HUMOR E ESTEREOTIPIA
NO ANEDOTÁRIO PORTUGUÊS

Maria de Fátima Costa Marques (PUC-Rio)

A manifestação física do riso é a mesma no mundo inteiro, sua universalidade é incontestável, mas a motivação que o gera difere de cultura para cultura, estando também sujeita a influências temporais. O humor não pode ser pensado isoladamente, pois a concepção do que as pessoas acham engraçado está marcada por limites lingüísticos, geográficos, diacrônicos, socioculturais e pessoais.

No entanto, apesar dessa variabilidade, observa-se, nas sociedades ocidentais, que o humor se projeta em direção a um “outro” que, em sua maioria, é escolhido, geralmente, em função de motivos histórico-culturais, tornando-se alvo de brincadeiras pejorativas, ao conceber suas “vítimas”, geralmente grupos étnicos, como pessoas inferiores, portadoras de uma grande estupidez. O mecanismo dos textos das piadas é quase sempre o mesmo: perpetuar o preconceito.

Dessa forma, o anedotário criado para ridicularizar o grupo étnico português ¾ nosso objeto de estudo ¾ não pode ser tratado isoladamente, porque são inseparáveis das motivações do contexto sócio-econômico que o gerou, ainda que se situe no campo lingüístico dos mal-entendidos, decorrentes das armadilhas da língua.

Além disso, podemos perceber que a mistura de características lingüísticas e elementos socioculturais evidencia terem sido os problemas também gerados a partir de um código lingüístico comum a culturas diferentes, fazendo surgir anedotas nas quais a estereotipia está quase sempre presente.

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