A SINESTESIA NA NARRATIVA DANNUNZIANA

Livio Panizza (UERJ e UFRJ)

“Sinestesia”, etimologicamente derivada do grego, significa syn, junto; aisthánesthai, perceber - significa, “percepção simultânea”. Pode ser definida como uma associação de sensações diferentes percebidas contemporaneamente por um indivíduo, ou também como um fenômeno no qual a percepção de determinados estímulos é acompanhada por particulares imagens próprias de outra modalidade sensitiva. Podes-se assim falar de fenômenos como a audição colorida ou a visão auditiva.

A crítica literária tende a considerá-la como uma figura de retórica particular, que consiste na combinação de duas expressões com duas diferentes esferas sensoriais.

Para a lingüística a sinestesia é um caso particular de metáfora inerente às palavras que designam imagens sensoriais; contudo, essa tendência de associar, unificar sintetizar os vários campos sensoriais, pode manifestar-se em outros campos, como a psicologia, a física matemática, a anatomia, a fisiologia, a estética, a pedagogia, a ciência dos fenômenos ocultos, a semântica..

Três tipos de relações podem ser identificadas entre as várias zonas sensoriais:

1) um tipo de transposição-identificação, onde se verifica a passagem das sensações de uma zona sensorial a outra ou a emanação de várias sensações provenientes de uma fonte comum. “as vozes do lírio" de Homero, “as estrelas perfumadas" de Mallarmé.

2) Um tipo de correspondência ou comparação entre as esferas sensoriais. “os perfumes, as cores, os sons se correspondem", Boudelaire.

3) Um tipo de acumulação no qual se manifesta a evocação enumerativa e simultânea de impressões provenientes de vários campos sensoriais. GiIde: "Sentia, via, respirava... enquanto sons, perfumes, cores se fundiam profusamente em mim”.

Outros tipos de sinestesia são as relações entre uma campo sensorial e um extra-sensorial:

1) Um tipo de transposição-identificação que emprega a abstração como impressão sensível. “os perfumes são talvez idéias”, Balzac; “perfume de tristeza” de Mallarmé, “o fundo azul dos seus segredos” de Maeterlinck.

2) Um tipo de correspondência que traça relações entre campos sensoriais e a abstração em forma comparativa.

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