O ROMENO E AS LÍNGUAS ROMÂNICAS

Bruno Fregni Bassetto (USP, ABF)

A fisionomia específica de cada língua românica foi desenhada pela conjugação dos fatores da história externa e da história interna de cada uma. O substrato, o superstrato e os diversos adstratos, itens fundamentais da história externa, não podem ser ignorados, se quisermos chegar a explicações aceitáveis da diversidade entre as línguas românicas. Por outro lado, as raízes comuns que emergem do latim vulgar justificam as semelhanças, que fazem delas uma família lingüística bem caracterizada.

Nessa perspectiva, o romeno singulariza-se sob vários aspectos dentro da România, mas sem perder seu caráter latino. Representa por isso bom termo de comparação em relação à evolução das outras línguas românicas, ao que todas herdaram do latim vulgar e ao que é próprio de cada uma. Nesse sentido, o romeno, ao lado do sardo, embora sem maior destaque, mereceu atenção especial da área de Filologia Românica na Universidade de São Paulo.

A história externa do romeno inicia-se no século II d.C., quando o imperador Trajano (98-117) conquistou a Dácia numa guerra que durou mais do que o previsto, de 101 a 107. Antes disso, porém, o território da Dácia era percorrido pelos comerciantes romanos, portadores das notícias sobre as riquezas de minas de ouro e sal da região. Consolidadas as conquistas da Panônia e do Ilírico ao leste e Mésia (15 a.C.) e da Trácia ao sul, tendo o rio Danúbio como limite, foram surgindo pequenas cidades ao longo do Danúbio, apoiadas pelos navios romanos e pelas colônias militares. Precedida de tentativas diplomáticas de paz com Decebal, rei da Duras Diurpaneus, a união dos dácios, e de limitadas incursões militares, o imperador Trajano invadiu a Dácia, partindo da Dobrógea e atravessando o Danúbio. Os dois primeiros anos de guerra não foram favoráveis a nenhum dos dois lados e fez-se uma trégua. Trajano recompôs suas legiões e voltou em 105, terminando a conquista no verão de 106. Em 107 foi criada a província imperial romana da Dácia. Decebal conseguiu fugir; alcançado, porém, pela cavalaria romana, preferiu suicidar-se se entregar ao cativeiro.

Muitos detalhes dessa guerra nos são desconhecidos, porque se perderam as obras que as relatavam. Historiadores procuraram reconstituir parte dos fatos, interpretando as gravuras da coluna de Trajano, levantada em 113. De qualquer forma, a guerra deve ter sido devastadora, a julgar pelo que diz o historiador romano Eutrópio, em Breviarium ab Urbe Condita (8,6):

Traianus, victa Dácia, ex toto orbe Romano infinitas eo copias hominum transtulerat ad agros et urbes colendas.”

(“Vencida a Dácia, Trajano transferira para lá imensa quantidade de homens para habitar as cidades e cultivar os campos.”)

Essa afirmação de Eutrópio leva a crer que a guerra tenha dizimado os dácios e um número considerável deles tenha seguido o exemplo do chefe Decebal. Inscrições confirmam Eutrópio, indicando colonos provenientes da Dalmácia (mineiros), da Mésia Superior e Inferior, Panônia, Trácia, Síria, Ásia Menor, Grécia e Itália. Essa substituição de população, porém, é particularmente importante no caso da Dácia, porque os romanos foram obrigados a abandonar essa província em 271, sob pressão dos godos. Tendo repelido com dificuldade um primeiro ataque, o imperador Aureliano foi forçado a retirar suas legiões da Dácia ao norte do Danúbio, enquanto Dobrógea, ao sul do Danúbio até o Mar Negro, foi recuperada pelo imperador Diocleciano (284-305). A Dácia fez parte do Império Romano, portanto, de 107 a 271, ou seja, 164 anos. Mas com a recolonização por elementos latinos, especialistas afirmam que em cinqüenta anos a Dácia já estava profundamente romanizado, fato que explica a manutenção da cultura e da tradição latinas, apesar do período relativamente curto em que fez parte do Império Romano. Contudo, mesmo com a retirada das legiões, as demais instituições continuaram a funcionar, embora precariamente, sobretudo depois da divisão do Império por Constantino Magno, quando a Dácia passou a ser influenciada por Bizâncio, esvaindo-se a presença preponderantemente direta de Roma.

O intervalo compreendido entre 271 e meado do século VII se caracteriza pela passagem de povos migratórios: godos, hunos, gépidas, avaros e eslavos. De meados do século VII ao X, deu-se o assentamento constante de eslavos no território dácio e sua assimilação pela população romanizada. Nesse período, segundo os historiadores, formaram-se o povo romeno e a língua romena. A presença dos romanos nesse período é atestada por numerosos vestígios e moedas, posteriores à época do imperador Aureliano, encontrados sobretudo no Banato e na Oltenia, ao sul, como também na Transilvânia, ao norte.

A partir do século X, constituem-se organizações políticas pelas populações autóctones. Anonymus, secretário do rei Bela III, da Hungria, em Gesta Humgarorum, cita três \f2 a(ri, “terras”, “países”, romenos ou romano-eslavos: no Banato, chefiado por Glad, em Cri]ana, sob o comando de Menomorut e no Planalto da Transilvânia, comandado por Gelu, mas que se consolidou só em meados do séc.XII, com sucessão ininterrupta até ao séc. XVI. Eram organizações políticas do tipo feudal, também denominadas voivodias; seu suserano era o voivod. Ainda segundo Gesta Hungarorum, datam dos primeiros anos do século X as primeiras invasões de tribos húngaras no território romeno, cuja língua se tornou fonte de empréstimos léxicos ao romeno.

O Estado Romeno começou a se constituir. quando Ionitza (Ioni\f0 a) Asan foi coroado “rei dos búlgaros e dos valacos”, em 1204. Enquanto a Transilvânia, ao norte, estava sob o domínio húngaro, a Valáquia, formada então pelas atuais províncias da Oltenia e da Muntênia, e a Moldávia tornaram-se voivodias ou principados independentes no séc. XIV. Mais fiéis à manutenção da tradição latina. os valacos denominavam sua pátria de |ar` Româneasc`, que se estendia do Danúbio até aos Cárpatos. Nesse período, destaca-se a figura legendária de Besarab (1310-1352), voivoda de Arge], região central do país, que venceu os húngaros, sendo por isso celebrado em poemas épicos como o Negru-Voda, o fundador da Valáquia. O principado da Moldávia foi fundada por Bogdan, voivoda da região de Muramure], ao norte, libertando-se dos húngaros em 1359. No século XV, esses dois principados foram submetidos pelos turcos, cuja língua tornou-se adstrato do romeno, origem de numerosos empréstimos léxicos. Em 1718, os austríacos incorporaram o Banato e a Oltenia, na luta contra os turcos, com o quais assinaram tratado de paz de Belgrado em 12 de setembro de 1739. Por sua posição geográfica e falta de unidade política, as guerras entre turcos, russos, húngaros e austríacos tiveram reflexos no território romeno, cujos habitantes sempre procuraram defender sua identidade lingüística e cultural. Mesmo antes de sua unificação e independência política, esta ocorrida em 9 de maio de 1877, reconhecida internacionalmente no ano seguinte, seus intelectuais nunca perderam de vista suas origens. Em 1757, Dimitrie Eustatievici escreveu a Gramatica Româneasca(, sem dúvida a primeira do romeno de que se tem notícia.

Convém recordar que, enquanto as línguas românicas do Ocidente mantinham contato permanente com o latim medieval da Igreja, das escolas, da administração e dos documentos oficiais, o romeno permaneceu no âmbito da cultura eslavo-bizantina do Império Romano do Oriente, cuja língua oficial e religiosa era inicialmente o grego. Posteriormente, com a instituição dos principados eslavos, denominados voivodias, passou-se a usar o eslavo antigo e o médio búlgaro. Esse eslavo, então empregado, foi chamado também “paleoeslavo” ou “antigo eslavo eclesiástico”, escrito com o alfabeto cirílico. O paleoeslavo substituiu o grego eclesiástico e, fins do século IX, quando a Igreja búlgara se declarou independente da de Constantinopla. Em 1020, a Igreja romena se uniu à búlgara, embora os romenos tenham sido cristianizados por missionários ocidentais, conforme comprovam os termos cristãos mais antigos, de origem latina, como rom. înger < lat. angelu, “anjo”, biserica( < basílica, “igreja”, pagîn < paganu, “não batizado”, sacrament < sacramentum. Histórica e geograficamente cu faîntor]i spre Orient, “com a face voltada para o Oriente”, o romeno, ao contrário de suas irmãs ocidentais, não teve a seu alcance o adstrato cultural latino, fonte permanente de empréstimos. Como se sabe, o latim não desapareceu juntamente com o império político, mas continuou como língua literária, cultural, jurídica e notarial, além de língua oficial da Igreja.

O processo, filologicamente denominado “relatinização do romeno”, foi iniciado timidamente no século XVIII, através de estudantes moldavos que, em universidades polonesas, entraram em contato com o humanismo italiano. No século seguinte, a administração húngara levou o latim para a Transilvânia e, com a conversão de parte da Igreja romena ao catolicismo, o processo acelerou-se. Assim, autores católicos transilvanos, como George }incai (1753-1816), Petru Maior (1761-1821) e Samuel Micu (1745-1816), formados em Roma e em Viena, procuraram eliminar do romeno termos estrangeiros, isto é, os de origem não latina. Tentaram também substituir o alfabeto cirílico pelo latino, esforço que culminou com a adoção oficial definitiva do alfabeto latino, em 1860. Procedeu-se apenas a algumas adaptações, para representar alguns fonemas de que o latim não dispunha, como o /]/ e o /\f0 /, além de dois acentos para dois fonemas vocálicos típicos. Certamente foi um avanço considerável, pois libertou a língua de uma camisa de força, uma vez que o alfabeto cirílico é adequado ao tipo fonológico eslavo, mas não ao latino.

O interesse pela volta às origens levou alguns autores, como v.gr. A.T. Laurian (1810-1881), a modificarem a grafia das palavras, a fim de aproxima-las dos respectivos étimos latinos, alguns equivocados, escrevendo questora por cestora, genitivo plural de cest, “este”, credentia por credin\f0 a, “crença”, adeque por adeca(, mod. adica(, “isto é”, entre outros muitos. Buscaram até étimos latinos para termos eslavos, como res bellica > ra(sbel > ra(sboi, “guerra”. Na segunda metade do século XIX, teóricos da língua e escritores aproximaram-se ainda mais da cultura românica ocidental e introduziram grande número de termos franceses e italianos, como o fez Heliade Radulescu (1802-1872), italianiófila confessa. Muitos termos foram buscados diretamente no latim, desde que fossem o terminus a quo de vocábulos panromânicos, sendo bastante raras as exceções, com a evidente intenção de integrar o romeno no mundo românico. Aliás, os romenos sempre se orgulharam de “serem descendentes dos dácios e dos romanos”. Alguns exemplos de empréstimos diretos do latim: lat. affabilis > rom. afabil, amor > amor, applausus > aplause, artem > art`, componere > compune, exemplum > exemplu, libertatem > libertate, offere > oferi, producere > produce, promittere . promite, sperare > spera, scientia > ]tiin`, unicum > unic, vocabularium > vocabular, vocationem > voca\f0 ie.

Como observou Theodoro Henrique Maurer (A Unidade da România Ocidental, p. 76), parte considerável das palavras tornou-se panromânica por influência do francês e do italiano, as duas línguas de maior prestígio dentro da România ao longo dos séculos. Entretanto, o francês foi o modelo preferido nesse processo de relatinização. Não foi, porém, simples transposição ou decalque; adaptaram-se os empréstimos ao sistema léxico e morfológico romeno. Para tanto, desloca-se o acento tônico se necessário: fr. direction > rom. dirèc\f0 ie; hsistorique > istòric, nation > na\f0 iùne, opinion > opìnie - devendo-se notar que os acentos gráficos nesses vocábulos indicam aqui apenas a sílaba tônica, já que o sistema ortográfico romeno não usa acentos. Emprega ainda seu sistema próprio de prefixos, como fr. décourager > rom. descurja; acolhe por vezes o empréstimo num sentido específico, e.c., doctor, “médico”, curte, “corte de um rei”, casos de empréstimos semânticos. Em outros casos, imita apenas o modo de composição e laça mão dos elementos do sistema vernáculo, como fr. prétendu > rom. pretins; résigner > resemna com as bases romenas re+semna, ou fr. déplorer < lat. de+plorare, mas rom. deplînge < lat. de+plangere. Sem dúvida, o francês, a língua românica de maior projeção no século XIX e primeira metade do seguinte, foi o modelo adotado nesse processo de relatinização do romeno; as formas foram as latinas e o conteúdo semântico foi o do românico moderno, embora seja clara a presença de numerosos galicismos, comuns igualmente nas outras línguas românicas.

Para avaliar devidamente a formação do léxico romeno, bem como dos seus diversos níveis lingüísticos internos, é preciso levar em conta sua história externa, da qual se apresentou um resumo, imperfeito sem dúvida. O dácio, ao que tudo indica, foi uma variante do trácio, língua indo-européia do grupo astem, da qual se conhecem apenas uma única inscrição, o Anel de Ezevoro, poucas inscrições dácicas e material onomástico. O romeno herdou muito pouco do substrato dos antigos dácios; cita-se o termo mal, “margem”, “beira”, correspondente ao albanês mal, “monte”, encontrado na expressão latina Dácia Maluensis da época de Marco Aurélio, de que a Dácia Ripensis do imperador Aureliano seria uma tradução, além do topônimo Maluntum, na Ilíria meridional. Contribuição do substrato dácio é o sufixo -esc, formador de adjetivos, como omenesc. “humano”, românesc, “romeno”, e de topônimos, como Bucure]ti, de Bucur, nome próprio; esse sufixo tem correspondente em albanês, que em trácio ocorre em nomes próprios e em topônimos, como Ciniscus, Coriscus, tendo por isso função diferentes dos sufixos grego e latino correspondentes -iscus e -ivsko". Na fonética, a tendência a transformar o /a/ > /`/ (como no albanês e no búlgaro) é atribuída ao substrato trácio comum. Na sintaxe, a posposição do artigo definido, o desaparecimento do infinitivo nas orações subordinadas e a formação do futuro com um verbo que expressa “querer” inserem o romeno no substrato comum do conjunto das línguas balcânicas, pelo menos em parte.

Se o substrato pouco de seguro contribuiu para a formação do romeno, o superstrato eslavo, ao contrário, deu-lhe uma contribuição muito vasta, pelo menos até ao processo de relatinização. Por causa de seu isolamento em relação às demais línguas românicas e ao latim medieval e eclesiástico, o romeno recorria ao eslavo como fonte de empréstimos, da mesma forma que suas irmãs se valiam do latim. Dessa forma, palavras latinas extremamente usuais foram substituídas pelas eslavas correspondentes. Exemplificando: lat. amare, rom. iubi; finis, rom. sfîr]it, “fim”, honor, rom. cinste, “honra”, carus, rom. drag, “querido”, pauper, rom. sa(rac, “pobre”, corpus, rom. trup, “corpo”, morbus, rom. boala(, “doença”, descendere, rom. coborî, “descer”, infans, rom. prunc, “criancinha”, sanus, rom. teafa(r, “sadio”, avarus, rom. scump, “avarento”. Também os termos de caráter religioso normalmente provém do eslavo antigo, usado na liturgia, como se assinalou acima: gre]eala(, “culpa”, sfin\f0 i, “santificar”, voie, “vontade”, ispita(, ”tentação”, isbavi, “livrar”, ficioara(, “virgem” etc.

Por outro lado, contam-se cerca de 120 palavras de origem latina, cujas formas herdadas são encontradas só no romeno, entre as quais destacam-se as seguintes: lat. densus > rom. des (dalmático dais, enquanto as outras línguas românicas partem de spissu > port. espesso, cast. espeso, cat. e prov. espes, fr. épais, eng. e friul. espes, logodurês (sardo) ispissu, it. spesso; cf. REW 8160); lat. cerebrum > rom. creier (cérebro em port. é erudito); hospitium > ospa(, “banquete”, adjutorium > ajutor, “ajuda”; blanditia > blînde\f0 e, “mansidão”; languidus > lînced, “fraco”; albastrum > albastru, “azul”, jugulare > junghia, libertare > ierta, margella > ma(rgea, perambulare > plimba, “passear”, procedere > purcede, “partir”, “começar”, trepidare > trepa(da > mod. trepida, “trepidar”; lingula > lingura(, “colher” (< cochlearium).

Enquanto o superstrato eslavo deu contribuição considerável ao léxico romeno, a influência e as possíveis contribuições do superstrato germânico são poucas e até controversas. Gamillscheg enumerou 26 empréstimos gépidas; foram, porém, contestados porque podem ser atribuídos a antigos substratos ou a outras fontes; assim, tapa(, “cepa”, pode provir do latim vulgar; tufa(, “moita”, está documentado em Vegécio. Na Transilvânia e no Banato, há numerosos empréstimos germânicos mais recentes, provenientes do contato com colônias de saxões, implantadas na Transilvânia nos séculos XII e XIII; outros vieram através da administração húngara e austríaca. Diversos entrepostos comerciais dos saxões, sobretudo em Bra]ov (em alemão Kronstadt), difundiram termos alemães também nos outros territórios romenos. Cumpre lembrar que apenas os gépidas se fixaram permanentemente na Dácia, no séc.V, assimilando-se depois à população românica. O historiador romeno C.C. Diculescu, em 1922, estudou os gèpidas e apresentou um número considerável de empréstimos desse povo, mas suas etimologias, em sua maior parte, foram rejeitadas pelos especialistas, como o foram também as de Gamillscheg.

A posição geográfica, como um corredor ligando o Oriente ao Ocidente, pela interposição do Mar Negro, colocou a Romênia numa situação particular, com muitos vizinhos étnica e lingüisticamente diferentes. Sua atribulada história colocou-a entre vizinhos que influenciaram sua cultura e sua língua, sem contudo tirar-lhe as características latinas originais. Por tudo isso, são muitas as influências dos diversos adstratos. Aquele que mais legou empréstimos léxicos ao romeno foi o turco otomano; a dominação turca nos séculos XV e XVI deixou pouco mais de 900 empréstimos na Valáquia e na Moldávia, dos quais pouquíssimos passaram para a Transilvânia. Grande número, porém, arcaizou-se, permanecendo em uso comum relativamente poucos. Exemplificando: tur. cavush > rom. ceaus, “estafeta”, “correio”; çoban > cioban, “pastor”; murdar > murdar, “sujo”, “indecente”; musafir > musafir, “hóspede”; pehlivan > pehlivan, “acrobata”, “charlatão”; oda > odaie, “cômodo”, “casa”; ulufe > leafa(, “salário”, “soldo”.

Outra fonte importante de empréstimos ao romeno foi o adstrato húngaro, sobretudo através da Transilvânia, região que pertenceu politicamente à Hungria e ao Império Austro-Húngaro por muito tempo, voltando a fazer parte da Romênia apenas em 1918. Os empréstimos são cerca de 600 e tardios, encontrados praticamente só no daco-romeno; é notável que os transilvanos, embora ligados politicamente à Hungria, não mantiveram relações comerciais e culturais com aquele país. Relacionavam-se muito mais com as regiões romenas ao sul dos Cárpatos, para onde também levavam seus rebanhos para pastar durante o inverno e vendiam seus produtos. De qualquer forma, os primeiros empréstimos húngaros já aparecem nos documentos dos séculos XIV e XV, redigidos em eslavo; os que permaneceram são em geral termos concretos do quotidiano, que suplantaram os respectivos termos latinos: húng. cenk > rom. \f0 inc ou \f0înc, “cria”, “nenezinho”; csinos > cina], “lindo”, “querido”; dsingás > ginga], “sensível”, “terno”; gond > gînd, “pensamento”; lab > laba(, ”pata”; munca > munca(, “trabalho penoso”; szallás > sa(la], “domicílio”. “moradia”; város > ora], “cidade” (cf. lat. ciuitatem > rom. cetate, “fortaleza”).

As vicissitudes históricas e a posição geográfica do território romeno deixaram ainda outras marcas na língua. Fazendo parte do Império Bizantino, cuja língua corrente era o grego, além da proximidade territorial com a própria Grécia, o romeno recebeu forte influência do adstrato grego em vários períodos. Os mais antigos empréstimos gregos foram indiretos, através do latim ou do eslavo. Assim, rom. martur, “testemunho”, é mais provável ter vindo através do lat. martyr, atestado já em Tertuliano (155-220 d.C.) e usual na terminologia eclesiástica do que diretamente do grego mavrtur; o mesmo se pode afirmar de rom. ciuma(, “peste”, através do latim cyna, “inchaço”, um dos sintomas da peste, do que diretamente do grego ku'mh; rom. trufie, “arrogância” < gr. trufhv. Por aspectos fonéticos é possível estabelecer o período em que se deu o empréstimo; sabe-se que, no período bizantino, o /u/ grego era emitido como /i/, o que se verifica, por exemplo, no rom. mistrie, “trolha”, “colher de pedreiro”, do grego médio mustriv(on). Por outro lado, vários termos eclesiásticos gregos entraram no romeno através do eslavo antigo, língua oficial da Igreja romena durante séculos: gr. kalovghro" > esl. ant. kalugeri > rom. ca(luga(r, “monge”; gr. kellivon > esl. ant. > kelija > rom. chilie, “cela”, “retiro”. Alguns empréstimos do grego médio, porém, podem ter sido diretos, como gr. méd. felov", evoluída da forma clássica o[felo", > rom. folos, “utilidade”, “lucro”; frivkh, “temor religioso”, > rom. frica(, “medo”; leivpw > rom. lipsi, “faltar”, “privar”.

De 1711 a 1821, príncipes gregos, denominados “fanariotas”, governaram os principados romenos sob a égide de Constantinopla; com esses fanariotas vieram muitos imigrantes gregos, responsáveis pelos cerca de 640 empréstimos do neogrego ao romeno. Entretanto, a maioria deles teve vida curta entre os romenos, enquanto uns tantos foram de fato incorporados, como, e.c.: neogr. ajnavpoda > rom. anapoda, “ao contrário”; kounoupivdi > conopida(, “couve-flor”; fuvlla (clás. fuvllon, sing., “folha de planta”) > fila(, “folha de papel”; movlemma > molima(, “epidemia”; novstimo" > nostim, “gentil”, “amável”; plhvktw > plictisi, “aborrecer”; kalamavri > ca(limara(, “tinteiro”. Desse modo, a influência do grego, desde a fase clássica até ao neogrego, sobre o romeno foi mais prolongada do que sobre as línguas românicas do Ocidente.

Ainda nesse contexto, o romeno conta cerca de 50 empréstimos do albanês, alguns dos quais muito antigos, mostrando uma afinidade notável entre o romeno, o dalmático e o albanês. Atribui-se tal afinidade à contigüidade geográfica, ao substrato ilírico-trácio comum e ao isolamento das duas línguas românicas. Em relação a esse substrato comum, o maior problema reside na localização do berço do proto-romeno: se na Dácia de Trajano, ao norte do rio Danúbio, ou ao sul. Conceituados romanistas, com destaque para Alexandru Philippide (1859-1933) e seus estudos criteriosos, julgam que o proto-romeno teria nascido ao sul, à direita do Danúbio, atual território da Bulgária, onde teria havido uma simbiose com o albanês. Seus argumentos filológicos são verossímeis: ausência de elementos germânicos antigos, o caráter búlgaro dos empréstimos eslavos mais antigos e a concordância com o albanês, que não teve maiores penetrações ao norte. Admitindo-se que o albanês provenha de um dialeto trácio-ilírico, apesar do pouquíssimo conhecimento existente tanto do trácio como do ilírico, duas línguas indo-européias de grupos diferentes (o trácio do satem e o ilírico do kentum), haveria um substrato comum, naquele território, que explicaria, com alguma segurança, as correspondências entre antigos empréstimos ao romeno e os correspondentes do albanês. Exemplificando: rom. mal, “margem escarpada” (Vejam-se a Dácia Muluensis e a Ripensis citadas), alb. mal, “monte”; rom. argea, “cabana de verão (onde se tece o linho)”, alb. ragal, “cabana”; rom. abur, e alb. avul, “vapor”; rom. brad e alb. breth, “abeto”; rom. maza(re e alb. mothule, “ervilha”. Esses empréstimos podem provir diretamente do substrato trácio-ilírico ou através do albanês, sendo extremamente difícil precisar a via de fato seguida. Do albanês como adstrato, e portanto mais recentes e sem hesitações, são alb. budze > rom. buza(, “lábio”; alb. grumas > rom. grumaz, “garganta”, “cerviz”; alb. kopil > rom. copil, “menino”, “filho”; alb. thap > rom. \f0 ap, “bode”.

Em que pesem todas essas influências e seus aportes léxicos, o romeno nunca deixou de ser uma língua fundamentalmente românica, fato admirável, se considerarmos sua história e o grande número de culturas com as quais teve que conviver e suplantar.

A atribulada história externa do romeno, teve obviamente reflexos na interna. Na fonética, cumpre destacar os fatos mais característicos: Ao contrário das línguas românicas do Ocidente, que tinham sete, o romeno dispunha inicialmente de apenas seis fonemas vocálicos, fato comum nas línguas balcânicas: não houve distinção fonológica entre o /o/ aberto e o fechado, cuja causa ainda se discute. Atualmente se perdeu também a distinção entre o /e/ aberto e o fechado, já que o aberto, proveniente do /e(/ latino, sofreu a chamada ditongação espontânea > /ié/ como em lat. me(lem > rom. miere, pectum > piept. Entretanto, os fonemas mais característicos do romeno são as vogais centrais posteriores, grafadas /a(/, com o mesmo sinal da bráquea latina, que os romenos denominam caciula, e /â/ ou /î/, representando o mesmo som. O /a(/ faz parte também do sistema fonológico búlgaro (grafado /a(/) e do albanês (grafado /ë/); por isso presume-se que esse fonema provenha do substrato trácio-ilírico, comum à região. No romeno, o /â/ só é usado no nome do país e seus derivados: România, român, româneste, românca etc; em todos os demais casos, grafa-se /î/. Observe-se que entre /a/(((((( e /a/ há distinção fonológica, mas só em sílaba tônica ou final, como em ma(ri (“mares”) e mari (“grandes”); jena( (“tortura”) e jena (“a tortura”, em que houve crase do a final do vocábulo com o a do art. fem. sing.). Dá-se o mesmo entre /a(((((/ e /î/, comumente também só em sílaba tônica, como em va(((r (“primo”) e vîr (“eu introduzo”), ra(u (“mau”) e rîu (“rio”), ura( (“ele desejava”) e urî (“ele odiou”). Esses fonemas, classificados como “centrais”, são característicos e únicos entre os sistemas fonológicos das línguas românicas, já que correspondente apontado do português de Portugal não tem valor fonológico.

Na morfologia, o romeno é a única língua românica que conservou o gênero neutro. Segundo Al. Rosetti, “... masculinul ]i femininul, care formeaza( împreuna( genul animat, pe cînd neutrul formeaza( genul inanimat. Neutrul se aplica( inanimatelor, colectivelor ]i abstractelor.” (... o masculino e o feminino, que juntos formam o gênero animado, ao passo que o neutro forma o gênero inanimado. O neutro aplica-se aos inanimados, aos coletivos e aos termos abstratos.) (Istoria Limbii Române, p. 618) Modernamente, o romeno não apresenta nenhum nome de animado que seja neutro, conforme observou Roman Jakobson. Formalmente, os neutros identificam-se com o masculino no singular; no plural, do lat. ­-ora, nominativo ou acusativo neutro plural de termos como corpora, onera, adaptaram -uri, como em sing. gen, pl. genuri, ceas/ceasuri, “hora/horas”, drept/drepturi, “direito/direitos” lucru/lucruri, “coisa/coisas”.

O romeno é ainda a única língua românica que declina os nomes, embora seja uma declinação simplificada, cujas flexões são empregadas apenas em nomes articulados: o nominativo e o acusativo têm a mesma forma, como também o genitivo e o dativo, e um vocativo; assim, para os nomes masculinos, no singular, nom.-ac. omul, gen.-dat. omului, vocativo, omule; no plural, nom.-ac. oameni, gen.-dat. oamenilor, voc. oamenilor, para os femininos, nom.-ac. ziua, gen.-dat. zilei, e no plural, nom.-ac. zilele, gen.-dat. zilelor. Normalmente, os nomes femininos não têm forma vocativa, a não ser os nomes próprios, que assumem um /-o/ na fala popular: Ana, voc. Ano, Maria - Mario, Ioana - Ioano, enquanto Ana, Maria, Ioana são literárias. Os nomes próprios masculinos têm o vocativo em /-e/: Íon - Ione, Radu - Radule, Popescu - Popescule.

Quanto aos verbos, a língua romena conservou as quatro conjugações latinas bem distintas, com algumas variantes principalmente na quarta, diferentemente do português e do castelhano, que dispõem de apenas três. Desse modo, lat. cantare > rom. cînta; debere > debea; mergere > merge; dormire > dormi, melhor caracterizadas na primeira pessoa do plural do presente do indicativo: lat. cantamus > rom. noi cîntám; debemus > noi debém; mergimus > noi mérgem; audimus > noi auzím (o acento agudo apenas para indicar a tônica). Curiosa é a distinção que se faz entre o infinitiv scur\f0 , “infinitivo encurtado”, sem o morfema /-re/, que é o verbo propriamente dito, e o infinitiv lung, “infinitivo longo”, com /-re/, que é o substantivo correspondente, sempre feminino; assim, cînta significa “cantar” e cîntare, “canto”, “cântico”, como em Cîntarea Cîntarilor, “O Cântico dos Cânticos”.

Há ainda dois outros torneios verbais próprios do romeno.Como se sabe, o latim vulgar perdera as formas do futuro latino. A maioria das línguas românicas partiu de locuções como cantare habeo para estabelecer a forma do futuro, como port. cantar + hei > cantarei, cast. cantaré, fr. chanterai, it. cantarò etc. O romeno forma o futuro, denominado viitor, com o verbo vrea (< lat. vulg. volere, cl. velle), “querer”: eu voi cînta, tu vei cînta etc. Contudo, nos dois processos românicos estava implícita a idéia de futuro. A outra característica do verbo romeno está na formação da voz passiva. Enquanto as línguas românicas a formam com o verbo ser, segundo o modelo latino do perfectum, o romeno forma a passiva com o verbo a fi, do lat. fieri, “vir a ser”, e o particípio, tomado como adjetivo e devendo, portanto, concordar com o sujeito em gênero e número: a fi cîntat, “ser cantado”, vom fi chema\f0 i, “seremos chamados” e vom fi chemate, “seremos chamadas”. Note-se que, embora se use um auxiliar diferente, a estrutura é perfeitamente românica.

Na sintaxe, o mais notável para nós é a ausência de orações infinitivas no romeno, tão comuns às línguas românicas, herança certamente latina da conhecida construção do acusativo com infinitivo. Uma oração como Peço-te vender-me também um quilo de açúcar deve ser desdobrada para enquadrar-se nos moldes romenos: Te rog s`-mi vinzi înc` um kilogram de zah`r, isto é, Peço-te que me vendas... Ou em períodos mais simples, como Vreau s` plec, “Quero partir”, Pot s` fumez?, “Posso fumar?”

Por fim, no contexto românico, só o romeno pospõe o artigo definido. Discute-se a causa dessa particularidade. É certo que as línguas eslavas vizinhas pospõem o artigo, o que certamente teve influência maior ou menor. As formas do artigo definido romeno derivam-se de ille, illa, illud, do mesmo modo que em outras línguas românicas. Ora, no latim era comum antepor ou pospor o demonstrativo; dizia-se tanto ille homo como homo ille. Por isso, há romanistas que julgam ter-se fixada, no latim balcânico, a posposição, fato que seria o terminus a quo dessa colocação do artigo, reforçado pelas influências dos diversos estratos de que se tratou acima, nos quais o artigo é sempre posposto. Por vezes, é bastante difícil precisar a origem de um fato lingüístico como esse, uma vez que o latim não dispunha de artigos e os das línguas românicas nasceram das necessidades concretas da fala do povo, cuja documentação confirma o fato geralmente bem distante de seu nascedouro.

Quanto à literatura, os primeiros documentos em romeno datam do séc.XVI, já que o eslavo foi a língua oficial da Igreja e da administração nos territórios romenos dos séc. XIV a meados do XVI, o que impedia que o romeno se fixasse como língua escrita Somente em 1521, surge o primeiro documento em romeno, ainda assim com a introdução e a saudação final exaradas em eslavo. Trata-se de uma carta, escrita pelo grão senhor boiardo Neac]u de Cîmpulung ao juiz Hans Benkner, da cidade de Bra]ov, comunicando uma invasão dos turcos pelo rio Danúbio. Usa o alfabeto cirílico da época, mas denomina |ar` Româneasc` a região da Valáquia, fato que denota, sem dúvida, consciência da identidade nacional. São também de meados do século XVI os primeiros escritos religiosos, conservados em quatro códices. Contêm parte dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, uma tradução em prosa dos Salmos, além de duas outras versões dos salmos igualmente, denominadas Vorone e Hurmazachi. Muitos erros, repetições, omissões e interpolações demonstram que se trata de cópias de códices mais antigos. Supõe-se que sejam traduções de inspiração luterana, cuja reforma rapidamente se estendeu pela Transilvânia. Pelo que se sabe, o primeiro livro impresso em romeno foi um catecismo protestante, traduzido do húngaro e publicado em Sibiu, cidade da Transilvânia, em 1544, que se perdeu. O Catecismo de Coresi, porém, publicado em Bra]ov, em 1559, conservou-se quase integralmente. Também os calvinistas traduziram livros e os publicaram em romeno, com fins propagandísticos; foram os primeiros a tentar escrever a língua com o alfabeto latino. Portanto, as primeiras atestações do romeno são bastante tardias, e ainda assim de caráter político e religioso, enquanto as outras línguas românicas já dispunham de considerável literatura artística. Os romenos não têm literatura medieval e sua autêntica literatura só surgiu com vigor no século XIX, com a superação das diversidades regiões; antes de tudo foi necessário unificar a ortografia e com ela a língua nacional literária, problema que se arrastou de 1880 a 1953, algo semelhante ao que está ocorrendo atualmente com o galego na Espanha e com o romanche da Suíça. Nesse autêntico empreendimento, merece destaque a atuação fundamental de Titu Maiorescu (1840-1917), filósofo, sociólogo, orador e crítico de arte. Dentre os mais destacados nomes da moderna literatura romena, para citar apenas alguns, sobressaem Íon Creang` (1837-1889), contista moldavo; Mihai Eminescu (1850-1889), poeta clássico e lírico, pertencente à literatura universal; Íon Luca Caragiale (1852-1912), autor de romances, contos e peças teatrais; Mihail Sadoveanu (1880-1961), com mais cem obras de todos os gêneros; Barbu }tef`nescu Delavrancea (1858-1918), romancista e dramaturgo; Tudor Arghesi (1880-1967), freqüentemente comparado a Eminescu, um dos maiores poetas nacionais e autor também de muitas obras em prosa; George Calinescu (1889-1965), prosador, crítico e historiador literário. Infelizmente, os autores romenos são muito pouco conhecidos no Brasil.

Para concluir, uma breve referência à questão moldava. O principado da Moldávia, região na parte norte oriental da antiga Dácia, incluiu, do século XIV ao início do XIX, a Bessarábia, cujo território está situado a leste, entre os rios Dniestre e Prut; ali também surgiram variantes daco-romenas com características moldavas. Com o fim da guerra russo-turca (1806-1812), pelo Tratado de Bucareste, a Bessarábia foi incorporada à Rússia, à qual pertenceu até ao fim da primeira guerra em 1918, quando voltou a pertencer à Romênia. A instabilidade política persistiu; o expansionismo comunista forçou a criação da República Socialista Soviética da Moldávia em 1924, unida à Ucrânia. Em agosto de 1940, a Bessarábia foi separada da Romênia e incorporada à Moldávia. Essa atribulada história da região, toda ela etnicamente romena, não apresenta fatores importantes que pudessem acentuar as diferenças dialetais. Os moldavos não acompanharam a relatinização da língua no século XIX, nem passaram a usar o alfabeto latino; continuaram a usar o cirílico até 1905, quando adotaram o alfabeto russo, parcialmente romanizado. O movimento separatista acentuou-se a partir de 1924, quando passaram a denominar seu idioma limba moldoveneascǎ em vez de limba româneasca(. As conseqüências práticas, porém, foram insignificantes, tanto pelas exíguas diferenças lingüísticas como pelo pequeno número de falantes. Romanistas serenos e imparciais não aprovam o empenho de lingüistas e filólogos soviéticos, levados por evidentes razões políticas, em transformar o moldavo em uma língua românica autônoma. Desse modo, haveria no Oriente duas línguas românicas, o que é sustentado também por uns poucos lingüistas romenos. Com o esfacelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, as tendências separatistas atenuaram-se no campo lingüístico, embora a Moldávia preferisse continuar politicamente independente.

Entretanto, os defensores da autonomia do moldavo apresentam poucas diferenças lingüísticas, insuficientes para fundamentar a pretendida autonomia. As particularidades léxicas e fonéticas alegadas são encontradas também em outras regiões da Romênia. Na literatura, a posição dos separatistas é ainda mais incoerente, porque consideram pertencentes à literatura moldava autores como Creanga( e Eminescu, cuja língua é indiscutivelmente o romeno. Para romanistas conhecedores do assunto, o idioma literário é o mesmo nos dois campos; a língua literária moldava de fato não representa a fala do povo. A falta de argumentos sólidos levou os próprios defensores da autonomia do moldavo a silenciar sobre o assunto, tão logo cessaram os entusiasmos políticos. A língua literária romena, [constituída com base na variedade falada entre Tîrgovi]te e Bra]ov, tem contribuído bastante para a homogeneidade das variantes dialetais da Romênia. Sendo usada também pelos autores moldavos, pode vir a contribuir para evitar maiores diferenciações na própria República da Moldávia, mesmo politicamente independente.

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