CULTURA POPULAR E PRÁTICAS MÁGICAS
O
EXEMPLO DA ITÁLIA

Veridiana Aderaldo Skocic (UFRJ)

 

AS BRUXAS

Nas classes populares rurais da península itálica foi largamente difundida a crença nas bruxas, isto é, na concreta existência de seres humanos, geralmente mulheres idosas, que durante o dia conduzem uma existência normal e à noite se transformam física e moralmente em agentes do mal:

Erno gente normale al giorno...erno gente bona...ma se vede che...j deva gusto de del mal ta la gente...Eran donne qualunque...passavon pe' la carità po' darsi che si 'nn j a facevi a la notte te facevno tribbolà.

Tal crença representou um dos elementos mais utilizados para demonstrar e condenar a inconsistência e periculosidade das crenças populares. A crença em seres fantásticos que nas horas noturnas se mobilizam para prejudicar os seres humanos mais indefesos é, muito antiga. A ideologia popular da bruxaria, entretanto, foi, certamente, influenciada por modelos elaborados pelas classes dominantes (laicas e eclesiásticas) durante aquela mobilização coletiva contra o mal denominada "caça às bruxas".

As fogueiras construídas nas praças tiveram a função de cancelar a presença de patrimônios mítico-rituais de épocas precedentes (paganismo) e , ao mesmo tempo, de canalizar sobre áreas humanas marginais as culpas do mal estar coletivo. De uma certa forma, pode-se dizer que a idéia de um universo mágico (bruxaria, feitiçaria, magia) constituiria a sobrevivência fossilizada daquilo que fora um modelo largamente dominante em um estágio precedente da evolução social. Na ideologia popular a atividade noturna da bruxa consiste, principalmente, em sugar o sangue de crianças, provocando-lhes a morte. De fato, o diagnóstico popular atribuiu durante muito tempo, pelo menos nas zonas rurais italianas, a palidez e as esquimoses que apareciam em crianças mal nutridas e debilitadas ao vampirismo das bruxas:

Dice che tanti c'evono i bambini piccoli ji succhiavano 'l sangue,no? Dice che alora quando ritor- navano da 'ste battaje de succhià 'l sangue; che facevon tutte quele mo- re, cusì, dice che vomitavno su la cenre 'sto sangue. E pue per distrug- gere tutto ciò ch' evon casato dicevono: 'Io ti giro, io ti volto, quest'è 'l sangue ch'io t'ho tolto'. "Quillu fiju è mortu allora dicianu 'ste femmine che je l'inu toccati le sdreghe: l'hanno asciugato lo sangue le sdreghe, j'hanno sugatu lo sangue! Quelle vengu de notte, entrono da lu bbuccu de la chiave...so' ccome lu ventu...entram llà e vanno a sugà lo sangue a li fij.

A narrativa popular dos episódios ligados à ação das bruxas na Itália utiliza como material simbólico elementos extraídos da realidade natural e social; elaborações culturais e criações fantásticas. Existe uma forte correlação entre as condições materiais da existência e o pensamento mítico; o material narrativo adere às experiências vividas e expressa com força o sofrimento e a dor pelas doenças e pela morte, enquanto que o mito tem a função de absorver as angústias da comunidade.

Quanto mais se adverte para o mal cotidiano, mais recorre-se aos fantasmas das bruxas e ao poder da inveja; uma vez que estes permitem estender um véu interpretativo e justificativo sobre acontecimentos que poderiam colocar em risco a capacidade da comunidade em dominar racionalmente determinados eventos. O material mítico consiste em reelaborações de antigos paradigmas interpretativos adicionados a criações fantásticas e que sustentam o complexo sistema de crenças e práticas que permitem a comunidade de coexistir com as bruxas.

Na península italiana as estórias narradas sobre as bruxas são, ainda que em áreas diferentes e longínquas, muito semelhantes entre elas, fato que confirma não o forte enraizamento da crença, como também que ela se nutre necessariamente de material narrativo estereotipado e transmitido oralmente de geração em geração; de fato nenhum narrador afirma ter tido um contato direto com o fenômeno, mas todos têm à disposição uma série, freqüentemente notável, de episódios referentes ao âmbito familiar ou das amizades. Dentre estes episódios, o mais recorrente refere-se ao vôo noturno das bruxas as quais apoderam-se dos cavalos deixados nos estábulos:

Le sdreghe...pijanu li cavalli e ji facénu tutte le treccette così finarelle, trenta, quaranta treccette e tutta la notte currem-mo, tutta la notte cusì. Che la mattina li vedeanu dendro la stalla tutti sudati; tutti eeeh! Che aveano corso; aveano eeeh!

Outro elemento constante nas narrativas sobre as bruxas refere-se às transformações noturnas em animais:

Sto fijo è rientrato e ha visto che c'era 'l gatto che steva a vomita tal foco. Steva lì da ' na parte e 'sto gatto vomitava 'nta la cenere del foco. Allora lui dice che c'eva 'l ronchetto - dice: che te pijas- se 'n colpo gatto! Pija e tira 'l ronchetto, el pija e je taja 'na zampa. A la matina la madre 'n s'alzava: oh ma - dice - come mai 'n v'alzate, ve sentite male? Dice: che m'hai fatto fijo mio stanotte! Era lia ch'era stata, fè conto a fa' la stregona...el fijo j' ha tirato 'l ronchetto, j' ha tajato la gamma, era la madre 'nvece[1]

Outro tema recorrente nas narrações italianas é a descoberta, geralmente feita por um indivíduo do sexo masculino, que uma insuspeitável mulher da família é uma bruxa:

Un fijo dice: ma possibile che io tutte le volte che vado giù la stalla trovo la cavalla tutta sudata no? Dice: ma è possibile - dice - me ce vojo mette de becca, come mai? Allora, a 'n certo punto, va giù e vede arrivà una co' la scopa. Dice cha há dato 'n verso e po' è montata su la cavalla e via via è volata, è partita co' sta cavalla. È 'rtornata co' sta cavalla e s'è messa di lì dentro, allora lui: era la madre sua no? Che faceva sto mes - tiere! Doppo n'antra sera a 'n certo punto lui j' a detto a la mamma sua: ma mamma, ma la notte perchè non dormite? Dice: Fijo mio - dice -non me 'nterrompe ch'io soffro, j' ha detto no? Tu me 'nterrompe e io soffro. Dice: mamma - dice - che facete la notte vo' - dice - andate via co' la cavalla? Dice: Etu com' è fatto a vedemme? Dice: Io v'ho visto! Dice: Fio mio m' è rovinato - dice - io adesso so' dannata!

O rito de individuação e punição da bruxa, ainda que mantendo-se dentro de um modelo constante, pode assumir modalidades diversas de atuação, uma delas é a seguinte:

...addimandai se nel focolare si tro - vava appeso il caldaio, sapendo che una delle pratiche usate per far comparire le streghe o gli stregoni che si ritengono di aver commesso fatture a danno di bambini; quella si è di gettare nel caldaio collocato sul fuoco gli abiti dei bambini stessi, che si reputano fatturati. E l' intendi - mento che si vuole reggiungere con questa pratica è quello che le scot - tature che si determinano negli abiti, si ripercuotano al vivo nelle parti corrispondenti delle persone malevole, obbligando queste ad accorrere ove l'operazione si compie,per far cessare le sofferenze ed i dolori e nel tempo stesso costringendole contro loro volontà a svelarsi quali autrici del malfatto. (...) La donna racconta di essere stata consigliata da una sua amica di comperare al mercato dieci centesimi di chiodetti di scar pe, facendo in modo però, che il venditore ne prendesse un pizzico con le dita, senza contarli;doveva poi collocare questi chiodetti, senza curar- si a sua volta di contarli, in una casseruola aperta, aggiungendo per un po' di olio soffrigerli al fuoco. L' operazione doveva essere fatta sul cala- re del giorno e la prima persona che sarebbe capitata durante il tempo in cui procedeva il singolare sofritto, diveva essere riguardata siccome autrice della fattura.

As possíveis agressões noturnas das bruxas são consideradas uma constante ameaça, daí a utilização de expedientes de proteção mágica como esconjurações e amuletos específicos cuja finalidade é impedir o ingresso de tais seres maléficos nas casas ou impedir a sua aproximação a uma vítima em potencial.

Procura-se não suscitar ressentimento contra aquelas consideradas bruxas: "Sì, passavno pe' l' elemosina e c'era la mi' pora nonna che diceva sempre: 'Cocchina ,va va pije' 'n piatto de grano che tocca fajla la carità sinnò te fanno del male."

Observa-se que também na Itália a concepção de bruxaria recai sobre as figuras sociais mais emarginadas: mulheres sozinhas e idosas as quais vivem em um mundo dominado pela penúria e é exatamente a sua miséria e marginalidade que são consideradas, sob o ponto de vista mágico, potencialmente perigosas - a esmola dada às velhas mendicantes parece ser destinada à obtenção de um tipo de imunidade ao feitiço destruidor.

Não obstante as minuciosas precauções que são tomadas para contrastar as obra das bruxas, as crianças com freqüência morrem e esse fato é demonstrado pela alta taxa de mortalidade infantil. É interessante observar, todavia, que a alta taxa de mortalidade infantil não não consegue colocar em crise a crença nas bruxas, mas vem a reforçar tal idéia; de fato, todos procuram, cada vez mais atentamente, os sinais de vampirismo e se a criança vem a óbito significa que as causas do insucesso serão atribuídas à inobservância dos rituais ou à disposição equivocada dos amuletos.

O horizonte mágico no qual encontra-se inserida a crença na bruxaria representa um elemento estabilizador uma vez que constitui um sistema mítico que não evita concretamente as doenças e a morte, mas permite ao indivíduo subtrair-se às crises psicológicas e morais decorrentes delas. Ao dizer que as crianças eram vítimas de desnutrição decorrente da fome e da miséria imperante, certamente dar-se-ia um grande golpe no sistema de segurança psicológica da comunidade, daí a importância de alimentar cada vez mais as crenças em tais criaturas malignas.

 

O FEITIÇO

O feitiço constitui um dos fenômenos de agressão mágica mais funesto e temido dentre todos os malefícios do arsenal mágico-bruxesco tradicional italiano e embasa-se no pressuposto de que seja possível "agir" sobre coisas ou pessoas também à distância.

Os conhecimentos relativos ao feitiço não constituem um patrimônio coletivo, mas são atribuídos a operadores especializados que "fazem" e "desfazem" os feitiços, geralmente, em troca de alguma recompensa. Podem provocar na vítima danos físicos e psicológicos, acender ou anular paixões a até mesmo provocar a morte.

A figura do curandeiro, freqüentemente, é difundida em um vasto território e considerada indispensável a partir do momento em que os rituais domésticos ou os cuidados médicos não surtam mais efeito. Perante a suspeita de feitiço, de conjuro mágico voluntariamente elaborado por parte de um "bruxo" é necessário recorrer a um "bruxo" mais poderoso:

Eh! ta la pora Annetta,a cocchinin mia, j'eva preso a la notte 'n ci faceva dormi niente, dice: Ma du la portemo? E urleva 'n se troveva a campà 'n n'j arniva 'l respiro. 'N quattro tu qui la portemm a letto, ma la notte quil ch'emo patito, per carità! E alora l'em porteta a Gubbio e j disse lo stregone: " Sentite c'há i guanciali di penne...vo guardate che ta lia j bon fatto 'na fattura a morte. To 'n quei guanciali c'erono tutte cordellette de tutte le sorte. E l' abrugiassimo a no 'ncrocio de tre strade evono da fa tre croci, a la sera quanno sona l'Ave Maria. ‘L mio fijo Alfonso l'em archiappato p' i capelli! Quanno che 'l fijo me s'è 'malato che n'eva più proprio fiato de niente, gissimo da Guastarazze (um rino-mato quaritore) a Perugia e alora j disse: 'Argite e guardate sui guanciali che udite che ci sarà 'na grillanda che s'é quasi chiusa - quando s'è chiusa la grillanda 'l fiol muore... e alora lue atornò e gusatò i guanciali... una grillanda cussi era, tutta rotonna, tutta 'ntrecciata, co' le penne, i pezzi di carbone, 'l granturco, le strisce de stoffa...

Pode-se observar que segundo a tradição popular italiana, a relação entre "operador" mágico e medicina oficial é menos conflitual do que poderíamos supor. Nos relatos populares nota-se, com freqüência, que os médicos não não se opõem ao recurso às técnicas terapêuticas de tipo mágico, mas também aconselham aos pacientes a recorrer a tais técnicas. Poderíamos dizer, assim, que o mecanismo cultural em questão consistia em invocar uma autoridade oficial a fim de que esta pudesse dar sustentação às crenças das quais desejava-se atestar uma absoluta veracidade:

Io c'avevo quindici anni che ero annata da tanti dottori e invece non c'era gnente da fa' e 'l professor B. dice:' Portatela da 'no stroligu perché questa fa la fine de la madre, perché la madre non c'haveva gnente, io l'ho aperta, però lei è morta che non c'haveva gnente!' Ha detto lui come dottore, come professore. E così portarono su un cheromante, come lo voi chiamà, m'ha fatto de le carte lì e me diceva che io c'havevo 'na fattura a morte, che c'havevo più di due mesi di vita, inzomma.

Verifica-se, ainda, que apesar da sabedoria com relação ao feitiço ser do tipo esotérico, em muitas situações podemos assistir a tentativas domésticas de elaboração de feitiços:

Sta fija era orfana, non era brutta, ma era un po' scemotta. Siccome la mamma era vedova pijava una bella penzioncina...e 'ste donne vivevan no cuscì a la mejo...ma tiravano avanti. Ma, un mascalzone se vede che voleva approfittà de quelle feminucce ce se fidanzò co 'sta fija. Pe' parecchio tempo è andato su: lì mangiava. Doppo l'ha lasciata e questa fija há tentato, se vede, da faji la fattura. Siccome a casa dove abbitavano, fori c'era come 'nu stalletino me dice: ' Lì dovrei mette 'na pentolina dentro a quello magazzinetto. Me ce la fai mette? Però nun lo devi toccare , dove lu metto! Dico: ' Bè! Vabbè. Fatto sta che questo ragazzo s'ammalò...'sto ragazzo s'è ammalato e dopo è morto.

 

O MAU OLHADO

Um aspecto importante da cultura popular italiana é constituído pela crença no mau olhado e nos feitiços e não por acaso a maior parte dos amuletos difundidos ainda hoje em nível popular faz referência a tal crença.

A crença no mau olhado também possui raízes na Antiguidade clássica e não é limitada às classes populares das sociedades ocidentais, estando presente em todos os âmbitos sócio-culturais. Com efeito, mau olhado e feitiço, ainda que sejam fenômenos distintos, pertencem a uma mesma categoria, isto é, aquela da "fascinazione" (encantamento).

A sensação por parte daqueles que foram atingidos por uma força intensa e oculta; de encontrar-se em poder de uma influência hostil, malogra qualquer autonomia de decisão e de escolha. A intensidade malévola do encantamento é variável, isto é, pode-se partir do simples mau olhado e chegar, nos casos mais graves, ao feitiço mortal.

Na base da crença do mau olhado está a concepção que o olho constitui a via pela qual passa o fluxo destrutivo da inveja perante aos bens alheios, à juventude, à saúde, à beleza, à prosperidade econômica, ao matrimônio feliz, etc. A origem de específicos estados críticos de mal - estar é concebida como a conseqüência de um desejo agressivo que se realiza por meio de um olhar invejoso:

Parecchi casi e parecchi casi de 'stu malocchiu. Lo daanu anche involuntariamente, num volenno. Magare je dice: 'bellu ragazzu, bellu giovanottu. Eh così diceanu, chiaccherannu, e non volendo je podeanu dà 'stu malocchiu.

A falta de apetite e a insônia do recém nascido; a não consumação do matrimônio; os estados de mal-estar e tantos outros eventos negativos da vida afetiva, econômica e social estão relacionados a uma inveja generalizada, da qual é necessário proteger-se mediante gestos, rituais e amuletos.

O desejo de bens e qualidades alheios pode ser involuntário e então o caso não é considerado muito grave, sendo enfrentado por meio de rituais que desfrutam da conhecida incompatibilidade entre óleo e água. O operador (trata-se com freqüência de uma mulher anciã) coloca em uma tigela cheia de água um número, geralmente ímpar, de gotas de óleo e, com base na conformação que surge sobre a superfície da água, dá-se o diagnóstico: se as gotas permanecem unidas nãomau olhado, se ao invés, são separadas, a pessoa é vítima de um efeito mágico. Tal prática diagnóstica foi (e continua a ser) muito difundida na Itália e , ainda que mantenha um núcleo substancial idêntico, assume em cada zona características peculiares, freqüentemente acrescentando-se outros ingredientes simbolicamente significativos:

Su 'm piatto cupo ci mettevon giue 'm po' d'acqua doppo ci mettevno 'm po' d' acini de sale, quel sal grosso, 'm po' d' acini de grano ci facevon la croce drento 'l coso...e pu' ci mettevno...prendevno l'olio sopra quel piatto. Si la goccia restava, dice, bella...alora, dice, 'n c'era 'l segreto (il malocchio) ta 'l fiolo. 'Nvece se si spajava tutta faceva, dice: ' Guarda tu qui, guarda quele serpe che fa 'st olio, tu qui tocca portallo da lo stregone'.

Observando a disposição do ólio sobre a superfície da água pode-se também descobrir o sexo de quem lançou o mau olhado: '"Si era 'n omo l'olio eva 'l cerchio, si era 'na donna la goccia d'olio rimaneva rotonna senza cerchio..."

A água, o óleo, o sal utilizados no ritual diagnóstico terapêutico, tendo "absorvido" a negatividade não podem ser eliminados sem precauções:

Prima ci lavavno il bambino...poi quel acqua lì nun anda- va mai versata dove ci camminava la gente...doveva sempre esse butta- ta su 'n posto che po' darsi ch' andava du ci camminavno, quella doveva esse sparita: o sul foco o 'na cosa così ecco...

O olhar invejoso também pode ser considerado, por causa dos efeitos nocivos que produz, voluntário e intencional, assim é necessário recorrer ao operador mágico, ao curandeiro:

Alora, vicino a casa mia ce stava 'n omino ch'era da tanto tempo che stava male, tanto male... era anche andato da 'n dottore che allora era 'no specialista, però lui stava male. Alora è andato da Abele che era uno famoso..... j c'ha guardato come facevno loro co' l'olio 'l sale...e j' ha detto: ' Senti, dice, voi vedé chi te l'ha fatta la fattura?' E dice: ' Sì, , saria contento.' Dice: ' Riempite 'n fiasco?' E j' ha riempito 'n fiasco d'acqua, d'acqua normale... Lui c' ha detto 'm po' de parole di lí e dentr'al fiasco 'n mezzo a l'acqua è comparita la S. tutta scapejata com'era lia col bastone tutta gobba... E j ha detto:' Tu la conosci sta persona?' Ha ditto: ' Sì è la S.' Beh, la S. è passata, t'ha chiesto la carità e tu non j l'è fatta...quando passa faj la carità sinnò la fattura te l'arfa!' E lui quel giorno s'è guarito.

Releva-se, finalmente, que as faces que o Mal assume na concretização das situações negativas e nas práticas que tentam individuá-las, nem sempre apresentam-se estranhas ou longínquas, mas podem ser também as fadas pessoas que nos circundam na cotidianeidade: conhecidos, parentes, amigos, enfim, pessoas que (voluntariamente ou não) transformam-se em artífices ocasionais do fluxo maléfico que permeia de riscos a vida afetiva e as relações sociais. As duas ideologias que, em nível popular, tendem a legitimar a concepção desta constante do Mal são: o encantamento e a feitiçaria. Estes, mesmo em nossos dias, ainda que repletos de elementos pertencentes a antigas crenças mágicas e religiosas, continuam a manifestar uma notável vitalidade e um profundo enraizamento na sociedade contemporânea.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CARDINI, F. Magia. Brujería y superstición en el Occidente medieval. Barcelona, 1982.

DELUMEAU, J. La civilisation de la Renaissance. 2ª ed. Paris, 1973.

LEA, HENRY C. Materials toward a history of witchcraft. Edites by Arthur, C. Howland, N.Y., 1957.

ROBBINS, Rossel H. The encyclopedi of witchcraft and demonology. N.Y., 1959.


 


 

1 Todas as notas desta publicação foram retiradas de:Le Sembianze del Male, corciano festival, agosto, XXXVI.