A INFLUÊNCIA DA EXPERIÊNCIA COTIDIANA NA LINGUAGEM

Zinda Vasconcellos (UERJ)

 

APRESENTAÇÃO GERAL

Este trabalho se insere numa série de outros que já venho desenvolvendo há vários anos sobre o processo de expansão de sentido dos itens lexicais, que considero extremamente revelador sobre o modo como o sentido se cria na linguagem. Em tese de doutorado, procurei mostrar a incompatibilidade desse processo com as postulações de várias teorias semânticas, em especial a estruturalista e as várias versões das teorias semânticas formalistas que acreditam que os significados lingüísticos são determinados por uma metalinguagem semântica inata. Um problema especial para essas teorias é o de como dar conta do surgimento de novos significados. Já uma outra teoria semântica, a chamada Lingüística Cognitivista, oferece melhores sugestões quanto à origem dos significados lingüísticos, que ela propõe que sejam baseados no que chama de estruturas pré-conceituais, mas, dentro da própria teorização dessa corrente, a meu ver o problema do surgimento do novo no plano semântico também não pode ser adequadamente explicado. A presente comunicação pretende tratar desse problema, mostrando a ação do que chamo de “trabalho de elaboração da linguagem”, que enriquece dadas estruturas pré-conceituais muito simples com várias nuances de sentido adicionais que nascem da relação da linguagem com as situações da experiência que ela deve representar.

 

O PROBLEMA DO SURGIMENTO DO NOVO NO PLANO SEMÂNTICO

A história das minhas reflexões começou pelo questionamento da proposição de existência, dentro da faculdade de linguagem, de uma metalinguagem semântica universal inata, independente das línguas e da cognição geral e da percepção, e de caráter algébrico, ou seja, que conteria primitivos de caráter necessariamente discreto e arbitrário de que seriam formados quaisquer significados lingüísticos, os quais seriam totalmente determinados, predizíveis, a partir desses primitivos e dos princípios de combinação admitidos na metalinguagem.

Dentro dessas concepções, torna-se um mistério porque os itens lexicais das diferentes línguas[1] são sistematicamente sujeitos a extensões de sentido: com efeito, se um novo conceito é apenas a “passagem ao ato”, no sentido aristotélico, de uma combinação de primitivos já potencialmente previstos pelo sistema semântico, e o significante a que é associado não tem nada a ver com a sua criação, servindo apenas para lhe dar um “corpo” fonológico que permita sua expressão verbal, por quê, ao invés de receber um significante próprio, pede tão sistematicamente emprestado o significante de conceitos já existentes?

Na verdade, dentro dessas concepções inexplicável é o próprio surgimento de novos conceitos, que dêem conta da captação e da representação de situações novas, introduzidas na experiência humana pela história e/ou pela evolução tecnológica, ou decorrentes de novas percepções da realidade causadas pelo desenvolvimento cultural ou cognitivo. Com efeito, como metalinguagens inatas que seriam, portanto, parte da constituição biológica do homem desde que a espécie humana existe poderem sofrer a expansão necessária para lidar com o advento de novas significações trazido pelo desenvolvimento histórico e cognitivo humano? Afinal, a matéria biológica não pode trazer consigo desde o início toda a potencialidade do conhecimento humano do universo, atual e futuro, isso seria incompatível com qualquer teoria materialista da evolução

Os teóricos formalistas negam a existência desse problema, propondo que se possa sempre formar novos significados com base na metalinguagem assim como, em Sintaxe, sempre é possível formar novas frases segundo os mesmos princípios gramaticais. O que não se reconhece é que, a esse respeito, o paralelo da Sintaxe com a Semântica é enganador. Em termos semânticos, o que é preciso é poder captar e representar fenômenos novos, originados da história humana ou da evolução cultural e tecnológica. Para que os novos conceitos a serem formados sejam adequados aos novos conteúdos a exprimir, pelo menos alguns dos componentes que entram em sua formação devem ser realmente novos, não basta que sejam formados por uma combinação nova de primitivos preexistentes: mesmo admitindo-se que haja dimensões necessárias para qualquer representação possível, sobra sempre um resíduo impossível de eliminar.

Já as concepções da Lingüística Cognitivista abrem uma possibilidade de solução para a questão do “fechamento” do funcionamento semântico da linguagem pressuposto nas teorias formalistas inatistas.

Para essa corrente teórica, os significados lingüísticos são vistos como “encorpados”, ligados à experiência concreta, à interação com o mundo através da percepção e da motricidade ou seja, ancorados em última instância nas estruturas pré-conceptuais[2] que, segundo essa teoria, são a base de toda a cognição, os esquemas de imagens[3] e as imagens de nível básico[4]. Em tais estruturas pré-cognitivas se fundariam os conceitos concretos cognitivamente básicos a partir dos quais se derivariam por meio de extensões de sentido ou se comporiam todos os outros.

Essa ancoragem da linguagem na experiência, em especial na percepção, fornece a ela um canal de acesso ao seu “exterior”, e por aí uma alternativa à idéia de que a faculdade de linguagem já contivesse, internamente a si e desde sempre, todos os elementos componentes de qualquer significado possível, constituindo uma hipótese razoável quanto à origem dos “primitivos” (que nesse novo contexto é melhor chamar de materiais de base) de formação dos significados lingüísticos.

Além disso, os processos por meio dos quais se derivariam ou se comporiam os conceitos mais abstratos e/ou mais complexos, também cognitivamente explicáveis e gerais, ao invés de serem algoritmos de combinação de símbolos primitivos em cadeias de símbolos algébricas, teriam antes o caráter de “estratégias”, que fazem apelo a heurísticas cognitivas e faculdades imaginativas da mente, de natureza motivada, como transformações de esquemas de imagem, e, sobretudo, mapeamentos metafóricos e metonímicos entre conceitos já existentes[5]; isso permite que os novos conceitos formados não sejam automaticamente predizíveis, porque tais estratégias são passíveis de ser implementadas de modo particular, relativamente imprevisível, e até singular, a cada vez que se aplicam sob a influência de circunstâncias específicas, incorporando nos seus produtos parte dessa especificidade, imprevisibilidade e singularidade, o que explica que tais produtos possam conter algo novo, “a mais”, para além dos elementos “velhos” aproveitados para sua criação[6].

O problema é que, em contradição com os estupendos recursos que propõe para a extensão e composição de novas significações, recursos realmente compatíveis com a visão da linguagem como um dispositivo simbólico aberto, destinado não à mera manifestação de significados preexistentes mas sobretudo à sua criação efetiva e consolidação gradativa, as concepções da Lingüística Cognitivista de novo recaem na reificação dos significados lingüísticos, por admitirem a existência de significados já plenamente individualizados, e até a de modelos conceituais inteiros, previamente à linguagem e dela independentes: a existência dos conceitos e modelos conceituais dependeria apenas da de dados domínios da experiência, e a linguagem não teria nenhuma ação na constituição dos modelos, apenas os refletiria.

Com efeito, para a Lingüística Cognitivista, os significados lingüísticos seriam caracterizados com respeito a modelos cognitivos (doravante ICMs) numa relação figura/fundo. O próprio processo de extensão de sentido não é encarado como um mecanismo de surgimento de novos significados, mas sim de mero relacionamento entre conceitos preexistentes, as palavras polissêmicas sendo apenas “conjuntos” de significados existentes a priori encadeados por princípios de motivação igualmente preestabelecidos. Do modo como a questão do surgimentos dos sentidos derivados é às vezes colocada, nada de realmente novo estaria implicado: tanto os processos de formação como todos os elementos dos sentidos derivados já existiriam independentemente, donde se pode dizer que estes mesmos já existiriam potencialmente, sua atualização efetiva não importando em nada de realmente novo e imprevisível. Veja-se por exemplo o seguinte trecho, retirado de Lakoff 1987 (trad. minha):

Em cada um desses casos, os modelos metafóricos e metonímicos existem no sistema conceitual independentemente da expressão dada. […] De modo similar, os esquemas para over existem independentemente da existência de oversee, overlook e look over. O que alguém aprende ao aprender essas palavras é quais dos componentes independentemente existentes dos seus significados foram realmente usados. Cada uma dessas expressões é uma montagem específica de partes independentemente existentes. A única arbitrariedade envolvida é o conhecimento de que tal montagem existe.

Se é só disso que se trata, a polissemia não teria nada a ver com a questão do surgimento do sentido na linguagem.

 

EXTENSÕES DE SENTIDO E CONCEPTUALIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Para ver a “criatividade” real do processo de extensão de sentidos, e sua relação com a experiência dos falantes, vejamos um exemplo concreto de descrição lexical.

A análise semântica de passar, realizada em tese de Doutorado (Vasconcellos, 1995), revelou a existência de pelo menos 128 acepções para o verbo, organizadas à maneira de uma categoria radial[7]: todas essas acepções se encadeiam, as mais periféricas relacionando-se diretamente com outras mais básicas, até que se chega a poucas acepções centrais, cada uma das quais é o núcleo de uma subcategoria radial, correspondente a uma das diversas classes em que as acepções foram divididas[8]. Tais acepções nucleares também vêm relacionadas entre si, e estão todas elas ligadas a um sentido básico subjacente a idéia de uma figura em movimento por um caminho que corta uma dada porção do espaço de algum modo visualizada no discurso – o qual, conforme as previsões da Lingüística Cognitivista, é formado sobretudo por um esquema de imagens, ao qual se sobrepõem outros aspectos de significado, que também correspondem, porém, a outros tipos de estruturas pré-conceituais, em particular aspectos de uma imagem mais rica, resultante da projeção, sobre o "ponto" que se move, do esquema corporal e da orientação espacial, e até das intenções prováveis, típicos do movimento direcionado de seres humanos ou animais superiores. Quanto aos significados típicos das várias classes de acepções, eles não são todos instâncias do esquema de imagens subjacente ao significado central, mas resultam de certas "mutações" cognitivamente explicáveis desse esquema[9].

A ancoragem do significado lexical em esquemas de imagens tem uma importância especial para a explicação de expansões de sentido. Esquemas de imagens têm um caráter relativamente abstrato, no sentido de não atribuírem um valor determinado a um ou mais aspectos que lhes são constitutivos, sendo neutros a respeito das várias materializações possíveis (e necessárias…) desses aspectos. Disso decorre o fato de permitirem múltiplas manifestações mais concretas, impossíveis de serem simultaneamente realizadas por uma única instância do esquema correspondente: não é possível ter uma única imagem concreta que seja uma representação adequada de um desses esquemas, embora eles estruturem diversas imagens, que são instâncias suas.

Essa indefinição de qualquer esquema de imagem é então um dos fatores que causam a existência de múltiplas variantes suas, que o instanciam porém acrescentando-lhe várias especificações adicionais. Com efeito, a análise das acepções de passar revela a existência de todo um rico “trabalho de elaboração” que se dá na linguagem em torno das estruturas pré-conceituais, o qual tende a “completar” essas estruturas com diferentes tipos de especificações adicionais, que as habilitam para a expressão de dadas situações da realidade. Ora, essa elaboração não se resume ao preenchimento do esboço de um esquema de imagens com aspectos imagéticos mais concretos, que ainda poderia depender sobretudo das capacidades mentais (mas já também da experiência de mundo ) dos falantes, mas abarca fatores das mais diversas ordens, que apontam para o processo histórico de construção de significações que ocorre paulatinamente no intercurso social dentro de uma sociedade e uma língua dadas. Ao longo do tempo, ela vai incorporando aos significados lexicais uma enorme variedade de circunstâncias que ocorrem tipicamente nas situações representadas e fazem parte do conhecimento de mundo dos falantes.

Podemos ver a ação desse “trabalho de elaboração” da linguagem na gênese de algumas das acepções de passar, que associam os esquemas de imagem relacionados aos significados básicos das suas classes com dadas atividades da experiência. O que mais encontrei no meu acervo são acepções desse tipo, que dão uma conceptualização semifigurada a situações bastante específicas, como: a de um médico receitar algo (“passar remédio”); um doente contagiar outra pessoa (“passar gripe”); uma fruta começar a ficar madura demais; um jogador deixar de jogar na sua vez (“passar a vez”); um aluno ser aprovado (“passar de ano”); um professor atribuir tarefa ou lição (“passar dever de casa”); uma dor deixar de doer (mãe falando para o filho: “Não chora, já passou”); um tradutor traduzir algo (“passar do Inglês para o Português”); alguém preparar café, ou outros alimentos (“passar café”, “passar a sopa”); e muitas outras dos mais diferentes tipos: enviar fax, assinar cheque, verificar contas, fazer decalques, etc.

O elo essencial entre o processo de extensão de sentidos e a conceptualização das situações da experiência se revela claramente em alguns fenômenos observados na minha análise de passar . Um deles é o fato de que a maioria das acepções não causativas em que a “figura que se move” não é um ser animado coloca algumas condições de adequação adicionais sobre o tipo de figura a que podem atribuir "semi-metaforicamente" a espécie de perambulação por iniciativa própria característica do significado básico de passar, não sendo qualquer tipo de objeto um candidato igualmente bom para esse papel. Essas exigências adicionais podem ser de vários tipos, ora a de que tal figura seja uma massa fluida, ora algo mais específico ainda, apenas determinados tipos de utensílios. Para mim, essas “condições de adequação” apenas refletem conhecimentos sobre as circunstâncias reais, permitidas pela natureza física do mundo, em que ocorrem na experiência situações em que um ser inanimado pode ser concebido imaginariamente como em movimento por iniciativa própria, sem que haja nelas a presença explícita de algo que cause esse movimento. Outro fenômeno que mostra tal elo é a “adaptação” que o sentido das acepções de base sofre quando a partir delas se geram as acepções metafóricas, sobretudo no caso de mudança de domínio semântico. Isso fica especialmente claro na transposição das acepções espaciais para o domínio do tempo, mas seria assunto suficiente para um artigo inteiro, de modo que não vou tratar disso aqui.


 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, o que pretendo ter apontado é para o fato de que o trabalho de elaboração da experiência pela linguagem, de que os processos de extensão de sentido são o principal instrumento, embora se fundamente em fatores de naturalidade cognitiva, não se resume a uma apresentação de conceitos prévios, mas antes “ultrapassa” o já conceituado, de modo a criar novos conceitos. A linguagem antes cria o sistema conceitual do que o reflete: em torno de poucas estruturas pré-conceituais básicas, ela faz um “trabalho de elaboração” que vai construindo sentidos capazes de expressar as situações da experiência. Esse trabalho de elaboração da experiência pela linguagem é um processo efetivamente criativo, que possibilita a extensão do que já se sabe sobre o uso de um item lexical para cada vez mais situações, e explica como podemos estender o conhecimento lexical produtivamente, on line, quando, defrontados com uma situação para a qual não existe um modo de denotação já consolidado, especializamos para exprimi-la um tipo de efeito de sentido já manifestado por uma palavra em algumas de suas acepções, simultaneamente adaptando tal sentido de modo a que se adeqüe à nova situação.

Resta falar sobre o que tudo isso parece revelar sobre o caráter necessário e sistemático das extensões de sentido.

Essa sistematicidade, a meu ver, manifesta o fato de que algo de infinito realmente está em jogo nos fenômenos de significação: o “significável”, além de inefável e flutuante por natureza, seria também ine­rentemente infinito, como reflexo do caráter efetivamente infinito da experiência humana, e isso sob ao menos duas formas: não só porque a experiência não é completamente redutível a um conjunto definido de dimensões, pode sempre apre­sentar aspectos novos; como também porque ela é continuamente variável.

Daí a linguagem ser simultaneamente menos e mais “infinita” (com perdão do absurdo matemático de quantifi­car o infinito) do que o pressupõem as concepções formalistas que propõem metalinguagens combinatórias inatas para representar os significados lingüísticos: menos infinita, porque inerentemente incompleta, “não pronta”, desprovida dos recursos tão poderosos, previamente capazes de dar conta de todas as significações possíveis, que essas concep­ções lhe atribuem; e mais infinita porque, em compensação, embora não contenha num momento dado esse potencial semântico total, seria ao menos também inerentemente “estendível”, capaz de sempre expandir-se para tentar dar conta dos aspectos novos da experiência a partir dos meios já disponíveis.

É preciso não esquecer a natureza precária da relação da linguagem com a realidade, que ela é chamada a expressar, mas da qual é separada por um abismo constitutivo, intransponível. É aqui que entra o papel central da chamada “função poética” da linguagem segundo essas concepções.

A função poética, manifestada sobretudo na tendência à motivação, é, a meu ver, a força posta a serviço do “trabalho de elaboração” que permite que a linguagem dê nascimento a novas significações; é a base da própria função de representação da linguagem. A tendência à motivação seria o recurso por excelência que a linguagem tem, enquanto dispositivo de expressão, para franquear as barreiras que separam seu universo próprio, que é de natureza apenas significante, da realidade, que deveria ser ex­pressa por seu intermédio, mas que lhe é inerentemente externa e não totalmente captável; é o modo de preencher a distância entre o já dizível com os meios existentes, e a experiência, sempre nova a cada vez; é o expediente de que a linguagem lança mão para sugerir, para “mimetizar”, o que não consegue nunca apreender unívoca e definitivamente. É essa tendência à motivação que abre uma porta para a possibilidade da linguagem poder, malgré tout, captar alguns aspectos da realidade e da experiência que a ultrapassam, construindo significações capazes de dar expressão à vivência dos falantes.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lakoff, G. Women, fire and dangerous things. What categories reveal about the mind. Chicago and London: The University of Chicago Press, 1987.

Vasconcellos, Z. O processo de expansão de sentido e a questão da (ir)representabili-dade semântica. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: PUC/RJ, 1995.

 

ANEXO

Esquemas de imagens subjacentes ao significado central de passar
e aos significados típicos das principais classes de acepções

Significado central e do Grupo A

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Grupo B –                                                                                               Grupo D

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Grupo C

 

 

 

 

 

 

 

                 Pto Refcia 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                       Ñ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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[1] Isso mesmo no caso de línguas artificiais, como o esperanto, que foram construídas para dele escapar: bastou que o esperanto fosse efetivamente usado como meio de comunicação para que a polissemia lexical se criasse.

[2] Estruturas pré-conceituais são estruturas cognitivas que não são apenas concebidas intelectualmente, mas antes usadas automaticamente, inconscientemente e sem esforço como parte do funcionamento do organismo no mundo, diretamente baseadas na percepção e na ação motora. Dois são os principais tipos de estruturas pré-conceituais: esquemas de imagens e imagens de nível básico.

[3]Esquemas de imagens são estruturas pré-conceituais muito simples e relativamente abstratas, formadas a partir da vivência cinestésica corporal. Seriam diretamente significativos, porque experenciados direta e repetidamente, dada a natureza do nosso corpo e do seu modo de funcionamento no meio ambiente. São formados por partes ligadas por uma lógica implícita, resultante da sua configuração gestáltica, que organizaria nossas percepções e imagens. Também seriam usados para estruturar conceitos complexos e domínios abstratos metaforicamente projetados a partir do espaço físico.

[4]Imagens de nível básico refletem nossas capacidades biológicas para a percepção gestáltica, a formação de imagens e a interação motora com o ambiente. Elas dariam base para a existência e primazia de um nível básico de categorização, situado “no meio” da hierarquia que vai das categorias mais gerais às mais específicas: as categorias básicas seriam as de nível mais alto cujos membros têm configurações globais similares, capazes de ser manifestadas numa imagem gestáltica única e de permitir a interação com eles por meio de esquemas motores semelhantes.

[5]Enquanto processos de composição de significados complexos a partir de outros mais simples, pode-se distinguir entre produtividade ou geratividade, processo formal governado por princípios ou regras fixos, de construtibilidade, que também resultaria na criação de significações complexas, porém por meio de estratégias motivadas e de modo mais livre, não inteiramente previsível.

[6]Além da derivação de novos sentidos a partir de sentidos anteriores o fenômeno de expansão de sentido, manifestado no surgimento de acepções pelo menos relativamente consolidadas para os itens lexicais , tais estratégias dariam conta também de efeitos de sentido mais efêmeros e circunstanciais ocorrentes no discurso, em especial dos fenômenos de “fala deslocada“ (ironias, insinuações, "implicaturas conversacionais", além do uso de linguagem figurada em geral) e congêneres.

[7]O conceito de categorias radiais representa uma alternativa para a idéia de que categorias sejam determinadas por um conjunto de propriedades coletivamente necessárias para estabelecer o pertencimento de seus membros e suficientes para distinguir cada categoria das outras. Já pela teoria radial, uma categoria pode ter membros de vários graus de representatividade: seus melhores exemplares apresentariam a maioria das propriedades que a caracterizam, mas outros membros não precisariam ter todas essas propriedades, e alguns deles poderiam até não possuir nenhuma delas. O que faz com que esses membros “não conformes” também pertençam à categoria são os elos que os ligam, direta ou indiretamente, aos membros prototípicos, ou seja, a existência de encadeamento na categoria: dos prototípicos se derivam alguns outros, desses se originam outros ainda, e assim por diante, o todo da categoria formando uma “rede de nós” que ocupam diversos lugares na estrutura, a diferentes distâncias uns dos outros, mas todos direta ou indiretamente ligados entre si.

[8]É impossível apresentar aqui a análise como um todo, mas vale dizer que as acepções foram divididas primeiramente em dois macrogrupos, conforme sua natureza espacial ou temporal. Cada macrogrupo foi então subdividido em grupos, e alguns dos grupos foram ainda divididos em subgrupos. Essa classificação se cruza ainda com outra, que a corta transversalmente. As classes transversais recebem o nome de transgrupos.

[9]Os esquemas de imagens subjacentes aos significados das várias classes são apresentados no Anexo.

[10]Os parênteses significam que se trata de uma posição virtual (passada ou futura) da figura com função de tema.

[11]As chaves indicam que os sentidos que instanciam esse esquema de imagens se referem tanto à presença quanto à ausência de uma figura na cena focalizada.

 

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