ENTENDEU E ENTENDE
MARCAS DE PONTO DE VISTA
NA CONVERSA INFORMAL

Sandra Bernardo (UERJ e PUC-Rio)

Em Bernardo (2002), investiguei expressões introdutoras de espaços mentais Foco e Ponto de Vista em uma conversa informal, com base na abordagem sociocognitiva (Fauconnier, 1994/1997; Doiz-Bienzobas, 1995; Cutrer, 1994; Dinsmore, 1991; Clark, 1996; Tomasello 1999). Entre os sinalizadores desses espaços, encontram-se as formas entendeu e entende, cuja oposição pretérito-presente pode estar relacionada ao domínio em que o enunciado é processado, revelando, dessa forma, diferentes enquadres de Ponto de Vista.

Tais diferenças evidenciam a relação entre os aspectos cognitivo e interacional do discurso. Assim, o entendeu é empregado quando o falante se refere a uma porção do discurso concluída; logo, há um deslocamento de Ponto de Vista. Já o uso de entende não sinaliza mudança de domínio, não assinala ou desencadeia qualquer deslocamento ou reorientação discursiva, pois a fala encontra-se no domínio da conversa, como se o falante ainda estivesse alinhando seu Ponto de Vista.

Em termos interacionais, ao utilizar o entendeu, o falante pode estar reconhecendo sua falta de clareza; conseqüentemente, abrindo espaço para intervenções dos interlocutores, enquanto o entende pode sinalizar uma tentativa de manter a posse do turno, a fim de continuar buscando a forma mais adequada de verbalizar um conteúdo. Essa análise é reforçada pela diferença em termos entonacionais, uma vez que a forma entendeu é pronunciada com o caráter interrogativo mais marcado, como se o falante estivesse abrindo a possibilidade de passar o turno.

...........................................................................................................................................................

Copyright © Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos