. Veja as semelhanças:

Olha o menino passando de boné!

Olha aquele menino passando de boné!

O lápis está me pedindo para desenhar.

Este lápis está me pedindo para desenhar.

De fato o relicário lhe cai bem.

De fato esse relicário lhe cai bem.

Note-se que o artigo realmente tem uma profunda ligação com os pronomes, especialmente com os demonstrativos, através desses outros exemplos em que vemos a utilização das formas "o", "a", "os", "as" (que tradicionalmente funcionam como artigo) para representar, em caráter extraordinário, pronomes substantivos demonstrativos:

Não viu o que estava acontecendo [o = aquilo]

Não queria grandes fortunas, exceto as do espírito [as = aquelas]

Algumas vezes, os artigos podem conferir ao nome uma noção inexata. Nestes casos, o ser em questão é parcialmente conhecido. Observe:

Um homem tem que honrar seus compromissos.

Não se trata de um ou dois homens, mas sim de um ser conhecido parcialmente. A noção de quantidade aqui não está em jogo; o que importa no enunciado é a generalização do ser (homem). Outro exemplo:

Umas boas moedas resolveriam.

Também não se trata de quantidade, mas sim de indefinir o ser em questão. Estes artigos são chamados de artigos indefinidos, pois, diferentemente dos artigos definidos o(s) e a(s), exprimem indefinição, incerteza, desconhecimento, generalização. A correlação com os pronomes aqui fica mais evidente:

Uma meia dúzia não resolve. (uma = qualquer)

Uns loucos assumem abertamente; outros negam (uns = alguns)

Não conheço uma pessoa nessa festa (uma = nenhuma)

Desse disco não conheço quase nada: umas músicas e olhe lá (umas = poucas)

Obs.: para diferenciar se a palavra "um" e suas flexões são artigos ou numerais, basta experimentar inseri-las numa transitividade indireta com preposição A. Se aparece a crase, naturalmente trata-se de um numeral, ao qual podemos adicionar o artigo; caso contrário, será um artigo, pois não permitirá a crase. Além do que, pelo seu caráter de indefinição, o artigo indefinido generaliza, e nunca especifica; freqüentemente pode ser substituído pelo plural, que também expressa a generalização.

Uma hora é muito tarde!

Chegou à uma hora (uma = numeral) = esp.

Uma criança precisa de sua mãe.

Dê amor a uma criança.(uma = artigo) = gen.

Uma flor decora minha mesa. Duas flores decoram.(uma = numeral) = esp.

Uma flor de plástico serve para decorar.

Flores de plástico. (uma = artigo) = gen.

Cap. 5 - PALAVRAS INVARIÁVEIS

1. ADVÉRBIO.

Os advérbios ajudam o verbo a expressar a circunstância de uma proposição.

felizmente (lexical)

aqui (gramatical)

O mais importante a lembrar é que não existe uma lista definitiva para os advérbios; portanto devemos classificá-los segundo a idéia que eles expressam, destacando-se estes:

1.1. advérbio de afirmação (sim, certamente, efetivamente);

1.2. advérbio de negação (não);

1.3. advérbio de intensidade (muito, quase, bastante, pouco);

1.4. advérbio de modo (assim, depressa, devagar, mal, fielmente, docemente, cruelmente);

1.5. advérbio de tempo (agora, ontem, hoje, amanhã, ainda);

1.6. advérbio de lugar (aqui, ali, lá, adiante, abaixo);

1.7. advérbio de interrogação (por que?; onde?; como?; quando?)

2. CONECTIVOS.

Conectivos são palavras que servem de ligação para melhor articular o discurso e desenvolver determinado sentido que sem eles não existiria. Os conectivos podem ligar palavras ou orações.

Pano de fundo.

Café com leite.

Lutou e venceu.

Os conectivos são classificados, primeiramente, em dois grandes grupos: coordenativos ("e", "mas", "pois", "ou", etc.) e subordinativos (preposição, quando relaciona palavras; e conjunção, quando relaciona orações). Mas há exceções a essa distinção esboçada em linhas gerais, pois as preposições também relacionam uma oração reduzida à sua principal ("quero a liberdade de ir e vir"), da mesma forma que os coordenativos, de modo semelhante, podem ligar apenas palavras ("Pedro e João", "açúcar ou adoçante").

3. CATEGORIAS DISCURSIVAS.

São palavras com classificação especial, denunciando a incompletude da classificação de palavras habitualmente adotada pelas gramáticas. Em geral, as categorias discursivas expressam a afetação do falante quanto ao enunciado.

3.1. inclusão ou concessão (até, inclusive, mesmo, também); 3.2. exclusão ou condição (apenas, salvo, só, somente, senão); 3.3. retificação (aliás, isto é, ou melhor, ou seja); 3.4. situação (afinal, agora, então, mas); 3.5. realce (é que e sinônimos); 3.6. designação (eis).

4. INTERJEIÇÕES E MARCADORES ORAIS.

Existem palavras que servem para representar, no texto escrito, sentimentos reais ou impulsos momentâneos. Destas palavras, as que expressam predominantemente a emotividade do falante são chamadas de interjeições; aquelas que procuram fundamentalmente envolver ou estimular o ouvinte são chamadas de marcadores orais.

4.1. interjeição

Observe um exemplo de interjeição:

Droga! Você não me escuta!

Neste exemplo, a palavra "droga" é uma interjeição porque expressa um sentimento de impaciência, nervosismo ou raiva do falante. Muitas outras interjeições podem ser identificadas em nossa fala ou na escrita, quase sempre equivalentes a uma oração. Observe outros exemplos::

Ah meu Deus! Puxa vida! Ai!

Eu hein! Nossa! Bolas!

4.2. marcador oral.

O exemplo a seguir contém um marcador oral:

Não vou poder ir com você, tá bom?

Lave já essa louça, entendeu?

Obs.: Veja que a palavra "entendeu" é um marcador oral porque aponta primeiramente uma preocupação do falante com a atenção e compreensão do ouvinte. Existem vários marcadores orais:

Liga para mim, tá?

E esse dengo, hein?

Ninguém quer brigar, certo?

Note que as interjeições são acompanhadas de uma exclamação, enquanto os marcadores orais estão ao lado de uma interrogação.

Dedico este trabalho a todas as forças que me amparam.

MODERNA PERSPECTIVA DAS CLASSES DE PALAVRAS
Em Homenagem a J[oaquim] Mattoso Câmara Jr.

Camillo Baptista Oliveira Cavalcanti (UFF)

Cap. 1 - CONCEITOS GRAMATICAIS

Muitos questionamentos estão surgindo hoje quanto às classes gramaticais. De fato, existe uma confusão entre morfologia e semântica, tornando o estudo, por vezes, desgastante. Por isso, separamos a morfologia numa outra parte de nossos estudos.

1. NOÇÕES PRELIMINARES.

1.1. Palavras Lexicais e Gramaticais.

Existem dois tipos básicos de palavras: aquelas que se referem a objetos e a eventos do mundo real (ou de nossa imaginação) e outras que só existem para o funcionamento da língua. Dessa divisão surgem as palavras lexicais e as gramaticais.

Lexicais Gramaticais
o
três eu
levo que
bosque com
conquistou assim
encouraçado contigo

Como vemos, as palavras lexicais se referem a objetos ou processos existentes no mundo cotidiano e, portanto, são os nomes e os verbos, resp. Por outro lado, as palavras gramaticais abrangem os pronomes/artigos (que se limitam a localizar o ser no discurso, sem lhe acusar características) e os conectivos (elementos de ligação das outras palavras, ou de articulação do discurso), subdivididos em conjunções e preposições.

1.2. As Classes Gramaticais.

As gramáticas apresentam 10 classes de palavras: Substantivo, Artigo, Adjetivo, Pronome, Numeral, Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção e Interjeição. Entretanto, a classificação que melhor discerne os critérios está representada no quadro a seguir:

  critério semântico critério funcional
palavras lexicais (inventário aberto) Nome (inclusive Numeral) substantivo
    adjetivo
    advérbio
  Verbo  
palavras gramaticais (inventário fechado) Pronome (inclusive Artigo) "nome gramatical" substantivo
    adjetivo
    advérbio
  Conectivo coordenativo
    subordinativo

1.3. As Categorias de Substantivo, Adjetivo e Advérbio.

As modalidades substantivo, adjetivo e advérbio nascem da função exercida na frase e se aplicam tanto a nomes quanto a pronomes.

substantivo: termo que estabelece relação primária com um referente; exerce função de núcleo do sintagma;

principal característica: denota a essência do ser.

O gato tem instinto de caçador.

adjetivo: termo determinante, modificador no sintagma; estabelece relação secundária com o referente;

principal característica: expressa uma característica do ser. Um homem cabisbaixo não tem moral.

advérbio: também modificador, mas em relação terciária com o referente, isto é, só a partir das relações secundárias do verbo ou do adjetivo (subordinados ao sujeito e ao substantivo, respectivamente), se relacionam com o referente.

principal característica: forma invariável

Exemplos:

Nome substantivo: A aspereza daquela resposta me fez mal.

Nome adjetivo: Me senti mal com aquela resposta áspera.

Nome advérbio: Respondeu asperamente.

Pronome substantivo: Você gosta de sorvete?.

Pronome adjetivo: Sorvete é do seu agrado?

Pronome advérbio: O sorvete daqui é ótimo!

1.3.1. Formas dos Nomes Secundários e Terciários
(= Adjetivo e Advérbio)

Aproveitando o inventário aberto (léxico), pode-se deslocar uma forma originariamente substantiva para o exercício de uma função adjetiva ou adverbial, desde que antecedida de um subordinativo (se preposição, resulta locução; se conjunção, oração)

palavra:

Voz cristalina, só a de Elis Regina.

locução (expressão), formada de prep. + subst.:

Voz de cristal, só a de Elis Regina.

oração, formada com conjunção + verbo + subst.:

Voz que parece um cristal, só a de Elis Regina.

2. DISCURSO.

O discurso compreende tudo aquilo que o falante diz ou escreve. É organizado sob a forma direta ou indireta. Os tipos de discurso estão intimamente ligados aos pronomes, por localizarem os seres anonimamente na frase. Por isso, a importância maior de se estudar o discurso está nas três pessoas, que se manifestam através dos pronomes. Eles têm a função de posicionar os seres, ora substituindo-os, ora qualificando-os. A primeira pessoa é quem fala; a segunda, a quem se fala; e a terceira, uma posição distinta da do emissor e da do receptor.

Pessoa Pronomes
1ª (quem fala) eu me meu este
2ª (a quem se fala) tu te teu esse
3ª (longe da 1ª e da 2ª) ele se seu aquele

2.1. Discurso Direto.

No discurso direto, o próprio falante diz o enunciado. Quem está discursando permite que o falante possua voz própria:

Um anjo torto, desses que vive na sombra, disse: ¾ Vai, Carlos, ser gauche na vida.

Os jogadores protestaram: ¾ Foi falta, seu juiz!

2.2. Discurso Indireto.

No discurso indireto, a fala de uma pessoa é reelaborada por um informante, que revela o que o falante disse.

Sofia disse que não ia sair.

Ele continuava cismado e não parava de perguntar onde sua filha tinha estado.

2.3. Discurso Indireto Livre.

Nessa modalidade, a voz do falante aparece misturada ao que diz o informante e consta livremente no texto, geralmente sem marcações (travessão, dois pontos, etc.).

Cristóvão queria saber todos os detalhes. Vamos, diga logo, mas que coisa! Bradava ansiosamente.

Cap. 2 - NOMES

1. CATEGORIAS NOMINAIS.

Os nomes possuem uma característica muito marcante quanto à morfologia: eles variam em gênero, número e grau. São três categorias essencialmente nominais, não obstante os pronomes apresentarem gênero e número, e, por isso, serem chamados de "nomes gramaticais".

O gênero na língua portuguesa faz a oposição entre masculino e feminino. Algumas palavras só conhecem o masculino (sofá, garfo, aparelho) ou só o feminino (cadeira, faca, compota). É importante destacar que o gênero não corresponde à noção de sexo, embora muitas vezes possam coincidir. Por exemplo, "casa" não tem sexo, mas é feminino; "leoa" é fêmea e também apresenta gênero feminino. Do mesmo modo, "vidro" não tem sexo, mas é masculino; "gato" é macho e também do gênero masculino. A desinência que serve para marcar o feminino de uma palavra que se flexiona a partir de um masculino é o morfema -a. Nesse sentido, "leão" e "gato" recebem a desinência -a, marcadora do gênero feminino, gerando as formas "leoa" e "gata", enquanto "sofá", "garfo" e "aparelho" não se flexionam no feminino, assim como "cadeira", "faca" e "compota" não provêm de flexão (por isso, não possuem desinência -a).

O número também é marcado por uma desinência reiterativa, devido à regularidade do processo de flexão na língua portuguesa. Assim, o número faz a oposição entre singular, com morfema zero, e uma segunda forma originada desta, pelo acréscimo da desinência de número ­-s, marcadora da noção de plural. Servem de exemplo as palavras preciosa (morfema zero de número) e preciosas (desinência -s).

Por outro lado, ainda existe a categoria de grau ¾ exclusiva dos nomes, sem ocorrências nos pronomes ¾, que vinha de características flexionais, mas, devido à oscilação de sentido das formas originadas, passou a apresentar fortes características de derivação. Quanto aos tipos de grau, pode-se assinalar uma primeira distinção entre um processo que apenas marca uma quantidade indefinida e um segundo que compara. O primeiro diz-se superlativo absoluto, cujos exemplos são "belíssimo", "muito inteligente", "poucas casas". O segundo é chamado de comparativo de inferioridade, quando menospreza o sujeito do enunciado ante um outro ser ("Sávio é menos esperto que Romário"); ou de igualdade, quando coloca os dois emparelhados ("Sou tão pobre quanto Deus"); ou de superioridade, quando se superestima o sujeito do enunciado ("Fábio é mais alto do que André"). Ainda há uma modalidade que compara o sujeito com todos os demais, mas, por apresentar formas idênticas ao superlativo absoluto, foi chamado de superlativo relativo, e não de um comparativo, como realmente o é. Observe: "a criança é a mais perfeita das criaturas", isto é "de todas as criaturas, a criança é a perfeitíssima".

2. NOMES SUBSTANTIVOS.

Os nomes substantivos se relacionam com o seres existentes em nossa realidade, definindo sua totalidade e sua essência, quase sempre de maneira genérica (tanto para o indivíduo como para sua classe).

casa, mesa, carro, rua, homem,

fada, bruxa, graça,

humildade, coração, humanidade, postura.

Estes seres devem ser perceptíveis em algum plano material ou imaterial, onde estão nossos corpos ou nossa imaginação.

3. NOMES ADJETIVOS.

Nomes adjetivos são palavras que se relacionam com os seres existentes na nossa realidade, qualificando-os através de suas próprias características.

peludo, quadrúpede, carinhoso,

magro, malhado, feliz, pequeno

Note-se que essas palavras qualificam algum animal, que pode ser um gato ou um cachorro (seres existentes em nossa realidade), através de algumas de suas características.

Com uma relação de nomes adjetivos, podemos imaginar qual nome substantivo está em questão:

felino, manso, doméstico (gato)

venenosa, rastejante (cobra)

Entretanto, essa relação não é capaz de nos revelar o ser, por completo, em sua totalidade. Apenas as palavras "gato" e "cobra" conseguem, de uma só vez, definir o ser ou sua espécie, apresentando implicitamente suas características gerais (ao dizer "gato" já sabemos que é um animal felino, manso, doméstico).

3.1. Relação entre Adjetivos e Substantivos.

Os nomes adjetivos se organizam a redor de um nome substantivo. Às vezes, o adjetivo é identificado com ajuda do critério distributivo, que observa a ordem dos termos na frase. Por exemplo, a célebre oposição feita por Machado de Assis entre as expressões "autor defunto" e "defunto autor" só se realiza quando se percebe que o termo de valor substantivo assume tal posição unicamente pela ordenação da frase.

Outro fato interessante diz respeito à semântica do adjetivo. Como o substantivo já define o ser em sua totalidade e em sua essência, não podemos qualificar o ser genericamente, pois as generalidades estão contidas no próprio substantivo.

cavalo quadrúpede

senador político bola redonda

Já sabemos que o ser (cavalo), em sua totalidade, já transmite generalidades (quadrúpede). Por isso, o nome adjetivo se dispõe a redor do nome substantivo para dar qualidades mais subjetivas ou mais particulares:

cavalo malhado

senador honesto

bola amarela

Muitas vezes, o nome adjetivo é usado para selecionar um grupo dentre toda a espécie:

cavalo (espécie) árabe (seleção)

senador (esp.) governista (sel.)

bola (esp.) metálica (sel.)

Veja que apesar do caráter restritivo do adjetivo, a idéia fundamental ainda está nos nomes substantivos.

3.2. Substantivação dos Nomes Adjetivos.

Alguns nomes adjetivos podem assumir a função de substantivo. é bastante comum em nossa língua a mudança de classe gramatical.

homem velho (adj.) X o velho (subst.) indecente

planta amiga (adj.) X a amiga (subst.) sincera

cão louco (adj.) X esse louco (subst.) imbecil

3.3. Substantivos com valor de adjetivos.

Quando um nome substantivo regente é caracterizado por um outro nome substantivo, o termo regido adquire valor de adjetivo. Veja:

presidente João Goulart (adj.)

papo cabeça (adj.)

Instituto Félix Pacheco (adj.)

4. NOMES QUANTITATIVOS (NUMERAIS).

Os numerais vêm sendo estudados como uma classe à parte. Na verdade, eles são nomes porque integram o grupo das palavras lexicais, geralmente na posição de substantivo ou adjetivo.

Substantivos:

O evento atraiu os dois.

As cinco estão de castigo!

Duas vezes dois?

A década não encerrou.

Uma dúzia dá?

Os últimos serão os primeiros.

Adjetivos:

Para mim, eram dois moleques.

A estrela de Davi tem cinco pontas.

Há duas pausas nesta música.

Vou contar a história da Branca de Neve e os sete anões.

Mesmo possuindo função anafórica, ou seja, referindo-se a um antecedente, os numerais, na posição de substantivo, ainda são nomes porque pertencem ao universo léxico, de profundas relações com a realidade concreta.

5. NOME ADVERBIAL.

São os advérbios temporais (hoje, agora, cedo) ou aqueles terminados em -mente (felizmente, rapidamente, ociosamente).

Cap. 3 - VERBOS

1. CONCEITOS.

Verbos são palavras que expressam os processos por que passam os seres. Eles têm uma característica exclusiva: são os únicos capazes de apresentar, simultaneamente, a pessoa do discurso e o tempo.

Venceremos. (pessoa = nós; tempo = futuro)

Uma boa definição para verbo é “palavra que se conjuga”, pois se trata da classe gramatical com maior variedade de formas, segundo as três pessoas do discurso e os diversos tempos da ação, do estado ou do processo.

canto, cantei, cantarei (formas da primeira pessoa)

vendia, vendíamos, vendíeis (formas do tempo pretérito imperfeito)

2. CONJUGAÇÃO.

Existem três conjugações verbais na língua portuguesa. A primeira conjugação abrange os verbos cujo infinitivo termina em AR, a segunda conjugação em ER e a terceira em IR.

PRIMEIRA CONJUGAÇÃO SEGUNDA CONJUGAÇÃO TERCEIRA CONJUGAÇÃO
denunciAR atendER agIR
avisAR remetER repetIR
conquistAR esquecER permitIR
marcAR conhecER distinguIR
perguntAR prevalecER punIR

OBSERVAÇÃO: os verbos pôr e derivados (dispor, repor, transpor, etc.) pertencem a segunda conjugação, pois são evoluções do verbo POER, que terminava em ER.

3. VOGAL TEMÁTICA.

São as vogais temáticas A (1ª), E (2ª), I (3ª) que aparecem no infinitivo. Entretanto elas podem sofrer alterações em outros tempos ou em uma pessoa, gerando alomorfes (cantei, vendíamos, etc.).

4. MODOS, TEMPOS E ASPECTOS VERBAIS.

4.1. Modo: expressa a atitude do falante
durante o processo verbal.

4.1.1. Indicativo: ocorre sobretudo nas orações coordenadas e orações principais:

O Vasco venceu o Botafogo

4.1.2. Subjuntivo: costuma ser empregado nas orações subordinadas:

Espero que você me diga a verdade

Se você não quiser, nós não iremos.

4.1.3. Imperativo: modo que expressa uma ordem, pedido ou súplica

Diga para ele parar! (ordem)

Deixa-me quieto (pedido)

Não fique triste (súplica)

4.2. Tempo: expressa o momento
em que se dá o processo enunciado pelo verbo.

4.2.1. presente;

4.2.2. pretérito;

4.2.3. futuro.

4.2.4. O imperativo geralmente é considerado modo, mas pode denotar a necessidade urgente da realização da ação. Nesse sentido, comporta-se como indicador de tempo.

Pare em nome da lei!

4.2.5. Às vezes, tempo verbal pode apenas denotar um valor modal, isto é, a postura do falante com relação à sentença. Observe:

Será só imaginação? Será que é tudo isso em vão? (posição do falante: dúvida)

"Fi-lo porque qui-lo!" (posição do falante: ênfase imperativa)

4.3. Aspecto: expressa como se processa a ação.

É a duração da ação expressa pelo verbo, que pode ser encarada como conclusa ou como inconclusa,a depender do fim ou da continuidade da ação. Na língua portuguesa, o aspecto só sobreviveu no pretérito, tempo em que se faz a distinção entre uma ação que está em curso no passado a que se refere o verbo (imperfeito) ou que já conheceu o seu fim, naquele mesmo passado (perfeito). Desse modo, "naquela mesa, ele sentava sempre" diz que o sujeito, no passado, senta à mesa infinitas vezes, por força de hábito, conforme os dias passam; por outro lado, "senti na pele tua energia" expressa que o ato (sentir) só se deu em um determinado momento do passado e lá mesmo logrou fim.

Cap. 4 - PRONOMES E ARTIGOS

1. CONCEITOS.

São palavras que determinam a posição dos seres no discurso. Nesse sentido, os pronomes exercem, essencialmente, função dêitica (quando aponta/indica o ser, cujo exemplo maior é o demonstrativo) ou anafórica (quando remete a uma citação anterior, cujo exemplo maior é o pronome relativo).

função dêitica:

Olha aquela garota do outro lado da rua.

função anafórica:

Castro Alves foi quem defendeu a liberdade.

Os pronomes podem substituir ou qualificar os seres a que se referem, nesse processo de posicioná-los. Ao pronome que substitui os seres damos o nome de pronome substantivo e ao pronome que os qualifica damos o nome de pronome adjetivo. Tanto os pronomes substantivos quanto os adjetivos devem concordar com as características do ser a que se referem.

1.1. Pronomes Substantivos.

Ainda que não determinem a essência e completude dos seres, os pronomes substantivos são capazes de substituí-los, posicionando-os no discurso. A língua portuguesa admite três posições no discurso: a primeira pessoa (quem fala), a segunda pessoa (com quem se fala) e a terceira pessoa (de quem se fala).

Eu almocei. Quem fala? Eu.

Tu lembras? Com quem se fala? Tu.

Ele veio. De quem se fala? Ele.

1.1.1. Pronomes Pessoais.

Os pronomes substantivos que incorporam as três pessoas sem apresentar outros aspectos semânticos são chamados de pronomes pessoais. Semelhantes aos nomes, os pronomes pessoais podem se flexionar em número (singular/plural). Também podem desempenhar funções diferentes no discurso, mudando sua forma. São dois casos em que os pronomes pessoais podem aparecer:

Pessoa do discurso caso reto caso oblíquo
Singular Primeira EU ME, MIM, COMIGO
  Segunda TU TE, TI, CONTIGO
  Terceira ELE O, A, LHE, SE, SI, CONSIGO
Plural Primeira NÓS NOS, CONOSCO
  Segunda VÓS VOS, CONVOSCO
  Terceira ELES OS, AS, LHES, SE, SI, CONSIGO

No caso reto, os pronomes desempenham função de sujeito ou predicativo, enquanto que no caso oblíquo, desempenham função de objeto, embora haja exceções (p. ex.: entre eles).

1.1.2. Pronomes de Tratamento.

As palavras que substituem os seres atribuindo-lhes outras qualidades são chamadas de pronomes de tratamento. Veja que eles são capazes de substituir os seres e ao mesmo tempo atribuir-lhes alguma característica:

Pronome de Tratamento Qual ser é substituído? Como ele é qualificado?
Vossa Majestade = Major (soberano) o rei; ele é qualificado com a majestade de sua existência
Vossa Excelência = Excelência (importância) o político; ele é qualificado com a excelência de sua função
Vossa Santidade = Santo (sagrado, eleito) o papa; ele é qualificado com a santidade de seu cargo
Vossa Magnificência = Magnitude (exemplar) o reitor; ele é qualificado com a magnitude de seu exemplo
Vossa Senhoria = Sênior (evoluído) o graduado; ele é qualificado com o respeito por sua cultura
Vossa Alteza = Altura (superioridade) o príncipe; ele é qualificado pela altura de sua nobreza
Vossa Mercê (Você) = Mercê (disponibilidade) o ouvinte comum; ele é qualificado pela atenção cedida
Senhor = Sênior (experiência)* o experiente; ele é qualificado pela vivência/experiência

*Obs. 1: tradicionalmente, Senhor é usado para dirigir-se aos mais velhos. Atualmente vem sendo empregado para que tem alguma experiência. No mercado de trabalho, todos têm, de certa forma, experiência.

*Obs. 2: a curiosidade é que os pronomes de tratamento pedem um verbo na terceira pessoa do singular.

Vossa Santidade está doente.

Vossa Majestade proclama guerra.

1.2. Pronomes Adjetivos.

Como a linguagem verbal é característica dos seres humanos, a primeira pessoa (quem fala) e a segunda pessoa (com quem se fala) acabam representando seres humanos ou humanizados. Resta todo um universo de seres e objetos a se conhecer, que podem se relacionar com as pessoas do discurso. Essas relações são travadas pelos pronomes adjetivos, pois posicionam o ser ou o objeto perto da 1ª, da 2ª ou longe das duas (3ª pessoa).

1.2.1. Pronomes Possessivos.

São aqueles que estabelecem relação de posse entre os seres e alguma pessoa do discurso. Observe:

Meu cachorro está feliz.

Nesse exemplo, a palavra "meu" qualifica "cachorro", relacionando o ser com uma pessoa do discurso (primeira pessoa): eu tenho um cachorro e ele está feliz. Veja que sempre o possuidor é a pessoa do discurso, enquanto o ser em questão é possuído. Assim como os nomes, os pronomes também podem se flexionar em número (como já visto) e em gênero. Observe:

Pessoa do discurso (possuidor) Pronome possessivo que qualifica o ser possuído
Singular Primeira meu, minha, meus, minhas
  Segunda teu, tua, teus, tuas
  Terceira seu, sua, seus, suas
Plural Primeira nosso, nossa, nossos, nossas
  Segunda vosso, vossa, vossos, vossas
  Terceira seu, sua, seus, suas

2. PRONOMES DEMONSTRATIVOS.

São palavras capazes de apontar o ser em questão, marcando a distância dele em relação à primeira ou à segunda pessoa do discurso.

2.1. Pronome Substantivo Demonstrativo.

O pronome substantivo demonstrativo é aquele que, além de marcar a distância em relação a uma pessoa do discurso, consegue substituir o ser.

Isso faz bem.

Veja que o ser foi de tal maneira substituído que nem sabemos sua característica mais básica. Porém, entendemos que se trata de um ser próximo da primeira pessoa (quem fala). O ser pode estar, ainda, perto da segunda pessoa (com quem se fala) ou longe das duas. Veja o quadro

Pronome Demonstrativo Perto de Quem?
Isso perto da primeira pessoa
Isto perto da segunda pessoa
Aquilo não está perto nem da 1ª nem da 2ª

2.2. Pronome Adjetivo Demonstrativo.

Chamamos de pronome adjetivo demonstrativo aqueles que não substituem o ser, mas lhe conferem uma distância em relação à primeira ou à segunda pessoa do discurso. Observe:

Aquele Fusca é ótimo!

Veja que o pronome "aquele" consegue demonstrar a distância em relação à primeira e à segunda pessoa ao mesmo tempo. Nesse exemplo, o ser não foi substituído, pois ele está representado pelo seu nome (Fusca), porém o pronome qualifica esse ser, apontando a distância em relação às duas pessoas do discurso. Confira:

Pronome Demonstrativo Perto de quem?
Esse Primeira pessoa
Este Segunda pessoa
Aquele Nem da 1ª, nem da 2ª pessoa

Repare que esses pronomes demonstrativos podem se flexionar em gênero e número, o que para "isso", "isto" e "aquilo" é impossível.

Pronome Demonstrativo Perto de quem?
Masc. Sing. Fem. Sing. Masc. Plural Fem. Plural  
Esse Essa Esses Essas Primeira pessoa
Este Esta Estes Estas Segunda pessoa
Aquele Aquela Aqueles Aquelas Nem da 1ª, nem da 2ª pessoa

*Obs.: podemos usar os pronomes demonstrativos com função anafórica (que substitui o termo anterior).

Só falta a seleção brasileira acusar o juiz; este não tem nada com o desânimo dos jogadores.

Esse recurso está mais presente em estudos científicos ou jornalísticos. Repare:

O governo não quer dar aumento aos servidores; estes sofrem, enquanto aquele discursa.

Observe que o pronome "este" se refere sempre ao ser mais próximo ao mesmo tempo em que "aquele" se remete sempre ao mais distante. Na língua culta, vem se levantando a possibilidade de usarmos "esse" para termos ainda não citados e "este" para os termos já mencionados. Preste atenção:

O progresso e o consumo andam de mãos dadas; este (o consumo) causa desigualdades e aquele (o progresso) aliena os ignorantes. Esses dois males (termo ainda não citado) não podem mais existir.

Mesmo com esta norma, os falantes rejeitam a distinção entre "esse" e "este". Eles têm razão; até os acadêmicos confundem ou ignoram esse conselho estéril.

3. PRONOMES INDEFINIDOS.

Os pronomes que se referem ao ser dando a noção de quantidade aproximada são chamados de pronomes indefinidos. Eles marcam uma quantidade aproximada, estabelecendo a diferença entre a unidade e a multiplicidade.

Alguém precisa me amar. (unidade)

Tudo vai acabar bem. (multiplicidade)

3.1. Pronome Substantivo Indefinido.

Os pronomes indefinidos são substantivos quando assumem o lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.

Ninguém pode fazer nada!

Cristiani não disse nada.

Observe que esses pronomes tomam lugar do ser na frase e o indeterminam. Outros pronomes substantivos indefinidos podem fazer o mesmo. Eis alguns deles:

alguém tudo outrem nada algo ninguém

3.2. Pronome Adjetivo Indefinido.

Os pronomes indefinidos tem a função de adjetivo quando qualificam um ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade aproximada.

Várias pessoas vieram à passeata.

Queremos toda a verdade.

Veja que esses pronomes indeterminam o ser que está expresso na frase. Assim também são pronomes adjetivos indefinidos:

algum outro certo cada pouco qualquer
nenhum   vário todo muito quanto

*Obs. 1: flexão dos pronomes adjetivos indefinidos. Muitos pronomes adjetivos indefinidos podem se flexionar em número; alguns podem se flexionar até no feminino. Veja como acontece:

Pronome Masc. Sing Fem. Sing. Masc. Plural Fem. Plural
algum algum alguma alguns algumas
nenhum nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
outro outro outra outros outras
certo certo certa certos certas
vário vário vária vários várias
cada cada cada    
todo todo toda todos todas
pouco pouco pouca poucos poucas
muito muito muita muitos muitas
qualquer qualquer qualquer quaisquer quaisquer
quanto quanto quanta quantos quantas

É importante experimentar a flexão para ter certeza de que a palavra se trata realmente de um pronome indefinido, pois se essas formas forem invariáveis não serão pronomes adjetivos (exceto o pronome "cada").

*Obs. 2: o pronome "tudo" pode ser adjetivo. Nas expressões "tudo isso", "tudo isto" e "tudo aquilo", a palavra "tudo" é pronome adjetivo indefinido.

*Obs. 3: o pronome "todos" pode ser substantivo. Quando vier isolado, "todos" é classificado como pronome substantivo indefinido. Ex.: Todos aplaudiram.

4. PRONOMES INTERROGATIVOS.

Nas perguntas diretas ou indiretas, o pronome interrogativo indaga o conhecimento do ser. São transpostos da classe dos indefinidos.

Quem é aquele menino? É o filho de Seu Malaquias.

Veja que o pronome serve para perguntar sobre o ser, pois a pessoa que perguntou deseja o conhecimento do ser (menino). Existem outros pronomes interrogativos:

Que Qual Quem Quanto

Quantas pedras de açúcar você quer?

Que reboliço é esse?

Qual é o seu nome?

Quem é?

O pronome "quem" é substantivo, enquanto os demais são geralmente adjetivos.

Quem quer dinheiro?

Quem vai jogar?

Quem ousa arriscar?

Que dinheiro é esse?

Qual mistério te veste?

Quantos paus fazem uma canoa?

Porém, os pronomes "que", "qual" e "quanto" podem assumir função de substantivo.

Que desejas? Quanto custa? Qual esmorece?

Obs.: “quanto” é substantivo porque a resposta é um nome. Ex.: Quanto custa esta blusa. Custa sete reais.

5. PRONOMES RELATIVOS.

São pronomes que sempre se referem a um antecedente expresso na frase ou no pensamento. Trata-se de verdadeiros conectivos. Veja quais são:

quem que o qual cujo quanto onde

Empregamos exaustivamente o pronome relativo em nosso dia-a-dia, para não repetirmos o que já falamos:

Quero aquele desconto que a senhora me prometeu.

Como é o nome daquele professor que grita o tempo todo?

O lugar aonde vou você não pode saber.

Já percebeu que alguns pronomes relativos podem se flexionar?

Você é minha vida a qual não posso dominar.

Quero que me conte seus vacilos, dos quais ouvi dizer.

Revidava quantos lhe agrediam. (quantos = aqueles tantos que)

6. ARTIGO.

É um elemento gramatical que antecede o nome substantivo com uma relação de profunda dependência

o(s), a(s), um(a), uns, umas

Na verdade, eles vieram de uma evolução do pronome demonstrativo ile (latim). Portanto, o artigo preserva grande parte de sua função de demonstrativo, o que a gramática não contempla inteiramente, pois continua interpretando o artigo como classe gramatical independente. Veja as semelhanças:

Olha o menino passando de boné!

Olha aquele menino passando de boné!

O lápis está me pedindo para desenhar.

Este lápis está me pedindo para desenhar.

De fato o relicário lhe cai bem.

De fato esse relicário lhe cai bem.

Note-se que o artigo realmente tem uma profunda ligação com os pronomes, especialmente com os demonstrativos, através desses outros exemplos em que vemos a utilização das formas "o", "a", "os", "as" (que tradicionalmente funcionam como artigo) para representar, em caráter extraordinário, pronomes substantivos demonstrativos:

Não viu o que estava acontecendo [o = aquilo]

Não queria grandes fortunas, exceto as do espírito [as = aquelas]

Algumas vezes, os artigos podem conferir ao nome uma noção inexata. Nestes casos, o ser em questão é parcialmente conhecido. Observe:

Um homem tem que honrar seus compromissos.

Não se trata de um ou dois homens, mas sim de um ser conhecido parcialmente. A noção de quantidade aqui não está em jogo; o que importa no enunciado é a generalização do ser (homem). Outro exemplo:

Umas boas moedas resolveriam.

Também não se trata de quantidade, mas sim de indefinir o ser em questão. Estes artigos são chamados de artigos indefinidos, pois, diferentemente dos artigos definidos o(s) e a(s), exprimem indefinição, incerteza, desconhecimento, generalização. A correlação com os pronomes aqui fica mais evidente:

Uma meia dúzia não resolve. (uma = qualquer)

Uns loucos assumem abertamente; outros negam (uns = alguns)

Não conheço uma pessoa nessa festa (uma = nenhuma)

Desse disco não conheço quase nada: umas músicas e olhe lá (umas = poucas)

Obs.: para diferenciar se a palavra "um" e suas flexões são artigos ou numerais, basta experimentar inseri-las numa transitividade indireta com preposição A. Se aparece a crase, naturalmente trata-se de um numeral, ao qual podemos adicionar o artigo; caso contrário, será um artigo, pois não permitirá a crase. Além do que, pelo seu caráter de indefinição, o artigo indefinido generaliza, e nunca especifica; freqüentemente pode ser substituído pelo plural, que também expressa a generalização.

Uma hora é muito tarde!

Chegou à uma hora (uma = numeral) = esp.

Uma criança precisa de sua mãe.

Dê amor a uma criança.(uma = artigo) = gen.

Uma flor decora minha mesa. Duas flores decoram.(uma = numeral) = esp.

Uma flor de plástico serve para decorar.

Flores de plástico. (uma = artigo) = gen.

Cap. 5 - PALAVRAS INVARIÁVEIS

1. ADVÉRBIO.

Os advérbios ajudam o verbo a expressar a circunstância de uma proposição.

felizmente (lexical)

aqui (gramatical)

O mais importante a lembrar é que não existe uma lista definitiva para os advérbios; portanto devemos classificá-los segundo a idéia que eles expressam, destacando-se estes:

1.1. advérbio de afirmação (sim, certamente, efetivamente);

1.2. advérbio de negação (não);

1.3. advérbio de intensidade (muito, quase, bastante, pouco);

1.4. advérbio de modo (assim, depressa, devagar, mal, fielmente, docemente, cruelmente);

1.5. advérbio de tempo (agora, ontem, hoje, amanhã, ainda);

1.6. advérbio de lugar (aqui, ali, lá, adiante, abaixo);

1.7. advérbio de interrogação (por que?; onde?; como?; quando?)

2. CONECTIVOS.

Conectivos são palavras que servem de ligação para melhor articular o discurso e desenvolver determinado sentido que sem eles não existiria. Os conectivos podem ligar palavras ou orações.

Pano de fundo.

Café com leite.

Lutou e venceu.

Os conectivos são classificados, primeiramente, em dois grandes grupos: coordenativos ("e", "mas", "pois", "ou", etc.) e subordinativos (preposição, quando relaciona palavras; e conjunção, quando relaciona orações). Mas há exceções a essa distinção esboçada em linhas gerais, pois as preposições também relacionam uma oração reduzida à sua principal ("quero a liberdade de ir e vir"), da mesma forma que os coordenativos, de modo semelhante, podem ligar apenas palavras ("Pedro e João", "açúcar ou adoçante").

3. CATEGORIAS DISCURSIVAS.

São palavras com classificação especial, denunciando a incompletude da classificação de palavras habitualmente adotada pelas gramáticas. Em geral, as categorias discursivas expressam a afetação do falante quanto ao enunciado.

3.1. inclusão ou concessão (até, inclusive, mesmo, também); 3.2. exclusão ou condição (apenas, salvo, só, somente, senão); 3.3. retificação (aliás, isto é, ou melhor, ou seja); 3.4. situação (afinal, agora, então, mas); 3.5. realce (é que e sinônimos); 3.6. designação (eis).

4. INTERJEIÇÕES E MARCADORES ORAIS.

Existem palavras que servem para representar, no texto escrito, sentimentos reais ou impulsos momentâneos. Destas palavras, as que expressam predominantemente a emotividade do falante são chamadas de interjeições; aquelas que procuram fundamentalmente envolver ou estimular o ouvinte são chamadas de marcadores orais.

4.1. interjeição

Observe um exemplo de interjeição:

Droga! Você não me escuta!

Neste exemplo, a palavra "droga" é uma interjeição porque expressa um sentimento de impaciência, nervosismo ou raiva do falante. Muitas outras interjeições podem ser identificadas em nossa fala ou na escrita, quase sempre equivalentes a uma oração. Observe outros exemplos::

Ah meu Deus! Puxa vida! Ai!

Eu hein! Nossa! Bolas!

4.2. marcador oral.

O exemplo a seguir contém um marcador oral:

Não vou poder ir com você, tá bom?

Lave já essa louça, entendeu?

Obs.: Veja que a palavra "entendeu" é um marcador oral porque aponta primeiramente uma preocupação do falante com a atenção e compreensão do ouvinte. Existem vários marcadores orais:

Liga para mim, tá?

E esse dengo, hein?

Ninguém quer brigar, certo?

Note que as interjeições são acompanhadas de uma exclamação, enquanto os marcadores orais estão ao lado de uma interrogação.

Dedico este trabalho a todas as forças que me amparam.