ESTUDO DAS ORAÇÕES SUBSTANTIVAS EM LATIM

Mariza Mencalha de Souza (UFRJ)

Introdução às orações substantivas:
tipos e características

As orações substantivas recebem esse nome pelo fato de desempenharem, principalmente, o papel de sujeito ou de objeto direto, funções próprias da classe dos substantivos. Por outro lado, são ainda chamadas de completivas ou integrantes porque, ao exercerem uma dessas funções, integram, isto é, complementam, na condição de subordinadas, o sentido de uma oração desprovida, como elas próprias, de autonomia sintático-semântica e que se classifica como principal.

Estão agrupadas em quatro tipos: justapostas (sem conectivo), conjuncionais (com ut, ne, quin, quominus e quod), infinitivas, interrogativas indiretas: pronominais, adverbiais e de partículas. Os dois primeiros tipos constroem-se com o subjuntivo, com exceção das introduzidas por quod, cujo verbo, embora possa vir nesse modo, figura, geralmente, no indicativo.

As introduzidas por quin são particularmente freqüentes com verbos de dúvida e impedimento, bem como com outros giros, formulados em torneios negativos e interrogativos. Ex.: non multum abest quin; quid abest quin?; mora nulla est quin; non dubito quin; quis dubitat quin?; nil obstat quin; quid obstat quin, etc. Já as encabeçadas por quominus são regidas por verbos de impedimento figurando em qualquer modalidade de frase, inclusive afirmativa, mas raramente aparecem como complemento das outras fórmulas interrogativas e negativas empregadas com quin.

As interrogativas indiretas são introduzidas pelos mesmos pronomes (quis, quid, etc.) e advérbios (ubi, unde, cur, ut, etc.) interrogativos empregados na oração independente, e pelas mesmas partículas (-ne, num, an, etc.) caracterizadoras da interrogação direta. Trazem geralmente verbo no subjuntivo, podendo também vir com o indicativo, tendência essa que se verifica já no período arcaico, como comprovam os seguintes exemplos citados por Bassols (1956:172): uide ut fastidit simia e nescio quis loquitur. O autor assinala ainda que o emprego das interrogativas indiretas com o indicativo é retomado na fase pós-clássica, adquirindo mais força no latim decadente e no vulgar.

As de partículas podem ser simples ou disjuntivas (duplas, tríplices). São simples, se introduzidas pela enclítica -ne, por num ou nonne; duplas, quando figuram em construções do tipo: utrum ... an, -ne ... an (anne), an ... an, -ne ... -ne, siue ... siue, utrum ... necne, utrum ... an non, etc., e tríplices, ocorrendo em seqüências como an ... an ... an (cf. Pl., Aul., 730), etc.

As infinitivas apresentam os seguintes traços: ausência de termo subordinante, sujeito (se expresso) no acusativo e verbo no infinitivo. Podem também, como as introduzidas por quod, exercer o papel de sujeito ou de objeto direto da principal. Como objeto direto, integram o sentido de verbos declarativos, perceptivos, volitivos e de sentimento e, como sujeito, o sentido de verbos e expressões impessoais. Quando empregadas com verbos na passiva pessoal, como creditur, dicitur, etc., o seu sujeito passa a ser sujeito da principal, vindo em nominativo: Homerus dicitur caecus fuisse (Grimal, 1986:132); hostes dicuntur uenire (Bassols, 1956:211).

As completivas iniciadas por quod costumam integrar verbos de acontecimento modificados por advérbios, declarativos, de sentimento, felicitação, censura, louvor, adição, etc., expressões impessoais, locuções como bene, male facio, dentre outras.

As orações completivas de subjuntivo obedecem, geralmente, às regras da consecutio temporum, processo segundo o qual seu tempo verbal é determinado pelo tempo do verbo da principal. Desse modo, se o verbo da principal (parte regente) estiver no presente ou futuro, o da subordinada (parte regida) poderá ficar no presente, perfeito ou futuro perifrástico de presente, para expressar, respectivamente, uma ação simultânea, anterior ou posterior. Se, ao contrário, vier numa das formas de passado, o da subordinada figurará no imperfeito, mais-que-perfeito ou futuro perifrástico de imperfeito, segundo se deseja, nessa ordem, descrever um fato ocorrido simultaneamente, antes ou depois daquele expresso na principal. Há, evidentemente, exceções a essas regras, que nos eximimos de comentar, por fugirem aos objetivos deste trabalho.

A principal no contexto da subordinação substantiva possui, no entanto, outras características. Pode trazer, ao lado do subjuntivo ou do infinitivo, verbo no indicativo ou no imperativo, porém com nuances mais definidas, pois como ressalta Grimal (1986:95),

Cada modo, em princípio, colore a ação de matizes particulares: mas é sobretudo nas orações independentes (e principais) que esses matizes são sensíveis. Nas subordinadas, o emprego do modo se fixou muitas vezes em regras mecânicas.

São esses matizes da principal e o comportamento sintático das orações substantivas, destacadas em itálico, que abordaremos a partir da tradução de um pequeno trecho do De bello gallico e de excertos de outros autores, dentre os quais se inclui o próprio Júlio César.

De Bello Gallico, I, XX

Haec cum pluribus uerbis flens a Caesare peteret, Caesar eius dextram prendit; consolatus rogat finem orandi faciat; tanti eius apud se gratiam esse ostendit, uti et rei publicae iniuriam et suum dolorem eius uoluntati ac precibus condonet. Dumnorigem ad se uocat, fratrem adhibet; quae in eo reprehendat ostendit; quae ipse intellegat, quae ciuitas queratur proponit; monet ut in reliquum tempus omnes suspiciones uitet; praeterita se Diuiciaco fratri condonare dicit. Dumnorigi custodes ponit, ut quae agat, quibuscum loquatur scire possit.

Tradução

Como, chorando, fizesse a César com muitas palavras tais pedidos, César segurou-lhe a mão direita; consolou-(o), roga que ele cesse de suplicar; mostra ser de tão grande valor a amizade dele junto a si, que perdoa não só (sua) ofensa à república, mas também (entende) sua dor, (cedendo) à sua vontade e aos pedidos (do amigo). Chama Dumnórige à sua presença, faz vir (seu) irmão; mostra que (atitudes) censura naquele; expõe tudo o que ele próprio sabe; expõe tudo de que a cidade se queixa; aconselha-(o) que, no futuro, evite todas as suspeitas; diz que ele (em consideração) ao irmão Divicíaco perdoa (seus erros) passados. Põe guardas (contra) Dumnórige, para que possa saber o que ele faz, com quem mantém contato.

Orações substantivas no de Bello gallico, I, XX

O texto inicia-se com a oração subordinada justaposta finem orandi faciat (l. 2), a qual apresenta verbo no presente do subjuntivo e completa, como objeto direto, o sentido do verbo volitivo rogat.

Nas l. 2-3, temos uma oração subordinada infinitiva (com verbo no infinitivo presente ativo, esse), que, apresentando como sujeito gratiam, funciona como objeto direto do verbo declarativo ostendit.

A partir da l. 5 até a l. 6, encontramos uma seqüência de três orações interrogativas indiretas, introduzidas pelo pronome interrogativo quae, trazendo todas verbos no presente do subjuntivo. Embora funcionem como objeto direto de verbos declarativos, a primeira oração completa o sentido do verbo ostendit, a segunda e a terceira o do verbo proponit.

Nas l. 6-7, a oração subordinada, introduzida por ut, com valor final, apresenta o verbo uitet no presente do subjuntivo e exerce o papel de objeto direto do verbo volitivo monet.

Nas l. 7-8, verificamos que a oração infinitiva praeterita se Diuiciaco fratri condonare, completando, no papel de objeto direto, o sentido do verbo declarativo dicit, possui como sujeito o pronome se, o mesmo da oração principal.

Por último, nas l. 8-9, temos duas interrogativas indiretas, introduzidas, respectivamente, pelos pronomes quae e quibuscum, apresentando ambas os verbos agat e loquatur no presente do subjuntivo e completando, na condição de objeto direto, o sentido do verbo perceptivo scire.

Não é apenas a função de objeto direto que está reservada às orações substantivas. Podem estas, também, em alguns casos, desempenhar, além deste, outros papéis, mencionados a seguir.

Visão geral das orações substantivas

Subordinadas justapostas

a) ... facite illa meo palleat ore magis. (Prop., El.): fazei com que ela empalideça mais do que a minha face.

A oração subordinada, cujo verbo palleat se encontra no presente do subjuntivo, exerce a função de objeto direto da principal facite, imperativo de facere.

b) ... quae iam mecum licet recognoscas. (Cíc., Cat.): os quais é lícito que agora reconheças comigo.

Temos uma subordinada que apresenta verbo no presente do subjuntivo e completa, na função de sujeito, o sentido do verbo impessoal licet.

c) Hos, mallem secum suos milites eduxisset. (Cíc., Cat.): preferia que (Catilina) tivesse levado consigo estes seus soldados.

O verbo da oração principal, mallem, optativo que exprime preferência, apresenta seu sentido completado por uma subordinada objetiva direta, cujo tempo verbal se encontra no mais-que-perfeito do subjuntivo.

d) Tum mater orare, hortari, iubere, fugerem. (Plín., Ep.): então (minha) mãe pedia, exortava, mandava que eu fugisse.

A oração subordinada, com o verbo fugerem no imperfeito do subjuntivo, funciona como objeto direto da principal tum mater orare, hortari, iubere cujas formas verbais, todas de valor volitivo, exprimem, respectivamente, a idéia de pedido, exortação e ordem.

e) Caue quemquam alienum in aedis intromiseris. (Pl., Aul.): não introduzas ninguém estranho em (minha) casa.

Neste exemplo, temos uma oração subordinada, cujo verbo se encontra no perfeito do subjuntivo, completando, no papel de objeto direto, o sentido do verbo volitivo caue, dando origem, então, a uma construção de imperativo negativo.

f) ... hilares certum est. (Plín., Ep.): é certo que fiques alegre.

À semelhança do exemplo b, aqui a subordinada, representada pelo verbo hilares, igualmente no presente do subjuntivo, também desempenha a função de sujeito da oração principal, tendo em vista que completa o sentido da expressão impessoal certum est.

g) ... sed eos hoc moneo, desinant furere. (Cíc., Cat.): mas àqueles advirto isto: que deixem de se enfurecer.

Neste caso, a oração subordinada, que, também como a anterior, possui verbo no presente do subjuntivo, figura como aposto da principal, visto que lhe completa o sentido, explicando o pronome hoc.

Subordinadas introduzidas por ut, ne

a) Id te oratum aduenio, ut ignoscas mihi. (Pl., Aul.): venho para te pedir isto: que me perdoes.

A oração subordinada, introduzida por ut, apresenta o verbo no presente do subjuntivo e funciona como aposto da principal, uma vez que explica o sentido do pronome id, que nela se encontra.

b) ... de Rufo necesse est ut idem sentias. (Plín., Ep.): é necessário que sintas o mesmo a respeito de Rufo.

Apesar de, neste exemplo, a oração subordinada vir também introduzida por ut e trazer verbo no presente do subjuntivo, difere da anterior, pelo fato de desempenhar a função de sujeito da principal, constituída pela expressão impessoal necesse est.

c) … fiebat ut et minus uagarentur et …. (Cés., B.G.): acontecia que não só se expandiam menos como também ... .

Desta vez, a oração subordinada, introduzida por ut, de matiz consecutivo, apresenta forma verbal no imperfeito do subjuntivo, mas continua ainda exercendo a função de sujeito da principal, por integrar o sentido de um verbo impessoal, com idéia de resultado ou eventualidade.

d) Non metuo ne quisquam inueniat. (Pl., Aul.): não temo que alguém (o) encontre.

Temos, neste caso, uma oração introduzida pela conjunção ne, que apresenta tempo verbal no presente do subjuntivo, com valor potencial, e encontra-se subordinada à principal para completar, na função de objeto direto, o sentido de um verbo que exprime temor.

e) Sed timeo, ne non impetrem. (Cíc., Ep. ad Att.): mas temo que não consiga.

Aqui a oração subordinada, cujo verbo figura no presente do subjuntivo, ao contrário da anterior, é introduzida por ne non, apresentando, portanto, sentido negativo, mas a ela se assemelha por completar, como objeto direto, o sentido de um verbo de temor.

f) ... timore perterriti, ne supplicio adficerentur. (Cés., B.G.): temerosos de que fossem condenados ao suplício.

A subordinada introduzida por um ne afirmativo difere das duas anteriores, pelo fato de não só apresentar verbo no imperfeito do subjuntivo, mas também por funcionar como complemento nominal de timore, nome de base verbal.

g) ... erat ei praeceptum ne proelium committeret. (Cés., B.G.): fora-lhe ordenado que não travasse combate.

A oração subordinada, introduzida por ne final negativo, traz o verbo no imperfeito do subjuntivo e completa, no papel de sujeito, o sentido do verbo impessoal volitivo-jussivo erat praeceptum.

h) ... uide ne ille huc prorsus se inruat. (Ter., Ad.): vê que ele não venha diretamente para aqui.

Vindo igualmente introduzida por um ne final, com sentido negativo, a oração subordinada, cujo verbo se apresenta no presente do subjuntivo, integra, na condição de objeto direto, o sentido de um imperativo que indica manifestação da atividade.

i) ... inpedit interdicitque omnibus ne quemquam interficiant. (Cés., B.G.): impede e proíbe a todos que matem a quem quer que seja.

Trata-se de uma oração subordinada introduzida por um ne afirmativo, a qual traz verbo no presente do subjuntivo e completa, como objeto direto, o sentido de dois verbos, um exprimindo impedimento, o outro, proibição.

Observamos que a conjunção ne apresenta ora sentido afirmativo, ora negativo. Bassols (1956:163) esclarece a dupla acepção desse conectivo nos seguintes termos:

... las oraciones con ne no eran originariamente subordinadas sino coordinadas de índole volitiva o desiderativa. (...) cuando el significado del verbo principal era volitivo o de actividad la partícula conservaba su valor negativo (= “que no”); en cambio, cuando el verbo principal era nolitivo o de temor, la partícula ne perdía su acepción negativa, pues esta idea se deducía ya del verbo principal.

Subordinadas introduzidas por quominus (=quo minus), quin

a) Nec dubito, quin exitiosum bellum impendeat. (Cíc., Ep. ad Att.): nem duvido que uma guerra funesta (nos) ameace.

Aqui, a subordinada, introduzida por quin e com verbo no presente do subjuntivo potencial, desempenha a função de objeto direto de uma principal de sentido negativo, do tipo não duvidar.

b) ... neque abest suspicio quin ipse sibi mortem consciuerit. (Cés., B.G.): nem está afastada a suspeita de que ele próprio tenha se suicidado.

Neste exemplo, a oração introduzida por quin, trazendo verbo no pretérito perfeito do subjuntivo, com valor potencial, subordina-se a uma principal negativa, para integrar, como complemento nominal, o sentido do substantivo suspicio, nome de base verbal.

c) An dubitamus quin Romani iam ad nos interficiendos concurrant? (Cés., B.G.): acaso duvidamos que os Romanos não corram já para nos matar?

À semelhança do exemplo a, a oração introduzida pela conjunção quin, apresentando também forma verbal no presente do subjuntivo, com valor potencial, integra, na função de objeto direto, o sentido de um verbo dubitativo, empregado numa interrogação.

d) Scio quae tibi causa fuerit impedimento quo minus praecurrere aduentum meum posses. (Plín., Ep.): sei que motivo te impediu de poderes antecipar minha chegada.

Agora a oração subordinada, introduzida por quo minus e apresentando verbo no imperfeito do subjuntivo, também com valor potencial, funciona como complemento nominal, uma vez que integra o sentido de impedimento, substantivo de base verbal.

e) Q. Ciceroni obsisti non potuit, quo minus Thyamim uideret. (Cíc., Ep. ad Att.): não se pôde impedir a Q. Cícero de apreciar o rio Tiâmida.

Neste caso, a oração subordinada, trazendo como a anterior verbo no imperfeito do subjuntivo, também é introduzida pela conjunção quo minus, completando, no papel de objeto direto, uma oração de sentido negativo, que exprime impedimento.

Subordinadas constituídas por interrogação indireta

a) ... quid superiore nocte egeris, ubi fueris, quem nostrum ignorare arbitraris? (Cíc., Cat.): julgas que algum de nós ignora o que fizeste na noite anterior, onde estiveste?

Trazem ambas as orações verbo no pretérito perfeito do subjuntivo e completam, na função de objeto direto, o sentido do verbo ignorare, sendo a primeira introduzida por um pronome interrogativo, e a segunda, por um advérbio da mesma natureza.

b) ... exquaere, sitne ita. (Pl., Aul.): pergunta se é assim.

Ao contrário do exemplo a, a oração interrogativa indireta, simples, objeto direto da principal exquare, traz verbo no presente do subjuntivo e é desta vez introduzida pela partícula -ne.

c) Dubito num idem tibi suadere quod mihi debeam. (Plín., Ep.): estou em dúvida se devo aconselhar a ti o mesmo que a mim.

A interrogação indireta simples, subordinada de valor consultivo, cujo verbo se encontra no presente do subjuntivo, é introduzida por num e liga-se à oração principal, para completar, no papel de objeto direto, o sentido de um verbo dubitativo.

d) ... neque interesse, ipsosne interficiant impedimentisne exuant. (Cés., B.G.): nem importava se matavam os próprios (romanos) ou se (os) despojavam das bagagens.

Há, neste caso, uma interrogação indireta dupla, marcada, nos seus dois membros pela partícula -ne, que introduz duas orações subordinadas com verbos no presente do subjuntivo, completando, na função de sujeito, o sentido do verbo impessoal interesse.

e) ... quaesiui a Catilina in nocturno conuentu ad M. Laecam fuisset necne. (Cíc., Cat.): procurei saber de Catilina (se) havia estado no encontro noturno na casa de M. Leca ou se não.

Ao contrário do exemplo anterior, aqui a oração interrogativa indireta dupla apresenta partícula introdutora somente no segundo membro, expressa por meio da forma negativa necne, que introduz uma oração subordinada objetiva direta, com o verbo no pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo, completando o sentido de quaesiui.

f) … qui sit, utrum sit an non sit, id nescit. (Cat., Carm.): ignora isto: quem é, se vive ou se não vive.

Este exemplo apresenta duas interrogativas indiretas: uma pronominal: qui sit, e uma de partícula, dupla, introduzida no primeiro termo por utrum, e, no segundo, por an non. Ambas possuem verbos no presente do subjuntivo e constituem aposto da principal, com função única de explicar o sentido do pronome id.

g) ... nihilo sum factus certior quomodo te haberes. (Cíc., Ep. ad Fam.): em nada me tornei mais informado de como te achavas.

Neste caso, a oração interrogativa indireta, apresentando verbo no imperfeito do subjuntivo, é introduzida pelo advérbio interrogativo quomodo, para integrar, na função de complemento nominal, o sentido do adjetivo certior.

h) ... incertum est Phalarimne an Pisistratum sit imitaturus. (Cíc., Ep. ad Att.): é incerto se há de imitar Fálaris ou Pisístrato.

Bastante distinta da oração anterior, temos agora um caso de oração interrogativa indireta dupla, que, trazendo verbo no particípio futuro, acompanhado do presente do subjuntivo sit, desempenha o papel de sujeito da expressão impessoal incertum est.

Subordinadas introduzidas por quod

a) ... iam lucrum est quod uiuis. (Pl. Merc.): já é lucro viveres.

A oração introduzida por quod apresenta verbo no presente do indicativo, e subordina-se à principal para completar, como sujeito, o sentido da expressão impessoal lucrum est.

b) Gratularis mihi quod acceperim auguratum. (Plín., Ep.): felicitas-me por eu ter aceitado o cargo de áugure.

A oração subordinada, introduzida por um quod de matiz causal, traz verbo no pretérito perfeito do subjuntivo e desempenha a função de objeto direto da principal gratularis.

c) Huc accedit quod paulo tamen occultior uestra ista cupiditas esset. (Cíc., Rosc. Am.): acrescenta-se a isto o fato de que essa vossa paixão era, contudo, um pouco mais dissimulada.

Agora temos, à semelhança do exemplo a, uma oração que, introduzida pela conjunção quod, funciona também como sujeito da principal, dela se distinguindo pelo fato de apresentar verbo no imperfeito do subjuntivo.

d) De animo meo erga rem publicam bene facis quod non dubitas. (Cíc., Ep. ad Att.): procedes bem não duvidando de meu entusiasmo pela república.

Apresenta a oração subordinada verbo no presente do indicativo e funciona, ao ser introduzida por quod, como objeto direto da locução bene facis.

e) ... quod regi amico cauet non reprehendo. (Cíc., Agr.): não (o) critico por prevenir um rei amigo.

A oração subordinada, cujo verbo se encontra no presente do indicativo, é introduzida por um quod de valor quase causal e completa, como objeto direto, o sentido do verbo reprehendo, que exprime censura.

Com relação a essa particularidade de quod, esclarece Bassols (1956:193): “Quod como complemento de los verbos que expresan una censura o un sentimiento tiene una acepción casi causal”.

Subordinadas infinitivas

a) Bona praeterea publicari iubet. (Cíc., Cat.): além disso, manda que sejam confiscados os bens.

Temos, neste exemplo, uma oração infinitiva, que, trazendo verbo no infinitivo presente passivo e tendo como sujeito bona, funciona como objeto direto do verbo volitivo-jussivo iubet.

b) ... confestim te interfectum esse, Catilina, conuenit. (Cíc., Cat.): convém, ó Catilina, que tu sejas morto imediatamente.

Aqui a oração infinitiva, que possui como sujeito o pronome te, apresenta verbo no infinitivo perfeito passivo e integra, no papel de sujeito, o sentido do verbo impessoal conuenit.

c) ... uereor dicere (Ter., Andr.): temo dizer.

Como no exemplo a, a infinitiva dicere, exerce também a função de objeto direto da principal, mas dele se distingue em três aspectos: apresenta verbo no infinitivo presente ativo, não possui sujeito expresso, completa o sentido de um verbo de sentimento.

d) Hanc te aequomst ducere. (Ter., Ad.): é justo que tu te cases com ela.

A oração subordinada, apresentando verbo no infinitivo presente ativo e tendo como sujeito o pronome te, funciona como sujeito da expressão impessoal aequomst.

e) Credo puerum lecturum esse. (Grimal, 1986:132): creio que o menino lerá.

Estamos diante de uma infinitiva que, tendo como sujeito o substantivo puerum, traz verbo no infinitivo futuro ativo e liga-se ao perceptivo credo, no papel de objeto direto.

Conclusão

Ao longo deste artigo, constatamos que, dos quatro tipos de orações substantivas apresentadas, algumas podem, além da função de sujeito e objeto direto, exercer também o papel de aposto ou de complemento nominal da principal.

As justapostas e as conjuncionais introduzidas por ut e ne integram, em sua maioria, o sentido de verbos volitivos, optativos, bem como o de verbos e expressões impessoais e o de imperativos, sobretudo os de facere e uidere.

Constatamos ainda que as substantivas introduzidas por -ne apresentam valor afirmativo quando completam o sentido de verbos de temor, receio, impedimento, proibição, etc. Para expressarem, nestas mesmas circunstâncias, idéia negativa, as referidas orações constroem-se com ne non.

As interrogativas indiretas subordinam-se, de um modo geral, a verbos que indicam indagação, averiguação, busca, investigação, dúvida, incerteza ou desconhecimento por parte do sujeito da enunciação. Mas, servem ainda de complementos a verbos de língua e de entendimento.

O grupo das introduzidas por quod tem emprego variado.

Por último, verificamos que as infinitivas podem também, como as justapostas e as introduzidas por ut e ne, integrar o sentido de verbos volitivos, impessoais e expressões impessoais, igualando-se ao primeiro tipo de oração, por ligar-se à principal, sem conectivo.

Bibliografia

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FARIA, Ernesto Gramática da língua latina. 2a ed. Brasília: FAE, 1995.

GRIMAL, Pierre et alii. Gramática latina. Trad. e adap. de Maria Evangelina Soeiro. São Paulo: T. A. Queiroz/ EDUSP, 1986.

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