NO TEMPO DOS REIS
ANÁLISE DO DISCURSO DO PODER EM TEXTOS
DE ANA MARIA MACHADO

Ana Crelia Penha Dias dos Santos (UFRJ)

Era uma vez um rei que...”. São muitas as narrativas para crianças que assim se iniciam: são apresentados soberano e súditos em reinos com características as mais variadas. Interessa-nos aqui pensar os motivos pelos quais muitos textos, ao tratarem de poder, encarnam-no na figura de um rei. Não se trata apenas de transplantar para cá apenas uma tradição política e cultural européia, como os clássicos contos populares que têm como cenário um castelo, o rei, príncipes e princesas. Há obras que não necessariamente trabalham nessa linha, e Ana Maria Machado pode ser incluída no rol de escritoras que trazem a figura do monarca para protagonizar uma trama que envolve questões que vão além do caráter moralizante de alguns contos. As obras analisadas são: Ah, cambaxirra, se eu pudesse..., Passarinho me contou e Uma boa cantoria, datadas do período de 1980 a 1983. Como grande representante na literatura para crianças que trata do poder, a figura do rei, em Ana Maria Machado, é retomada de forma a tornar visível uma imagem que se universalizou através dos tempos e que assim se cristalizou desde épocas pré-históricas, ora ficcionalizada sob a forma da estereotipia, ora encarnada em criaturas descentralizadas, visivelmente despreparadas para o exercício daquela função. Localizados em redutos-fortaleza, o que se sobressai nessas personagens é a função do espaço de sustentação de suas condições, de desagregação de um poder dominador, de aprendizado ou simplesmente de estabelecimento da liberdade e da felicidade - desencadeados a partir de uma relação com o território.

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