O DELFIM
A LIBERTAÇÃO DA ESCRITA
COMO VISLUMBRE DA REVOLUÇÃO

Tatiana Alves Soares Caldas (UNESA e UniverCidade)

Marcada por inovações na estrutura romanesca, a ficção contemporânea põe em xeque os modelos tradicionais da narrativa, tanto no que se refere à caracterização de personagens quanto aos demais elementos narrativos. Tal redimensionamento é especialmente observado na ficção portuguesa, que apresenta uma preocupação referente à identidade coletiva, dialogando com mitos históricos e modelos legados pelo passado.

O delfim, romance de José Cardoso Pires publicado durante a ditadura salazarista, é composto por três níveis narrativos que se entrelaçam, fundindo categorias discursivas e marcando, no plano da escrita, o desejo revolucionário de transformação. Tem-se, então, uma história que aponta para uma libertação, na figura de um escritor que visita o local e tenta, por meio de diferentes depoimentos, reconstituir o crime que possibilitou a socialização de um lugar monopolizado por um descendente de fidalgos. Já no plano do discurso, tem-se a libertação por meio da escrita, metaforizada pela adoção de um narrador em 1ª pessoa, com um ponto de vista limitado, num questionamento da onipotência da autoridade no plano discursivo.

Sendo a Gafeira - espaço onde a história transcorre - , a um só tempo, metáfora e metonímia do Portugal pré-revolucionário, nosso estudo aponta uma leitura d’O delfim à luz de seus aspectos simbólicos e imagísticos. Do ponto de vista narrativo, analisamos a libertação apresentada no romance à luz de elementos semânticos e morfológicos significativos na obra.

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