UM BEIJO DADO MAIS TARDE
(RE)LENDO E (RE)ESCREVENDO O MUNDO

Eloísa Porto Corrêa (UERJ)

Um beijo dado mais tarde, projeto estético revolucionário e ousado de Maria Gabriela Llansol, entre muitas outras questões, problematiza e polemiza, sem intenções de esgotar, vários conceitos relacionados ao processo comunicativo entre os seres, como língua e linguagem, texto e contexto, leitura e escrita, entre outros.

O primeiro conceito a ser problematizado é o da própria Língua, em seguida e em conseqüência dele, inúmeros outros conceitos também serão questionados. A língua humana, na narrativa, aos poucos é rebaixada de seu posto hegemônico de sistema de linguagem mais completo e complexo, revelando-se falho, arbitrário e incapaz de expressar com exatidão as necessidades de cada falante.

Paralelamente a este fato, outras linguagens não convencionais vão sendo experimentadas e se mostrando capazes de exprimir mensagens com bastante propriedade, ainda que de cunho mais subjetivo, estético ou plástico. De maneira que estas linguagens, ora desprestigiadas e relegadas a um injusto segundo plano, revelam-se eficientes complementadoras e aliadas da língua na dificílima e ingrata tarefa de expressar.

Assim, a língua deixa de ser um sistema tão fechado, excludente e auto-suficiente para se abrir aos encantos e contribuições que outras linguagens possam dar ao processo comunicativo. A parceria ora selada entre língua e linguagens implica num enriquecimento e também numa fatal amplificação do conceito de texto. Este deixará de se resumir a um conglomerado de palavras, para ganhar outras imagens, outros sons, cheiros, gostos, etc... Enfim, transforma-se o mundo num grande texto, cheio de mensagens em linguagens várias, aguardando apenas para serem lidas.

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