SEMÂNTICA 
E 
PRAGMÁTICA
Maria Lucia Mexias Simon
 
Semântica é o
estudo do
significado,
isto é a
ciência das 
significações, 
com os 
problemas 
suscitados 
sobre o 
significado:
Tudo tem
significado?
Significado é
imagem 
acústica,
ou 
imagem 
visual? O
homem 
sempre se 
preocupou 
com a 
origem das
línguas e
com a 
relação 
entre as
palavras e as
coisas 
que 
elas 
significam, se há uma 
ligação 
natural 
entre os
nomes e as
coisas 
nomeadas 
ou se essa
associação é
mero 
resultado de
convenção. 
Nesse 
estudo 
consideram-se 
também as 
mudanças de 
sentido, a
escolha de
novas 
expressões, o 
nascimento e 
morte das 
locuções. A
semântica
como 
estudo das 
alterações de 
significado 
prende-se a Michel Bréal e a Gaston Paris. 
Um 
tratamento 
sincrônico descritivo dos 
fatos da
linguagem e da
visão da
língua 
como 
estrutura e as
novas 
teorias do
símbolo datam 
do 
século. XX.
As 
formas 
lingüísticas
são 
símbolos e 
valem 
pelo 
que 
significam. 
São 
ruídos 
bucais, 
mas 
ruídos 
significantes. 
É a 
constante
referência
mental de uma 
forma a 
determinado
significado
que a eleva a
elemento de 
uma 
língua. 
Não há nenhuma
relação 
entre o 
semantema (ou 
lexema 
ou 
morfema 
lexical –
unidade 
léxica, 
que compõe o
léxico) 
cão e
um 
certo 
animal 
doméstico a
não 
ser o 
uso
que se faz 
desse semantema 
para referir-se a 
esse 
animal. 
Cada 
língua 
“recorta” o 
mundo 
objetivo a
seu 
modo, o 
que Humboldt
chama “visão 
do 
mundo”. 
Registre-se a 
existência da
linguagem
figurada, a
metáfora,
uso de uma
palavra 
por 
outra, 
subjazendo à 
segunda a 
significação da 
primeira. Há
que se 
levar 
em 
conta a 
denotação (significado
mais restrito) 
e a 
conotação (halo 
de 
emoção 
envolvendo o semantema – 
casa / 
lar).
O
estudo dos semantemas é
difícil,
pois
são
em
número
infinito e
sua significação fluída,
sujeita às variações sincrônica, sintópica etc. A 
polissemia faz da significação dos semantemas
um
conglomerado de
elementos e
não
um
elemento
único:
ele
anda a
passos
largos /
anda de
carro /
anda
doente.
Quanto à significação
interna dos
morfemas, (ou gramema
ou
morfema
gramatical)
ela se distribui nas
categorias
gramaticais
que enquadram
um
dado semantema numa
gama de
categoria –
gênero,
número etc –
para
maior
economia da
linguagem.
 
Os
elementos
lexicais
que fazem
parte do
acervo do
falante de uma
língua podem
ser:
–
simples –
cavalo
–
compostos –
cavalo-marinho
–
complexos – a
olhos
vistos,
briga de
foice no
escuro (são 
sintagmáticos)
–
textuais –
orações,
pragas,
hinos (são
pragmáticos,
não entram
nos
dicionários de
língua, a
não
ser
por
comodidade. O
conceito de
gato 
não está contido
em "à
noite
todos os
gatos
são
pardos”)
Nem
todo lexema é,
portanto, uma
palavra, às
vezes é
um
conjunto,
em
geral
idiomático:
favas contadas, 
nabos 
em 
saco etc. Nesse
caso, falamos
em
sentido 
figurado,
oposto a
sentido
literal. 
Nas alterações sofridas nas
relações
entre as
palavras estão as
chamadas
figuras de
retórica
clássica:
1)
Metáfora – comparação abreviada
2)
Metonímia –
transferência do
nome de
um
objeto a
outro,
com o
qual
guarda alguma
relação de:  
–
autor
pela
obra –
Ler
Machado de Assis
–
agente
pelo
objeto –
Comprar
um Portinari
–
causa
pelo
efeito –
Viver do
seu
trabalho
–
continente
pelo
conteúdo – Comeu
dois
pratos
–
local
pelo
produto –
Fumar
um
havana
etc
3)
Sinédoque (para
alguns é
caso de
metonímia) 
–
parte
pelo
todo –
Completar 15
primaveras
–
singular
pelo
plural – O
português chegou à América
em 1500
4)
Catacrese –
extensão do
sentido de uma
palavra a
objetos
ou
ações
que
não possuem
denominação
própria –
embarcar no
ônibus; o
pé da
mesa
No 
levantamento da 
tipologia das
relações
entre as
palavras 
assinalam-se 
ainda os
fenômenos da
sinonímia, 
antonímia, 
homonímia, polissemia e 
hiponímia. Os 
sinônimos se 
dizem 
completos,
quando 
são 
intercambiáveis no 
contexto
em 
questão. 
São 
perfeitos
quando 
intercambiáveis 
em 
todos os
contextos, o
que é 
muito 
raro, a 
não 
ser 
em 
termos 
técnicos.
Por
exemplo,
em:
casamento, 
matrimônio, 
enlace, 
bodas, 
consórcio, há
um
fundo
comum,
um "núcleo"; os
empregos
são
diferentes,
porém
próximos.
Nem todas as
palavras aceitam
sinônimos
ou
antônimos. A
escolha
entre
séries sinonímicas é, às
vezes,
regional. (Ex:
pandorga,
papagaio,
pipa).
Quanto à
homonímia, pode
ocorrer
coincidência fônica e/ou
gráfica. A
coincidência de grafemas e
fonemas pode
decorrer de
convergência de
formas (Ex:
são – 
verbo
ser,
sinônimo de
sadio,
forma
variante de 
santo derivando
respectivamente de sunt, sanum, sanctum).
Ou é
resultado de
existência coincidente do
mesmo
vocábulo
em
línguas
diferentes (Ex:
manga –
parte da
roupa
ou
fruto, provindo,
respectivamente do
Latim e do
Malaio). 
Cumpre
distinguir
homonímia de polissemia, o
que
nem
sempre é
fácil. A
distinção pode
ser: 
– descritiva – considerando
ser 
a 
palavra
um
feixe 
de semas, se 
entre 
duas 
palavras
com 
a 
mesma
forma, 
houver 
um 
sema 
comum, 
diz-se 
ser
um
caso 
de polissemia (Ex: 
coroa 
– 
adorno
para 
a 
cabeça
ou
trabalho 
dentário). 
Em
caso
contrário, 
será 
homonímia 
(Ex 
pena 
– sofrimento 
ou
revestimento 
do 
corpo 
das 
aves) 
.
– 
diacrônica 
– se as 
palavras 
provém do 
mesmo
léxico, 
diz-se 
ocorrer
um
caso 
de polissemia;(Ex: 
cabo 
– 
acidente
geográfico 
e 
fim 
de alguma 
coisa) 
No 
contrário, 
ocorrerá 
um
caso 
de 
convergência 
de 
formas 
(Ex: 
canto 
– 
verbo
cantar 
e 
ângulo).
O 
estudo da
homonímia e da polissemia 
envolve, 
portanto, o
problema de 
significação, 
principalmente
universal, e de 
significação, 
marginalmente
ocasional.
Quando a
mesma 
forma fônica 
cobre 
significações 
diferentes,
embora 
correlatas, tem-se a polissemia; 
quando 
cobre 
significações 
completamente
diferentes, 
tem-se a 
homonímia. A polissemia 
envolve 
matizes 
emocionais, é
determinada
pelo 
contexto; 
constitui, às 
vezes, 
linguagem
figurada e
linguagem
literária. A
tarefa do
ouvinte é
fazer uma 
seleção 
entre as 
significações 
alternativas,
por 
meio do 
contexto
em 
que se 
acha o 
signo. Diz-se 
serem os 
homônimos 
lexemas 
iguais e
palavras
diferentes,
isto é, 
com 
conteúdo
semântico
diferente.
Como os 
lexemas 
também podem 
se 
apresentar 
com 
mais de uma
forma, a 
descrição de
homonímia 
precisa 
ser refinada 
para se 
distinguir 
homonímia 
parcial de
homonímia 
total, 
considerando-se 
aqui a 
não 
coincidência
entre 
língua 
escrita e
falada.
Já a polissemia
só ocorre
com lexemas
simples. É,
por
vezes,
difícil distingui-la de
homonímia.
Um dos
critérios é o
etimológico,
não
relevante na
linguagem estrutural. O
principal,
aqui, é
haver
relação
entre
significados. Permanece o
problema do
dicionário: deve
haver uma
ou
mais de uma
entrada
lexical? Ex:
pupila –
parte do
olho /
menor de
que se deve
cuidar – têm a
mesma
etimologia.
Mas deve-se
considerar a
relação sincrônica
entre os
Significados. O
fato de a
língua
sofrer alterações dificulta o
problema.
Quanto à
sinonímia, os lexemas podem
ser
completamente
sinônimos
ou
não,
conforme sejam intercambiáveis
em
todos os
contextos
ou
não. A
sinonímia
total é
muito
rara,
só ocorre
em
termos
científicos. A
distinção é,
por
vezes,
sutil, inclui o
fator
eufemismo. (vide
anexo). Podemos
dizer
que
um lexema se relaciona a
outros
pelo
sentido e se relaciona
com a
realidade
pela
denotação.
Sentido e
denotação
são
interdependentes. Isomorfia
total
entre duas
línguas é
difícil, ocorre
mais
freqüentemente
em
empréstimos decorrentes de
intercâmbios cultural (Ex. a
palavra
camisa, herdada
pelos
romanos aos 
iberos). A
análise componencial coloca a
tese de serem os lexemas de todas as
línguas
complexos de
conceitos atomísticos
universais
como os
fonemas
são
complexos de
traços atomísticos
universais (possivelmente).
Assim o lexema
mulher pode
ser descrito
pelos
traços
adulto, 
feminino, 
humano,
em
relação a
homem
que seria 
adulto, não-feminino, 
humano.
Nem
todo lexema é
passível de
análise componencial (a
análise componencial
ajuda a
distinguir
homonímia de polissemia).
Entre as
relações
pelo
sentido, colocamos
também a hiponímia e a
antonímia. A
antonímia inclui os
casos de
oposição de
sentido (solteiro /
casado;
morto /
vivo),
ou,
como dizem
alguns
autores, a
incompatibilidade (vermelho 
/
azul /
branco seriam
incompatíveis
entre
si).
As 
relações 
hiponímicas provêm do 
fato 
de 
um
termo
ser
mais 
abrangente 
que
outro: 
(Ex: 
flor 
> 
rosa,
orquídea 
etc) 
Um
grande
número 
de 
palavras 
aceita polissemia. Escapam os 
termos
técnicos,
palavras
muito 
raras e 
palavras
muito 
longas. O 
deslizar 
de 
sentido 
ocorre 
por 
muitas 
causas:
– 
interpretações 
analógicas – (Ex: 
mamão).
– 
transferência 
do 
adjetivo 
ao 
substantivo 
– (Ex: 
pêssego,
burro).
– 
adaptação 
de 
palavras 
estrangeiras – (Ex: 
forró).
 
Na 
evolução
semântica, 
as 
palavras 
ganham 
conotação
pejorativa 
(tratante 
– 
que 
faz 
um
trato),
ou 
valorativa (ministro 
– 
que 
serve os 
alimentos); 
ampliam o 
significado 
(trabalho–
instrumento 
de 
tortura),
ou 
restringem (anjo 
– 
mensageiro).
Fontes 
de renovação do 
léxico
em
suas
acepções,
são 
as 
gírias 
(falares 
grupais), 
aí 
incluídos os 
jargões
profissionais 
(chutar, 
no 
sentido 
de 
mentir; 
o 
doente
fez uma 
hipoglicemia).
As 
siglas
são
outra
fonte 
do 
léxico, 
dando 
até
palavras 
derivadas (CLT → celetista). 
O 
signo
lingüístico
quebra 
a convencionalidade no 
caso 
da 
derivação,
que 
é 
um
caso 
de  motivação intra-lingüística e se prende à 
semântica
gramatical 
(caju 
→ 
cajueiro;
pena 
de 
aveÕpena 
de 
caneta) 
e no 
caso 
das 
onomatopéias 
(sibilar). 
Há 
estudiosos 
defendendo a 
idéia 
de 
que,
originalmente, 
seria 
tudo
onomatopéia.
As
onomatopéias
são iconográficas; na
poesia exploram-se as
virtualidades da
representação
natural. (“Um
fino
apito
estrídulo
sibila / rangem as
rodas num arranco perro” O 
trem de 
ferro –
Batista Rebelo) 
Na 
chamada
linguagem
figurada 
há várias 
ocorrências:
elipse 
(bife
com 
fritas); similaridade (chapéu-coco); 
sinestesia (cor
berrante); 
contigüidade (beber
Champanhe);
perda 
de motivação (átomo);
eufemismo 
(vida-fácil). 
Por
vezes, 
o 
eufemismo 
provém de 
um
tabu
lingüístico
mal 
dos 
peitos,
doença
ruim, 
malino < 
maligno 
etc. 
Esses
fenômenos
são 
grupais, acabam 
por 
convencionalizar-se.
Toda
criação de
palavras repousa,
portanto,
em
associações, sendo a
língua uma
estrutura. O
valor de uma
palavra se estabelece
em
relação a outras e
em
relação ao
sistema, é o
centro de uma
constelação associativa;
toda
mudança
em
um
conceito resulta
em
mudança
nos
conceitos
vizinhos (mulher /
senhora ;
sopa
fria /
água
fria)
Em
resumo, a significação 
lexical é a significação, no
sentido de uma
noção
apropriada, experimentada
em
conexão
com o
uso da
palavra
em
causa. A significação 
gramatical está
ligada aos
morfemas,
sem se
desligar da significação
léxica; refere-se às
propriedades e
relações dos
signos
verbais
dados e às
propriedades e
relações dos
objetos
reais
que
são refletidos na
linguagem e no
pensamento:
gênero,
número etc. A significação
sintática é,
por
assim
dizer, uma
extensão da significação
gramatical – lato-sensu, diz-se
que a significação dos
morfemas é
um
elemento da significação
sintática; na significação
sintática
sempre se acrescenta
um
elemento
qualquer à significação
léxica;
isso provém dos
morfemas, das
regras da
ordem das
palavras e das
palavras
funcionais.
Quando o
quadro de
morfemas é
pobre, a
ordenação e as
palavras
auxiliares tornam-se
importantes. Essas últimas
são
morfemas,
tanto
quanto os
afixos,
pois
sempre aparecem
em
companhia das
palavras
mais 
lexicais e acrescentam
algo à significação dessas (Ex.
bater no /
com o
carro de Maria).
As significações
lingüísticas consideram a significação
interna
ou
gramatical
referente aos
morfemas e a
semântica
externa
ou
lexical,
isto é,
objetiva,
referente aos semantemas. Pode
ser
diacrônica
ou descritiva (como as
línguas interpretam o
mundo). A significação
interna,
como
já se disse, distribui-se pelas
categorias
gramaticais
para
maior
economia e
eficiência da
linguagem. A
estrutura sintagmática é
também
relevante
para o
significado, donde poder-se
falar
em
significado
gramatical;
esse depende da
regência, da
colocação e,
até, de
fatores
como
pausa,
entonação
que, na
linguagem
escrita
são assinaladas,
tanto
quanto
possível,
pela
pontuação. O
significado da
sentença
não é
portanto a
soma do
significado dos
seus
elementos
lexicais,
muito
embora a
relevância do
significado de
cada
um deles.
O
significado de uma
sentença depende,
portanto, do
Significado dos
seus lexemas
constituintes e o
Significado de
alguns lexemas dependerá,
por
sua
vez, da
sentença
em
que aparece.
Mas a
estrutura da
sentença é
relevante
para a
determinação do
Significado. Devemos,
por
conseguinte,
considerar o
Significado
gramatical
como
componente
para o
Significado da
sentença.
Já o
Significado do
enunciado envolve o
Significado de
sentença,
mas
não se
esgota nele. Depende de
fatores
contextuais. Há
teorias afirmando
que o
Significado do
enunciado extrapola a
lingüística constituindo a
pragmática.
É
preciso
considerar
que as
línguas possuem variadas
funções. As
proposições podem
ser declarativas, imperativas,
ou imperativas. As declarativas podem
ser
afirmativas
ou
negativas (falsas
ou verdadeiras). Há,
então, uma
grande
divisão
entre
Significado descritivo e não-descritivo. (Ex. João 
levanta
tarde   (! ? ...) dependendo da
entonação, será uma
informação
ou uma exteriorização de
sentimentos). No
significado não-descritivo inclui-se o
significado
social,
quando
este
visa a
manter
ou
estabelecer papéis
sociais. Numa
visão
mais
ampla podemos
aí
incluir das
formas ritualizadas (cumprimentos,
brindes etc)
até os
enunciados
científicos
que tem
por
objetivo
fazer
adeptos e
influenciar
comportamentos. O
que é
dito e o
modo de
dizer dependem das
relações
sociais
entre os
interlocutores.
Quanto aos lexemas, há
que se
considerar
que
eles
tanto transportam
conteúdo sêmico (do
Significado),
quanto
informações
gramaticais expressas nas
desinências e
nos
determinantes e nas
funções
que expressam na
sentença. Há
informações
portanto, mórficas e sintáticas, apontadas
já no
dicionário. (p. ex. subst. fem., v. trans. 
etc).
O
conceito de
semântica 
gramatical se
torna
claro ao compararmos: O 
menino mordeu o 
cachorro / O 
cachorro mordeu o 
menino. Há
também, a
considerar, as variações
estilísticas: o
emprego do
condicional é
mais
gentil
que o
presente do
indicativo. 
Consideremos,
ainda, o
fato de existirem, nas
línguas
naturais,
sentenças
com:
– pressuposição –
Quanto
tempo
ele ficou
em Brasília? – supõe:
Ele foi a Brasília.
–
implicação –
Muitos
estudantes
não foram
capazes de
responder à
pergunta. –  implica: –
Só
alguns
estudantes responderam. 
A
compreensão dos
significados das
sentenças envolve os
elementos
lexicais isolados e o
modo
como
eles se relacionam. A
análise do
significado das
palavras requer o
uso de
regras
semânticas.
Menino implica
macho, 
jovem, 
humano:
são os
traços
pertinentes
ou
componentes
semânticos,
que se apontam na 
análise componencial. O
significado da
palavra é
um
complexo de
componentes
semânticos ligados
por
constantes
lógicas. X bate
em Y – implica – Y
apanha de X;
Caso Paulo venha, Pedro partirá. – implica –
Caso Paulo
não venha, Pedro
não partirá. Pedro continua a
beber – pressupõe – Pedro bebia
antes. A pressuposição
com a
frase
negativa continua a
mesma: Pedro
não
toma
bebida
alcoólica – pressupõe – Pedro
não
gosta,
ou está
proibido
pelo
médico,
ou
por
autoridade
religiosa, de
tomar
bebida
alcoólica.
Enfim, o
sentido das
palavras
não é
transcendental
nem produzido
pelo
contexto; é a
resultante de
contextos
já produzidos. A
relação
entre
significante e
significado é
flutuante, está
sempre
em
aberto. Disso resultam os
problemas lexicográficos.
Mesmo
aqui, usamos
termos
como
palavra,
vocábulo e
outros
sobre cujas
acepções divergem os
estudiosos,
muito
embora o
seu
fundo
comum, do
qual temos,
inclusive os
leigos,
um
conhecimento intuitivo. 
Como dissemos,
para
alguns
autores, o
significado do
enunciado extrapola o
âmbito da
Lingüística, entrando no
terreno da
Pragmática. Essa
ciência pode,
em brevíssimas
palavras,
ser
definida
como “relações da
linguagem
com
seus
usuários.”
Ou
por
outra,
exame dos
discursos
formadores da e formados
pela
visão do
mundo. Sendo a
língua uma
abstração,
um
agregado de
dialetos, de socioletos, de idioletos, é a
fala
que tem
existência
real, merecedora de
atenção
por
parte de
todos
que se interessam
pelos
fenômenos da
linguagem.
Quando se
fala, faz-se
mais
que
trocar
informações. A
fala é
cooperação,
mas é
também
conflito,
persuasão, negociação.
Todo
ato de
fala se realiza
em determinadas
condições psicológicas,
dentro de
um
contexto sociocultural
que,
mais
ou
menos, as controlam.
Para a
real
ocorrência,
com
sucesso, de
um
ato de
fala
são
imprescindíveis os chamados
fatores de textualidade:
  
    | 
     
    FATORES
    
    LINGÜÍSTICOS  | 
    
     
    FATORES 
    EXTRALINGÜÍSTICOS  | 
  
  
    | 
     
    
    Coesão  | 
    
     
    
    Intencionalidade  | 
  
  
    | 
     
    
    Coerência  | 
    
     
    
    Aceitabilidade  | 
  
  
    | 
     
    
    Intertextualidade  | 
    
     
    
    Informatividade  | 
  
  
    | 
     
       | 
    
     
    
    Situacionalidade  | 
  
Esses
fatores residem
em
competências do
falante e do
ouvinte,
em
um
pacto
social
que
começa no compartilhamento do
mesmo
idioma e
que transforma a
linguagem
em
discurso.
Para AUSTIN
dizer é
sempre
fazer.
Além do
simples
fenômeno de
emissão de
sons
bucais dotados de significação
clara e
permanente, coesos e
coerentes, há
necessidade de se
situar a
emissão,
aceitar o
emissor, perceber-lhe a
intenção (ou, ao
menos, a
intenção
frontal)
para
que ocorra a
informação. Desse
modo, podem os
atos de
fala,
por
si,
mudar uma
situação.
Por
exemplo,
quando o
juiz afirma ao
casal de
noivos –
Eu os declaro
marido e
mulher – essas
pessoas passam da
condição de
solteiros
para a de
casados.
Muitos
exemplos podem
ser apresentados,
inclusive o
inicial de
todos
eles e de
tudo
mais– “Faça-se a
luz” . As
religiões,
inclusive
em
suas cosmogonias, atribuem
valor aos
atos de
fala,
com
recomendações de
que sejam seguidos à
risca
para
que surtam
efeito.  
Nos
atos declarativos, há
que se
distinguir
entre
locutor e enunciador.
Locutor será o
autor das
palavras, o
que diz; enunciador será o
indivíduo a
quem o
locutor atribui a
responsabilidade do foi
dito.
Por
exemplo, no
enunciado “O
homem teria
chegado ao Brasil há 45.800
anos” 
 
o
locutor é o
jornalista
que redige a
notícia e o enunciador a
arqueóloga
que faz a afirmação. O
uso do
Futuro do
Pretérito,
muito usado no
discurso
jornalístico, exime o
jornalista da
responsabilidade
quanto à veracidade das
palavras. 
A essa
superposição de
falas dá-se o
nome de
polifonia. O
locutor dá
voz a
um
ou
vários enunciadores,
cujos
discursos
ele difunde, organizando-os e
não deixando de
manifestar a
própria
posição. Se o enunciador
não é reconhecido
pelo
ouvinte (caso das
citações
muito repetidas – “Penso,
logo existo”)
esse
fato
não impede a
comunicação,
logo
não impede o
sucesso do
ato de
fala.
O
mesmo se pode
dizer da
ironia, da
hipérbole,
que,
mesmo
quando
não de
imediato percebidas, de alguma
forma atingem os
objetivos do
falante.
Outra
situação remarcável é dos
tropos:
desvio de
um
sentido
literal,
primitivo a
um
sentido
implícito. O
brasileiro, tido
como
povo
afável, é
farto
em
tropos:
–
Você pode
me
emprestar a
caneta? –
por– Empreste-me a
caneta.
–
Não está
um
pouco
tarde?
Não vá
perder
seu
ônibus (para a
visita) –
por –
Você está
me cansando
com
sua
permanência.
– Diga
boa-noite a
seus irmãozinhos. (a
mãe
para o
filho de poucas
semanas) –
por –
Vão se
deitar. (para os
filhos
mais
velhos).
A 
Pragmática é 
observável 
em 
todos os
contextos.
Porém , 
em algumas
situações, 
torna-se 
mais 
evidente o
trato da
linguagem
como 
instrumento de
manipulação. É 
o 
que acontece
nos 
discursos
político,
pedagógico,
religioso e
até no 
discurso
amoroso.
Em 
todos 
esses 
casos, há uma
base 
afirmativa
que, 
manipulada , serve aos 
objetivos do
emissor. A
diferença está 
no 
grau de 
consciência
quanto aos
recursos 
utilizados 
para o 
convencimento. 
A 
linguagem
publicitária
prima na
utilização desses 
recursos
para 
mudar 
ou 
manter a 
opinião do 
público-alvo.
Como
um
estranho
não tem
autoridade
para
mandar, a
publicidade adota
técnicas variadas:
                   Fazer-agir: Beba Coca-Cola!
                   Fazer-crer;
Só Omo
lava
mais
branco!
                   Fazer-buscar
prazer: Se
um
desconhecido
oferecer
flores,
isto é Impulse!
A 
mensagem
publicitária, 
utilizando a 
moderna 
tecnologia, 
promete, 
abundância, 
progresso,
lazer, 
beleza, 
juventude. Ao 
contrário das
catástrofes 
noticiadas 
nos 
jornais, a
publicidade
fala de 
um 
mundo 
bonito e
prazeroso.
Esse 
prazer está 
associado ao
uso de 
determinado
objeto, 
criando a 
linguagem da
marca, o
ícone do
produto.
Possuir 
certos 
objetos 
passa a 
ser 
sinônimo de
felicidade. Se 
na 
linguagem do
cotidiano 
muito 
pouco se usam 
as 
ordens, 
preferindo 
formas 
eufemísticas (faça o 
favor de 
entrar), a 
publicidade 
pode 
ser 
mais 
direta: – 
Abuse e use C & A!. 
A
publicidade diz e,
também, sugere
sem
dizer explicitamente.
Usa
recursos estilísticos:
1)
Fonéticos:
onomatopéias,
aliterações etc.
2) Léxico-semânticos:
criação de
termos
novos,
novos
significados,
clichês,
duplo
sentido etc.
3) Morfossintáticos:
grafias inusitadas,
flexões
novas,
sintaxe
não
linear etc.
– A 
Ericsson fez 
um
telefone
com
tudo
em
cima!
– 
Diet-Coke traz o 
prazer  
de 
viver
em
forma!
–
Ainda
não 
inventaram 
um
passe
bem
melhor
que
passe
bem.
O
discurso
publicitário cumpre
seu
papel
por
três
vias: 
1–
psicológica – a
eficácia do
jogo de
palavras resulta do
fato de
que
esse
jogo
causa
prazer,
quando de
sua decifração; é
erótico, no
sentido
psicanalítico do
termo;
2– antropológica –
parte da proclamação de
que o
consumidor é
irracional; reaviva
arquétipos, ocultos,
mas
fundamentais;
3– sociológica –
não se dirigindo a
ninguém
em
particular,
passa a
impressão de
que se dirige a
cada
um de
nós, identificando-nos
como
membros de uma polis;
No 
domínio dessa
linguagem, 
parece dizer-se 
sempre uma
só 
coisa, utilizando-se o
já utilizado, 
vendendo 
ilusão 
para 
vender 
produtos e
serviços.
De
tudo, parece
válido
concluir
ser a
linguagem uma
variável
com participação
fundamental
nos
processos de
convivência
com a
realidade
física e
social,
além de
sua
importância na
maneira de
organizar as
idéias
sobre a
realidade
que
nos
rodeia. Sendo
assim, a
linguagem
nunca se
esgota
em
simples
instrumento de
referência ao
mundo
externo. Ao falarmos, manifestamos a
nossa
perspectiva,
nossa avaliação do
conteúdo do
dito. Essa
posição é
resultado da
soma de nossas
experiências, de
nossa
própria
ideologia, desaguando num
discurso
que, de
modo
algum pode
ser
simples e
objetiva
descrição da
realidade.
Todo
discurso
quer
converter a uma
ideologia e essa
ideologia será,
evidentemente, a
ideologia do
falante. Uma
linguagem
que vise,
apenas, a
reproduzir as próprias
coisas
esgota
seu
poder de
informação a
dados de
fatos. Uma
forma de
expressão, se é
produtiva, deve
conter
não
só
informações,
como
levantar
procuras. O
mesmo se pode
dizer das
artes
visuais.
Mesmo
quando se dizem
meramente representativas, na
verdade,
nunca o
são.
Sempre haverá a
dimensão
criativa. 
A
linguagem
apenas prolonga a
percepção e essa
percepção
sempre se mostrará dotada de uma
dimensão
produtiva.
 
REFERÊNCIAS
AUSTIN, J. L. Quand dire c’est faire. 
Paris: Seuil, 1970.
CÂMARA JR. , Joaquim Mattoso.
Princípios de 
lingüística 
geral. 
Rio de
Janeiro:
Padrão, [s/d.].
CARVALHO, Nelly de .
Publicidade, a 
linguagem da 
sedução.
São Paulo: Ática, 1996.
CUNHA, José C. C. da.
Pragmática 
lingüística e 
didática das 
línguas. Belém: UFPA, 1991.
GNERRE, Maurizio.
Linguagem, 
escrita e 
poder.
São Paulo: Martins
Fontes, 1994.
GUIRAUD, Pierre. La semantique. Paris: 
Seuil, 1955.
ILARI et alii.
Semântica.
São Paulo: Ática, 1992.
LYONS, John.
Linguagem e 
lingüística.
Rio de
Janeiro: Zahar, 1982
ORLANDI, Eni P. A 
linguagem e 
seu 
funcionamento.
São Paulo:
Brasiliense, 1993.
PENNA, Antonio G.
Comunicação e 
linguagem.
Rio de
Janeiro:
Eldorado, 1986.
RECTOR, Mônica, YUNES, Eliana.
Manual de 
semântica.
Rio de
Janeiro: Ao
Livro
Técnico, 1980
SCHAF, Adam.
Introdução à 
semântica.
Rio de
Janeiro:
Civilização
Brasileira, 1968.
 
ANEXO
ANÁLISE COMPONENCIAL
  
    
      | 
       
      Afirmar  | 
      
       
      Assegurar  | 
      
       
      Asseverar  | 
      
       
      Atestar  | 
      
       
      Certificar  | 
      
       
      Garantir  | 
      
       
      Contar  | 
      
       
      Narrar  | 
      
       
      Relatar  | 
      
       
      Expor  | 
      
       
      Historiar  | 
      
       
      Refletir  | 
      
          | 
    
    
      | 
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      Levar ao 
      conhecimento 
      do 
      falante,
      
      com
      
      convicção  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Não 
      provoca 
      dúvida  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Com
      
      insistência  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  
      
      provi-sório  | 
      
       
      + 
      
      defi-nitivo  | 
      
       
      + 
      
      tem  
      
      
      prazo  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Verificar 
      pela
      
      presença  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       O 
      falante 
      se responsabiliza 
      pela
      
      verdade  | 
    
    
      | 
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      Levar ao 
      conhecimento 
      de 
      alguém 
      alguma 
      coisa  | 
    
    
      | 
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Um
      
      só
      
      receptor  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Abordagem
      
      extensa  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Com
      
      formalidade  | 
    
    
      | 
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      +  | 
      
       
      Reflexivo  | 
    
    
      | 
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      +  | 
      
       
      –  | 
      
       
      –  | 
      
       
      Com
      
      menção 
      do 
      ouvinte 
      no 
      enunciado  |